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OCCT O JEITINHO BRASILEIRO * Oa Ed ue APRESENTACAO A EDICAO DE 2005 LIVIA BARBOSA 0 JEITINHO BRASILEIRO * ARTE DE SER MAIS IGUAL DO QUE 0S OUTROS Em 1986, quando obtiveo grau de doutorem antropologiaso- ‘ial no PPGAS/Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janciro coma teseO jitinho brasileiro, um estudo da identi- dade nacional, nunca havia imaginado public-La em livro. Seis PRErActo DE ROBERTO DAMATTA sos depois, em 1992, soba insiténcia de meu amigo, José Au- gusto Drummond, esolvi“redescobri-la” na prateleira da estan- te onde ficara por tanto tempo ¢ dispus-me a publici-la Certamente é um motivo de saisfagio eorgulho, eze anos depois, 10 edig6es e milhares de livros vendidos, estar tendo a ‘oportunidade de eserever uma nova apresentasio para orelan- Gamento dolivro em que ate se ransformou, principalmente, se considerarmos o seu cardter aeadémico, Entretanto, para além da minha satsfagio ¢ orgulho como sutora, minha condicao de observadors peemzanente da cena na cional tem me levado a acompanhar a traje6ria do “jitinho” ‘mesmo depois do sea aparecimento em livro, obrigando-me a ‘um permanente processo de avaliagio das minhasinterpretagbes scibre 0 Brasil edo pr6prio “etinho" Esta avaliagSo critica me aurorizaadizer queaquilo quepropuse desenhei como interpre= ‘ago para o “eitinho” ha quase 20 anos continua valendo para ‘os dias aruas, Se, feliz on infelizmente, minhas reses se msra= zam yerdadeirasé ma outta discustio, c,certamente,aquinioé oo lugar adequado para teavé-la ‘A quantidade de material que continua aparecendo na im- ‘prensa eno discurso das pessoas sobre “jeitinho™, tanto como mecanismo de navegacio social quanto elemento da identidade nacional, vem eafirmar a sua centralidade para oentendimento da sociedade brasileira. Ein pesquisas feitas casualmente por mim em jornais e revistas depoie da década de 1980 até 08 diss atuais, coletei material que relaciona o ‘jeitinho” com uma ‘quantidade imensa de temas que vio desde técnicas de sobre véncia na crise econdmica até assédio sexual, pasando por es- tratagemes para trar carteira no Detran, conseguir ingressos para shows quando nao se tem cintcito, fazer 0 bondinte de tama favela volta a faneionar, pelos eiinhos da familia Trapp tna déeada de 1970 e, por incrvel que pareca, por transformar palavido em algo carinhoso. As matéias pesquisadas nio se os- igotam nessalist, falta ainda falar do jitinho brasileiro, algo que ‘qualifca o nosso modo de ser. Ese também écelacionadoa nos- 1 ctiatividade e inventividade nas telecomunicagées, 2 nossa smiscura de ragas que continua, simultaneamente, brega mas chi= ‘que, ao nosso talento tnico de saber dar vm eit, a infindaveis dliscussbes sobre seo “jetinho” € positivo ounegativo ese 0 Bra- sil tem ou néo tem jeito. Ou seja, 0 “jeitinho” continua sendo aquele ponto nodal em uma rede de sigiticados que nos reme~ tem para osteatégias de como se lidar com o fiuxo da vida cotidi- ana que nés, brasileiros, qualifcames em certas circunstncias ‘como positivas ou negativas, ou soja, aquelas siruagées que nos deixam orgulhosos e 20 mesmo tempo zangados com 0 nosso pals ona Poderiamas dizer que esta centralidade é uma criacio da mi- dia, quena falta de melhores temas, ela teima em colocar emir ‘clagdo formas tradicionas ereceitas ideologicas que nao mais gsertaaa ec ce 2005 expressam © que somos como saciedade e nacio. Entresanto, por mais verdade que essa discusséo possa conter acerca dos me- «anisms ce construgzo da noticia pelos meios de comunicago, 6 fat 6 que se cles no gerassem um minimo de interesse e mio fossem significarivos paraquemoslé, certamentendo estariam i com tanta freqiéneia. Afipal de contas, todos sabemos que wm. oscritériosbasicosa constragto da noticia éque algo seja can- sidecado importante cinteressante no contexte daquela socied- de, Um slime detalhe, sempee esquecido pelos ariculadores desta visio: os jornalistas também ado brasileiros ¢, portanto, tenbalham com hierarquias de valores ¢ exquemas classificats- riosse nde iguais pelo menos semelhantesaos da maioria de seus letores sa centrlidade do uso do “iitinho” para nos defini, tal ‘somo oxprossa através da midia, também pode sor enconteada fora dla. Em uma pesquisa que realizei entre jovens universits- riosne Rio de Jancito eer Pernambuco sobre aquestio da iden- ridade nacional, pei que eles lescrevesser 0 Basile ox bras ros para estrangeiros brasleiros, 0 jeitinho apareceu nacacal- mente, sem ser estimulado. F aparecen sob a forma como 0 des- rmogéneas e pasteurizadas como quetem outros, 0 “itinho", como priticae representacio, continua exprestande contini- dine pomantni ve recinkecons como “aos bat Um outro aspecto que observei neste periodo em que stusi como uma “brasileira observante” & posicio ema que se enon 11a ojeitinho, cadaver mais provimo da cormupcio. Na tese que dorenvolv, em vez de definr o jetinho de uma fora substan: fa, como qutros autores o fizeram, aiemei que ele pertence a fal a been jaca ier impsio. Amelhor iorma d ita continuum, ao qual no pSlo positive encontea eo fxvor, no negaiivo, a corrupgio ena posigio intermedia, o jeitinho. A ‘medida que oF ercindalos poitcosse avolumam diante ds socc: dade brasilira, mais ireqeatemente o jeitinbo ¢ identiicado ‘0m acormupeio oa pelomenoe como uma face da mesma, Mas, 4 dévid permanccc, pois as perguntas mais constantes que me fazemsio: “0 jetinhné commupecan?” “O brasleicaécorrapea?™ (0 que essa divide lastra€ primeiro, aimportincia do contexto no entendimento dos significados das caegorias ‘ome afirmou Marshall Sains, em seuliveo hes de Historia, € preciso entender o jeitinko como uma forma de menipalacéo «das categoria caltuais de que dspomos: “esquemas cultura slo ordenados historicamente porque, em maior oa menor ‘rau, 6 signifcados so reavaliador quando realizados na pri. ‘ica (1990-7). E previsotermos em mente as palavras de Mars hnallSablins quando utilize o termo mitopraxis (1990), poiedic- poritivos como o“jctinko” eontém parte da extoque de respon tas “locais” que a sociedade foi capar de formular para lidar com problemas globaise universais auc lhe foram impostos.Se hoje a proximidade maior do jini com a carrupsao, isso poresencan ae de 2003 a dcconrejastameate do contest histérisoem que vivemes. Ese tzindo, esa proximidade que pode nto ser eterna, pode sinifi- ‘ar neste momento aimportacia que tem para és nos define mos e ao pat em que vivemos sb certs paradigms. Esa constaegio da cet 3a da idenidade na sional para o now pensameno intelecual em Fevado daira “Gio dé gue o Bra é um pais som sentdade ou com uma ident “fade ainda em formacso. Embora ex cbifes ao entender oque slgunsinrloranie querer dizer comico, namedida em que oda qualquer densidad enconrase cin enue 0s psicanalisas que recentemente colocaram 0 Brasil 0 iva. Of braileios 20 conteitio, eu afrmo, atribuem 4 quest20 ideniicia uma centraidade que poucas nacées atribuem. Néo porque nao tenhamosidenidade, mas porque a artculamos com | realidade a nossa voka de forme distinea, Estamos sempre em: preendenda uma permanente vingem de amtodescobertae erat ho sobre o que somos e por qué o somos a cada novo aconreci mento, porque rovamente, como disla Marshall Salis, estamos sempre empreendendo uma rexvalsgSo funcional do sistema € hs Categorias culturais. © goreno encontr-se mergulhedo em ‘oneupgo, deimeciato perguntamos: O braileco é corpo? O overno se mostra incompetent: e lento em responder a determi ‘nade sieuagoes, logo indagamos: O brasileiro ¢ pasiva? Ayeton ana morte em um acideate em Imola, no dia imediato um mi stro de Estado aparece nas mancheres de ornais, questionando: "Quctemis ser Aytton Senna ou Macunalma?” Nés, brasileiro, tna pelomenosaelite brasileira, vive se problemarzandoseacuilo que acontece ao nosso redor, acontece pelo fato de esta oconren- dono Brasil e por ser feito por braikires. Ou sea, relacionamos tudo etodosa uma imopinada “brasiidade” em evtado de perma- rene reformulagio, Os Estados Unidos, a Inglaterra e a Franga, : nossos ourres proferencsise parimetros de Primpeiro Mundo, poucose questonam sobre o quesio. Osaconzecimentos, 20 6on- ludnio do que ocorre entre ns, io isolados da identidade nacio- al do ser nore-americns, do ser fran on nls Dit do eee Kets ningue se engin so again sedate tna se com ito de eter oeoreend noe Rats {iifonncn sca nore maroon cere. O ft fatnpera da dente naconelerionado 8 aminst- sibel a memo ermpo em que senor corideradasas Sinensen hitotas que evra yc swag. © remo set com or rancoesem elagioan epson do grandee ‘Acs poucos, entretanto, percebi que a causa fundamental da minha perplexidade incial era a compreenizo de que 040 a4 qualquer outro tipo de negativa, no Brasil, 50 sgnificava o ave semancicamente pretend denotat, Mais simplesmente, desco- bei que ozo aio era. limite. Da mesma forms que ali anor ‘mae acorstituigio também ndo impicam