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Estamos, no atual contexto, interessados nas modificações profundas dessa forma urbana
(sua mutação; RANDOLPH 2000) na medida em que partimos da hipótese de que estamos
assistindo, hoje em dia, o surgimento de uma nova cidade que, talvez, nem deveria ser
mais chamada de "cidade" no seu sentido tradicional; mas seria algo como uma “cidade-
região” ou "cidade-rede" onde o "urbano" estaria distribuído dispersamente, sobre um
território ou em uma rede. Onde o urbano não poderia ser mais encontrado em
determinados locais ou em lugares geograficamente limitados. Então, podemos chamar
essa “cidade” uma "utópolis" – uma cidade sem lugar.
É o objetivo do nosso trabalho arrolar alguns argumentos a favor do surgimento dessa nova
forma espacial da organização social nos países capitalistas ocidentais. Pois, acreditamos
poder identificar transformações recentes nas e das cidades que não são mais restritas a
mudanças intra-urbanas. Até há pouco tempo dominavam modificações intra-urbanas de
re-urbanização, revitalisation e gentrificação, construção de condomínios fechados com
seus próprios sistemas de vigilância dentro ou na franja das cidades e o aprofundamento de
outras formas de segregação social – inclusive o aumento de pobreza urbana (favelas).
Agora, na forma urbana interferem cada vez mais processos que ultrapassam as cidades e
provocam alterações profundas nas relações inter-urbanas como aqueles de deconcentração
(e re-concentração seletiva) de instalações de produção e de serviços - especialmente
aqueles relacionados às novas tecnologias de informação e comunicação (veja
especialmente PAWLEY 1997) -, de lugares de trabalho e residências da população
(contra-urbanização) sob distâncias mais longas, às vezes mencionados e investigados
como “urban sprawl”, e outros.
Alguns autores entendem essas mudanças como uma substituição do sistema urbano e da
hierarquia urbana tradicionais por novas articulações entre escalas territoriais e redes não-
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Trabalho apresentado na IX Semana de Planejamento Urbano e Regional do IPPUR / UFRJ, setembro de
2003
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hierárquicas cujos elementos (“locais” ou “nós”) continuam as cidades como as
conhecemos. Como apontamos antes, nós pensamos que essas formas de dispersão e
concentração de populações e empregos – aspectos que vamos privilegiar no nosso estudo
– são primeiras indicações de uma nova organização territorial do espaço social (para este
conceito, vide LEFEBVRE 1991) em sua totalidade. Este novo espaço não se apoiará
fundamental e predominantemente – como aconteceu no período anterior das cidades
industriais – nas cidades; mas em uma articulação mais complexa que poderia ser
imaginado, em primeira aproximação, como cidades-regiões ou cidades-redes que servirão
de suporte para uma sociedade urbana universal (LEFEBVRE 1969a).
Isto não significa que as cidades desaparecerão; mas - como esfera local - eles não jogarão
mais nenhum papel protagonístico - como os peritos de "planejamento estratégico"
parecem acreditar hoje. É nosso propósito, no presente trabalho, levantar algumas
conjecturas a respeito das possíveis características do urbano dentro dessa “nova cidade”
que chamamos de “utópolis” porque se encontrará em nenhum e em todos os lugares.
