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Nota da autora:

Obrigada a todos que estão participando dessa


jornada triste comigo e com Edward – eu adoro todos
os comentários!

Como foi o caso dos capítulos anteriores, esse só


cobre parte de “Sutura” escrito por Stephenie Meyer.
Tem tantas coisas acontecendo com o nosso Edward...

Duas notas para esse capítulo: como muitas pessoas


perceberam, eu estou tentando seguir o que foi
descrito no lançamento parcial de Midnight Sun (Sol
da Meia Noite). Se você ainda não leu, eu recomendo.

Para essa parte, eu estou usando como pano de


fundo minha própria história “Phoenix Rising”. Espero
que vocês me agüentem...

Obrigada mais uma vez ao meu beta team


maravilhoso, MarcyJo, e NoMoreThanUsual. Confiram
as histórias deles também.

Sutura

Eu já o peguei, Edward. Relaxe. Os pensamentos de


Emmett estavam estáveis – ele tinha sua sede sob
controle. Eu não me mexi, sem confiar em ninguém á
minha volta.

“Emmett, Rose, levem o Jasper para fora,” Carlisle


ordenou.

Emmett assentiu concordando. “Vamos, Jasper,” ele


disse com o resto do ar que ele ainda tinha,
arrastando nosso irmão através da porta. Jasper
continuou a lutar, atacando seu seqüestrador. Seus
pensamentos eram completamente incoerentes,
apenas um monte de reações violentas e animais.

Eu rosnei mais alto dessa vez, enquanto olhava ao


redor, me preparando para defender Bella contra
minha família sedenta e também contra minha própria
vontade de atacá-la. Sabiamente, ninguém se moveu
na minha direção.

Talvez agora você perceba que o lugar dela não é


aqui, Edward, Rosalie pensou enquanto ajudava
Emmett a arrastar Jasper para fora. Eu mostrei os
dentes, mas ela não reagiu.

Eu tenho que sair daqui, o cheiro é tão forte... Esme


estava começando a ficar desesperada, seus
pensamentos começaram a se embaralhar como os de
Jasper, e rapidamente ela seguiu Rosalie. “Me
desculpe, Bella,” ela murmurou, cobrindo seu rosto
com as mãos.

Agora só restavam Alice e Carlisle; Bella suspirou


atrás de mim.

Carlisle deu um passo na direção de Bella


lentamente, com as mãos separadas e palmas para
cima. “Deixe-me passar, Edward,” ele disse, sua sede
controlada, mas forte. Ela precisa de cuidados
médicos, ele pensou.

Alice engoliu em seco, e depois me mostrou o futuro


imediato: Carlisle dando pontos em Bella na cozinha.
Sua confiança na visão aliviou sua sede, eu me
acalmei e deixei Carlisle se aproximar. A única ameaça
restante para Bella era eu mesmo.
A necessidade de protegê-la tinha subjugado a sede,
mas agora que o perigo tinha diminuído, havia muito
pouco para me distrair do fogo em minha garganta. Eu
trinquei meus dentes, tentando me concentrar em
ajudar meu amor em vez de acabar com sua vida.

Seus sinais vitais estão fortes... nenhum sinal de


choque... nenhum osso quebrado... Carlisle examinou
Bella cuidadosamente enquanto eu assistia. Sua
expressão de horror era inegável, mas ela
rapidamente conseguiu suavizar sua expressão à
medida que ele se curvava sobre ela. A coragem que
ela demonstrava era admirável, até mesmo
inconseqüente. E o pior monstro de todos ainda
estava perto dela... eu.

“Aqui Carlisle,” Alice disse, entregando a ele um


pano de prato, ajudando muito mais do que eu podia
naquele momento. Eu sabia que não seria suficiente –
a ferida de Bella estava além da ajuda de simples
primeiros socorros.

Com um movimento da cabeça, ele negou sua


oferta. “Muito vidro na ferida.” Ela vai precisar levar
alguns pontos, mas vai ficar bem, Edward. É só um
corte profundo. Você está bem?

Eu não respondi; eu não ia desperdiçar o pouco de


ar que ainda havia em meus pulmões para responder
uma pergunta tão inútil. É claro que eu não estava
bem – ele devia saber disso. Mais uma vez Bella tinha
sido seriamente ferida, e tudo que eu podia fazer era
ficar lá olhando, segurando a respiração. Carlisle
amarrou um pedaço da toalha de mesa ao redor do
braço dela – parando o fluxo de sangue. Pelo menos
agora ela não sangraria até morrer.

