INTRODUÇÃO1
1
As músicas citadas nesse trabalho aparecem no anexo na mesma ordem em que foram
citadas no texto.
2
Fica claro então que a história de um longo período não é uma soma de
seus períodos menores de tempo. Da mesma forma, um determinado tempo
histórico não pode ser traduzido pelo encaixe estanque das análises de suas
diferentes estruturas e dimensões, feitas, cada qual, à revelia do todo. Uma
realidade histórica é um todo complexo, uno e sempre contraditório, onde economia,
política, cultura, vida privada e mesmo dimensões “menores” da realidade
encontram-se ligadas, formando um organismo social vivente.
3
Corre a história nas seculares escalas das lutas sociais, dos fluxos e
influxos da economia, da política, da filosofia e da música.
Durante a Idade Média, a Igreja Católica, o centro do poder do mundo por
cerca de mil anos, exerceu o mais duradouro e rígido controle sobre o mundo das
artes, das ciências em particular e da cultura em geral.
Não apenas os elementos semântico-simbólicos na literatura e nas artes
plásticas, mas também a filosofia, as ciências naturais e a política e também a
música foram filtradas e modeladas de acordo com a cosmogonia teocêntrica do
poder. No mundo inculto da Idade Média a cultura foi aprisionada nas bibliotecas dos
mosteiros e dos palácios papais. A música profana foi sacrificada e remetida aos
infernos do silêncio, produzindo-se uma reinvenção do som e da música a serviço do
poder eclesiástico.
Conforme WISNIK (1989, p. 42) escreveu:
2
Na última parte da citação, quando o autor abre colchetes e reticências, está citando diretamente a
República, de Platão.
6
3
... qual é o lugar daquela nota: qual é o lugar daquela nota no acorde; e qual é o lugar tanto vertical
quanto horizontalmente. E na atividade musical esse é um fator muito importante, que se poderia
chamar de pressão vertical do discurso horizontal. Significa que a linha melódica e o ritmo caminham
na horizontal, mas há uma pressão vertical do acorde, das harmonias, que está sempre ali. Nesse
aspecto a música é igual à história, que tem de ser vivida tanto simultânea quanto
subseqüentemente.
7
“Auditórios maiores exigiam sons mais altos – música que pudesse ser
ouvida claramente até a última fileira. O resultado foi a mudança da música
de câmara para formas sinfônicas [...] A orquestra até refletia certas feições
da fábrica em sua estrutura interna. No princípio, a orquestra sinfônica não
tinha regente ou a regência era passada ao redor entre os músicos. Mais
tarde, os músicos, exatamente como os trabalhadores numa fábrica ou num
escritório burocrático, foram divididos em departamentos (seções de
instrumentos), cada um contribuindo para a produção (a música), cada um
coordenado de cima por um gerente (o regente) ou mesmo, eventualmente,
um subgerente muito baixo na hierarquia da gerência (o primeiro violonista
ou chefe de seção).”
4
Escritor do livro A Terceira Onda
8
5
Historiador inglês contemporâneo, autor de obras como A Era das Revoluções.
6
Na música do período clássico você espera uma ordem natural, uma seqüência natural de tensão e
repouso. E, portanto, quando você tem um acorde de dominante, sabe que ele vai se distender na
tônica. E, quando a Primeira Sinfonia de Beethoven foi executada pela primeira vez, provocou um
tremendo choque, porque começa com o acorde da sétima de dominante não de dó (que é a tônica
de dó maior), mas de fá (que é o quarto grau ou a subdominante de dó maior). O choque que ela
provocou não foi dinâmico nem rítmico, mas harmônico... O que caracteriza a fase final de
Beethoven? Bem, ela desafia a síntese. Algumas obras dessa fase, como a última sonata, que tem só
dois movimentos, ficaram inacabadas. A última sonata desafia algumas expectativas. Há nelas
episódios estranhamente dissonantes e abruptos. (BARENBOIM, D; SAID, E. W., p. 139, 140, 141).
7
Por que Wagner assinala um momento decisivo da música? Por que sempre se pergunta o que
aconteceu “depois de Wagner”? A principal resposta é: a perda da tonalidade. Com a perda da
tonalidade, a música perde certa dimensão que é impossível sem a harmonia. Durante gerações, de
Bach a Wagner, houve um idioma musical e uma espécie de consenso racional, e agora não há mais.
É como se tivessem deixado de existir... É exatamente o princípio de Tristão, que repousa na falta de
resolução, sempre propondo outra pergunta. (BARENBOIM, D; SAID, E. W., p. 139).
8
O surgimento da indústria fonográfica criaria o mercado musical para a música produzida em série,
como mercadoria, portanto, em geral, uma música standardizada, própria ao consumo de grandes
massas.
