Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PAULO H SÁBADO
19 DE SETEMBRO DE 2009
PNAD
MERCADO DE TRABALHO TEM EMPREGO E RENDA EM ALTA
Taxa de desemprego Rendimento médio do trabalhador
EM PORCENTAGEM EM REAIS
926
PERFIL – Pardos
e pretos formam
maioria absoluta
da população
PNAD
Crescimento do POR
KEINY ANDRADE/AE
emprego formal é
o maior desde 2001
População ocupada aumentou 2,8% em um ano, o que
significa 2,5 milhões de brasileiros a mais com emprego
1,0
Entrevista
Sérgio Besserman: ex-presidente do IBGE
PNAD
Escolarização sobe para 97,5%
Aumenta o número de alunos de 6 a 14 anos matriculados em escolas em todas as regiões do País
ALBERTO CESAR ARAUJO/AE
Bolsa-Família
fez Anne entrar
logo na escola
●● ● A sorte de Anne Gabrielle
IDADE CORRETA
11 anos ou + 27,9 29,6 11 anos ou + 31,9 33,4
trado entre os mais velhos. En-
quanto os jovens de 15 a 17 anos
21,0% 15,9%
Sul
Para técnicos do IBGE, porém, e de 17 a 24 mantiveram os índi- 16,7%
orecuonessasfaixasnãoénega- 15,8%
ces de um ano para o outro –
Obs.: Analfabeto funcional é a
tivo:osbrasileirosestariampas- 1,7% e 2,2%, respectivamente –, pessoa que reconhece as letras 16,2%
2007 2008 2007 2008
sando a frequentar a escola nas mas não entende o que lê
nogrupode18oumaissemante-
FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
faixas etárias “corretas”. ve acima de 10%, recuando de FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
O processo explicaria o cres- comumvalordado à escola que, tual. Nordeste e Sul vieram em 10,7% para 10,6%. Entre os pes- mento entre os homens (4,8% os mais velhos porque “o bai-
cimentoda proporçãode matrí- no passado, não existia. “Você seguida,comavançode0,5 pon- quisados com idade de 25 anos para 4,9%) e estabilidade entre xoníveldeinstruçãodapopu-
culas de mais jovens – que per- vê, em qualquer lugar do País, to (de 96,8% para 97,3% e de ou mais, embora tenha havido as mulheres (5,8%). lação que hoje é mais idosa e,
maneceriam mais tempo no en- mandarem as crianças para a 97% para 97,5%, respectiva- queda, concentra-se a maior Outra região onde houve al- no passado, quando jovem,
sino – e redução na de alunos escola.” Também destaca que mente). No Sudeste, o incre- proporção de brasileiros que ta foi a Centro-Oeste, de 7,3% eraanalfabeta, continuapre-
mais velhos (já que menos estu- algumasações do governofede- mento foi de 0,4 ponto porcen- nãosabem ler nem escrever.De para7,4%l.NoSuldoPaís,oqua- sente na população brasilei-
dantes entrariam nas faculda- ral ajudam a manter as crian- tual(97,7%para98,1%)enoCen- 12,6% em 2007, passou para dro ficou estável: em 2007 e ra.”