O rosto de Bella ficou pálido, e eu tentei não pensar


no cheiro que sem dúvida a estava deixando tonta.

A extrema compaixão de meu pai era visível em sua


voz suave. “Bella, você quer que eu te leve para o
hospital, ou você quer que eu cuide disso aqui
mesmo?” Ele sabia qual opção ela escolheria, assim
como eu, mesmo sem ter visto a visão de Alice.

“Aqui, por favor,” ela gemeu. Em particular, eu


adicionei na minha cabeça. Ela pensou que estava
escondendo sua fraqueza do resto do mundo, e
provavelmente de seu pai, mas ao invés disso, ela
estava se colocando em perigo mais uma vez ao
permanecer aqui. Eu ouvia com atenção o grupo lá
fora... Jasper estava retomando o controle sobre si
mesmo, mas ainda lutava contra Emmett. Meu lado
protetor tomou conta de mim de novo.

“Eu pego a sua bolsa,” Alice ofereceu, mantendo


distância de Bella. Seu controle era forte, mas ela
conhecia seus limites.

Carlisle concordou dessa vez. “Vamos levá-la para a


mesa da cozinha” ele disse, olhando para mim. Você
pode ir, eu vou tomar conta dela.

Em resposta, eu dei um passo à frente e gentilmente


levantei Bella. Ela era tão corajosa; eu também não
iria demonstrar minhas fraquezas.

“Como você está, Bella?’’ Carlisle perguntou à


medida que nós andávamos.
“Eu estou bem,” ela disse automaticamente, mas
ainda havia uma ponta de medo em sua voz. Como
deveria haver. Seu calor e seu pulso, irradiavam por
meus braços, me tentando. Um grito de fora foi uma
distração bem vinda enquanto Jasper lutava para
escapar de seus captores. Ele estava implorando para
ir embora, sua vergonha ofuscando a sede que ele
sentira antes. Alice estava olhando tristemente pela
janela da cozinha, ouvindo seu sofrimento. Pelo
menos o amor dela não estava machucado como o
meu, eu pensei cruelmente. Eu podia mudar isso...

Ela me deu um olhar ameaçador, vendo todas as


possibilidades no futuro próximo de Jasper. Nem pense
nisso, ela ameaçou enquanto eu tirava Bella de meu
colo.

Bella tentou não fazer uma careta enquanto nós


ajustávamos seu braço na mesa, sempre a corajosa.
Oh, Bella eu sinto muito... Alice pensou.

Eu fiquei perto do meu amor, lutando contra todos


os sentimentos, emoções e pensamentos, exceto
um... ela precisa de mim. Não importava quão difícil
isso fosse para mim, era ela quem estava machucada,
e eu deveria ficar aqui com ela. O fogo dentro de mim
aumentou à medida que eu assistia outra gota de
sangue escorrer de seu braço e cair na mesa.

“Apenas vá embora, Edward,” Bella disse, colocando


suas necessidades abaixo das minhas... novamente.

“Eu posso lidar com isso,” eu disse, usando a maior


parte do ar que ainda me restava.
“Você não tem que ser um herói. Carlisle pode
cuidar de mim sem sua ajuda. Vá tomar um ar fresco.”
Carlisle injetou uma anestesia local, e Bella respirou
pelos dentes de dor. Agulhas eram algo que ela
realmente tinha medo, não do assassino sentando do
lado dela.

“Eu vou ficar,” eu disse com o resto do meu ar. Com


meus pulmões vazios, eu iria sofrer com ela em
silêncio.

“Porque você é tão masoquista?” ela murmurou,


mas eu não conseguia responder. Ela gasta quase
todo seu tempo com uma criatura que poderia matá-la
em menos de um segundo, que deseja fazer isso a
cada respiração, e que quase conseguiu fazer isso em
mais de uma ocasião... e ela acha que eu sou
masoquista?

Carlisle ficou do lado de Bella. “Edward, você


poderia aproveitar e encontrar Jasper antes que ela vá
longe demais, e eu duvido que ele vá ouvir alguém
que não seja você.”

Não, era Alice que Jasper queria, não eu.

“É, vá falar com Jasper,” Bella acrescentou,


recobrando as forças novamente. Será que ela estava
sendo apenas egoísta, ou estava mesmo me
mandando embora?

“Você podia fazer algo de útil,” Alice adicionou,


deixando agora três contra um. Diga para o Jazz que
eu vou estar lá em um minuto.
Os dois sabiam que eu não podia responder por que
eu havia ficado sem ar. Eu considerei respirar, mas a
chama queimou mais ainda, antecipando o sabor da
ferida aberta de Bella que iria atacar de repente
minha garganta. Tudo Bem. Eu tinha mesmo algumas
coisas para dizer ao meu irmão. Eu assenti com a
cabeça para meu amor antes de ir embora. No
momento seguinte eu estava correndo entre as
árvores.