9
A música não nasceu popular nem erudita. Surgiu dos ritos tribais como
um meio de diálogo com o desconhecido, como esteio para sacrifícios aos deuses e
de exorcismo contra os demônios.
Muito depois, passados milênios da história humana, é que algumas
sociedades e suas culturas puderam produzir música como atividade profana.
Várias sociedades não romperam com essa relação, digamos, umbilical.
Manteve-se em suas culturas a dimensão mítica da música como seu uso exclusivo,
decorrência do não desenvolvimento de relações mercantis de produção, do Estado
e de classes sociais.
De um modo geral, a eclosão do capitalismo enquanto fenômeno mundial
dizimou ou submeteu a quase totalidade dessas culturas a um processo de
aculturação/assimilação. As nações indígenas do continente americano da África, da
Oceania, e de outros cantos do mundo são prova viva – ou morta – dessa história ou
desse processo que já foi chamado civilizatório.
E por mais paradoxal que nos pareça, hoje uma musicalidade tribalista e
modal permeia o universo musical do ocidente misturada a várias formas musicais
contemporâneas, como tributo de uma vanguarda musical que canta e toca a música
dos “vencidos”. WISNIK (1989, p. 11) define assim:
9
Pesquisador da cultura brasileira, autor do famoso ensaio sobre música popular brasileira intitulado
“Dialética da Malandragem”, apud BAHIANA, A. M.; WISNIK, J. M.; AUTRAN, M., Anos 70: Música
Popular, Europa Emp. Graf e Edit. Ltda, 1979-1980, 7v, p. 12-13.
10
Theodor W. Adorno, “Sobre el caracter fetichista em la musica y la regresión del oído”,
Disonancias, Madrid, RIALP, 1966.
11
11
(Nota dos autores) “Com todas as torrentes de ‘senso comum’ tantas e tantas vezes encobertas de
tintas de ‘bom senso’, o populário musical brasileiro mais rés do chão, ainda assim, muitas vezes
12
“Menina solteira / Que almeja casar, / Não caia em amar / A homem algum; /
Nem seja notável / Por sua esquivança, / Não tire a esperança / De amante /
nenhum. // Mereçam-lhes todos / Olhares ardentes; / Suspiros ferventes /
Bem pode soltar: / Não negue a nenhum / Protestos de amor; / A qualquer
que for / O pode jurar. // Os velhos não devem / Formar exceção, /
Porquanto eles são / Um grande partido; / Que, em falta de moço / Que
fortuna faça, / Nunca foi desgraça / Um velho marido. // Ciúmes e zelos, /
Amor e ternura, / Não será loucura / Fingida estudar; / Assim ganhar tudo /
Moças se tem visto; / Serve muito isto / Antes de casar. // Contra os
ardilosos / Oponha seu brio: / Tenha sangue-frio / Pra saber fugir; / Em
todos os casos / Sempre deve estar / Pronta pra chorar, / Pronta pra rir. //
Pode bem a moça, / Assim praticando, / Dos homens zombando, / A vida
passar; / Mas, se aparecer / Algum toleirão, / Sem mais reflexão, / É logo
casar. //”
coloca questões que ultrapassam esse mesmo senso comum. Parece espantoso mas também
sintomático, que Odair José, aquele do ‘...pare de tomar a pílula...’ tenha sido um dos compositores
mais censurados pela ditadura militar.
12
Caetano Veloso - Língua – Disco Ventos do Norte ao vivo – ano 2000
13
MACEDO. J. M. “A Moreninha”, edição didática, 1968. p. 85, 86.
13
“Onde vás, linda negrinha / Com esse teu desamor / Não corras com tanta
pressa / Tem pena de mim tem dó / ... Linda perfeição / Não queira dar
penas /Ao meu coração / ... Ora anda pra cá / Que eu vou pra lá... Pois já
que te queres ir / Vai cachorra nas más horas / Cara de horrendo macaco /
Tintas de negras amoras... Vai-te ferreiro maldito / Cara de chaminé / Fazer
flor aos crioulos / Que são forma do teu pé... //”
“Pelo telefone / minha boa gente / mandou-me avisar / que o meu bom
arranjo / era oferecido / para se cantar / ai, ai, ai, leva mão a consciência
meu bem... / ó que cara dura dizer na roda / que o arranjo é teu / é do bom
Hilário e da velha Ciata / que o Sinhô escreveu... / tomara que tu apanhes /
pra não tornar a fazer isso / escrever o que é dos outros sem olhar o
compromisso”. //
Como já dissemos logo nas primeiras linhas deste trabalho, toda música
possui uma relação significativa com a sociedade que a criou.
