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CARTAS ARQUEOLOGICAS DO INVENTARIO A SALVAGUARDA E VALORIZACAO DO PATRIMONIO ACTAS DAS JORNADAS REALIZADAS EM AROUCA EM 2004 Coord. ANTONIO MANUEL S. P, SILVA Sih, Aria Manuel. (ord) ‘ams Anus Do serénn suas LoCo bo PATON. Acs om a 208 roc: Camara Musial, 205,087.34 A CARTA ARQUEOLOGICA. INSTRUMENTO INDISPENSAVEL PARA UMA POLITICA DE PROMOCAO DO PATRIMONIO CULTURAL 0 patriménio arqueolagico O patriménio arqueoldgico conta-se hoje em dia como um dos mais apreciados recursos de todas as comunidades. A curiosidade pelo passado e peas crigens do povoamento de cada regiso.a busca de referéncas identitrias que, ainda que ditantes no tempo, pos- sam de algum modo selar e reafirmaraligagdo Intima entre as gen- tse a palsagem que ao longo dos séculs foram construindo, sio razées que justficam um renovado interesse pela histéria pela arqueologia Assim, os bens arqueoligicos constituem um importante ins trumento de promogéo cultural. Por eles, apreende-seo fio histérico de longa duracao que nos trouxe até aqui incultura-se 0 respeito pela alteridade,pelasciferencas e pelo leque de possiveis que con forma qualquer horizonte histrico, Deste modo, promovem 0 esp- Fito humanistae a consciéncia democrdtica de um povo modero. Finalmente, o patrimonio arqueologico assume-se cata vec mais como um relevante elemento de oferta turstcaerequalificacao cu tural das regides. ‘Mas 0s valores arqueol6gicos tém ainda outras caracteristcas importantes:sdo um bem fnitoe, em muitos casos, imprevisivel Aimprevsbilidade decorre da circunstancia da maior parte dos vestigios arqueoligicos estarem enterrados ou submersos e a sua existéncia ser insuspeitada até 20 momento em que quaisquer tra- balhos agricols revolvam a terra ou as maquinas devorem o solo pare funda uma habitagdo ou rasgar uma via. Osbens arqueokigics so também um recurso finite insubs- ‘itulvel Quer dizer, os vestigosantigos preservados so escassos © 0 seu desaparecimento consttui sempre perda de informacio, ‘Quando, por exerplo, um monumento megalitico é destruido inad- vertidamente, sem quehaja oportunidade de ser estudado,nada per- mite substtui, recuperar ou reconstitur conhecimento histrico ‘que esse monumento poderia proporcionay ainda que em redor se ‘enham conservado outras mamoas aparentemente similares. Anténio Manuel S. P. Silva* Por isso, responsabiidade das comunidades actuais - melhor ceducadas, mas sensibizadas para os valores culturas epara a mun- cividncia da sociedade da informacio e da diversidade - € dupla: ‘por um iado,o dever de respetaysalvaguardayestudar e permitr que sejam fruidos os vestgins arqueolégicos; por outro, imperative de legar ao futuro uma parcela ainda signticativadesses bens, que seré or certo seu legado mais valioso,olegado da meméria dos tem- os que jéesqueceram. Mas o que € 0 patiménio arqueolégica? Embora o conteido semantico eo campo de estudo da Arqueologia se alarguem de dia para dia, classficam-se normalmente como bens arqueolégicos todos os vestgios materiais das sociedades que nos antecederam. Tanto os simples objectos do quotidiano (uma pega de louca, um _adorno, um instrumento} como a mais vaiada gama de construcbes « outrasintervengBes no meio natural caem no dominio da arqueo- bai Pudemnclssfcerse os vestigios rqueoldgicos dentro de duas grandes categoras: a5 construgbes e outras itervencées humanas de acrescento ou reducéo dos elementos naturals (to ¢, tanto uma habitagéo, como uma aldeia, uma mina ou uma pedreita, que sto bens iméves;e os objectos ou conjuntos artefactuais, que se podem consierar como bens moves Por forma a organizar as diferentes varidveis dos vestigios arqueolégicos por épocas,funcionalidades ou grandes tipos, 0s arquesiogos tém vindo a estabelecertaxonomias clssfcativas, que se aplicam tanto aos elementos iméveis como aos objectose outros bens méveis. ‘Assim, comegando a partir do Neoltco (i que em Arouca nao se conhecem quaisquervestigios de ocupago humana datavels da pré-histria antiga), sabe-se que os rituals e