des depois do tempo “correto”). ças na sala de aula. “A despesa tro-Oeste foi de 96,9% para 12,4% em 2008. 2008, 5% dos habitantes se dis- AprofessoraPatríciaCur-
“Só vou entender a queda do paramanterofilhonaescolapú- 97,1% apenas 0,2 ponto. Uma surpresa negativa foi a seram analfabetos. Mas houve sino,daFaculdade deEduca-
trabalho infantil se eu entender blica hoje é pequena”, afirmou . Cinco outros Estados apre- Região Sudeste, onde o analfa- trocade posições:oshomensfo- ção da Universidade Federal
os avanços da educação”, disse “E o Bolsa-Família pode até ser sentaramreduçãonataxadees- betismo aumentou, de 5,3% pa- ram de 4,5% para 4,7%, e as mu- do Rio de Janeiro (UFRJ)
o presidente do IBGE, Eduardo questionado, mas, para recebê- colarização de estudantes de ra 5,4%. A variação ocorreu na lheres de 5,5% para 5,4%. acha que há duas questões a
Pereira Nunes. “Vou medir es- lo,o alunoprecisaestar naesco- 2007 para 2008. O maior recuo faixa mais jovem, de 10 a 14 O presidente do IBGE, serem consideradas. “Pri-
se avanço por meio do aumento la.” foiemRoraima,de1,3pontopor- anos, na qual a proporção de EduardoPereira Nunes, ressal- meiro, o próprio conceito de
da taxa de escolaridade da po- centual, de 97% para 95,7%. Em analfabetos foi de 0,9% para tou que a queda no analfabetis- analfabetismo”, disse. “E há
pulação em idade escolar.” AUMENTO seguida,apareceuSantaCatari- 1,3%, e no grupo de 18 anos ou mo tem se dado predominante- um resíduo de analfabetis-
Para a professora Patrícia Em todas as regiões, houve in- na, com queda de 1,2 ponto no mais, de 6,1% para 6,2%. Na de mente nas faixas mais jovens e mo adulto.” Embora tenha
Cursino, da Faculdade de Edu- cremento da escolarização dos indicador, que passou de 98,4% 15 a 17 caiu (0,8% para 0,7%) e nas regiões mais pobres, como conseguido avanços, a re-
cação da Universidade Federal jovens de 6 a 14 anos. O melhor para 97,2%. Depois, vêm Ala- nas demais se manteve em 5,8% o Nordeste, com programas de gião com maior proporção
do Rio de Janeiro (UFRJ), há no índice foi o do Norte, de 95,1% goas, Goiás, Pernambuco e Rio (15 anos ou mais) e 7,1% (25 anos educação. Mas a taxa de analfa- de analfabetos é o Nordeste,
Brasil mudanças culturais, para 96,1%, um ponto porcen- Grande do Norte. ● ou mais). Por sexo, houve au- betismo permanece alta entre com 17,7%. ● W. T.
ENTREVISTA
PNAD
KEINY ANDRADE/AE
367 mil
crianças
deixaram de
trabalhar
Queda do indicador é relacionada a
programas como o Bolsa-Família
10,2%
famílias mais pobres. balho no Brasil, Hélio Zylbers-
Em2006,onúmerodemeno- Para a professora Rosana 8,0% tajn afirma que a redução da
res de idade que trabalhavam Morgado, da Escola de Serviço taxa de desemprego e a redu-
chegou a 5,1 milhões. Desde en- Social da Universidade Federal 7,9% ção da desigualdade são frutos
13,6% 11,9% Sul
tão, tem caído, ressaltam técni- do Rio de Janeiro (UFRJ), em- do aumento da escolarização
cos do instituto de pesquisas. bora tenha havido redução em da população. “Essa Pnad mos-
“Erade seesperarquea velo- termosnacionais, orecuoprati- 16 e 17 anos 34,7 33,6 tra que mesmo os trabalhado-
cidade de queda fosse maior”, camente não ocorreu entre os res menos qualificados estão
disse o presidente do IBGE, mais jovens, na faixa de 5 a 9 sendo incluídos no mercado de
Eduardo Pereira Nunes. “Em anos. “O que é importante é de- trabalho”, diz o Zylberstajn.
regiõescujonívelderenda éme- sagregar (o indicador) por fai- Taxa de escolarização Rendimento Porcentual Veja os principais trechos da
nor, a possibilidade de contar xas etárias e por regiões onde da população ocupada médio mensal de não entrevista ao Estado.
com alternativas para essas há mais incidência ou onde caiu de 5 a 17 anos, em 2008 do trabalho remuneração
crianças ainda é muito peque-
na. Mas, se olharmos a Região
menos”, afirma ela, que defen-
deaadoçãodepolíticasespecífi- 2007 2008
81,9% R$ 269 32,3% Caiu o desemprego, porém a ren-
da média está crescendo em um
Nordeste, é justamente lá onde cas para reduzir o trabalho in- ritmo menos acelerado. O que isso
mais aumenta a entrada de fantil dos mais jovens. FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE significa?
crianças na escola”, observou. “É preciso pensar estraté- res trabalhando na área forma- queda do trabalho infantil foi no que, em 2008, 35,5% das pes- É uma boa notícia. É sinal de
Para o gerente da Pesquisa gias que possibilitem acelerar da por Goiás, Mato Grosso, Ma- Sul, de 13,6% para 11,9%, 1,7 pon- soas de 5 a 17 anos trabalha- que as pessoas que estão en-
Mensal de Emprego (PME), Ci- esse investimento na redução to Grosso do Sul, Rondônia e toporcentualmenos.Mesmoas- vam em atividades agríco- trando no mercado de traba-
marAzeredo,ascondicionalida- (do trabalho infantil). Deveria Distrito Federal cresceu de 311 sim, Rio Grande do Sul, Santa las,e51,6%,eramtrabalhado- lho estão depreciando a média.