Dito de outra forma, aspectos os mais diversos de uma sociedade podem
ser revelados na música ou nas formas musicais que ela produz ao longo da história.
É um axioma da história da humanidade o fato de que a música, assim
como as demais formas de produção artística, é atividade socialmente elaborada,
como a cultura de um modo geral. Mesmo a cultura, que sentimos parecer algo
autômato, tem um entrelaçamento dialético com a história passada e presente. A
arte de um modo geral, em qualquer tempo não pode ser produzida e muito menos
entendida se abstraída a historicidade de sua época.
Em síntese, por detrás de todas as coisas e fenômenos que não
pertençam ao mundo natural, extra-humano, está o homem.
O homem é seu criador, como ente universal, apesar de que a
complexidade crescente de sua vida tenha particularizado a sua existência,
impedindo-o ou dificultando-o de se reconhecer no conjunto de sua produção.
No que se refere à concepção estética da arte, de forma correlata com o
que ocorre com a consciência acerca da economia, a produção e reprodução da
existência humana, desenvolve-se um estranhamento ante as formas de sua
manifestação. Assim, apenas os setores mais avançados e criativos vislumbram e
exploram os nexos existentes entre sociedade e cultura, sociedade e arte de um
modo geral, sociedade e música, particularmente.
Se o cinema é a arte burguesa por excelência, não simplesmente porque
surgiu num tempo em que o capitalismo encontrava-se já formado e senhor do
mundo, mas porque sua essência pressupõe uma produção artística a partir da
reprodução da realidade em movimento, o rock é a música da terceira revolução
tecnológica do capitalismo, porque trouxe nos seus acordes, os ritmos, pulsos e
ruídos, a velocidade e a sonoridade da máquina à explosão e da eletricidade,
imprimindo à canção, à dança e ao comportamento, um processo de reação e
adaptação a esse novo habitat de som e movimento.
O homem do pós-guerra era um outro homem, bastante diferente se
comparado com as gerações anteriores. A realidade do capitalismo de meados dos
19
Nesse novo ambiente definido por Berman e com essa nova energia
dissecada por Wisnik, o rock não se instalou mansamente, sem resistência.
Ao contrário, o rock e sua gênese pressupõem tensão. A economia de
guerra e a industrialização acelerada nos Estados Unidos resultaram em grandes
levas de migrantes dos campos e dos pequenos núcleos urbanos, para as grandes
cidades. Foi assim que o blues e o country se misturavam com o jazz e o rhythm and
blues. Músicas negras e brancas do campo, das pequenas cidades e dos grandes
centros urbanos entraram num processo centrífugo de influências. O rock é filho
dessa mecânica. “Pronto”, sua química não deixaria mais de criar forças centrípetas
de renovação.
O rock surgiu dessa mistura de ritmos, como música e estilo de vida da
juventude americana. Porém, setores das gerações do entre-guerras e do início
daquele século não o receberam com o mesmo entusiasmo.
O mesmo conservadorismo e racismo que impôs a segregação racial ao
nascente american way of life, não pouparam forças na tentativa de impedir a
disseminação do rock ou mesmo liquidar aquele “menino” que acabara de nascer.
Os primeiros roqueiros eram negros e os primeiros rock stars, Chuck
Berry e Little Richard, também. E mais: o próprio nome rock and roll originara-se de
uma expressão idiomática dos negros americanos, relacionada ao ato sexual. O
establishment reagiu.
As pressões e perseguições que artistas como Chuck Berry e Little
Richard sofreram por parte da mídia e da justiça, por serem negros, mas acima de
tudo por serem astros negros de um público crescentemente branco, são hoje parte
21
de uma história do rock que muitos se esforçam por deixar esquecida. Allan Freed,
empresário musical que em 1951 criou um programa de rádio chamado Moon Dog
Show, logo renomeado Moon Dog Rock na Rool Party, o primeiro unicamente
dirigido ao rock, também seria implacavelmente perseguido, acusado de corruptor da
juventude. Allan era branco, mas o seu entusiasmo pelo rock o colocaria do outro
lado da barricada, junto com os negros pobres e o rock and roll, contra a moral e os
bons costumes. Mas como a história costuma ser cruel com as filosofias e filósofos
que intentam enquadrá-la em moldes, turbilhões de jovens brancos aderiram à nova
onda.
Esse crescente fascínio que o rock exercia também sobre setores da
juventude branca e de maior poder aquisitivo, fez com que, já em 1949, “The Fat
Man”, de Chuck Berry, vendesse mais de um milhão de cópias. No mesmo ano Little
Richard, com hits como “Tutti Frutti” e “Long Tall Sally” era também sucesso.