barreirasdefiitvase imrevogiveis para o comportamento ¢ o deseo das pessoas. ‘Anosmais tarde, descobri que um dos nossos mais populares cronista, Carlos Eduardo Novaes, nama crénica intitulada “A TTeavesia Americana’, atribufa, de forma implicita, 0 mesmo sentido quecriginalmentshavia me despertado aatensée. Ono ddo guard americano era definitivo, caegrico e icrecorcvel. O suo do guarés beasleco, como relembeaci 9 cronista com sat ddades, poderia sex tambérn talvexc, com alum “pape”, certa- ‘Maitos outros exemplos do mesino tcor podetiam ser dados para ilustraresanossa “complexs” relagzo como 130, ej este de {que forma foe. Mas, em nenhum dominio, encontrarfamos mate rial mais farto do que na nessa movimentaca vida poltia, na «qual, dariamente,"fatos” novos esto surgindo e modiicando 0 curso de dererminad acontecimenco, de forma surpeeen dente, Além de rodo esse “tabor de aventira”, que impregna 0 nos so cotidiano e que por ssc’ me pareasinstigant, um outro fator fei fundamental ns mika eicolha do jeitinko como objeto de pesquisa: minha longa permanéncia no exterior. E impossvel & todos que tivecam essa experiéncia o sabem, vivendo-se ou co- Inhecendo oatra cultura, por um razosvel espaco de tempo, nde nos apercebermos das difeengas no tam emocional dos amtbien- ta visio de mundo, aos ritmos dos acontecimentos das pessoas, nas reagoes diante de certs fatos como morte, lito, fuscienco, principalmente quando estes ocorrem em contex: ws instirucionais semelhantes a0s nossos de orien. Aconteci- mentor cotriqueros, como festas,casamentos etc, de estrutura, “oganiagaoe objeriva semelharres on mesmo ignais 20s nasses, presenta ur “lima”, ne falta do termo mais técnico inteirs mente diferente. Esse clima no € percebido nem tradazivel em ormos cognitivos, masé apreendido, aferivamente, nas relagéos fire as pessoas © requer um esforgo sistematico, do ponto de Wot intelectual, para ser raduatvel numa lingusgern aproxima, slamence ciensfica que abraespago adiscussGes menosimpressio- Essasdimensdesvalorativas de que se revestem todososatos A via social, ese aspecto fluidico que escapa as rgides andlises de modelos ¢ que imprime toda a espevificdade do fendmeno socal foi, stament, © que mais me mobilizou na minha expe- rifncia fora do Brasil A distincia nos permite dar real a dete thes que antes pastaram despercebidos e nos forea a uma auto- Iuflexio que gera, fatalmente, uma nova concepzio de nés mes Injose do objeto que desencadeou nossa analise. Quando compa- tava a eealidade brasileira com a norte-americana ¢ a bela, a8 Uuas sociedades nas quai viv, era impossivel far nesta a dae los puremente naméricos como nivel de desenvolvimento, pa Ado de vida, renda per capita, PIB, PNB etc. para explicar as di- fecengas, Por outro lado, atribuirdhistriae cultura, simples- mente, rodas as manifesagies que 0 modelo econdmico nso ‘consoguia explicar também aio resolv o probleme. Era neces siniowdentifcar de que tipo eram ess diferengas, em que nivel seenconteavam ¢ 9 que sghificavam. E ¢ justamente neste grat sla comparago eda indagasio que ojeitino se inseria com per Feigao. Quando crasolictada a desrover o Beale brasileiro 0 ‘que dizer? Falar do Bail ofcl ou do ofciowa? © pats dosab- deseavolvrente, acids extras, co milagre dos 70, das {inasmucearese de nipuéo meso do tinho, dogo dob ho, dis dtcanser sobre a ecaan de samba que comecam 0 lvorecer do segundo semestee 56 terinam depais do Caraae ‘il ede vari outros aspestos que jamais suger, quando def ime ofciaimente o nosco pals ¢o nosso modo de ser, Pars ore amercanos e helgas ext aspects pareeram simples ‘mente imposes de ser cocliads dentro de umn mest fro inition Por tee lac, pact 5s brits, todos estes sepecton,¢ jnso& mais arpreendent sada, ovine como resis de cs ‘eanuras econdacasubdeseavelvda,fadadasextingio,2 me ida que avangamos em noses conguistasecondmicas poli: ‘3,08 como fatos qe 6 marcam pretenge no domino do “il lore” ou da propaganda oficial, Fondnenes como “neposi- smo", empregusin et, endémicos em nowy universo socal Sem qu com esta afiemacto vi qulqperintensio moralizane ‘Ho percebidesapenat como cvosindiiduais astrem corrgidot jnicslmente ou como consegiéacias pecverss de wm modelo politic erade ase odiears de adangs deve denurciae: Nox Ss descrigGe oficiis do Brsl eda rosa dena so re smalment feiss dentro dem dseuso police cecondmico que presenta uma reldade oficial univoca, pois permite se Alescricdo universizante, descolaa das staaées sexsis com ‘et Jesamente quel ie nprimem 2 xpecfcks 205 {ater eos lngate «pormitem que pasercom PBs, NBS, RFCs, cceriras de clawe ¢ partidos polices semeltantes consign ter reaidades soca inczameate diferentes ssasabservagies no cont qualque read anise pot ‘ica ov econtmica dareaidase ov abedade policoparndana que vie aera do eval tatu quo Ease rlacions ists, umdetersin po de disutso, vento privat ou excla ‘vo dosecenomiseson ds cients elltcos, de tepresetar ile ovbraileiros apenas por meio do aoiso desempenho nos proesses. Allis eta 10 & ums tendBacia resent, ina com a fse “iecnetaa” ps-1964, como a mioia das area em gosta defer cer, Te fists am breve balango das mplas interprets desu o Brasil tem so elvo, verfieareros que podemser ag Joa em dois ips: aguas que procararam eprocuramexpli- ‘blo, exchssrament, a partir de sun estrurraecondmics, pole Wer (¢,n0 inkiodo scale, acl), privilepiando, neste ease, o¢ Insropresssion, ¢ aqueas que procararam vile a partir dh ‘ompreenso de suas caractersicas “cultura, As do princi ‘ipo predominaram na inicio do scala até meados de 1930 e, ‘pos, rssigiamemtorne da décacade 194 Asdosegundo vera ae pero durso na dada de 1980, decaparecond> ‘ue que completamente até meados de 1970, Olviameate, Jutnine uma dvisioestnque erigida,masbaseada ema. 10 que podemoe serict, «parti dessas distingies, € que, ‘qusnde ans iterprottvn procurva sexpieagio do Bra for tncio ve seus proceaos politics ecosdmics, de sua “in fimeserara”, aoe volevam-s aes i enjunt instcio- fal brace, para aidensfcario ca presen on ausencia de thterninadosclementere paras qualifcac de ipo derelcio- fmenio entre as ferent’ “cases” eglupos soci extrarara fev, relagces de trabalho pré-apialsas, reagbes de domi- Inicia ete, Quando, por outro le, ease procaraena expe ‘go do Beal por meio de sua “euleura”, 0 ques pile frams"usose costumes? do pore brake, an extruturafi- Hae su religisidade ev. as peruntas bisicas volaranse ors #compreensso dopa pc melo das snagaes socks can- (eta, Aor o par do inerpretacSo sempre se relsionaesm finds fazom de forma excudeness0 que um pvp justa- mente 0 que o outro exci. (Quando a vise “estrurael”predomina,o falar adquire cer a donsidadevcomplesidade, Osspito da andlise a socedale beuileimec objesivo central étonaridentifcaras aus cond smicase polticaresponsiveis por nose aual statusquo. Opov0 brasileiro e sna visio de munda cificlmente sin tratados coma agentes atuantes ne nossa formagio social. Normalmente, 0 ilies nas divistes de classes soca que inicam, sob um pon ‘to de wats excisivamenteecondmico ® politico, quai dlse ‘semmpenham pape ativo at exiténcia das disorgGes e quais sio ‘salvos dot meswas, As siapses socks coneretas, 0 conkant ‘de ibitose costumes, sias eos valotes predominantes per ‘demo sea status de indicadotes de aspects nai profundos ch sociedade, Si0 tratados come expressio de distorgoes erat sais mais profundas, mas, “flizmente", condenadas a0 desapa~ reeimento ou a transformacoes radicals ssa forma de perceber ‘Brasil aZo é exclusiva de ume postura politica determinsds, amas de wodos os que esposam a interpretgso de nos pas por meio, exclasivamente, dos grandes process soci. ‘Acuna inka deinterpretaxao vola-s para a expieagio do asi pela compreensio dos elementos considerados deter ‘minantes da formagio histérca «cultural. Dai sun énfase costumes, naconipreensio eno estudode insiuiges come sf nila ¢aigreja ena vilizagio de stuagdes socinsconeretas como dados Por outro lado,o conjunto institucional, ccondimicoepo- Iitica, embora referido e consderado, perde a candigao de de terminante do modo de vida da sociedad brasileira, Na verde de, grande parte dessa produgio intelectual # uma tentativa de fazer uma histeia socal do Bras, problemstica que, 26 muito recentemente, proocups os historiadores brasiliros, como lus ira serie de trabalhos roves ness area. Alm desasdiferengas no tipo de dado utilizados nas per- guna formulads pelos estudiosos ena idemuificacio das caus na interpretagio final da sociedade brasileira, sentidas por’ ‘qualquer interessado em ler as obras desies autores, us outa disting2o merece ser assinalada. Fnguanto ext ulna vertente interpretativa constraia, por meio de san andlise, uma idenida- de social postva, a outra deservolviacaramente uma identi de social negaivz. Esasdierencas podem see peteebidat 9 V0- cabulcio wilizado em tom intmist,otimista e enfsta das pri imeiras, em flagrant contraste com as segundhs