(i) para situar nossa hipótese do advento da sociedade urbano na forma da utópolis ou, na
verdade, do surgimento de novas matrizes espacial e temporal nas formações sociais
contemporâneas (vide a discussão em POULANTZAS 1981, pp. 105 ss., a este respeito
referente à passagem do período pré-capitalista para o capitalista) apresentaremos,
incialmente uma síntese esquemática das principais abordagens que lidam com esta
problemática que elaboramos a partir de um extenso e bastante completo trabalho realizado
por Soja (SOJA 2000). Aí podemos identificar, numa primeira aproximação, alguns ainda
poucos elementos que distinguem a nossa perspectiva das outras abordagens que Soja
extraiu de uma ampla bibliografia;
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estrutura (urbano) e a aspectos morfológicos. Então nós temos que introduzir alguns
elementos qualitativos (item 3.) através da diferenciação entre "cidade" e "urbano" - já
mencionada acima. Na medida em que o fazemos, poderemos distinguir entre
"urbanização" e "urbanidade" o que nos permitirá desenvolver uma visão crítica a respeito
destes processos: a um primeiro e rápido olhar, "urbanização" e "contra-urbanização"
podem ser entendidas - em certas circunstâncias - não só como processos opostos, mas até
mesmo como semelhantes ou dois lados da mesma moeda;
(iii) finalmente, no item 4., como uma primeira referência empírica e razão para nossa
investigação, observaremos algumas destas modificações relativas ao caso brasileiro,
especialmente interessados na capital do estado de Rio de Janeiro e seu interior – em
especial, no município de Petrópolis; neste caso poderiamos demonstrar indícios de que os
“fenômenos urbanos”, crescentemente, ultrapassam as fronteiras políticas das cidades e o
limite territorial da aglomeração de populações e empregos. No presente trabalho podemos
apenas indicar, brevemente, algumas características destes processos de urbanização e e
contra-urbanização que põem em cheque as identidades das cidades como a conhecemos
(cidade industrial); ou até mesmo podem inviabilizar a a compreensão de sua
particularidade em contextos mais abrangentes de sistemas de cidades.
Soja dedica uma boa parte do seu livro “Postmetropolis” (SOJA 2000) à investigação dos
principais programas de pesquisas e grupos de pesquisadores que se ocuparam com o
estudo das recentes transformações das metrópoles no mundo sob condições da
globalização, restruturação econômica, flexibilização, consolidação de redes mundiais etc.
3
Sistematização de Edward SOJA:
(páginas referem-se à obra de SOJA que nos serve como referencial para esta síntese; SOJA 2000)
(as fontes bibliográficas aqui citadas encontram-se também naquele livro – vide lá)
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Denominação da Vertente Abordagem Principais Características Bibliografia, Autores, Palavras
Chaves
descreve espaços fortificados com sistemas Davis, Flusty, Herbert, Domanick,
sofisticadas de vigilância e tecnologias que respondem Purchell, Caldeira, Blomley,
Arquipélago de carcerário a uma “ecologia do medo” na medida em que Foucault, Newman (“defensible
substituem cada vez mais “polis” por “polícia” (p.155) space”), Blakely & Snyder (“gated
perspectivas communities”); Mackenzie
voltadas para (“privatopia”)
questões da (pp. 298-322)
gerência da a postmetrópole compreendida como aglomeração de Baudrillard, Olalquiaga, Eco,
sobrevivência da simcities onde o imaginário urbano é restruturado Kunstler, Gottdiener, Calvino,
postmetropolis tanto em manifestações eletrônicas como materiais de Ellin, Chambers, Gibson, Boyer
Simcities um ciberespaço o que aumento aquilo que pode ser (“CyberCities”), Benedikt,
chamado de hiperrealidade da vida cotidiana; a vida Rheingold, Mitchell (“city of bits”),
urbana é crescentemente realizada como um jogo de Graham & Marvin, Featherstone &
computador o que confunde as fronteiras entre Burrows (“cyberspace
mundos reais e imaginados (p.155) /cyberbodies/cyberpunk”);
Haraway, Markley
(pp. 323-348)
(Fonte: SOJA, E. Postmetropolis. Critical studies of cities and regions. Oxford, Malden:
Nossa hipótese: Blackwell, 2000)
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Encontra basicamente seis distintos abordagens conceituais e recortes analíticos que se
tornaram os focos de determinados clusters internacionais de pesquisas. No esquema nas
páginas anteriores caracterizamos brevemente estes clusters, e apresentamos uma síntese
provisória da nossa hipótese da “utópolis” que, como se vê, incorpora vários elementos das
vertentes apontados por Soja. Não é aqui o lugar para aprofundar uma comparação.