A grande indústria fonográfica se curvou ao rock. Afinal busines is
busines... E logo apareceriam Bill Haley “com seus” The Comets cantando “Rock
Around the Clock”, Elvis com “That’s all Right Mama” e “Blue Moon of Kentuck”. E
Jerry Lee Lewis com “Crazy Arms” e “Whole Lotta Shakin Going On”. O rock já tinha
seus astros brancos e de moda tida por muitos como passageira tornou-se uma
cultura de massas, que se auto-alimentava, uma espécie de camaleão de ritmos,
vestes, idéias e humores, que se reinventa constantemente.
É indiscutível que o nome Elvis Presley esteja até hoje gravado no
imaginário popular como o rei do rock, mas sua breve rebeldia conferida pela
sensualidade da postura e da dança do primeiro momento foi logo ofuscada quando
o eterno galã voltou do serviço militar. Suas baladas românticas não representavam
mais a rebeldia característica do rock.
Se em termos de música é aceito que quem definiu o rock como estilo foi
Bill Halley, distanciando-o da cadência do blues e aproximando-o do country, com
uma batida de 4X4 com a 2ª e a 4ª acentuadas, também é inegável o peso da
influência negra de sua origem e o papel desempenhado por Chuck Berry.
O rock ganharia o mundo levado pelo cinema. A trilha sonora do filme
“Blackboard Jungle” (Sementes da Violência), que tinha como tema os conflitos entre
professores e alunos, chegaria às grandes telas em 1955, dando um novo e
definitivo impulso à nova rebeldia musical e dançante, mesmo que ainda “sem
causa”.
22
14
(Nota dos autores) É interessante refletir sobre o fato de que o lema “Paz e Amor” dos hippies, foi
tomado da cultura militar americana, que na época era usado como um código que significava
suspender o bombardeio.
15
(Nota dos Autores) Em 1964, de acordo com o artigo de Jamari França, os Beatles se
transformaram num fenômeno de público e vendas nos Estados Unidos, o pastor David Nobel
23
estranhamente, para o ocidente, o rock era proibido na antiga URSS e seus estados
satélites, definida por sua classe dirigente como instrumento do capitalismo
degenerado -, o rock que já fora algo muito próximo do blues, yê, yê, yê, o rock
durão como o dos Roling Stones, o rock-folk, o rock Hendrix e outras variantes do
transcurso daria forma também a duas outras novas variantes: o hard rock (logo
heavy metal) de bandas como a inglesa Black Sabbath e Deep Purple, Kiss, Queen
e o rock progressivo: Yes, Gênesis, Emerson, Lak & Palmer, Pink Floyd, Led
Zeppelin, Jetro Tull (e ainda os experimentais como Hendrix e Frank Zappa) e outras
mais.
As novas vertentes do rock pressupunham a grandiosidade ou
grandiloqüência, em sentidos diferentes. De um lado, o rock glamour, as grandes
bandas do rock espetáculo, com indumentária exuberante, maquiagem e som
pesado, com o predomínio uivante de guitarras cada vez mais possantes. Algumas
descobriram no apelo ao satanismo uma maneira de arregimentar multidões de
seguidores.
De outro lado, a virtuose do rock progressivo, que praticamente
transmutou o gênero em música erudita das guitarras, órgãos e sintetizadores,
criando peças musicais (faixas de rock) com 5, 10, 15, ou mais minutos de duração.
Essas bandas ou astros também investiam no glamour, como o astro ex-Yes Rick
Wakeman que lançou obras primas como “Viagem ao centro da terra”, “As esposas
de Henrique XVIII” e “Os mitos e lendas do rei Arthur e os cavaleiros da távola
redonda”.
Em bem pouco tempo o rock atitude, contestatório, com acorde agora
ainda mais básico e com uma nova origem e viés ideológico, daria o troco. Chegava
à cena o punk rock.
A atitude e o som punk nasceram nos Estados Unidos. Do underground
para as gravadoras independentes, marcadas pelo espírito “do it yourself” (faça você
escreveu vários livros combatendo o rock: “Comunismo, hipnotismo e os Beatles”, “Rock´n Roll: uma
forma pré-revolucionária de subversão cultural”, “Rock Cristão, um estratagema de Mefistófoles”.
Tempos depois, o pregador americano Jacob Aranza, em seu livro “More backward masking
unmasked”, também segundo Jamari França, descreveria em quatro o plano para a “corrupção da
juventude pelas forças musicais das trevas”: 1) 1955-1965: Promover o sexo e preparar o terreno
para a revolução sexual, 2) 1965-1970: Consumo de drogas, rebelião e outras atitudes contra o
establishment. 3) 1970-1980: Aprofundamento da dependência a sons mais altos e mais violentos. 4)
Anos 80 (etapa final): Elevação dos rock stars ao status de Messias, transformando grandes
conceitos em celebrações satânicas. Vade retro!
