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Local:
Convento Santíssima Trindade
R. São Benedito, 2.146 - Alto da Boa Vista - Santo Amaro
Objetivo do Curso: Formar missionários(as) que: São Paulo - SP - Tel.: (11) 5687-7229
- Ajudem a dinamizar a Igreja local; Veja como chegar:
- Possam partir em missão para locais onde o povo de Deus http://www.ssps.org.br/Convento/FotosAmpliadas/Local.htm
tem maior necessidade; Vagas Limitadas:
- Sejam multiplicadores e animem outras pessoas a assu 50 participantes
mirem o mandato missionário da Igreja;
- Busquem aprofundar a vocação missionária. Inscrições e maiores informações:
Catolicanet - Tel.: (11) 5660-6800
A quem se destina: Av. Jacinto Júlio, 478 - Interlagos - São Paulo - SP
- Especialmente aos jovens, com potencial para a liderança CEP 04815-160 - http://www.catolicanet.com.br
que participam da comunidade paroquial; E-mail: missiologia@catolicanet.com.br
- Para os membros do COMIPA (Conselho Missionário Pa-
roquial) e pessoas que desejam se preparar melhor para o
trabalho missionário.
Requisitos: ser indicado pelo pároco ou pela Coordenação Apoio:
de Pastoral; ter entusiasmo missionário e compromisso com o
Evangelho.
15 e 16 de julho de 2006
E
m maio, tradicionalmente celebramos as mães, mulheres
que geram a vida. Pobres, ricas, urbanas, camponesas,
índias, negras, brancas, morenas, mulatas, trabalhadoras,
desempregadas... Mães serão sempre mães, não importa a
condição social, a cor, a raça ou a procedência. Dentre todas 1 - Fátima Silva com a filha
as mães, recordamos de maneira particular Maria de Nazaré, Yohanna Letícia, integrantes do MST
a Mãe de Deus e da Igreja. Na nossa vida, contamos sempre com a do Acampamento Milton Santos,
proteção e a intercessão de Nossa Senhora. O próprio Jesus fez o Americana, SP, em manifestação
seu primeiro milagre em Caná, para atender ao pedido de sua mãe na Praça da Sé.
(Jo 2, 1-12). E hoje, as necessidades do povo são tantas! 2 - Cíntia Rezende, jovem do MST do
No evangelho de Lucas, Maria aparece como modelo de discípula. Assentamento de Itapeva, SP.
O próprio Jesus afirma haver uma bem-aventurança que supera a da Fotos: Jaime C. Patias
maternidade física: “Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus
e a observam”. No relato da visita a Isabel, Maria é discípula fiel (em
relação a Deus) e solidária (em relação ao próximo). MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
Recordemos ainda o Magnificat (Lc 1, 46-55), inspirado no canto Cartas
de Ana (1Sm 2, 1-10), mãe de Samuel, depois que Deus a livrou da OPINIÃO--------------------------------------------------05
humilhação da esterilidade. O Magnificat louva a intervenção de Deus Massacre de Eldorado dos Carajás
Soraia Soriano
em favor dos pobres, humilhados e famintos, contra os orgulhosos,
poderosos e ricos de coração fechado. Lucas atribuiu esse hino a Maria PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
porque ela, mais que todos, expressava os sentimentos e atitudes de Acordar as forças adormecidas
Rosa Clara Franzoi
compromisso, esperança e confiança no poder de Deus. Assim, Maria
é figura representativa de um povo, da coletividade. Ela é porta-voz VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
dos discípulos cristãos. É uma página profética, como denúncia de Notícias do Mundo
Ecclesia / Fides / POM
algo errado e anúncio de uma transformação. Os aspectos político e
econômico estão bem retratados: os poderosos são destronados e ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Maria de Nazaré na Aldeia Global
os ricos, despedidos de mãos vazias. Salvador Medina
O que o canto de Maria nos sugere para a vivência da fé hoje?
Assumindo o projeto de Deus, TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Dos arrozais catarinenses para o mundo
Jaime C. Patias
- Maio 2006 3
Mural do Leitor
A n o XXXIII - no 04 M ai o 2006 Missão Surumu
Como todos os anos, estou renovando
Diretor: Jaime Carlos Patias minha assinatura de Missões. Recebo Revista Missões
a revista sempre com satisfação, pois Muito boa a edição do mês de abril. Está
Editor: Maria Emerenciana Raia ela é bonita na apresentação e o seu melhorando cada vez mais. Entretanto, não
precioso conteúdo me faz muito bem. encontrei nenhum artigo específico sobre
Estou acompanhando as reportagens Nossa Senhora, embora seja considerada
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
que falam da reconstrução da Missão a Rainha das Missões e essa revista seja
çalves, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi
de Surumu, em Roraima. Ao ver aque- editada por uma congregação religiosa, cuja
las casas queimadas, fiquei pensando: Mãe é a Consolata. À guisa de sugestão,
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
como podem existir pessoas tão más, acho que em todas as edições deveria
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
sem consciência, capazes de premeditar aparecer algum artigo sobre Maria.
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apa-
tamanha destruição? Cada vez entendo
recido Monteiro, Humberto Dantas, menos esta nossa humanidade. Votos de Luiz Grossi
Ramón Cazallas, Luiz Carlos Emer, um bom trabalho na revista. Via e-mail
Giovanni Crippa
Maria Adélia Ferreira Dantas Experiência na Amazônia
Agências: Adital, Adista, CIMI, Fortaleza, CE Sou formando de Filosofia do Instituto
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Missões Consolata em Manaus e é com
Pulsar, Vaticano Testemunho África muita alegria que venho partilhar um
Muito oportuno o testemunho da in- pouco desta nova experiência de vida.
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires cansável Ir. Maria Artura (Missões, março Somos jovens que estamos sempre a
de 2006) na África. Tive oportunidade de caminho e aprendemos no dia-a-dia que
Jornalista responsável: conhecê-la e testemunhar o belo trabalho ir ao encontro do desconhecido é um
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) que desenvolve na comunidade de Ilamba, desafio gratificante. Ter amor à Palavra de
na Tanzânia. Em 2004, quando visitei mi- Deus e viver segundo a sua vontade é a
Administração: Eugênio Butti nha irmã, Ir. Joselice, em Iringa, conheci motivação que nos leva a querer abraçar
Ir. Maria Artura, juntamente com os jovens este carisma missionário. Estou muito
Sociedade responsável: por ela amparados. Sem dúvida, é pessoa feliz nesta caminhada e dou graças ao
Instituto Missões Consolata admirável, de muita fibra e coragem. Um Senhor pela presença dos missionários na
(CNPJ 60.915.477/0001-29) belo exemplo de dignidade. Parabéns a Região Amazônica, o pulmão do mundo
ela e a todos que trabalham na África. e o coração do Brasil.
Impressão: Edições Loyola
Fone: (11) 6914.1922 Osmar Santi Francisco Menezes Maia
Campo Grande, MS Via e-mail
Colaboração anual: R$ 40,00
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2
Instituto Missões Consolata
Padre Severino Bordignon
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
Faleceu no dia 5 de abril, o padre Pedra Branca, SP. Atingido no fígado por
Severino Bordignon, missionário da Con- um câncer no ano 2000, padre Severino
Missões é produzida pelos
solata. Filho de Luigi e Anna Bordignon, passou a morar na Casa Regional IMC, no
Missionários e Missionárias
nasceu a 5 de agosto de 1940, em Rosá Jardim São Bento, SP, para tratamento de
da Consolata
(Vicenza), na Itália. Foi ordenado saúde. Enquanto isso trabalhava
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
sacerdote aos 20 de dezem- na pastoral da Região Episcopal
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
bro de 1969, em Turim. Após a Sant’Ana, na Arquidiocese de São
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR ordenação, esteve durante um Paulo. Foi responsável pelo Lar
ano em Portugal, partindo em Betânia (casa de apoio a portado-
Membro da PREMLA (Federação de seguida para Moçambique, onde res do vírus HIV), bem como da
Imprensa Missionária Latino-Americana) trabalhou durante 9 anos. Em enfermaria da Casa Regional.
1981 chegou ao Brasil e atuou O velório do corpo do padre
Redação em diversos lugares: Seminário Severino foi realizado na igreja
Rua Dom Domingos de Silos, 110 Nossa Senhora de Fátima e na de São Marcos, Pedra Branca,
02526-030 - São Paulo Paróquia Nossa Senhora da Conceição, a pedido dos padres e dos fiéis daquela
Fone/Fax: (11) 6256.8820 em Três de Maio, RS, Paróquia de São comunidade. O Bispo da Região Episcopal
Site: www.revistamissoes.org.br Manuel, em São Manuel, SP, Paróquia Sant’Ana - Dom Joaquim Justino Carreira
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Nossa Senhora Consolata, em Rio do - esteve presente. O descanso eterno lhe
Oeste, SC e Comunidade São Marcos, dê o Senhor!
4 Maio 2006 -
Massacre
OPINIÃO
de Eldorado dos Carajás
Depois de 10 anos do conflito no Pará, nenhum dos responsáveis está preso.
Vários protestos por todo o Brasil lembraram a data.
de Soraia Soriano desta causa. Segundo registros da Comissão Pastoral da Terra,
em 2005 foram assassinados 28 trabalhadores no campo, em
N
2004 foram 27, provavelmente ao final do ano de 2006 estaremos
o dia 17 de abril, completaram-se 10 anos do Mas- com estes números novamente. Outras tantas formas de violação
sacre de Eldorado dos Carajás, no estado do Pará. têm acontecido sem muitos registros, tentativas de assassinatos,
Naquele dia de 1996, três mil sem-terra ocuparam ameaças, torturas, agressões, prisões. As ações dos governos
a Rodovia PA-150 e caminhavam em direção a de ontem e hoje foram incapazes de alterar o padrão histórico
Marabá para exigir a desapropriação da Fazenda de violência e desrespeito aos direitos humanos no Brasil. No
Macaxeira, conhecido latifúndio improdutivo da campo prevalece a concentração de terras, o agronegócio, a
região. Duas tropas de militares, que abriram fogo para cumprir violência e a impunidade.
a ordem do governador do Pará na época, Enquanto trabalhadores são assassina-
Almir Gabriel (PSDB), de desobstruir a pista dos, condenados à prisão, indiciados sob
Jaime C. Patias
a qualquer custo, deixaram oficialmente 19 as mais variadas acusações, o número de
trabalhadores mortos. Outros três morreram famílias assentadas no Brasil é insignificante.
