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O ESTADO DE S.

PAULO H SÁBADO
19 DE SETEMBRO DE 2009

PNAD
MERCADO DE TRABALHO TEM EMPREGO E RENDA EM ALTA
Taxa de desemprego Rendimento médio do trabalhador
EM PORCENTAGEM EM REAIS

9,6 9,7 1.074


9,3
9,1
9,4 1.041
9,0
1.024
998
9,0 8,5 985 994
8,2 959

926

7,2 888 887


PESQUISA NACIONAL POR 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 2008 Obs.: Em 2000 não foi realizada Pnad


FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE

Crise econômica pega o Brasil no


auge do ciclo de avanços sociais
IBGE aponta queda na desigualdade e no desemprego e aumento da renda, embora ainda abaixo do nível de 1998
FABIO MOTTA/AE

PERFIL – Pardos
e pretos formam
maioria absoluta
da população

Fernando Dantas o nível médio de renda de todos ANÁLISE EDUCAÇÃO


Wilson Tosta os grupos da população cres- Na educação, a Pnad mostra o
ceu”, afirmou o presidente do aumento de 97% para 97,5% na
RIO
IBGE, Eduardo Pereira Nunes. Uma crise na hora certa e um susto de US$ 40 bilhões proporção de crianças e adoles-
Último retrato do Brasil antes centesde6a14anosfrequentan-
do aprofundamento da crise DESEMPREGO Rui Nogueira pletou o raciocínio admitindo que das reuniões do G-20 e do FMI, do a escola, dado que se conjuga
mundial, em setembro do ano Na Pnad 2008, a taxa de desem- estava difícil conciliar a demanda Lula mandou pegar um jatinho e com a queda no trabalho infan-
passado, a Pesquisa Nacional prego de 7,1% registra a maior ●●● A Pesquisa Nacional por Amos- por infraestrutura com o cresci- voltar correndo para Brasília. til – de 2007 para 2008, quase
por Amostra de Domicílios baixa desde 2001 (na realidade, tra de Domicílios (Pnad) expôs o mento econômico acelerado – Um mês depois da crise, quan- 400 mil jovens de 5 a 17 anos
(Pnad) de 2008 mostra o País desde 1996, mas aí é preciso excepcional ritmo de crescimento com o PIB podendo dar um pulo do o BC já havia contabilizado o deixaram de trabalhar. Nos
no auge de uma fase de avanços usar a taxa sem a zona rural da do Brasil pré-crise, vai deixar o de 7% ao final de 2008. tombo das grandes empresas ex- dois casos, porém, os índices se
de quase cinco anos. Houve re- Região Norte, que em 2008 foi presidente Lula eleitoralmente “Lula é tão sortudo que ga- portadoras com os derivativos, mostraramcomdistorçõesede-
corde na criação de empregos de7,2%). Além disso, oaumento ainda mais eufórico, mas também nhou uma crise na hora certa para Meirelles botou na mesa uma con- sigualdades.
formaise continuidadenaredu- do número de carteiras assina- ajuda a explicar os temores do escapar de um apagão”, relatou ta na casa dos US$ 40 bilhões e a Em seis Estados – Roraima,
çãoda desigualdade,no aumen- das foi de 2,1 milhões, ou 7,1%, e governo por trás da blague da um dos ministros mais próximos certeza de que, se o BC não agis- Santa Catarina, Pernambuco,
to da escolarização de jovens e há um grande aumento tanto “marolinha”. A verdade é que Lu- do presidente ao contar ao ‘Esta- se fornecendo a necessária enxur- Alagoas, Goiás e Rio Grande do
na redução do trabalho infantil. da população economicamente la temeu, antes da crise, que o do’ a reunião em que Lula disse rada de dólares, parte do sistema Norte –, houve redução na pro-
Masa amostra tambémreve- ativa quanto da população ocu- crescimento ficasse entalado no reservadamente o que não admite financeiro e as empresas iam à porção de jovens matriculados
la problemas. Caiu o ritmo de pada – neste último caso, de 2,5 gargalo da infraestrutura. E te- em público. lona. Algumas exportadoras ha- na escola. E o trabalho dos mais
reduçãodadesigualdadederen- milhões, ou 2,8%. meu, depois do estouro brutal da O presidente está festejando viam jogado nos derivativos a pro- jovens,com idadesde 5 a 9anos,
da do trabalho. Houve pouco A renda média, por sua vez, crise, em setembro de 2008, que agora a previsão da “marolinha”, dução e lucro de até quatro anos. passou de 1% para 0,9% de um
avanço na redução do analfabe- prossegue no processo de ex- meia dúzia de empresas brasilei- mas o Brasil também esteve à bei- Sim, quatro anos. ano para o outro. “Não caiu na-
tismo – a taxa até subiu na Re- pansão iniciado em 2004, e a de- ras, grandes exportadoras, acen- ra de enfrentar uma crise financei- O presidente Lula tremeu e da”, criticou a professora Rosa-
gião Sudeste. Em alguns Esta- sigualdade cai pelo sexto ano dessem o rastilho de uma grave ra gravíssima. Na primeira semana suou. Oficialmente, Mantega e Mei- naMorgado,daEscolade Servi-
dos, houve queda na proporção consecutivo (e até pelo décimo, crise financeira. de outubro, quando Meirelles e o relles voltaram para Brasília, na- çoSocialdaUniversidadeFede-
de crianças matriculadas na es- no caso da renda domiciliar), Em uma reunião com assesso- ministro da Fazenda, Guido Mante- quele dia 9 de outubro de 2008, ral do Rio de Janeiro (UFRJ).
cola. E, embora a renda tenha mas ainda não foi o suficiente res, Lula confessou o primeiro te- ga, já estavam em São Paulo, e se porque Lula precisou “dar orienta- A pesquisa também revela a
crescido mais uma vez, como para fazer o trabalhador brasi- mor. O presidente disse que a cri- preparavam para embarcar rumo ções” sobre como eles deveriam continuidadedoprocessodeen-
ocorre desde 2005, o trabalha- leiro retornar ao nível alcança- se “chegara em boa hora”. E com- a Washington, onde participariam agir nas reuniões dos EUA. ● velhecimentodapopulaçãobra-
dor ainda ganha, em média, me- do em 1998. Na renda do traba- sileira, acelerado pela contínua
nos do que em 1998. lho, há uma desaceleração no queda da taxa de fecundidade,
A sondagem, divulgada on- ritmo de crescimento e de que- uma melhora generalizada na de distribuição do conheci- que saiu de 1,95 filhos por mu-
tem pelo Instituto Brasileiro de da da desigualdade, na compa- qual os pobres ganharam ainda mento”, comenta. ●● ● A Pnad é o mais amplo le- lherem2007 para1,89em 2008.
Geografia e Estatística (IBGE), ração com 2007 e outros anos mais que os outros”, diz, ressal- Segundo os cálculos de Mar- vantamento sobre a realidade A Pnad foi a campo em setem-
também informa que, pela pri- precedentes. tando que ainda não analisou os celo Neri, diretor do Centro de do País. Apura características bro do ano passado, mês do co-
meira vez, a soma de pardos e O pesquisador Ricardo Paes dados de forma aprofundada. Políticas Sociais (CPS) da Fun- domiciliares em relação ao lapso do Lehman Brothers, que
pretos já representa a maioria de Barros, do Instituto de Pes- Ex-presidente do IBGE, o dação Getúlio Vargas (FGV), a acesso a bens e serviços, edu- deflagrou o pior da crise mun-
absoluta da população (50,6%), quisa Econômica Aplicada economista Sérgio Besser- pobreza caiu 12,07% em 2008, cação, trabalho e renda. Tudo dial. Mas os 2,5 mil pesquisado-
mas caiu tanto a parcela de bra- (Ipea),ficouanimado com osre- man constata que a Pnad 2008 para um nível de 16,02% da po- associado a aspectos demo- res, que ouviram 391 mil pes-
sileiros que se assumem como sultados. “A primeira impres- reflete “o pico de um ciclo que pulação. A queda foi um pouco gráficos, como fluxo migrató- soas em 150 mil domicílios, não
negros quanto a de brancos. são é boa: a desigualdade cai, a acabou com a crise”. E ponde- acima da redução média anual rio e taxa de natalidade. Em captaram os efeitos da crise,
“A desigualdade continua renda sobe, o desemprego cai, a ra que o avanço econômico, pu- desde 2003, de 10,6%. Em 2003, 2008, dois mil pesquisadores que só começaram a ser senti-
caindo. A velocidade, como já participaçãonomercado detra- ro e simples, não garante me- a pobreza atingia 28,05% da po- entrevistaram 391.868 pes- dos na economia real em mea-
se esperava, não manteve o rit- balho sobe; parece ser tudo o lhorias na desigualdade. “Fal- pulação,deacordo comoscrité- soas em 150.591 domicílios. dos do último trimestre do ano
mo em que se encontrava, mas que todo mundo pediu a Deus, ta uma política estruturante rios do CPS. passado. ●
7 8 9 10 11 12
H2 ESPECIAL SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S.PAULO

