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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO V

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO V

DIREITO ADMINISTRATIVO
Sociedades de Economia Mista

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Sociedades de Economia Mista

Prof.: Márcio Fernando Elias Rosa

1. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

1.1. Definição
As sociedades de economia mista são entidades estatais (ou empresariais),
constituídas segundo o modelo imposto pelo Direito Privado, após autorização legislativa,
para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividade econômica,
contando com capital misto, e constituídas somente sob a modalidade empresarial de
sociedade anônima.

Assim, de acordo com as características das sociedades de economia mista, temos


como principais desdobramentos os seguintes fatos:

• São pessoas jurídicas de Direito Privado.

• São empresas de capital misto: apesar da existência de capital, em parte público


e em parte privado na constituição de uma sociedade de economia mista, não é
unicamente o ingresso de capital público que faz com que o empreendimento
particular assim se torne, mas a efetiva participação do Poder Público no
gerenciamento da sociedade, não importando que se dê de forma majoritária ou
minoritária.

• Constituídas sob forma empresarial de sociedade anônima: diferente das


empresas públicas que, conforme se verá, podem se revestir de qualquer tipo
societário, de caráter civil ou comercial. As sociedades de economia mista
podem ser constituídas somente sob a modalidade de sociedade anônima, em
razão de maiores possibilidades de fiscalização, controle preventivo e expansão
do empreendimento. Como conseqüência dessa regra, ainda que prestem
serviços públicos, serão sociedades comerciais por força de lei (Lei n. 6.404/76),
com registro obrigatório nas juntas comerciais competentes.

Como exemplo de sociedades de economia mista, podemos citar o Banco do Brasil


S/A, a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás), estas exploradoras de atividade econômica; e
como prestadora de serviços públicos, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional
Urbano (CDHU), a Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), empresa responsável

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pelo gerenciamento da execução de contratos que envolvem obras e serviços públicos no


Estado de São Paulo, o Metropolitano de São Paulo (Metrô), a Sabesp, entre outras.

1.2. Características
As sociedades de economia mista têm as seguintes características:

• Dirigentes próprios: depois de criadas, contam com dirigentes próprios,


escolhidos na forma prevista na Lei n. 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações)
e segundo as prescrições da lei que autorizou sua constituição.

• Patrimônio próprio: o patrimônio da sociedade de economia mista é transferido,


em parte, pelo ente político que autoriza a sua criação, por termo administrativo
ou escritura pública, e em parte pela iniciativa privada. É considerado misto, e
por isso penhorável, suscetível de responder, ab initio, pelas dívidas decorrentes
do desenvolvimento de seu objeto.

• Liberdade financeira: as sociedades de economia mista possuem verbas próprias


(surgem como resultado dos serviços que presta) e verbas orçamentárias
(decorrentes de previsão e repasse pelo Poder Público), caracterizando em
determinados casos, a parafiscalidade. Há também liberdade para uso das verbas
que recebem, dentro dos limites da lei que autorizou a sua criação, e do estatuto
das sociedades por ações, sempre sob controle do tribunal de contas competente.

• Liberdade administrativa: possuem liberdade para desenvolver os seus serviços


como acharem mais conveniente (comprar material, contratar pessoal etc).

• Pessoal: O quadro de pessoal é composto de empregados públicos, regidos pela


Consolidação das Leis Trabalhistas, mas em tudo equiparados aos agentes
públicos, inclusive para fins penais (artigo 327 do Código Penal). As
reclamações trabalhistas processar-se-ão perante a Justiça do Trabalho, e o
acesso exige, em regra, concurso público de provas ou de provas e títulos.

1.3. Funções das Sociedades de Economia Mista


As sociedades de economia mista são criadas com o fim de atender a prestação de
serviços públicos ou de, excepcionalmente, explorar atividade econômica.

A prestação de serviços públicos não sugere dificuldade, posto incumbir ao Estado


(Poder Público) o dever de prestá-los (artigo 175 da Constituição Federal). No entanto, a
exploração de atividade econômica será sempre excepcional, já que o exercício deve ser
efetuado pelo setor privado.

O Estado pode explorar atividade econômica em caso de relevante interesse público,


ou imperativos de segurança nacional, assim:

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• Prestação de serviços públicos: com essa função, são criadas para auxiliar a
Administração direta na obtenção de eficiência na prestação de determinado
serviço, em todos os seus nuances, desde a ampliação de acesso ao serviço pelos
administrados, a otimização nos meios de execução, a manutenção eficaz da
estrutura de prestação, a busca de modicidade nas tarifas etc.

• Exploração de atividades econômicas: exercem tal função apenas quando


existentes um dos permissivos constitucionais, quais sejam, relevante interesse
coletivo, ou imperativos de segurança nacional. Destas restrições decorre o
entendimento doutrinário que expõe, de forma correta que, de acordo com os
fins desejados pelo Estado, ao Poder Público não cumpre produzir lucro, tarefa
esta deferida ao setor privado.

Com efeito, é de se concluir que, mesmo acarretando prejuízos à pessoa jurídica


instituidora, a Sociedade de Economia Mista poderá ser mantida na prestação de serviços
ou exploração de atividades econômicas em decorrência dos objetivos visados (eficiência
na prestação de serviços, especialização de atividades, relevante interesse coletivo, ou
imperativos de segurança nacional). É possível imaginar como exemplo o caso de uma
sociedade criada para possibilitar a aquisição de moradia própria a famílias de baixa renda,
mediante pagamento de prestações mensais módicas, que poderá ser mantida, mesmo que
venha a acarretar prejuízos ao Estado de São Paulo.

Portanto, a depender de sua função, de seu objeto, haverá diferentes conseqüências


em relação ao regime jurídico a ser aplicado às sociedades de economia mista, a exemplo
da sujeição a todas as regras de Direito Privado, notadamente em relação à livre
concorrência e conseqüentemente às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias,
quando explorar atividade econômica, entre outras conseqüências oportunamente
verificadas.

1.4. Controle
Não existe hierarquia ou subordinação entre as sociedades de economia mista e a
Administração direta. Embora não se fale em hierarquia e subordinação, é forçoso
reconhecer a existência de controle em relação à legalidade, ou seja, a Administração direta
controlará os atos das sociedades de economia mista, com o fito de observar se estão
dentro da finalidade e dos limites legais. Se os atos estão dentro dos limites da lei, as
sociedades não estão subordinadas à Administração direta, mas sim à lei que autorizou a
criação delas. Em regra, não há recurso hierárquico para a revisão de atos dos dirigentes
das sociedades de economia mista pela Administração direta, mas pode a lei que autorizou
a constituição da entidade prever a existência de recursos “impróprios” (ou hierárquicos
impróprios).

O controle externo é realizado pelo tribunal de contas respectivo, e pelo Poder


Judiciário.

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Questão interessante é aquela advinda da necessidade ou não de licitação por parte


de sociedade de economia mista que explora atividade econômica, quando estiver
comprando insumos necessários à fabricação de seus produtos, o que se resolve da seguinte
maneira:

• A Constituição Federal, em seu artigo 173, § 1.º, inciso III, prevê a criação de um
sistema licitatório próprio, para utilização pelas empresas públicas e sociedades
de economia mista exploradoras de atividade econômica, com a finalidade de
imprimir competitividade aos produtos e serviços por elas oferecidos, norma esta
ainda de cunho programático, em razão de sua não-efetivação. Diante da falta
deste dispositivo, a doutrina majoritária entende ser aplicável o regime de
licitações instituído pela Lei n. 8.666/93, de modo subsidiário, até que
sobrevenha a indigitada lei.

Observa-se ainda que a inexistência de hierarquia entre a Administração direta e as


sociedades de economia mista não implica o não-reconhecimento da hierarquia dentro da
própria sociedade, ou seja, há hierarquia dentro da própria entidade, mas não em relação à
Administração direta, conforme já dito.

1.5. Criação
As sociedades de economia mista integram a Administração indireta e todas as
pessoas que a integram precisam, quando menos, de lei para autorizar sua criação, como é
o caso dessas sociedades. Serão elas, posteriormente legalizadas, com o devido registro de
seus estatutos.

A lei, portanto, não cria, somente autoriza a criação das sociedades de economia
mista, ou seja, independentemente das atividades que desenvolvam, a lei somente
autorizará a criação das sociedades de economia mista, não conferindo a elas personalidade
jurídica (artigo 37, inciso XIX, da Constituição Federal/88, com a redação dada pela
Emenda Constitucional n. 19/98).

Assim, por serem pessoas jurídicas de Direito Privado, passarão a gozar de


personalidade jurídica de acordo com as regras previstas para as sociedades comerciais,
com necessidade de registro na junta comercial competente, pois, vale relembrar, as
sociedades por ações são mercantis por força de lei (artigo 2.º, § 1.º, da Lei n. 6.404/76).

1.6. Privilégios
Quanto aos privilégios possíveis de serem concedidos às sociedades de economia
mista, cumpre distinguir os privilégios de natureza tributária (substanciais) e os privilégios
de natureza processual, elencados no artigo 188, do diploma processual civil, além de
estarem os privilégios, ao menos em tese, intimamente ligados à atividade desenvolvida:

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• Sociedade de economia mista exploradora de atividade econômica: não faz jus


aos privilégios substanciais concedidos à Administração direta, tendo em vista a
previsão constitucional de livre concorrência com a iniciativa privada, além da
sujeição, inclusive, às mesmas obrigações de caráter civil, comercial, trabalhista
e tributário (artigo 173, § 1.º, inciso II, e § 2.º, e artigo 170, inciso IV, da
Constituição Federal/88). Com efeito, não há que se falar em livre concorrência
se houver privilégios. Em relação aos privilégios processuais, a doutrina, a lei e a
jurisprudência, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, vedam a sua
concessão, qualquer que seja a atividade da sociedade de economia mista, uma
vez que não se encontra no conceito de Fazenda Pública.

• Sociedade de economia mista prestadora de serviço público: na área tributária,


em regra, poderia gozar dos privilégios substanciais concedidos à Administração
direta, visto não existir regime de concorrência, e conforme interpretação
extensiva dada ao artigo 150, parágrafo 2.º, da Constituição. Todavia, a vedação
da concessão de tais privilégios se impõe não só pela interpretação restritiva que
se deve fazer ao parágrafo 2.º do artigo 150, mas também em razão de o
parágrafo 3.º do mesmo artigo vedar a concessão de tais benefícios às entidades
que executam serviços públicos mediante contraprestação ou pagamento de
preços ou tarifas pelo usuário. Na área processual, não possuem nenhum
privilégio, uma vez que as sociedades de economia mista, conforme
embasamento anterior, não se encontram no conceito de Fazenda Pública.

Faz-se oportuno salientar que segundo lição de Hely Lopes Meirelles e maciça
orientação jurisprudencial, as Sociedades de Economia Mista poderão ser beneficiadas por
prerrogativas processuais, administrativas ou tributárias desde que a lei que as autoriza ou
dispositivos especiais tragam esta disposição de maneira expressa.

1.7. Responsabilidade
Em relação à responsabilidade das sociedades de economia mista, e
subsidiariamente, do Estado, pela solvência das obrigações daquelas, a doutrina não é
uniforme, adotando-se soluções díspares. Para a corrente majoritária é necessário distinguir
a atividade pelas sociedades realizadas:

• Sociedade de economia mista exploradora de atividade econômica: ela mesma


responde por suas obrigações, mas não na forma do § 6.º do artigo 37 da
Constituição Federal/88, que trata da responsabilidade objetiva, mas sim
subjetivamente, ou seja, havendo necessidade de demonstração de dolo ou culpa
(responsabilidade é subjetiva, fundada no Direito Privado). O Estado não tem
responsabilidade alguma, não podendo ser acionado nem mesmo
subsidiariamente, em razão de a Constituição exigir, de todos que exploram
atividades econômicas, a submissão à livre iniciativa;

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• Sociedade de economia mista prestadora de serviço público: possui


responsabilidade objetiva. Enquadra-se no parágrafo 6.º do artigo 37 da
Constituição Federal de 1988. Assim, reponde em primeiro lugar a sociedade de
economia mista, até que se encontrem exauridas as forças do patrimônio desta. O
Estado responde de forma subsidiária, ou seja, depois de exaurido o patrimônio
da sociedade.

1.8. Falência
A discussão a respeito da possibilidade ou não de submeter-se a sociedade de
economia mista às regras da falência, antes acalorada na doutrina e jurisprudência,
notadamente quanto às regras do artigo 242 da Lei n. 6.404/76, foi minimizada em virtude
da revogação do controvertido artigo 242 pela Lei n. 10.303/01, que modificou a lei das
sociedades por ações, imprimindo, assim, consonância entre a lei modificada e as
disposições constitucionais a respeito do tema em estudo. Assim, a aplicação do regime
falimentar às sociedades de economia mista, hoje, torna-se ou não possível de acordo com
a atividade realizada pela sociedade, vejamos:

• Sociedade de economia mista exploradora de atividade econômica: quando


explora atividade econômica, submete-se ao mesmo regime jurídico das
empresas privadas, inclusive em relação às obrigações “comerciais”, civis,
trabalhistas e tributárias, atendendo ao princípio da livre concorrência. Logo, a
sociedade de economia mista que explora atividade econômica submete-se ao
regime falimentar.

• Sociedade de economia mista prestadora de serviço público: não se submete ao


regime falimentar, visto que não está sob regime de livre concorrência, não
explora atividade econômica, e deve ser mantida em razão dos princípios da
continuidade e eficiência dos serviços públicos, sofrendo inclusive, segundo
parte da doutrina, pequenas restrições quanto à possibilidade de penhora dos
bens de seu patrimônio afetados à prestação dos serviços para que foram
criadas.

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Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. CONCEITO

É a perda da ação atribuída a um direito por não ter sido exercida no prazo fixado
em lei. Faz com que a pessoa perca a ação atribuída ao seu direito. Há a conservação do
direito, mas não haverá mais ação para exercê-lo em juízo. A prescrição se destina a
consolidar os direitos de maneira que não se caiba mais discussão sobre o assunto. É
tratada na Parte Geral do Código Civil.

2. REQUISITOS

2.1. Inércia do Titular ante a Violação do seu Direito


A pessoa não propõe nenhuma ação quando tem seu direito violado.

2.2. Decurso do Prazo Estabelecido em Lei


O artigo 205 do Código Civil dispõe que tanto as ações pessoais quanto as reais
prescrevem em 10 anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Portanto, os antigos
prazos de 20 anos para prescrição das ações pessoas e 15 anos para as ações reais, restaram
concentrados no prazo máximo de 10 anos. É bom lembrarmos que no Código Civil de
1916 o prazo chegou a ser de 30 anos e foi reduzido para 20 anos por força da Lei 2437/55.
Portanto, é uma evolução a diminuição de prazos.

A regra geral do artigo 205 do Código Civil deve ser entendida dentro de algumas
limitações, pois tanto as ações meramente declaratórias quanto as ações desconstitutivas ou
constitutivas são, em tese, imprescritíveis.

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3. AÇÕES IMPRESCRITÍVEIS

3.1. Ações que Versem sobre os Direitos da Personalidade


Não existe prazo prescricional para ações que defendem direito à vida, à liberdade
etc.

3.2. Ações que Versem sobre o Estado da Pessoa


Ações de interdição, separação judicial, divórcio, investigação de paternidade etc.

