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CISC Centro Interdisciplinar de Semitica da Cultura e da Mdia

O Tempo Virtual O Sonho da Eternidade


Norval Baitello Jr.

O tempo da vida se inscreve sobre os corpos e sobre a natureza como tatuagem, com suas marcas indelveis e inexorveis. irmo e aliado da morte, j que se apresenta como paciente construtor da falncia do organismo biolgico. Sua obra no apenas visvel e distante, mas ttil e prxima como a morte. Ao contrrio de todas as escrituras que essencialmente negam a morte , o tempo biolgico conspira contra toda e qualquer eternidade individual. Em contraposio a ele e criado pela constituio das sociedades e pela diviso do trabalho, outro tempo se sobrepe: o tempo social. Divide-se o trabalho, multiplica-se o tempo individual: o tempo de cada um ser propriedade de todos, assim como as linguagens sociais. De todos, quer dizer, tambm de ningum. Esta ampliao horizontal do tempo multiplicado s possvel porque se trata de um tempo fluido, tempo da comunicao e seus canais cada vez mais abrangentes. O tempo multiplicado fruto da expanso do corpo e este s se expande pelos laos e vnculos virtuais da comunicao. O tempo multiplicado dos indivduos sociais tambm o tempo transfinito, subdividido em unidades cada vez menores. Este um tempo entomizado, das sociedades de insetos. No se trata de uma acelerao do tempo, mas sim de uma micro-sincronizao da sociedade humana e seus indivduos. Da multiplicao do tempo gerada pelo social e seu aparato comunicativo nascem as grandes criaes do imaginrio, dentre elas um tempo simblico, renovvel, cclico e infinito. Nos mitos, nos sonhos, na cultura e na imaginao cultua-se, portanto, a morte do tempo, a morte da morte, o sonho de eternidade. Tempo virtual por excelncia, o
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tempo simblico presta-se s operaes de divinizao, quer dizer, mitificao, adorao e idolatria. Mas justamente porque tempo simblico, este sim flexvel, malevel, reversvel, presta-se tambm s operaes de desmontagem dos destinos inexorveis traados pelos deuses, servindo, portanto, desmontagem dos prprios deuses e sua onipotncia. Sua matria-prima a fantasia e a imaginao de que so feitos os sonhos.

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