A primeira coisa que eu senti foi a vergonha de


Jasper. Eu poderia ter matado Bella. Ela estava tão
apavorada.
O medo dela passou quase despercebido por sua
memória, simplesmente uma pontada, comparado
com a sede monstruosa que ele sentiu naquele
momento. Quando seus pensamentos se voltaram
para si mesmo, minha raiva aumentou.

Esme estava preocupada – com Bella, com Jasper e


comigo.

Como sempre, Rosalie era o centro das atenções de


Emmett, mas ele também reservava um pensamento
para Bella. A simpatia de minha família deveria ter me
dado algum conforto, mas só serviu para aumentar
minha própria vergonha. Eu deveria estar com ela, e
não tentando aliviar a consciência de meu irmão.

“Talvez nós devêssemos deixá-lo ir, dar a ele uma


vantagem, para deixar isso justo. Edward vai te
perseguir para sempre, Jasper.” Rosalie disse.

“Pare com isso, Rosalie, você é incorrigível,” Esme


ralhou.
Não havia nenhuma preocupação na mente de
Rosalie; o único pensamento em sua cabeça era se
defender. Mas até ela estava aproveitando demais
essa situação, e estranhamente até Emmett riu em
resposta. Eles não estavam conscientes de que suas
emoções não eram apenas deles.

Todos estavam reunidos á alguns quilômetros, na


margem do rio. Enquanto Jasper se lamentava, ele
também fazia planos, querendo esconder tanto a
vergonha quanto o medo – de mim. Ele estava
contando com que Rosalie fosse distrair Emmett o
suficiente para que ele pudesse fugir. Minha irmã
superficial não percebeu que ele estava manipulando
suas emoções enquanto tirava suas estratégias de
meu humor.

Uma onda de desejo encheu Rosalie e ela colocou


seus braços ao redor dos ombros de Emmett. “Tem
tantas coisas que nós podíamos estar fazendo agora,”
ela disse sedutoramente.

Desta vez Emmett respondeu sem a ajuda de Jasper,


e seu aperto ficou mais fraco. Num piscar de olhos
Jasper desapareceu.

“Jasper!” Esme gritou, mas era muito tarde. Ele


sumiu pela floresta adentro, se desviando das árvores
e dos galhos caídos. Quando Emmett o soltou eu já sai
disparado, e era apenas um borrão quando passei
correndo entre Esme e Rosalie.

“Você não pode correr de mim, Jasper,” eu o


ameacei. Todo controle que eu vinha exercendo sobre
mim desapareceu, se dispersando como folhas diante
de um trem de carga. O ar frio me purificou,
diminuindo o fogo e aumentando minha velocidade...
e a minha raiva. Em dois segundos eu podia ver
Jasper, em três segundos eu o agarrei, jogando-o no
chão com toda força. “Seu miserável,”, eu rosnei.

Jasper se colocou de pé, pronto para se defender.


“Você sabe o quanto eu sinto muito, Edward. Eu
tentei, de verdade.”

Como ela está Edward? Ela está bem? Jasper tentou


desviar minha raiva mais uma vez, me inundando com
sua desgraça, sua autocomiseração por causa da
fraqueza dele. Desta vez a distração não funcionou, e
ao invés disso foi como gasolina em um incêndio
violento, transformando tudo que eu via em um
vermelho flamejante.

“Você quase a matou. Você tem alguma ideia de


como eu me sinto a respeito disso? Eu gritei,
sacundindo-o violentamente. Meu coração espelhou
facilmente a vergonha de Jasper, acrescentando a
tudo isso a agonia, o medo, a tortura que eu havia
sentido cada vez que eu a havia visto a beira da
morte. Embaixo de um carro em Forks... deitada no
chão do studio de balé... e alguns minutos atrás com
Jasper salivando sobre ela. Toda minha frustração
diante desta situação estava no fato de eu ser tão
forte, mas incapaz de proteger a única coisa que
importava mais que tudo para mim... desejando amá-
la , mas morrendo de vontade de matá-la...lutando a
cada dia contra o futuro que Bella e Alice
constantemente tentavam impor sobre mim...tudo
isso jorrava de dentro de mim.
A força de minha emoção surpreendeu Jasper, e ele
me encarou com os olhos dourados arregalados
enquanto eu o jogava contra uma rocha, encravando-
o na superfície plana. “NÃO É JUSTO!” eu rosnei,
pressionando seus ombros ainda mais fundo contra a
rocha.