depois, em conseqüência das seqüelas. Neste governo, 70% daquelas ditas assen-
“Eles chegaram dos dois lados e nós tadas são sob forma de regularização, as
ficamos no meio. Não tínhamos condição que já estavam nas terras, principalmente
de fazer nada. Um monte de policiais ar- na Amazônia, o que não alterou em nada
mados com fuzil e metralhadora”, narra a estrutura fundiária do país, uma das mais
Avelino, 51 anos, sobrevivente do massacre. desiguais do mundo. Já estamos no final
“Quando os policiais chegaram de Marabá, deste governo e a boa vontade apresen-
desceram do ônibus e deram uma rajada tada no início foi ineficaz. Impunidade e
de metralhadora para cima, achamos que lentidão são as marcas do Poder Judiciário
era só para nos intimidar”, conta Miguel, 42 quando se refere a crimes cometidos contra
anos, também sobrevivente do massacre. os trabalhadores, mas quando é para os
São 10 anos completos e nenhum dos condenar a Justiça é rápida, como na ação
142 policiais envolvidos no caso foi puni- da Aracruz, no Rio Grande do Sul, em que
do. Os responsáveis pela ação, o coronel já são 38 os indiciados. Cadeia é mesmo
Mauro Pantoja e o major José Maria de para pobre. Quando acontece um massacre
Oliveira foram condenados. Somadas as deste tipo, todos vão para a mídia afirmar
penas dos dois são 283 anos de prisão, que providências serão tomadas, ministros,
no entanto, ambos aguardam em liberdade deputados, presidente... Passados alguns
o julgamento de um recurso no Superior Tribunal de Justiça. dias, nada acontece. Raras vezes os pistoleiros são presos, os
Este episódio teve uma enorme repercussão, pelo número de mandantes nunca o são, muitas vezes nem julgamento acontece.
mortos, pelas execuções sumárias e em função do número de Nos perguntamos muitas vezes qual é o nosso papel enquanto
policiais envolvidos. trabalhadores? É continuar em movimento, continuar construindo
a luta diária de resistência nas ações, para mostrar que nós não
Outros massacres esqueceremos, até que um fato inesperado aconteça e nos leve
Hoje, outros tantos massacres de trabalhadores devem ser todos para as ruas.
lembrados: Corumbiara, Felisburgo e outros milhares assassi- Finalizo com uma frase de um poema de Pedro Tierra, em
nados individualmente, muitas vezes esquecidos, às vezes sem homenagem ao Massacre de Eldorado: “Candelária, Carandiru,
nome, sem rosto. Em 40 anos, são quase 2 mil assassinatos Corumbiara, Eldorado dos Carajás não cabem na frágil vasilha
no campo e esta perseguição sofrida pelos trabalhadores tem das palavras... mas, se calarmos, as pedras gritarão”.
sido contínua, sistemática e sem piedade. Neste momento em
diferentes estados do Brasil, inúmeros são os casos de violação Soraia Soriano é bióloga e professora, membro da coordenação estadual do MST, São Paulo.
dos direitos humanos, mas inúmeros também são os defensores Responsável pelo assentamento modelo Nova Esperança, São José dos Campos, SP.
- Maio 2006 5
Memória e história das mulheres negras
Fotos: Arquivo Centro Atabaque
Encontro de mulheres negras no Centro Atabaque, março 2006. Ir. Lindaura Araújo, MJC, secretária executiva
da Pastoral Afro-Arquidiocesana, SP.
de Sônia Querino Santos e Claudia Novais Santos “sem nome” o grupo de mulheres clamou em alta voz: “somos
incansáveis, somos mulheres negras que lutamos pela vida, que
A
cantamos liberdade e cultivamos o amor por nossa identidade
Pastoral Afro Arquidiocesana de São Paulo, em par- étnica!” “Eu sou negra sim, como Deus me criou, sei lutar pela
ceria com o Centro Atabaque de Cultura Negra e vida, cantar liberdade e gostar desta cor!!!”
Teologia, tem reunido no Programa Gênero e Etnia, Nesses encontros, têm-se partilhado a memória e as emoções
mulheres negras de diversas comunidades. Elas se das mulheres negras, mantendo viva e comungando a “estranha
encontram para partilhar a vida e fazer memória da mania de ter fé na vida”.
ação de Deus. Guardar na história e apontar para a Os conteúdos temáticos são trabalhados por Sônia Queri-
luz é a perspectiva da luta cotidiana, de partilha de vida, de força no (teóloga e educadora), Mãe Conceição de Ogum (ialorixá),
da comunidade e da mulher negra. Assim é que os encontros Regyna Santtos (fotógrafa), Penha (cabeleireira), Maria José
das mulheres foram sonhados e gestados. - Mazé (psicóloga do Instituto do Negro Padre Batista), Maria
Célia Malaquias (psicóloga), Nilcéia (Associação Pró-Falcêmica
Essa história tem “umbigo...” - APROFE), Claudia Novais (educadora popular), Cássia Filome-
Em setembro de 2000 aconteceu em Salvador, Bahia, o VIII no e Eduardo Araújo (catequistas afros), numa construção em
Encontro Pastoral Afro Latino-Americano e Caribenho (EPA). Foi mutirão com tantas outras mulheres atuantes na articulação da
um momento histórico, no qual mulheres negras de diversos paí- Pastoral Afro: Ir. Lindaura Araújo M.J.C. (secretária executiva da
ses, inclusive da América do Norte, partilharam suas experiências Pastoral Afro Arquidiocesana de São Paulo), Maria José (setor
de vida e beleza. Ao término do evento foi escolhido o tema a de contabilidade) e Raquel (equipe de secretaria).
ser refletido no IX EPA, previsto e realizado em 2003 na cidade Os encontros das mulheres negras continuam bimestralmente.
de Callao, no Peru : “Mulheres Negras e sua Contribuição na Estamos tecendo os fios coloridos da solidariedade, juntando os
Construção das Américas”. No Peru, o compromisso de articular retalhos da nossa história e alinhavando a colcha de retalhos
os grupos de mulheres nos respectivos países da América Latina, da diversidade na convicção de que um outro mundo só será
Caribe e América do Norte foi assumido com afinco. Assim, em realmente possível quando o poder for partilhado por mulheres
março de 2004, motivada pela força do Evangelho, a Pastoral e homens, numa relação de igualdade e partilha.
Afro, em parceria com o Centro Atabaque, reuniu as mulheres
negras que assumem a identidade de atuantes na vida eclesial Sônia Querino Santos é mestranda em Educação pela PUC-Campinas, assessora da Pastoral Afro
das comunidades. no Brasil e demais países da América Latina, membro do Centro Atabaque de Cultura Negra e
A passagem bíblica sobre a mulher “hemorroísa” (Mc 5, 25-34 Teologia e coordenadora do Programa Gênero e Etnia.
e Lc 8, 40-56), marginalizada e desprezada pela sociedade da sua Claudia Novais Santos é pós-graduanda em Psicopedagogia pela UniFMU, educadora popular e
época, foi vivenciada pelo grupo. E, com a mulher “hemorroísa” membro da Pastoral Afro Arquidiocesana de São Paulo.
6 Maio 2006 -
pró-vocações
Acordar as forças adormecidas
de Rosa Clara Franzoi
“As verdadeiras mudanças não se
conseguem sem suor”.
M
Mahatma Gandhi
uitas vezes andamos preocupados e distraídos e
não enxergamos além do nosso pequeno círculo de
relacionamentos. Dias atrás, conversando com um fez parte da última viagem espacial! Temos avanços na economia,
grupinho de jovens, perguntei: o que vocês acham na educação, na medicina: remédios aliviam dores, cirurgias
do mundo em que vivem? Imediatamente, choveram fazem transplantes de órgãos, preservando e prolongando a
respostas: "É muito difícil. É um mundo desigual vida... São motivos que nos devem deixar contentes e nos levar
e injusto. É um mundo cão, um submundo. É um mundo onde a agradecer a Deus, que deu inteligência ao ser humano. Isto,
nós, jovens, temos pouquíssimas oportunidades". "É um saco de sem falar de tantas pessoas maravilhosas que conhecemos e
gatos", desabafou uma jovem, referindo-se à crise política. "É um que proporcionam um imenso bem à humanidade.
mundo onde a competição e a inveja matam todos os sonhos". Os problemas? Claro que eles existem; eles fazem parte da
Eu continuei: e o que vocês sentem, como parte desse todo? vida. Suprimi-los, impossível. Vamos mudar a pergunta. Ao invés
Houve um silêncio, logo rompido: "Eu me sinto uma inconfor- de questionar o que vamos fazer com eles, perguntemos: Qual
mada, uma descrente. Eu fico revoltado. Eu me irrito diante de é a minha, a sua, a nossa postura diante deles? Falo a todos,
tanta corrupção e descaso das autoridades em relação ao povo. mas sobretudo aos jovens, que estão construindo o seu futuro.
Eu me sinto de mãos atadas, impotente. Eu fico louco de raiva Não posso esperar que os outros os resolvam por mim... devo
quando não consigo o que eu quero. Eu... vocês podem até me fazer a minha parte.
tachar de sonhador, disse Paulo, mas, eu acredito na mudança, Jovem! Comece a descobrir o potencial de energia que está
e porque acredito, procuro fazer a minha parte". dentro de você. Acorde aquela força que está adormecida, que
Todos projetaram na tela da imaginação a visão que têm e pode e deve ser posta em ação. A juventude é capaz de coisas
os sentimentos que experimentam diante da realidade. Paulo incríveis, principalmente quando tem a convicção de jovens
também é jovem. Ele se colocou como alguém que se sente como Paulo, que sentem a obrigação moral de colaborar para
parte viva desse todo e procura dar a sua contribuição para que a mudança aconteça.
que as coisas mudem. Parabéns, Paulo, continue com esta
disposição responsável.
Divulgação
O pessimismo mata os sonhos
Como o pessimismo atrapalha! É verdade que o mundo não
vai bem, mas, precisamos prestar atenção, porque se não sen-
tirmos a obrigação pessoal e coletiva de fazer alguma coisa que
provoque a mudança, seremos culpados pela omissão. Ao nosso
redor, quanta lamúria! Pior é que queixumes e pessimismo nada
resolvem. Eles cegam e não permitem a visão do lado positivo
que está no verso da medalha. O mundo em que vivemos não
é só coisa ruim. A cada dia vivemos as influências do progresso
nos vários campos da tecnologia e da ciência: quantas pesquisas
importantes, viagens ao espaço - até o brasileiro Marcos Pontes
- Maio 2006 7
e a comunidade internacional sobre a nova onda
de desordens que incide sobre o país”, declarou à
Agência IRIN das Nações Unidas, Georgette Debale,
a estudante universitária que organizou o evento.
Segundo as manifestantes, existem três grupos re-
beldes ativos na região. O protesto foi concluído perto
do palácio presidencial, onde as mulheres, inclusive
funcionárias públicas e membros de associações
femininas e de organizações religiosas, entregaram
um memorando ao presidente François Bozizé. “No
memorando, pedimos às autoridades e aos rebeldes
que se encontrem e negociem a paz. Deveriam saber
que a paz não tem preço”, disse Georgette Debale.