3.3. Ações que têm por Objeto Bens Públicos


A Súmula n. 340 do Supremo Tribunal Federal dispõe que os bens públicos não
podem ser objetos de usucapião (que é uma forma de prescrição).

3.4. Ações de Exercício Facultativo


São ações de divisão, de demarcatória etc. Algumas ações podem ser propostas
ainda que não tenha havido violação de direito algum. Estas ações são as chamadas Ações
de Exercício Facultativo. Não há prazo prescricional, visto não haver violação de direitos.

3.5. Ação Reivindicatória


Não prescreve, visto ser ação específica para a defesa do domínio do direito de
propriedade e o domínio é perpétuo (não se perde o domínio pela não utilização do bem).
Pode-se, entretanto, perder o domínio nas causas previstas em lei (exemplos: usucapião em
favor de terceiro, desapropriação, renúncia, abandono etc.). Não ocorrendo nenhuma
dessas causas, o proprietário não perde o domínio.

4. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA

Conhecida como usucapião. Acarreta a aquisição do domínio de um bem pelo


decurso do tempo. É tratada pelo Código Civil na Parte Especial. O artigo 1.244 é uma
espécie de traço de união entre a prescrição aquisitiva e a prescrição extintiva, dispondo
que as mesmas causas que impedem, suspendem e interrompem a prescrição aplicam-se
também ao usucapião.

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5. PRESCRIÇÃO E INSTITUTOS AFINS

São institutos que também têm relação com o decurso do tempo.

5.1. Preclusão
É a perda de uma faculdade processual por não ter sido exercida no momento
oportuno. Em cada fase do processo, a lei faculta às partes praticarem certos atos. Caso as
partes não pratiquem os atos na fase em que a lei lhes faculta, perdem a oportunidade,
ocorrendo a preclusão.

5.2. Perempção
Também de natureza processual, consiste na perda da ação atribuída a um direito
pelo autor contumaz (aquele que reitera no erro) que deu causa a três arquivamentos
sucessivos (artigo 268, parágrafo único, do Código de Processo Civil). Se houver três
extinções por abandono da causa, ocorrerá o fenômeno da perempção, que impede que o
autor proponha a ação uma quarta vez.

O direito material, neste caso, não se perde, mas não poderá mais ser exigido por
meio de ação. Este direito somente poderá ser alegado em defesa.

5.3. Decadência
Chamada também de caducidade. O Código Civil de 1916 não se referia à
decadência, ficando um pouco difícil distinguir quais prazos são prescricionais e quais
prazos são decadenciais. A doutrina e a jurisprudência sempre foram pacíficas em admitir
os vários prazos decadenciais do Código Civil de 1916. O atual Código Civil tem um
capítulo sobre a decadência (artigos 207 a 211). Existem alguns critérios para a distinção.

5.3.1. Quanto aos efeitos


A prescrição não corre contra determinadas pessoas e a decadência corre contra
todas as pessoas.

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5.3.2. Quanto à origem


Na prescrição, o direito antecede a ação, que só nasce quando aquele é violado. Na
decadência, o direito e a ação nascem no mesmo instante (exemplo: ação negatória de
paternidade é prazo decadencial, visto que, no momento em que a criança nasce, já começa
a correr o prazo para a propositura da ação).

5.3.3. Quanto à natureza


Na prescrição, o que perece é a ação que protege o direito e, na decadência, é o
próprio direito que perece. Os processualistas corrigem esse critério dizendo que, na
prescrição, perece a pretensão que atinge a ação.

O critério de Agnelo Amorim Filho partiu da divisão das ações em declaratórias,


condenatórias e constitutivas ou desconstitutivas. Se a ação for de natureza condenatória, o
prazo será prescricional. Se a ação for de natureza constitutiva ou desconstitutiva, com
prazo previsto em lei, o prazo será decadencial, entretanto serão imprescritíveis caso não
haja prazo previsto em lei (exemplo: divórcio). As ações declaratórias são sempre
imprescritíveis, pois visam apenas a obtenção de uma certeza jurídica.

A jurisprudência entende que a ação negatória de paternidade é imprescritível.

6. DISPOSIÇÕES GERAIS

O artigo 191 do Código Civil dispõe sobre a renúncia da prescrição, ou seja, a


renúncia ao direito de argüir para a qual a ação está prescrita. Admite-se a renúncia da
prescrição quando a prescrição já estiver consumada e quando a renúncia não prejudicar
terceiros.

O próprio artigo dispõe que a renúncia pode ser expressa ou tácita. Geralmente, a
renúncia é tácita, decorrendo da conduta do devedor. Não se admite a renúncia antecipada,
visto ser a prescrição de ordem pública.

Os terceiros que poderiam ser prejudicados com a renúncia da prescrição são, em


geral, outros credores (exemplo: um credor ingressa com uma ação que está prescrita; o
devedor, se pagar a dívida, não terá como pagar os outros credores; no caso, não poderá o
devedor renunciar a prescrição).

O Código de Processo Civil dispõe que quando o réu não alega matéria no primeiro
momento que se manifestou nos autos, ele perderá o direito aos honorários. É uma sanção
de ordem processual. Caso o réu alegar a prescrição na contestação, o autor da ação arcará
com o ônus da sucumbência.

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A prescrição poderá ser alegada a qualquer tempo. O Superior Tribunal de Justiça,


entretanto, julgando os recursos especiais, criou a figura do pré-questionamento, ou seja,
ele somente conhecerá a matéria que já foi alegada anteriormente. Então, embora a
prescrição possa ser alegada a qualquer tempo, não poderá ser alegada pela primeira vez
em Recurso Especial.

O juiz não pode conhecer de ofício a prescrição de direitos patrimoniais (artigo 194
do Código Civil). Então, a prescrição de direitos não patrimoniais pode ser conhecida de
ofício. O prazo, no caso de direitos não patrimoniais, entretanto, é decadencial. Conclui-se,
portanto, que a prescrição não pode ser conhecida de ofício, mas a decadência poderá, visto
versar sobre direitos não patrimoniais (artigo 210 do Código Civil).

7. SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO

A suspensão decorre automaticamente de certos fatos previstos em lei, ou seja,


acontecendo um fato que a lei considera como causa de suspensão, a prescrição será
suspensa automaticamente.

A interrupção depende de provocação do credor, ou seja, exige-se um


comportamento ativo do credor. A maneira mais utilizada para interromper a prescrição é a
notificação judicial. O credor faz uma notificação judicial ao devedor para fim de
interromper a prescrição.

Na suspensão, o prazo recomeça a correr pelo período faltante, ou seja, somam-se os


períodos. Na interrupção, o prazo recomeça a correr por inteiro a partir do ato interruptivo.
A interrupção devolve o prazo inteiro da prescrição.

O Código Civil trata separadamente da suspensão e da interrupção, ou seja, as


causas que impedem ou suspendem a prescrição estão nos artigos 197 e 198, e as causas
que interrompem a prescrição estão no artigo 202 do Código Civil.

7.1. Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição


Os fatos impedem a prescrição quando ela não começou a correr, e os mesmos fatos
suspendem a prescrição quando esta já começou a correr. O mesmo fato, dependendo do
momento que acontece, pode impedir ou suspender a prescrição.

O artigo 197 do Código Civil tem quatro incisos que tratam de pessoas que possuem
um relacionamento com base na confiança. Para evitar que haja discórdia entre essas
pessoas, a prescrição está impedida ou suspensa.

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7.1.1. Artigo 197, inciso I, do Código Civil


No caso de casamento. Não corre prescrição entre os cônjuges enquanto eles
estiverem casados.

7.1.2. Artigo 197, inciso II, do Código Civil


Relação de pátrio poder. Não corre prescrição entre pais e filhos enquanto existir o
pátrio poder. Extinto o pátrio poder, começa a correr a prescrição.

7.1.3. Artigo 197, inciso III, do Código Civil


Relação de tutela e curatela. Não corre prescrição entre tutor e tutelado durante a
tutela nem entre curador e curatelado durante a curatela.

O artigo 198 do Código Civil dispõe três fatos que impedem ou suspendem a
prescrição. Neste caso, o legislador tem por objetivo proteger certas pessoas.

7.1.4. Artigo 198, inciso I, do Código Civil


Não corre prescrição contra os absolutamente incapazes. A prescrição, entretanto,
corre a favor deles, ou seja, se a prescrição for para beneficiar o absolutamente incapaz, ela
correrá normalmente.

7.1.5. Artigo 198, inciso II, do Código Civil


Não corre prescrição contra os ausentes do país que estejam a serviço da União, dos
Estados, dos Municípios ou do Distrito Federal.

7.1.6 Artigo 198, inciso III, do Código Civil


Protege as pessoas que estejam servindo o país em tempo de guerra. Neste caso, não
importa se está dentro ou fora do país.

O princípio da actio nata significa que enquanto não nasce a ação, não corre
prescrição, ou seja, enquanto a dívida não está vencida, não corre o prazo prescricional.
Somente começa a correr o prazo prescricional a partir do momento que o credor tiver o
direito de ingressar com a ação.

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DIREITO CIVIL

Prescrição intercorrente é a que ocorre no curso da demanda, durante o andamento


da ação. Nem todos os autores admitem a existência desta prescrição. Os tribunais estão
admitindo, nos casos de execução de título, em que o autor não dá andamento na ação, a
prescrição intercorrente.

A citação, regulada pelo artigo 175 do Código Civil de 1916, não interrompia a
prescrição por vício de forma quando for circunduta ou quando perempta a instância ou a
ação. Hoje, a citação é regulada pelo Código de Processo Civil, não tendo disposição no
Código Civil. A citação será nula por vício de forma quando o Oficial de Justiça não
observar as formalidades que a lei exige. Faltando alguma das formalidades, a citação é
nula.

Anteriormente, a citação era considerada nula quando o autor deixava de


comparecer à audiência e não ratificava o pedido feito na inicial. Também era considerada
nula quando o juiz extinguia o processo sem julgamento do mérito (quando perempta a
instância ou a ação). Hoje, não existem essas nulidades. O autor deve promover a citação
do réu, ou seja, deve dar os meios para que se faça a citação do réu.

Os efeitos da citação retroagirão à data do ajuizamento da ação (artigo 219, § 1.º, do


Código de Processo Civil). A citação deve ser feita em 10 dias, sendo prorrogado
automaticamente por 90 dias. Se a citação não for feita no prazo, por qualquer
circunstância que não seja culpa do autor, há uma súmula que dispõe que a parte não
poderá ser prejudicada por problemas decorrentes na máquina da justiça.

O segundo modo de interrupção da prescrição é o protesto, ainda que ordenado por


juiz incompetente. Este protesto, a que se refere o artigo 202, inciso II, do Código Civil, é
o protesto judicial que está disposto no rol das medidas cautelares do Código de Processo
Civil. A Súmula n. 153 do Supremo Tribunal Federal dispõe que “simples protesto
cambiário não interrompe a prescrição”.

O artigo 202, inciso V, do Código Civil dispõe que também interrompe a prescrição
qualquer ato que constitua em mora ao devedor. Utiliza-se, então, a notificação judicial
para fim de interrupção da prescrição.

Interrompida a prescrição, o prazo volta a correr por inteiro. Não há um limite para
interrupção da prescrição, ou seja, o autor pode interromper a prescrição quantas vezes for
necessário sem, no entanto, haver abuso de direito por parte do autor.

Existe uma única hipótese em que se pode interromper a prescrição uma só vez. O
Decreto-lei n. 4.597/42 dispõe que, no caso de ação contra a Fazenda Pública, só pode
haver prescrição interrompida uma única vez e o prazo voltará a correr pela metade.

O inciso IV do artigo 202 do Código Civil dispõe que a habilitação de crédito em


inventário ou em concurso de credores também interrompe a prescrição. Quando o credor
habilita o crédito, entende-se que ele tem interesse de receber, por este motivo há
interrupção da prescrição.

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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CIVIL

O inciso VI do artigo 202 do Código Civil é a única hipótese em que há interrupção


da prescrição sem ação do credor. Dispõe que qualquer ato inequívoco do devedor que
importe reconhecimento da dívida interrompe a prescrição.

O artigo 204 do Código Civil dispõe sobre as obrigações solidárias e divisíveis.


Quando existem vários credores solidários e um deles toma a iniciativa de interromper a
prescrição, todos os outros credores serão beneficiários. Se a obrigação for, entretanto,
divisível, a prescrição somente se interrompe para aquele credor que tomou a iniciativa de
interromper a prescrição.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO V

DIREITO COMERCIAL
Sociedades do Novo Código Civil

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DIREITO COMERCIAL

DIREITO COMERCIAL

Sociedades do Novo Código Civil

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. INTRODUÇÃO

As sociedades previstas no novo Código Civil são:

• sociedade em comum;

• sociedade em conta de participação;

• sociedade simples;

• sociedade em nome coletivo (N/C);

• sociedade em comandita simples (C/S);

• sociedade limitada (Ltda);

• sociedade anônima (S/A);

• sociedade em comandita por ações;

• sociedade cooperativa.

Das sociedades mencionadas acima, podem ser empresárias as sociedades em


comum, em conta de participação, em nome coletivo, em comandita simples, limitada,
anônima e em comandita por ações.

Além disso, as sociedades em comum e em conta de participação não são


sociedades personificadas.

As sociedades em comum, previstas nos artigos 986 a 990 e, subsidiariamente, pelas


disposições acerca da sociedade simples, caracterizam-se por atuarem empresarialmente
sem terem os atos constitutivos sido registrados no Registro Público das Empresas
Mercantis.

Nessa modalidade societária, os sócios dependem de prova escrita para


comprovação da existência da empresa, regra que não se entende aos terceiros, que podem
prová-la por qualquer modo.

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DIREITO COMERCIAL

No tocante aos bens sociais, estes respondem pelos atos de gestão praticados por
qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia
contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Respondem solidária e ilimitadamente
todos os sócios pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no artigo
1.024, aquele que contratou pela sociedade, ou seja, nesse caso, não há a regra da
subsidiariedade.

As sociedades em conta de participação, arroladas nos artigos 991 a 996 e


reguladas subsidiariamente pelas disposições da sociedade simples, têm sua atividade
exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual, o qual obriga-se
perante terceiros, exclusivamente. Já os sócios ocultos (ou participantes, como são
chamados no novo diploma civil) obrigam-se perante o sócio ostensivo.

Com relação à constituição da sociedade, esta independe de qualquer formalidade e


pode provar-se por todos os meios admitidos em direito. O contrato social produz efeitos
tão somente entre os sócios, e o seu eventual registro não confere personalidade jurídica à
sociedade.

O sócio participante não tem poderes de gerência, sob pena de se tornar


solidariamente responsável com o sócio ostensivo pelas obrigações em que intervier.

No tocante às participações dos sócios, estas representam patrimônio especial,


produzindo efeitos somente em relação a estes.

Causa a dissolução da sociedade a falência do sócio ostensivo. Nesse caso, havendo


crédito com natureza quirografária; falindo o sócio participante, o contrato social fica
sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.

Salvo estipulação em contrário, é vedado ao sócio ostensivo a admissão de novos


sócios sem o consentimento expresso dos demais.

Com relação à sua liquidação, deverão ser observadas as normas relativas à


prestação de contas, na forma da lei processual.

Quanto às sociedade em nome coletivo, reguladas pelos artigos 1.039 a 1.044 e,


subsidiariamente, pelas disposições relativas à sociedade simples, podem ser formadas somente
por pessoas físicas com responsabilidade solidária e ilimitada, podendo os sócios, entre si, limitar a
responsabilidade de cada um. O contrato social destas sociedades deverá prever todas as matérias
enumeradas no artigo 997, além da firma social, competindo exclusivamente aos sócios sua
administração.

