Você está na página 1de 2

Magritte em Copacabana Sonhei que estava em Paris. E que ali recebia Macunama.

Roger Bastide usou essas duas frases para falar de um sonho que ele teve depois de dormir embalado pela leitura que ele fazia em 1 !". #qui perto de casa tem a pra$a Paris% cheia de Macunamas estirados na grama% tomando sol% refrescados pelo vapor de &gua que sobra do chafariz. Mas ho'e% ou ontem% n(o sei bem% tudo saiu daqui. #s pessoas foram pra )opacabana. )heguei 'unto com elas e vi um vai e vem% um entra e sai% um corre*corre que% de ser t(o repetitivo e com tanta gente ao mesmo tempo% n(o me chamou muito a aten$(o. + o chato de ser )opacabana. Mas mesmo dos elementos mais banais do cotidiano% ,s vezes a realidade surpreende% tal como num sonho surrealista. -e Macunama em Paris a Magritte em )opacabana. Entre tanta gente e tanta coisa% vi e revi um pneu diferente. o de uma cadeira de rodas% calibrado num posto de gasolina. # cadeira e o posto conectados por uma mangueira de g&s e por uma por$(o de ironia. -uas ou tr/s quadras , frente% gritos. 0arotas% mulheres% famlias e uma d1zia de poodles olhavam pra um mesmo ponto onde n(o se via ningu2m. E gritavam. 3lhavam% se cutucavam% latiam e gritavam mais alto. Mais alto. 4(o alto quanto o terra$o do )opacabana Palace% de onde% depois de muita garganta ardendo% algu2m acenou. E elas gritaram mais e de forma mais estridente. 0ritavam muito% mas ser& que elas teriam algo pra dizer5 Entre tanto barulho% pensei como o grito pode servir pra declarar certa forma de amor. 6m amor torrencial% que vai com berro 7 e acaba com ele. + um amor muito diferente daquele de quando n(o se diz nada% nenhuma palavrinha. 4em horas que n(o se diz. 8(o precisa dizer. Sabe*se porque se sente. )omo naquela cozinha apertadinha% a cento e cinq9enta metros da praia% onde uma mo$a lava pratos% sozinha% e ama. Em cada talher% em cada copo% em cada por$(o de espuma que escorre da bucha que ela manipula como quem fizesse carinho% ela o faz quietinha% silenciosa. Ela s: 2 interrompida quando abre a torneira e a for$a da &gua que cai ressoa alto no fundo da pia de alumnio. Ela n(o hesita. ;az o curso da &gua mudar com as m(os% pra que a torneira n(o fa$a tanto barulho. Seu zelo pelo sil/ncio 2 um puro cuidado com quem adormeceu segundos atr&s. Ele dorme% ela cuida do sil/ncio% ambos gostosamente. 4alvez ele sonhe. <sso 2 comum em )opacabana.

Em acordes suaves% mel:dicos como os que ressoam da escola de m1sica que fica ali pertinho%

Você também pode gostar