PNAD
Crescimento do POR
KEINY ANDRADE/AE

emprego formal é
o maior desde 2001
População ocupada aumentou 2,8% em um ano, o que
significa 2,5 milhões de brasileiros a mais com emprego

UM PAÍS MENOS DESIGUAL


Distribuição de renda melhora, mas ainda é ruim, segundo Índice de Gini
O ÍNDICE DE GINI VARIA DE 0 A 1

1,0

Desigualdade Social O ÍNDICE MAIS


PERTO DE 1
SIGNIFICA UMA
DISTRIBUIÇÃO 0,567
MAIS DESIGUAL 0,560
Fernando Dantas 0,558
0,553
RIO 0,545
0,535
0,532 0,528
O maior aumento desde pelo 0,521
menos 2001 dos empregos com O ÍNDICE MAIS
carteira assinada, com alta de PERTO DE 0
SIGNIFICA UMA
7,1%, ou de 2,1 milhões de pes- DISTRIBUIÇÃO 0,515 ‘Nunca vi tanta oferta de trabalho’
soas, e a mais baixa taxa de de- MAIS JUSTA
semprego desde 1996 são os da- ●●● Em 12 anos de trabalho na construção civil, o mes- gena Xucuru, município de Pesqueira, em Pernambu-
dos mais impressionantes do tre de obras José Ferreira da Silva, conhecido como co, Silva chegou a São Paulo em 1997. Hoje comanda
mercadodetrabalho daPesqui- 0 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Índio, de 38 anos, nunca viu tanta oferta de emprego uma equipe de 100 operários na construção
Obs.: Em 2000 não foi realizada Pnad
saNacional porAmostrade Do- FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
como nos últimos quatro anos. Natural da tribo indí- de um condomínio com 3 prédios de 16 andares.
micílios (Pnad) de 2008.
“Em 2008, a carteira de tra- ponto porcentual em relação de41,5%para 42,3%. Umdes-
balho foi o grande diferencial, o
quetema vercomocenárioeco-
nômico e o aperto paulatino da
aos 33,1% de 2007.
Azeredo notou que o aumen-
to das carteiras assinadas che-
taque da Pnad 2008 foi o se-
tor da construção, no qual o
número de trabalhadores
Renda é menor que a de 1998
fiscalização desde 2004”, co- ga perto do crescimento da po- passou de 6,7% do total da
mentou Cimar Azeredo, geren-
te da Pesquisa Mensal de Em-
pulação ocupada. Embora nem
todanovacarteiraassinadacor-
economia para 7,5%. Esse
crescimento,de14,1%,signifi-
Desigualdade segue em queda, mas cai mais devagar
prego(PME)doInstitutoBrasi- responda a um novo emprego, cou a criação de 900 mil no-
leiro de Geografia e Estatística já que pode se tratar simples- vos postos de trabalho.
(IBGE). mente da formalização de um Outro dado positivo da RIO NÚMEROS de 0,515 de 2008, numa melho-
O desemprego na Pnad 2008 posto já existente, a proximida- Pnad 2008 foi o crescimento ra de 0,052 ponto porcentual.
ficou em 7,2% (na série compa-
rável com anos anteriores a
2004, e que exclui a zona rural
de dos dois aumentos indica
que o mercado de trabalho for-
maldeu a tônicada expansãodo
do grupo de pessoas ocupa-
das com 11 anos ou mais de
estudo (ensino médio com-
A renda continuou a subir e a
desigualdade a cair em 2008,
masorendimento médiodo tra-
R$ 1.968 foi
o rendimento médio mensal dos
A proporção dos 50% mais
pobres na renda total subiu de
14%, em 1998, para 17,6% em
da Região Norte, que só entrou mercado de trabalho registra- pleto para cima), que passou balho, que ficou em R$ 1.041 em domícilios brasileiros em 2008, 2008, enquanto a dos 10% mais
na pesquisa naquele ano), ante da pela Pnad 2008. de 39% do total em 2007 para 2008 (na série sem a região ru- um crescimento de 2,8% ante os ricos recuou no mesmo período
7% em 1996, o menor da série, e Já o número de postos de tra- 41,2% em 2008, chegando a ral do Norte, e que é compará- R$ 1.915 de 2007 de 46,5% para 42,7%.
com uma queda de um ponto
porcentual em relação ao nível
de8,2%daPnadde 2007.Acom-
balho sem carteira assinada ou
porcontaprópriacaiu,respecti-
vamente, de 21% para 20% do
38,1milhões de pessoas. Nor-
te e Nordeste – que, entre as
regiões, têm o menor núme-
vel com anos anteriores a
2004),ainda é inferiora de 1998,
que foi de R$ 1.074.
1,4% havia sido
o crescimento da renda
A elevação do rendimento
médio real do trabalho em
2008, de acordo com a Pnad,
paração não inclui 2000, ano de total, e de 17,3% para 17,2%, en- ro de trabalhadores no gru- Em 2008, houve também um domiciliar em 2007 ocorreu em todos os segmentos
Censo Demográfico, no qual tre as Pnads de 2007 e de 2008. po com 11 anos ou mais de es- descompasso entre os rendi- da pirâmide de rendimentos. A
não foi realizada a Pnad. Na sé- Em outra mostra do lento e gra- tudo – registraram o maior mentos do trabalho e dos domi- tendência geral, porém, foi a de
rieque inclui a zona rural da Re- aumento desse contingente cílios. Enquanto as melhoras no quisas de 2005 e 2006, de4,9% e osmais pobresterem aumentos
gião Norte, que só existe a par- na Pnad 2008. No total dos ganho do trabalhador mostra- 7,6%. proporcionalmente maiores do
tir de 2004, o desemprego na Aumento de postos ocupados, 8,4% eram sem ram uma desaceleração ante Na distribuição de renda, o que os mais ricos. Assim, en-
Pnad 2008 foi de 7,1%.Por ques- instrução ou com apenas um 2007, os avanços na renda das índice de Gini (que varia de zero quanto os 10% mais pobres tive-
tões técnicas, não há números formais dá a tônica ano de estudo, 9,3% tinham famílias continuaram aproxi- aum, numa ordemcrescentede ram um aumento da renda mé-
perfeitamente comparáveis de da expansão do de um a três anos de estudo, madamente no mesmo ritmo. desigualdade) do rendimento dia real do trabalho de 4,3%,
aumento de carteiras assina- mercado de trabalho 23,6% de quatro a sete, e Pesquisadores explicam que médio do trabalho foi de 0,521, saindo de R$ 117 para R$ 122, o
das antes de 2001. 17,3% de oito a dez. a diferença entre o desempe- caindo 0,007 ponto porcentual avanço dos 10% mais ricos foi de
A Pnad 2008 também regis- nho da renda dos domicílios e ante o indicador de 0,528 de 0,4%,deR$4.429paraR$4.446.
trou um grande aumento da po- dual aumento da formalização RENDA do trabalho é possível, já que a 2007. Esta queda foi inferior à Em termos regionais, o Cen-
pulação ocupada, de 2,5 mi- no mercado de trabalho, os tra- A renda continuou a crescer primeiraincluitodososbrasilei- da Pnad de 2007, de 0,013 ponto tro-Oeste teve em 2008 a maior
lhões, ou 2,8%, o que a levou pa- balhadores sem carteira e por em 2008, mas os rendimen- ros,econtabilizatambémtrans- porcentual. Já na renda média rendamédiadotrabalhodoBra-
ra 92,4 milhões. Esse aumento conta própria registram queda tos do trabalho, que tiveram ferências,aluguéis,aposentado- dos domicílios, a queda do Gini sil, de R$ 1.261, enquanto a me-
foi maior do que o da população na sua participação desde expansãomenordoquearen- rias e aplicações financeiras. Já em 2008 foi de 0,006 ponto por- nor foi a do Nordeste, com R$
em idade ativa (PIA), que cres- 2004, quando representavam da domiciliar, ainda estão renda do trabalho representa o centual,de 0,521para0,515,pra- 685. A renda média do Centro-
ceu 1,7%, para 160,6 milhões. O respectivamente 22,3% e 18,4%. abaixo do nível de 1998. grupodaspessoasqueestãoem- ticamente igual ao recuo de Oeste é bastante influenciada
crescimento da população ocu- No trabalho doméstico, porém, Em setembro do ano pas- pregadas. 0,007 na Pnad de 2007. pelo alto nível de ganhos no Dis-
pada superior ao da PIA signifi- a Pnad 2008 revelou um recuo, sado, mêsem que a Pnad foi a “A renda do domicílio capta Apesardo menorritmo dare- trito Federal, cuja renda média
ca que houve uma ampliação da com o número de trabalhado- campo, o rendimento médio melhor a melhora social dos dução da desigualdade em em 2008, de R$ 2.117, é o dobro
participaçãonomercado detra- res sem carteira nesse segmen- mensal de todos os trabalhos mais pobres”, diz Marcelo Neri, 2008 na renda do trabalho, o da nacional, de R$ 1.036.
balho (nível de ocupação), de to subindo de 72,7%, em 2007, das pessoas ocupadas e com diretor do Centro de Políticas ano passado é mais um numa Nas regiões com os piores ín-
57% em 2007 para 57,5% em para 73,1% no ano. Em 2001, renda, de dez anos ou mais, Sociais (CPS) da Fundação Ge- longa série de melhoras conse- dices de Gini, o Nordeste e o
2008. eles eram 73,9% do total. atingiu R$ 1.036, com um au- túlio Vargas (FGV) no Rio. cutivas. O índice de Gini do ren- Centro-Oeste, a desigualdade
Com o aumento de 2,1 mi- Entre os setores da econo- mento de 1,7% ante 2007, O rendimento médio dos do- dimento médio do trabalho caiu da renda do trabalho parou de
lhõesnonúmerodecarteirasas- mia, a Pnad 2008 revelou uma quando foi de R$ 1.019,00.Na micíliosfoi deR$ 1.968 em 2008, 0,042 ponto porcentual desde cair. No primeiro caso, o Gini
sinadas (que exclui emprega- queda de um ponto porcentual, série que exclui a zona rural comumcrescimentode2,8%an- 2002, quando atingiu o pico teve uma queda de apenas
dos domésticos), o total desse de 18,4% para 17,4%, nos postos daRegião Norte, a rendamé- te os R$ 1.915 de 2007. O avanço mais recente, de 0,572. O Gini 0,001 ponto porcentual, de
grupo subiu para o recorde his- de trabalho agrícolas. A indús- dia do trabalho em 2008 foi foi maior do que o da Pnad de do rendimento domiciliar, por 0,547 para 0,546; e, no Centro-
tórico de 34,5% da força de tra- tria ficou praticamente estável, de R$ 1.041, ainda inferior 2007, que registrou alta de sua vez, recuou do pico recente Oeste, o índice permaneceu no
balho, com um avanço de 1,4 em 15,1%, e os serviços subiram aos R$ 1.074 de 1998. ● 1,4%,masfoi inferior aodaspes- de 0,567, em 1998, para o nível mesmo 0,552 de 2007. ● F.D.