des do Programa Bolsa-Famí- haverumolharmaisdirigidopa- mil para 329 mil pessoas, mais Catarina e Paraná ainda ti- res domésticos ou emprega- Isso quer dizer que a base da
lia, que exige a frequência esco- ra a faixa de 5 a 9 anos.” 18 mil. Nas demais, porém, a nham a segunda maior propor- dos. A média de trabalho era pirâmide social, as pessoas
lar de crianças para ser pago, proporção de jovens no traba- ção de jovens no trabalho. Para 26,8 horas semanais. com menor qualificação estão
“sem dúvida” contribuíram pa- FORA DA CURVA lho caiu – mesmo nas pobres o IBGE, trata-se de uma ques- Na faixa de 5 a 13 anos, sendo incluídas, pois o merca-
ra a redução o indicador, além A exceção na tendência de que- Norte (de 11,2% para 10,3%, me- tão cultural: pais que trabalha- 60,9%nãotinhamremunera- do está se expandindo. Então,
do cenário econômico bom, an- da no trabalho infantil ocorreu nos0,9pontoporcentual)eNor- ram quando jovens e conside- ção. Só 9,7% dos emprega- as pessoas que não tinham
terior à crise. na Região Centro-Oeste, onde o deste (13,4% para 12,3%, menos ramimportantequeos filhos fa- dosou trabalhadoresdomés- chance estão sendo incluídas.
“A queda no trabalho infan- problema subiu de 9,7% para 1,1 ponto porcentual). çam o mesmo agora, sobretudo ticos de 14 a 17 anos – quando A renda média diminui porque
til tem sido gradual ao longo do 10,2% de trabalhadores de 5 a 17 O rico Sudeste brasileiro fi- ajudandosuasfamíliasnotraba- menorespodemtrabalharle- as pessoas que antes não ti-
tempo, é persistente”, afirmou. anos em 2008. De um anopara o cou estável no indicador, pas- lho no campo. galmente – tinham carteira nham emprego estão conse-
Em termos nacionais, a que- outro, o contingente de meno- sando de 8% para 7,9%. A maior O IBGE também apurou de trabalho assinada. ● guindo uma colocação. Mesmo
que o salário seja baixo. Outra
boa notícia é o crescimento de
SERGIO NEVES/AE quase 3% na força de trabalho.
PNAD
Conexão com internet cresce.
Rede de esgotos fica estagnada
Serviço de coleta de esgoto no País avançou 1,4%; o acesso à rede mundial de computadores, 3,8%
TIAGO QUEIROZ/AE
2007 2008
Em termos proporcionais, no
ano passado a ligação dos lares Fossa séptica 22,3 20,7
brasileiros à internet cresceu
em ritmo maior que sua cone-
xão às redes de recolhimento
de esgoto, segundo apontou a Coleta de lixo 87,3 87,9
Pnad2008.Enquantoonúmero
de residências ligadas à web
passou de 20% para 23,8%
(mais 3,8 pontos porcentuais)
Energia elétrica 98,2 98,6
de 2007 para 2008, o número de
casas com esgoto coletado su-
biu apenas 1,4 ponto. Com uma Telefone 76,8 82,1
peculiaridade: na Região Nor-
te, reduziu-se em 0,5 ponto por-
centual (de 10% para 9,5%) a
proporção de lares conectados FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
ao esgotamento e cresceu 5,5 tro lares brasileiros não tem ne- qualidade desse crescimento.”
pontos a proporção de domicí- nhum tipo de recolhimento do As baixas proporções de co-
lios servidos por fossa séptica – material de esgoto, provavel- nexão às redes de esgoto e o
mais 308 mil de um ano para o mente poluindo cursos d’água e grande número de residências
outro. A região tinha ainda 1,6 contribuindo para doenças, co- sem nenhum recolhimento pa-
milhão de casas sem nenhum ti- mo gastroenterites, que pio- ra seus dejetos contrastam
po de recolhimento dos dejetos. ram os índices de mortalidade com as redes de fornecimento
“Foi um crescimento muito infantil. de água, com abrangência aci-
mixuruca”,afirmouaeconomis- A economista atribuiu a len- ma de 80% no Brasil. A pesqui-
ta Amarilis Romano, analista ta expansão na cobertura do sa apontou que o porcentual de
de saneamento da consultoria serviço de coleta e tratamento casas ligadas à rede geral de
Tendências, ao comentar a ex- deesgoto, principalmente,à de- abastecimento (83,9%) cresceu
pansão da coleta de esgoto. mora na elaboração do marco 0,7 ponto ou 1,9 milhão em rela-
Segundo a Pnad, em 2008 o regulatório do setor. “A ques- çãoa 2007.No Nordeste,o cres-
Brasil tinha 30,2 milhões domi- cimento foi de 2,3 pontos per-
cíliosconectados àsredes dees- centuais, ou mais 770 mil domi-
goto – eram 28,4 milhões no ano ‘A questão básica é cílios.