Para elaborar uma primeira aproximação que permita identificar sinais de uma forma
urbana nova – ou mesmo a cidade sem lugar ou utópolis -, nós queremos discutir, muito
brevemente, a noção de contra-urbanização, que está intrinsicamente relacionada a um
processo de urbanização prévio (para o atual e os próximos itens, vide também a discussão
em RANDOLPH 2003b).
Em muitos países, como na Suécia, as pesquisas não revelaram nenhum padrão uniforme.
Parece que havia concentração e dispersão ao mesmo tempo.
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1998) e relacionada a um grande número de categorias (como fatores econômicos,
espaciais, ambientais, socio-econômicos e outros).
(ii) a direção da migração onde devem ser discriminadas as pessoas que estão chegando de
regiões de um nível mais alto da hierarquia urbana aquelas pessoas de regiões mais baixos;
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(iii) os motivos da migração dizem respeito a estilos de vida "antimetropolitano",
"antiurbano" ou "pro-rural” (a favor do rural); como coloca Lindgren: "a categoria
'antimetropolitano' enfatiza a emigração de pessoas dentro dos mercados de trabalho da
área de influência das cidades principais... Por outro lado, empregando a interpretação de
'antiurbano', implica em movimentos de um mercado local de trabalho de nível mais alto
dentro da hierarquia urbana para um mercado local de trabalho de nível mais baixo que são
considerados como contra-urbanização..." (LINDGREN 2002, pág. 5); a última categoria
("pro-rural") pode ser entendida como uma procura por um estilo de vida mais tranqüilo
relacionado a percepções tradicionais do rural.
À primeira vista, parece razoável pressupor, num nível empírico, uma articulação mais ou
menos óbvia entre os processos de urbanização, suburbanização e contra-urbanização. Em
termos lógicos, seria impossível pensar na existência de suburbanização ou contra-
urbanização sem um processo prévio de urbanização. Até mesmo introduzindo a variável
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tempo, urbanização e contra-urbanização como processos históricos e de alguma
seqüenciados assumirão diferentes formas em diferentes tempos e espaços.
Nós percebemos, que nossa discussão - seja em nome da lógica ou na perspectiva dialética
- precisa ser inserida numa horizonte mais amplo das transformações históricas das
sociedades ocidentais. Em outras palavras, para superar uma mera descrição (empírica) dos
atuais processos de concentração e dispersão de populações nestas sociedades (e suas áreas
metropolitanas), precisamos de um conceito ou de uma hipótese a respeito destes processos
que consegue apontar suas formas de produção (social), suas condições e determinantes,
suas influências na vida de pessoas etc.
Primeiro, nós temos que fazer uma distinção entre a "cidade" e o "urbano" (veja para esta
perspectiva LEFEBVRE 1999) que nos conduzirá a estender a compreensão mais restrita
da "urbanização" para uma mais abrangente da propagação da "urbanidade." Segundo,
adotando estas definições, nós vamos analisar, brevemente, certos processos históricos
para obter algumas indicações sobre as "dialéticas" mencionadas entre sub-, contra- e a
urbanização “original”.
Então, no primeiro passo, no intúito de introduzir uma distinção entre cidade e urbano, a
cidade é considerada como um fenômeno histórico de aglomeração de pessoas, edifícios,
ruas, praças, mercadorias, máquinas etc. que mudam em espaço e tempo; e é diferente em
diferentes períodos e territórios. O urbano é vinculado à cidade, mas é mais do que isto;
não é um objeto real no sentido daqueles que podemos pegar, ver ou mesmo cheirar. O
urbano é um projeto – e, por isto, um objeto possível ou virtual (veja LEFEBVRE 1999, p.
16) - que apareceu historicamente, num determinado período da história da humanidade,
como o conteúdo de uma forma - a cidade.