aquitecturasfunerétias assentavam essencialmente nas construcBes megaliticas ~ conhec- das como antas ou délmens, que formavam com o tumulus ou ‘mamoa um monticulo funerério de dara intengio monumentalza- dora.A ldade do Fero seleccionou muitas colinas e cumeadas para * Arquaslogo. Centro de Arquelola de Aouc. Apartado 127 4544-909 Aouca.amspsivaGhotmallcom. instalagao de castro 0s tipicos povoados fortficados do Noroeste peninsula.Com a chegada dos Romanos diversfcam-se produtos e arquitecturas: os ambientes urbanos, as requintadas ville ruris, a5, vias calcetadas que traduziam os primeirs itinerarios construidos.e as mais diversas instlacbes técnicas.Aldade Média legou-nossepul tras templos habitacdes,castels simbolos de afimacdo colectiva como 05 pelourinhos.€ a0 longo destes milénios variaram profun- damente 0s utenslios ¢ outros objectos, nomeadamente os produ: 2idos em pedra,em cerdmica vidro ou metal, para citar as matéras- 1 mais resistentes a0 tempo e que por isso dominam nos achadls, pecas que aos arqueélogos compete reconhecer, estudar e assay ‘Aresponsabilidade dos Municipios ‘ho contréio do que as vezes se pensa,ndo compete apenas & ‘Administragdo Central ela pela conservacdo dos vestigiosarqueo- \bgicos, Na verdade, sem prejuizo das competéncias das entidades fciis de tutela (Instituto Portugués de Arqueologia e Instituto Portugués do Patriménio Arquitectonico no que respeita as dreas classficades, a legislacdo determina partculares responsabildades 205 Municipios no dominio do pattiménia arqueolégic. A lei que enquadra o patriménio cultural portugues (Le 107/200!) espectia designadamente que.constituem partiulares uta egislagéo.comoarespeitante 20 regimejuridico da urba- nizagio ¢ edificagSo dé a0s municipios eapacidade de indeferi um pedido de licenciamento se for previsvel que a obra projectada poss “afectar negativamenteo patriménio arqueol6gico”. Por fim, ‘outros instrumentos legals estabelecem competéncase responsabi- lidades autarquicas sobre o patriménio arqueolégico, ou abrem campo ao estabelecimento de parcerasereparicdode tutelas,como € 0 caso da Le né 159/99, que estabelece o quadro de transferéncia de atribuigoes e competéncias para as autarquias locals. Por isto se observa o quanto & ertada a nocdoprofundamente arreigada em algumas Autarquas, de que a salvaguarda, estudo ou \alorizagdo do patriménio arqueolégico so tarefasexclusvas dos orgios da Administraglo Central. Pelo contrério, as Cémaras Municipaistém aqui responsabilidades e competéncias de grande signiticado,o quenao obsta,naturaimente,a que cooperem deforma articulada, com 0s restantes corpos do Estado para 0 objectivo comum de cidadania que & 0 da preservacao do patriménio cultural de matriz arqueotigica, um intersse pblco com expresso terito- rit’ como o descreve um dos decretos que evocémos. Carta Arqueolégica de Arouca Salvo esparsis noticias antigas, pesqusas de curiosos ou alguns achadose trabalhos arqueclicicos pontuais em meados do século XX, sem contnuidade ou planiticago de objectivos centicos, 6 a partir da década de 1980, se desenwoheram investgagées sstemiti- as sobre 0 patrimenio arqueolagico de Arouca,pelaaccSo de alguns arquedlogos que pouco depois se reuniriam no Centio de Arqueologia de Arouca Osresultados desses trabalhos de prospeccéo,levantamentoou. escavagio arquedlégica foram sendo objecto de apresentacao nos Circuits centficos mas ndo se encontravam sistematizados escala concelhia e rramente eram utiizados pelos responsive autérqui 0s como instrumento de salvaguarda dos vestgios do passado. Pretendendo ultrapassar esta limitagdo,e tendo em atencdo igualmente 0 processo de revsdo do Plano Director Municipal, a (Camara Municipal de Arouca deciiu em fnas de 1998 adjudicar, por concurso,¢ levantamento da Carta Arqueologica do Concelho, soi: tando no respectivo cademo de encargos, entre outros aspectos, a entrega dainformacao em cartagrafia digitale num sistema debases de dados, a inventariagdo no apenas de sitios mas também das

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