A República Centro-Africana está tentando sair com
dificuldade de um período de instabilidade, depois
que o atual presidente tomou o poder em março de
2003, no final de uma guerra civil conduzida contra o
ex-presidente, Ange-Félix Patassé. O país é um dos
mais pobres do mundo, com uma renda per capita
VOLTA AO MUNDO
Néo Monteiro
Defesa da vida humana na marcha do Grito dos Excluídos, 7 de setembro de 2005, São Paulo.
de Vitor Hugo Gerhard
A
defesa da vida humana, desde a sua concepção até o raras vezes, desafiados, e até confundidos diante da montanha
seu fim natural é um princípio que a fé cristã não pode de opiniões e experiências que vêm à tona a cada dia.
descuidar, sob pena de pagar um preço muito alto. A vida O tema de fundo da intenção missionária deste mês são os
humana é um bem absoluto, dom de Deus, que precisa critérios. Afinal de contas, quando se fala em progresso huma-
ser defendido de maneira intransigente. Se falharmos no, em pesquisa, em leis e instituições, o que deve imperar é
nisso, a humanidade estará falhando como um todo. a “lei-do-vale-tudo”. Por que a ciência é autônoma diante das
Os países de missão têm, como uma de suas características verdades e diante da fé, por que as leis não podem restringir o
centrais, o fato de serem países em transição, mutantes, ou saber humano ou a ele impor limites? Esta é uma questão atual.
por sua condição de nações jovens, ou pela busca mesma de É a questão da ética, dos critérios e do discernimento.
adaptação aos tempos de hoje e de sua integração ao mundo Neste sentido, a Igreja Católica e a fé cristã continuam a
globalizado. Por isso, uma certa inquietação natural e, às vezes, desempenhar um papel fundamental na reflexão, nas decisões
a imprecisão nas leis e nas instituições que desejam exatamente e na implementação de um desenvolvimento capaz de defender
estar aí para cumprir seu papel de promotoras da vida humana a vida, na elaboração de leis e na criação de instituições que,
e das condições favoráveis para o seu desenvolvimento. num mundo dilacerado por discórdias, o imperativo ético da
É bem verdade que o pluralismo no mundo dos conceitos e a vida humana esteja sempre acima e para além de qualquer
aceleração nas pesquisas em todas as áreas do saber humano jogo de interesses.
estão colocando as pessoas e as instituições diante de encruzi-
lhadas nem sempre fáceis. Mesmo os cristãos se sentem, não Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
I
rmã Delourdes Soares, brasileira de Santa Catarina, retornou fez questão de ressaltar que desde que
Arquivo Pessoal
dia 10 de abril a Moçambique, África. Ela já conhece a reali- chegou ao Brasil, encontrou um ambiente
dade daquele país, pois lá atuou na década de 70, quando acolhedor, fraterno e familiar. Ela tem
houve a guerra pela independência. Portanto, conheceu certeza de que no Colégio Consolata
bem de perto e senti u na própria pele as dificuldades e os existe uma vivência e ideal missionário
sofrimentos impostos por uma guerra. Agora, convidada a voltar, concretizado através do serviço à edu-
ela respondeu com muita disponibilidade, pronta a servir no que cação. Por isto expressou, inclusive, um
for necessário. Aos alunos, professores e funcionários do Colégio desejo: “Que surjam vocações daqui.
Consolata, Imirim, em São Paulo, onde trabalhou como enfermei- O mundo precisa...” Nós acompanha-
ra, deixou esta mensagem: “continuem cultivando este coração mos Ir. Delourdes com nossa oração
missionário. Continuem sentindo que outros povos necessitam da e que ela leve a consolação de Maria, que é Jesus, a todos os
nossa ajuda, através do trabalho, oração e apoio”. Ela também moçambicanos.
- Maio 2006 9
Maria de Nazaré na
espiritualidade
C
e as expectativas do seu povo. Esperava, do seu Filho na vida-morte-ressurreição,
hama-me a atenção pensar na com o “resto fiel”, a Consolação prometida tornou-se sua discípula com os outros
atualidade de uma personagem a Israel e se disponibilizou, não sem discer- discípulos e missionária (testemunha e
que nunca saiu de sua aldeia nimento, para que o Espírito do Deus da anunciadora) na festa de vida (bodas) e
(Nazaré) regional (Judéia) nesta vida trabalhasse nela, gerando o Messias
época urbana e planetária, ou Libertador e o apresentou aos pobres da
neste mundo imaginado como terra e aos reis do Oriente na manjedoura
uma “Aldeia Global” (McLuhan), e com- de Belém e aos ministros da religião no
plementar assim outra reflexão publicada templo de Jerusalém. Estava comprometida
nesta mesma seção com o título “Maria, em casamento, sob compromisso formal e
modelo permanente na era do descartável” legal, disposta a assumir e exercer, junto
(revista número 04, maio de 2003). com seu esposo José, o rol da família ge-
Parece-me que uma mulher pobre, radora cuidadosa, educadora e formadora
habitante de um pequeno povoado, uma da vida nova, vendo o filho nascer e crescer
jovem virgem namorada e noiva de outro integral e processualmente em estatura,
jovem chamado José, uma mãe de um líder
religioso que se apresenta como o Messias
esperado e que é perseguido, condenado
e morto, uma fiel cumpridora da lei e da
tradição político-religiosa do seu povo
judeu, que se torna a “primeira cristã” ou
discípula de Jesus Cristo, uma servidora
gratuita da humanidade nos momentos
de necessidade, uma irmã e companheira
dos outros discípulos do mesmo Mestre na
hora da crise e da dispersão, uma pessoa
de oração e esperança aberta às novida-
des do Espírito, uma mulher adulta capaz
de animar a festa da vida e permanecer
firme e fiel na hora da dor, do sofrimento
e da cruz, tem que ter uma proposta de
espiritualidade - jeito de ser, viver e se
relacionar com as coisas, com os outros
e com o Outro - para os habitantes desta
Aldeia Global.
Mulher de Nazaré,
ontem e hoje
Ser mulher, e de Nazaré (em hebraico
natsrát, em árabe, al-nassira), vinte séculos
atrás, num pequeno povoado ou aldeia
situada na região norte de Israel, nas
montanhas da Galiléia, tinha, certamente,
uma série de implicações, além das discri-
minações políticas, econômicas e culturais,
a dependência do império Romano, a forte
influência intelectual grega e religiosa com
as exigências da lei, as tradições judaicas e
a pureza racial obstaculizada pela mistura de
povos. Ontem Maria foi apresentada pelos
10 Maio 2006 -
Aldeia Global
Arquivo IMC
no calvário da história (cruz). Maria é a ta, por parte do Instituto da Consolata: o
primeira cristã. diálogo com os muçulmanos, sabendo que
Hoje as “Marias” (entenda-se todos aqui moram muitos militares franceses e
os discípulos e discípulas de Jesus) de norte-americanos que têm, porém, outras
Nazaré ou Belém, cidades árabes ou idéias, perspectivas e interesses, embora
cristãs, como de quaisquer povoado ou sejam cristãos, como eu.
“megacidades” deste mundo globalizado, Uma vez colocados os pressupostos
devem viver, conviver e interagir com o posso dizer que para mim, estar aqui
“outro”, diferente pela cultura ou religião significa manifestar, através da minha
e assumir os riscos e bondades da mul- pessoa e comunidade religiosa-cristã, que
ticulturalidade e do pluralismo religioso. os caminhos do Senhor são infinitos e
Este é um desafio para as pessoas e que, a exemplo de Maria, não podemos
comunidades, os governos - como o limitá-los nem determiná-los a partir das
de Israel que deve enfrentar a realida- nossas humanas compreensões do Plano
de dos árabes israelitas ou “palestinos da Salvação. Um cristão deve reconhecer
cidadãos de Israel”-, Igrejas e religiões que existem outros caminhos de salva-
e, principalmente, para os missionários ção, outras maneiras que Deus tem para
em seus processos existenciais de en- se comunicar com a humanidade e lhe
carnação entre as pessoas, culturas, oferecer a felicidade. Igual coisa aconte-
povos e religiões. ce com um muçulmano: encontrando-se
Todos podemos aprender dessa comigo, pessoa que fez uma opção de
mulher de Nazaré, chamada Maria fé e de vida concretas, necessariamente
e da vida e prática das “Marias” tem que colocar-se muitas perguntas. Não
de hoje, particularmente dos pode permanecer tranqüilo e sereno reco-
missionários que, como Ela, nhecendo e reafirmando que quem não é
pronunciam seu “sim” e ofe- muçulmano está condenado. Eu acho que
recem a própria vida para Missionário em Djibuti a presença do outro, não muçulmano, o
que “todos tenham vida” Um desses missionários de hoje é obriga a sair de si mesmo, aprofundar-se
e o reinado de Deus se Armando Olaya, homem de Facatativa, na sua fé e abrir os horizontes além do seu
instale. pequena cidade perto de Bogotá, capital mundo. É uma oportunidade maravilhosa,
da Colômbia, que se encontra convivendo uma graça de Deus.
e interagindo com os, aproximadamente, Além de tudo isso, existe outra coisa
461.000 habitantes de Djibuti, pequeno país muito bela: a experiência de construir um
de 23.180 km², localizado entre a Eritréia, mundo mais humano e habitável, acima das
a Etiópia e a Somália, na imensa África. diferentes maneiras de crer. Que podemos
Naquele pequeno recanto do mundo vivem dizer quando nos encontramos com alguém
Divulgação
diferentes grupos étnicos: issa, 47%, afar, se gastando para que outros recuperem sua
37%, europeus, 8%, árabes, 6%, que falam dignidade e, inclusive, possam viver melhor
várias línguas como o francês e o árabe a sua própria fé, ajudando a melhorar suas
(línguas de colonização, hoje oficiais), condições de vida e sobretudo amando-os e
além do issa e do afar, línguas locais e amando aqueles que, honestamente, acre-
que praticam, na grande maioria (95%), ditamos que os farão felizes, sem nenhuma
a religião muçulmana sunita. outra pretensão? Bom, isto para dizer que
Em seu trabalho, padre Armando visita só pela via do amor poderemos encontrar
pastores nômades muçulmanos. Perguntei caminhos insuspeitados. Por trás de tudo
o que significa para ele, como colombiano, está a ação do Espírito, que sentimos mas
viver e trabalhar no meio de um povo africa- não sabemos onde nos conduz, mas que
no, na sua grande maioria muçulmano? sempre nos levará a bom porto. Ele está
“Tenho uma visão da vida e da con- levando a humanidade através da docilida-
vivência com o outro filtrada pela minha de, abertura, disponibilidade dos diferentes
cultura e opção feita, fruto da minha fé. crentes e das diferentes religiões para um
Conto também, com a idéia construída, plano de salvação universal”.
ainda em criança, sobre os muçulmanos e,
ao mesmo tempo, levo em conta o objetivo Salvador Medina é missionário da Consolata e Superior
do meu trabalho neste cantinho do plane- Provincial na Colômbia.
- Maio 2006 11
Dos arrozais catarinenses
testemunho
para o mundo
Estrangeiras). Eu achava a vida dele o
Fotos: Arquivo Pessoal
O
rias foram as pessoas que contribuíram neles foi a simplicidade e a humildade, e
s costumes culturais e reli- para a concretização deste meu sonho. isto me deixou muito animado e confiante.
giosos herdados de nossos Porém, houve uma catequista que mais Na ocasião eles visitaram também minha
descendentes, italianos e ousadamente, lançou uma sementinha família.
alemães, denotam tradição vocacional na minha caminhada cristã. Daí por diante, precisei de muita oração
e simplicidade. Sou natural de Certamente, ela percebera que eu esta- e discernimento para ir respondendo ao
um município do Alto Vale do va enamorado pelos ideais evangélicos. chamado de Jesus. Obviamente, surgiram
Itajaí, estado de Santa Catarina, de nome Também da minha avó materna recebi empecilhos, dúvidas, altos e baixos, até
Pouso Redondo. Eu vivia em meio a colinas, incentivo e apoio. Sei que hoje lá do céu, angústia existencial... Todavia, isto foi muito
planícies, cultura agrícola (especialmente ela continua intercedendo por mim e pela bom para o meu crescimento vocacional,
arroz), juntamente com um boom industrial. minha missão. pois ia construindo a minha história. Fiz
Foi nesse contexto que nasci, cresci e um pouco de acompanhamento vocacional
respondi ao chamado de Deus. Ainda não chegara a hora com os padres do PIME e depois de meu
Influenciado pelo ambiente religioso, Com 14 anos pensei em me tornar pedido ter sido aceito, em 1994 ingressei
sempre me senti bem na Casa do Pai. sacerdote, mas não sabia como fazer. no seminário, em Brusque, Santa Catarina.