É a antiga polis grega que pode ser considerada como a origem do urbano - como é
conhecido hoje no ocidente; foi lá onde a natureza humana se manifestou enquanto zoón
politicón: "o zoón politicón Aristotélico depende da cidade para a realização de sua
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natureza; fora da cidade não se alcança o estatus de humanidade" (FORSTER 2000, pág.
11). Obviamente, essa “cidade” não pode ser interpretada como um mero ambiente físico
(base física), mas também como um lugar onde, de algum modo, “vive” ou “existe” algo
que permite aos “animais” ou aos bárbaros se tornarem seres humanos.
Como uma tentativa de indicar as características principais do “urbano”, podemos
imaginar, de uma forma bem simples, que a evolução para o “animal político” passa por
duas fases anteriores: inicia-se na família como uma “comunidade de sangue”, que é a base
da reprodução das espécies; a agregação de famílias engendram comunidades (geograficas)
em aldeias, que têm como função satisfazer as necessidades sociais vitais (reprodução da
vida em um sentido mais amplo).
Para o ponto de vista radical da Grécia antiga, não existe humanidade ou ser
humano a não ser no espaço público dentro dos limites da polis (nem dentro da esfera
privada) – o urbano confunde-se com o humano. Na medida em que a modernidade
desenvolveu outras perspectivas a respeito da natureza do ser humano essa “confusão”
(identidade) perde sua validade. Mas, em relação ao projeto urbano antigo parece-nos que
este não perdeu a sua validade. Até hoje - como uma expressão ou promessa de um
humanismo novo depois da morte do antigo (“Deus está morto, o homem também”; ver
LEFEBVRE 1969a) – o conteúdo urbano (a urbanidade) de uma cidade ou de qualquer
espaço social pode ser considerado o mesmo como aquele da polis grega. Obviamente,
cidades ou sociedades nunca oferecerem o benefício da urbanidade a todas as pessoas; a
urbanidade sempre foi restrita, segmentada, limitada a poucos. Em nossa opinião, isto não
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invalida a concepção; apenas, demonstra como o urbano, até hoje, continua uma
possibilidade ou uma virtualidade; um projeto.
Para faze-lo, seguiremos, mais uma vez, a perspectiva de Lefebvre quando ele
aponta que, no último século e no mundo desenvolvido, a problemática urbana e o desen-
volvimento das cidades devem ser estudados partindo do processo de industrialização
(Lefebvre 1969b, p. 9). A urbanização é induzida pela industrialização; por isso, podemos
denominar tais sociedades como industrializadas. Mas, na medida em que avança no seu
raciocínio, coloca que são essas sociedades que dão origem a uma nova e diferentes, que
ele chama de “sociedade urbana”. Não vamos prosseguir com essa argumentação neste
momento (veja maiores detalhes em RANDOLPH 2003a). Para nossos propósitos, basta
apresentar algumas características da “sociedade industrial” e da sua forma urbana.
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Cidades existiam muito tempo antes do processo de industrialização como vimos
antes: desde as cidades antigas orientais e ocidentais (política) e, mas tarde as cidades
medievais (comerciais). Por isto,
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industrializados. Ao mesmo tempo em que concentrações urbanas se tornam gigantescas e
os velhos centros se deterioram e explodem as pessoas migram para periferias residenciais
ou produtivas distantes.
Com isto surge uma outra pergunta: será que esse processo da "contra-urbanização"
poderia ser considerado uma “contra-tendência” contra os efeitos de de-urbanização dos
processos de urbanização nos países industrializados? E, neste caso, este processo seria o
processo real de urbanização – no sentido da propagação da urbanidade? Só nesses países
ou também em países como o Brasil?
Certamente, sem ser submetido às mesmas condições como aquelas que vingaram nos
países centrais industrializados, o processo de urbanização no Brasil aconteceu de um
modo bastante diferente. Na próxima parte apresentaremos algumas informações sobre este
assunto e discutiremos as tendências mencionadas (ou contrárias) à contra-urbanização.