24
mesmo), das garagens para os discos e cada vez mais para platéias maiores,
surgiram bandas como “Blondie” e “Ramones”.
Logo o fenômeno cruzaria o Atlântico e se popularizaria na Inglaterra,
levado pelo empresário Malcon Mc Laren. Viriam à luz (ou das trevas, como muitos
ainda encaravam o já adulto rock and roll) Sex Pistols, Clash, Damned e Siouxi e
And the Banshees (esse último já enveredando pelo pós-punk).
O rock punk era a negação do glamour do hard e do virtuosismo do
progressivo, com um som pesado, mas simples, com três acordes, trajando jeans e
camisetas rasgadas, cantando letras que trariam ao mesmo tempo o tom de sua
origem proletária, inconformismo, rebeldia, temáticas anticapitalistas e anarquistas (e
mesmo anarco-sindicalistas) e desesperança.
Novos tempos, novas demandas existenciais e, pra variar, um novo rock,
que durante alguns anos firmou-se como um movimento cultural do proletariado
britânico num período de lutas sociais e de mudanças de mentalidade, que se
encerrou com a derrota da grande greve dos mineiros no início dos anos 80 no
primeiro governo de Margareth Tatcher.
O início dos anos 80 traria bandas com cunho político transitando pelo
politicamente correto e pelo protesto ecológico, como a irlandesa, The Smiths, U2 e
The Police, mas revelaria também todo o complexo universo do pós-punk: góticos,
darks, pós-punk-tecno-pop... dando conta do abatimento ante a situação do mundo e
a mesmice das idéias. Apareceria também o rock dançante New Age, trazendo de
volta um rock alegria como nova carga de energia e o sempre reinventado David
Bowie.
Posta à prova durante os anos 60, 70 e 80, a inegável natureza mutante
do rock provou ser capaz de atender às exigências de reprodutividade da indústria
cultural e ao mesmo tempo decodificar as angústias e alteridades cambiantes do
mundo. É muito provável que, exatamente por isso, o rock ainda seja rock.
Mas duas questões ainda necessitam ser abordadas.
Uma delas é: o rock como todas as demais músicas comerciais, também
produziu coisa ruim. Não poderia ser diferente, uma vez que estamos falando do
ritmo mais tocado e escutado ao redor do mundo. Com certeza é incalculável os
lucros obtidos com o rock pela grande indústria cultural nesses quase sessenta anos
de sua história. A tese de Adorno da transformação da música em mercadoria e de
sua estandardização para o consumo em massa, que oferece um “falso” valor de
25
uso para realizar seu valor de troca com vistas à acumulação, com outras palavras,
a formação da indústria da música e sua incorporação ao capital, certamente
encontrou no rock uma de suas highways da acumulação.
Mas o rock também produziu muita coisa boa, porque justamente uma de
suas características é ciclicamente elevar próximo do limite as contradições sociais e
existenciais de seu tempo. E não é por acaso que a inquietude e a rebeldia de várias
bandas e seus astros muitas e muitas vezes entrou em contraste com a riqueza por
eles acumuladas... tantas vezes já se disse e o próprio rock prova que as boas
criações normalmente são maiores, mais elevadas que seus criadores.
A outra: não é necessário dizer para que se perceba já nas primeiras
linhas dessa brevíssima história do rock o predomínio absoluto do rock americano e
inglês. É fato que o rock surgiu nos Estados Unidos e que as primeiras fases de seu
desenvolvimento e mudanças tenha ocorrido primordialmente entre os EUA e a
Inglaterra. Mas essa sua história inicial não pode obscurecer o fato de que a
indústria cultural tenha até hoje privilegiado o rock anglo-americano, certamente pela
ascendência da língua inglesa sobre o mundo desde o império britânico e depois
com a ascendência do imperialismo americano. Além do aspecto inegável de que a
indústria cultural americana exerce uma espetacular dominação sobre o mundo
inteiro, essa realidade também não pode subtrair ao rock outra de suas
características, a de se fundir com outros ritmos, com outras músicas ao redor do
mundo. Existe um rock misturado com ritmos e instrumentos indianos, Peter Tosh
misturou o reage com rock, o próprio rock se aproximou da música erudita com o
progressivo. No Brasil, o rock se fundiu com o samba, com o baião, com o maracatu
e outros ritmos. O rock surgido num lugar qualquer do mundo, amalgamado ou
influenciado por muitos ritmos e suas culturas se transformou numa música
planetária, africana, asiática, americana, européia e oceânica.
Na década de 90 nesses primeiros anos do século XXI novos roques têm
surgido ao redor do mundo, com novas e recorrentes sonoridades e temáticas.