Entrevista
Sérgio Besserman: ex-presidente do IBGE

‘Bolsa-Família distribui renda, mas não reduz desigualdade’


Desenvolvimento Sustentável que diz respeito ao mercado que é um instrumento tam- via, em 1952, distribuíram o E a estagnação da taxa de analfa-
Para Besserman, e de Governança Metropolita- de trabalho. bém de combate à desigualda- rebanho para toda a popula- betismo?
País precisa montar na do Rio, afirma que é real- de. Não é. Ele realmente ajuda ção. Seis meses depois, todos É um índice de estoque e, por-
uma política eficiente mente lento o combate à desi- O ritmo lento dos ganhos sociais, a tirar famílias do limiar da po- tinham comido a sua vaca e o tanto, caminha devagar, mes-
de distribuição gualdade, que poderá ser obti- como índice de Gini e taxa de anal- breza, mas para se conseguir rebanho bovino acabou. Pode- mo. Isso é normal, não acho
do conhecimento do mais rapidamente com uma fabetismo, é coerente? avanços verdadeiros é preciso riam ser usados outros ati- preocupante. Mas, quando falo
política de distribuição do co- Combater a desigualdade é distribuir ativos, fatores capa- vos, tipo fábricas, como se em distribuição do conheci-
Irany Tereza nhecimento. muito difícil, envolve mudan- zes de gerar renda. faz em períodos revolucioná- mento, não estou me referindo
RIO
ças estruturais. O combate à rios. Mas, como estamos no a alfabetizar, mas à escolariza-
O agravamento da crise torna esse desigualdade não comporta de- século 21, a desigualdade po- ção – que aumentou –, à quali-
Ex-presidente do IBGE, o eco- retrato da Pnad sem efeito? magogias ou factóides, nem po- ‘Para se conseguir de ser combatida com distri- dade do ensino, cultura, valori-
nomista e ambientalista Sér- Essa Pnad não capta ocasio- líticas superficiais. Os indica- buição do conhecimento, por- zação do conhecimento. Isso
gio Besserman destacou o mer- nais efeitos dos impactos da dores citados (índice de Gini e avanços verdadeiros que esse é o principal ativo não é só inovação tecnológica
cado de trabalho formal como crise econômica no Brasil, que analfabetismo) são indicado- é preciso mundial e não se precisa ex- na ponta, nos laboratórios das
o ponto alto da Pnad 2008, têm de ser acompanhados pe- res de estoque. Distribuição de distribuir ativos’ propriar ninguém. Não te- universidades de elite. O co-
mas salientou que a mostra, las pesquisas conjunturais, co- renda não se muda estalando mos ainda no Brasil políticas nhecimento é o garçom, o mo-
mais uma vez, evidenciou “a mo a de emprego, industrial. os dedos, só se muda quando públicas ou dinâmica social torista de táxi, todo o mundo.
nossa horrorosa distribuição No entanto, não creio que esse se distribui ativos. Por exem- E o que poderia acelerar? que permitam dizer que esta- E nós valorizamos muito pou-
de renda”. Analisando os resul- ano de crise tenha tido a capa- plo: o Bolsa-Família, um pro- A distribuição de terras, no ca- mos no caminho de modificar co o conhecimento. É mais fá-
tados, Besserman, que hoje cidade de alterar muito as in- grama bem-sucedido de com- so de uma reforma agrária, a nossa horrorosa distribui- cil a gente acreditar em duen-
preside a Câmara Técnica de formações da Pnad, exceto no bate à pobreza. Alguns acham coisa que sou contra. Na Bolí- ção de renda. des. ●
SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S. PAULO
ESPECIAL H3
ESPECIAL H3

PNAD
Escolarização sobe para 97,5%
Aumenta o número de alunos de 6 a 14 anos matriculados em escolas em todas as regiões do País
ALBERTO CESAR ARAUJO/AE

Bolsa-Família
fez Anne entrar
logo na escola
●● ● A sorte de Anne Gabrielle

Educação Alves da Silva, de 4 anos, foi


maior que as dos três irmãos
mais velhos. Ela entrou na es-
Wilson Tosta cola este ano. Os outros não
RIO puderam começara estudar
tão cedo. “Eles entraram mais
A Pnad 2008 constatou que a tarde, porque ficaria muito
taxa de escolarização cresceu caro manter”, justifica a mãe,
de 97% em 2007 para 97,5% em a dona de casa Eliomar Alves
2008 entre alunos de 6 a 14 da Silva, de 30 anos.
anos, e de 82,1% para 84,1% na Anne está no primeiro pe-
faixa de 15 a 17, repetindo uma ríodo da Escola Municipal
tendênciadeavançodaescolari- Jean Piaget, em Manaus, des-
dade entre os mais jovens. No de janeiro. Tem diagnóstico
entanto, a pesquisa apresenta de hiperatividade, mas é bem
um cenário contraditório. Em adaptada e é medicada num
númerosabsolutos,caiuaquan- posto de saúde estadual.
tidade de estudantes na faixa Eliomar diz que desde ju-
mais jovem, de 30,2 milhões pa- nho está inscrita no Bolsa-Fa-
ra 29,7 milhões. mília, mas ainda não recebeu
A amostra estimou também o benefício. Segundo a direto-
oindicadoraproximadodeanal- ra da escola, Jane Simões, o
fabetismo funcional no Brasil, número de crianças de 4 anos
uma taxa elevada, de 21% das matriculadas aumentou desde
pessoas acima de 15 anos. Em o ano passado. A procura tam-
2007, essa taxa foi de 21,8%. bém é grande no maternal.
Analfabetismo cultural, pelos ● LIEGE ALBUQUERQUE
critérios da Unesco, é a defini- PARA A AULA – Alunos chegam à Escola Municipal Cícero Monteiro, em Iranduba, no Estado do Amazonas, o que mais matriculou na região
ção usada para as pessoas que,
mesmo sabendo ler e escrever,
UM PAÍS MAIS ESTUDIOSO
não são capazer de entender e
reproduzir o que leram. Pela
Pnad, são considerados analfa-
EM PORCENTAGEM

Por anos de estudo


Taxa de analfabetismo se
betos funcionais indivíduos aci-
ma de 15 anos com menos de
quatro anos de estudo.
População de 10 anos ou mais
mantém estável, em 9,2%
O IBGE aponta ainda que o
aumento na proporção de ma-
triculados com queda no núme- Problema está concentrado na população mais velha;
ro absoluto pode ser explicado
peloenvelhecimentoda popula-
Sem
instrução
HOMENS Sem
instrução
MULHERES
12,4% de brasileiros acima de 25 anos não sabem ler
e menos e menos
ção.Apesardocrescimentopro- de um ano 10,2 10,3 de um ano 10,1 10,0
porcional, no ano passado, 762
mil jovens dessa faixa não esta- RIO TAXA DE ANALFABETISMO FUNCIONAL
vam na escola. No ano anterior, 1 a 3 anos 14,3 13,5 1 a 3 anos 12,4 11,8
2007 2008
eram 930 mil. No grupo etário De 2007 para 2008, a propor-
seguinte, houve crescimento çãodeanalfabetosnoBrasilpra-
até nominal: de 8,358 milhões ticamente não caiu, segundo a
de jovens para 8,655 milhões, Pnad 2008, passando de 9,3% 24,2% 31,6%
na idade do Ensino Médio.
Também aumentou a taxa
4 a 7 anos
30,1 29,1 4 a 7 anos 28,6 27,4 para 9,2% em números gerais,
embora o número absoluto te- 24,9%
de escolarização das crianças nha aumentado, de 14,687 mi- Norte
de 4 e 5 anos, de 70,1% em 2007 lhões para 14,736 milhões de 33,5%
para 72,8% em 2008. Em núme- pessoas. Entre os homens, caiu
rosabsolutos,mais73mil crian- de 9,6% para 9,4%, e manteve- BRASIL
ças dessa faixa entraram na es- 8 a 10 anos 17,2 17,4 8 a 10 anos 16,7 17,1 se em 9% no sexo feminino. Na 2007 Centro-Oeste
Nordeste
cola no período, indo de 4,124
milhões para 4, 197 milhões de
estudantes. Nas demais faixas
faixade 15anosoumais,onúme-
rotambémficouestável, ao pas- 21,8% 20,30% 19,2% Sudeste
sar de 10,1% para 10%.
2008
etárias, houve queda. Oanalfabetismoestáconcen-

IDADE CORRETA
11 anos ou + 27,9 29,6 11 anos ou + 31,9 33,4
trado entre os mais velhos. En-
quanto os jovens de 15 a 17 anos
21,0% 15,9%
Sul
Para técnicos do IBGE, porém, e de 17 a 24 mantiveram os índi- 16,7%
orecuonessasfaixasnãoénega- 15,8%
ces de um ano para o outro –
Obs.: Analfabeto funcional é a
tivo:osbrasileirosestariampas- 1,7% e 2,2%, respectivamente –, pessoa que reconhece as letras 16,2%
2007 2008 2007 2008
sando a frequentar a escola nas mas não entende o que lê
nogrupode18oumaissemante-
FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
faixas etárias “corretas”. ve acima de 10%, recuando de FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
O processo explicaria o cres- comumvalordado à escola que, tual. Nordeste e Sul vieram em 10,7% para 10,6%. Entre os pes- mento entre os homens (4,8% os mais velhos porque “o bai-
cimentoda proporçãode matrí- no passado, não existia. “Você seguida,comavançode0,5 pon- quisados com idade de 25 anos para 4,9%) e estabilidade entre xoníveldeinstruçãodapopu-
culas de mais jovens – que per- vê, em qualquer lugar do País, to (de 96,8% para 97,3% e de ou mais, embora tenha havido as mulheres (5,8%). lação que hoje é mais idosa e,
maneceriam mais tempo no en- mandarem as crianças para a 97% para 97,5%, respectiva- queda, concentra-se a maior Outra região onde houve al- no passado, quando jovem,
sino – e redução na de alunos escola.” Também destaca que mente). No Sudeste, o incre- proporção de brasileiros que ta foi a Centro-Oeste, de 7,3% eraanalfabeta, continuapre-
mais velhos (já que menos estu- algumasações do governofede- mento foi de 0,4 ponto porcen- nãosabem ler nem escrever.De para7,4%l.NoSuldoPaís,oqua- sente na população brasilei-
dantes entrariam nas faculda- ral ajudam a manter as crian- tual(97,7%para98,1%)enoCen- 12,6% em 2007, passou para dro ficou estável: em 2007 e ra.”
des depois do tempo “correto”). ças na sala de aula. “A despesa tro-Oeste foi de 96,9% para 12,4% em 2008. 2008, 5% dos habitantes se dis- AprofessoraPatríciaCur-
“Só vou entender a queda do paramanterofilhonaescolapú- 97,1% apenas 0,2 ponto. Uma surpresa negativa foi a seram analfabetos. Mas houve sino,daFaculdade deEduca-
trabalho infantil se eu entender blica hoje é pequena”, afirmou . Cinco outros Estados apre- Região Sudeste, onde o analfa- trocade posições:oshomensfo- ção da Universidade Federal
os avanços da educação”, disse “E o Bolsa-Família pode até ser sentaramreduçãonataxadees- betismo aumentou, de 5,3% pa- ram de 4,5% para 4,7%, e as mu- do Rio de Janeiro (UFRJ)
o presidente do IBGE, Eduardo questionado, mas, para recebê- colarização de estudantes de ra 5,4%. A variação ocorreu na lheres de 5,5% para 5,4%. acha que há duas questões a
Pereira Nunes. “Vou medir es- lo,o alunoprecisaestar naesco- 2007 para 2008. O maior recuo faixa mais jovem, de 10 a 14 O presidente do IBGE, serem consideradas. “Pri-
se avanço por meio do aumento la.” foiemRoraima,de1,3pontopor- anos, na qual a proporção de EduardoPereira Nunes, ressal- meiro, o próprio conceito de
da taxa de escolaridade da po- centual, de 97% para 95,7%. Em analfabetos foi de 0,9% para tou que a queda no analfabetis- analfabetismo”, disse. “E há
pulação em idade escolar.” AUMENTO seguida,apareceuSantaCatari- 1,3%, e no grupo de 18 anos ou mo tem se dado predominante- um resíduo de analfabetis-
Para a professora Patrícia Em todas as regiões, houve in- na, com queda de 1,2 ponto no mais, de 6,1% para 6,2%. Na de mente nas faixas mais jovens e mo adulto.” Embora tenha
Cursino, da Faculdade de Edu- cremento da escolarização dos indicador, que passou de 98,4% 15 a 17 caiu (0,8% para 0,7%) e nas regiões mais pobres, como conseguido avanços, a re-
cação da Universidade Federal jovens de 6 a 14 anos. O melhor para 97,2%. Depois, vêm Ala- nas demais se manteve em 5,8% o Nordeste, com programas de gião com maior proporção
do Rio de Janeiro (UFRJ), há no índice foi o do Norte, de 95,1% goas, Goiás, Pernambuco e Rio (15 anos ou mais) e 7,1% (25 anos educação. Mas a taxa de analfa- de analfabetos é o Nordeste,
Brasil mudanças culturais, para 96,1%, um ponto porcen- Grande do Norte. ● ou mais). Por sexo, houve au- betismo permanece alta entre com 17,7%. ● W. T.

ENTREVISTA

Fernando Haddad: Ministro da Educação

‘Conclusão da educação básica é desafio enorme para o Brasil’


Marianna Aragão 2007 declararam ser analfabetas pela primeira vez, superou a bar- betos absolutos na faixa etária de improvável que o número de anal- mental, devia contribuir para a
no ano seguinte. “Estamos em reira de 84%. Atrair a juventude, 10 a 24 anos, era de se supor, até fabetos absolutos nessa faixa etá- queda da taxa nessas regiões.
O ministro da Educação, Fernando contato com o IBGE para verificar sobretudo de perfil socioeconômi- por razões demográficas, que o ria (acima de 25) tenha aumenta-
Haddad, questionou ontem um os dados.” A seguir, ele comenta co mais baixo, para a conclusão número de analfabetos acima dos do, uma vez que caiu 7% na faixa A que se deve a queda do ensino
dos dados negativos revelados os resultados da pesquisa. da educação básica, é um desafio 25 anos também tivesse caído. de 10 a 24 anos. O fato de o analfa- superior público, para 23,7?
sobre a Pnad na área da educa- enorme para o Brasil. betismo ter se estabilizado nas Estamos fechando o Censo 2008
ção: o crescimento do número ab- Quais foram os principais avanços O que pode ter acontecido? regiões Sul e Sudeste também é da educação superior e tudo indi-
soluto de analfabetos, especial- na área da educação em 2008? O analfabetismo foi um destaque Estivemos nas últimas semanas pouco crível, pois não se coaduna ca que tenha havido uma expan-
mente os com idade superior a 25 Um dos pontos positivos foi o cres- negativo? em contato com técnicos do IBGE. com a tendência histórica de que- são da matrícula na rede federal e
anos, de 13,384 milhões para cimento no atendimento a crian- O número absoluto de analfabetos Pode ter havido um problema no da e com o fato de que o analfabe- uma aparente retração nas redes
13,524 milhões. Segundo ele, a ças de quatro a cinco anos: 2,7% na faixa etária de 25 anos ou mais plano amostral ou de ordem meto- tismo de crianças e jovens é bas- estaduais e municipais públicas.
alta é “improvável”, porque indica- em um ano. Outro foi o atendimen- aumentou, o que é pouco crível. dológica, mas ainda não tivemos tante baixo. A questão demográfi- Por isso, não houve reversão do
ria que pessoas alfabetizadas em to aos jovens de 15 a 17 anos, que, Se está caindo o número de analfa- tempo suficiente para discutir. É ca por si só, sem ação governa- quadro, como se esperava. ●
H4 ESPECIAL SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S.PAULO

PNAD
KEINY ANDRADE/AE

367 mil
crianças
deixaram de
trabalhar
Queda do indicador é relacionada a
programas como o Bolsa-Família

da do trabalho infantil ocorreu


em todas as faixas etárias pes-
quisadas. De 5 a 13 anos, foi de
4% para 3,3%; de 5 a 9, de 1%
para 0,9%; de 10 a 13, de 7,5%
para 6,1%. Nesses grupos, a lei
proíbe totalmente o trabalho.
Trabalho infantil De 14 a 17, passou de 26,3%
para 25%; na de 14 ou 15 anos, de
18,1% para 16,5%; e na de 16 ou 17
Wilson Tosta anos, foi de 34,7% para 33,6%.
RIO
Nesses casos, a legislação per-
mite o trabalho. Para quem tem
Mais de 300 mil crianças e ado- 14 e 15 anos completos, o traba-
lescentes deixaram o trabalho lho é permitido desde que tenha
infantil em 2008 na compara- caráter de aprendizagem e seja
ção com 2007, segundo a Pnad conjugado ao ensino de uma TRABALHO NAS RUAS - Em avenida de São Paulo, adolescente C.O.S., 15, que não sabe ler, nem escrever, limpa vidro para ganhar dinheiro
2008. A sondagem apontou que profissão; com 16 e 17 anos, está
4,452 milhões de brasileiros liberado se não envolver situa- UM PAÍS COM MENOS TRABALHO INFANTIL ENTREVISTA
com idades de 5 a 17 anos traba- ção penosa nem perigosa, nem
lhavam no ano passado, ante atividade noturna. EM PORCENTUAL DA POPULAÇÃO EM CADA FAIXA
Hélio Zylbertajn:
4,819 milhões no anterior – me- Nosdoiscasos,a jornadamá- Por idade Brasil economista e
nos 367 mil jovens. Mas, na fai- xima é de 20 horas semanais –
5 a 9 anos 1,0 professor da USP
xa de 5 a 13 anos, ainda havia mas em 2008, o número médio 5 a 17 anos
993 mil trabalhadores. de horas de trabalho por sema- 2007 12,3%
0,9
Pesquisadores do Instituto
Brasileiro de Geografia e Esta-
na foi de 24,2 para quem tinha
14 ou 15 anos, e de 32,7 para os
2008
‘Mais emprego e
10 a 13 anos 7,5 6,1
tística (IBGE) relacionam o re-
cuo no trabalho infantil ao au-
jovens de 16 e 17 anos. 11,2% 10,3%
renda são frutos
13,4%
mento nas matrículas escola- Norte do aumento da
res,programassociaisdogover- Região Nordeste
no federal, como o Bolsa-Famí-
lia e o Pró-Jovem, e à melhoria, se destacou pelo 14 e 15 anos 18,1 16,5 2007
Centro-Oeste
Nordeste
escolarização’
9,7%
antes da crise econômica, da
renda e do emprego, que alivia-
aumento de
crianças na escola 10,9% 10,2% Sudeste
Andrea Vialli
ram a situação financeira das 2008
Estudioso do mercado de tra-

10,2%
famílias mais pobres. balho no Brasil, Hélio Zylbers-
Em2006,onúmerodemeno- Para a professora Rosana 8,0% tajn afirma que a redução da
res de idade que trabalhavam Morgado, da Escola de Serviço taxa de desemprego e a redu-
chegou a 5,1 milhões. Desde en- Social da Universidade Federal 7,9% ção da desigualdade são frutos
13,6% 11,9% Sul
tão, tem caído, ressaltam técni- do Rio de Janeiro (UFRJ), em- do aumento da escolarização
cos do instituto de pesquisas. bora tenha havido redução em da população. “Essa Pnad mos-
“Erade seesperarquea velo- termosnacionais, orecuoprati- 16 e 17 anos 34,7 33,6 tra que mesmo os trabalhado-
cidade de queda fosse maior”, camente não ocorreu entre os res menos qualificados estão
disse o presidente do IBGE, mais jovens, na faixa de 5 a 9 sendo incluídos no mercado de
Eduardo Pereira Nunes. “Em anos. “O que é importante é de- trabalho”, diz o Zylberstajn.
regiõescujonívelderenda éme- sagregar (o indicador) por fai- Taxa de escolarização Rendimento Porcentual Veja os principais trechos da
nor, a possibilidade de contar xas etárias e por regiões onde da população ocupada médio mensal de não entrevista ao Estado.
com alternativas para essas há mais incidência ou onde caiu de 5 a 17 anos, em 2008 do trabalho remuneração
crianças ainda é muito peque-
na. Mas, se olharmos a Região
menos”, afirma ela, que defen-
deaadoçãodepolíticasespecífi- 2007 2008
81,9% R$ 269 32,3% Caiu o desemprego, porém a ren-
da média está crescendo em um
Nordeste, é justamente lá onde cas para reduzir o trabalho in- ritmo menos acelerado. O que isso
mais aumenta a entrada de fantil dos mais jovens. FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE significa?
crianças na escola”, observou. “É preciso pensar estraté- res trabalhando na área forma- queda do trabalho infantil foi no que, em 2008, 35,5% das pes- É uma boa notícia. É sinal de
Para o gerente da Pesquisa gias que possibilitem acelerar da por Goiás, Mato Grosso, Ma- Sul, de 13,6% para 11,9%, 1,7 pon- soas de 5 a 17 anos trabalha- que as pessoas que estão en-
Mensal de Emprego (PME), Ci- esse investimento na redução to Grosso do Sul, Rondônia e toporcentualmenos.Mesmoas- vam em atividades agríco- trando no mercado de traba-
marAzeredo,ascondicionalida- (do trabalho infantil). Deveria Distrito Federal cresceu de 311 sim, Rio Grande do Sul, Santa las,e51,6%,eramtrabalhado- lho estão depreciando a média.
des do Programa Bolsa-Famí- haverumolharmaisdirigidopa- mil para 329 mil pessoas, mais Catarina e Paraná ainda ti- res domésticos ou emprega- Isso quer dizer que a base da
lia, que exige a frequência esco- ra a faixa de 5 a 9 anos.” 18 mil. Nas demais, porém, a nham a segunda maior propor- dos. A média de trabalho era pirâmide social, as pessoas
lar de crianças para ser pago, proporção de jovens no traba- ção de jovens no trabalho. Para 26,8 horas semanais. com menor qualificação estão
“sem dúvida” contribuíram pa- FORA DA CURVA lho caiu – mesmo nas pobres o IBGE, trata-se de uma ques- Na faixa de 5 a 13 anos, sendo incluídas, pois o merca-
ra a redução o indicador, além A exceção na tendência de que- Norte (de 11,2% para 10,3%, me- tão cultural: pais que trabalha- 60,9%nãotinhamremunera- do está se expandindo. Então,
do cenário econômico bom, an- da no trabalho infantil ocorreu nos0,9pontoporcentual)eNor- ram quando jovens e conside- ção. Só 9,7% dos emprega- as pessoas que não tinham
terior à crise. na Região Centro-Oeste, onde o deste (13,4% para 12,3%, menos ramimportantequeos filhos fa- dosou trabalhadoresdomés- chance estão sendo incluídas.
“A queda no trabalho infan- problema subiu de 9,7% para 1,1 ponto porcentual). çam o mesmo agora, sobretudo ticos de 14 a 17 anos – quando A renda média diminui porque
til tem sido gradual ao longo do 10,2% de trabalhadores de 5 a 17 O rico Sudeste brasileiro fi- ajudandosuasfamíliasnotraba- menorespodemtrabalharle- as pessoas que antes não ti-
tempo, é persistente”, afirmou. anos em 2008. De um anopara o cou estável no indicador, pas- lho no campo. galmente – tinham carteira nham emprego estão conse-
Em termos nacionais, a que- outro, o contingente de meno- sando de 8% para 7,9%. A maior O IBGE também apurou de trabalho assinada. ● guindo uma colocação. Mesmo
que o salário seja baixo. Outra
boa notícia é o crescimento de
SERGIO NEVES/AE quase 3% na força de trabalho.

Emprego em alta para 39,7% (um aumento de


2,4 milhões para 2,7 milhões
de pessoas).
É uma coisa muito boa. Gran-
de parte desse crescimento é
de emprego com carteira assi-

ajuda a Previdência SINDICATOS


A Pnad revelou também um
nada.

Esses dados são decorrentes do


aumento no número de tra- bom momento da economia antes
balhadores associados a sin- da crise?
Número de contribuições cresce, e dicatos no ano passado, que Isso já vinha de alguns anos,
sindicatos ganham mais filiados representaram 18,2% do to-
tal de pessoas ocupadas no
mas 2008 até setembro foi um
ano incrível. Essa Pnad não pe-
País no período, somando ga a crise. A redução da desi-
16,8 milhões de sindicaliza- gualdade, medida pelo índice
lhões, ou 52,1%, eram contri- dos. Em 2007, os associados de Gini, vem de dez anos para
buintes. a sindicatos representavam cá. Isso é resultado de políti-
Segundo os técnicos do IB- 17,7% dos ocupados e soma- cas de vários governos.
GE, o aumento do número de vam15,9milhõesdetrabalha-
contribuintes foi impulsionado dores. Esses resultados remontam ao
pelo crescimento do emprego Omaiorporcentual de tra- controle da inflação?
com carteira assinada, que pas- balhadores sindicalizados Exatamente. A inflação era o
Sindicalização sou (sem incluir empregados foi registrado na Região Sul, elemento perverso na distribui-
domésticos) de 33,5% em 2007 onde eles chegaram a 21,7% ção de renda, que corroía a
para 34,9% em 2008. do contingente empregado, renda dos mais pobres. De-
RIO
Regionalmente,oSudestere- num total de 3,2 milhões de pois, o salário mínimo come-
gistrou o maior porcentual de pessoas. Já nas Regiões Nor- çou a ter ganhos reais. Mas a
O número de contribuintes da contribuintes(62,9% do total de deste e Sudeste, a proporção grande mudança mesmo foi o
Previdência no Brasil subiu ocupados) no ano passado, en- desindicalizadosatingiu res- crescimento extraordinário do
5,9% em 2008 ante o ano ante- quanto o Nordeste obteve o me- pectivamente 19,6% (4,8 mi- nível de escolaridade da popu-
rior, segundo a Pnad 2008. De nor porcentual (33,9%). A Re- lhões)e 17,1% (6,7 milhões). O lação, que se refletiu no salário
acordo com a pesquisa, das 92,4 gião Norte teve o maior cresci- aumento da sindicalização do trabalhador. A educação é
milhões de pessoas de 10 anos mento proporcional de contri- ocorreu em todas as regiões, o grande fator por trás da que-
ou mais de idade ocupadas no buintes para a Previdência em lideradas pela Norte, com al- da nas desigualdades sociais. ●
País no ano passado, 48,1 mi- 2008, saindo de 36,8% em 2007 ASSOCIADOS – Metalúrgicos do ABC: no País há mais sindicalizados ta de 14,8%. ●
SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S. PAULO
ESPECIAL H5
ESPECIAL H5

PNAD
Conexão com internet cresce.
Rede de esgotos fica estagnada
Serviço de coleta de esgoto no País avançou 1,4%; o acesso à rede mundial de computadores, 3,8%
TIAGO QUEIROZ/AE

INFRAESTRUTURA NOS DOMICÍLIOS


EM PORCENTAGEM DO TOTAL

2007 2008

Rede de água 83,2 83,9


Saneamento

Rede de esgoto 51,1 52,5


Wilson Tosta
RIO

Em termos proporcionais, no
ano passado a ligação dos lares Fossa séptica 22,3 20,7
brasileiros à internet cresceu
em ritmo maior que sua cone-
xão às redes de recolhimento
de esgoto, segundo apontou a Coleta de lixo 87,3 87,9
Pnad2008.Enquantoonúmero
de residências ligadas à web
passou de 20% para 23,8%
(mais 3,8 pontos porcentuais)
Energia elétrica 98,2 98,6
de 2007 para 2008, o número de
casas com esgoto coletado su-
biu apenas 1,4 ponto. Com uma Telefone 76,8 82,1
peculiaridade: na Região Nor-
te, reduziu-se em 0,5 ponto por-
centual (de 10% para 9,5%) a
proporção de lares conectados FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE

ao esgotamento e cresceu 5,5 tro lares brasileiros não tem ne- qualidade desse crescimento.”
pontos a proporção de domicí- nhum tipo de recolhimento do As baixas proporções de co-
lios servidos por fossa séptica – material de esgoto, provavel- nexão às redes de esgoto e o
mais 308 mil de um ano para o mente poluindo cursos d’água e grande número de residências
outro. A região tinha ainda 1,6 contribuindo para doenças, co- sem nenhum recolhimento pa-
milhão de casas sem nenhum ti- mo gastroenterites, que pio- ra seus dejetos contrastam
po de recolhimento dos dejetos. ram os índices de mortalidade com as redes de fornecimento
“Foi um crescimento muito infantil. de água, com abrangência aci-
mixuruca”,afirmouaeconomis- A economista atribuiu a len- ma de 80% no Brasil. A pesqui-
ta Amarilis Romano, analista ta expansão na cobertura do sa apontou que o porcentual de
de saneamento da consultoria serviço de coleta e tratamento casas ligadas à rede geral de
Tendências, ao comentar a ex- deesgoto, principalmente,à de- abastecimento (83,9%) cresceu
pansão da coleta de esgoto. mora na elaboração do marco 0,7 ponto ou 1,9 milhão em rela-
Segundo a Pnad, em 2008 o regulatório do setor. “A ques- çãoa 2007.No Nordeste,o cres-
Brasil tinha 30,2 milhões domi- cimento foi de 2,3 pontos per-
cíliosconectados àsredes dees- centuais, ou mais 770 mil domi-
goto – eram 28,4 milhões no ano ‘A questão básica é cílios.
anterior.Aindaassim,apropor- Nomesmo período, houve re-
ção de casas com ligação às re- que a regulação dução no abastecimento de
des de esgoto permaneceu pou- é relativamente água de outras fontes - rios e
co além da metade. Em 2007, recente’ poços, por exemplo – cuja pro-
era 51,1%; em 2008, chegou a porção, porém, se manteve al-
52,5%. Houve queda, de um ano ta. Em 2007, eram 9,3 milhões
para o outro, na proporção de tão básica é que a regulação é (16,8%) de residências, passan-
domicílios que usavam fossas relativamente recente, de do para 9,2 milhões em 2008
sépticas. Eram 22,3% (12,4 mi- 2007. Levou anos para ser ela- (16,1%). A Região Norte, contu-
lhões) e passaram para 20,7% boradaeaindanão estácomple- do,manteveasualiderançanes-
(11,9 milhões). tamente resolvida. Falta defi- se item, passando de 43,7% dos
Houve, porém, crescimento nir a questão da titularidade.” domicílios em 2007 para 41,7%
(nominaleproporcional)nasre- Amarilis argumentou que, no ano passado. Já o Sudeste
sidências que não dispunham mesmo após a instituição das continuoucoma menor propor-
nem de ligação às redes coleto- normas, ainda vai demorar pa- ção de casas com esse abasteci-
ras, nem de fossas, para desti- ra que haja ampliação da oferta mento: de 8,4% para 8,2%
nar os seus dejetos. De 14,8 mi- do serviço, investimento bas- Houve expansão – de 0,6 pon-
lhões de residências (26,6%) tanteoneroso.“Dequalquerfor- to porcentual sobre 2007 – para
com essa característica em ma, acho que podemos esperar 87,9% no número de domicílios
2007, passou-se para 15,4 mi- números sempre positivos da- comcoleta de lixo,mais50,6 mi-
lhões (26,8%) em 2008. Ou seja, qui para adiante. A indefinição lhões. ●
pouco mais de um em cada qua- CENÁRIO – Esgoto é despejado em córrego em São Paulo: no País, só 52,5% das casas têm rede de esgoto ainda é quanto à velocidade e COLABOROU IRANY TEREZA