esritas, em Vo: cabuldto mais dens tenico ¢ de crescente complexidade no tocante Bs ends econdmices. Embora esa possa ser uma dite renciag irrelevant para alguns, Yarns veifcar que se repete fem diferentes tipos de dissarso sobre a sociedade brasileira, & prttr do angulo pelo qual a pesioa considera importante a dei rigéo do que €0 Brasil e do que sip os braileiros ‘Como sees paralclismo entre uma eoutra vertente na in terpetacio do Brasil no fosse suficiente, aapropriagio que am bhassofteram por parte de algan sete: daimelecmaliade bra sileira determinou maior aprofundamento dessos diferengas aque necescriamente nao seriam excludentes, mas, cave, até tncsmo complementater A partir da déeada de 1980, quando a ldenrifcagio das causas do subdeseavolvimento brasilsito 3¢ torna priorititia dentro dos exquemas analitcns utlizados no Brasil, todas ax obras da vertente “caltualista” ou “familia” wiilizando uma clssificagao de DaMatta (1985), passaram a ser ‘preendidas partir do um eixo progressista e no-progressists Se,iniialmente, no momento em que foram publicadas (cada 14e 1930), foram revolaciondtiae a0 destronatem os grandes es ‘quemasracais na compreensio do Brasil, mareando, de forma indelével, toda una geracto de intelectais braieios, como bem nos indice Antonio Cindido na sua “ntrodugio” de Rees a Prasil (1973), posteriomente terminaram por ser analsadss nas’ vz do posigho politica de seus atorese deseu backgrownd social do que propriamente pelas coneribaigdes que procuram tnaver 4 compreensio dasocedade brasileira, Alguts techos c- bre Gilberto Frere, um dos expooates de vertente “cual 0 istrativos do gue acabamos de dizer: na abordagei ssi permite, dosde logo, visas em set compurtarent nla, que tans sc adem il 0, postin enrigament seal eecnmicc as express de cam eaneato dominant, bora em ere. Caregs consgo am cto seni de mand, as marcas da dsingioe do presto, ‘sla senhorial do mando siaviada senss peas condigs ger devid ceidas ra eteira dae tranaformagesovbine plies. foco a cise de 1930. (Mota, 1977, p54) oro ra pati, Ee ¢um apecosinemaccament rec po todo os cticsdces ina frp, Por exer plo, no aso de Gilberto Freyre arama de rlconantos esos everusn que ve enabler etre snore sce fes-enresinhainase uss maaan fist parsea Ionerasrslogdes entre preterebancor em etes domino Fev outosconteron lem da acuta do oper Mai do fs apontar eagbes de vbordnagine exporglo eek >. fev procuraram setifis vera forma ue ems tome fn Maid que cous economics pln, busca e- hee sbcema de alors impicos nas precast dex fe dominio: Ale ico, lrznaran sues ge ae hoje encase ianign nonce vemos catediooy, como foes ls race pests na earturagno da scene bros, Wasa, 1979) Portato, rgumentar que ees obras ram impression fosc cornet dofundamentes amplicon pode st cero por. Fev iodiear une deficioca deus mas reves tae» pongo Metodolgin deveus eticos Por que sentam ox eratoe dat Pures estates braseiras mais verdadciven x capo do Broa do que aqulebteado um sou srpecor omesinhot Before ne uct aos specesmetodolyirnunkament, foes estos eam, eyo impress como orsneioe, oe poucen fons prindsas fore © oo coords Bath gue oretrare presenta corresponds quo que se feria sr “eaidde” brain A vigo “ential, fomno:“ctdans pens uae forma derecred Hide cn que dctrminadoepactorsornineftizndoe Beso: oem SDverdate quip cra dene ators or thé A preociracioem “der obrasleno" Nem poderiaer ecu Pebform, ccs o campo elect ooltica da Spce. Como fur naconainno que nsolaa ornundo a década de 130, mi crocsnievilinca contica daa dadatil fara ocon scorns anropclgaesobre carter nacional, (Ormesrio movimento que o leva gortar dae goibada das tin dos babados da prima Fulanao eva gostoramente «uma des ‘acta patriarcl, em que et, ec. Como vé Mario Neme, a es tum caso em que mérodo cultural caregaSgua para o monjal ‘da saga, (Antonio Cindido, Gedo ert Mots, 1977, p. 131) Parece-me que ese tipo de eritca, que tem seu haga de er; se queremos realizar uma andlise de campo intelectal do autor, teu posso pedirum eto am dascanhecio, favor nto sepede ‘qualquer un, linplcta na premissa anterior existe a ida do {que deverminadas asmuntose sitagGes requerem confiaga por parte de quem pede e, portato, & necesirio conhecer com ‘quem e std tratando, Relacionads também a cistingto ene favor e jlo, esc a iia de que o favor nioeavalves tanegreso de algums oma, ‘oa reyra preestabelecida, enquanto o jeitinho envolve quase ‘ermpeealgam tipo de infragao, Esa tia dstngdo est corre lacionada i rigides do dscurso sobre o sito. Quento mas con ddenateio desta intiuigdo paralela cle for, mas enfatzaré sea aspect de tranigresch, Quanto menos negativo, menos aen- ‘lo died a exteaspeco. ‘Um altimo pontoaser mencionado €0 de que o favor seria um comportamente mait formal, enguanto 0 jin, mais formal, e que o clo de rlacionsmento que envolvsas pessoas np favor seria mais Tongo do que o jet. Embora houvéssemos apontado algumas dstingbes que freadentemente surgiran, ficou patente que, embora no nivel derepresentagio simbsliea amaoriaadmiise ama distinct entre essa das caegorias, na pritie classe ‘ane mistaadas. Posso pedir 2 alguém para filho” e nto infringe nenhorms reg, como posso pedir um, favor" aalgafin etansgrediealgama ei peépria usilizagio ileum termo o« outro também é muito problemética A esse reepeito, podereios dizer spenas que, quanto mais de ltima, hora éasttuacao, mais frequenteseraautilizasaodo termoje= to 01 “qucbra-galho” Em relagio as distingbes entre jeito e corupcio, embora 26 representagées scjam mais ou menos elacas,a pratica, como no ‘aso anterior, encontra-se meio confusa. Para a maior, que dlscingue um do outro é a existéocia ou nto de alguma vanta~ [gem material advinda da situagio, Mesmo assim, existe situa ‘Goes que emvolvem algum ganho material e que no se vonsi= deradss corrupgio e sim jito, Por exemplo, dar urna “cerveja"™ antecipada 20 funcionério do Detran que fae a visroria do sea cxtro, dar um “dinheirinho” 20 guarda que resolveu n40 molar te. Emboracssassituagesenvolvam dinheito, elas ofazem em pequena quantidade e envolver também muito “papa”. Entre jeite ecorcupsio, a distingio que grossa modo poderia er fita seria em relagio co montane de dinheieo envolvido, Enquanto tudo ficasse no afvel da “cerveja”, do “eafecinho” e da “gorje- 1a”, seria ito. Quando aleangasce niveis mais altos, adquiriria atizes de eorrupgio. Embora a pritica das pessoas entrevista- das funcione dentro desses pardmetros, areprecentaghoe osig- nifcado atribufdo iréo variar de acordo com o discurso adora- do, Para a8 pessoas que atuslizam um discurso “erudite” e “condennt6rio” do feito, omontante do dinheiro pesa,mas aio um critério absoluto;aransgressto danormaes poucacredi- bilidade instituciooal que a pritica do jeito acarteta so consi deradas fundamentais. Un dlkimo aspeco a ser mencionado, em rela ds distin es atrbuidas ds diferentes categoria, é que a precsio da dife- Tenciagdo aumentad medida que se elevao nivel educacional das pessoas. Da mesma forma ques distingéo entre eto €conrupsio € mais acentuada dependendo do discurso das pessoas em =~ lagio go primeiro. Quanto mais favoravel fora postura das pes- soas em relacdo a0 eio, mais cla oachad distin de corrupgi0. ‘Quanto mais critico e negative, mais semethante. Por ruco que foi dito anteriorment, ficou patente que, para ‘a maioria das pessoas existe uma distingSo clara no nivel dare Naveponde em Ages Brie: © Maps Sood do atako 48 presentagao sinblica entre as tréseategorias mencionadas:fa- ‘or, jito e corrupcio, No nivel das siuagbes sociais eoueretas, ‘no ehtanto, os limes entre elas so bastante imprecisos. Se, como vimos, 0 eto € universalmente conhecido, tam ‘em ¢ ignalmente praticado. Quase todos responderam sim 2 pergunta; "Voce usa jeito?” Em rarissimos casos, 38 pessoas a faricamente negaram ser usudrias dessa insticuigio, Os argumen- ‘tos. objegGes levantados contra a pritica do jeirinho eram, via de regra, de cunho ética e moral: “é justo”, "deve se esperar a ee", “no se deve fazer diferenca entre as pessoas” cc. (Os arguments favor da prtica cram caleados mais na ex- petidncia empiric daa pessoas: “todo mundo faz, nto vox ficar de fora”, “uso forgado pelascrcenstancias” ct. Para es pessoas (que aprovacam a insitigho, a argumentacso enveredaya tam 'hem por principios cos moras: “ndo nego nada a mings”, ajuda quern posso”, “todos devemos nos sjudar mutuamen- 1e", “uma mao lava a outa” ‘Areaiéncia com que as pessoas entrevistadasfaziam uso do jeito estava condicionads, segundo elas, “ccasifo”. Desde que fs se aprescntasse, omecaniamo era acionado. Existem entre- tanto, variagces em relagdo 2 forma e freqiléncia com que as pessoas “clasificam” ou nio uma sitagio conno jeitinho. Por ‘ceemplo, quanto miais posiiva for @ dscurso sobre cle, maior seréatendéacia das pessoas para identifiearem 0 jsto em varias stages e reconhecerem um determinade eontexto come ade {quado a sew uso. Por outro lado, at