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O Peso da Minha Cruz

- por René Burkhardt | 26 de Junho de 2009

Busco. Há muito tempo tenho buscado maior intimidade com o Senhor Jesus. Quantas vezes já
perguntei: “Senhor, que farei para herdar a vida eterna?”. Quantas vezes lutei contra meus
pecados, pensando em atingir tal santidade que permitisse ao Senhor ter comunhão comigo!
Quantas vezes clamei ao Senhor, para que Ele resolvesse meus problemas, a fim de que eu
tivesse condições de fazer a Sua vontade! Quantas vezes condenei o meu próximo por errar,
onde eu estava acertando, ao mesmo tempo em que me escusava por errar, onde ele estava
acertando! Quantas vezes o julguei, por não ser como eu! Quantas vezes o desprezei, por não
ser como eu! Quantas vezes, quantas vezes...

Como é difícil entender a verdade da Palavra do Senhor, que diz: “porque estreita é a porta, e
apertado, o caminho que conduz para a vida...” (Mt 7.14 – grifo meu). Mas, graças a Deus, o
Espírito Santo nos ensina todas as coisas. E, com o passar do tempo, com a evolução dos
acontecimentos, Ele nos mostra que o caminho é apertado para aqueles que não seguem à risca
a orientação de Jesus: “...Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia
tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23 – grifo meu).

NEGAR A SI MESMO

Negar a si mesmo é andar na “contra-mão” do mundo. Enquanto o mundo nos estimula (até
exige) a cuidarmos da nossa aparência, buscarmos o maior conforto possível, satisfazermos
todas as nossas vontades, tentarmos realizar todos os nossos sonhos, usarmos todos os meios
disponíveis para alcançarmos a nossa felicidade, mesmo que isto cause a infelicidade de outros,
o Evangelho nos leva a não nos preocuparmos com aparência, conforto, satisfação de vontades
pessoais, nos leva a abrirmos mão de nossos sonhos em troca de cumprirmos a vontade do Pai,
e nos ensina que o único caminho para a felicidade pessoal é buscar a felicidade de Deus e dos
homens.

Normalmente, pensamos que, ao negarmos a nós mesmos, estaremos entrando em uma vida de
dolorosos sacrifícios, de “pagamento de preços”. Porém, não é isto que acontece na prática.
Como dizia o grande pregador americano do século XIX, Charles Finney, “a felicidade é a
satisfação do desejo”. Quando, verdadeiramente, amamos a Deus e aos homens, o nosso desejo
será o de que eles sejam felizes. Isto quer dizer que, quando eles ficarem felizes,
automaticamente ficaremos satisfeitos e, portanto, felizes também.

Isso acontece quando, por exemplo, um criminoso condenado se entrega ao senhorio de Jesus.
Não importa se tivemos participação nesta conversão, ou não. O que importa é que uma alma foi
resgatada das mãos do inimigo. Esta alma estará feliz pela libertação de seu cativeiro espiritual
e pela possibilidade de encontrar o tesouro que está oculto no campo (ver Mt 13.44). E nosso
Deus Pai também estará feliz, por avistar ao longe o seu filho pródigo voltando. Se amamos a
Deus e ao próximo, ficaremos felizes com a felicidade do criminoso e com a felicidade do nosso
Senhor! Assim, esta é a receita que o Evangelho nos dá, para a nossa felicidade: “amem a Deus
e ao próximo! Deixem que o Senhor acrescente tudo o que for realmente necessário para as
suas vidas”.

Isso nos leva a concluir que, ao invés de “pagarmos um preço”, ao invés de entrarmos em uma
vida de sofrimento, quando dizemos “não” para as nossas vontades, na verdade, estaremos
andando no caminho que nos traz felicidade. Neste caminho, só iremos sofrer quando não
quisermos abrir mão de uma vontade nossa, ao buscarmos a felicidade de Deus e dos homens.
Se eu não abro mão de comer “manjares especiais”, vou sofrer muito ao ofertar meu dinheiro ao
Senhor, porque não vai sobrar o suficiente para eu satisfazer o meu desejo. Se eu não abro mão
de uma programação na televisão, vou sofrer muito ao ter que sair para fazer a obra de Deus,
porque não vou satisfazer meu desejo de assistir meu programa favorito. Se eu não abro mão de
julgar aos outros, vou sofrer muito ao ter que perdoar, porque não vou satisfazer o meu desejo
de que os outros se dêem mal. Se eu não abro mão de contar o segredo de alguém para outra
pessoa, vou sofrer muito ao ser repreendido, porque não vou satisfazer o meu desejo de ser o
“dono da verdade e do conhecimento”. Se eu não abro mão da minha soberba também nas
pequenas coisas, vou sofrer muito ao ser disciplinado pelo Senhor, porque não vou satisfazer o
meu desejo de me assentar acima do Trono de Deus.

TOMAR A PRÓPRIA CRUZ DIA A DIA

E o Senhor me diz que, para O seguir, devo carregar a minha própria cruz, todos os dias. Que
peso insuportável! Olho para o caminho à frente, em direção ao Calvário, e ele parece não ter
fim. Parece que não vou suportar o peso de todas as coisas que formam a minha cruz. O peso
das minhas injustiças para com os outros. O peso da minha soberba impregnada em cada ato
meu: uma soberba que sempre me levou a julgar àqueles que estavam em um estágio mais alto
na fé, ao mesmo tempo que me levava a desprezar aos que eram mais fracos nela; soberba que
sempre me levou a pensar que era o melhor cônjuge do mundo, o melhor pai, o melhor filho, o
melhor estudante, o melhor trabalhador, o melhor amigo, o melhor colega, o melhor cristão, o
melhor em tudo...

É essa soberba que me leva a discutir com os outros, sem considerar nada a favor deles, tão-
somente, que eles estão errados e eu certo. É ela que me leva a não aceitar o arrependimento
de alguém, porque essa pessoa não pode ser mais humilde que eu. É ela que me leva a não
perdoar os erros dos outros, porque eles têm que ser perfeitos como eu. É ela que me leva a
aprovar algo feito por outra pessoa, mas acrescentando que eu faria diferente, para que ficasse
melhor. É ela que me leva a querer cumprir a lei sobre o pecado dos outros, mas exigir a graça
sobre o meu pecado. É ela que me leva a pensar que posso ‘fazer’ alguma coisa para herdar a
vida eterna, ao invés de aceitar o amor e o perdão de Deus, em Cristo Jesus crucificado e
ressurreto, e confiar que o mais Ele fará. É ela que me leva a pensar que posso me santificar,
para que o Senhor Se aproxime de mim. Aceitar a graça é confirmar que sou incapaz de fazer
qualquer coisa que me justifique diante de Deus e isto é contrário ao que me diz a minha
soberba.

Mas, graças a Deus, uma autoridade superior determinou que Simão levasse a cruz de Jesus até
o Calvário (ver Mt 27.32). Da mesma forma, uma autoridade superior, Jesus, determinou que Ele
próprio seria meu companheiro de jugo e dividiria o peso comigo. Mais do que isto, Ele disse que
me aliviaria da minha sobrecarga, se eu tomasse sobre mim o Seu jugo e aprendesse com Ele.
Assim, eu acharia descanso, porque o Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve (Mt 11.28-30).
Aprendendo com Ele, Seu Espírito me purifica dia a dia, através da Sua Palavra, e descubro que
o peso vai sendo arrancado de meus ombros.

Que alívio tremendo é estar chegando de volta à casa de meu Pai e perceber que Ele veio
correndo até mim, antes mesmo que eu chegasse lá. É como um bálsamo sobre uma ferida
sentir o amoroso abraço de nosso Pai Celestial, Seus beijos afetuosos, e Sua imensa alegria por
minha volta à Sua casa. Que paz tremenda eu sinto ao perceber que Ele não quer que eu peça
perdão pelos meus pecados, porque Ele já viu o arrependimento em meu coração, e nem quer
mais que eu fique falando sobre eles. Que alegria eu sinto ao entender que tudo o que Ele mais
quer é ter comunhão comigo, que eu não saia mais de Sua presença. Que felicidade é saber que
Ele considera morto o meu “velho eu” e só Se interessa pelo “novo homem” que o Seu Espírito
está formando em mim, agora.

SEGUIR A JESUS

Ao atender ao chamado de ir a Jesus, tomar sobre mim o Seu jugo e aprender com Ele, todo o
peso da minha cruz está sendo desfeito. Seu Espírito está realmente me aliviando e me fazendo
sentir a leveza de Seu fardo. O Senhor tem, dia a dia, arrancado de mim cada item que pesava
contra mim. Isto me faz pensar que, ao dizer que devemos tomar nossa cruz dia a dia e seguí-
Lo, o Senhor, na verdade, quer que reconheçamos as coisas que pesam sobre nós, para que Ele
possa tratar, consertar, à medida em que concordamos com Ele e em que permitimos sermos
moldados à Sua semelhança.
Seguir ao Senhor é estar consciente de que serei transformado todos os dias, até alcançar a
perfeição de santidade que me permitirá ver ao Pai. É estar consciente de que em meus dias,
aqui na terra, posso não ter nem onde reclinar minha cabeça. É estar consciente de que o
mundo será contra mim e, mesmo assim, posso me animar, porque o Senhor venceu o mundo. É
estar consciente de que posso passar por inúmeras privações, porém, o Senhor estará comigo e
nada vai me separar do Seu amor. Seguir ao Senhor é não pensar mais em vantagens para a
minha vida, porque já não sou mais eu que vivo, mas Cristo vive em mim. Seguir ao Senhor é
andar no caminho apertado, aquele caminho onde não cabe nenhuma dessas nossas vontades.

Seguir ao Senhor me faz não pensar mais no peso da minha cruz, nem pensar no conforto e na
segurança para mim mesmo. Eu O sigo com a certeza de que a minha vida é o despojo
suficiente para mim, porque Ele sabe tudo o que é necessário para que Seu propósito se cumpra
em mim, sem a necessidade (muito menos, a possibilidade) de que eu O dirija. Me alegro com
Suas palavras: “Pois certamente te salvarei, e não cairás à espada, porque a tua vida te será
como despojo, porquanto confiaste em mim” (Jr 39.18). Amém!

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