Expansão da telefonia BENS DE CONSUMO NOS DOMICÍLIOS


EM PORCENTUAL DO TOTAL

2007 2008
ainda é lento porque, mesmo
com a isenção fiscal e a queda
de preços dos últimos anos, os
microcomputadores conti-

é puxada pelo celular Fogão 98,1 98,2


nuam com valores elevados pa-
ra a faixa de renda mais baixa e,
além disso, a banda larga “ain-
da está tateando, iniciando” no
Número de domicílios que passaram a ter algum tipo Filtro de água 51,1 51,6
Brasil.
Para o presidente da Teleco,
de telefone cresceu em 4,4 milhões, totalizando 82,1% a conjugação entre o uso de ou-
tros dispositivos para acesso à
rede, como celulares, e a evolu-
pesquisa, 82,1% dos domicílios gumtipo de telefoneno ano pas-
Geladeira 90,7 92,1 ção da tecnologia de banda lar-
brasileiros tinham algum tipo sado, no Nordeste eram apenas ga poderão acelerar o cresci-
de telefone, porcentual supe- 66,8%. O presidente da consul- mento do uso da internet no
rior aode 2007 (77%), totalizan- toria Teleco, Eduardo Tude, Freezer 16,2 16,0 País.
do 47,3 milhões de domicílios. considerouos dados referentes As diferenças regionais tam-
A expansão no acesso à tele- à telefonia celular um destaque bém persistiram nesse caso.
fonia foi puxada pelo celular. importante da Pnad, já que re- Máquina de lavar roupa 39,2 41,5 Noano passado, enquanto a Re-
Consumo Do total de domicílios, 37,6% ti- velam um “crescimento acele- gião Sudeste possuía 31,5% dos
nham apenas aparelho celular, rado”. “Estamos perto do mo- seusdomicílios conectados àre-
porcentual também superior mento em que o telefone celu- de, no Nordeste esse porcen-
ao do ano anterior (31,6%). De lar estará em todos os domicí-
Rádio 88,0 88,9 tual era de 11,6% e, no Norte, de
Jacqueline Farid
RIO
um ano para o outro, houve lios”, disse. 10,6%.
acréscimo de 3,98 milhões de Ele observou que o celular A Pnad também revelou um
O acesso dos brasileiros à tele- domicílios que usavam apenas pré-pago tem sido o principal Televisão 94,4 95,1 aumento no porcentual de do-
fonia e à internet cresceu no telefonia celular, alcançando veículo de acesso à telefonia micílios que possuíam micro-
ano passado, mas enquanto o 21,7 milhões de domicílios. das famílias de renda mais bai- computadoresno País, que pas-
uso dos celulares avança acele- xa. “Esse é o telefone da casa de Microcomputador 26,5 31,2 sou de 26,5% em 2007 para
radamente no País, a participa- muitas pessoas e é um bom ca- 31,2% em 2008, atingindo 17,9
ção na rede de computadores ‘Estamos perto do minho (para a expansão do FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
milhões de domicílios. De acor-
ainda se mantém abaixo da mé- acesso)”, afirmou. do com a pesquisa, mais da me-
dia mundial. A Pnad 2008 mos- momento em que o zando 13,7 milhões de domicí- sos.Além disso, oPaís está mui- tade dos domicílios brasileiros
tra que a presença de telefones celular estará em LENTO lios. to abaixo de locais como Sué- que possuíam computador no
nosdomicíliosteve“forte evolu- todos os domicílios’ Oporcentual de domicílios com Para Eduardo Tude, no en- cia, Dinamarca e Austrália, que ano passado estavam no Sudes-
ção”, principalmente por causa acesso à internet também pros- tanto, o crescimento é lento. apresentam cerca de 30 aces- te, um total de 10,1 milhões.
do crescimento da telefonia ce- seguiu em crescimento no Bra- “Ainda temos de andar bastan- sos por 100 habitantes, e perde Os demais dados de consu-
lular. A pesquisa mostra também sil no ano passado. Segundo a te.” Ele cita dados que mos- também para o México (7,1 mo da pesquisa mostram que
O número de domicílios que que as diferenças regionais são Pnad,23,8% dos domicílios bra- tram que, em 2008, enquanto o acessos) e Argentina (8,0). 98,2% dos domicílios brasilei-
passaram a possuir algum tipo significativas no que diz respei- sileiros dispunham de micro- Brasil tinha, no que diz respeito ros tinham fogão no ano passa-
de telefone aumentou em 4,4 to ao acesso à telefonia. En- computadorcomacessoà inter- à internet, densidade de 5,3 PREÇOS do e 92,1% contavam com gela-
milhões de um ano para o ou- quanto na Região Sudeste net,porcentualsuperior aoapu- acessos por 100 habitantes, a De acordo com Tude, a expan- deira, enquanto 95,1% tinham
tro. Em 2008, de acordo com a 88,9% dos domicílios tinham al- rado em 2007 (20,0%), totali- média mundial era de 6,1 aces- são do uso da internet no País aparelhos de televisão. ●
H6 ESPECIAL SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S.PAULO

PNAD
FABIO MOTTA/AE

Pretos e pardos
já são maioria
absoluta no País
Participação de negros e brancos na população caiu,
enquanto as de mestiços, amarelos e índios aumentou

UM PAÍS MULTIRRACIAL
POPULAÇÃO BRASILEIRA, EM MILHÕES ‘Brasil é
Total mestiço e
189,953 multicolorido’
●● ● Nem preto, nem pardo,

População branco, amarelo ou indígena.


HOMENS MULHERES O Brasil é “mestiço e multico-

Wilson Tosta
92,433 97,520 lorido”. Essa é o resultado de
uma rápida enquete feita on-
tem pelo ‘Estado’ no centro do
RIO Extrato por cor Rio, com 12 pessoas. Ao se-
A Pnad 2008 apontou que no 2007 20 rem informadas sobre a pes-
20 0
8 7,5% 6, 08
ano passado, pela primeira vez, 07 48 ,
4% 8% quisa do IBGE indicando que
20 20
mais da metade da população ,2 % PRETA
42 07 50,6% da população é consti-
49
brasileira – 50,6% dos habi- L: 12,987 ,5 tuída de pretos e pardos, os
TA

tantes, ante 50% em 2007


20 ,8

entrevistados não titubea-


TO

43
08 %
ÃO

– se declarou parda ou ram ao responder qual, na


preta.Comumapeculia- sua opinião, era a cor do


UL
POP

ridade: na pesquisa, a povo brasileiro.


participação das popu-
CIPAÇÃO NA

PARDA
“Não diria que o Bra-
BRANCA
lações negra e branca sil é preto, pardo ou
no total de brasileiros
recuou, enquanto as de
92,003 83,196 branco. É multicolorido,
PARTI