anterior.Aindaassim,apropor- Nomesmo período, houve re-
ção de casas com ligação às re- que a regulação dução no abastecimento de
des de esgoto permaneceu pou- é relativamente água de outras fontes - rios e
co além da metade. Em 2007, recente’ poços, por exemplo – cuja pro-
era 51,1%; em 2008, chegou a porção, porém, se manteve al-
52,5%. Houve queda, de um ano ta. Em 2007, eram 9,3 milhões
para o outro, na proporção de tão básica é que a regulação é (16,8%) de residências, passan-
domicílios que usavam fossas relativamente recente, de do para 9,2 milhões em 2008
sépticas. Eram 22,3% (12,4 mi- 2007. Levou anos para ser ela- (16,1%). A Região Norte, contu-
lhões) e passaram para 20,7% boradaeaindanão estácomple- do,manteveasualiderançanes-
(11,9 milhões). tamente resolvida. Falta defi- se item, passando de 43,7% dos
Houve, porém, crescimento nir a questão da titularidade.” domicílios em 2007 para 41,7%
(nominaleproporcional)nasre- Amarilis argumentou que, no ano passado. Já o Sudeste
sidências que não dispunham mesmo após a instituição das continuoucoma menor propor-
nem de ligação às redes coleto- normas, ainda vai demorar pa- ção de casas com esse abasteci-
ras, nem de fossas, para desti- ra que haja ampliação da oferta mento: de 8,4% para 8,2%
nar os seus dejetos. De 14,8 mi- do serviço, investimento bas- Houve expansão – de 0,6 pon-
lhões de residências (26,6%) tanteoneroso.“Dequalquerfor- to porcentual sobre 2007 – para
com essa característica em ma, acho que podemos esperar 87,9% no número de domicílios
2007, passou-se para 15,4 mi- números sempre positivos da- comcoleta de lixo,mais50,6 mi-
lhões (26,8%) em 2008. Ou seja, qui para adiante. A indefinição lhões. ●
pouco mais de um em cada qua- CENÁRIO – Esgoto é despejado em córrego em São Paulo: no País, só 52,5% das casas têm rede de esgoto ainda é quanto à velocidade e COLABOROU IRANY TEREZA
2007 2008
ainda é lento porque, mesmo
com a isenção fiscal e a queda
de preços dos últimos anos, os
microcomputadores conti-
PNAD
FABIO MOTTA/AE
Pretos e pardos
já são maioria
absoluta no País
Participação de negros e brancos na população caiu,
enquanto as de mestiços, amarelos e índios aumentou
UM PAÍS MULTIRRACIAL
POPULAÇÃO BRASILEIRA, EM MILHÕES ‘Brasil é
Total mestiço e
189,953 multicolorido’
●● ● Nem preto, nem pardo,
Wilson Tosta
92,433 97,520 lorido”. Essa é o resultado de
uma rápida enquete feita on-
tem pelo ‘Estado’ no centro do
RIO Extrato por cor Rio, com 12 pessoas. Ao se-
A Pnad 2008 apontou que no 2007 20 rem informadas sobre a pes-
20 0
8 7,5% 6, 08
ano passado, pela primeira vez, 07 48 ,
4% 8% quisa do IBGE indicando que
20 20
mais da metade da população ,2 % PRETA
42 07 50,6% da população é consti-
49
brasileira – 50,6% dos habi- L: 12,987 ,5 tuída de pretos e pardos, os
TA
43
08 %
ÃO
PARDA
“Não diria que o Bra-
BRANCA
lações negra e branca sil é preto, pardo ou
no total de brasileiros
recuou, enquanto as de
92,003 83,196 branco. É multicolorido,
PARTI
ENTREVISTA
Demétrio Magnoli: doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP