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Mas os tempos mudaram.

Qua-

De volta às selvas se 350 anos depois de Hobbes, o


Estado não parece mais o protetor
dos indivíduos. Estes estariam vol-
tando ao mundo hipoté-
A reflexão sobre a função do Estado, sua
1tico do filósofo inglês: o
~ mundo da guerra de to-
importância e, até mesmo, as conseqüências j dos contra todos. As
da sua ausência num sistema liberal é um pessoas não mais confi-
tema a ser aprofundado. am no braço armado do
"Leviatã", que lhes nega
segurança, saúde, em-
prego, educação etc. Os
mais fortes, protegidos
em parte pelo Estado,
detêm a maior parte das
riquezas e se fecham em
condomínios, em ilhas,
em paraísos, contratam
segurança própria, an-
dam em aviões, em car-
ros blindados, mas te-
mem o seqüestro e a
morte. Todo desconhe-
cido é um suspeito, um
potencial inimigo:
"homo homini lupus".
As cidades assemelham-
se às selvas pré-estatais,
onde não havia ainda lei alguma.

Q
uando Thomas Hobbes es- que faziam o poder advir unica-
creveu o "Leviatã", em 1651, mente de Deus, bem como derru- Ao contrário do estado de natu-
pretendia dar ao Estado a bava a segurança dos teóricos aris- reza imaginado por Hobbes, hoje
teoria âe um poder tal que este pu- totélicos que se baseavam em uma temos muitas leis, mas são tidas
desse resolver todas as contendas antropologia que considerava o ho- como leis de papel, totalmente ine-
entre os indivíduos que, no simples mem como um animal bom e natu- ficientes. O medo da morte paira
estado de natureza, eram belige- ralmente social, "zoon politikon". por todos os lugares. Ninguém
rantes entre si: "homo homini lu- O céu, onde residia a esperança está seguro, em lugar nenhum. A
pus" (O homem é o lobo do ho- humana, não estava muito longe da esperança é que o medo da morte
mem). O Estado serviria, então, cabeça do próprio homem-criador. se transforme novamente em um
para dar aos indivíduos uma real elemento humanizador, capaz de
condição de paz que lhes permitis- o Estado hoje unir a todos ao redor de soluções
verdadeiramente eficientes, capa-
se, doravante, cuidar de suas pro- Coerentes com o pensamento de
priedades e gerar riquezas. Os in- Hobbes, podemos dizer que o Es- zes de proporcionar vida, e vida em
divíduos poderiam e deveriam re- tado seria a verdadeira epifania do abundância, como prometeu o
correr apenas ao grande "Leviatã" homem, quando este, garantido Messias, através das palavras do
para resolver as questões compli- pelo poder do "Leviatã", livre do Evangelista João (10,10).
cadas entre eles. Recorreriam ao medo da morte, manifestaria a si
poder gerado por eles através de mesmo e aos outros cidadãos sua
um pacto. verdadeira humanidade. O Estado QUESTÕES PARA DEBATE ...,
O homem hobbesiano é uma cri- mudaria a natureza do homem, que
atura semelhante a Deus-Criador, passaria de lobo a irmão: "homo 1 • Qual é o papel do Estado para Thomas
sendo autor de um "homo artifex" homini homo". Movido pelo medo Hobbes?
no qual ele próprio colocaria sua da morte, o homem cria o Estado 2 - Quais as conseqüências do afastamento
esperança de salvação. O Estado é do governo/Estado das questões sociais:
para nele poder viver em seguran- saúde, segurança, educação, emprego?
fruto do medo da morte e da razão ça. E aqui poderíamos dizer que o 3 - Como podemos interferir nas ações do
necessitarista do homem, não ha- homem hobbesiano é, com acerta- Estado para que ele cumpra seu papel?
vendo, portanto, nenhuma luz so- da propriedade, arquiteto de sua
brenatural criadora. Assim, de uma própria humanidade. Fazer parte
penada só, o filósofo procurava do Estado é ser homem em pleni- Ismar Dias de Matos, Mestrando em Filosofia pela
derrubar a afirmativa dos teólogos tude. UFMG.

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