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O ECA e outras políticas sociais

Foto: Camila de Souza Para analisarmos o tema das possibilidades de


influência do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) em outras políticas sociais,
temos de nos reportar à letra e ao espírito do
artigo 87 da lei que estabelece as normas
gerais de proteção integral à infância e à
adolescência no Brasil. Este artigo estabelece
as linhas de ação da política de atendimento.
São elas:

I. políticas sociais básicas;


II. políticas e programas de assistência social,
Antonio Carlos Gomes da Costa é em caráter supletivo, para aqueles que deles
pedagogo e participou da comissão de
redação do Estatuto da Criança e do necessitem;
Adolescente III. serviços especiais de prevenção e
atendimento médico e psicossocial às vítimas
de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV. serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e
adolescentes desaparecidos;
V. proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do
adolescente.

As políticas sociais básicas são aquelas consideradas direito de todos e dever


do Estado, como ocorre com a saúde e com a educação. São, portanto,
universais. As políticas de assistência social não são universais. Dirigem-se
apenas ao universo daqueles que delas necessitam, ou seja, estão em estado
de necessidade. Destinam-se a pessoas, grupos e comunidades em
desvantagem social. As políticas de proteção especial preocupam-se em
assegurar a integridade física, psicológica e moral daqueles que estão violados
 
 

 
 
 
 
 
 
ou ameaçados de violação em seus direitos. Elas tratam das chamadas
medidas especiais de proteção, como abrigos, programas protetivos em meio
aberto, programas de prevenção e redução da violência familiar, social e
institucional, e também à proteção dos adolescentes privados de liberdade. Os
serviços de localização de crianças, adolescentes, pais e responsáveis
desaparecidos respondem pela interface das medidas protetivas com a política
de segurança pública. Por fim, a proteção jurídico-social interliga as medidas
protetivas e socioeducativas com a Defensoria Pública, o Ministério Público e a
Magistratura da Infância e da Juventude.

No Livro I da Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do A execução da política de


Adolescente), que trata dos direitos a serem atendimento pressupõe e
requer uma articulação
promovidos pela família, o Estado e a sociedade, orgânica e permanente com
todas essas interligações estão claramente todas as demais políticas
detalhadas. Isto ocorre porque o ECA cria condições sociais
de exigibilidade para os direitos da população
infanto-juvenil, que estão em todas as demais leis que afetam essa parcela da
população brasileira.

Portanto, as possibilidades de influência do ECA sobre o conjunto das políticas


sociais é um elemento essencial para sua plena implementação. A execução
da política de atendimento pressupõe e requer uma articulação orgânica e
permanente com todas as demais políticas sociais e com o sistema de
administração de justiça. É o que chamamos de incompletude institucional das
ações desenvolvidas nessa área por um conjunto de instituições distribuído
pelas mais diversas áreas do Estado brasileiro nos níveis federal, estadual e
municipal e também pelas organizações da sociedade civil que atuam nesse
campo.

Essa é a única maneira de darmos concretude à Doutrina da Proteção Integral


das Nações Unidas, que está na Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, nos demais instrumentos da Normativa Internacional e no
extraordinário e seminal artigo 227 da Constituição Federal, de 5 de outubro de
1988. A essência dessa doutrina é assegurar todos os direitos para todas as
crianças, sem exceção alguma. Tudo isso está sintetizado de uma maneira
muito feliz no referido artigo da Carta Magna do Brasil:

"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão."
 
 

 
 
 
 
 
 
Como se vê, os conselheiros de direitos e tutelares, os dirigentes de políticas
públicas, os operadores do direito, todos os demais ativistas da Doutrina da
Proteção Integral estão convocados pelo ECA a atuarem de forma
convergente, intercomplementar e sinérgica. Sem isso, jamais tiraremos o
nosso Estatuto do papel.

*Os textos publicados na área Colunistas são de responsabilidade dos autores e não exprimem
necessariamente a visão do Portal Pró-Menino.

 
 

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