Seus braços soltaram os meus. Eu sinto muito,


Edward, por tudo. Eu entendo, de verdade. Sua mente
se encheu de memórias de muito tempo atrás, quando
sua amiga, e mãe por um lado, fora atrás dele.

Eu tentei ignorar sua última tentativa de escapar da


minha ira, mas ele agarrou minha camisa, puxando
meu rosto para mais perto do dele à medida que ele
continuava relembrando. Ela o havia persuadido a
matar um humano numa tentativa de fazê-lo voltar
para ela, e para longe de nós. Em outro momento, ela
ameaçara matar Alice, e eu senti o medo e frustração
dele por ter de arriscar a vida de sua companheira por
causa de quem ele era. “Eu quase a perdi,” ele disse
com uma voz rouca, e seu medo se juntou ao meu.

“Edward, deixe-o ir,” Esme ordenou, mas eu a


ignorei.

“Não é a mesma coisa, e você sabe. Eu não tentei


matar Alice. Ela está segura no meio dos irmãos dela.
Você não consegue entender.”

Jasper se tornou insolente, me puxando pelo peito.


“E você não consegue entender como eu me sinto.
Você pode ouvir a sede dos outros, ler como eles
sofrem – mas eu sinto isso. Minha garganta queima
tão forte quanto a sua quando você está com ela,
mais quente ainda quando se soma á minha própria
sede. Agora coloque mais cinco vampiros na cena, é
demais para suportar. É como ser transformado de
novo, Edward – com certeza você se lembra disso.”

“Se você sabia, você não deveria estar lá em


primeiro lugar,” eu disse entre os dentes.

“Isso foi minha culpa, não dele,” respondeu uma voz


atrás de mim. “Deixe-o em paz.” O tom suave de Alice
só tornou sua ordem mais forte. Eu devia ter visto
isso. Se eu tivesse visto, as coisas teriam sido
diferentes.

Eu encarei Jasper por mais cinco segundos antes de


me mexer. “Não corra de novo,” eu avisei, deixando
ele se libertar do granito.

“Ele não vai,” Alice disse firmemente.

“E você pode ver isso?” eu disse com desdém


enquanto andava.

Ela não olhou para mim. Me desculpe. Carlisle já


deve ter quase acabado.

Minha raiva foi desaparecendo devagar, substituída


pela atração persistente de Bella. Eu precisava voltar
para perto dela. Mas será que era para protegê-la ou
para...

Sem mais nenhuma palavra, eu andei em direção a


casa.

Rosalie bufou à medida que eu passava. “Vencer o


Jasper te fez se sentir melhor?” ela zombou.
“Rose,’” Emmett avisou, percebendo corretamente
quão frágil era o controle que eu tinha sobre meu
temperamento. Protetoramente ele passou o braço ao
redor de sua esposa, mas eu a ignorei.

“Você pode culpar Jasper dessa vez se você quiser –


mas continua sendo sua culpa,” ela continuou. Eu
continuei andando, tentando não ouvir sua voz
irritante. “Você a trouxe aqui, nos forçando a jogar seu
joguinho humano. Agora você já sabe – nunca vai dar
certo.”

Eu me virei e Emmett se materializou na minha


frente. “Edward, se vire e continue andando. Bella
precisa de você.”

Vá tomar conta do seu bichinho de estimação,


Rosalie adicionou, puxando Emmett na direção dos
outros.

Que vadia, eu pensei, mas eu não era bobo o


suficiente para dizer isso em voz alta. Poucas pessoas
conseguiam me fazer usar esse tipo de linguagem
como Rosalie conseguia, e essa palavra em particular
ofendia muito Emmett. Antes que eu pudesse voltar
para persegui-la, Esme pegou meu braço.

“Será que eu posso caminhar de volta com você?


Esme sorriu, mas não conseguiu esconder que ela
estava tentando me impedir de atacar mais um dos
meus irmãos. “Eu preciso limpar a sala.” Com um
aceno ela me encorajou a voltar para casa, esperando
que eu fosse à frente.

Eu concordei, dando mais um olhar de aviso para


Rosalie antes de ir embora. Suas palavras eram mais
do que irritantes, elas me machucavam porque eram
verdadeiras. Eu engoli minha raiva fazendo com que
ela voltasse para dentro de mim, onde era o lugar
dela.

Esme não falou nada, se concentrando em um novo


projeto de restauração que ela estava avaliando, mas
eu não ouvi por muito tempo.