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Portanto, vamos dar uma olhada no processo de urbanização do Brasil, que é bastante
diferente do europeu.
Durante muito tempo, após sua “descoberta”, o Brasil permaneceu um país agrário. Foi no
norte onde as primeiras cidades surgiram no século XVI; estas cidades manifestaram a
intenção da Coroa Portuguesa de controlar o país - neste caso, podem ser entendidas como
um tipo de cidades políticas, a que foi submetido o “sistema social da colônia”
(GOULART REIS 1968). Apenas depois do século XVIII a urbanização realmente
começou quando as cidades se tornaram a residência de grandes fazendeiros e donos de
moinho. Mas, de acordo com Milton Santos, "era necessário mais um século para que a
urbanização alcançou sua maturidade no século XIX, e ainda mais um século para adquirir
as características que nós vemos hoje" (SANTOS 1993, p. 19).
Anos
Taxas de urbanização No Brasil Na Bélgica
aproximadamente 30% 1945 1846
aproximadamente 50% 1965 1900
aproximadamente 60% 1975 1970
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O aumento da taxa de urbanização de 30 a 60% levou mais de cem anos na Bélgica, entre
os séculos XIX e XX; enquanto no Brasil não precisoumais que trinta anos no último
século. O aumento da população urbana entre 1960 e 1980 alcançou, em termos absolutos,
50 milhões de pessoas (o que representa a população brasileira inteira em 1950).
É óbvio que, ao lado destes aspectos quantitativos, há diferenças qualitativas entre os dois
processos. No caso brasileiro, o crescimento de população das grandes cidades é baseado
em seu "... poder e capacidade para atrair e manter as pessoas pobres, embora muitas vezes
em condições subumanas. .....; e o fato de que a população não tem nenhum acesso aos
empregos necessários, nem a bens e serviços essenciais, fomenta a expansão da crise
urbana" (SANTOS 1995, p. 10). Em outras palavras, é a própria cidade, como "espaço
social", que contribuiu para criar pobreza (concentração) no recente período; então, a
urbanização no Brasil é proximamente relacionada a pobreza, principalmente nas grandes
cidades (como o Rio de Janeiro, por exemplo).
Nós podemos imaginar o que significa, para planejadores urbanos, lidar com tal processo
explosivo considerando que os recursos disponíveis são sempre limitados nas
circunstâncias brasileiras. Então, não é nenhuma surpresa que essa "urbanização" teve um
significado enquanto aumento de urbanidade apenas para uma pequena minoria. Então,
será que - comparando as cidades brasileiras com aqueles de outros países
(industrializados) – não seria plausível, para entender a “verdadeira natureza” do processo
de crescimento e de concentração de populações nas cidades brasileiras, chamar esse
processo de "contra-urbanização" ao invés de urbanização?
Obviamente, há vários outros fatos que mereceriam nossa atenção. Isto é verdade,
especialmente, para aqueles relacionados ao sistema urbano, por exemplo. Em anos
recentes no Brasil, há uma diferenciação crescente entre diferentes tipos de cidades: “havia
um tempo onde a rede urbana poderia ser tratada como uma unidade, onde as cidades se
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relacionaram de acordo com uma hierarquia de tamanho e função. Esse tempo passou.
Hoje, cada cidade é diferente da outra, não importando seu tamanho, porque mesmo entre
as metrópoles há também diferenças” (SANTOS 1993, p. 53).
Também há grandes diferenças nas taxas de urbanização entre regiões diferentes: a mais
desenvolvida região do Brasil - onde se situam o Rio de Janeiro e São Paulo – teve, em 1980,
um índice de urbanização de 83%; por outro lado, em um das regiões mais pobres, o Nordeste
rural, esta taxa era só de 50% (a mais baixa nas cinco macro-regiões do Brasil). 40 anos antes,
em 1940, esses índices variavam apenas entre 22 e 39% (diferença de 17%).