pessoas com umm discurso ne: ftivo jambs tendem a identifica stuagGes como feito, com Inaior freaiiéncia, pois aintengSe €sempre denunciae rl tpo de sstaagto. Entretanto, de modo geral, as pessoas se confessavam us riasdo jeitmbo, ealveratémaisdo queo fizssea, mas sufcicn te para acharem que esa era ama peitica comam ne cotidiano brasleito, Quetemos enfatizar, condo, fundamental a9 peo- soas “acreditam” que o ito sejapraticado, de forms diaria @€>- tidiana, no nosso universo social 0 DOMINIOS D0 JEITINHO Aburocraciaée dominic, por excelenca, do dar um ito, confor we a maoria dos informantes. Segundo eles, € nesse Sor gue ais freqientemente se lanca mao do expedinte. Essa é uma constaragio que aio surpreende, tendo em vista aigkket eo for malismo da organizagao burocritia brasileira. Aqui, procurs-se prever todas as situagdesposiveis Regula se rdo todos, exeeta (5 direitos do Estado sobre o individuo-cidadio. No Brasil, 0 etado se faz presente a cada etapa de qualquer procedimento bu- roctitico. Desa fit cia uma siuasio paradoxal, para uma ociedade com setores altamente modemizadoseindividuaistas. [Nela,o Estado deveriaatuarapenas como mediador dos conftes de interes, mas le se torna a encarnacéo dos princlpics hier ‘quicoscholistas, separande-seinteiramenteda sociedad. O Est do desconfia de sen cidade eeses, do Estado. O primeit, por interméio do sistema burocrstico, checa creche exda afta 80 de seus usuiris; esses réem-e mergalhados numa cede de ‘exgSacias, muitas ves incompativeis ms com a8 outras. ( interessance€ ue, para sobreviver dentro desse sistema, 3 solugio escolhid, 0 eto, parte de pressupostos opestos 203 que norteiama burocracia. Enquanto a méquina burocritica éteork ficedo bastante ditnto aqui no Bras «, por exemplo, nos Esta ddos Unidos. A miséria, a pobreza do cdadio ne Brasil o exime 520 JEITINND SRASILFIRO de qualquer responsabilidide individual naalteragio da sinuagio. fem gue se encontra, Diante de mendigos dormindo nas rua ‘eacio normal é de pena pelo individuo eindignacia pelo gover- ‘no, que nfo toma providéncias ¢ no faz nada pata alterar case ‘quadro, Fssareagio se altera apenas quando nos deslocamos da awvaliagio poltico-social para a voltada a parimetvos espitituais. Para oxespiritas de linha kardecista, qualquer tipo de sofrimenta fisico, moral oa material deve ser encarado como uma expiago de eros passalos, Mesmo nessa postura o individua concinua passivo diante dos fatos. No universo norte americano, a 1cag30 contriria. Na revista Time (margo, 1985), podemos nos ine\- rar de como o norto-americano médio reage aos miendigos ques awalmente, vagueiam pelas uss das grandes meteSpoles nore” americanas. De acordo com as palaveas de urna mulher america na: “Why can’t they jos mendigos] improve the quality ofthe i= 6 without taking aveay from msine?”? que ela estava querendo dizer é: por que deveria de algu- ‘ma forma contribuir para melhotar vida daqucle cidadio? Essa ‘arefa surge para oamericano médio como algama coisa da algo- daindividoal eque néo devessr compactilhada com terciros Conchuindo: como vimos, 0 fatores mais decisivos para a obtengio de um eitinho io puramenteindividuais. Nao depen dem, pelo menos diretamente, dos elementos que formam a identidade social das pessoas como dinheito, status, ome de f- inflia eligito, cor etc im individuo que nao ocupe posigia pri vilegiada dentro do nosso siscema social est igualmente habil tado a pedir um jitinbo, desde que suiba pedi tenba vm bor “papo”, sia simpatico ou charmoso, Por outco lado, uan general podera ficar sem o"Seujeitinho” setentar valer-ce de sua patente deforma sutoritiia. Para sir da stuagio,teré de cecorrr fatal mente a0 “Vac? sabe com quem esta falandos”, que podera see tanto ov até mais eficaz que o eto, masque depende de voc? set “algaém” dentro do universo socal brasileiro, Portanto, tanto 0 *joio-ninguém” como o deputado, desde que tenham as condi- ‘Ges individuats, est2o qualifcados para urilizar 0 feito, Nivegando em Age Brit: © Maps Scnlda eo 88 A TECNICA DO JEITINHO Alem das caracteristicas individvais mencianadas anteriormen= ‘csparaser bem sucedido, o pedido do eito tem de ser conduzi- ode determinada maneira.E, para que asitaasio fique sob con- twole, coda uma técnica especial €acionada de forma, em muitos «casos inteieamente consciente por parte de quem pede. Aestra- ‘gia utilzada € sempre eavolver emocionalmente no “seu pro- blema” 4 pessoa de quem se depende naquele momento, Para |ss0, procura-se “apelar para os Kons sentimentos”, “boa vonta- de" e “compreensio” do interlocutor para a “sitiagso”. Usii= arse sempre uma argumentagie do tipo “chorar miséra”, como lisseram rias das pessoas entrevistadat, em que se prociraen= fatizar a precariedade da situagio em que nos encontrainos © a necessidade “urgente” que se tem de resolvé-la Esse tipo de técnica se torna bastante significativa se levar- nos em conta que, nomivel da pritica social das pessoa, a8 dife- rengas que iremos observar no tocante 20s discursos sobre‘ desaparecem inteiramente, Ese tipo e forma de rgumentacio & comuma todos os segmentosestudados. Ter press, o tem aea- sou, dois peofessores marcaram prova na mesma semana, «fil estava mait grande, nfo tinka o ito na bibliocea, minha mie ficoa doente, preciso deste papel para hoje ee. sio todas justifi- cativa bastante comune e consideradas legftimas por codas a= pessoas Seas observarmos, contudo,verficaremos que si0 t- ‘da justfiativas pescoais, pie itolam quem as usa das demas pessoas na mesma situagio, So angumentos que procurata ‘ranspassar a esfea da responsabiidade individual invadieaes- ferade responsabilidade de teceiros. Estar com pressa para con seguir um documento ser, num universo anglo-taxio, proble- ada esfera privada do cidadio, nio tendo a pessoa encartega- da de Fornecé-lo nada a ver com isso. Aqui, entretanto, aio sé comparilhames com quer nos eve fornecer, como também é ume das primeira coisas a serern dlicas. Compartilhar os problemas pessoas da vida de cada um & pritica disseminada em todos os segmentossociais a qual rrans- forma em co-participante, ou asim se espera, quem deles sabe. ‘Ao tomar conhecimento dos problemas on eventualidades que allgem tercctos, as pessoas envelvidas se sentem “constrangi das” em nto levs-losem consideracio, Dessa feta, dspersar um tratamento condicionado polos regras prosritas s torna extre smamente problemstico, ainda mais se ese cratamento comporta ‘uma negativa, DDizer no no Brasil é aventura no terreno do desconbecido. A ce repeito, a revista Vfa (07/11/1984), nasegdo “Ponto de Vis- {2° publicos enssiointtulado “E preciso dizer ni”, de Fernan- do de Oliveira. Nele,o ator, sem qualquer pretensdo de anise saciol6gica, mas bascado na sun experiéncia de administrador de recursos piblicos, afirmaya que o Brasil precisava para ter como ‘governance “um braciliro com wocagdo para ndo antorica cortos gastos ¢ perder amigas”. F- mais, cal individuo deveria “recusar comtes para simpésios, jantares, imauguragies, rodadas de dua ‘mineral outros eventos socias.. Se iver cara de poncos amigos, tanto melbor”, Na verdade, o que 0 artculists queria transmitir cera a total impossibildade de se uiizarem regrasimpessoais # universalizantes no quadco social brasileiro. Para se cumprie 0 [prevsto, em resumo a lei, seria preciso primeira dizer no 208 amigcs depois cortar ou evitar todos os lgos com a soiedade. ‘Caso contrivio, Simpossivel se eficienteese fazer cumple Essa postura est alcereada em uma visio de mundo em que. Bnfase dasociedade écalocada nas relacdes que se estabe- lecementre aspessoas, mais do que em qualquer outa. Iso tor ‘nao Brasil um pais que todos querem ser pessoas endo indi- viduos. Qualquer vantagern ou desvantagem social que a pes soa terha pode ser uilizads para promovéla a tal categoria. Corroborando ainda mais esa siruagdo, temos 0 proprio siste= sma burocratico brasileiro, extremamente eigido, ineficiente & intransigente, mio dando espago 3 pritica do que se costuma deriominar “bom senso”. Isso permite que os prdprios executo- resdste sistema, na auséncia de alguma regulamentagio espe- Nagand om Aguas Brstoias: 0 Nps Socal do etna citica,regulem, nio tendo como base o bom senso ou os chama- ‘dos direitos do cidadio” ou oespirito que instru esta ouaque- laregalamentasio, mas.aprépria vontade pessoal. ssonos per mite mergulhar num verdadeiro emaranhado de decretes2uto- risériose personalistas que diluem quase completamente qual ‘quer possibilidade de funcionamento de siscema com um esp to universlizane. Embora essa rigide7 institucional facliteo desenvolvimento sess aspectos,inclino-me a pensar que essa busea pelo trata ‘mento personalizado existria mesmo que o sistema fosse dite rente, Arazio disso, rsio eu, encontra-se no fato de que mesmo rns drens que nio esto submetidat a critrios de eficiéneia, pro- \lutiridade, competénca, desempeno ete, cla se encontra pre ‘sente, Iso me leva a cer