com faces e cheiros dife-


mestiços e outros (que rentes”, afirmou a artis-
abrangeamareloseindí- ta de rua Fernanda Fonse-
genas) cresceu. ca Machado, de 29 anos.
Em 2007, o número de “Eu sou morena; no regis-
pretos tinha crescido em tro sou parda, mas me sinto
comparação com 2006, em negra.”
movimento atribuído por espe- Também artista de rua, Ma-
cialistas às políticas de ações rivaldo de Souza, de 39 anos,
afirmativas, como reservas de afirma ser moreno e todos os
vagas em universidades públi- 2007 2008
dias trabalha com o rosto ma-
cas para afrodescendentes. Em 0,8% 0,9%
quiado com tinta branca, ca-
2008, contudo, a curva se inver- racterística do seu persona-
teu, embora o crescimento dos OUTRAS AMARELA 1,101 gem. “O Brasil é um país mes-
pardos tenha persistido – o gru- RAÇAS tiço. Tem de tudo um pouco.”
po também é, em geral, benefi- INDÍGENA 0,536
SEM
Um “misto de cores” é co-
ciado pelos mesmos instrumen- DECLARAÇÃO 0,130 mo vê o Brasil o casal Tatiana
tos que os negros. Oliveira e Wanderley Ataide.
A sondagem apontou que, FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
Ela, de cor preta, e ele, bran-
em 2007, 42,5% dos brasileiros pardas, de 2007 para 2008, de co, têm um filho de 7 anos e
se diziam pardos, porcentual 50,9% para 50,2% (0,7 ponto afirmam que, quanto mais mis-
que subiu para 43,8% em 2008. porcentual a menos). Nas de- tura de cores, melhor.
Os pretos, contudo, reduziram mais, houve crescimento. A O advogado Marcos Ferrei-
sua participação na população Norte foi a região com a maior ra, de cor preta, rechaça a
nacional de 7,5% para 6,8%. expansão, de 68,3% para 71%. classificação por cores. “O
Houve ainda crescimento Em seguida, veio o Sudeste, de Brasil é pardo, fruto de uma
dos entrevistados que classifi- 32,4% para 34,4%. Mesmo o Sul, miscigenação bastante inten-
caram sua condição étnica co- onde predominam descenden- sa e visível.” Zilda Rosa No-
mo “outra” – que passaram de tes de imigrantes de origem eu- gueira resume: “Todo mundo
0,8% para 0,9% dos habitantes ropeia, registrou aumento de é igual”. ● ALBERTO KOMATSU
do Brasil. Já os que se dizem pardos, de 16,4% para 17%. OLHAR – ‘O Brasil é um país mestiço. Tem de tudo um pouco’, afirma o artista de rua Marivaldo de Souza
brancos reduziram sua presen- Já os pretos recuaram sua
ça na população – em tendência participação em todas as re- são de discussões sobre a ques-
jáobservadaempesquisasante- giões: Norte (5,5% para 5,1%), tãoétnica noBrasil, envolvendo
riores – de 49,2% para 48,4%. Nordeste (8,5% para 7,9%), Su- sobretudo as políticas de ação Número de filhos por mulher é o menor da história
“O que vínhamos detectando deste (8,4% para 7,7%), Sul afirmativa, tem levado muitos
é que cada vez mais brancos co- (4,3% para 3,5%) e Centro-Oes- não-brancos a se questionarem ●● ● A taxa de fecundidade do País apenas um filho, Gustavo, de sete
meçavam a se declarar pardos, te (6,6% para 6,5%). sobresuacondiçãoracialdema- TAXA DE FECUNDIDADE
atingiu em 2008 o menor nível anos. E prefere continuar assim.
porque aumentava a consciên- EM NÚMERO MÉDIO DE FILHOS POR MULHER
Os autodeclarados brancos neira positiva. “O debate pas- da história, chegando a 1,89 filho Ao contrário de sua mãe, que te-
cia do seu pertencimento; as úl- registraram recuo no Norte sou a ter mais espaço na mídia.” por mulher. Em 2007, a taxa de ve cinco filhos, e de sua avó ma-
timas Pnads já refletiam esse (24,7% para 22,9%), no Nordes- Para ele, até os opositores fecundidade era de 1,95 filho por terna, que teve oito – na época, ANO NÚMERO

aumento”, disse o pesquisador


Renato Ferreira, do Laborató-
te(29,4%para29,3%)enoSudes- das políticas de ação afirmativa mulher. O gerente da Pnad, Ci- era preciso mão-de-obra para 1960 6,28
te(58,3%para56,8%).Aumenta- contraditoriamente contribuí- mar Azeredo, aponta que , em trabalhar na lavoura, no interior
rio de Políticas Públicas da Uni- ram, porém, sua presença no ram para aumentar a consciên- 1940, a taxa de fecundidade da da Bahia. “No interior, as pes-
versidade do Estado do Rio de Sul(78,6%para78,7%)enoCen- cia de antigos “brancos” que brasileira chegava a 6,16 filhos, soas continuam tendo mais fi- 1970 5,76
Janeiro (Uerj). “Agora, o fato tro-Oeste (41,1% para 42,2%). passaram a se reconhecer co- passando para 4,35 filhos em lhos. Aqui é mais complicado,
de pretos se declararem pardos Os entrevistados que se de- mo pardos. “A própria reação 1980 e para 2,85 filhos em 1991. pois os gastos com moradia e
não costumava acontecer. Esse clararam de outra condição ét- degruposminoritáriosàspolíti- 1980 4,35
O acesso à informação sobre educação são altos e boa parte
indicador nunca acelerou mui- nica, curiosamente, reduziram cas de ação afirmativa tem des- meios contraceptivos e a urbani- das mulheres trabalham fora.” 1984 3,53
to. A oscilação apontada (entre sua participação em regiões on- pertado nas pessoas o desejo zação estão contribuindo, ao lon- Separada, Núbia concentra a
os que se dizem pretos) não é tão de os descendentes de índios de, pela primeira vez, relatar o go dos anos, para a queda no nú- maior parte de sua renda nos cui- 1991 2,85
grande. Pode ser alguma coisa têm presença marcante: Norte seu pertencimento racial, como mero de filhos por mulher. É o dados com o filho. “Eu penso no 1997 2,54
estatística. O que continua va- (de 1,5% para 1%) e Centro-Oes- reação a isso”, diz. “Os oposito- caso de Núbia Couto Santos, de ensino, na saúde, na alimentação 1998 2,43
lendo é que está aumentando a te(1,4%para1%).Houveaumen- resdas políticasdizemquevive- 27 anos, moradora de Francisco e no lazer dele. Se tivesse mais 2007 1,95
consciência das pessoas.” to no Nordeste (0,5% para ríamos em uma fase pós-racial, Morato, na Grande São Paulo. filhos, certamente não poderia
Somente a Região Centro- 0,6%), Sudeste (0,9% para 1%) e queracismo, noBrasil,não exis- Diarista e com renda média de dar as melhores condições para o
2008 1,89
Oeste registrou queda na pro- Sul (0,7% para 0,8%). te. Empiricamente, a Pnad está um salário mínimo, Núbia tem Gustavo.” ● ANDREA VIALLI FONTE: PNAD INFOGRÁFICO/AE
porção de pessoas que se dizem Ferreira avalia que a profu- mostrando que não.” ●

ENTREVISTA

Demétrio Magnoli: doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

‘Brasileiro tem maior aceitação de sua origem miscigenada’


Andrea Vialli O que explica o aumento no núme- é um fenômeno muito grande. O cos. Mas não é o que acontece. sociedade no Brasil que cada vez ram e se declaram como mesti-
ro de pardos? segundo motivo, uma hipótese Cada vez mais pretos e brancos menos se amolda aos dois polos ços, eles declaram não acreditar
O maior número de brasileiros Isso vem acontecendo desde que eu levanto, é maior consciên- mudam para a coluna de pardos. raciais tradicionais. Que se vê co- nesse racismo, o que é positivo.
que se autodeclaram pardos – de 1940, quando foram consolidadas cia e aceitação da miscigenação. Os pardos não estão insatisfeitos. mo misturada e a Pnad revela a
42,5% da população em 2007 pa- as cinco categorias de raça, e é Mas na cabeça das pessoas que continuidade disso. Em décadas, Existe algum reflexo das políticas
ra 43,8% em 2008 – sugere maior um duplo fenômeno: aumenta o Então, o brasileiro hoje se aceita? fazem a declaração, a pessoa pen- teremos 70% de gente se dizendo de cotas nas estatísticas?
aceitação das origens mestiças. número de pessoas que se decla- No pensamento racista, isso é ex- sa: “não sou nem branco nem pre- parda. É uma maior aceitação da Creio que é muito cedo para se
Essa é avaliação do sociólogo De- ram pardas, e diminui tanto o nú- plicado como sendo uma rejeição to, não tenho raça, sou uma mistu- miscigenação. E uma das caracte- fazer uma afirmação direta desse
métrio Magnoli, que afirma que mero de brancos quanto o de pre- de ser negro e uma tentativa de ra”, então se declara como pardo. rísticas mais importantes do racis- tipo, mas possivelmente tem al-
esse processo de autoaceitação já tos. Isso ocorre pela continuidade branqueamento da cor da pele. Se houvesse a categoria mestiço, mo é ser antimistura. Os textos gum efeito e isso contribui para
influencia estatísticas desde a dé- do processo de miscigenação da Mas essa explicação só poderia teria até mais pessoas se declaran- racistas do século 19 tratam misci- um processo de “pardização” des-
cada de 1940. Eis alguns trechos sociedade. A diminuição dos pre- ser aceita se se reduzisse o núme- do como tal. Pardo é uma palavra genação como degeneração. sas pessoas que se diziam bran-
de sua entrevista ao Estado. tos e dos brancos não é marginal, ro de pretos, mas não o de bran- com certo estigma. Temos uma Quando os brasileiros se mistu- cas. O que não é oportunismo. ●

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