Você está na página 1de 10

A História do Plano Collor

16/09/2003
Escrito por: Manoel Ruiz

O presidente Fernando Collor de Mello chega ao poder depois de uma disputa no segundo turno com
Luiz Inácio Lula da Silva, que surgiu dos movimentos de luta dos trabalhadores do ABC, tinha sido um
importante líder sindical e era o grande nome do PT. Sua figura contrastava com a de Collor, que vinha
da elite, porem não tinha de nenhum partido forte que o apoiava, mas soube usar com eficiência o
marketing, e temas de moralização. Iria combater os altos salários do funcionalismo público, que
denominava de marajás, com isso iludiu o povo e também teve apoio da mídia mais poderosa, e
conseguiu se eleger.

"Plano Collor" - A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 chegou a 4.853%, e no
governo anterior teve vários planos fracassados de conter a inflação. Depois de sua posse, Collor
anuncia um pacote econômico no dia 15 de março de 1990, o Plano Brasil Novo. Esse plano tinha
como objetivo por fim a crise, ajustar a economia e elevar o país do terceiro para o Primeiro Mundo. O
cruzado novo é substituído pelo "cruzeiro", bloqueia por 18 meses os saldos das contas correntes,
cadernetas de poupança e demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram
tabelados e depois liberados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados entre
patrões e empregados. Os impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros tributos, são
suspensos os incentivos fiscais não garantidos pela Constituição. É Anunciado corte nos gastos
públicos, também se reduz a máquina do Estado com a demissão de funcionários e privatização de
empresas estatais. O plano também prevê a abertura do mercado interno, com a redução gradativa
das alíquotas de importação.

As empresas foram surpreendidas com o plano econômico e sem liquidez pressionam o governo. A
ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do dinheiro retido, denominado
de "operação torneirinha", para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de
pagamento e contribuições previdenciárias. O governo libera os investimentos dos grandes
empresários, e deixa retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.

Recessão - No inicio do Plano Collor a inflação foi reduzida porque o plano era ousado e radical, tirava
o dinheiro de circulação, porem com a redução da inflação iniciava-se a maior recessão da história no
Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas e a produção diminui
consideravelmente, tem uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As
empresas são obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho e salários, ou demitir
funcionários. Só em São Paulo nos primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram
de existir, foi o pior resultado, desde a crise do início da década de 80. O Produto Interno Bruto
diminui de US$ 453 bilhões em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.

Collor parecia alheio a sua política econômica desastrosa, procurava passar uma imagem de super-
homem, sempre aparecendo na mídia se exibindo, pilotando uma aeronave, fazendo caminhadas,
praticando esportes etc. Mostrava uma personalidade forte, vaidoso, arrojado, combativo e moderno.
Quem não lembra da frase "Tenho aquilo roxo".

Privatizações - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacional de Desestatização que estava previsto


no Plano Collor é regulamentado e a Usiminas é a primeira estatal a ser privatizada, através de um
leilão em outubro de 1991. Depois mais 25 estatais foram privatizadas até o final de 1993, quando
Itamar Franco já estava à frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimoniais do
setor público para o setor privado. Sendo que o processo de privatização dos setores petroquímico e
siderúrgico já está praticamente concluído. Então se inicia a negociação do setor de telecomunicações
e elétrico, há uma tentativa de limitar as privatizações à construção de grandes obras e à abertura do
capital das estatais, mantendo o controle acionário pelo Estado.

Plano Collor II - A inflação entra em cena novamente com um índice mensal de 19,39% em dezembro
de 1990 e o acumulado do ano chega a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas.
É decretado o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. Tinha como objetivo controlar a ciranda
financeira, extingue as operações de overnight e cria o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF) onde
centraliza todas as operações de curto prazo, acaba com o Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNf), o
qual era usado pelo mercado para indexar preços, passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com
juros prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Pratica uma política de
juros altos, e faz um grande esforço para desindexar a economia e tenta mais um congelamento de
preços e salários. Um deflator é adotado para os contratos com vencimento após 1º de fevereiro. O
governo acreditava que aumentando a concorrência no setor industrial conseguiria segurar a inflação,
então se cria um cronograma de redução das tarifas de importação, reduzindo a inflação de 1991 para
481%.

A recuperação da economia iniciou-se no final de 1992, após um grande processo de reestruturação


interna das industrias. Foi fundamental a abertura do mercado brasileiro para produtos importados, a
qual obrigou a industria nacional a investir alto na modernização do processo produtivo, qualidade e
lançamento de novos produtos no mercado. As empresas que queriam permanecer no mercado
tiveram que rever seus métodos administrativos, bem como da organização, reduzindo os custos de
gerenciamento, as atividades foram centralizadas, muitos setores terceirizados. As empresas são
obrigadas a investir pesado na automação, reduz a hierarquia interna nas industrias, então cresce a
produtividade. Toda essa modernidade era necessária para as empresas se tornarem mais
competitiva, tanto no mercado interno quanto no mercado externo. O aumento de produtividade foi
fundamental para a sobrevivência das empresas, porem para os trabalhadores, significava perdas de
postos de trabalho, quer dizer com menos funcionários se produziam mais, então aumenta o
desemprego dos brasileiros, que em 1993 só na Grande São Paulo chega a um milhão e duzentos mil
trabalhadores desempregados.

Impeachment de Collor - O Presidente da Republica foi substituído sem derramamento de sangue,


golpe militar ou qualquer tipo de violência. Foi um processo pela via legal e demonstrou
amadurecimento do povo e dos políticos brasileiros, o que foi excepcional para a América Latina.
Collor pregava a moralidade, combate à corrupção, porem em seu governo foram constatados muitos
casos de corrupção. Paulo César Faria o PC envolvido no esquema de corrupção dentro do próprio
governo Collor, sendo que a CPI apurou que muito dinheiro foi para a conta corrente de Collor. Para se
ter uma idéia da gravidade, custou aos cofres brasileiro, só para as despesas pessoais do presidente
US$10 milhões e 600 mil. Ministros foram denunciados de corrupção, porem não houve condenações,
Paulo César Farias chegou a ser preso, mas em pouco tempo ganhou a liberdade e foi curtir uma
mansão na praia, onde foi encontrado morto crivado de balas. A policia não conseguiu provar nada,
porem a opinião do povo era uma só, seria uma queima de arquivos.

ANÁLISE DO PLANO COLLOR


Da mesma maneira que o governo Sarney, o governo Collor precisou de um Plano para
acalmar a economia nacional que estava em crise e precisava de uma estrutura econômica
que desce condições dela soerguer e crescer de acordo com as condições das
disponibilidades domésticas. O primeiro Plano que surgiu foi no governo Sarney com
alguns trabalhos emergenciais de ajustamento de curto prazo, dada a situação em que a
economia se encontrava naquele momento, com crises e mais crises atormentando o bom
andamento da estrutura econômica nacional. O Plano Sarney teve alguns pecados que não
deveriam ser seguidos pelo Plano Collor, já que se conheciam os erros, ou as
inadequações que a economia não suportava que fossem naquele momento implantados
tais ajustes com muita facilidade.
O Plano Collor nada mais foi do que o Plano Cruzado; pode-se até mesmo dizer, mais
ousado, porque sua pretensão era muito mais arrojada, muito mais imediatista, muito
mais forte do que os objetivos do Plano Cruzado, que era mais brando, mais político e
porque não dizer, mais paliativo. A ambiciosidade do Plano Collor foi tal que a economia
brasileira não suportou a ditadura do Presidente que queria crescer e desenvolver a todo
custo e rapidamente, sem o aval dos industriais, dos banqueiros e latifundiários. O Plano
era bom, no entanto, a índole do Presidente não deixava que os resultados econômicos
surgissem com facilidades, já que a política do Plano vinha de encontro com os anseios
de quem dominava econômica e politicamente toda a história, e sociologia nacionais.
A aplicação desses Planos decorreu da falta de emprego, da queda da produção nacional,
da falta de investimentos internos e externos, a busca incessante pela liquidez, o aumento
da miséria e muitas outras dificuldades que a economia atravessava, e que precisava uma
intervenção forte para uma volta à realidade. O Plano Collor surgiu sob a negação da
classe empresarial, com boicote à oferta de mercadorias e a volta do ágio que foi muito
comum no governo Sarney e que se esperaria não voltasse com tanta facilidade e às
escondidas, não se pode deixar de conviver com esta triste realidade. No governo Collor,
o Plano até que estava dando certo, mesmo que fosse contra tudo e contra todos que não
esperavam o sucesso que veio na metade do governo Sarney e que em Collor ainda se
tinha chegado com firmeza a uma consolidação de tais programas.
Um ponto fundamental que deve ser considerado, que causou grande problema nacional
foi o confisco da poupança da população que buscava suprir as dificuldades do dia a dia
com alguns ganhos decorrentes de sua correção mensal pela inflação oficial. Isto gerou
um descrédito dos consumidores à atuação governamental e por sua vez uma queda na
demanda que culminou com desemprego e desinvestimentos na economia que
necessitava de um aquecimento para produção e crescimento que o sistema econômico
tanto precisava. Com o confisco da poupança, o Plano Collor instituiu a nova moeda que
ficou denominada de Cruzeiro Real, com inflação zero, ou quase zero, denotando uma
certa fortaleza, cujo sistema espera ajustes e reajustes no seu conjunto; do contrário vem
com grandes crises insuportáveis.
Com relação ao problema da reforma fiscal, buscava-se uma reforma tributária que
fizesse justiça à capacidade de pagamento de cada contribuinte, assim como, fazer uma
revisão quanto aos incentivos e isenções que são concedidos sem nenhum critério de
seriedade quanto ao setor industrial. Sem dúvida de que o setor de beneficiamento e
transformação necessitava de subsídios e incentivos que não devem ser deixados de lado;
entretanto, essa técnica devia obedecer aos critérios de justiça, distribuição de renda, e
produção para todos de maneira justa. A reforma fiscal, conjuntamente com a dívida
interna seriam importantes, não de uma maneira ditatorial, impulsiva e instantânea; mas,
com condições de que todos ficassem satisfeitos da ação política desenvolvida para o
bem-estar de todos.
O Plano Collor teve o afã de buscar a eficiência na máquina do Estado, fazendo um
enxugamento de todas as repartições públicas, de modo que os bons funcionários
ficassem e se aperfeiçoassem, e os maus funcionários fossem banidos de uma categoria
que vem sendo desgastada ao longo do tempo. Nas palavras da Ministra Zélia
A meta é recuperar a eficiência e a dignidade do serviço público, racionalizar e
aumentar a produtividade e garantir um planejamento que execute as metas econômicas
e sociais do governo.
Estas colocações da Ministra são verdades que não se realizariam desta forma como
foram colocadas; no entanto, proporcionariam condições de que todos se especializassem,
sentissem-se responsáveis e a administração pública seria estruturada de maneira lógica e
competente para a sua eficácia.
Com relação à dívida externa, a prática era que o governo federal assumisse os débitos
externos contraídos por empresários e até mesmo isentando aqueles que contraíram
alguns acordos com o governo para tomar para si os empréstimos internacionais feitos
para a dinâmica do setor privado. No Plano Collor, o que se pretendia, era que o Banco
Central negociasse com os credores estrangeiros a possibilidade de reduzir o montante da
dívida contraída ao longo da história, quer seja do ponto de vista privado, quer do quanto
do ponto de vista social (governo). Do mesmo modo, os empréstimos conseguidos por
empresas particulares e bancos privados teriam em seu processo de negociação quem
estivesse envolvido nesta dinâmica e nunca a participação do governo em tarefas que
seriam totalmente privadas.
Sem dúvida, a situação econômica do país, melhorou no curto prazo, ou até mesmo no
médio prazo; porém, como sempre, os empresários pagaram para ver, e sentiram a sua
força no contexto da economia nacional ao exigirem ágio, e ao boicotarem a oferta que
sem muita pressão os preços começaram a explodir. A inflação é apenas um termômetro
de como anda a economia, isto é, a produção industrial, a produção agrícola e os outros
elementos participativos da oferta agregada que a economia precisa para satisfazer a uma
demanda carente. Com a inflação explodindo, o governo deveria tomar decisões que
revertessem os desajustes que o sistema econômico atravessava com a sua força
incontrolável pela própria compressão que a estrutura governamental criou com a
implantação ditatorial de um Plano.
No que diz respeito à política salarial verifica-se que o povo estava ganhando mal e que
precisava de uma política para uma melhora salarial, que desce condições de vida àquele
que participa diretamente da produção, isto significa dizer os trabalhadores, únicos
massacrados nesta história. O Plano propunha que os salários dos trabalhadores seriam
melhorados; mas, dentro de um prisma de crescimento da produção global da economia,
fazendo com que esse abnegado lutador seja qualificado, e todos tenham os seus
empregos bons. Assim sendo, a justiça do trabalho seria estabelecida, dentro do princípio
da livre negociação entre patrões e trabalhadores que precisam estar bem representados
pelos seus líderes, dentro de uma economia sem inflação, e isto seria muito difícil.
Uma questão importante, que não foi levada em consideração é quanto à taxa de juros
que é referência aos retornos do capital e serve também de empecilho ao crescimento da
demanda; pois, taxas de juros altas significam, as famílias não terem condições de
comprar a prazo, como fazem os que não têm dinheiro vivo. Tanto o Plano Collor como o
Plano Cruzado e os outros Planos de reajustes não mexeram na taxa de juros que estava
num patamar alto por conta da inflação que estava explodindo de maneira absurda e
insuportável. Com taxas de juros altas não se têm condições de uma entrada de
investimentos maciços no país, e nem tão pouco um aumento na renda a nível nacional,
porque são totalmente incoerentes taxas de juros altas com aumento no nível de
investimentos, a não ser em casos totalmente excepcionais.
O Plano Collor está eivado de vontade em tornar a economia brasileira viável, como se
tudo ocorresse por intermédio de um Plano; entretanto, ele é salutar, dentro de uma
coordenação que faça os ajustes corretos e na hora certa, para que possa caminhar numa
dinâmica de equilíbrio. O erro está muitas das vezes nos intervalos de reajustes que
existem, que sempre obedecem a uma programação político-partidária que não consegue
atingir os seus objetivos quer sejam eleitoreiros, ou simplesmente de interesses de grupos.
Se o aparato técnico da estrutura governamental fosse desligado das facções políticas,
talvez qualquer Plano que fosse posto em prática tivesse maior eficácia, e a economia
nacional não estaria com tantas dificuldades como as que existem hoje em dia.
Ao se fazer uma síntese geral, pode-se mostrar que um Plano deste, ou de qualquer um
outro tipo, deve ter como objetivo, melhorar o nível de emprego, aumentar a produção
global, crescer o nível de investimento e fluir melhor o nível de relacionamento com o
exterior. Depois de implantado o Plano, se não conseguir esses intentos, não se pode dizer
que ele foi inviável, tecnicamente pode até ser bom; mas, do ponto de vista de resultados
reais, pode não conseguir tudo aquilo que a sociedade deseja para se conseguir um bem-
estar para a população. Portanto, o Plano Collor é o Plano Cruzado mais arrojado, menos
político a princípio e mais imperial, como pressuposto de quem quer organizar uma
economia acéfala, do ponto de vista social; cujo político não participa mais vez, e o
importante é a dominação de um rei com forças ilimitadas da idade média.