A teor do que dispõe o artigo 1.043, do novo Código Civil, não pode o credor particular do
sócio, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor, enumerando,
entretanto, duas exceções: prorrogação tácita ou prorrogação contratual com acolhimento da
oposição do credor pela via judicial.

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DIREITO COMERCIAL

A dissolução da sociedade em nome coletivo dá-se, de pleno direito, por qualquer


das causas do artigo 1.033, ou seja, da mesma forma que se dissolve a sociedade simples e,
caso seja ela empresária, também pela falência.

A morte de sócio, por si só, não autoriza o ingresso de seus sucessores na sociedade,
o que será permitido somente se o contrato social trouxer previsão expressa neste sentido,
caso contrário operar-se-á a liquidação de suas cotas.

No que tange às sociedade em comandita simples, prevista nos artigos 1.045 a


1.051, com aplicação, no que for compatível, das normas da sociedade em nome coletivo,
trata-se de sociedade de organização mista, com dois tipos de sócios:

· sócios comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente


pelas obrigações sociais. A eles incumbe a administração da sociedade;

· sócios comanditários, pessoas físicas ou jurídicas, obrigados somente pelo valor


da sua cota e, não obstante poderem deliberar nos assuntos da sociedade e de
fiscalizar as operações, encontram-se proibidos de praticar qualquer ato de
gestão, nem ter o nome na firma social (sob pena de ficarem sujeitos às
responsabilidades que cabem aos sócios comanditados);

A única exceção à impossibilidade de prática de atos de gestão pelos comanditários


encontra-se elencada no artigo 1.047, no caso de ser constituído procurador da sociedade
para negócio determinado e com poderes especiais.

Como garantia aos terceiros de boa-fé, o artigo 1.048 determina que a modificação
do contrato social que diga respeito à diminuição da quota do comanditário, em
conseqüência de ter sido reduzido o capital social, somente produz efeitos perante terceiros
após averbada, sempre sem prejuízo dos credores preexistentes.

Agindo de boa-fé, o sócio comanditário não é obrigado a repor lucros recebidos de


acordo com o balanço. Entretanto, diminuído o capital por perdas supervenientes, este só
poderá receber lucros, após a reintegração do capital social.

A dissolução da sociedade é regrada pelo artigo 1.044, ou ainda, quando por mais
de 180 dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio.

No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição em


contrário, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente, uma vez
que a sociedade em face dos comanditários tem caráter de sociedade de capital. Quanto ao
sócio comanditado, havendo sua morte, os comanditários nomearão administrador
provisório para a prática dos atos de adminstração, por no máximo 180 dias. O
administrador, nesse caso, não assume a condição de sócio.

Quanto às sociedade em comandita por ações, previstas nos artigos 1.090 ao 1.092,
não obstante as modificações trazidas pelo novo Código, regem-se pelas normas relativas
às sociedades anônimas. Seu capital social é dividido em ações. Podendo, seu nome
empresarial, ser firma ou denominação.

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DIREITO COMERCIAL

Podem ser administradores da sociedade somente os acionistas, os quais respondem


com seus bens de maneira subsidiária e ilimitada pelas obrigações da sociedade. Seus
diretores são nomeados no ato constitutivo, sem limitação de tempo, e somente poderão ser
destituídos por deliberação de acionistas que representem, no mínimo, dois terços do
capital social da empresa.

Mesmo destituído ou exonerado, o diretor continuará responsável pelas obrigações


sociais contraídas sob sua administração pelo prazo de dois anos, visando-se evitar
administrações irresponsáveis.

No tocante às demais sociedades, serão estudadas em módulo específico.

2. ASPECTOS COMUNS ÀS SOCIEDADES ESTUDADAS

2.1. Quanto ao Nome Empresarial (artigos 1.155 a 1.168, do Código


Civil)

As sociedades possuem personalidade jurídica, e uma das conseqüências é o fato de


ter nome próprio diferente dos sócios. Existe, porém, uma exceção no que tange às
sociedades em conta de participação (art. 991): uma vez que não possuem personalidade,
conseqüentemente, não têm nome, os registros são feitos em nome do sócio ostensivo.

Existem duas espécies de nome para as sociedades. São elas:

• firma ou razão social: é constituída tendo como base o nome civil do


comerciante individual ou dos sócios de determinadas sociedades empresariais.
No Brasil, as firmas têm de ser constituídas com o princípio da veracidade em
vista, podendo entrar o nome de um, dois ou todos os sócios. Ressalta-se que
terá responsabilidade ilimitada o sócio que emprestar seu nome à firma ou razão
social. O sócio com responsabilidade limitada passará a responder
ilimitadamente caso empreste seu nome à sociedade;

• denominação: é constituída tendo como base o nome civil do(s) sócio(s) de


determinadas sociedades ou uma expressão lingüística distinta (elemento
fantasia).

A proteção jurídica ao nome empresarial decorre do arquivamento dos atos


constitutivos na Junta Comercial, o que garante o nome somente no Estado em que o
empresário tem sede ou filial, ou seja, a proteção que a Junta Comercial confere ao nome
se exaure nos limites do Estado a que ela pertence, a teor do que dispõe o artigo 1.166.

O artigo 1.164 determina a inalienabilidade do nome empresarial, podendo o


adquirente suceder o alienante no mesmo ramo e com mesmo nome na forma que
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determina o parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

Considerando-se que a responsabilidade daquele cujo nome figura na firma é


ilimitada, caso ocorra o falecimento, retirada ou exclusão do sócio deverá seu nome ser
excluído da firma, a fim de que se garanta a segurança de terceiros que venham a fazer
negócios com a empresa.

As espécies de nomes empresariais não são válidas para as sociedades em conta de


participação, uma vez que estas não registram seus atos na Junta Comercial.

2.3. Gerência
Quando o sócio de responsabilidade limitada ocupar cargo de gerência, passará a
responder ilimitadamente, uma vez que, nas sociedades, o gerente é sempre sócio de
responsabilidade ilimitada. Esta regra não se aplica à sociedade em conta de participação,
uma vez que não é personificada e o sócio ostensivo age em seu próprio nome.

2.4. Penhora
Não é possível a penhora de quotas nas sociedades de pessoas, pois o sistema é
lógico: se são de pessoas, não pode haver penhora para que terceiro estranho não ingresse
na sociedade. Assim, a título de exemplo, uma sociedade com os sócios Cláudio e Daniel e
que tivesse penhoradas e levadas a leilão as quotas de Cláudio, qualquer um poderia ser
sócio de Daniel, mas como se trata de sociedade de pessoas, este fato não é permitido.

Há divergência doutrinária e jurisprudencial acerca da questão, no sentido de ser


possível a penhora de cotas de sociedades de pessoas, desde que o credor não ingresse na
sociedade, servindo ela apenas para que o credor receba a parte do lucro que seria
destinado ao seu devedor.

2.5. Substituição de Sócios


Para se analisar a possibilidade de substituição dos sócios, necessária a verificação
das características da sociedade. Se sua característica principal é a pessoalidade, necessária
o será o consentimento dos demais sócios para que seja alterada qualquer de suas
características. Em contrapartida, se a pessoalidade não for atributo da sociedade, como nas
sociedades em conta de participação, possível será a alteração dos quadros sociais sem que
se demande tal consentimento.

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DIREITO COMERCIAL

2.6. Morte do Sócio


A morte do sócio pode dissolver a sociedade total ou parcialmente.

A dissolução total extingue o vínculo contratual entre os sócios, extinguindo a


pessoa jurídica.

A dissolução parcial extingue parcialmente a sociedade, permanecendo a pessoa


jurídica, se os sócios remanescentes forem suficientes para o seu funcionamento.

A sociedade pode se dissolver pela morte de um dos sócios, salvo convenção em


contrário a respeito dos que sobreviverem.

2.7. Abuso de Gerência


Nas sociedades empresariais a responsabilidade do gerente que age com abuso é
subsidiária, independentemente do tipo societário.

Em princípio, quem responde é a sociedade, e, somente subsidiariamente, a


responsabilidade será do sócio-gerente.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Direitos e Garantias Fundamentais

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Direitos e Garantias Fundamentais

Prof. Ricardo Cunha Chimenti

1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

1.1. Direitos Individuais


Os direitos individuais, historicamente conceituados como prerrogativas que têm os
indivíduos em face do Estado (nos regimes constitucionais, os governos têm seus poderes e
limites traçados por regras constitucionais), evoluíram a fim de também proteger um
indivíduo de outros indivíduos e ainda os grupos de indivíduos contra qualquer
arbitrariedade. Ademais, atualmente os direitos individuais não existem somente para
proteger o indivíduo, impondo deveres de abstenção ao Estado (prestação negativa que
inicialmente orientou as garantias individuais, a exemplo do inciso LXI do artigo 5.º da
Constituição Federal); existem também para impor ao Estado deveres de prestação (por
exemplo, os incisos L e LXII do artigo 5.º da Constituição Federal).

1.1.1. Direitos individuais homogêneos


Nos termos do artigo 81, parágrafo único, inciso III, do Código de Defesa do
Consumidor, são aqueles que pertencem a grupo, categoria ou classe de pessoas
determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum,
normalmente oriundos das mesmas circunstâncias de fato.

1.1.2. Direitos coletivos


Direitos transindividuais ou metaindividuais que pertencem a vários titulares que se
vinculam juridicamente, ou, segundo entendimento de Ada Pellegrini Grinover, que
possuem uma relação jurídica base (exemplos: condôminos, sindicalistas etc.).

1.1.3. Direitos difusos


São direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que são titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstância de fato (exemplos: usuários de uma praia,
1
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DIREITO CONSTITUCIONAL

consumidores etc.)

O conceito de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos é encontrado no


artigo 81, parágrafo único, incisos I, II e III, da Lei n. 8.078/90.

1.2. Direitos Sociais


Os direitos sociais genericamente referidos no artigo 6.º da Constituição Federal
estão espalhados por toda a Constituição, em especial nos artigos 7.º, 193 e 230.

Direitos sociais são direitos coletivos e não direitos individuais, embora algumas
vezes possam ocupar as duas posições. Por isso, em regra são passíveis de modificação por
emenda constitucional (apenas os direitos e garantias individuais estão previstos como
cláusula pétrea).

Nos termos do artigo 6.º da Constituição Federal, são direitos sociais a educação, a
saúde, o trabalho, a moradia (Emenda Constitucional n. 26/00), o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
nos termos da Carta Magna.

1.3. Direito de Nacionalidade


Direito que tem o indivíduo de manter um vínculo jurídico com o Estado, de
pertencer ao povo de um Estado e, em conseqüência, receber proteção deste.

1.4. Direito de Cidadania


Prerrogativa que tem o indivíduo de participar da tomada de decisão política do
Estado (exemplos: direito de votar, de participar de plebiscito, de ingressar com uma ação
popular etc.).

1.5. Direito de Organizar e Participar de Partido Político


Tem o objetivo de ascender ao poder, ou seja, de levar à sociedade a sua forma de
administrar o Estado.

1.6. Observações
São esses os Direitos Fundamentais expressos na Constituição Federal. Admitem-se,
no entanto, outros não escritos formalmente, mas que decorrem dos princípios adotados
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DIREITO CONSTITUCIONAL

pela Carta Magna (artigo 5.º, § 2.º).

1.7. Tratados Internacionais


O pacto entre duas ou mais nações normalmente é denominado Tratado.

No Brasil compete ao Presidente da República celebrar tratados internacionais e


submetê-los ao referendo do Congresso Nacional (artigos 49, inciso I, e 84, inciso VIII,
ambos da Constituição Federal). Assim, a assunção de um compromisso externo depende
da vontade conjugada dos dois poderes políticos (Executivo e Legislativo).

Uma mensagem do Presidente da República, acompanhada da proposta de tratado, é


encaminhada ao Congresso Nacional e lá pode ser aprovada (via decreto legislativo
aprovado por maioria simples e promulgado pelo presidente do Senado Federal, que o faz
publicar no Diário Oficial da União) ou rejeitada. Por fim, é necessária a promulgação e
publicação por decreto do Presidente da República (é o decreto presidencial que dá força
executiva ao tratado).

O Supremo Tribunal Federal acolhe a tese segundo a qual as Convenções e Tratados


Internacionais têm força jurídica de norma infraconstitucional, força de lei ordinária.
Portanto, estão subordinados à Constituição Federal.

Parte da doutrina, porém, sustenta tese diversa, afirmando que os tratados


internacionais de proteção aos direitos humanos ingressam em nosso ordenamento jurídico
nacional com força de norma constitucional. A respeito do tema merece destaque o
trabalho de Flávia Piovesan1.

1.8. Classificação
A doutrina costuma apresentar a classificação dos direitos fundamentais de
primeira, segunda e terceira gerações. Na história da humanidade, apareceram em
primeiro lugar as liberdades clássicas e concomitantemente as liberdades de participação.
Conforme já mencionado, esse conjunto de direitos apareceu no mesmo momento
histórico. Assim, esse conjunto forma os direitos de primeira geração.

Logo depois surgiram as liberdades concretas – direitos sociais de segunda geração


– com o fim de evitar a isonomia formal e impor a isonomia real. Assim, os direitos de
segunda geração surgiram em busca da igualdade.

A doutrina ainda classifica os direitos de terceira geração – difusos – que repousam


na idéia de que as pessoas deveriam viver solidariamente, fraternalmente em sociedade
(exemplo: meio ambiente).

1
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. São Paulo: Max Limonad,
1996.
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Por fim, alguns doutrinadores falam em direitos de quarta geração – ligados ao


patrimônio genético.

1.9. Diferença Entre Direito e Garantia


A diferença entre direito e garantia, no direito brasileiro, remonta a Rui Barbosa.

Direito é disposição declaratória.

Garantia é elemento assecuratório (sistema de proteção). É um procedimento


judicial específico, cuja finalidade é dar proteção eficiente aos direitos fundamentais.
Alguns doutrinadores chamam as garantias de “remédios constitucionais”.

A regra jurídica declara em favor da pessoa determinado direito. A garantia assegura


o exercício do direito. Encontramos, às vezes, no mesmo inciso o direito e a garantia
(exemplo: inciso IX do artigo 5.º) ou num inciso o direito e no outro a garantia (exemplo:
direito no inciso LXI e garantia no inciso LXV, todos do artigo 5.º da Constituição
Federal).

O remédio será sempre instrumento processual. São eles:

• habeas corpus: tem por objetivo proteger a liberdade de locomoção;

• habeas data: visa a garantir ao impetrante o acesso aos dados existentes sobre
sua pessoa em bancos de dados públicos ou particulares de caráter público;

• mandado de segurança: tem a finalidade de fazer cessar lesão ou ameaça de


lesão ao direito individual ou coletivo, líquido e certo, seja qual for a autoridade
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder;

• mandado de injunção: tem como finalidade garantir o exercício de direito


previsto em norma constitucional de eficácia limitada ainda não regulamentada;

• ação popular: é um instrumento de democracia direta por meio do qual o


cidadão exerce a fiscalização do patrimônio público para impedir que este seja
lesado por ato de autoridade ou para reparar a lesão já verificada.