A figura do padre, era para mim algo de Ousei falar com meu pai, mas ele não Lá, fiz o ano de discernimento, a faculdade
excepcional. A vocação ao sacerdócio concordou. Achava que eu era muito novo de Filosofia e o ano de Espiritualidade. Foi
começou cedo a se desenvolver dentro e, além disso, precisava de mim para o um tempo magnífico, de oração, trabalho
de mim. Na catequese, eu já vivenciava trabalho nos arrozais. Um vizinho meu tinha pastoral e vida comunitária. As Primeiras
o forte apelo de Jesus para tornar-me um entrado no seminário dos missionários Promessas de pertença ao Instituto, eu
discípulo seu. Trabalhando nos arrozais, do PIME (Pontifício Instituto das Missões as fiz em 1998.
12 Maio 2006 -
Empecilhos ou tentação?
A princípio eu não me via apto para a
vida missionária. Pensava comigo: “Nossa
Senhora! Eu, um homem simples, fraco,
com tão poucos dons, como alcançaria
ser missionário? Aprender novos idiomas,
morrer às minhas idéias, inculturar-me?
Consolava-me lembrando a figura de
Moisés, que também se sentira assim;
o apóstolo Paulo, que admitia não ter
grandes habilidades no falar (2Cor 11,6);
também Jeremias e Davi que se achavam
muito jovens diante de tão grande missão.
Ajudaram-me bastante as palavras de
Jesus a Paulo:“Basta-te a minha Graça,
pois é na fraqueza que a força manifesta
todo o seu poder” (2Cor 9).
As Filipinas: um desafio
A próxima etapa: cursar Teologia
nas Filipinas. Confesso que o Conselho Crianças filipinas
Evangélico da Obediência, desta vez foi
penoso. Eu não queria ir para tão longe. porém, quase a metade da população devem ser julgadas como empecilhos para
Hesitei bastante, seja por ter que apren- vive abaixo da linha da pobreza (52 a instauração do Reino.
der o inglês e também pela diversidade pesos = 1 dólar). O PIME deixou dois Lá fui ordenado diácono com mais
cultural. As Filipinas compreendem um missionários mártires nas Filipinas: Túlio oito colegas, em 2003. Ao longo de todo
vasto arquipélago de 7.000 ilhas no mar Favali (1985), assassinado com rajadas o tempo que permaneci longe da pátria,
das Antilhas ao sudoeste da Ásia. Sua de metralhadora e Salvador Carzedda foram necessárias muitas adaptações.
capital é Manila. Como porém, sentia forte (1992), morto com um tiro. Porém, o encanto pela minha vocação e
minha vocação missionária, lancei-me. Ao a certeza da presença de Jesus ao meu
chegar, constatei a enorme diferença: é Babel ou Pentecostes? lado, sempre falaram mais alto.
terra de muitos dialetos e tribos, terra de Nós, estudantes de Teologia, formá-
vulcões e tufões. Os espanhóis deixaram vamos uma comunidade internacional a
algumas marcas pelo país, mas é o estilo
norte-americano que está entrando e se
60 quilômetros da capital. Vínhamos de
seis países diferentes: Índia, Itália, Brasil,
Padre Pedro, missionário
enraizando de maneira acentuada. Os Filipinas, Mianmar e Costa do Marfim. do Pontifício Instituto das
habitantes lutam pela sobrevivência, Em questão de línguas, parecia mais a
devido a grandes estruturas injustas, Torre de Babel que Pentecostes. Porém, Missões Estrangeiras, PIME,
política, cultural e socialmente falando. lá aprendi uma coisa muito importante: a
O clima é equatorial, a maioria da po- paz é possível. Eu me relacionava serena- relata a trajetória de sua
pulação é católica, há uma minoria de mente com todos eles. O que demonstra
muçulmanos.Os alfabetizados são 90%, que as diferenças raciais e culturais nunca vocação.
O retorno e a Ordenação
Meus pais e familiares acolheram
com grande júbilo e com muito orgulho
o filho que seria sacerdote missionário.
A Ordenação deu-se em 5 de junho de
2004 na minha cidade natal. Meu primei-
ro trabalho foi em Assis, São Paulo, na
Basílica São Vicente de Paulo, onde atuo
ainda hoje, como coadjutor. Sou também
Animador Vocacional Missionário e cola-
boro no COMIDI (Comissão Missionária
Diocesana).
Jovem! Você não gostaria de “alargar o
espaço de sua tenda, estender as cortinas
de sua morada? Não demore, alongue as
cordas e reforce as estacas...” (Is 54,2).
Venha tornar-se missionário conosco.
- Maio 2006 13
fé e política
A
o longo dos séculos, a compreensão sobre a democracia
passa por duas questões fundamentais: participação
e educação. No primeiro caso, nos esforçamos para
garantir a todos o acesso ao voto. E buscamos criar
ferramentas que viabilizem a extensão de tal atuação.
Falamos dos plebiscitos, referendos, orçamentos
participativos, conselhos etc.
Mas, a despeito dessa participação, é possível verificarmos na
sociedade um afastamento significativo em relação às questões
políticas. Esse cenário simboliza a total falta de entendimento
sobre as regras do jogo democrático. O descaso e a falta de
instrução afastam o cidadão de suas responsabilidades. Se a o PL que estava com Lula se aliou ao PPB em torno de Maluf.
participação é estendida a todos, a falta de educação vitima a O PMDB que estava com Serra, lançou candidatura solo. O
qualidade dessa atuação. PSDB venceu com Alckmin, aliado ao PFL. E o PT saiu com
Nos deparamos então com uma imensa maioria de indiví- José Genoino. Simples? Nem um pouco. Assim, o esforço
duos que não conhece as regras de um jogo do qual participa: para a imposição da verticalização parece não ter respondido
as eleições. Vejamos um exemplo de como tal afirmação é aos princípios da moralização, inteligibilidade e nacionalização
verdadeira. Você sabe o que é a verticalização? dos partidos, uma vez que confusões continuam presentes no
cotidiano partidário.
Uma teoria e outra prática Ainda pesa negativamente dois aspectos fundamentais.
O tema despertou a atenção do país nos últimos meses. Após 2002 os legisladores tiveram cerca de três anos para mu-
Mas qual seu verdadeiro significado? A verticalização é uma darem as regras, uma vez que se mostraram insatisfeitos com
norma imposta pela Justiça em 2002 que impede ela. A despeito do tempo, deixaram para discutir
que os partidos coligados (aliados formalmente)
nas eleições para presidente se unam a seus
“A compreensão a questão em 2006. Aprovaram a derrubada da
medida, mas o Poder Judiciário vetou a mudança,
adversários nos estados. Ou seja, se em 2002
o PT e o PL apoiaram Lula contra o PSDB e o
sobre a democracia alegando que nenhuma alteração na regra eleitoral
pode ocorrer há menos de um ano das eleições.
PMDB que lançaram Serra, em nenhum estado
foram vistas alianças para governador entre PT e
passa pela Perfeito! Mas o Judiciário não se lembrou que
em 2002 impôs a verticalização faltando cerca
PSDB, por exemplo. O grande objetivo da medida
era moralizar o sistema, permitindo uma melhor
participação e de dez meses para a disputa. Além disso, por
mais que tente moralizar o sistema nas eleições
compreensão do cenário partidário. Mas isso, de
fato, ocorreu?
educação”. presidenciais e estaduais, esquece que dois anos
depois, nas eleições municipais, os partidos são
Por um lado, sim. Se em 1998 o PSDB e o PT apoiaram os livres para se coligarem de diferentes formas nos mais de 5,5
mesmos candidatos aos governos do Acre e do Piauí - enquanto mil municípios brasileiros. A afirmação de que necessitamos
lançavam FHC e Lula como adversários à presidência -, tal fe- de educação para vivermos sob o signo da democracia parece
nômeno acabou. Mas, dizer que o sistema tornou-se inteligível bastante razoável. Fiquemos atentos!
é exagero. Em 2002, o PFL e o PPB (hoje PP) não apoiaram
ou lançaram candidatos à presidência. Nesse caso, pela regra Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
ficaram livres para se coligarem nos estados. Em São Paulo, de Cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.
14 Maio 2006 -
Formação Missionária
Conhecer o outro
(o diferente) para
compreendê-lo e
apreciá-lo e, mutuamente
enriquecidos, caminhar
rumo ao Reino.
Encontro entre budistas e católicos no Centro de Diálogo Inter-Religioso, Seul, Coréia do Sul.
Q
dade desinteressada, seja de quem for. dade da família humana; a abertura e
Ninguém fica indiferente ao respeito disposição ao mútuo enriquecimento e
uando o eremita francês amigo, à doação e à partilha amorosa. cooperação entre culturas e religiões em
Charles de Foulcauld mor- Podemos dizer que isto se dá porque prol da defesa e da afirmação da vida.
reu, no deserto do Saara, o desejo de Deus está escrito no coração
seus amigos tuaregues, humano, já que o homem foi criado por As religiões e o
embora ferrenhos muçul- Deus e para Deus, e Ele jamais cessa de bem comum
manos, percorreram mais de mil milhas atraí-lo para si. E portanto, seja de que É neste contexto de uma nova cons-
a fim de levar suas últimas homenagens cultura ou religião for, dificilmente alguém ciência e cooperação, que neste início do
e despedidas. Foulcauld, com sua bon- permanece indiferente aos verdadeiros terceiro milênio o diálogo inter-religioso
dade, simplicidade e amizade havia valores humanos, que antes são divinos. aparece como um dos desafios mais
testemunhado Jesus para eles. Naquela É esta convicção e experiências importantes para a humanidade, pois está
ocasião, o chefe beduíno assim se realizadas por pessoas que acreditam ficando cada vez mais evidente que a paz
pronunciou a respeito dele ao seu povo: profundamente no ser humano, em entre as religiões consiste em requisito
“Charles, nosso homem santo, morreu por sua natural bondade e em sua origem essencial para a paz entre as nações.
todos nós. Que Deus tenha misericórdia e destino comuns, que dão esperan- Ou, com as palavras do teólogo Hans
e possamos reencontrá-lo no Paraíso”. ças e certeza que algo de novo vem Küng “não haverá paz entre as nações
Fatos como este e a nossa pró- acontecendo em termos de fraternidade sem antes haver paz entre as religiões”.
pria experiência nos mostram que as universal. Mesmo reconhecendo um A história mostra como muitas vezes
pessoas por detrás dos diferentes sis- crescimento da dinâmica da exclusão as religiões ativaram violências; porém,
temas religiosos e de fé possuem uma e da violência, constata-se também um outras vezes estimularam a solidarie-
natural disposição para corresponder crescimento de uma nova sensibilidade: dade e a fraternidade entre os povos.
- Maio 2006 15
Formação Missionária
Jaime C. Patias
Encontro Diocesano das CEBs, novembro de 2005, São José dos Campos, SP.