http://www.terra.com.br/voltaire/capa.htm http://www.terra.com.br/voltaire/capa.htm
document.write(num)?" frameBorder=no width=468 scrolling=no height=60

História - Política
POLÍTICA

O Impeachment no Brasil
Leia mais
» A história do Impeachment
» O Impeachment no Brasil

A abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é o primeiro passo a ser adotado pelo Congresso
(senadores + deputados) para apurar as denuncias feitas contra o Supremo Mandatário da nação. Ela é quem acolhe
as questões de interesse público ou dinheiro público malversado. Ela tem um prazo para dar o seu parecer através de
um relator.
A partir do momento em que o relatório da CPI torna-se público, sendo ele acusatório qualquer cidadão pode
solicitar junto à Mesa da Câmara a abertura de um processo de impeachment baseado nas provas apresentadas pela
CPI. Cabe então a Mesa da Câmara colocar a questão na Ordem do Dia, isto é, se aprova ou não a abertura de um
inquérito a partir das conclusões do relatório e da denuncia acolhidas. Se a decisão for aprovada por 2/3 do plenário
ou simplesmente majoritário, o critério é o do presidente da Câmara, abre-se caminho para a criação de uma
Comissão Especial para formar um libelo acusatório contra o presidente ou algum outro a quem se pretende julgar.
A Comissão Especial
A abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é o primeiro passo a ser adotado pelo Congresso
(senadores + deputados) para apurar as denuncias feitas contra o Supremo Mandatário da nação. Ela é quem acolhe
as questões de interesse público ou dinheiro público malversado. Ela tem um prazo para dar o seu parecer através de
um relator. A partir do momento em que o relatório da CPI torna-se público, sendo ele acusatório qualquer cidadão
pode solicitar junto à Mesa da Câmara a abertura de um processo de impeachment baseado nas provas apresentadas
pela CPI. Cabe então a Mesa da Câmara colocar a questão na Ordem do Dia, isto é, se aprova ou não a abertura de
um inquérito a partir das conclusões do relatório e da denuncia acolhidas. Se a decisão for aprovada por 2/3 do
plenário ou simplesmente majoritário, o critério é o do presidente da Câmara, abre-se caminho para a criação de uma
Comissão Especial para formar um libelo acusatório contra o presidente ou algum outro a quem se pretende julgar.
Indicada pela Câmara (somente por deputados) é composta proporcionalmente por todos os partidos políticos que
têm assento no Poder Legislativo. Encarregam-na de apresentar um relatório confirmando ou não as denúncias num
prazo de dez dias, sendo que é dado ao acusado o direito de defesa (ele pode se fazer representar por um advogado).
Se houver confirmação das provas apresentadas nada mais resta à Comissão Especial do que levar de volta o
problema para ser apresentando no plenário da Câmara. Se 2/3 dos parlamentares aprovarem a denuncia vinda da
Comissão Especial, eles a remetem então para o Senado. Ocorrido isso, o Presidente ou qualquer outro acusado, é
obrigado a afastar-se do poder por 180 dias, tempo em que se exige que o Senado, agora transformado em Tribunal
do Júri, demora para chegar a conclusão final sobre o impeachment.
Este Senado transformado em Tribunal do Júri é presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal que atua
então como uma espécie de grande magistrado, enquanto que os senadores transformam-se num grande corpo de
jurados. Se a sentença final é acusatória, o Presidente da República (então em licença) não retorna mais ao poder,
sendo imediatamente substituído pelo Vice-Presidente.
"O sentido do juízo político não é o castigo da pessoa delinqüente, senão a proteção dos interesses públicos contra
o perigo ou ofensa pelo abuso do poder oficial, negligência no cumprimento do dever ou incompatível com a
dignidade do cargo."
Gonzales Calderón – Derecho Constitucional argentino, B.Aires, 1923, 3 v.
Impeachment de Collor, o "Caçador de Marajás"
Processo foi aprovado em 28 de agosto de 1992,
pela Câmara dos Deputados

Em 1989, depois de 29 anos da eleição direta que levou Jânio Quadros à Presidência da
República, o alagoano Fernando Collor de Mello (lançado pelo pequeno PRN) foi eleito por
pequena margem de votos (42,75% a 37,86%) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em
campanha que opôs dois modelos de atuação estatal: um pautado na redução do papel do
Estado (Collor) e outro de forte presença do Estado na economia (Lula).
A campanha foi marcada pelo tom emocional adotado pelos candidatos e pelas críticas ao
governo de José Sarney. Collor se autodenominou "caçador de marajás", que combateria a
inflação e a corrupção, e "defensor dos descamisados". Lula, por sua vez, apresentava-se à
população como entendedor dos problemas dos trabalhadores, notadamente por sua
história no movimento sindical.

Nos primeiros 15 dias de mandato, Collor lançou um pacote econômico, que levou seu
nome, e bloqueou o dinheiro depositado nos bancos (poupança e contas correntes) de
pessoas físicas e jurídicas (confisco). Entre as primeiras medidas para a economia havia
uma reforma administrativa que extinguiu órgãos e empresas estatais e promoveu as
primeiras privatizações, abertura do mercado brasileiro às importações, congelamento de
preços e pré-fixação dos salários.
Embora inicialmente tenha reduzido a inflação, o plano trouxe a maior recessão da história
brasileira, resultando no aumento do desemprego e nas quebras de empresas. Aliado ao
plano, o presidente imprimia uma série de atitudes características de sua personalidade,
que ficou conhecida como o "jeito Collor de governar".
Era comum assistir a exibições de Collor fazendo cooper, praticando esportes, dirigindo jato
supersônico, subindo a rampa do Palácio do Planalto, comportamentos que exaltavam
suposta jovialidade, arrojo, combatividade e modernidade. Todos expressos em sua notória
frase "Tenho aquilo roxo".