A imagem do sangue de Bella se destacando do piso


branco me trouxe de volta á realidade. Ela estava
machucada, e eu não havia sido forte o suficiente
para apenas ficar ao lado dela enquanto ela sofria. Eu
nem podia confortá-la com minhas palavras… uma
inspirada do ar carregado com o cheiro de sangue e
eu pularia em sua garganta, disso eu não tinha
dúvidas.

Uma pergunta pairava acima da minha


autocomiseração. Por quê? Por que eu havia perdido o
controle sobre a fera dentro de mim? Meus olhos não
podiam enxergar as árvores enquanto eu procurava a
resposta para minha pergunta.

Dolorosamente, eu recordei a semelhança macabra


com a cena no Arizona. A sede havia sido intensa
também, mas eu havia mantido o controle, meus
pensamentos foram consumidos com a idéia de salvar
Bella. Somente quando o sangue dela passou pelos
meus lábios eu perdi o controle... mas ela me trouxe
de volta. Eu tremi relembrando o êxtase do gosto do
sangue dela, e Esme apertou meu braço.

Ela vai ficar bem, ela pensou, apenas adivinhando


meus pensamentos. Não adiantava corrigi-la.
Eu percebi que naquela ocasião eu havia tido tempo
para me preparar para aquela cena. Por quatro horas
antes de eu chegar, eu tinha visualizado como James
atacaria Bella, como ele a torturaria. Quando eu
descobri como ele havia conseguido atraí-la, minha
sede fora mudada em uma vontade feroz de salvá-la.
Mesmo quando eu coloquei meus lábios em sua pele
macia e tentei sugar sua vida, eu ainda era o seu
protetor; sua voz fraca foi a única coisa que impediu o
predador de nos consumir.

Desta vez não houve nenhum aviso, nenhum tempo


para se preparar. O protetor dentro de mim era forte o
suficiente enquanto houvesse uma ameaça, mas uma
vez que Bella estivesse protegida dos outros, eu me
tornava a ameaça. Eu sempre seria perigoso para ela,
não importa o quanto eu pensasse estar no controle.

Eu tinha que achar um modo de evitar que isso


acontecesse de novo. De algum jeito eu teria que
encontrar forças para fazer o que era certo... forças
para libertar Bella deste mundo que eu havia imposto
a ela como uma jaula de aço. Eu havia construído esta
jaula ao redor dela com as minhas próprias mãos,
forjado isto com meus desejos egoístas. Somente eu
poderia removê-la. Somente eu poderia libertá-la para
sempre.

À medida que nós nos aproximávamos da casa,


minha atenção se voltou para o estado atual de Bella.
Eu parei perto do limite das árvores, sendo atraído
pela névoa do perfume dela que preenchia a mente
de Carlisle. “Foi necessário fazer isso...” ele disse, e eu
expirei, percebendo que involuntariamente eu havia
prendido a respiração diante da ideia do cheiro do
sangue dela.

“Eu não vou demorar muito para limpar tudo,” Esme


disse.

“Não, eu deveria…” Bella era minha


responsabilidade.

Ela me parou apertando meu braço novamente. “Eu


posso fazer isso, querido. Você já foi muito forte, me
deixe fazer isto por você.” Ela não esperou pela minha
resposta, e começou a atravessar o gramado.

Eu tentei me obrigar a segui-la, para impeli-la, e


dizer-lhe que ela estava tão errada... Mas eu não
pude. O fogo na minha garganta já estava criando
imagens abomináveis de como eu acharia Bella, como
eu a tocaria, como eu a beijaria, como eu sentiria seu
gosto... eu tinha que recuperar o controle antes que
eu pudesse vê-la novamente. Mas e depois? Levá-la a
beira da morte de novo?

A falsa lógica com a qual eu havia me enganado, na


qual eu era algum tipo de anjo da guarda distorcido,
não podia mais me enganar. Eu não era forte o
suficiente para protegê-la do perigo da minha
presença, isso era claro. Mas eu teria forças para
afastar o perigo, para me afastar?

Esme parou perto da portas de vidro, respirando o ar


puro uma última vez. Eu estou bem, ela pensou,
falando para si mesma e para mim enquanto ela
entrava na casa. Até mesmo minha mãe era perigosa
para Bella. Isto tinha que terminar.
Minha atenção se mudou para os pensamentos de
Carlisle e para o som da voz de Bella enquanto eu
lutava comigo mesmo.

“Os outros não pensam o mesmo?” O som das


palavras dela me acalmou instantaneamente. Ela
estava bem de verdade.