1.10. Destinatário
Os direitos e garantias previstos no artigo 5.º da Constituição Federal têm como
destinatários as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, públicas ou
privadas, ou mesmo entes despersonalizados (massa falida, espólio etc.), estrangeiros
residentes ou de passagem pelo território nacional.

4
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1.11. Aplicabilidade e Interpretação


São dois os princípios que devem ser observados quando se trata da interpretação
das normas constitucionais de direitos e garantias fundamentais:

• serão interpretadas de forma ampla, extensiva, para abranger o maior número


possível de sujeitos e de situações;

• as normas excepcionadoras de direitos e garantias devem ser interpretadas


restritivamente.

Quanto à aplicabilidade, somente as normas de direitos e garantias que não


dependem de complementação (normas de eficácia plena e contida) têm aplicação
imediata.

1.12. Suspensão (artigos 136, § 1.º, 138 e 139)


No Brasil, são previstas duas exceções em que os direitos e garantias são suspensos
por tempo determinado; durante o estado de defesa e o estado de sítio.

1.12.1. Estado de defesa


Pode ser decretado sempre que houver instabilidade das instituições democráticas
ou calamidade pública. Os direitos que podem ser suspensos são aqueles previstos no
artigo 136, § 1.º, incisos I e II, da Constituição Federal. Para a decretação do estado de
defesa, o Presidente da República não precisa de autorização prévia do Congresso
Nacional.

1.12.2. Estado de sítio


Pode ser decretado em duas situações, previstas no artigo 137, incisos I e II, da
Constituição Federal:

• comoção grave de repercussão nacional ou se o estado de defesa se mostrou


ineficaz para resolver o problema. Os direitos que podem ser excepcionados,
nesse caso, estão previstos no artigo 139;

• guerra externa ou resposta à agressão armada estrangeira. Todos os direitos estão


sujeitos à restrição, inclusive o direito à vida (exemplo: em caso de guerra
externa, pode-se aplicar pena de morte).

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1.13. Limitação Material ao Poder de Reforma (artigo 60, § 4.º)


O artigo 60, em seu § 4.º, coloca limites para a reforma da Constituição Federal.
Algumas matérias não se sujeitam à modificação por emenda. Somente o constituinte
originário poderia modificar essas cláusulas, chamadas cláusulas pétreas.

Não estão sujeitos à emenda os direitos e garantias individuais previstos no artigo


5.º.

2. DIREITO À VIDA

2.1. A Vida como Objeto do Direito

2.1.1. Proibição da pena de morte (artigo 5.º, inciso XLVII, alínea “a”)
A Constituição Federal assegura o direito à vida quando proíbe a pena de morte. A
aplicação desta só é permitida em caso de guerra externa declarada. O constituinte
entendeu que a sobrevivência da Nação, em momento de guerra declarada, se sobrepõe à
sobrevivência individual daqueles que se mostrem nocivos à coletividade.

Não é possível a introdução da pena de morte por emenda constitucional, pois o


direito à vida é direito individual e o artigo 60, § 4.º, inciso IV, dispõe que os direitos
individuais não poderão ser modificados por emenda (cláusula pétrea, imutável).

Também não seria possível um plebiscito para a introdução da pena de morte, tendo
em vista que a própria Constituição Federal estabelece suas formas de alteração e o
plebiscito não está entre elas. A única maneira de se introduzir a pena de morte no Brasil
seria a confecção de uma nova Constituição pelo poder constituinte originário.

2.1.2. Proibição do aborto


A Constituição Federal não se referiu ao aborto expressamente, mas simplesmente
garantiu a vida, sem mencionar quando ela começa (com a concepção ou com o
nascimento). Assim, o Código Penal, na parte que trata do aborto, foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988.

O Código Penal prevê o aborto legal em caso de estupro (aborto sentimental) e em


caso de risco de morte da mãe (aborto necessário ou terapêutico), independente de
autorização judicial.

O aborto eugênico, admitido em alguns países quando o feto apresenta graves


deformidades, não está autorizado por nossa legislação. Parte da jurisprudência admite, no
entanto, o aborto eugênico baseado no direito à vida da mãe, preservando-lhe sua saúde
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física e mental, mesmo não havendo risco de morte (exemplo: quando provada a
anencefalia do feto). O aborto eugênico deve ser concedido mediante autorização judicial
nas hipóteses de comprovação científica de impossibilidade de sobrevivência extra-uterina
(essa posição não é pacífica).

2.1.3. Proibição da eutanásia


A eutanásia configura-se quando alguém tira a vida de outrem cuja sobrevivência
autônoma é incerta. O caso de desligamento dos aparelhos de pessoa clinicamente morta,
que só sobreviveria por meio deles (vegetação mecânica), não configura a eutanásia. O
médico que praticar a eutanásia, ainda que com autorização do paciente ou da família,
estará cometendo crime de homicídio (chamado homicídio piedoso).

O suicídio assistido por médico, no Brasil, pode ser punido como auxílio ao
suicídio.

2.1.4. Garantia da legítima defesa


O direito de a pessoa não ser morta legitima que se tire a vida de outrem que atentar
contra a sua própria.

3. DIREITO À IGUALDADE

Dos direitos e garantias fundamentais explicitados na Constituição Federal, o


primeiro é aquele que anuncia a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos da Constituição Federal e das regras internacionais vigentes.

Igualdade tem o sentido de equiparação de todos no que concerne à fruição de


direitos, bem como à sujeição de deveres.

A igualdade, muitas vezes, pode estar representada pelo tratamento desigual aos
desiguais, a exemplo da alíquota progressiva do Imposto de Renda. Esse tratamento
caracteriza a isonomia.

3.1. Da Igualdade entre Homens e Mulheres


De acordo com o inciso I do artigo 5.º, homens e mulheres são iguais em direitos e
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DIREITO CONSTITUCIONAL

obrigações. Vale como exemplo o artigo 7.º, inciso XXX, que veda diferenças salariais em
razão do sexo, idade, cor ou estado civil do trabalhador. O artigo 226, § 5.º, por sua vez
revogou todos os dispositivos infraconstitucionais que outorgavam aos homens o status de
cabeça do casal (o artigo 233 do Código Civil de 1916, entre outros, dispunha que o
marido era o chefe da sociedade conjugal).

A própria Constituição Federal, porém, excepciona a regra geral e atribui tratamento


diferenciado à mulher em alguns casos, como a proteção ao mercado de trabalho (artigo
7.º, inciso XX), a aposentadoria com redução de cinco anos na idade e no tempo de
contribuição (artigo 201, § 7.º), a isenção do serviço militar obrigatório em tempo de paz
(artigo 143, § 2.º) etc.

4. DA LEGALIDADE

O inciso II do artigo 5.º da Constituição Federal estabelece que ninguém será


obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. É o chamado
princípio da legalidade, inerente ao “Estado de Direito”. Somente a lei – norma genérica
abstrata expedida pelo Legislativo – e outros atos com força de lei admitidos pela Carta
Magna criam direitos e obrigações, embora existam exceções nos períodos de estado de
defesa e estado de sítio.

O decreto, espécie mais comum dos atos regulamentares, costuma ser definido como
o ato administrativo de competência exclusiva do chefe do Poder Executivo (federal,
estadual ou municipal), destinado a dar eficácia a situações gerais ou especiais previstas de
forma explícita ou implícita na lei. Não tem força, portanto, para criar direitos ou extinguir
obrigações, ou seja: no que for além da lei, não obriga; no que for contra a lei, não
prevalece.

Prevalece, então, que a Constituição Federal só admite o decreto regulamentar,


também chamado decreto de execução; ou seja, aquele decreto que se limita a facilitar a
execução da lei e a organizar o funcionamento da administração (artigos 5.º, inciso II, 49,
inciso V, e 84, inciso IV, todos da Constituição Federal), ainda assim, com observância do
princípio da reserva legal. Nesse sentido, as lições de José Afonso da Silva e Celso Antônio
Bandeira de Mello.

Hely Lopes Meirelles, por sua vez, admite o decreto denominado autônomo ou
independente, que visa suprir a omissão do legislador, dispondo sobre matéria ainda não
especificada em lei e que não esteja sujeita ao princípio da reserva legal.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro leciona que: “No direito brasileiro, a Constituição de
1988 limitou consideravelmente o poder regulamentar, não deixando espaço para os
regulamentos autônomos, a não ser a partir de Emenda Constitucional n.º 32/01”. Para essa
eminente administrativista “A atual Constituição, no artigo 84, VI, prevê competência para
‘dispor sobre a organização e o funcionamento da administração federal, na forma da
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lei’.” Assim, conclui: “Com a alteração do dispositivo constitucional, fica restabelecido o


regulamento autônomo no direito brasileiro, para a hipótese específica inserida na alínea
a.”

4.1. Legalidade Administrativa (artigo 37, caput)


Não há atuação administrativa possível que não esteja prevista em lei.

O particular pode fazer tudo que não for proibido pela lei. O Estado só pode fazer o
que a lei permite.

4.2. Legalidade Penal (artigo 5.º, inciso XXXIX)


Protege o indivíduo contra a ação do Estado, impondo limites para: repressão de
condutas penalmente típicas; fixação da responsabilidade penal; a natureza da sanção
penal; regime de cumprimento da sanção.

5. DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

A prestação jurisdicional deve respeitar o devido processo legal. O princípio traz


duas vertentes; por um lado, dispõe que o Estado, sempre que impuser qualquer tipo de
restrição ao patrimônio ou à liberdade de alguém, deverá seguir a lei; por outro lado,
significa que todos têm direito à jurisdição prestada nos termos da lei, ou seja, a prestação
jurisdicional deve seguir o que está previsto em lei. O respeito à forma é uma maneira de
garantir a segurança do devido processo legal.

Componentes do devido processo legal:

• processo: instrumento pelo qual a jurisdição atua;

• devido: compromisso ético e de justiça;

• legal: que decorre da lei.

A cláusula do devido processo legal informa o processo judicial e o processo


administrativo (artigo 5.º, inciso LV). Informa o direito administrativo ao regular o
processo administrativo contencioso na administração federal e estadual.

Princípios decorrentes do princípio do devido processo legal:

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5.1. Inafastabilidade do Controle Judicial (artigo 5.º, inciso XXXV)


Apenas o Poder Judiciário soluciona definitivamente lesões ou ameaça a direitos.
Assim, o sistema normativo não prevê nenhuma possibilidade ao chamado contencioso
administrativo.

A Constituição do Império estabelecia pré-requisitos para alguém ingressar em


juízo. A Emenda Constitucional n. 7, de 1977, dando nova redação ao artigo 153 da
Constituição Federal de 1967, ditava que o “ingresso em juízo poderá ser condicionado a
que se exauram previamente as vias administrativas, desde que não exigida a garantia de
instância, nem ultrapassado o prazo de 180 dias para a decisão sobre o pedido.” O Ato
Institucional n. 5, de 1969, excluiu da apreciação do Poder Judiciário os atos praticados
pelo comando do Golpe Militar de 1964.

A Constituição Federal de 1988, ao contrário, estabelece a regra de que o direito de


acesso à justiça, visando à apreciação de lesão ou ameaça de lesão a direito, não depende
de qualquer procedimento administrativo prévio e não pode ser excluído pela lei.

O acesso à justiça comum comporta uma exceção: o artigo 217, § 1.º, da


Constituição Federal de 1988, prevê o esgotamento das instâncias da justiça desportiva. A
justiça desportiva é um órgão administrativo e não um órgão do Poder Judiciário, conforme
explicita o artigo 52 da “Lei Pelé” (Lei n. 9.615/98)

Também na lei que regulamenta o habeas data, existe a disposição que prevê o
esgotamento dos meios administrativos para que se possa, então, recorrer ao Judiciário
(artigo 2.º da Lei n. 9507/97).

Os artigos 18, 31 e 33 da Lei n. 9.307/96, que dispõe sobre a arbitragem, são de


duvidosa constitucionalidade, pois excluem algumas questões da apreciação do Poder
Judiciário. Os que defendem a inexistência de inconstitucionalidade destacam que apenas
pessoas capazes podem celebrar a convenção de arbitragem, a qual somente pode versar
sobre direitos disponíveis, à semelhança da transação.

5.2. Isonomia
Prevê um tratamento igualitário para as partes. Todos os órgãos públicos deverão dar
tratamento isonômico para as partes.

A isonomia é formal e não material. O tratamento diferenciado, seja na elaboração


ou na aplicação da lei, só é possível quando presentes pressupostos lógicos que objetivem o
estabelecimento desigual na medida das desigualdades.

5.3. Contraditório e Ampla Defesa (artigo 5.º, inciso LV)


Deve-se observar o contraditório e a ampla defesa como requisitos para que o
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DIREITO CONSTITUCIONAL

devido processo legal seja respeitado. O contraditório é a possibilidade, assegurada a quem


sofre uma imputação em juízo, de contraditar essa imputação, ou seja, de apresentar a sua
versão dos fatos. A ampla defesa significa que as partes devem ter a possibilidade de
produzir todas as provas que entendam necessárias ao esclarecimento dos fatos e ao
convencimento do juiz.

O princípio do contraditório decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e é


identificado na doutrina pelo binômio “ciência e participação”. As partes têm o direito de
serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a oportunidade de se
manifestarem sobre ele antes de qualquer decisão jurisdicional. No processo penal, a
participação (defesa) há de ser efetiva, ou seja, o réu deve ter direito à autodefesa e à
defesa técnica, podendo o juiz nomear-lhe outro defensor se considerá-lo indefeso. Já no
processo civil, a participação tem natureza instrumental e pode ser meramente presumida,
não podendo o juiz nomear outro advogado para a parte.

Observação: O inquérito policial não se desenvolve sob a égide do princípio do


contraditório, pois se trata de mero procedimento inquisitivo. Com efeito, durante as
investigações policiais não há acusação, logo não há defesa. Os indícios colhidos durante o
inquérito policial só podem fundamentar uma sentença penal condenatória se confirmados
por outros elementos de prova.

5.4. Juiz Natural (artigo 5.º, inciso LIII)


A decisão de um caso concreto deve ser proferida pelo juiz natural que é o juiz ou
tribunal investido de poder pela lei para dizer o direito ao caso concreto, ou seja, é o juiz
ou tribunal que tem a competência, previamente estabelecida, para julgar determinado caso
concreto.

Esse princípio informa o processo penal, civil e administrativo. No processo civil há


a relativização da garantia, pois admite-se a prorrogação da competência (nas hipóteses de
competência relativa). No processo administrativo o servidor tem direito de ser julgado por
aquele que detenha o poder hierárquico ou disciplinar (o Supremo Tribunal Federal
entende que o servidor só pode ser punido pela autoridade a quem deva subordinação
funcional). No processo penal, as regras que estabelecem as prerrogativas de foro são
fixadas em favor do cargo e não da pessoa.

Atenção: não confundir o princípio do juiz natural com o princípio da identidade


física do juiz (artigo 132 do Código de Processo Civil), que não se aplica no processo
penal.

Discute-se, hoje, a existência ou não do princípio do promotor natural, extraído da


locução processar prevista no inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal.

Conforme leciona Hugo Nigro Mazzilli: “O princípio do promotor natural


significa, portanto, a existência de órgão do Ministério Público escolhido por prévios
critérios legais e não casuisticamente. Não fosse assim, a garantia constitucional da
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inamovibilidade do órgão ministerial seria uma falácia; além disso, seria possível que o
chefe da instituição manipulasse as acusações penais e as demais atuações ministeriais,
designando membros para atuarem conforme sua conveniência, que não raro coincidiria
com a dos governantes que o escolheram. Por isso, não basta que não se possa livremente
remover o membro do Ministério Público do cargo; é mister que se assegure ao promotor
de Justiça ou ao procurador da República o efetivo exercício das suas funções. Ao cargo
devem estar agregadas atribuições previamente determinadas por lei” 2.