É importante partir do pressuposto religiões conforme podemos ver a seguir: Nisto consiste a Lei em sua tota-
que a intolerância e a violência não Hinduísmo: “Não faça aos outros lidade; o restante é somente co-
pertencem à natureza da religião. Quan- aquilo que faria você sofrer caso fosse mentário” (Talmude, Shabbat 31a).
do estas existem são deturpação ou feito a você” (Mahabharata 5.15.17). Islamismo: “Ninguém pode con-
abuso, voluntário ou não, da mesma. Budismo: “Não faça aos outros aquilo siderar-se um fiel até que venha a
O “amor ao próximo” que o cristia- que faria você sofrer” (Udanavarga 5,18). desejar para seu irmão aquilo que
nismo professa como sua regra máxima Confucionismo: Esta é a regra deseja para si mesmo” (As Quaren-
de conduta moral, expresso também máxima do amor: “Não faça aos ou- ta e Duas Tradições de An-Nawawi).
como “tudo o que vós quereis que os tros aquilo que você não gostaria que Religiões Tradicionais Africanas:
homens vos façam, fazei-o também vós fosse feito a você” (Analects 15,13). “Aquilo que dás [ou fazes] aos demais
a eles”(cf. Mt 7,12), é também parte do Judaísmo: “O que for indesejável ser-lhe-á dado [ou feito] a você em troca”.
patrimônio doutrinal das outras grandes para você não o faças ao seu irmão. Estas regras de ouro nos dão uma
idéia de que as religiões em suas dou-
Arquivo
16 Maio 2006 -
Formação Missionária
Jaime C. Patias
O que não é diálogo
inter-religioso
- O e s t u d o d e o u t r a ( s )
religião(ões) ou a busca de seme-
lhanças e diferenças entre elas.
- Debate ou troca de idéias entre
seguidores de religiões diferentes.
- Ecumenismo, pois, o diálogo
inter-religioso não tem como ob-
jetivo chegar à união das religiões
formandto uma única e grande
religião.
- Conversão: no diálogo inter-
religioso não se trata de buscar
persuadir o outro a abraçar a minha
religião. O diálogo não nasce da
tática ou do interesse, mas é uma
Pregador evangélico diante da Catedral da Sé, SP.
atividade que tem suas próprias mo-
tivações, exigências e dignidade.
ências missionárias e da reflexão dos outras religiões. O número 2 de Nostra
teólogos. Isto se dá pelo reconhecimento Aetate afirma que “A Igreja Católica nada
da dignidade inviolável da consciência rejeita do que há de verdadeiro e santo
devem assumir a responsabilidade global de cada pessoa e do direito à liberdade nestas religiões”. Este otimismo acolhe-
de defesa do ser humano e da terra. As religiosa. A Igreja inicia assim uma nova dor é expresso também no documento
religiões são chamadas a sair da apatia caminhada, deixando de lado o pessi- Ad Gentes número 3, onde as outras
e assumir o papel de salvaguarda do mismo condenatório para assumir um religiões são vistas como “formas de
humano e da criação.Aluta comum contra otimismo salvífico em relação às outras busca de Deus e servem de pedagogia
o sofrimento humano e a destruição do religiões. O primeiro passo foi reconhe- e preparação para o Evangelho”; como
ambiente são, sem dúvida, uma poderosa cer que, mesmo de maneira misteriosa, portadoras de “sementes do Verbo” (Ad
motivação para que as religiões se lan- existe salvação fora da Igreja. O número Gentes 11,15); como “portadoras de
cem nesta grande aventura do diálogo. 22 da Encíclica Gaudium et Spes vai elementos de Verdade e Graça... Por
além, afirmando que a salvação “vale isso, tudo quanto de bom se encontra
Caminhada da Igreja não apenas para aqueles que crêem no coração e no espírito dos seres
É com o Concílio Vaticano II (1962- em Cristo, mas para todos os homens humanos, na cultura e nos ritos dos
1965) que a Igreja Católica rompe com de boa vontade, em cujos corações povos, não há de perecer, mas uma
uma postura até então marcada pela atua a graça, de maneira invisível”. vez curado, será elevado e se tornará
condenação das outras religiões, abrin- O outro passo foi reconhecer que há para a Glória de Deus, confusão do
do-se às novidades vindas das experi- elementos de verdade e santidade nas demônio e felicidade de todos os seres
humanos” (Ad Gentes 9). Da mesma
Álvaro Pacheco
- Maio 2006 17
Formação Missionária
Álvaro Pacheco
O que é diálogo
inter-religioso?
Podemos resumir com as
palavras do ex-presidente do
Concílio Pontifício para o Diálo-
go Inter-Religioso, cardeal Fran-
cisco Arinze: “é o encontro de
pessoas de diferentes religiões,
numa atmosfera de liberdade
e abertura para: escutar um
ao outro, procurar conhecer e
compreender a religião da outra
pessoa e possivelmente en-
contrar meios de colaboração”.
É também um processo
onde ambas as partes apren-
dem uma da outra e aprofundam
o conhecimento de si mesmo.
O papa João Paulo II na Re-
demptoris Missio afirma que
o diálogo é “um método e um
meio para o mútuo conheci-
mento e enriquecimento”. O
diálogo inter-religioso implica
Padre Diego Cazzolato com Monge Song e fiéis católicos e budistas, Coréia do Sul.
sempre atenção, respeito e
acolhimento do diferente e só se realiza na consciência da Igreja como uma Se os cristãos estiverem de fato
de fato quando se garante o espa- realidade unitária, mas complexa e animados e enamorados pela presen-
ço de expressão da singularidade do articulada, segundo cinco elementos: ça fraterna e universal de Jesus, e
outro e o direito absoluto de preser- presença, serviço, oração e contem- pelo seu sonho de justiça, fraterni-
vação de suas convicções pessoais. plação, diálogo, anúncio e catequese. dade e amor, é natural que queiram
O diálogo não é então uma mera Assim, da mesma forma que o partilhar com outros este sonho e a
preparação para depois proclamar e diálogo inter-religioso é um elemento alegria de conhecer e seguir Jesus.
anunciar Jesus ou para convidar as da missão da Igreja, o anúncio de Concluindo com o exemplo inicial
pessoas a tornarem-se membros da Jesus Cristo e a obra de salvação é de Charles de Foulcauld: foi seu desejo
Igreja pelo Batismo. O diálogo tem seu outro. Não é questão de escolher um e de aprofundar seu imenso amor por
valor intrínseco e como finalidade, fazer rejeitar outro. Diálogo e anúncio não se Jesus e o desejo de partilhar este amor
com que as pessoas das diferentes contrapõem, mas são dois elementos com quem não o conhecia que o levou
religiões possam viver em harmonia autênticos da missão evangelizadora a escolher o inóspito deserto para sua
e paz e estimulá-las a dar o que cada da Igreja. Os dois são legítimos e ne- morada e missão. Este homem - com
qual tem de melhor em favor da huma- cessários e intimamente relacionados, sua simplicidade, seu interesse verda-
nidade, ajudando-as umas às outras pois o verdadeiro diálogo inter-religioso deiro por aquele povo, seu acolhimento
a responder ao chamado de Deus. por parte de um cristão supõe o de- desinteressado, e sua partilha amorosa,-
sejo de fazer Jesus Cristo conhecido anunciou da forma mais convincente e
O diálogo e a Missão e amado, fazendo assim com que o bela aos irmãos muçulmanos, o tesouro
Não se deve pensar, porém, que o diálogo contenha em si um elemento que ele possuía.
insistir sobre o diálogo signifique o fim do anúncio, na medida em que com-
da missionariedade da Igreja. O Decreto preende um testemunho da própria fé. Luiz Emer é missionário e mestre em Filosofia Oriental.
Conciliar sobre a atividade missionária O sentido da Missão é enriquecido
da Igreja, Ad Gentes, número 2, afirma pelo sentido amplo da evangelização, vis-
claramente que “a Igreja peregrina é, ta não somente em uma de suas dimen- Para reflexão
por sua natureza, missionária”. Outros sões, o anúncio. A Evangelii Nuntiandi, 1. Qual é o meu entendimento acerca do diálogo
documentos da Igreja também têm a de Paulo VI sublinha que evangelizar é
inter-religioso? Acho-o importante e necessário?
preocupação de deixar claro que o “tornar nova a própria humanidade”. Ou,
diálogo inter-religioso não significa o fim conforme o teólogo Jurgen Moltmann, 2. Como eu explicaria a afirmação: “não haverá
da atividade missionária, ao contrário, a Missão não pode se confundir com paz entre as nações, se antes não houver paz
“faz parte da missão evangelizadora da a dilatação ou implantação das igrejas entre as religiões”?
Igreja” (Redemptoris Missio, número cristãs, mas é o trabalho de favorecimento 3. Qual é a posição da Igreja Católica acerca do
55). Em Diálogo e Missão, número da “nova criação de todas as coisas”; é diálogo inter-religioso? O que é positivo e o que
13, publicado em 1984, o Magistério o convite para afirmar e defender a vida parece ser ainda deficiente?
afirma que a Missão se apresenta contra todas as “tecnologias” de morte.
18 Maio 2006 -
missão
Missão camponesa
Missão
história daHoje
O mundo rural tornou-se campo de até 16 horas e cortar até 25 toneladas de cana por dia) é uma
Missão para toda Igreja. das situações mais desumanas e perversas, pois o trabalhador
tem o seu ganho atrelado à força de trabalho despendida por ele
diariamente. Além disso, os trabalhadores e as trabalhadoras são
submetidos ao mecanismo de endividamento, porque o salário é
de Fernando Doren convertido em tickets com os quais só podem fazer compras no
mercado do próprio dono e, muitas vezes, com preço maior.
“N
É da superexploração da mão-de-obra dos trabalhadores
ão vou fugir e nem abandonar a luta desses que resultam os lucros para as grandes empresas. Basta pensar
agricultores que estão desprotegidos no meio da que no ano de 2005, o superávit comercial (saldo da exportação
floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida e importação), oriundo do agronegócio paulista e concentrado
melhor numa terra onde possam viver e produzir em poucas mãos, foi de US$ 7,97 bilhões (dados da Secretaria
com dignidade sem devastar”. Palavras da irmã de Estado de Economia e Planejamento).
missionária Dorothy Stang com as quais firmou Esta realidade constitui para a Igreja um grande desafio
seu compromisso com a missão de Deus, entre os trabalhado- missionário. No meio dos trabalhadores, a Igreja precisa ser
res rurais, até seu martírio, que ocorreu no
- Maio 2006 19
Destaque do mês
Evangelização da ju
desafios e perspectiva
A
s motivações, segundo os
bispos, para debater o tema
da juventude são muitas. Na
introdução do documento base,
eles afirmam: “A juventude está
no coração da Igreja e é fonte
de renovação da sociedade. Cientes desta
importância, nós, pastores, carinhosamente
acolhemos o tema da evangelização da
juventude para refleti-lo à luz de tantas
riquezas e desafios deste momento his-
tórico e cultural em que vivemos” (1).
“Nosso objetivo maior é renovar a opção
afetiva e efetiva de toda a Igreja pela
juventude numa busca conjunta de pro-
postas concretas que favoreçam uma
verdadeira evangelização desta parcela
da nossa sociedade” (3). “Precisamos,
juntos, encontrar caminhos, mecanismos, Acampamento da Juventude no 11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.
meios para favorecer o desenvolvimento
integral dos jovens: educação aos valores como transformá-los em promotores de geral designados pelos demógrafos de
cristãos, formação bíblica e teológica, en- uma nova sociedade?” (7). “adultos jovens”, teríamos um total de 47
sino religioso nas escolas e universidades, A comissão do texto-base da assem- milhões (39).
educação à solidariedade e fraternidade; bléia dos bispos estava trabalhando desde Podemos dizer que são três as marcas
superação de preconceitos; formação o ano passado. Com muito estudo, ela desta geração contemporânea. Ela é uma
na ação. A formação da juventude visa a apresentou um documento para os bispos geração que tem “medo de sobrar” por
promoção da dignidade de sua vida em em três capítulos: o primeiro traz elementos causa do desemprego; uma geração que
todos os aspectos” (6). para o conhecimento da realidade dos tem “medo de morrer” precocemente (por
“Uma série de questionamentos habita jovens; o segundo faz um olhar de fé a causa da violência) e uma geração que
em nosso coração: “Por que não estamos partir da palavra de Deus e do magistério; vive em um mundo conectado (por causa
atingindo os jovens como gostaríamos? e o terceiro apresenta desafios, princípios da internet). O sentido e a dureza dessas
Quais têm sido as nossas maiores dis- orientadores e pistas de ação para o marcas anseiam por uma Boa Notícia que,
tâncias com relação a eles? O que nos trabalho com a juventude. num olhar de fé, pode ser encontrado no
falta para apresentar a pessoa e o projeto interior da própria juventude. Como Igreja
de Jesus Cristo como proposta segura e A realidade precisamos descobrir a palavra que eles
transformadora do jovem e do seu meio? “Compreender os jovens é condição querem ouvir e que, talvez, more dentro
Quais as maiores atrações, sonhos, pro- prévia para evangelizá-los” (13). Para deles, mas precisa ser revelada. (52)
blemáticas, questionamentos dos jovens caracterizar a juventude, as estatísticas
que não estamos sabendo entender, aco- brasileiras geralmente seguem os pa- Potencialidades
lher e responder adequadamente? Quais râmetros de organismos internacionais, No entanto, atualmente no Brasil há
as propostas consistentes que estamos considerando o grupo etário de 15 a 24 uma série de novas formas de participação
oferecendo a eles para um itinerário de anos. Em 2000, no último recenseamento juvenil, dentre as quais podemos destacar:
educação na fé? Por que nossas estruturas geral da população, estavam nessa faixa a pertença aos grupos (pastorais, redes,
e organizações não estão favorecendo etária cerca de 34 milhões de pessoas, o ONGs e outras organizações juvenis) que
uma maior participação deles na vida da que representa 20% da população brasi- atuam para transformar o espaço local,
comunidade? Qual é a sua visão de Igreja? leira. Se acrescentarmos a esse contin- nos bairros, nas favelas e periferias; a
Uma vez entusiasmados pelo Evangelho, gente os indivíduos de 25 a 29 anos, em participação em grupos que trabalham
20 Maio 2006 -
uventude A 44ª Assembléia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB,
as pastorais
a realizar-se entre os dias 9 e 17
de maio, terá como tema central a
evangelização da juventude.
nos espaços de cultura e lazer: grafiteiros, em contato com o ‘divino’ da juventude é desafio de trabalhar a dimensão social da
conjuntos musicais, de dança e de teatro de entender sua psicologia, sua biologia, sua fé com os jovens como um elemento da
diferentes estilos, associações esportivas; sociologia e sua antropologia com o olhar missão do cristão. A luta pela justiça é um
mobilizações em torno de uma causa e/ou da “Ciência de Deus”. O jovem necessita elemento constitutivo da evangelização.
campanha: grupos ecológicos, comitês da não somente que falemos para ele de um O jovem cristão é desafiado a trabalhar
Campanha Contra a Fome, ações contra Deus que vem ‘de fora’, mas de um Deus com todas as pessoas de boa vontade
a violência e pela paz, grupos contra a que é real dentro dele em seu modo juvenil – independente da sua opção religiosa
globalização etc.; grupos reunidos em de ser. A evangelização da Igreja precisa – para construir uma sociedade mais justa
torno de identidades específicas: mu- mostrar aos jovens a beleza e a sacrali- e fraterna. As diferentes iniciativas de
lheres, negros, indígenas, pessoas com dade da sua juventude, o dinamismo que evangelização dos jovens devem prepa-
necessidades especiais etc. isto comporta, o compromisso que daqui rá-los para viver as exigências da sua fé
emana; e, com isto, auxiliar também na nos níveis micro e macro-social, de modo
Evangelizar a juventude conscientização de tudo aquilo que procura a orientá-los na tomada de decisões que
Frente ao desafio de evangelizar a danificar esta obra de Deus. dizem respeito à vida pessoal e à vida
juventude contemporânea, a Igreja não social, mostrando que não é possível
está começando do zero. Há um caminho Desafios viver o compromisso social deixando de
histórico percorrido por ela que revela Para concretizar este processo de lado os problemas pessoais.
uma herança muito rica. Ser cristão sig- educação na fé é importante priorizar as
nifica conhecer Jesus Cristo, fazer opção seguintes áreas de atuação: formação Pistas de ação
fundante por ele, unir-se a tantos outros para o discipulado; espiritualidade juvenil; Recomendamos que o modelo de “mis-
que também o encontraram e, juntos, pedagogia de formação; discípulos para a são jovem”, existente em alguns lugares
trabalhar pelo Reino, por uma nova socie- missão; estruturas de acompanhamento; do país, seja divulgado mais amplamente
dade. Queremos, então, agora, enfocar a ministério da assessoria; garantir aos para que outras regiões e dioceses possam
evangelização da juventude a partir dos jovens o direito à vida. adaptar e reproduzir esta experiência.
seguintes eixos temáticos: o seguimento Um grande desafio da ação evangeli- O espírito missionário deve impul-
de Jesus Cristo; a Igreja, comunidade dos zadora é a promoção de um processo de sionar os grupos de jovens, as pastorais
seguidores de Jesus; construção de uma evangelização dos jovens que leva em e os movimentos apostólicos para en-
sociedade solidária e os pronunciamentos conta as diferentes dimensões da formação volver outros jovens fora da Igreja nas
do episcopado sobre a juventude. integral. Na formação para o discipulado suas atividades, cursos e reuniões. Na
Um grande desafio é reconhecermos é necessário partir de uma formação in- evangelização da juventude é necessá-
que no segmento da sociedade chamado tegral. Apontamos cinco dimensões que rio mobilizar os jovens que estão sendo
“juventude” se encontram as sementes necessitam da atenção de quem trabalha atingidos pela ação pastoral. Incentivar
ocultas do Verbo (AG, 11), como fala o na formação dos jovens: dimensões da para que se tornem missionários nos
Decreto Ad Gentes, do Vaticano II. Entrar personalização, integração, teológico-es- ambientes em que estão inseridos: uma
piritual, social-política e de das formas de viver a “missionariedade
capacitação técnica. juvenil” é investir no comprometimento do
Jaime C. Patias
- Maio 2006 21
África: um continente em
atualidade
Ariel Tosani
de Sébatien Muyengo Mulombe (o Parlamento Pan-Africano, o Conselho Mas, conheceu a escravidão e, depois, a
de Segurança e Paz e Novos Programas colonização, que perturbou profundamente
E
para o Desenvolvimento da África - NE- o seu destino. Hoje, a maioria dos seus
m 1963, os fundadores da África PAD), traduzindo o desejo dos países de países tem mais de 45 anos de indepen-
moderna se reuniram em Adis- consolidar os valores da paz durável, dos dência mas, muitos continuam buscando
Abebe, Etiópia, para dar início à direitos humanos, da boa governabilidade o caminho da liberdade. Quase todos,
Organização da Unidade Africana e do desenvolvimento sustentável. nestes últimos 40 anos foram marcados
(OUA). Em junho de 2002, em por ditaduras, golpes de Estado e guerras
Durban, África do Sul, a OUA Um continente em civis que lhes fizeram perder muito tempo.
foi substituída pela União Africana (UA), movimento Hoje, todos estão comprometidos com o
para fazer memória daquilo que foi o pan- O poeta martiniquês Aimé Césaire estabelecimento do sistema democrático,
africanismo, as lutas dos povos contra o escreveu: “eu vejo a África una e múltipla, dada a pressão exterior. Mas, o caminho
colonialismo e o desejo de construir uma um pouco à parte, mas à altura do século, é ainda longo. Na realidade, o problema
África livre. No próximo dia 25 de maio, como um coração de reserva”. Grande é sobre o plano econômico e político: im-
celebra-se o 43º aniversário da União continente ao sul do Mediterrâneo, entre põe-se aos países africanos um esquema
Africana. É difícil falar do continente sem os oceanos Índico e Atlântico, a África é vindo de fora, principalmente do ocidente.
utilizar termos invocadores e fortes ao sempre una e múltipla, tanto na constituição Este esquema não se adapta às expec-
mesmo tempo. Quando ouvimos falar geográfica, como na população. Ao norte, tativas, culturas e aspirações dos povos.
de África ou africano, nos lembramos de ela é habitada pelo povo do Magrebe; ao sul As conseqüências desta realidade são
arco-íris, de calor, de ritmo e alegria de do Saara pelos negros das diversas culturas numerosas: a crise socioeconômica que
viver. Mas, esta explosão de vida e beleza e formas; ao sul pelos brancos, negros e a maioria dos países africanos arrastam
coexiste com os sofrimentos da pobreza, mesmos amarelos. A outra parte da África, já de alguns decênios, apesar dos vários
do vírus HIV, da fome, da insegurança, única e diversificada é evidentemente, a planos de reformas feitos por eles e as
do subdesenvolvimento e dos conflitos grande ilha de Madagascar. A África é um guerras que dilaceram a maioria, como
armados. A UA está sendo o motor na continente em movimento. Ela foi consti- Costa do Marfim, República Democrática
criação de diferentes instituições regionais tuída por antigos impérios independentes. do Congo, Sudão, Chade etc.
22 Maio 2006 -
em movimento
No dia 25 de maio comemora-se o
Dia da África, um continente sofrido
e muito esquecido.
A África não morrerá reconciliação e não pela vingança. Há funcionam são aquelas que dependem
A África não morre e não morrerá, pois, muitos sinais de esperança. da Igreja. Mesmo assim, ela não esca-
tem muita energia vital e muito dinamismo. pou ilesa da destruição provocada pelas
Se não fosse isto, ela já teria desaparecido A Missão da Igreja guerras. Muitos dos seus bens (esco-
da cena mundial por tudo o que de horrível Como seria a situação de muitos países las, casas, seminários, hospitais, carros)
aconteceu ao longo da sua história. O africanos sem a presença da Igreja? Em foram saqueados e destruídos, muitos
segredo da sobrevivência do continente meio às profundas crises que atraves- de seus membros foram violentados e
está, antes de tudo, na fé e na esperança saram, com as guerras que destruíram mortos. Comunidades inteiras tiveram
de seu povo, apoiadas por uma filosofia todas as instituições e as infra-estruturas que fechar suas portas e outras tiveram
pouco escrita, fundamentada no valor da (escolas, hospitais, estradas etc.), somente que se deslocar, abandonando a Missão,
vida: os africanos acreditam no futuro e a Igreja permaneceu para acompanhar por causa da insegurança, principalmente
que um outro mundo é possível. e defender o povo, animando a sua fé e no campo. Existem muitos testemunhos
Não importam as dificuldades que a sua esperança e criando novamente significativos de pessoas e comunidades
os africanos atravessam. Eles sabem espaços de vida, diálogo e partilha. Na que resistiram e permaneceram ao lado
criar os mecanismos de autodefesa. Em República Democrática do Congo, por da população, arriscando a própria vida.
Kinshasa, na República Democrática do exemplo, especialmente no interior do São sinais claros da presença da Igreja
Congo, basta olhar como as pobres mães país, as únicas instituições sociais que como esperança para seu povo. Uma
trabalham duramente para alimentar suas Igreja florescente e dinâmica. Mas, ela
Ivo Freijsen (ECHO)
- Maio 2006 23
Televisão
Infância
Missionária
Que luz é essa?
“Eu invoco a Deus, Luz de todo o povo,
Divulgação
Que criou o Universo e brinca com a luz e o fogo”
Roberto Malvezzi (Gogó)
N
o mês em que comemoramos o Dia Mundial das
Comunicações, faremos uma pequena pausa para
refletirmos sobre o efeito de um dos meios de co-
municação e sua influência direta no processo de
desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes.
Em nosso cotidiano estamos cada vez mais envolvidos
pela mídia, principalmente a televisão, que procura despertar
o desejo de ter fama e dinheiro e de pertencer a um mundo
irreal, ou seja, aquele veiculado por ela. Quando na década de
50 surgiam timidamente os primeiros aparelhos, não podíamos Sugestão para Grupo
medir a velocidade com que a TV se tornaria um equipamento - Acolhida.
indispensável nos lares brasileiros. Refém do poder econômico, - Motivação (objetivo): refletir com as crianças a influ-
a TV brasileira, nos “bombardeia” com uma enxurrada de novos ência da televisão em nosso dia-a-dia.
produtos e nova programação com a mesma intenção: favorecer - Oração: neste momento iremos rezar pelas crianças
o consumo generalizado, sendo as nossas crianças alvos fáceis do mundo inteiro que ainda não conhecem Jesus.
das programações. Isso sem falar dos noticiários e suas “entre- - Comentário dos compromissos semanais.
linhas”. Uma pesquisa recente revelou que entre 2000 e 2005, - Leitura do Evangelho de João 15, 12-16 “O fruto do
a programação voltada ao público infantil foi reduzida à metade,
discípulo é o amor”.
com isso as crianças não têm outra opção, a não ser assistir à
- Compromissos missionários: ouvindo o Evangelho,
programação adulta. A preferência das crianças e adolescentes
consultados é pela programação destinada à sua faixa etária, somos chamados a sermos amigos de Jesus, porém,
porém, no geral o resultado mostrou que 40% optam por dese- no nosso dia-a-dia, a programação da televisão muitas
nhos, 20% por telenovelas, 16% pela programação infantil sem vezes nos afasta uns dos outros. Vamos organizar na
desenhos, 11% por programas de humor, os demais preferem os capela ou na paróquia um momento de partilha com
filmes e os programas esportivos, tendo em sua maioria excessos outras crianças (da escola ou da comunidade), convi-
de violência (repudiado pelas crianças e adolescentes consulta- dando-as a se tornarem amigas de Jesus, missionárias
dos). Lembrando que apenas 45% assistem TV acompanhados construtoras de um mundo melhor, o mundo que Deus
dos pais e a metade de todo o grupo assiste TV à noite, essa é a sonhou para todos nós.
luz que chega para a maioria das nossas crianças! - Gesto concreto: organizar uma pesquisa na comu-
Diante desta realidade, o que fazer, como membros da
nidade com as seguintes questões: “Quando eu vejo
Infância Missionária? A nossa atitude nos torna mais ou menos
televisão eu gosto de...” e “Quando eu vejo televisão
amigos de Jesus? As Diretrizes da Infância Missionária nos
lembram que “o testemunho da vida cristã é a primeira forma de eu não gosto de...”. Montar na paróquia ou capela um
Evangelização”. As pessoas crêem “mais nos fatos do que nas mural com os resultados, enfatizando as preferências da
palavras. A primeira forma de dar testemunho é a própria vida criançada e os compromissos assumidos pela Infância
do missionário e da missionária” (p. 29). Ao falar aos discípulos, Missionária na comunidade. Divulgar a Campanha pela
Jesus ensinava que “a lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é ética na TV, com o endereço e telefone para denúncias:
sadio, o corpo inteiro fica iluminado. Se o olho está doente, o www.eticanatv.org.br e 0800.619.619
corpo inteiro fica na escuridão” (Mt 6, 22-23). Vamos prestar mais - Momento de agradecimento ao Deus Pai.
atenção a esta luz que chega aos olhos dos nossos meninos e - Canto e despedida.
meninas. Das crianças do mundo – sempre amigas!
“Vim trazer fogo à terra e quero que arda!”
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
24 Maio 2006 -
PASTORAL DA JUVENTUDE
conexão jovem
Em Curitiba, Paraná, os adolescentes e jovens conseguiram se organizar em
grupos, até se articularem em um Setor da Pastoral da Juventude.
de Pastoral da Juventude e Adolescência
- Maio 2006 25
A tragédia petista
entrevista
O
Dia Mundial do Trabalho foi
criado em 1889, num Con-
gresso Socialista realizado em
Paris. A data foi escolhida em
homenagem à greve geral que
aconteceu em 1º de maio de
1886, em Chicago, nos Estados Unidos.
Milhares de trabalhadores foram às ruas
para protestar contra as desumanas con-
dições de trabalho a que eram submetidos
e exigir a redução da jornada de trabalho,
de 13 para 8 horas diárias. A repressão ao
movimento foi dura: houve prisões, feridos
e até mesmo mortos nos confrontos entre
os operários e a polícia. Em memória dos
mártires de Chicago, das reivindicações
operárias que nesta cidade se desenvol-
veram em 1886 e por tudo o que esse dia
significou na luta dos trabalhadores pelos
seus direitos, servindo de exemplo para o
mundo todo, o dia 1º de maio foi instituído
Plínio conversa com missionários de vários países no Centro Missionário José Allamano, Pedra Branca, SP.
como o Dia Mundial do Trabalho.
No Brasil, a primeira celebração que férias remuneradas, o 13º salário, multa No Brasil os sindicatos se desen-
se tem registro ocorreu em Santos, em de 40% por rompimento de contrato de volveram no sentido de serem organi-
1895, mas a data só foi consolidada como trabalho, licença-maternidade, previsão de zações acentuadamente corporativistas
o Dia dos Trabalhadores em 1925, quando um salário mínimo capaz de suprir todas e políticas. Eles se preocupam muito
o presidente Artur Bernardes baixou um as necessidades existenciais, de saúde e mais com o salário dos filiados do que
decreto instituindo-a como feriado nacional. lazer das famílias dos trabalhadores etc. com a melhoria da distribuição de renda
Com Getúlio Vargas, o 1º de maio ganhou A principal preocupação hoje reside em dos mais pobres e desempregados. Que
status de “dia oficial” do trabalho. Vargas manter todos os direitos constitucionais atitudes a Igreja deveria tomar concre-
criou o Ministério do Trabalho, promoveu adquiridos e buscar mais avanços para tamente perante esse quadro?
uma política de atrelamento dos sindicatos alcançar uma maior qualidade de vida É compreensível, diante de uma con-
ao Estado, regulamentou os trabalhos da para o ser humano. Ao longo dos anos, juntura tão adversa, que os sindicatos
mulher e do menor, promulgou a Con- sindicatos, partidos políticos, movimen- concentrem seus esforços em impedir que
solidação das Leis Trabalhistas (CLT), tos sociais e a Igreja uniram forças com os direitos conquistados com tanta luta
garantindo direitos como o das férias e da a classe trabalhadora para ganhar as sejam anulados. Mas, evidentemente, o
aposentadoria. Na Constituição de 1988 grandes causas da justiça social. Sobre corporativismo sindicalista já não responde
foram conseguidos alguns avanços que essa questão, entrevistamos Plínio de mais às exigências da luta da classe ope-
hoje estão sendo questionados – como as Arruda Sampaio. rária no século XXI. A Igreja, através da
26 Maio 2006 -
Pastoral Operária, tem procurado ampliar
a visão do movimento sindical. Precisamos
sensibilizar outros setores e pastorais da “A alternativa
própria Igreja para que venham ajudar a
Pastoral Operária nessa tarefa.
posta para o
O Partido dos Trabalhadores (PT)
mundo moderno
surgiu num momento de conjugação de
forças entre movimentos sociais, sindicatos
é: socialismo ou
e CEBs. Tornando-se partido não abandona
o jeito de ser movimento. Chegando ao
barbárie”.
governo ainda continua pensando como
movimento e como partido. Esta falta de
clareza sobre responsabilidades sociais
diferentes e complementares não acaba
atrapalhando?
A tragédia petista foi confundir gover-
no com poder. Abandonou o projeto de
transformação social (que exigia poder)
pelo projeto de conquistar o governo (que
requer apenas marketing eleitoral) e nesse
trajeto, perdeu-se política e eticamente.
- Maio 2006 27
Semana dos Povos I
amazônia
de Ricardo Castro energia para luta. Frente às ameaças de alternativa frente a uma sociedade e a um
morte somos convocados a reorganizar sistema econômico que decretou a morte
nossas estratégias de proteção da vida. da terra e dos pobres. Tanto a compre-
A
Os movimentos que reivindicam o direito à ensão, elaboração e aplicação prática da
Semana dos Povos Indíge- vida digna e à justiça são os instrumentos filosofia e teologia índia se tornam hoje
nas no contexto amazônico para constituir uma rede de solidariedade como uma voz de protesto dos excluídos
foi realizada entre esperança, e de força. do sistema. Torna-se também uma proposta
ameaças de morte e ações dos povos excluídos na construção de um
dos movimentos sociais. To- Sinais de esperança mundo novo.
dos esses elementos fazem Com a presença de 170 participantes, Os povos indígenas e as suas lutas
parte da história dos povos amazônicos, representando 12 países do continente passam a ser foco de atenção da so-
vividos entre momentos de passividade, americano, realizou-se, nestes dias, em ciedade de modo geral, devido a sua
de resistência, de luta na busca de terra Manaus, o V Encontro de Teologia Índia. tenacidade persistente, que exige seus
e vida digna. Neste entrelace de forças é Religiosos e lideranças indígenas viram no direitos respeitados. Indígenas passaram a
preciso ponderar a dinâmica da história. evento uma forma de fortalecer o processo fazer parte da conjuntura atual da política
Ao reforçar a esperança, adquirimos a de autonomia religiosa indígena. A Teologia latino-americana desde o Prêmio Nobel
Índia, ou teologia dos primeiros povos deste da Paz, outorgado em 1992 a uma das
continente suscita controvérsias tanto no mais conhecidas lutadoras indígenas de
interior das comunidades cristãs como em nossos tempos, Rigoberta Menchu Tum, o
outros setores da sociedade. Em primeiro levantamento armado dos indígenas zapa-
lugar, porque a filosofia e a teologia índia, tistas de Chiapas, em 1994, a presidência
desde o ponto de vista de alguns especia- de Evo Morales na Bolívia e tantos outros
listas, não pode ser configurada apenas no acontecimentos relacionados à presença
âmbito acadêmico geral ou no específico ativa destes povos na sociedade.