A cada período novos termos continuam sendo incorporados ao léxico –
ou aos dicionários – do rock, numa corrida que tenta dar conta das novas
tecnologias do som e das leituras musicais do mundo.
O uso dos computadores na edição e mesmo na execução musical, não
eliminou o conjunto básico guitarra, baixo e bateria. O aparecimento da música
26
“Mais do que a voz que canta o rap tira a sua força da voz que fala... O rap
assumiu o lugar da canção de protesto e é hoje a única música de
contestação. É um gênero que tem fôlego para crescer. Sua importância
não está em revelar a realidade da periferia – já que toda música revela
uma realidade -, mas em ser uma forma de expressão, de convencimento e
de persuasão para os seus ouvintes... A narrativa do rap tem um aspecto de
fábula porque coloca o bem contra o mal, um contra o outro, o que tende a
acirrar os ânimos num país desigual como o Brasil, mas aí o problema é
mais social do que musical”.
O termo Brock foi criado pelo jornalista Arthur Dapieve e depois abriu o
título de seu livro “Brock – O rock brasileiro dos anos 80”, editado pela primeira vez
em 1995.
O “B” acrescido ao “rock”, formando o “Br” e súbito a síntese Brock, nada
tem haver com qualquer espécie de nacionalismo. Também não quer significar
nenhum tipo de inferioridade comparativa com o rock internacional.
Ao contrário, a feliz idéia de Dapieve foi dar nome, juntando ao “rock”
uma única letra, à maturidade alcançada pelo rock brasileiro durante a década de
1980.
E esse caminho para a maturidade seguiu, digamos, um itinerário
parecido com o do rock anglo-americano.
Houve, no início, um rock romântico e dançante, portador de um
romantismo juvenil, refratário a temáticas sociais, políticas e culturais mais
complexas.
Porém, para entenderemos esses primeiros passos do rock no Brasil, o
seu desenvolvimento pelos anos 60, 70 e o brock dos anos 80, é necessário
retomarmos a linha evolutiva da canção brasileira, revisitando a Bossa Nova do final
dos anos 50 e 60, a MPB dos anos 60 e 70, o Tropicalismo do final dos anos 60 e 70
e a Vanguarda Paulista no final da década de 70.
O chamado “dó de peito” da canção brasileira já havia sido suavizado nas
sonoridades do canto e dos arranjos pela canção praieira de Dorival Caymi, pela
mensagem sertaneja de Luiz Gonzaga, pela sonoridade de um Jackson do Pandeiro
e pelo pré-bossanovismo do samba de Noel Rosa e pelo samba paulista de
Adoniran Barbosa.
Seja como for, idéias musicais como “... é doce morrer no mar...”, “quando
olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João...”, “com que roupa eu vou, pro
samba que você me convidou...” e “saudosa maloca, maloca querida...” já não
exprimiam a realidade brasileira.
Nelson MOTTA (2000, p. 9), relatou assim a música pré-Bossa Nova, pré-
MPB e pré-rock and roll:
28
“A música pelo menos a que se ouvia no rádio e nos discos era insuportável
para um adolescente de Copacabana no final dos anos 50. Boleros e
sambas-canções falavam de encontros e desencontros amorosos
infinitamente distantes de nossas vidas de praia e cinema, de livros e
quadrinhos, de início da televisão e da ânsia da modernização. Para nós,
garotos de classe média de Copacabana, aqueles cantores da Rádio
Nacional e suas grandes vozes, dizendo coisas que não nos interessavam,
em uma linguagem que não entendíamos, eram abomináveis.”
dando um resumo realista da queda de Jango a partir das manchetes dos Jornais e
de músicas interpretadas por Nara16: “e nos corações / saudades e cinzas foi o que
restou; / pelas ruas o que se vê; é / é uma gente que nem se vê; / que nem sorri; /
se beija; se abraça. //17”
As vinte e oito manchetes:
16
“Camila numa semana” (ao som de Nara Leão). Os 18 melhores contos do Brasil. 1ª ed., Rio
de Janeiro – GB: Bloch Editores S. A., 1968, p. 201-203.
17
Marcha da Quarta-feira de Cinzas, Carlos Lyra e Vinícius de Moraes.
18
Idem
32
“Meu senhor, minha senhora... / a canção que eu trago agora / fala de toda
nação... / que a morte que eu vi no campo / encontrei também no mar /
boiadeiro e jangadeiro / iguais no mesmo esperar / que um dia se mude a
vida / em tudo e em todo o lugar... / já soltei o meu cavalo / já deixei a
plantação / eu já fui até soldado / hoje muito mais armado / sou chofer de
caminhão... / fui vaqueiro e jangadeiro / no campo e no litoral / cantador
serei primeiro / cantando não por dinheiro / por justo anseio geral //”
Mas logo seriam substituídos pela Jovem Guarda. Roberto Carlos – que
inicialmente apostou no banquinho e no violão... e na Bossa Nova – e Erasmo
Carlos e Wanderléa formaram o trio que seria o carro chefe da primeira etapa do
rock nacional entre meados dos 60 e 70.