Por trás do jeito Collor, montava-se um esquema de corrupção e tráfico de influência que
veio à tona em seu terceiro ano de mandato.
Em reportagem publicada pela revista Veja, edição de 13 de maio de 1992, Pedro Collor
acusava o tesoureiro da campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César
Farias, de articular um esquema de corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos
públicos e cobrança de propina dentro do governo.

População foi às ruas pedir o impeachment


do primeiro presidente eleito em 29 anos
O chamado esquema PC teria como beneficiários integrantes do alto escalão do governo e o
próprio presidente. No mês seguinte, o Congresso Nacional instalou uma CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. Durante o processo investigatório,
personagens como Ana Accioly, secretária de Collor, e Francisco Eriberto, seu ex-motorista,
prestaram depoimento à CPI confirmando as acusações e dando detalhes do esquema.
Um dos expedientes utilizados por PC era abrir contas "fantasmas" para realizar operações
de transferência de dinheiro _arrecadado com o pagamento de propina e desviado dos
cofres públicos_ para as contas de Ana Accioly. Além disso, gastos da residência oficial de
Collor, a Casa da Dinda, eram pagos com dinheiro de empresas de PC Farias.
Aprovado por 16 votos a 5, o relatório final da CPI constatou também que as contas de
Collor e PC não foram incluídas no confisco de 1990. Foi pedido o impeachment do
presidente.
Em agosto, durante os trabalhos da CPI, a população brasileira começou a sair às ruas para
pedir o impeachment. Com cada vez mais adeptos, os protestos tiveram como protagonista
a juventude, que pintava no rosto "Fora Collor", com um ele verde e o outro amarelo, e
"Impeachment Já" - foi o movimento dos "caras-pintadas".
Em votação aberta, após tentativa de manobra do presidente para uma sessão secreta, os
deputados votaram pela abertura de processo de impeachment de Collor. Foram 441 votos a
favor (eram necessários 336), 38 contra, 23 ausências e uma abstenção.
Collor renunciou ao cargo, mas com o processo já aberto, teve seus direitos políticos
cassados por oito anos, até 2000.
Reportagens da Revista Veja

Caso Collor

O dossiê do irmão do presidente


Pedro Collor só chama o empresário PC Farias de "Lepra Ambulante". Ao se referir a Pedro,
PC também não é amistoso. "Aquele moleque tem uma inteligência desse tamaninho e toma
doses de vodca desse tamanhão", diz. O que faz o conflito atravessar as fronteiras de
Alagoas é um dossiê que Pedro tem em suas mãos sobre o Lepra Ambulante. "Se esse
material se tornasse público, o impeachment poderia ocorrer em 72 horas", disse o irmão
mais novo de Collor.
(19 de fevereiro de 1992)
50 milhões lá fora
VEJA teve acesso à seção "negócios internacionais" do Dossiê Pedro Collor. Os documentos
mostram que PC Farias tem participação em pelo menos nove empresas no exterior.
Segundo especialistas, tal articulação de empresas é feita quando se precisa movimentar
um capital da ordem de 50 milhões de dólares.
(13 de maio de 1992)
Os jardins da Dinda
Os jardins babilônicos de Fernando Affonso Collor de Mello são a sétima maravilha da
corrupção do governo. Para dar um toque final na megalomania vegetal, há cinco grandes
cachoeiras de águas cristalinas. O sibarita só aciona o mecanismo eletrônico que faz as
cascatas ciciarem quando estão presentes os sicofantas e sacripantas de sua intimidade.
(9 de setembro de 1992)
Presidente é afastado
O presidente Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo que ocupava desde 15 de
março de 1990. O voto de 441 deputados a favor do seu julgamento no Senado, dado em
alto e bom som na memorável sessão de terça-feira passada, apeou a cáfila de salteadores
que ocupou a Presidência.
(30 de setembro de 1992)
Pedro Collor tem câncer
Pedro Collor de Mello tem quatro tumores malignos no cérebro. A área afetada é tão grande
que torna impossível um tratamento cirúrgico.
(30 de novembro de 1994)
Fonte: Folha de São Paulo
Veja On-Line

Você também pode gostar