da teologia como atividade “científica” sob As sociedades de modo geral, as
controle das igrejas. O pano de fundo da igrejas e os intelectuais estão cada vez
28 Maio 2006 -
Indígenas
Entre os dias 16 e 23 de abril, comemorou-se a
Semana dos Povos Indígenas. Na Amazônia, ela ocorreu
em meio a sinais de esperança, ameaças e desafios.
terra em área contínua pelo presidente E que a Justiça puna os responsáveis
de Roraima (CIR), parte dos arrozeiros a vencer ainda, como o plano do governo
ameaça os índios da região: “acho que e da sociedade não-índia para acabar
há interesse puramente econômico em com a Vida Nova trazida pelo Evangelho
explorar recursos naturais da Raposa Serra às comunidades indígenas. A juventude
do Sol. Empresas como a dos rizicultores indígena está em ebulição, sujeita ao im-
insistem em não aceitar nenhuma nego- pacto de propostas e aliciamentos muito
ciação de retirada. A própria plantação de perigosos, nunca experimentados antes.
arroz tem dado fim a inúmeras espécies de A mudança de geração nas comunidades
aves e animais. Em 1995, houve denúncia exige uma adequada resposta, sem a qual
que mais de cinco milhões de pássaros todo o processo de revitalização vai ficar
morreram em decorrência da utilização seriamente comprometido ou eliminado.
de agrotóxicos usados por um desses As forças contrárias aos índios compro-
arrozeiros”. Técnicos da Funai e do Incra metidos estão investindo muito neste
foram ameaçados por alguns fazendeiros campo, sobretudo no que diz respeito
da região ao cumprirem ordem de vistoria à escola. O atual governo rebaixou, por
nas terras. Apesar disso, acreditam que exemplo, o “Departamento de Educação
a desintrusão será pacífica. Indígena” a “Núcleo”, sem nenhum poder
As ameaças decisório nem organizativo. A interrupção
No dia 15 de abril, acabou o prazo Impunidade do Ensino Médio em algumas escolas fez
concedido pela Justiça para que não- As pressões políticas exercidas por com que os jovens voltassem a estudar
índios desocupassem a área da Raposa meio de atos criminosos, gozando da na cidade, onde, discriminados, acabam
Serra do Sol. Apesar da homologação impunidade ampla e habitual, fazem o se envolvendo no mundo do crime.
ter sido decretada pelo governo federal governo recuar de seus propósitos legais A comemoração da Semana dos Po-
no ano passado, as 170 comunidades declarados, demonstrando a facilidade e vos Indígenas não pode ser apenas a
indígenas que vivem ali e têm por lei a eficácia da chantagem utilizada. O real lembrança de uma data folclórica, antes,
direito exclusivo sobre as terras, sofrem conflito ainda pesa sobre as plantações deve se tornar um momento oportuno
com a resistência dos arrozeiros que não dos arrozeiros que não poderão perma- para refletirmos sobre as lutas, direitos,
querem deixar a reserva. É visível o con- necer nas terras indígenas homologadas. avanços e recuos destes povos.
fronto de duas perspectivas em oposição, Tem-se aqui uma disputa por interesses
uma que defende interesses privados de contraditórios. Este conflito irá continuar Ricardo Castro é sacerdote e professor
rizicultores, e a outra, interesses sociais até que a questão fundiária seja resolvida. doutor em Teologia Dogmática.
- Maio 2006 29
Brasília pelo ministro Márcio Thomaz Bastos. Mas a terra não
Formação missionária para seminaristas foi homologada e o processo parou. Não chegou à
O Centro Cultural Missionário, entidade da CNBB, Presidência da República e ainda voltou para a Funai
tendo como objetivo colaborar na animação e formação (Fundação Nacional do Índio). Depois de diversas
missionária, organiza um período de formação, de 16 visitas dos povos que nela vivem à Brasília, para pres-
a 26 de julho, para seminaristas do Brasil. O objetivo sionar a Presidência da Funai, a terra foi finalmente
é ajudar os candidatos ao sacerdócio a aprofundar homologada. Inawébohona é afetada pela sobrepo-
a consciência missionária e incentivar para animar e sição do Parque Nacional do Araguaia, o que gera
dinamizar a dimensão missionária no seminário e nas problemas no dia-a-dia das comunidades, já que a
comunidades. Serão tratados temas como: teologia existência do Parque traz restrições ao uso do espaço
missionária, realidade missionária do Brasil e espiri- pelos indígenas. Pelo decreto de homologação, fica
tualidade missionária. Os participantes vão partilhar definido que o Parque Nacional será administrado em
também as suas experiências para enriquecer a prática conjunto pela Funai, pelo Ibama, e pelas comunidades
evangelizadora. Há somente 50 vagas. Informações: indígenas que vivem na Ilha.
Centro Cultural Missionário, SGAN Fone: (61)3274-
3009 - e-mail: ccm@ccm.org.br
São Paulo
Combate à corrupção Estudantes pela Amazônia
O Movimento Nacional de Combate à Corrupção - O estudantes brasileiros decidiram agir em defesa
VOLTA AO BRASIL
MCCE - lançou no dia 3 de abril, no auditório do edifício da Amazônia. Segundo a União Nacional dos Estu-
sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados dantes (UNE), a necessidade de desenvolver uma
do Brasil, a Campanha de Combate à Corrupção de campanha em defesa da Amazônia brasileira ganha
2006. Durante o lançamento, Dom Geraldo Majella, cada dia mais relevância, devido à ação das Orga-
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nizações Não Governamentais - ONGs e Institutos
– CNBB, conclamou a sociedade a votar consciente de Pesquisa internacionais que vêm ao território
nas eleições de outubro próximo, lembrando que a brasileiro vasculhar a biodiversidade da floresta para
democracia supõe um processo lento de aprendizagem transformá-la em propriedade privada das grandes
e amadurecimento, tanto para mandatários quanto corporações farmacêuticas, químicas e alimentícias.
para eleitores. “Quero reafirmar a importância do voto A UNE lançou, durante o seu 11º Congresso, a cam-
consciente. É necessário conhecer a trajetória de panha “A Amazônia do Brasil”. O lançamento contou
vida dos candidatos para escolher em quem votar; é com a presença do professor da USP, o geógrafo
preciso conhecer também as propostas e idéias que Aziz Ab´Saber, um dos mais renomados estudiosos
defendem”, afirmou o presidente da CNBB. Para a sobre a Região Amazônica. A campanha da UNE irá
fiscalização do processo eleitoral de 2006, os Comitês recolher informações sobre a ação ilegal na região,
de Combate à Corrupção Eleitoral contarão com a desenvolverá debates nas universidades, e fará uma
enorme capilaridade que as entidades do MCCE detêm Caravana Cultural nos nove estados brasileiros que
no país, levando-se em consideração a estrutura das fazem parte da Amazônia Legal.
27 Seccionais da OAB e da CNBB nos estados. São
882 Subseções e 10.480 paróquias, respectivamente, 500 anos do nascimento de São
além de representações de outras entidades do MCCE Francisco Xavier
em cada estado. A CNBB lançou uma cartilha com O Centro Xaveriano de Animação Missionária e a
orientações para as eleições nacionais. Trata-se de Associação Pró-Canonização de Anchieta organi-
um documento que pretende ser um instrumento de zaram uma exposição fotográfica sobre a vida e a
trabalho para que as dioceses elaborem subsídios, missão de São Francisco Xavier, na igreja do Beato
refletindo sobre algumas questões políticas por oca- Anchieta no Pátio do Colégio dos Jesuítas, no centro
sião do ano eleitoral. O texto se encontra disponível de São Paulo. Essa exposi-
no site da CNBB, no Centro de Pastoral Popular, pelo ção celebra os 500 anos de
telefone: 0800 612226 – e-mail: vendas@cpp.com.br nascimento do Santo e ficará
ou ainda em livrarias católicas. aberta ao público até final de
maio, de terça a domingo, das
Terras indígenas homologadas 9h00 às 17h00. As fotografias
Foram homologadas cinco terras indígenas, no último vêm do acervo dos jesuítas
dia 19 de abril, quando é celebrado, no Brasil, o Dia de Munique, os textos são do
do Índio. As terras que receberam a assinatura presi- padre Estêvão Raschietti e a
dencial, segundo o Conselho Indigenista Missionário organização, da restauradora
(CIMI), foram Arara do Igarapé Humaitá, no Acre, Maria Teresa Figueiredo. Na
Barreirinha e Kuruaya, no Pará, terra Rio Omerê, abertura da exposição, no dia 30 de março, o padre
em Rondônia, e Inawébohona, no Tocantins. Entre Paulo Suess fez uma conferência sobre Francisco
elas, Inawébohona é a de maior extensão e tem largo Xavier e o desafio do diálogo inter-religioso. Estavam
histórico de conflitos. Localizada na Ilha do Bananal, presentes o diretor das Pontifícias Obras Missioná-
sobre o rio Araguaia, Tocantins, ali vivem os povos rias, padre Daniel Lagni, e vários representantes de
Javaé, Karajá e Avá-Canoeiro. congregações missionárias.
Em trâmite no Ministério da Justiça desde 2001, o
processo desta terra havia sido encaminhado para
a homologação presidencial em 18 de abril de 2005, Fontes: Adital, CNBB, Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
30 Maio 2006 -
Campanha de Reconstrução
Missão Surumu, Roraima
A Missão de Surumu continua precisando urgentemente da generosidade dos
amigos e simpatizantes da causa indígena. Essa Missão na Diocese de Roraima foi
saqueada e queimada na madrugada de 17 de setembro de 2005.
O custo estimativo para a reconstrução de todos os edifícios de Surumu é de
R$ 708.700,00. No mês de fevereiro de 2006, as obras mais urgentes começaram:
alojamento masculino, cozinha e refeitório. Para esta primeira fase serão necessários
R$ 240.000,00. Até o momento a Campanha arrecadou apenas 60% desse valor!
Agradecemos a colaboração de todos os que já contribuíram.
As comunidades indígenas não ficaram só esperando a ajuda de fora. Elas en-
viaram homens para acompanhar e dar segurança à escola e aos alunos, enquanto
ergueram construções tradicionais indígenas em volta da Missão para abrigar algu-
mas famílias e reforçar a segurança da área, entrada da terra indígena Raposa Serra
do Sol. Apesar dos problemas, o ritmo das aulas nunca foi interrompido. Em 2006,
para o primeiro ano as comunidades enviaram mais de 30 alunos (a média era de
15). O aumento no número de alunos indica a importância que a escola tem na vida
do povo, que já passou a ser gerenciada pelos próprios indígenas e acompanhada
pelos missionários.
“Queimaram as paredes,
mas não destruíram o sonho!”
ENTREGUE SUA DOAÇÃO:
No Estado de Roraima:
Catedral Cristo Redentor – praça do centro cívico
Igreja São João Batista – Av 16 – Bairro Caranã
Igreja São Francisco – na rotatória da Av. Capitão Julio Bezerra
Igreja Consolata – Av. Villy Roy, próxima a rodoviária
Na secretaria da Diaconia Missionária – Rua Arnaldo Nogueira
Mais informações:
Tels.: (95) 3224 4109 – Boa Vista, RR.
(11) 6256 7599 – São Paulo, SP.
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