A Jovem Guarda arregimentou e embalou a juventude dos subúrbios do
Rio e São Paulo. O casaco de couro, a minissaia, a brilhantina, um estilo James
Jean à brasileira e rock juvenis eram a fórmula do sucesso.
Tal como a Bossa Nova e a MPB “universitária”, tinham programas na TV,
nas rádios; seus discos eram campeões de venda. A Jovem Guarda representava ao
mesmo tempo uma rebeldia no comportamento e a introdução ou a chegada do rock
no Brasil.
Mas essa rebeldia e assimilação do rock caminhava de mãos dadas com
o desinteresse e mesmo aversão a questões políticas, sociais e comportamentais
mais profundas.
Nelson Motta comentou assim os primeiros tempos da Jovem Guarda:
“Meu carro é vermelho / não uso espelho pra me pentear / botinha sem meia
/ só na areia eu sei trabalhar... / Se você quer experimentar / sei que vai
19
gostar... //
Só quero que você / me aqueça nesse inverno / e que tudo mais vá pro
20
inferno! //
19
O Bom – Eduardo Araújo
20
Quero que vá tudo pro inferno – Erasmo Carlos
21
Vem quente que eu estou fervendo – Eduardo Araújo
35
“Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu / A gente
estancou de repente / Ou foi o mundo então que cresceu... / A gente quer
ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda viva / E
carrega o destino prá lá... //”
“Ovelha Negra”, “Fruto Proibido”, “Agora só Falta Você”, “Ouro de Tolo”, “Abre-te
Sésamo”, “Gita”, “Eu Nasci a Dez Mil Anos Atrás”, são marcos que deram o suporte
conceitual ao rock brasileiro e que até hoje são lembrados e tocados.
E depois com Geisel as boas intenções da abertura lenta e gradual para a
democracia – será que no inferno também se luta para eleger o Diabo?
Vieram os primeiros revezes do regime: vitórias da oposição nas urnas,
74, 78 e manobras equilibristas, o tapa e o sopro: viriam os senadores biônicos, mas
também o começo da abertura (afrouxamento da ditadura) e a anistia.
Durante o governo Geisel, os truques do milagre começaram a ser
percebidos mesmo que por trás dos panos. A mágica do crescimento deixava de
funcionar como antes e quando as medidas econômicas eram anunciadas, eram
como coelhos tirados da cartola: ninguém acreditava.
A segunda crise do petróleo em 79, a falta de capacidade para
investimentos levou o modelo econômico a uma encruzilhada de perspectivas, ao
crescimento da divida externa e ao início da estagnação que viria com o governo
Figueiredo.
Os tempos, entre o final dos 70 e o início dos 80, eram de liberdades
vigiadas, início da recessão, mesmice cultural e o avassalador fenômeno discoteca,
que pasteurizou os ouvidos com seu “tum-tum” sempre igual, de norte a sul.
Nesse tempo surgia uma outra vertente da música brasileira, transitando
pelo experimentalismo de vanguarda, pela irreverência crítica e impiedosa: Walter
Franco, Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Língua de Trapo, Premeditando o Breque,
Itamar Assumpção, Wisnik, a Vanguarda Paulista.
Essa fauna musical, entendida a expressão como tentando dar conta de
que eram os portadores/criadores do inusitado num mar de calmaria e tédio,
enterrou a velha seriedade musical que os Mutantes, Rita Lee, Raul Seixas, Novos
Baianos, Secos & Molhados já haviam liquidado. Foram fundamentais para o novo
rock que estava por vir, o Brock 80.
Só uma pequena mostra. A história de Fernando Gabeira cantada pelo
Língua de Trapo22, em versão caipira:
“Nois dois vivia intocado e clandestino / Nosso destino era fundo de quintar /
Desconfiavam que nois era comunista / Ou terrorista, de manchete de jornar
22
O que é isso companheiro? – Língua de Trapo
41
23
Jornal do Brasil, maio de 1980. Publicado em Quem é quem na História do Brasil. Almanaque
Abril.
42
Por todos os lugares dos grandes centros – afinal o rock é música urbana
– novos grupos de rock se formavam, mas persistiam como anônimos,
enclausurados nas garagens e fazendo pequenos shows alternativos, com a cara e
a coragem. As grandes gravadoras tinham outros planos para prensar seus vinis.