Conseqüentemente, para investigar o processo de urbanização do Brasil torna-se necessário
fazer uma distinção entre diferentes regiões e tamanhos de cidade (como SANTOS fez em
1993 em seu estudo). Em nosso caso, o Rio de Janeiro pertence ao tipo da grande metrópole,
situada na região mais rica do país - o Sudeste.
Por outro lado, isto também não pareceria razoável devido à falta de qualquer prévia
implementação significante de um real "projeto urbano" no Brasil - como foi parcialmente
realizado nas cidades européias no passado. É possível que a recente "explosão" de antigas
capitais e tradicionais metrópoles no Brasil pode conter alguma evidência de um processo de
contra-urbanização que, conforme foi mencionado por Lefebvre, no futuro poderia conduzir a
uma "sociedade urbana." Ou, como já foi exposto anteriormente, que essa "contra-
urbanização" poderia ser a "verdadeira urbanização" (propagação de urbanidade) uma vez que
a urbanização (aumento de concentração de população) no contexto da industrialização quase
destruiu nossas cidades.
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imobiliário para ter uma primeira idéia do possível público-alvo visado pelos
empreendimentos.
Como um primeiro resultado parece claro que a ocupação crescente daquela área - e a
conseqüente dispersão da população naquela municipalidade - não tem suas principais razões
na cidade de Petrópolis – portanto, não se deve a uma lógica de suburbanização. Torna-se
plaúsível, então, a hipótese de queestamos assistindo um deslocamento temporária ou
permanente de um segmento da população do Rio de Janeiro (especialmente daquele com
maior poder aquisitivo) com seus próprios motivos e razões. A um nível empírico
(quantitativo) nós podemos esperar que este processo de urbanização ou contra-urbanização
(territorial e populacional) como dispersão criará novas formas de demandas políticas dos
habitantes novos que não cortaram completamente os laços com o Rio de Janeiro. Isso pode
acarretar um possível efeito de fragmentação para a cidade de Petrópolis na medida em que
poderiam surgir, futuramente, conflitos entre uma parte "velha" com certo interesse local uma
parte "nova" com necessidades mais cosmopolitas na medida em que vai se “integrando” (e
contribuindo) cada vez na sociedade urbana e seu padrão dominante de organização
territorial: a utópolis.
O que parece para nós completamente aberta é a pergunta se esta nova organização territorial
- envolvendo pelo menos três municipalidades - criará (e onde) e propagará a urbanidade. As
experiências metropolitanas com condomínios fechados não inspiram muita esperança a este
respeito. O que nós estamos procurando em nossa investigação na municipalidade de
Petrópolis é descobrir tais potencialidades de urbanidade que poderiam insinuar a apropriação
de benefícios de novas informações e tecnologias de comunicação.
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Bibliografia
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BERRY B. (ed): Urbanisation and counterurbanisation, Sage
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Blackwell Publ.
CHAMPION, A.G. (ed) (1989) Counterurbanization – The changing pace and nature of
population deconcentration. Edward, Arnold
LEFEBVRE, H. (1969a) O direito à cidade. In: idem, O direito à cidade. São Paulo: Ed.
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city. In: idem, Writings on cities (selected by E. Kofman and E. Lebas). Oxford,
Cambrigde (Mass.): Blackwell, pp. 147-159)
18
PAWLEY, M. (1997) Towards a digital urbanism. In Telepolis, Ed. H. Heise, Hannover
(online)
RANDOLPH, R. (2003b) City networks or network cities? Challenges for researchers and
planners to understand and manage urban affairs. Trabalho apresentado no Third
Joint Congress ACSP-AESOP, Leuven – Bélgica, 8 – 12 de julho
SOJA, E. (2000) Postmetropolis. Critical studies of cities and regions. Oxford, Malden:
Blackwell
19