5.5. Vedação a Juízes e Tribunais de Exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII)


Os juízos e tribunais de exceção são transitórios e arbitrários, pois somente aplicam
a lei em determinados caso concretos. Normalmente, o Tribunal de Exceção é instituído
após a ocorrência do fato que irá julgar; é instituído para julgar fato ou pessoa determinada,
situação incompatível com o denominado Estado de Direito.

A justiça especial não se confunde com a justiça de exceção. A justiça especial está
prevista na Constituição e é permanente e orgânica. A justiça de exceção, como visto
acima, é transitória e está fora dos quadros constitucionais do Poder Judiciário.

5.6. Tribunal do Júri (artigo 5.º, inciso XXXVIII)


O júri, órgão colegiado, heterogêneo e de formação temporária que exerce funções
jurisdicionais sem ser necessariamente composto por profissionais da área jurídica (exceto
o juiz-presidente, que sempre é um magistrado de carreira), tem sua competência fixada
pela Constituição Federal para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados
ou tentados (homicídio doloso, infanticídio, participação em suicídio e aborto). A
competência do Tribunal do Júri pode ser ampliada por norma infraconstitucional.

Para a votação, que é sigilosa (voto secreto, nos termos do artigo 481 do Código de
Processo Penal), o Brasil adotou o sistema francês, que prevê quesitos múltiplos. Pelo
sistema inglês, cuja futura adoção é defendida por muitos, há um quesito único (culpado ou
inocente) para os jurados e o juiz togado decide as demais questões.

A soberania do júri significa que o juiz-presidente (togado) ou mesmo os tribunais


não podem reformar a decisão dos jurados pelo mérito (ainda que contrária à prova dos
autos) e proferir outra em seu lugar, podendo apenas anular o julgamento e mandar o
processo a novo júri. Pelo mesmo motivo (ainda que este seja a decisão manifestamente
contrária à prova dos autos), mérito, não pode haver segunda apelação (artigo 593, § 3.º, do
Código de Processo Penal e RTJ 45/44 do Supremo Tribunal Federal). Quanto às
nulidades, porém, podem ser interpostos quantos recursos forem necessários.

A plenitude de defesa diz respeito ao direito do réu de exercer a autodefesa


(exemplo: interrogatório) e a defesa técnica, sendo lícito ao advogado utilizar argumentos
2
A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 13.ª ed. Saraiva. p. 265
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DIREITO CONSTITUCIONAL

jurídicos e extra-jurídicos. Se, durante o julgamento, o juiz considerar o réu indefeso,


deverá dissolver o conselho de sentença (artigo 497, inciso V, do Código de Processo
Penal).

O procedimento do júri é denominado bifásico, ou escalonado. A primeira fase


inicia-se com o recebimento da denúncia e encerra-se com o trânsito em julgado da
sentença de pronúncia. Caso a primeira fase seja encerrada com a impronúncia, absolvição
sumária ou a desclassificação, não haverá julgamento pelo júri popular. A segunda fase,
decorrente da pronúncia, tem início com a apresentação do libelo acusatório pelo Promotor
de Justiça e é encerrada, após a deliberação dos jurados, com a sentença do juiz-presidente
(juiz togado).

A sessão de julgamento é instaurada desde que presentes 15 dos 21 jurados


sorteados para cada reunião periódica. O conselho de sentença é formado por 7 jurados e o
julgamento se dá pela maioria de votos.

Caso a pena fixada ao final do julgamento seja igual ou superior a 20 anos, admite-
se, por apenas uma vez, o protesto por novo júri. No concurso material de crimes é
inadmissível a soma das penas para a concessão do novo júri.

O segundo julgamento pode estabelecer pena superior ao primeiro, não sendo


vedada a reformatio in pejus (artigo 617 do Código de Processo Penal) nos casos sujeitos a
júri popular, em decorrência da soberania de suas decisões.

Aqueles que têm prerrogativas em razão das funções que exercem (inclusive os
Juízes de Direito e os membros do Ministério Público – artigo 96, inciso III, da
Constituição Federal) não estão sujeitos ao júri. Diante da revogação da Súmula n. 394 do
Supremo Tribunal Federal, perdido o cargo cessa a prerrogativa funcional, sendo os autos
remetidos ao juízo ordinário.

O serviço do júri é obrigatório para os capazes entre 21 e 60 anos, observadas as


isenções previstas no artigo 436 do Código de Processo Penal. O artigo 435 do Código de
Processo Penal, que previa sanções para a recusa a este serviço, está sob debate, pois hoje a
Constituição Federal admite a prestação de serviço alternativo nos casos de escusa de
consciência.

Normalmente os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri da
Comarca onde o delito foi praticado. Contudo, quando houver dúvida sobre a
imparcialidade do júri, sobre a segurança pessoal do réu, atraso superior a um ano para o
julgamento ou por interesse da ordem pública, o réu poderá ser julgado fora do distrito da
culpa. O desaforamento é do julgamento e o pedido deve ser formulado após o trânsito em
julgado da pronúncia.

Há também a possibilidade de o réu ser julgado por um júri federal (artigo 109 da
Constituição Federal), a exemplo da prática dos seguintes crimes dolosos contra a vida:
crime contra funcionário público federal em razão de suas funções, crimes cometidos a
bordo de navios ou aeronaves, crimes cometidos por servidores federais no exercício de
suas funções e crimes praticados contra índios dentro de reservas indígenas (artigos 22,
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DIREITO CONSTITUCIONAL

inciso XIV e 109, inciso XI, ambos da Constituição Federal).

Em julgado de 14.4.2001 (RE n. 270.370), no qual se considerou que o assassinato


de índio no interior de sua aldeia tivera relação direta com questão concernente a “direitos
originários sobre terras indígenas”, com base no inciso XI do artigo 109 da Constituição
Federal, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a competência da Justiça Federal.

Observe-se, porém, que a Súmula n. 140 do Superior Tribunal de Justiça estabelece


que “compete à justiça estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como
autor ou vítima”.

Havendo conexão entre o delito de competência do júri e outro de competência da


justiça comum, o júri será competente para o julgamento das duas infrações.

O procedimento do júri está disciplinado nos artigos 406 a 497 do Código de


Processo Penal.

Observação: o latrocínio (artigo 157, § 3.º, última parte, do Código Penal) é


considerado crime contra o patrimônio e não crime contra a vida. Por isso, seu julgamento
é de competência do juiz singular e não do Tribunal do Júri (Súmula n. 603 do Supremo
Tribunal Federal).

5.7. Motivação das Decisões (artigo 93, inciso IX)


Toda decisão judicial deverá ser motivada, pois uma decisão sem motivação ofende
o princípio do devido processo legal, sendo considerada inválida.

5.8. Publicidade
O juiz deve dar publicidade de todas as decisões que proferir e todos os atos serão
públicos, com exceção daqueles que devem acontecer em segredo de justiça.

5.9. Proibição da Prova Ilícita (artigo 5.º, inciso LVI)


O gênero provas ilegais divide-se em duas espécies:

• provas ilícitas: são obtidas com violação de direito material (exemplo: prova
obtida mediante tortura ou mediante violação de domicílio);

• provas ilegítimas: são obtidas com violação de direito processual (juntada de


documentos na fase do artigo 406, § 2.º do Código de Processo Penal).

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal afasta o acolhimento das provas ilícitas, regra que deve ser
observada no âmbito penal, civil ou administrativo. Contudo, não existe princípio
constitucional absoluto. Assim, diversos autores defendem a admissão da prova ilícita na
hipótese de o bem jurídico beneficiado por ela ser de maior valor que o bem jurídico
sacrificado pela ilicitude da obtenção (exemplo: gravação em vídeo de maus-tratos
aplicados ao filho; devem ser sopesados a integridade física do menor e a intimidade do
agressor). O sopesamento é conhecido por princípio da proporcionalidade e normalmente
só é admitido pelo Supremo Tribunal Federal em benefício da defesa.

Para a análise das provas ilícitas há que se ter em mente a doutrina norte-americana
consubstanciada na “teoria dos frutos da árvore envenenada” (fruits of the poisonous tree),
que prevê a contaminação das provas decorrentes da prova ilícita (STF – HC n. 74.116, j.
5.11.1996, 2.ª Turma), as chamadas provas ilícitas por derivação.

6. TORTURA

“Art. 5.º, III – Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante.”

A tortura é classificada pelo inciso XLIII do artigo 5.º como crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-la, se omitirem.

Nos termos da Lei n. 9.455, de 7.4.1997, a tortura, que pode ser física ou moral,
caracteriza-se, entre outras hipóteses, por:

a) constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,


causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o especial fim de: 1) obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; 2)
provocar a ação ou omissão de natureza criminosa; 3) em razão de
discriminação racial ou religiosa;

b) submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de


violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como
forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

7. DIREITO À LIBERDADE

7.1. Liberdade de Pensamento (artigo 5.º, inciso IV)


É importante que o Estado assegure a liberdade das pessoas de manifestarem o seu
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DIREITO CONSTITUCIONAL

pensamento. Foi vedado o anonimato para que a pessoa assuma aquilo que está divulgando
caso haja danos materiais, morais ou à imagem. De acordo com o artigo 28 da Lei de
Imprensa (Lei n. 5.250/67), o escrito publicado em jornais ou periódicos, sem indicação de
seu autor, considera-se redigido: pelo redator da seção em que foi publicado; pelo diretor
ou pelo redator-chefe, se publicado na parte editorial; e pelo agente ou proprietário das
oficinas impressoras, se publicado na parte ineditorial.

O limite na manifestação do pensamento encontra-se no respeito à imagem e à


moral das outras pessoas.

Caso ocorram danos, o ofendido poderá se valer de dois direitos cumulativamente:

• indenização por dano material, moral ou à imagem (“São cumuláveis as


indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato” –
Súmula n. 37 do Superior Tribunal de Justiça);

• direito de resposta, que é o direito a ter idêntica oportunidade para se defender,


desde que seja proporcional ao agravo e que seja realmente usado para defesa e
não para ataque ao ofensor. Se o direito de resposta for negado pelo veículo de
comunicação, caberá medida judicial (artigo 5.º, inciso V).

7.2. Liberdade de Consciência, de Crença e de Culto (artigo 5.º, incisos


VI, VII e VIII)
A liberdade de consciência refere-se à visão que o indivíduo tem do mundo, ou seja,
são as tendências ideológicas, filosóficas, políticas etc. de cada indivíduo.

A liberdade de crença tem um significado de cunho religioso, ou seja, as pessoas


têm liberdade de cultuar o que acreditam. A Constituição Federal proíbe qualquer distinção
ou privilégio entre as igrejas e o Estado. O que se prevê é que o Estado poderá prestar
auxílio a qualquer igreja quando se tratar de assistência à saúde, à educação etc.

Seja qual for a crença, o indivíduo tem direito a praticar o culto. A Constituição
Federal/88 assegura, também, imunidade tributária aos templos em razão de realização do
culto.

Ainda, a Constituição Federal assegura o atendimento religioso às pessoas que se


encontrem em estabelecimentos de internação coletiva, como manicômios, cadeias,
quartéis militares etc.

7.3. Liberdade de Atividade Intelectual, Artística, Científica e de


Comunicação (artigo 5.º, inciso IX)
A Constituição Federal estabelece que a expressão das atividades intelectual,
artística, científica e de comunicação é livre, não se admitindo a censura prévia. É uma
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DIREITO CONSTITUCIONAL

liberdade, no entanto, com responsabilidade, ou seja, se houver algum dano moral ou


material a outrem, haverá responsabilidade por indenização.

O direito do prejudicado se limita à indenização por danos, não se podendo proibir a


circulação da obra. Apesar de não haver previsão na Constituição Federal quanto à
proibição de circulação de obras, o Judiciário está concedendo liminares, fundamentado no
fato de que deve haver uma prevenção para que não ocorra o prejuízo e não somente a
indenização por isto.

Os meios de comunicação são públicos, podendo ser concedidos a terceiros. Caso a


emissora apresente programas que atinjam o bem público, ela sofrerá sanções, incluindo-se
a não renovação da concessão. O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as
emissoras de rádio e de quinze para as de televisão.

7.4. Inviolabilidade do Domicílio (artigo 5.º, inciso XI)

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A Constituição estabelece a inviolabilidade domiciliar e suas exceções. A casa é


asilo do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, ainda, durante o dia,
por determinação judicial.

A expressão casa, segundo o Código Penal (artigo 150, § 4.º), compreende qualquer
compartimento habitado, o aposento ocupado de habitação coletiva e, ainda,
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

Com relação à expressão dia, José Afonso da Silva entende que é o período das 6:00
horas da manhã às 18:00 horas. Para Celso de Mello, deve ser levado em conta o critério
físico-astronômico, como o intervalo de tempo situado entre a aurora e o crepúsculo.
Outros doutrinadores entendem que devem ser aplicados os dois critérios conjuntamente.
Leda Pereira da Mota e Celso Spitzcovsky, em relação ao horário, destacam o artigo 172
do Código de Processo Civil, que autoriza o cumprimento dos atos processuais das seis às
vinte horas.

O Código Penal, no artigo 150, define o crime de violação de domicílio. A Lei n.


4.898/65, no artigo 3.º, alínea “b”, define como crime de abuso de autoridade o atentado à
inviolabilidade do domicílio.

É polêmica a questão sobre a possibilidade ou não de a Administração Pública


exercer seu poder de polícia no interior das “casas”, sem autorização judicial.

Poder de Polícia (modernamente conceituado em outros países como “limitações


administrativas à liberdade e à propriedade”) é aquele que se confere à Administração
Pública para que ela possa, nos limites da lei, em benefício da coletividade ou do próprio
Estado, regular, condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos. O
Poder de Polícia tem como principal característica a auto-executoriedade, ou seja, é
passível de execução direta pela própria administração, independentemente de ordem
judicial.

Hely Lopes Meirelles, exemplificando situações como nas demolições de obras


nocivas à comunidade, leciona que se firma cada vez mais a jurisprudência na boa
doutrina, reconhecendo a Administração – especialmente quanto aos atos de polícia – o
poder de executar direta e indiretamente seus atos imperativos, independentemente de
pedido cominatório ou mandado judicial. Reconhece, porém, que em face dos princípios do
contraditório e da ampla defesa, inclusive nos procedimentos administrativos, a auto-
executoriedade tornou-se mais restrita.

Celso Ribeiro Bastos, por sua vez, ao tratar da inviolabilidade do domicílio, traz a
seguinte lição: “Perdeu portanto a administração a possibilidade da auto-executoriedade
administrativa. Mesmo em casos de medidas de ordem higiênica ou de profilaxia e
combate às doenças infecto-contagiosas, ainda assim é necessário uma ordem judicial para
invasão”.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Entendemos que, tratando-se de situações emergenciais, a razão está com Hely


Lopes Meirelles, sem prejuízo de que posteriormente o particular ingresse com as medidas
judiciais cabíveis para a defesa de seus direitos e de seu patrimônio, se for o caso. Afinal,
quem pode o mais pode o menos, e a Constituição Federal autoriza até mesmo a requisição
do bem particular (artigo 5.º, inciso XXV) sem impor para tanto a prévia autorização
judicial.