Carlisle andou até pia, pensando na resposta. “Até


certo ponto, Edward concorda comigo. Deus e o
paraíso existem... e o inferno também. Mas ele não
acredita que haja outra vida para nossa espécie.”
Quantas vezes eu tentei convencê-lo do contrário?
“Imagine, ele acha que perdemos nossa alma.”

É claro que nós perdemos. Mas isto era uma velha


discussão. O que havia atraído Bella para este
assunto?

“Eu olho para meu… filho. Sua força, sua bondade, a


luz que emana dele – e isto só alimenta esta
esperança, essa fé, mais do que nunca.” Quão
distorcida a visão dele era... ele lutava tanto para
encontrar alguma partícula de bondade em mim onde
não havia nenhuma. “Como poderia não haver mais
nada para alguém como Edward?”

Bella assentiu enfaticamente com a cabeça, e eu


apertei o arco do meu nariz. Ele estava me
glamorizando, alimentando as imagens fantásticas
que ela tinha de nós, e de mim.

“Mas se eu compartilhasse as crenças dele...” Os


olhos dele se moveram para os dela. Você é tão
adorável, tão frágil, tão inocente. Ele te ama tanto... e
então ele ajustou os seus pensamentos. “Se você
acreditasse nelas, você colocaria a alma dele a
perder?”

Eu fiquei paralisado nas sombras, surpreendido. A


lógica de meu pai, diferente da minha, era perfeita.
Mesmo Bella não seria capaz de achar uma falha em
seu argumento. Eu olhei através dos olhos de Carlisle,
vencido pela minha curiosidade. Que resposta
inesperada ela iria achar para esta pergunta?

Eu vi a boca de Bella se abrir e depois se fechar, à


medida que ela procurava uma resposta.
Resumidamente, Carlisle tinha colocado em palavras
tudo que eu vinha tentando dizer para Bella desde
que ela havia começado a campanha para se tornar
uma vampira. Ele era muito mais do que eu jamais
poderia ser.

Confuso, o rosto dela se contorceu com frustração,


eu quase não me contive e ri. Ler as expressões de
Bella, tentar decifrar seus pensamentos era algo que
eu não poderia me dar ao luxo de fazer por muito
mais tempo.

“Você entende o problema,” Carlisle disse. Não


havia um pingo de satisfação na voz dele, apenas
paciência. E ela ama Edward, mais profundamente do
que ele imagina.

Bella não desistiu, sacudiu a cabeça teimosamente.


“A decisão é minha.”

“É dele também, de qualquer modo ele é


responsável por fazer isso a você.” A mente de
Carlisle vagou para cada um dos seus filhos, parando
em mim por um momento antes de se fixar em
Rosalie. Não existiam palavras para descrever o seu
arrependimento por trazê-la para esta vida.

“Ele não é o único capaz de fazer isso.” Ela olhou


cheia de expectativas para o meu pai, e eu quase
engasguei, tentando conter minha risada. Rosalie
seria a última humana que Carlisle iria transformar;
ela desprezou esta vida desde o primeiro segundo que
ela acordou. Quando Rosalie trouxe Emmett, ela teve
que literalmente implorar para Carlisle envenená-lo,
apelando cruelmente para sua culpa diante do
sofrimento dela para conseguir o que ela queria. Ele
nunca iria ceder diante do apelo infantil de Bella.

Carlisle riu, “Ah, não! Você vai ter que resolver isso
com ele.” Sua mente vagou mais uma vez, voltando
ao arrependimento, mas também se lembrando da
cara cheia de alegria de Emmett quando ele acordou
nos braços de Rosalie. Meu pai encontrou alguma
redenção, vendo os dois tão felizes juntos, mas
sempre ficou uma dúvida. “Esta é a única parte que
eu não posso ter certeza. Eu acho que, de muitas
maneiras, eu fiz o melhor que pude com aquilo que eu
tive que lidar. Mas será certo condenar os outros a
esta vida? Eu não consigo decidir. Foi a mãe de
Edward quem me fez decidir.” Pela segunda vez hoje
eu era lembrado da minha mãe humana.

Eu me dirigi para casa, sabendo que Esme tinha


terminado o primeiro estágio da limpeza e estava
ouvindo de novo Carlisle contar a história de minha
transformação. Ainda que eu já tivesse visto minha
mãe em sua memória muitas vezes, eu parei de
respirar quando a vi na mente dele. Minha memória
dela era uma mistura borrada de alabastro, castanho
avermelhado e verde. O que eu lembrava era o som
de sua voz, cantando para mim enquanto eu lutava
com a febre.

A memória de Carlisle era perfeita, cada detalhe do


rosto de minha mãe claramente definido. De muitas
maneiras, olhar para ela era como me olhar no
espelho. A metade de cima de seu rosto, seus olhos,
sobrancelhas e cabelo eram idênticos ao meu. A
diferença era a cor de seus olhos, é claro; o verde dos
olhos dela era brilhante, cheio de vida, mesmo
enquanto ela lutava contra a morte. Eles eram tão
humanos.

O resto de seu doce semblante não era como o meu,


o breve encontro de Carlisle com o meu pai
inconsciente confirmou que o restante das minhas
feições eram parecidas com as dele. Minhas memórias
do meu pai eram ainda mais vagas, fiapos de um
passado que fora enterrado na minha transformação,
minha descida...

Bella estava hipnotizada pela história, seu rosto


reagindo com choque, preocupação e compaixão à
medida que ele falava. Triste, eu percebi que ela
estava com a mesma expressão de quando assistimos
ao filme hoje à tarde. Carlisle apresentava uma
história fantástica de perdas trágicas e de uma
miraculosa ressurreição, não a verdade sombria e
exata do engano de uma mãe delirante e a negação
de paz de um amigo bem intencionado. Bella via
minha transformação como uma libertação da dor, da
morte, não como uma condenação a escuridão eterna.
Eu não condenava nem Carlisle nem minha mãe por
me condenarem a essa existência; era o destino que
tinha um senso de humor cruel.

“Depois de todos aqueles anos de indecisão, eu


simplesmente agi por capricho,” Carlisle disse
ironicamente, verificando minha afirmação de que eu
já havia sido destinado para essa... vida. Mas não ela,
não Bella. Eu não iria repetir as escolhas erradas... o
destino dela não podia, não iria, ser como o meu. Só
havia um jeito de impedir isso, eu sabia disso agora.

À medida que Carlisle descrevia o que ele havia feito


comigo, seu coração doía. Eu já o havia perdoado
pelas feridas que ele havia me infligido há muito
tempo atrás, pensando que elas eram necessárias
para a transformação, mais ele ainda desejava que ele
tivesse percebido que elas não eram necessárias. A
dor a mais que ele sabia que eu sentira não era nada
comparada com a que eu teria que encarar logo.
Enquanto eu atravessava a casa, o eco daquela
agonia passou por mim à medida que eu era
bombardeado pelo doce perfume de Bella. O alvejante
que Esme havia usado não podia esconder aquilo de
mim.

“Mas eu não me arrependo. Eu nunca lamentei por


ter salvado Edward,” Carlisle disse, sem notar minha
presença. Ele acenou com a cabeça. Especialmente
agora. Ele considerou o rosto quente de Bella,
percebendo que seus olhos estavam quase fechados.
Ela precisa dormir. “Agora eu acho que devo levá-la
para casa.”
“Eu faço isso,” eu disse tentando parecer calmo.
Bella não tinha que ouvir mais contos de fadas no
caminho para casa. Esse mundo não era para ela, e de
algum jeito eu tinha que separá-la dele... separá-la de
mim. Era a coisa certa a fazer.

Ela olhou para mim, tentando ler o meu rosto do


jeito que eu sempre havia lido o dela tantas vezes,
mas eu apaguei qualquer emoção de meu rosto. Eu
não podia permitir que ela visse minha luta, como
meu amor por ela lutava contra o monstro assassino.

Essa seria a última vez que ela poderia vir aqui,


rodeada por tanto perigo. Tirá-la daqui seria a parte
fácil. Sair da vida dela seria uma tarefa impossível.
Mas agora eu não tinha mais escolha.

“Carlisle pode me levar,” Bella disse, encarando


meus olhos. Sem ver nada, ela abaixou o rosto e seu
olhar passou para sua blusa, que estava manchada de
sangue seco. Outra lembrança do fiasco que o
aniversário dela havia sido.

“Eu estou bem,” Eu disse, vendo a aflição em seu


rosto. Eu tinha que conseguir me controlar melhor
para impedir que ela se preocupasse comigo. “De
qualquer modo você precisa se trocar. Charlie teria um
infarto se a visse desse jeito. Vou pedir Alice para lhe
emprestar alguma coisa.”

Eu sai antes que ela pudesse começar outra


discussão. Quanto menos nós falássemos, seria
melhor. Eu não havia ido muito longe quando eu ouvi
Alice na minha mente.
Eu estou voltando. Esme tem a camiseta perfeita,
Alice pensou, e depois procurou no futuro algo que me
ajudasse. Eu levando Bella e estacionando em frente á
casa dela. Quando Alice tentou olhar depois daquele
momento, não havia nada. Minha decisão estava
oscilando, e ela sabia.