que essa atinde ¢fruro de wma determi nada perspectiva inteiramente diferente das rlagGes entre as ‘pessons, dos direitos de cada um e da propria rociedade ‘Uar exemple que podera ser iastarivo para o que acaba- mos de dizer é o comportamento das pessoas em filas de um modo geral, Epraticamentecomum e universal asfilas se organi= ‘arom por ordom de chegada,sejaparao cinoma, paracomprar 9 po, para ebaneo etc. Nesse contexto, onde eficincia edesean- ppenho niiocontamc, portanto, do ponte de vstaligico mio de- veriam exist, 0 uso de expedientes como 0 jizo ou simples- sents 0 pedido de pasta frente se fazem preventer mesmo ss- sim. F comum nos supermercados, nas copiadoras etc as pessoas {que tém muitoa pagar ows copiar, via de regra, serem abordadas por alguém que tem pouco, pedindo para deiné-lo pasara fien- te. Umanegativa ness caso 6 ber pouco provavel, pois ninguém {quer incorrer no perign de soar antipstico ou “sem boa vonta- de", Bstabelocer com claroza um limite, argumentando que ‘quem chega primeiro deve ser atendido antes, no & comum. Lembro-me bem! do relato de una estudante que ficou meia hots em uma fils de xerox para irr cingjienta cipias, poiscada lum que chegava com apenas uma, das ou tts e6pias peda para passar a frente quando via que ela tina muitas, Nos Beto 56 0 JEITINKO BRASILEIRO Unidos, nfo ocorreria a alguéen pedie para passa 4 frente em uma fila pela simples razio de que a pessoa que est antes rem uits e6pinsa tar ou muitas corapasa pagar. Essa stuagio no ‘envolve nenhum eritério de eficiéncia, produsvidade et, por parte de quem presta 0 servigo. Envolre apenas o critério de peecedéncia por ordem de chegads. Fmbor sejuum critério muito sadoca deteminodassituagSes,como asmencionadas anterior mente, ele no €absolutonaordenacio de determinadh siiagbes nnasociedade brasileira, na qual o aitéio da “accesdade pessoal” (dieamos asi, na ausénis dew temo melhor) é mais impera- tivo. Portanto, aprimeiaattude de quem precisa de algumacoiss € declinar aus problemas de “ordem pessoal”, pois esses he da- ro precedéncia em relagio a quem chegou primeico, PERSONAGENS TIPICOS DO JEITINHO Embora oeitinbo seja usado e principalmente *peusado” come tuners na sociedade brasileira, existe um personage que, por suas caractertstias, €considerado o usuitiotipico dessa nossa inatimigso paralegal: o malandro. lis, em mais que usuicio,@ ‘malancro € concebido coma a personificagio do espitito que peemeinojeltio, Ais, nio€ toa que um dos sndnimos mais ‘comuns de jetinbo € malandragem. Se examinarmos, come fea DaMatea (1979), o contesdo social do personagem malandeo, identiticar urn com 0 outro, constatamos que tanto © persona: gem malandeo como riual do jeiinbo reprosiuzeme atualzam aspects ambiguor da sociedade brasileira. Sao pontos centrais ddeum continuum que vai de um polo postive para um negativa, ‘com una dren ambigua no centro, ende ambs as categorias se inserem,Séo justamente aqueles elementos que promoven ait tersegio entre dois mundos diferentes: o legal, honestoe poste v0 com 0 ilegal, desonesto enegativo. A sega, a tiulo de comparacio, reproduzimos alguns dos specter caracterfsticos do malandro e do eitino para que ast ica que es last & pena de sigicado, is, a vegan om kgs Sasteias: © Napa Sdel do eenbo 87 erpesigaa do tipo com 0 comportamento posse ser melhor apreendida: Malenéro Jeitiho 1. Tipo que freqienta or zomae 1. Fspediente rbiguo,Sima-se ambigaat da ordem sociale ene 0 favor considerado Iba arse nos lugares hhonesoe psiivamente lnversticins d rociedace ‘arneerzado © 2 corrpsto Aesooesta,pereobida deforma negatva. 2. Insts nem legal nem ‘legal, mas pace 2, Ser que se situ dentro da tlassficago nativa entre 0 oneste « 0 marginal 3. Vive no mundo da 5. Procedimento social defnido Improvsagi, de sentimento_comg'uma forma de criatwidede «da sivdade «de improrisago, eriando ‘spayos pessoas em dominios impescosi. 4. Um se altamente 4. Process indvalinantes Individaslizedo acs pelo modo basoa-se, para sua sfcica, ma Ade andi, falar ou vesticse. idence “pessoal” do incivins 5. Vive sempre do eno presente, 5. No é wma forma de acho Niotemam projet de vida seca planejada. Surge e € Aefnido tlie «partie da situagSo. eae Roker aN (1979) este: es ead Para no pensarem que estamos forgando wnsa identidade ‘eno jetinbo e 0 malando, basta examinarmos nossa iterato~ fe cstudarmos alguns de seus personagens mais Famosos como Macunafma, sido pormuitascomoa encarmagiio do brasileiro i= pico, Pedro Malasartes, Saci Pereeé, perconagom ambiguo, nem ‘bem homer, nem bem Fantasma, que vive de pregar pegas. To- los eses personagens sio extremamente indvidualizados, tanto pela sua forma fii como pelo seu procedimenco, seu modo de vet anda ¢ we comportar ¢, também, pela moncia come vi- ‘ean bascamente de preg peas nos teas dears bem de ‘Sagdes em que tnhatn tudo para se dar mal, ransformando ‘Sit desvangene em trans ce foram bem manipalados pelt ‘Gatvidade «improves, dav ticnicos mais witzada pois ‘subrios do jitinbo. ‘Umadescrichoo malandeo felt por Morengeea (Moreza daSilva) consalerada a tin dos malandros (i E, 1989), $5 ‘een eforgst todos os aspects meneicnadsanveriormente 2 malandsem po dr acho D que exe hoe é hanno, Ante no os bortinhar que etelatam sia € 05 ees {uepuakum av otraepara abla wmpreconerguiasam ro: Soars no belo, Alay do malandeo, 0 verso toca easier possi am. ‘cuteo personage qu também represeta«encaraagio aera tia do cpio qe pormeina etnker 0 caries, principale. te quando visto en opoigio ao pasta, Enquartoo prime € hem-hursorado, sinpatcn, bo-vida, last, preps, esta de samba, chope, pra, mulher ¢ caraval, deseuvolreu wma. particular oeraapelo trabalho endo uma poténia econ, (segundo representa on valores opostos. Ea pimeto liga, € ‘eahalhado, bem-sucecido ecnemicamente seguidor das ese des normas, meen tun cade om Sole sem mar, fia € 32, fonde tudo funciona fiertement¢,sinds por cia, “camegao Brasil ras costa" Enguarto o crtoceroprsenta.a parce hii, alegre eral 16 do pas onde o va coragi, 0 pauista epresenta posts ‘ertente moderns, cliente, 0 nosso “cétebro”, Als ni & de surpreender que ocacioca wi into eomiou one otiico peso ager do tino, Ele € bascamente defini como un eara “mlandro”, “slo”, asua:enagem em viros ives éconfundle dls coma do prptio salandeo. Por exermpo, alguns ives id ‘ico apresertan 0 cariea vet com areupatipica do mala Aro: calga ranca camis listeada, avercn rs ease 0 Migs Sc do ote 98 Para conchir, queremos limba 20 itor qu, embers a coincdéncias ete spas scsi oetinho semen cle "uo deve pensar em substancilzslas,Ambos nie corespon= dem, pelo menosexatamente,comn esis cesrigtes, 2 enhuen tipo real So rpeesentagies seit ques sperpem trmbénh no nivel das representaes€ que nos sinalizam para apectos sinufcatves do nosso univers sci horas 1 Aes ae es noha cle base pera ‘ame exverete ea obo po "epoca Unauerpe tae ured ede oer swazen A ‘caus (1977) esta nes be aaa inp deso ey pny edad Leas mares © papel Inrbrert desrsodopeb lates iso elena esta Salon Ebon baanetaa sn andscolae save ant ak tnoqnichotaige noun derwrtoregaodeie sano ¢ nr os necessiies para tl 0 0 JeITINHO BRAstLEIRO Oetinho marca no discurso eoudito preseaga extremamen ‘te negativa. Fm primeira lugar, no € considerado uma caracte- ritica brasileira; existe em virios hagares, "Née ndo somos origi nals nem: nis, “existe jetinbo ma Grécia do mesmo modo gue gui" ou jeitinho existe em todos os lugares” foram algamas das afiemactes fete pelos informantes. Para odscursa de centro, jeitinho reflete nossa condicio de pas subdesenvolvide ou con- tingencia da narureza humana que um apatelho institucional apropriado & capaz de cobic. ‘Fi para o discurso de eequerds, 0 jetinho surge como parte deur conjunto de valores manipulados plas elites para, obvia- mente, esconder as contradigoes da sociedade. Neste conjunto de valores, do qual ojetinbo faz parte, esto incluidas todas 2s “especificidades” do povo beasileio, como alegre, cordial, sra- pitico, amante de sambae futebol etc “Essa bistéria de que ndo amos um povo violent, que somos simpatices, cordias alegre, que no temas dscrisinagdo racial ete. sioideologiasescusas. A bist6ria da escravidéo, das nossasrelagbes com os indios, do nivel demisériade nosso pove eso ai pana provaro que realmente so ‘c3" ~ disse me um intelecwal, “A iste do Brasil precza ser reeserita? ~ aliemava-me outeo, “O proprio Sérgio Buaraue de “Holanda desmenti ese negocio de brasileiro sersnthomem cor. dial” disse-me ainda um terceito. ‘Als, paraa maioria dos informantes que professavem um discurso de esquerda, ofato de se pesquisar um tema como 0 jeitinko era um sintome altamonte negative. Néo 36 pastiam {do pressuposta de que ew acreditava na “ideologia do jeit- sho”, oque, de inicio, me colocavana “triths enada”, como se esforgavam para me demonstrar que nem mesmo original o tema era, visto que essa “nossa instituigdo” se encontrava em varios lugares. Entretanto,apesar