A Constituição Federal, em seu artigo 145, § 1.º, estabelece que a administração


tributária deve exercer suas atividades com respeito aos direitos individuais, entre os quais
se destaca a inviolabilidade de domicílio. Nesse sentido STF-RTJ 162/249. No âmbito
infraconstitucional a matéria está disciplinada pelos artigos 194/200 do Código Tributário
Nacional. Havendo resistência, a fiscalização tributária deve requerer ao Poder Judiciário
um mandado de busca e apreensão, podendo o contribuinte ser enquadrado no artigo 1.º,
inciso I, da Lei n. 8.137/90 (que trata dos crimes contra a ordem tributária).

7.5. Sigilo de Correspondência e de Comunicações (artigo 5.º, inciso


XII)
A Constituição Federal assegura o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, permitindo a violação das
comunicações telefônicas, desde que por ordem judicial.

A Lei n. 9.296/96 dispõe que a interceptação telefônica é possível por ordem


judicial:

a) de ofício, a requerimento do Ministério Público ou autoridade policial;

b) tratando-se de fato punido com reclusão;

c) desde que seja imprescindível para a instrução processual penal ou para a


investigação criminal;

d) desde que já existam indícios suficientes de autoria ou participação.

Fora dessas hipóteses a interceptação telefônica pode ser considerada prova ilícita,
porque viola a intimidade.

Não confundir:

• Interceptação telefônica: gravação de um diálogo telefônico entre duas ou mais


pessoas sem que qualquer dos interlocutores saiba da medida;

• escuta telefônica: ocorre quando um terceiro (polícia, por exemplo) capta a


conversa, com o consentimento de apenas um dos interlocutores;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

• gravação clandestina (ou sub-reptícia): conversa (telefônica ou pessoal) gravada


por uma parte sem o conhecimento da outra e sem ordem judicial. Há
controvérsia sobre a sua validade, que em regra só é admitida como prova
defensiva.

O artigo 1.º, parágrafo único, da Lei n. 9.296/96 permite interceptação no fluxo de


comunicação de dados, informática e telemática.

Considerando-se que a Constituição Federal só fez ressalva quanto à inviolabilidade


das comunicações telefônicas, pergunta-se: o parágrafo único do artigo 1.º da referida lei
não contraria o texto constitucional?

Vicente Greco Filho entende que o dispositivo é inconstitucional.

A maioria da doutrina, entretanto, entende que não há inconstitucionalidade. Os


Professores Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes estão com a maioria. Estes autores
defendem a tese de que não há direito fundamental absoluto. Para eles, um direito não pode
acobertar uma atividade ilícita. O Supremo Tribunal Federal já decidiu nesse sentido.

O parágrafo único do artigo 41 da Lei de Execução Penal prevê a possibilidade do


diretor do presídio suspender o direito de correspondência do preso em caso de violação à
moral e aos bons costumes. Novamente, surge a discussão sobre a inconstitucionalidade do
dispositivo. A jurisprudência é pacífica ao defender a constitucionalidade dessa restrição,
diante da necessidade de defesa do interesse público, da manutenção da segurança e outros
fundamentos (princípio da proporcionalidade).

Os direitos previstos no inciso XII do artigo 5.º poderão sofrer restrições na vigência
de estado de sítio ou estado de defesa, nos termos dos artigos 136 e 137 da Carta Magna.

7.6. Liberdade de Trabalho, Ofício ou Profissão (artigo 5.º, inciso XIII)


É assegurada a liberdade de escolher qual a atividade que se exercerá. É uma norma
de eficácia contida, ou seja, tem aplicabilidade imediata, no entanto traz a possibilidade de
ter o seu campo de incidência reduzido por requisitos exigidos por lei.

A lei exige que certos requisitos de capacitação técnica sejam preenchidos para que
se possa exercer a profissão (exemplo: o advogado deve ser bacharel em Direito e obter a
carteira da Ordem dos Advogados do Brasil por meio de um exame; o engenheiro deve ter
curso superior de engenharia etc.).

7.7. Liberdade de Locomoção (artigo 5.º, inciso XV)


É a liberdade física de ir, vir, ficar ou permanecer. Essa liberdade é considerada pela
Constituição Federal como a mais fundamental, visto que é requisito essencial para que se
exerça o direito das demais liberdades.
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Todas as garantias penais e processuais penais previstas no artigo 5.º são normas que
tratam da proteção da liberdade de locomoção. Por exemplo, o habeas corpus é voltado
especificamente para este fim.

Esta norma também é de eficácia contida, principalmente no que diz respeito à


liberdade de sair, entrar e permanecer em território nacional. A lei pode estabelecer
exigências para sair, entrar ou permanecer no país, visando a proteção da soberania
nacional.

7.8. Liberdade de Reunião (artigo 5.º, inciso XVI)


É a permissão constitucional para um agrupamento transitório de pessoas com um
fim comum.

O direito de reunião pode ser analisado sob dois enfoques: de um lado a liberdade de
se reunir para decidir um interesse comum e de outro a liberdade de não se reunir, ou seja,
ninguém poderá ser obrigado a se reunir.

Para a caracterização desse direito, devem ser observados alguns requisitos a fim de
que não se confunda com o direito de associação:

a) Pluralidade de participantes: trata-se de uma ação coletiva, ou seja, existência de


várias pessoas para que possa haver uma reunião. A diferença é que, na reunião, não
existe um vínculo jurídico entre os participantes, diferentemente da associação, em
que as pessoas estão vinculadas juridicamente.

b) Tempo: a reunião tem duração limitada, enquanto na associação, a duração é


ilimitada.

c) Finalidade: a reunião pressupõe uma organização com o propósito determinado


de atingir um certo fim. É a finalidade que vai distinguir a reunião do agrupamento
de pessoas. Essa finalidade deve ter determinadas características, ou seja, a reunião
deve ter uma finalidade lícita, pacífica e não deve haver armas.

d) Lugar: deve ser predeterminado para a realização da reunião.

Não é necessária a autorização prévia para que se realize a reunião, no entanto, o


Poder Público deve ser avisado com antecedência, pois não pode frustrar outra reunião que
tenha sido designada no mesmo local. O objetivo do aviso ao Poder Público também é
garantir que o direito de reunião possa ser exercitado com segurança.

O direito de reunião sofre algumas restrições:

21
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

• não pode ter por objetivo fins ilícitos;

• a reunião deve ser pacífica e proíbe-se a utilização de armas (artigo 5.º, XVI). A
presença de pessoas armadas em uma reunião não significa, no entanto, que ela
deva ser dissolvida. Neste caso, a polícia deve agir no sentido de desarmar a
pessoa, mas sem dissolver a reunião. Em caso de passeata, prevalece que não
poderá haver nenhuma restrição quanto ao lugar em que será realizada;

• durante o estado de defesa (artigo 136, § 1.º, inciso I, alínea “a”) e o estado de
sítio (artigo 139, inciso IV), poderá ser restringido o direito de reunião.

7.9. Liberdade de Associação (artigo 5.º, incisos XVII a XXI)


Normalmente, a liberdade de associação manifesta-se por meio de uma reunião.
Logo, existe uma relação muito estreita entre a liberdade de reunião e a liberdade de
associação. A reunião é importante para que se exerça a associação, visto que, em regra,
esta começa com aquela.

É o direito de coligação voluntária de algumas ou muitas pessoas físicas, por tempo


indeterminado, com o objetivo de atingir um fim lícito sob direção unificada.

A associação, assim como a reunião, é uma união de pessoas. Distingue-se desta por
ter tempo prolongado e indeterminado, pois o objetivo que se quer alcançar não poderá ser
atingido em um único momento, enquanto na reunião, o objetivo se exaure em tempo
determinado.

A criação de associações independe de autorização, sendo vedada a interferência


estatal em seu funcionamento.

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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

7.9.1. Elementos da associação


• Base contratual: a associação fundamenta-se num acordo de vontades, ou seja,
as pessoas pactuam para atingir um determinado fim.

• Permanência: as pessoas se unem para agir em tempo indeterminado, ou seja, é


uma ação contínua para o alcance de um objetivo.

• Fim lícito: a finalidade da associação deve ser lícita.

7.9.2. Tipos de associação


• Estrito sensu: agrupamento de pessoas sem fins lucrativos.

• Sociedades: associações que possuem fins lucrativos.

• Partido político: associação com característica regulada constitucionalmente


(artigo 17 da Constituição Federal/88). Toda disciplina jurídica do partido
político está disposta na Constituição Federal/88 e na Lei n. 9096/95. Trata-se de
pessoa jurídica de direito privado.

• Associação profissional e sindicatos: também têm características próprias. Os


sindicatos estão disciplinados no artigo 8.º da Constituição Federal/88.

• Cooperativas: associação de atividades profissionais. Estão disciplinadas no


artigo 174, §§ 2.º ao 4.º, da Constituição Federal/88.

7.9.3. Direitos inerentes à associação


• Direito de criar associações: qualquer pessoa poderá criar uma associação.
Basta que os integrantes se reúnam em assembléia, pactuem as bases contratuais
e registrem em cartório.

• Direito de aderir a qualquer associação: qualquer pessoa poderá se filiar a


qualquer associação em que tiver interesse.

• Direito de desligar-se da associação

• Direito de dissolução espontânea da associação: como regra, a associação será


dissolvida quando os associados dispuserem neste sentido. Há hipóteses, no
entanto, em que a associação poderá ser dissolvida compulsoriamente ou ter seu
funcionamento suspenso. A suspensão poderá ocorrer por provimento cautelar,
mas a dissoluçãosomente por decisão judicial transitada em julgado. Será
dissolvida ou suspensa quando fugir de sua finalidade principal e passar a
praticar atos ilícitos.
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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

7.9.4. Restrições à criação de uma associação


• Não poderá ser criada para fins ilícitos.

• Não poderá ser criada associação paramilitar (grupos armados).

7.9.5. Representação judicial


A Constituição Federal prestigiou a representação judicial para as associações, ou
seja, as associações podem representar seus associados judicialmente ou extra-
judicialmente para a defesa dos interesses dos filiados. Requisitos:

• É necessário que a associação esteja regularmente constituída e funcionando por,


no mínimo, um ano. Há casos, entretanto, em que se admite a propositura de
ação por associação que não esteja funcionando por um ano, desde que haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. Os partidos políticos e os
sindicatos não estão sujeitos à exigência de constituição de no mínimo um ano.

• É necessário que o ato constitutivo da associação preveja, entre os seus


objetivos, a representação judicial dos seus filiados. Observe-se que a Medida
Provisória n. 2.102-29, que teve origem na Medida Provisória n. 1.798, de
6.6.1999, estabelece que nas ações coletivas propostas contra as pessoas
jurídicas de direito público, a petição inicial deverá ser instruída com a ata da
assembléia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. A sentença
civil prolatada em ação coletiva proposta por associação abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator. Conforme já decidiu o STF, além da
previsão genérica no estatuto, é necessária autorização específica para demanda,
comprovada pela ata da assembléia respectiva (Informativo STF 161 e RE
226.698-9).

7.9.6. Legitimidade processual


A associação como pessoa jurídica poderá defender os interesses coletivos de seus
associados por meio de ações:

• mandado de segurança coletivo (artigo 5.º, inciso LXX, Constituição


Federal/88);

• mandado de injunção coletivo (jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do


Superior Tribunal de Justiça).

• ação civil pública ( artigo 5.º da Lei n. 7347/85).


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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

8. DIREITO À SEGURANÇA

A Constituição Federal, no caput do artigo 5.º, quando trata da segurança, está se


referindo à segurança jurídica. Refere-se à segurança de que as agressões a um direito não
ocorrerão. O Estado deve atuar no sentido de preservar as prerrogativas dispostas nas
normas jurídicas.

8.1. Acesso ao Poder Judiciário (artigo 5.º, inciso XXXV)


A competência para garantir a segurança jurídica é do Poder Judiciário. É por meio
do acesso ao Judiciário que as pessoas conseguem a segurança jurídica.

8.1.1. Direito à petição (artigo 5.º, inciso XXXIV, alínea “a”)


O inciso XXXIV do artigo 5.º da Constituição Federal estabelece que,
independentemente do pagamento de taxas, a todos são assegurados o direito de petição
aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder. Pode a
petição ser dirigida a qualquer autoridade do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário,
devendo ser apreciada, motivadamente, mesmo que apenas para rejeitá-la, pois o silêncio
pode caracterizar o abuso de autoridade por omissão.

O direito de petição, classificado como direito de participação política, pode ser


exercido por pessoa física ou jurídica e não precisa observar forma rígida. Não se exige
interesse processual, pois a manifestação está fundada no interesse geral de cumprimento
da ordem jurídica.

O direito de petição não se confunde com o direito de ação, já que, por este último,
busca-se uma tutela de índole jurisdicional e não administrativa.

8.1.2. Assistência judiciária (artigo 5.º, inciso LXXIV)


Conforme estabelece a Constituição Federal, o Estado prestará assistência jurídica
integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (Lei n. 1.060/50).

Ao contrário da justiça gratuita, que traduz a dispensa (provisória ou definitiva) das


despesas normalmente incidentes para o exercício de um processo, a assistência judiciária
costuma ser conceituada como a organização estatal ou paraestatal que tem por fim, ao
lado da dispensa das despesas processuais, a indicação de um advogado para os
necessitados.

A Constituição Federal de 1988 criou a Defensoria Pública como uma das funções
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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

essenciais à justiça, estando o órgão disciplinado pela Lei Complementar n. 80/94.

São gratuitas, entre outras, as ações de habeas corpus, habeas data e impugnação de
mandato eletivo (Lei n. 9.265/96).

8.2. Segurança em Matéria Penal


Ao tratar de segurança em matéria penal, a Constituição Federal foi cautelosa,
tendo em vista a competência punitiva do Estado. Essa competência punitiva tem limites
porque a aplicação da pena vai restringir a liberdade física de locomoção e os demais
direitos ligados a esta.

A pena somente poderá ser aplicada se estiver prevista anteriormente em lei e na


forma prevista nesta. Portanto, a aplicação da pena está vinculada à disposição legal.

8.2.1. Princípios penais


a) Da irretroatividade da lei penal (artigo 5.º, inciso XXXIX): a Constituição Federal
dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal” (princípio nullum crimen nulla poena sine praevia lege). O dispositivo visa garantir
a eficácia, na esfera penal, dos princípios da anterioridade e da legalidade, previstos
também de forma expressa no artigo 1.º do Código Penal. Os princípios incidem também
sobre as contravenções penais. Antes do crime (ou da contravenção), deve haver uma lei
prevendo o fato punível. Para ser criminoso, o fato deve se ajustar com perfeição à conduta
previamente prevista pelo legislador (fato típico), pois no âmbito penal as normas
incriminadoras não admitem a equiparação por analogia. No âmbito penal só é admitida a
analogia in bonam partem.

b) A lei nova mais benéfica na esfera penal (artigo 5.º, inciso XL): “a lei não retroagirá,
salvo para beneficiar o réu”. Trata-se do princípio da irretroatividade das leis na esfera
penal. A lei não pode retroagir para alcançar fatos que foram praticados antes da sua
vigência, exceto se for em benefício do réu. Assim, caso a lei posterior deixe de prever o
fato como crime ou contravenção, ela retroage para beneficiar o réu (abolitio criminis); se
de algum modo (mesmo não abolindo o crime) a lei nova beneficiar o réu (lex mitior), ela
retroage, ainda que os fatos anteriores tenham sido julgados por sentença transitada em
julgado; e se a lei vigente ao tempo do fato é mais benéfica ao réu, ela prevalecerá sobre a
nova lei mais severa no julgamento daquele caso (ultra-atividade da lei penal mais
benéfica).

c) Da personalização da pena (artigo 5.º, inciso XLV): a pena não pode passar da pessoa
do condenado. A obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens, no
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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

entanto, podem atingir os sucessores e contra eles ser executadas, até o limite do
patrimônio transferido, nos termos da lei.

d) Espécies de pena vedadas (artigo 5.º, inciso XLVII): há limitação à própria atividade do
Estado. Existem penas que o legislador não poderá cominar: pena de morte (salvo em caso
de guerra declarada, por agressão estrangeira), pena de caráter perpétuo, pena de trabalho
forçado, pena de banimento (o banimento esteve previsto na Constituição do Império,
retornou ao nosso sistema constitucional em 1969 e foi abolido pela Constituição Federal
de 1988) e penas cruéis.