“O que você está tentando decidir?” ela me


perguntou, parando perto de mim. Mais uma vez o
futuro mudava, mas ainda era uma névoa sombria.
Mesmo que ela não pudesse me convencer a não ir
embora, a falta de certeza da visão significava que
minha decisão ainda não estava forte o suficiente para
ir em frente com o que eu deveria fazer.

“Edward, você foi feito para ficar com ela,” ela


adivinhou

Eu respondi começando a correr, tentando me


distanciar da esperança que havia nas palavras de
Alice. O destino era cruel demais para permitir um
futuro assim para mim.

A voz de Bella quebrou o silêncio da noite. “Esme,


deixe que eu faço isso.”

Esme percebeu o rosto vermelho de Bella e engoliu


em seco. “Eu já terminei. Como você se sente?”

“Eu estou bem” Bella respondeu automaticamente.


Infelizmente ela já havia dito esta frase muitas vezes
na minha presença. “Carlisle costura mais rápido do
que qualquer outro médico que conheci.” As duas
riram bem fracamente, obviamente da razão da piada
– o ferimento de Bella.
Nós entramos, e Alice assumiu o controle. “Vamos,
eu vou te dar alguma coisa menos macabra para
usar,” ela disse, levando Bella para cima.

Todos nós sabíamos que Bella iria discutir com Alice,


e mesmo que Carlisle quisesse ouvir as respostas
tanto quanto eu, ele escolheu me distrair.

“Você está bem, Edward?” ele perguntou. Ele e


Esme estavam tentando ler minha expressão, e por
uma vez ser feito de pedra viva era uma coisa boa.

“Não,” eu respondi sinceramente.

Esme pensou em me abraçar, mas quando eu virei


meu olhar frio para ela, ela mudou de ideia.

“Como está Jasper?” Carlisle perguntou.

“Como está Jasper?” Bella perguntou para Alice no


andar de cima.

Típico, se colocando em último plano, de novo. “Ele


está bem,” eu disse, imitando o mantra de Bella.

Ele franziu a sobrancelha. “Isso não é sua culpa. Um


erro foi cometido...”

“Nem se incomode, Carlisle,” eu disse,


interrompendo-o. “Palavras não são suficientes para
reverter essa situação.” Não, algo tinha que ser feito.
E era eu que tinha que fazer. Eu ignorei a preocupação
de Carlisle.

Bella continuou agindo generosamente, perdoando a


natureza de Jasper. “Não é culpa dele. Você vai dizer
para ele que eu não estou chateada, de maneira
alguma, não vai?”

“Claro que vou.” Alice estava certa, como Rosalie


também. Bella não teria vindo aqui se não fosse pela
minha insistência.

Carlisle continuava examinando meu


comportamento indiferente à medida que ele
arrumava a mesa, mas ele não disse mais nada.

Esme terminou a limpeza e colocou os presentes


ainda fechados sobre a mesa, pensando se Bella ainda
iria poderia aproveitá-los.

Finalmente Bella apareceu, e eu esperei por ela na


porta da frente, querendo que ela se apressasse,
ainda desejando que o tempo parasse. Eu não podia
suportar que ela estivesse em perigo, mas eu também
não conseguia me imaginar vivendo sem ela.

“Leve suas coisas!”, Alice gritou enquanto Bella se


virava para ir embora. “Você pode me agradecer
depois, quando tiver aberto.” Será que ela vai
descobrir o que há dentro das caixas?”, ela pensou
resmungando. Sua visão ainda não estava clara.

Esme e Carlisle disseram boa noite. Todos estavam


prestando atenção em mim enquanto eu levava Bella
á porta, mas eu me recusava a prestar atenção neles.

O que você está tentando decidir, Edward? Alice


pensou enquanto eu ia embora. Sua incapacidade
para ver o meu futuro apenas aumentava minhas
preocupações... isso só deveria significar que eu não
era forte o suficiente para seguir minhas intenções. De
quantas maneiras Bella deveria pagar pela minha
fraqueza?

Bella praticamente correu para fora da casa – talvez


ela tivesse finalmente entendido a gravidade do que
aconteceu. Não, é claro que não, mas eu me recusei a
pensar demais nas reações anormais dela.

Silenciosamente eu abri a porta e ela entrou na


picape. Enquanto nós nos distanciávamos da casa, eu
concentrei meus pensamentos na tarefa que eu tinha
em mãos. Levá-la para casa e deixá-la lá. Sozinha.

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