desss diferengas odscurso de esquerdae ode centro tinkam no fundoa mesma posiio acerca de qualquer tipo de siwagio social conereta que se quisese discuir. Esas ‘ram sempre percebidas como fazendo parte do nosso anedotieio INO FaLA00. Bt ‘oncomo elementos residuais que um arcaboago econtmico, insti tucfonal, police ¢ ideoldgico adequad fia desaparecer. Ne- ham dos dois dscursoe v8 no eitmho ou na énfase nas relagGes pessoas ede parentesco da sociedade brasileira expresses de as- pectos estruturas E, por iso, ambos tim grande dificukdade em ‘asificar iquidar com apritica social brasileira principalmen- te novel da relapbes interpessons Se, por um lado, constacam dliferengas nas relag6es sociais de Brasil ¢ Estados Unidos, por exemplo, por outro fies dificil explicar a diterengas ( diseurso de centro aribui 3 categoria “cultura” algo inde Finivel ¢ ao nosso proceso de colonizagéo alguma responsabil- dade nessa forms de sr. Sob esse posto de vista, nossa identida- de hstorica € manipulada de forma positva. A nossa famosa “mistura das erésragas receita porruguesa, foi vicias vezes i ‘yocada para jusifcar as diferengas na intencidade das relagoes Sociis, principalmente 2s racais, Mesmo gue se reconhega ors cismno€ seja preciso combaté-o, fomecendo 20s negros instru- tnentos de Tats, principalmente juridicos, a “esséncia” das rela {Ges brancos enegros no Bras] é nese discuso difecente da nor: te-omericana, Entretanto santo as diferengas como as caus ja mais sio inseridas em algum modelo analitico. Uni outro aspecto caracterstico do discurso erudivo sobre o jeitnho € que, a0 vinculé-lo a um ambiente sociopolitico es pecffico, restringe em muito a definigio. Passa sempre a set ‘uma forma rapida de resolver algun problema, burlando alga- tna regra ou norma preestabelecida. Todo oaspecio desolugio ‘ritiva para eventualidade, de énfase nas relagbes sociais do Aliscarso positive populae, ¢inteiramentesubstiutilo pelaenfa- se na transgressio. Especifico nosso seria, para o discurso erudito, a tradigio dle impunidade, Para ese falar, em todos os lugares existe trti- co dcinthuénca,jeitinho,colagbes pessonisete. Adiferengs,en~ tretanto, reside em que “12” (0 exterior), quando se infringe uma egra, uma Ici, quando se corrompe ou se deixa corrom= pers pessoa ¢ punida, o que no ocorte aqui. Segundo um dos informaces, “do mndo rub, « cmupcio anda ta € nada acontece”, me ‘Odicsoeridie,2 contro d oso popu, estab Icceuma gato mit fina cate tha corre A aie magia dq “eto demas led conape® fo recrrent cova entreitan Ertan, 0 li ioe corre de fora imi, 0 duro teri asme main ence tment morals otra dco de denna ds pave fon qe ein ei da ing gue ne price dm fm do devespeit so dichofndidal cue acre ets Jet, tequndormatos dt infonante 6 Yoce for favor ago ub obra Ere, memo sed neairameec crac tao condone ghee toads dos formance dela ‘on ura dean paral Ning apr gor tou porque quer. Tedonaiarin Inga mio do Jia “focal crcuntancias”, Sega rexpicaes fee das ing er plata do mn rena conta ‘nad’, que odormndo tsa, Obserese que dea cers a tea"serpalmativio do mond” on qualqnt outa expresso Tradaeqivale ao ser ocro do dacs posto popular. Na pel, s dos crs conver. Todos un Oe nbolevads peo mesmo motivo ese tlzara dames ten Ces As aber potas plo scr crite come cuss de> se now dana wc ~ aio ntl edacional do pee, bo. rai emunoraie preci das pesos que steer pill Cov culura do apadinben ee = no soa nvca por sets unin na “ora do mfoco™ Nnguéms nesses memeston ‘refaci ores edo con um dcaso pico sabre crbe {condmic nstuciona ucla pais O qe tees acm € langar mio da tenia universal do “chor nh, “do bom paper ed spa (Camo endoenplicradrepd settagie do daca erie? Dera da perpen aero, jin um mectiamo de adapeagio univer vil “stored, nosed de tre aprivicaea repre- ovnimasc rHA00 «8 no ser ou funclonar como s pessoas acham que deveria Ena tstatéia dese manter3 tora do stoma, de sobreiver a deter- tminadassitaagbeshistorieamente detecminadas. No discurso yostivolpopular ofeitirkotamsém &ummecznismo dear ‘io, as nso formagbes histicasespcificas, sims eventua Iidades da vide: doenge, falta de dinero, exigencias burocrt- cas ete- A extratégia popula transcende eta om aquelssocieda ‘es pois tem as uae aes nama determina visto das relaes socias. Aestratéyiaadapratiya do dscurso erudito ¢ icuose ta pelo menosem termes de represetaceo, 2 sociedade rai ‘rom pelo menos, gucassocedades que aprsentam & mesma Constlagio de motivo alegados para milizagio dessemnccani- so pale ‘No hi dvidaalguma de qe o eto em sua fra peitica€ um mecanism de alaptagz fae is concigGes de vida” ov da *ociedade”, como apontam os doi iscurss. Enuctanoy0 que sme parece neces investigar€a forma escolhia pad iar ont ens “eventualidadespersait on socais”, Por, caeria indagar, slecionanos para enfrentarstuagGes advert uma ia caja eficdcia depende de faocesaltmentealeaticis ome 0 jatinbo? Como explcar que pessoas poriadorss de re- prvsentagbes tho divergent sobre ess pric ausem de forme to freqdente¢universalizante? ‘Aducrepincia ene a peitica e arepresentagzo do disarso erulto€rsovid, coms vimos, pelaatnibaigo ao tno de am carte adapttivo, Ese aspecto permite as seus poradones de Sarde ado als componente bsios da pisica social bra Tgue nose ajustam ao modelo de sociedad por ck eonesbido { asptad nes paricrosindvidaalistas da soiedadeociden- tal, Todas a6 nogces decorrentes desse modelo de sociedad, eno inivduo(eidadio, ibeedades individ, dean ci, {gualdoce dete perantea lie, obedecem a umesquema qe dlenominatei de “ameriano”,frmementeestabelecidoenquanso representazio e metor, em grad pact, da concep da soce- dade braieica como inivl, em sriedade, lenient ee Obviamente esse modelo de sociedade, quando contraporte A pritica social brasileira, 6 pode produzir diagndstico calami- ‘oso da realidad nacional ~ que de modo alga estamos defen ddendo, apenas procurando entender - poisesta tan como ingre= dientescrtérios que nao sao os mesmos adotados pelas repre- sentagoes. Parimetros como “necessidade”, relagbes pessoais, simpatia, amizade, extremamente atuants na prética cotidiand detodos, nfointegram o modelo desejado para asociedade, sur gindo apenas como entraves A consecusio do mesmo. ‘Todos esses aspecies que mencionamos antes como fazenda parte da realidade didra de todes os brasleios, no momento de Aizgndstico c da concepsto do que a sociedade deve fazer, $40 Aeslocados do ambito socal e tratades como parimetros que ovientam apenas a vida peivada de cada urn, nada tendo a ver ‘com asociedade mais ampla, Assim, a amizede, a relagio pessoal, «asimpatia, o papo, extegorias muito serias do dominio do priva: ‘doe da pritica social, nio so consideradassufiientemente sé Tias para integrar um modelo de compreensto.e modifeacia da sociodade. sca dicotomia coloea discurso enudito diante de umm dile- ma, qual sj: 0s crtérios da prética social so asimilados a0 mo= elo da vida particular de cada um os eritirios das epreventagee ‘acerca do que deve ser © Brasil, 30 modelo da sociedade; ea liga (20 emtreambos nao censegue ser estabelecida, Dai que diseuro, da rmadanga, embutido nessa vertente, € muito relativo, Sempre {que o discarso menciona madangatradicas, tansformagdes, re formas estruturals, revolusio etc ext ve referindo exclusivamen= 120 universe politic, 20 dominio piblico impesses, jamais a0 nosso universo doméstico cotidiano e “privade”, Portanto, no Basi, € possfel ser ao mesmo tempo matxista « machista; liberal politicamentee antorivérioem familia; eleitar do VT, defencor das conquistassindicas ¢ rabalhistas c pagat meas que um salirio-minimo a sua empregada © descomti-la toda vea que falta ou quebra um copo em su cozinh Existe no, iscurso negativo erudito uma completa descontinuidade entre as mudangoe preconiaadas para se alterar o “atual estado de coi- sas" c a andlise das situagées soiaisconeretas. Essassio sempre percebidas a partir de um outro conjunto de valores, principal- mente se 0 discursante estiver envolrido. Um outro aspesto tangenciado pelo dicurso erudito e muito ligado20 seu diagndstien da sociedade brasileira €a sua concep~ so de poder e das cites dirgentes, Nesce €omino, a nossa invia- bilidsde como nago melhor se caracteriza, no pelo pais qu, ‘com jf vimos, surge como cheio de possibilidades, mas pelo ni- vel de nossos politicos. A idéia yeneralizada € que, quanto mais perto do poder ums pestca se encontes, mais fciidade ela rem para “dar jeito” e “ser cornepta™. Junta-seassoasuspeita perma- nent sobre antegrade moral da class politica ea sua probi- dade, alifsrecoztente, em todos os outros eiscursos. Nesse do~ inio,odiseursose distancia da posture analticae ria eadquire ‘madulagbes populares, quando se coloce 20 pé do cuvido doi terlocutor que “doididamento este ndoé um paiesério", em tom de rita seriedade, como os exernplos a seguir demonstrain: Um determinado senador foro seguintecomentirio ao st. Wel- lingcon Morena Franco respeio da receaa daemenda Fie do do Congres: eae € um pa eri ‘Ao que ot. Wellngzon rtrucon: =0 pal rio. Algunedinigenes & que no sto. (heme 6, do Buta sent, io, 198) DISCURSO DO “ESSE PAIS NAO TEM JEITO" Ese discuts sobre o jeitnbo nosce de experince vivid 08 prosenciads por sens autores endo contém oma anise was ‘laborade da read. E nm flarsobre o queo pa é, no do qe deve ser, e mito menos das cansas do que somes. 