8.2.2. Responsabilidade do Estado (artigo 5.º, inciso LXXV)


A Constituição Federal estabelece a responsabilidade do Estado por erro judiciário
se a pessoa ficar presa por tempo superior àquele estabelecido na sentença. Trata-se de
responsabilidade objetiva nos termos do artigo 37, § 6.º, da Constituição Federal.

Com relação ao juiz (artigo 133 do Código de Processo Civil e artigo 630 do Código
de Processo Penal), poderá ser responsabilizado pelos prejuízos que vier a causar se
comprovado dolo ou fraude de sua parte.

8.3. Observação
O § 2.º do artigo 5.º é expresso ao dizer que “os direitos e garantias expressos na
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados
(...)”, ou seja, os direitos expressos na Constituição Federal/88 não se restringem àqueles
dispostos no artigo 5.º. Assim, pode-se dizer que o rol do artigo 5.º é meramente
exemplificativo. Esse entendimento é o do Supremo Tribunal Federal, pela Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 939-7/DF, que analisava se o artigo 2.º, § 2.º da Emenda
Constitucional n. 3/93 era ou não constitucional.

O Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e grande parte da


jurisprudência e da doutrina entendem que os tratados internacionais ingressam no
ordenamento jurídico brasileiro como norma infraconstitucional (§ 2.º do artigo 5.º da
Constituição Federal), fundamentando-se no fato de que, para que o tratado ingresse no
ordenamento jurídico, deverá estar assinado pelo Presidente da República (artigo 49, inciso
I, da Constituição Federal/88) e regulamentado por decreto legislativo votado por maioria
simples (artigo 47 da Constituição Federal/88). Assim, alega-se que não poderia o tratado
fazer parte de norma constitucional, tendo em vista não haver grande rigidez na sua
introdução no ordenamento jurídico.

Nesse sentido, existe a proposta da Emenda Constitucional n. 96-A/92, que pretende


inserir um § 3.º no artigo 5.º, com a seguinte redação: “Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em
27
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO CONSTITUCIONAL

dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às Emendas
Constitucionais, condicionados à aplicação pela outra parte.”

28
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO V

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO


TRABALHO
Princípios de Proteção ao Trabalho

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Princípios de Proteção ao Salário

Prof. Carlos Husek

1. PRINCÍPIO DO SALÁRIO IGUAL PARA TRABALHO IGUAL

Esse princípio consiste na aplicação do princípio da isonomia, que é


importantíssimo para o Direito do Trabalho. Visa o tratamento igual para os iguais e
desigual para os desiguais.

O fundamento mais importante desse princípio é a proibição da discriminação


injustificada. O artigo 7.º, inciso XXX, da Constituição Federal proíbe a discriminação na
admissão e no salário, e o artigo 5.º da Consolidação das Leis do Trabalho reforça a
proibição da discriminação salarial por motivo de sexo.

O nosso ordenamento jurídico definiu em lei o que é trabalho igual (artigo 461 da
Consolidação Leis do Trabalho). Existe trabalho igual quando dois ou mais empregados
exercem idêntica função, ou seja, diariamente executam as mesmas tarefas:

• com igual produtividade e perfeição técnica;

• com diferença de tempo de serviço não superior a 2 anos, na mesma empresa e


na mesma função;

• na mesma localidade.

A jurisprudência vinha entendendo que mesma localidade deveria ser considerada


como “mesmo município”. Porém, devido à Orientação Jurisprudencial n.º 252 do Tribunal
Superior do Trabalho, a tendência dos tribunais é pela aplicabilidade do entendimento da
mesma, que dispõe:

“OJ n.º 252. Equiparação salarial. Mesma localidade. Conceito. Artigo 461 da
Consolidação das Leis do Trabalho. O conceito de “mesma localidade” de que trata
o artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho refere-se, em princípio, ao
mesmo município, ou a municípios distintos que, comprovadamente, pertençam a
mesma região metropolitana.”

Para que haja diferença de salários, o empregador tem que demonstrar


objetivamente que existe diferença de produtividade e perfeição técnica. Esclareça-se que,
1
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

se a diferença de tempo de serviço de um empregado para outro for superior a 2 anos, eles
podem receber salários diferentes.

Têm direito à equiparação salarial os trabalhadores que preencham todos os


requisitos e trabalham para o mesmo empregador.

O artigo 2.º, § 2.º, da Consolidação das Leis do Trabalho diz que empresas que
participam de um grupo econômico são solidariamente responsáveis. Partindo desse
dispositivo, surge a seguinte indagação: pode o empregado indicar como paradigma outro
empregado da mesma função e do mesmo grupo econômico para a equiparação salarial?

Resposta: Há duas correntes:

A primeira sustenta que, se as empresas pertencem a um grupo econômico, o


empregador é o mesmo, portanto haverá equiparação salarial. Há solidariedade ativa. A
segunda corrente, por sua vez, sustenta que a solidariedade é apenas passiva, e existe
somente nas dívidas. Salienta que empregador é cada empresa e não o grupo econômico ao
qual ela pertence. Não haverá equiparação salarial, portanto, nesse caso. Essa corrente
predomina.

Essas regras de equiparação não se aplicam às empresas que tiverem os seus


quadros de carreira organizados. Para terem validade, a jurisprudência exige que eles sejam
homologados pelo Ministério do Trabalho, como dispõe o Enunciado n. 06 do Tribunal
Superior do Trabalho:

“Enunciado 06 – quadro em carreira - Para os fins previstos no § 2.º do Art. 461 da


Consolidação das Leis do Trabalho, só é válido o quadro de pessoal organizado em
carreira quando homologado pelo Ministério do Trabalho, excluindo-se, apenas,
dessa exigência, o quadro de carreira das entidades de Direito Público da
Administração direta, autárquica e fundacional e aprovado por ato administrativo da
autoridade competente (DJU, 18.12.2000).”

Situações em que empregados exercem a mesma função, e um deles recebe aumento


em razão de sentença judicial, não afasta a incidência da equiparação salarial. Neste
sentido, Enunciado 120 do Tribunal Superior do Trabalho, que assim estabelece:

“Presentes os pressupostos do Art. 461 da CLT é irrelevante a circunstância de que o


desnível salarial tenha origem em decisão judicial que beneficiou o paradigma, exceto
quando decorrente de vantagem pessoal ou de tese jurídica superada pela jurisprudência de
Corte Superior (redação Resolução 100/00, DJ. 18.9.00).”

O § 4.º do artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho trata do trabalhador


readaptado em nova função por motivo de saúde. Ele não pode servir como paradigma para
outros empregados da nova função, pois o seu salário continua sendo o da função antiga. O
empregador não pode reduzir o seu salário. Exemplo: o empregado é ferramenteiro e, por

2
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

deficiência física, foi transferido para a portaria. Esse empregado continuará recebendo o
mesmo salário que recebia como ferramenteiro.

A jurisprudência não vem admitindo a equiparação salarial no trabalho artístico e


intelectual porque não é possível examinar se há igual produtividade e igual perfeição
técnica.

Por outro lado, não tem se admitido a equiparação salarial entre dois advogados
(trabalho intelectual).

2. PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE SALARIAL

Esse princípio proíbe a redução salarial. Está prevista no artigo 468 da Consolidação
das Leis do Trabalho a inalterabilidade do salário, proibindo a alteração prejudicial, mesmo
que o empregado concorde. Qualquer alteração nesse sentido é nula.

A irredutibilidade também está prevista no artigo 7.º, inciso VI, da Constituição


Federal, porém o constituinte previu uma flexibilização, dizendo que o salário é irredutível,
salvo por convenção ou acordo coletivo. Nesse caso, é necessária a presença dos sindicatos
para que possa haver a redução do salário.

O salário nominal, que é efetivamente o valor recebido (o número: R$ 500,00), está


protegido pelo princípio, não o salário real, que consiste na relação existente entre o
número do salário e o custo de vida (poder aquisitivo do salário). Caso no período de 1 ano
o salário for mantido em R$ 500,00, o salário nominal não foi alterado. Se nesse período o
custo de vida subiu 10%, o salário real sofreu diminuição.

Na época da inflação, tentou-se fazer com que esse princípio protegesse o salário
real, porém isso não ocorreu.

3. PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE DO SALÁRIO

Esse princípio visa assegurar ao trabalhador o recebimento integral do seu salário,


para dele dispor da forma que lhe convier.

O princípio está regulado pelo artigo 462 da Consolidação das Leis do Trabalho e
protege os salários contra os descontos abusivos do empregador.

Existem alguns descontos que são considerados legais. São eles:

• previdência;

3
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

• retenção do imposto de renda;

• imposto sindical/contribuição sindical;

• retenção da pensão alimentícia (artigo 734 do Código Processo Civil);

• contribuições sindicais legais.

Também é autorizado ao empregador descontar outras contribuições sindicais


previstas em convenções coletivas e sentenças normativas.

Existem três espécies de contribuições:

1) Contribuição Sindical: está na Consolidação das Leis do Trabalho (artigos 548,


alínea “a” e 578. É uma contribuição compulsória devida por todos os trabalhadores
associados ou não. Corresponde a um dia de trabalho.

2) Contribuição Assistencial: É fixada em convenção ou dissídio coletivo. Destina-


se a financiar a atividade assistencial do Estado, como por exemplo: serviços médicos,
odontológicos, dentre outros. O valor desta contribuição fica estabelecido pela convenção
ou dissídio e é autorizado o desconto em salário.

3) Contribuição Confederativa: Criada pela Constituição Federal de 1988, artigo 8.º,


inciso IV. É fixada pela assembléia da categoria. Destina-se ao financiamento do sistema
confederativo do sindicato.

Antigamente, a jurisprudência era pacífica em dizer que todas as contribuições


deveriam ser obrigatoriamente descontadas.

O Tribunal Superior de Trabalho e o Supremo Tribunal Federal vêm entendendo que


a contribuição sindical só pode ser descontada se o empregado aceitar, pois, se o
empregado não for sócio do sindicato, ele poderá recusar.

O Precedente Normativo n. 119 da Seção de dissídios Coletivos do Tribunal


Superior do Trabalho estabelece:

“Fere o direito à plena liberdade de associação e de sindicalização cláusula


constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa fixando
contribuição a ser descontada dos salários dos trabalhadores, não filiados a sindicato
profissional, sob a denominação de taxa assistencial ou para custeio do sistema
confederativo. A Constituição da República, nos artigos 5.°, inciso XX e 8.°, inciso
V, assegura ao trabalhador o direito de livre associação e sindicalização (DJU,
11.11.96)”.

4
___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Há, todavia, decisão da lavra do Ministro Marco Aurélio, presidente do Supremo


Tribunal Federal, aplicando o artigo 513, alínea “e” da Consolidação das Leis do Trabalho,
dizendo que, associado ou não, o desconto é para todos que pertencem à categoria.

Outros descontos são autorizados pela Consolidação das Leis do Trabalho:

A mesma autoriza o desconto por dano causado pelo empregado a título de dolo ou
proveniente de culpa, exigindo-se, neste último caso, uma autorização escrita do
empregado ( artigo 462, § 1.° da Consolidação das Leis do Trabalho)

Qualquer outro desconto salarial que viole tal artigo é ilegal.

O enunciado n. 342 do Tribunal Superior do Trabalho orienta serem legais alguns


descontos salariais com autorização prévia e por escrito do empregado, desde que não haja
coação ou outro defeito que vicie o ato jurídico. Exemplo: plano de assistência médica ou
odontológica.

“Enunciado 342: “Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a


autorização prévia e por escrito do empregado, para ser integrado em planos de
assistência odontológica, médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou
de entidade cooperativa, cultural ou recreativa associativa dos seus trabalhadores,
em seu benefício e dos seus dependentes, não afrontam o disposto pelo Art. 462 da
CLT, salvo se ficar demonstrada a existência de coação ou de outro defeito que vicie
o ato jurídico.”

4. PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE SALARIAL

Esse princípio protege o salário contra os credores do empregado e do empregador.

Dele decorre a regra da impenhorabilidade do salário prevista no artigo 649, inciso


IV, do Código Processo Civil, exceto se para pagamento de pensão alimentícia.

Têm surgido as seguintes perguntas: aplica-se esse princípio quando o salário é


depositado em conta corrente? O banco poderá descontar tarifas de talão de cheque e saldo
antes de o empregado retirar seu salário?

A Justiça Comum decidiu que o banco pode descontar. Parte da jurisprudência


entende, porém, que não é possível. Entendemos a possibilidade, tendo em vista os
serviços prestados pelo banco, mas não pode haver qualquer prejuízo para o empregado. O
empregador é que deve assumir essa responsabilidade, em virtude do contrato feito com o
banco para o depósito dos salários.

Esse princípio também protege o salário contra os credores do empregador. Em caso


de falência, o salário dos empregados é o primeiro crédito a ser pago (ocupa a primeira
posição no concurso de credores).
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___________________________________________________________________________ MÓDULO V
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

O único crédito que se equipara ao salário na falência é a indenização por acidente


de trabalho. Quem paga essa indenização, quando for decorrente de ato ilícito, é o
empregador.

A Previdência Social tem responsabilidade objetiva no acidente de trabalho. Ela


paga o benefício ao empregado (auxílio-doença, acidente).

A indenização devida pelo empregador é somente subjetiva, por ato ilícito. É essa a
indenização que concorre com o salário na falência.

Compreende-se como ato ilícito do empregador o não cumprimento das normas de


segurança e higiene do trabalho.

Na lei, não existe outro crédito que prefere ao salário e à indenização.

5. PRINCÍPIO DA NÃO-DISCRIMINAÇÃO OU PRINCÍPIO DO SALÁRIO


IGUAL PARA TRABALHO IGUAL

O princípio da não-discriminação proíbe diferença de critério de admissão, de


exercícios de funções e de salário por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil, ou de
critério de admissão e de salário em razão de deficiência física e, bem assim, que se
distinga, na aplicação das normas gerais, entre o trabalho manual, o técnico e o intelectual
ou entre os respectivos profissionais; este princípio, entretanto, deve ser aplicado tendo em
conta que não fere a isonomia; trata-se desigualmente situações desiguais.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


Receita Pública

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Receita Pública

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. CONCEITO

Receita é recurso obtido para fazer frente às despesas, salientando-se uma vez mais
que, em conjunto com estas últimas, formam o orçamento. A qualidade de ser pública, de
acordo com a doutrina de Celso Ribeiro Bastos, advém de ser o ente arrecadante pessoa
jurídica de direito público. Assim, se arrecadada por pessoa jurídica de direito privado,
deixaria a receita de ser pública.

O conceito mais preciso é dado por Aliomar Baleeiro, segundo o qual, “receita
pública é a entrada que, integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas,
condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e
positivo”.

De se salientar que entrada é todo dinheiro que ingressa nos cofres públicos,
podendo ser classificadas, as entradas, em provisórias e definitivas.

Enquanto as primeiras destinam-se à posterior devolução, a exemplo dos créditos


obtidos por força de empréstimos compulsórios, cauções e fianças, as entradas definitivas
destinam-se a permanecer nos cofres públicos, para cumprimento das finalidades do
Estado. A título de exemplo, temos os valores arrecadados por meio de impostos e taxas.

Com efeito, receita refere-se ao conceito de entrada definitiva.

2. INGRESSOS E RECEITAS

Ingressos e receitas públicas não podem ter seus conceitos confundidos, ou seja,
todo ingresso de dinheiro aos cofres públicos representa uma entrada, porém, nem todo
ingresso equivale a uma receita pública (assim como, acima mencionado, nem toda entrada
corresponde a uma receita).

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

3. CLASSIFICAÇÃO

Podemos encontrar classificações para as receitas públicas que decorram da doutrina


ou da própria lei.

3.1. Classificação Doutrinária


O número de classificações apontadas pela doutrina é grande, variando de acordo
com o critério adotado. Nesta oportunidade, passamos a apresentar aquelas que possuem
maior utilidade para os fins que se prestam esse curso:

3.1.1. Quanto à periodicidade do ingresso da receita


Esse critério leva em consideração a previsibilidade do ingresso da receita aos
cofres públicos, podendo, de acordo com o critério, existir receitas extraordinárias e
receitas ordinárias.

- extraordinárias: são as receitas cujo ingresso ocorre eventualmente, sem


possibilidade de previsão em situações de anormalidade. Decorrem da instituição
de impostos extraordinários, faculdade permeada no inciso II do artigo 154 da
Constituição Federal;

- ordinárias: que possuem ingresso constante, previsível, regular. São recebidas


em decorrência do desenvolvimento regular da atividade estatal, como no caso
das receitas oriundas da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF).

Há uma corrente na doutrina que ainda traz uma terceira classificação em relação à
periodicidade de ingresso, fazendo menção às receitas adicionais, que são as não previstas
no orçamento, ou previstas de maneira insuficiente.

3.1.2. Quanto à origem das receitas públicas


Critério que considera a causa do ingresso da receita, o motivo que possibilitou o
ingresso aos cofres públicos, podendo as receitas, segundo esse critério, dividirem-se em
originárias ou derivadas.

• Originárias: resultantes do domínio privado do Estado, ou seja, da atuação deste


sob o regime de direito privado, como uma empresa privada em busca de lucro
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na exploração de atividade econômica, da exploração de seus próprios bens ou


serviços. A título de exemplo, temos as receitas oriundas da cobrança de tarifas.

• Derivadas: decorrentes das parcelas de riquezas que o Estado, face ao seu poder
de autoridade, pode retirar de seus subordinados para a realização de seus fins,
visando sempre o bem-estar geral. Decorrem da exploração do patrimônio ou de
rendas de seus subordinados. A título de exemplo, podemos citar a receita
advinda da cobrança de tributos.

Existe corrente doutrinária que traz uma terceira classificação baseada na origem da
receita. Tal corrente denomina a receita de receita pública transferida, que também deriva
do patrimônio do particular; entretanto não é cobrada pelo ente que utilizará tal receita, isto
é, é cobrada por pessoa política diversa do destinatário da arrecadação.

3.2. Classificação Legal


Leva em consideração o que determina o artigo 11 da Lei n. 4.320/64, a qual institui
normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços
da União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Segundo o diploma legal, as receitas são
divididas em receitas correntes e receitas de capital. Trata-se de classificação decorrente
da destinação a que se dá à receita pública.

• Receitas correntes: segundo dispõe o § 1.º do artigo 11 da citada lei, são as


receitas destinadas a atender às despesas correntes (despesas de custeio). Tratam-
se das receitas resultantes da atuação do Estado, utilizando-se de prerrogativas
provenientes do regime jurídico da Administração, isto é, atuando, fazendo-se
valer de seu poder de império. Assim, são receitas provenientes da cobrança de
tributos, de contribuições e outros.

• Receitas de capital: a teor do disposto no § 2.º do artigo 11 da lei, de capital são


as receitas destinadas a atender às despesas classificadas como despesas de
capital (decorrentes de investimentos) e ao superávit do orçamento (saldo
positivo, quando da confrontação entre receita e despesa). Referem-se às receitas
obtidas em decorrência de negociações entre o Estado e uma pessoa física ou
jurídica, de direito público ou de direito privado. A título de exemplo, podemos
citar as receitas decorrentes de alienação de bens, operações de crédito e
amortização de empréstimos, dentre outros.

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4. PREÇO PÚBLICO E A SUA DISTINÇÃO COM A TAXA

Em que pese à existência de constante confusão entre preço público e taxa, e embora
o produto de ambos venha a fazer parte da receita pública, os institutos não se confundem.

Assim, temos que taxa é uma das espécies tributárias. Trata-se de tributo vinculado a
uma atuação estatal, tendo, por conseqüência, sua cobrança submetida ao regime de direito
público.

É considerada uma obrigação ex lege (decorrente da lei, e não de disposição de


vontade das partes), ou seja, só pode ser exigida dos particulares “em razão do exercício do
poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição”, de acordo com o disposto
no artigo 145, inciso II, da Constituição Federal.

Preço público, de modo diverso, é simplesmente uma tarifa, significando a


contraprestação paga pelos serviços solicitados ao Estado ou pelos bens por ele vendidos.

Assim, trata-se de uma obrigação ex voluntate (decorrente da vontade das partes,


sendo que uma das partes presentes é o Estado), sendo necessário um contrato, expresso ou
tácito, entre as partes, logo, seu regime jurídico é de direito privado.

Já fora mencionado, em outra oportunidade, a diferença entre estes institutos


(módulo 3 – Direito Tributário). Naquela oportunidade, fora dito que tal diferença é
determinada pela sua obrigatoriedade (compulsoriedade). A teor do disposto na Súmula n.
545 do Supremo Tribunal Federal: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem,
porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada
à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”.

Cabe a cobrança de preço público quando se está diante de coisa em comércio,


enquanto que a taxa será cobrada quando houver determinação legal.

A comparação que segue entre taxa e preço público foi retirada do Código Tributário
Nacional Comentado, coordenado por Vladimir Passos de Freitas, Revista dos Tribunais,
artigo 77:

Taxa:

- exercício do poder de polícia;

- utilização efetiva ou potencial do serviço público;

- remuneração por serviços públicos essenciais ou cuja atividade econômica não


compete originariamente à iniciativa privada.

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Preço Público:

- remunera serviços que não têm natureza de públicos;

- atividade monopolizada;

- pressupõe contratação;

- serviços não essenciais, que admitem concessão.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO ELEITORAL
Capacidade Eleitoral Passiva

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DIREITO ELEITORAL

Capacidade Eleitoral Passiva

Prof. Ricardo Cunha Chimenti

1. CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

São condições de elegibilidade (capacidade eleitoral passiva), na


forma da lei:

• nacionalidade brasileira (observada a questão da reciprocidade


quanto aos portugueses e que apenas alguns cargos são privativos
de brasileiros natos);

• pleno exercício dos direitos políticos (veremos oportunamente as


inelegibilidades);

• alistamento eleitoral (só pode ser votado quem pode votar,


embora nem todos que votam podem ser votados – como o
analfabeto e o menor de 18 e maior de 16 anos);

• domicílio eleitoral na circunscrição (pelo prazo que a lei


ordinária federal fixar; hoje é de um ano antes do pleito, nos
termos do artigo 9.º da Lei n. 9.504/97);

• a filiação partidária (pelo menos um ano antes das eleições, nos


termos do artigo 18 da Lei n. 9.096/95 e artigo 9.º da Lei n.
9.504/97);

• a idade mínima de 35 anos para Presidente da República, Vice-


Presidente da República e Senador; a idade mínima de 30 anos
para Governador e Vice-Governador; a idade mínima de 21 anos
para Deputado (Federal, Distrital ou Estadual), Prefeito, Vice-
Prefeito e Juiz de Paz (mandato de quatro anos – artigo 98, inciso
II, da Constituição Federal); a idade mínima de 18 anos para
Vereador.

A aquisição da elegibilidade, portanto, ocorre gradativamente.


De acordo com o § 2.º do artigo 11 da Lei n. 9.504/97, a idade
mínima deve estar preenchida até a data da posse. Há, contudo,
entendimento jurisprudencial no sentido de que o requisito da idade mínima
deve estar satisfeito na data do pleito.

Não há idade máxima limitando o acesso aos cargos eletivos.

2. O REGISTRO DOS CANDIDATOS

A escolha dos candidatos (até então são candidatos a candidatos) se


faz mediante convenção daqueles que são filiados ao partido, entre os dias
10 e 30 de junho do ano em que haverá eleições, observadas as regras
estatutárias (artigo 7.º da Lei n. 9.504/97 – Lei Geral das Eleições). Cada
candidato concorre para um único cargo, conforme estabelece o artigo 88
do Código Eleitoral.

A Constituição Federal, no § 1.º do seu artigo 17, dá aos partidos


políticos ampla liberdade para definirem suas regras de organização e
funcionamento (princípio da não-intervenção ou da autonomia partidária).

Somente pode ser candidato aquele que está filiado a um partido


político pelo menos um ano antes do pleito (podendo o estatuto fixar prazo
maior) e residente na circunscrição da eleição pela qual concorre, pelo
mesmo prazo. Há exceções ao prazo de filiação, que poderá ser menor em
relação aos militares e aos membros dos Tribunais de Contas (Resoluções
do Tribunal Superior Eleitoral n. 19.978/97 e n.20.100/98).

As filiações são comunicadas à Justiça Eleitoral na segunda semana


dos meses de abril e outubro de cada ano, permitindo assim um maior
controle sobre seus prazos.

Cumpre observar que o benefício da candidatura nata foi


liminarmente suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (ADIn MC n. 2530,
de 24.04.02).

Cada partido poderá registrar candidatos para as eleições


proporcionais (Deputado e Vereador) até 150% do número de lugares a
preencher. As coligações podem registrar candidatos até o dobro dos lugares
a preencher.

Nas unidades da Federação em que a população elege até vinte


Deputados Federais, cada partido poderá registrar candidatos a Deputado
Federal e Estadual (ou Distrital) até o dobro das vagas a preencher; havendo
coligação, esses números podem ser acrescidos de até mais 50%.

Cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de 30% e o


máximo de 70% para candidaturas de cada sexo.

O pedido de registro deverá ser formalizado até as 19 horas do dia 5


de julho do ano em que se realizarem as eleições e, entre outros
documentos, deverá incluir a declaração de bens assinada pelo candidato.

Cada candidato poderá indicar, além do seu nome completo, até três
variações pelas quais é mais conhecido. Não havendo preferência entre os
candidatos que pretendem o registro da mesma variação nominal (§ 1.º do
artigo 12 da Lei n. 9.504/97), defere-se o pedido do primeiro que o tenha
requerido (Súmula n. 4 do Tribunal Superior Eleitoral).

Os candidatos a Presidente e Vice-Presidente da República são


registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Candidatos a Governador, Vice-
Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual são
registrados no Tribunal Regional Eleitoral do Estado pelo qual concorrem.
Candidatos a Prefeito, Vice-Prefeito, Vereador e Juiz de Paz são registrados
junto ao Juiz Eleitoral da respectiva circunscrição.

Nos termos do artigo 13 da Lei n. 9.504/97, o partido ou coligação


poderá substituir o candidato que for declarado inelegível, renunciar ou
falecer após o encerramento do prazo para registro. O pedido de
substituição deve ser formalizado até dez dias após o fato que lhe deu
origem, sendo que, nas eleições proporcionais, deve ser apresentado até
sessenta dias antes do pleito.

2.1. Impugnação ao Pedido de Registro (anterior ao pleito)


De acordo com o artigo 97 do Código Eleitoral, protocolado o
pedido de registro, a Justiça Eleitoral providenciará a imediata expedição de
edital, o qual será publicado na imprensa oficial (na capital) ou afixado no
Cartório Eleitoral (no interior).

Da publicidade do pedido de registro começa a correr o prazo de 5


dias para a impugnação (artigo 3.º da Lei Complementar n. 64/90), que será
apresentada ao juiz ou tribunal competente para o registro e terá por base
fatos verificados até aquele momento, e que poderá ser formalizada pelo
Ministério Público, partidos, coligações e candidatos já indicados nas
convenções. Caso não atue como parte, o Ministério Público participará do
processo na condição de fiscal da lei.
Não poderá impugnar o pedido de registro o membro do Ministério
Público que nos dois anos anteriores à impugnação tenha disputado cargo
eletivo, integrado Diretório de Partido ou exercido atividade político-
partidária. A regra do artigo 3.º, § 2º, da Lei Complementar n. 64/90, que
previa o prazo de quatro anos, foi derrogada pelo artigo 80 da Lei
Complementar n. 75/93, conforme explicita o § 2.º do artigo 36 da
Resolução do Tribunal Superior Eleitoral.

O impugnante, desde logo, deve especificar suas provas e arrolar até


seis testemunhas.

O prazo para contestar é de sete dias, contados da notificação do


candidato, partido ou coligação.

Superada a fase instrutória, será aberto o prazo comum de cinco dias


para as partes apresentarem suas alegações finais e para o Ministério
Público apresentar o seu parecer. Em seguida, os autos seguem para o juiz
ou para o tribunal decidir, em três dias.

O prazo para recurso será de três dias. As contra-razões também


devem ser protocoladas em três dias, contados do protocolo da petição do
recurso.

O recurso contra a decisão do juiz eleitoral é o inominado previsto


no artigo 265 do Código Eleitoral, admitindo inclusive a retratação (artigo
267, § 7.º). Contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral, o recurso é
denominado ordinário, nos termos dos incisos III e IV do § 4.º do artigo 121
da Constituição Federal combinados com os artigos 276, incisos I e II, e
277 do Código Eleitoral. Pode ser cabível mandado de segurança contra
decisão originária do Tribunal Superior Eleitoral.

Os prazos correm em cartório (independentemente de intimação), são


peremptórios, contínuos e não se suspendem aos sábados, domingos e
feriados, nos termos do artigo 16 da Lei Complementar n. 64/90.

Nos termos da Súmula n. 10 do Tribunal Superior Eleitoral, caso a


sentença seja entregue em cartório antes dos três dias disponibilizados para
o juiz decidir e não haja intimação pessoal do interessado, o prazo para o
recurso (três dias) contra decisão só começa a correr do termo final daquele
tríduo.

A declaração de inelegibilidade do candidato a chefe do Poder


Executivo não afeta o candidato a vice, e a declaração de inelegibilidade do
vice não afeta o candidato à chefia do Executivo, nos termos do artigo 18 da
Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n. 64/90).
De acordo com a Súmula n. 11 do Tribunal Superior Eleitoral, “no
processo de registro de candidato, o partido que não o impugnou não tem
legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de
matéria constitucional”.

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