0 ipo de dscarso que qualquer um aciona quando sone fraseada as suas expectaivas em relat 20 pa, a0 gOvern0 08 0 POV, 86 0 JeITINNO SraStLEIRO scia por motivos de ordem pessoal ou de ordem instimicional Por exempio, quando dois 6raios governamentai fazer ex _sénciasincompaives sobre o mesmo assunco, Ou quando nos: Sas expectativas como cidad3os40 atingidas por escindalos do ‘ipo Fetrovia Norte Sul, VASP, Delfimetc, afrastacio impe~ dea anise fia e objriva.E lteralmente o ciscursa do “Este pais é uma mend”. se falar apresenta um vocabulieio cosdian, simples até ‘mesmo chlo, temperado por um tom aangado, amargoeiréni «0 que aio poupe nada nem ningun: do jimbo até 0 pove. Para os seus ususios, 0 jitinho brasileiro & um engodo, expert 48 pequena que 56 engana a nds mesmno%. COs beasts vvem flando-om “tinh dequ, eink dai" mas grand oto” ue a grandes poténcias do, sa ces ni fi 0. Si faze &etnho sxe, ‘ead univer, 26 08 (Foe Bog ce) ‘Todo o lado bom, humano, malandro, itive enfatizado pelo discurso poscvo ¢ inteiamentedeixad de fora. © ri fa :mosojettino braileivo ¢ descrto como “aguelegolpe barato,de trambipuciro pobre, de laird gue rouba ladrac”. © Brasil ¢ 0 povo brasileiro sia literalmeate desqualificados neste discurso “aqui néo tems mais feito", “cor este pow néo conserta”, “ta ovinbo main, “com esse overso mao a ee um falar gue expressa profunda descrenga n0 pals, no poyosemtado. Aomesino tempoem quenso permite ama outa anal em relagioa sociedad brasleua que nio sejaa de eitica, cctica negativa. As situagdes descritas a seguir ilustram, com perfeigi, 0 esptico que 0 perpacsa Se ve € um pas do rao, lem mesmo um pais do pasado, (ior Fernandes, oF, 280871985) Weare the wore. oirneio sa1.90 ‘Deka Le pata Caetano Veloso azendo um roca com oct talodaméscs americana, "Wearethe word” Jortal do Brel ferdaca pordida ~Jarara prova que iio nio & bobo, disse um empresiro No ue outro homer do negécios completo ~ Claro quando Se oss bao, ina fa com Bras (ime Jodo ra, 18 6) ste homem comegou porno, pasado too mundo paratris depois, dev um desalque mumbancoencobrindooroubo com ar bomes vio; compro wna cegio com dinhei deniado da Previdenca: emi mies de nas ees mura coretorae tem ‘ama ggantesea conta mimerads na Sica Commo sev, esta de ida abeolotaments solr. ita Fea i, 12091984) A classe politica © poverno sho no 36 kts como 08 re. ponsiveis dirctos por todos os males sosais, como também pen ‘dos da forma mais negativa possvel. Qualqaer resalva que se faga em relagio a esas duas categorias& mediada pela nogio de que a maioria “infeiamente é asim". ean eso depot, pore semprese inal, poraveos lnscosprometem mas ni compre Vision passa pla rus flam:~ Com Tancredo cor Malai sercado.a mest coisa. CO brasileiro ¢engurado por unos até por outros bailelros come resident, vies ont ce diem ce wi sada es querem ‘eer, ‘Ago cles endo fazendo propaganda dosucle programa “Bra Rural, que vio fazer eo aque, Na hora Hy ces soriem com oF rutin Fazer x preg aurentarer exoricantemene ado urn camara ome: ed or "a ssa manciradepercebereapresentaro pals ¢ imétrica vote dos brosices tures: 40 invés de wm grande “paraiso tuopicl”, povoado de mulheres sensuas, onde todos dangam ‘amine jogim futebol, remos nt “infer nos reépicos, ova do por ama gente rims, ambiqueira e incompetenta”. Ela se ‘eo cinco ofa da brochurasturstiss aoinvés do dis ‘itso pestivapopelzr porque tantotim como oat vEem 489- ‘sedade, ou melhor, explicitam apenas uma visio da sociedad, Enguant odiseurs wurstico conse gue fazer da mséra das fave- lesuma atacto, ouvandoa poesia dos caxebreseabeera da Vie 18,0 dacitro popular negativa coneegue deeactar em todas ab cbc individuals e oletivas,espontines ox ois, uma ine tengo implica, comspiatds, nl intenclonad, er sama, de ‘Um outro ponto alist la a discursotarico, que nfo xa rminames,e afasti-la dos demais ¢ que, por ser um dscuso do (gus paisé, no rom proporta. Enquanto ot demais precor ‘exigem mudangasassociedade cos omens, ao micsi0 te po, profes si f no pas eno pov, els eras constant bom ema Seria desupor que pelo menos alguns dos usudrios dese di cmeo se negateem a contrib para esse delecerio estado de cl sas Ledo engano, Quate todos pratieam nossa famosa insu lo, 0 jetinbo, em todas as suas medalades,Fjustificam rites toca! pelos demas: ‘Uma outa versio do dscarso “Ese pas io tem to" quese cexprena deforma mencevirlenta,¢aqietadice ans perplexsdo- de dine de fton¢ tealzagis do pais © do poro, como s Fosse quae impossvel que aqui pudese currer agai “Se que afial fo vmoe 0 que dizeme” Um exerplo sacri cits pode ser ‘sto cm das eases delocitores da TV Gobo, marando apassger doceteafinetee de Tancredo Neves cm io Paulo eem Beast: Diane dio {da demonstrgio opal) ingu pode det que sil abe von pl in (vGtoo, 2 fea, 22041885) ‘Uma dewerscraio de matridade poltica de quaker grande 3 (CV Cloo, 2s, 22047945) ‘nm outa exernpa pode ser encontrada na abservagto de vr» moaine de nave anos que, ao ser esinado sobre oro Ame owas, dedlarow: ele menos o Beil é grandee alguna on ome: et 08) ses cers pinta boedam entoacontece nad, porque nv se 6 ipa d discusn gue far questo de most uma ck foes mbt wi Seigee adaia inverida le rjeia qualquer fato ou slemento que, de alu manera o lig sociedadebraieira, querendo,assin, ‘eufviar soa capacidade de critica, objeiidade e iseneao de s- plo, Por exernployaté mesmo o futebol écriticado, numa cara lndicagao de que “até nso falhames”, aninkio Bo amtgamente fai evo “eglinhe™. Agar, comien, (ont bas tome Fens ota Veja Selegio de 1970, Agu d qu ra tine. Hoje om di, im posivelse yer Fetal, 4 Nesta copa vu tocer pela tia, (Gene Pend mors) Como nio poderia deixar de ser, moss ancestralidade & ma rnuseada de fore bastante negativa, Embora seja a regra~ i= gud se orgulha de descender de portugués, pelo menos os ou- nos discuss resguardams algumasidentiicagSes posiivas, que correm principalmente no nivel das relagies pessoaise€ticas. Entretanto, no discurso nada tem salvacso: OJEITINHO E O “VOCE SABE COM QUEM ESTA FALANDO?": UMA COMPARAGAO ENTRE DOIS DRAMAS SOCIAIS «= Também, de portagnts,s6podis dar iso. Unies Basta olhar para a cara do povo. Funcioniso Publco (Gee Pn srs) 'Nenhume etografia do jeitinho estaria completa sem um exer- cicio comparativo entre ets ritiale um outro bem ilustratvo da sociedade brasileira, estudado por Roberto DaMatta em Car~ nau, malandros eercis (1979): "Voce sabe com ques esta fa- undo? Esta démarche tem como objetivo contextualizar 0 uso dlseas duas locugdes na sociedade brasileira e 0 significado de «da uma enquanco expeessdes de umn modelo de relagdessubia Contes a0 nosso univers social Segundo Roberto DaMata, um dos demas bisios da sovic- dade brasileira ¢ 0 confit constante entre as categoris indwi- duo versus pessoa, expressies de duas vetemtesidcolégicas cen- trsis donossasistema -o individualiemoe hierarquis, Segundo ainda o mesmo autor, aantipatica locugdo “Vocé sabe com quem ot falando?” expressacia justamentenosta Vertente bier autoritiia, ao passo que o jeitio encarnaria nso lado cor lal, eo valorizado por nos, dessa mestya vertente, meu ponto de vista que, embora ambas as locuyées sejam mecanismos de transformagio de individuos em pessoas, nao so as duas faces Embora aparentemente descompromissada com qualguet {quad politico, por sua postura cites radical, o dscurso nega- tivo popular a realidade, vineula-se A mesma matt ideo do negativocradito 6inspirado ne que orienta a vida despa ses desenvolvidos”. Embora nao faga uso explicit da compari ela se faz presente, de forma sscemiticae implicit, em tod 4a postura critica, essa advém justamente de sen compro= miss defintivo com um determinado quadeo de valores a que reslidade social brasileira “teima” em na se ajustar , pio, at da oferoce clatos indicios de que teré pouca chance de fax de uma mesma moed. Uma andlise da maltiplicidade ges em que ojcito surge, os argumentos eas representa Tizados para sua aplicagio nos levam a supor que suas eriam estar ligaas a outras tencéncias da sociedade b ‘ou mesmo que esse ritual apresete um caritersintetizador ‘ixos ideoldgicos que wanspassamn «nosso umiverso sock ‘Um aspecto fundamental em relagio a esas duas sii os limites da uilizagdo de cada uma. Enguanto no ea “Voce sabe com quom esié falando?” ni ha eivida acer {gai situagdes podem ou no ser caracterizadas como tayo ‘mo ndo ocorre como eitinbo, cujos limites ¢ defines si oelaros. No primero caso, ocorre sempre ura itagso de fronto entre uma regra ou 4 pestoa que a representa; oh ent dduas pessoas que ignoram ou, momentaneamente, esquecerat identidade soci de cada uma e partem, face 2 uma stuacto. “terriveligualdade”, paraasolucio do cantlito por meio da his arquizacio, 2 fim de colocar “cada um no seu devido luga No caso do itinbo, a caracterizagio ni & tio fil, 8 expressio seja universalmente conkecida e wlizada, Pode! "uma sicuagao de confroaro entee wa norma cua pessoa gue Tepretentac um individuo; oa pode set uma solucdo individ de imagem do pais edo powo de identidade social de Forma forme exlista explicit 10, Sut reciprocdade direta 10. Suita rcipeocidade difist ‘enogaiva. posit, 11, Possum stl emetrico 11. Nao posi qualquer stato epost social que tga nsua siden 12, Baabelecevempretuma 12. Estabolece sempre ma regio negates, relagt postr. “Mesmoaprosentando um razoavel nimero de dferenges, 5 JocugSes apresentam pontos em comum extromamente signifi cativas. Tanto 0 jeitinbo como 0 “woe sabe” 56 podem existir ‘emuniversossocisiscontaminados pela érica individualist, ir- pessoal, igualitiria e anima. Um universo socal holst hic irguico prescinde de qualquer am desses mecanismos, pois 26 osigSes dos interlocaroresjé esto dadas previamente. Todos {ahem “quem équem” naesiratara social, Tannv0 jltibo como ‘9 *voeé sabe” aio t8m sentido pata um deputado estadual de ‘Alagoas nem para os habicantes da regido unde ele vie. H€ pre- vito pels liza do sstoma que trtamentos dferenciados deve ro ser dados a diferentes pessoas. “Tanto um como otro ilosram igualmente um drama so- cial ein gue a existéncia de ume lei ou norma universalizants exige 0 desempenho de um papel espectico, o de indivt- Aduo-cidadio, sujeito 3 impessoalidade da lei, mas em que 0 agente descia set peccebido ejulgado por um outro tipo de condutae papel, que vaijustamente de encontro aodesignado pela lei, Ea resumo, ambor séo mecanismosde tansformagio {e individuos em pessous nine 9 "Ved Sabo com Quam Et Fano? E, fnalmente, tanto eitinbo como. “vaed sabe” so stus- es socaiscontigans, isto é eversiveis uma d outa. © nosso ‘depurado pede anchegar a0 Ro de Janeito paca tratar dessin tosde interes de seu municipio, roncar “entrar” no esplrto de ‘um grande centro urbano ¢ partir para oeitinbo, flando mac, simpitico, de igual para ignal, como “sujeitiiho” de determina” sla repartgSo, Mas, ao ver quc, mesmo assim, teri de seguir os pracedimentos legate universsis, no sentido de serem obrigat6- ios para todos, poder, j6 deseoperada, partir pare 0 “voce sabe". Como astra ir terminar nso importa. Imports € qe as pessoas bem existr no univrco social brasileiro diferentes, cursos de ato, lastcados em duces ¢ visdes de mundo imei mente distinas, Se eu resolvo a sieaagSo com 0 jeitinbo, com 9 voce sabe" ou submeto-me aos dtamnes ds Ii universizante, nto madao fatode que 20 contririo do que ocorre mua iver- so-anglo-saxio, ou toaho vérias opgbes. (© que queremos frisarem relacioao que expasemosé que 9 importante ndo éataxa de suceso de uma ou outeaestatégia de ‘comportamento~iso sexdimportance em um outro nfvel dedi fisio -, mas a alkernstivas que encamnam e 0 valor atribuldo socilmente a ada uma delas Nora 1 Ver inert ervokende 0 Sond Saha Oe an cman YAR no xnal cb eras ce U2)08/88 0 aorteomen€ eAFaENE ‘gala cesctoantonoment 56 rustam cs pasonaems. HIERARQUIA E INDIVIDUALISMO: OS DESENCONTROS DA MODERNIDADE Depots dese exercicio comparativo em que slerengs supe ‘ram em muita: erelnangas, serge oletorupor que 0 {etna Fosse osiwicoinrerso do “voce abo" sees ie- ‘mementeasentadoemnostasafesaurortieiasehieirguiase aquelenasratrescoediis democrcicas modernaseigualitiria. -Embora femalimenteeaa ida pudese ver acet, urna ante smsiscuidadonacconextlnio 4 aldarie, Como vimnos no Gl timo capil, o"voe# sabe" de hd muito ienaancrone seapae. ‘A reaidae bara nit mais compos da qe noes ‘mente rem e procure fa, reduando grande pare dos pro Hlenasacuicaitewes atm simplesquestio Je desenvolanent econdmico, No Bre ccmo tens enfizado, sa maliple:- fae le valoesinsinase nas maisveres ages sii, 0 fpeceutnde que at entendamoe a parts de wm snicopatadgma. Emborame puss cao quo jelinko € um situl de wassfornar Individuosem peseas, 0 que autonaticamenteneslevartaiden~ tificHo como reso ei ieriquico e tadicinal arepresents= soeequelhe estinastaciadas eosvaloresquescionae que he ae ‘hem, quando wilizado, nos levamareficte mis sobre o aiuto antes de no aveaararmos aim diagno fal Quando comparado ao “voce sabe", 0 jetnho se nos apre- senta como fazendo uso de mil argamentos indvidualitas: 6 tunixerslmente conhecido,€ usado por todos, nio depende de lagos mais extrsitos com a sociedade para a sus concretzagio, procurasempre enfatzars iqualdade entre osinterocutoresad- rite acondigio deindviduo esuasubmisso leiuniveralizan- tee dependeprincipalmente das caracteristicas “individais” do stor para chegora bom remo. Esum drama social ue enfant dlimensbes fandamentais da ogo ocidental de individ. & do incividuo possuidor de iretos«deveres conta naidéia dali universalizant ede igualdade,e ado indviduo como se pice légico, como singularidade iiossincritic, como “persoralida- de" que permite nies concepsao moral da conceito com a di- smensio corpora, infra sociol6gic, como supecida poe Viveiros de Castroe Benraquem de Aratjo (197. Entretanto, quando aos foco de atengéo muda dos ag mentos utlizados «, dos pressuposts de que parte 0 fete, voltxse parao resultado final do proceso, veiicamos que oje tino 6, iguslmente como 0 “soc? sabe", um mecanismo que ‘wansfonmaindividuos em pessoas. Quem usa tanto um como ‘ozo ve separa dos demais membros da sociedade 20 se tomar alvo de um tatamento*personalizado”, que nie odeixa subme- tido as leis univercalizatese pessoas que, por defini, re- slam condicionama vida de todosem um aniverso individu lista. 0 *vocé se” coloca csinfstiorssetrturss nosseus der dos gates, asim, cestabclece os privilégios dos superiors; 0 pitino, por meio de qualidades beicamente individ, pe rte que determinados indivfdaos sei lv de wn traamento peteonalizado, deixando-os fora do alcance dos desgnios das leis impessoais univers, Essa sem did, uma stuacio paradox. Baseamos uma cesteatgia deseo social ~0jito em deterinados presupos- rn evenness Desens da Meaidade tox que, quando posts em pric, nos emetem paraa verente posta ao ponco de onde comesamos, Perguntarso lito, afizo lepois de tatoxargmentos ¢conta-argumentos: come pade- siamosinzerprea o jiéo? Como nm ritual hbido, prtencente 0s dos mundosexistetes na sciedade braleia? Ou como um ritual igualtro,enaizado em nossa vertente moderna ein- viduals, mas qe, por efit perverso da sociedade, prodar lum efeio eonrdio ao inicialmentedesciedo? Ber, em verde respondermes isto cu aqalo” em relagdo 4 jetinko, optatnon por colocat uma hipStesefundamentada pelos dads que apreentamox. A noso ver, o etnbo expres: ‘avian prétca social brasileira, una complena rlagioexsten- fe no nivel de nossasrepresentagoesente a visto hierirguica¢ individualsa de pereeber 9 mando e as formas especifias de ualzagso de uma e outa, + parti do conto que estabelece- tam. Enguantoo “voc sabe” exprime a enso entre esas dass rades de mand ea tenatvs metaticadeliitar oavango do individalismo, por mci da colocagio de todos nos seus devi dos lugares, jitnhoexprimira elagio quea sciedadebesi- Ieira tm tentadoextabelecer entre a das, deforma a que ne -huma sca bepemniea em relagi 2 outa, O drama social do jetinho enta aumss tempo, coniiaro principio individualist da regrauniversaiatte eda igualdade 20 tratamento personal zado,concebido¢ previsco pea ica herérquicae bolt am outs palavras,poderamos der queojitinbo nos ofe- rece una releitura de certs prinepiosinividvalitas uz desaa relalo com uma vio hierSguia, sem nunca coneretizar ner ‘una em outa visto do mundo, manendose sempre como pate desduas, como um aecnism des dos mundos, Colocamos,at- te, eoimo parte de ows interretagho, aia de que oetinho sciuirs o sone que Ie ativaimos, ag, devido a wma atl ‘aso peel do individualism no Bras E mais: se wansir- rou cm elemento de idesidad socal brasia to 6 recebe tm peso, um valor, reconbecimento de ua existénca socal por oso univew, em época recent, Iso occreu no momento en (que 0 individualism, enquanto ideologia,circunsrita até ent ‘em sua expressio no nivel juridicoe legal, passou 2 coataminat ‘outros dominios eniveis ds vida social braieis. Pind da idéiade que sixemasecondinicese politicos nso ‘realizar igualmente em todas associedadesem que so adots clos, pois passa por um plano de mediagto interna em ead sociedade, posculamos que © mosmo ocorreria com os sistemas ‘deol6gicos. Embora no plano formal possam manter a mesma ‘equivaléncia em termos de prineipios universais, de uma socie: dade paraa outraadquirem, ra incorporacto devalores no simbélico e na prética social, éafase prdpria¢ distnta, poréin ‘nfo menos signifcativa. A partir dat, poarams para o faro de

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