Arthur DAPIEVE (1995, p. 23), relatou muito bem a situação:
“Não sou brasileiro, / Não sou estrangeiro, / Não sou brasileiro, / Não sou
estrangeiro. / Não sou de nenhum lugar, / Sou de lugar nenhum. / Não sou
de São Paulo, não sou japonês. / Não sou carioca, não sou português. /
Não sou de Brasília, não sou do Brasil. / Nenhuma pátria me pariu. / Eu não
24
tô nem aí. / Eu não tô nem aqui. // ”
“Sinto no meu corpo / A dor que angustia / A lei ao meu redor / A lei que eu
não queria... / Estado Violência / Estado Hipocrisia / A lei não é minha / A lei
24
Lugar Nenhum – Titãs
45
que eu não queria... / Meu corpo não é meu / Meu coração é teu / Atrás de
portas frias / O homem está só... / Homem em silêncio / Homem na prisão /
Homem no escuro / Futuro da nação / Homem em silêncio / Homem na
prisão / Homem no escuro / Futuro da nação... / Estado Violência / Deixem-
me querer / Estado Violência / Deixem-me pensar / Estado Violência /
25
Deixem-me sentir / Estado Violência / Deixem-me em paz... //”
Dizem que ela existe pra ajudar / Dizem que ela existe pra proteger / Eu sei
que ela pode te parar / Eu sei que ela pode te prender / Polícia! Para quem
precisa? / Polícia! Para quem precisa de polícia? / Dizem pra você obedecer
/ Dizem pra você responder / Dizem pra você cooperar / Dizem pra você
respeitar / Polícia! Para quem precisa? / Polícia! Para quem precisa de
27
polícia? //
... Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada / Toda forma de
conduta se transforma numa luta armada / A história se repete mas a força
28
deixa a história mal contada... //
25
Estado Violência - Titãs
26
Selvagem – Paralamas do Sucesso
27
Polícia - Titãs
28
Toda Forma de Poder – Engenheiros do Hawaii
29
Nome aos Bois - Titãs
46
“Hey mãe! / Eu tenho uma guitarra elétrica / Durante muito tempo isso foi
tudo / Que eu queria ter... /... Nessa terra de gigantes / (eu sei, já ouvimos
tudo isso antes) / A juventude é uma banda / Numa propaganda de
refrigerantes... /... Nessa terra de gigantes / Que trocam vidas por diamantes
31
//”
“... Mas se você achar / Que eu tô derrotado / Saiba que ainda estão
rolando os dados / Porque o tempo, o tempo não pára ... / A tua piscina tá
cheia de ratos / Tuas idéias não correspondem aos fatos / O tempo não
pára... / Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes
32
novidades / O tempo não pára / Não pára, não, não pára... //”
30
Geração Coca-Cola – Legião Urbana
31
Terra de Gigantes – Engenheiros do Hawaii
32
O tempo não para – Cazuza
33
Ideologia - Cazuza
47
Ainda com Cazuza, concluímos também que o Brock 80, tem uma relação
de distanciamento com a idéia de nação, um rock anti-exaltação, certa concepção de
que “nação” é uma instituição tão especial que é mesmo feita só para poucos. Uma
abstração.
“Não me convidaram / Pra essa festa pobre / Que os homens armaram pra
me convencer / A pagar sem ver / Toda essa droga / Que já vem malhada
antes de eu nascer... / Brasil / Mostra tua cara / Quero ver quem paga / Pra
gente ficar assim / Brasil / Qual é o teu negócio? / O nome do teu sócio? /
34
Confia em mim... //”
34
Brasil - Cazuza
48
CONCLUSÃO
35
Arthur Dapieve – Brock 80 – o rock brasileiro dos anos 80. p. 165.
50
REFERÊNCIAS
LIVROS
ALMANAQUE ABRIL, Quem é quem na História do Brasil. São Paulo: Abril Multimídia, 2000.
ALZER, L. A.; CLAUDINO, M., Almanaque anos 80. 12ª reimpressão, Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
ANDRADE, M., Música, doce música. 2ª ed., São Paulo: Martins, 1976.
AYALA, M.; AYALA, M. I. N., Cultura Popular no Brasil: perspectiva de análise. 2ª ed., São Paulo:
Ática, 2003.
BAHIANA, A. M.; WISNIK, J. M.; AUTRAN, M., Anos 70: música popular. Rio de Janeiro: Europa,
1979-1980.
BARENBOIM, D; SAID, E. W., Paralelos e paradoxos: reflexões sobre música e sociedade. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003.
BENJAMIN, W., Documentos de Cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. São Paulo:
Cultrix, 1986.
BERMAN, M., Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
BLOCH, M., Apologia da história, ou, o Ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2001.
CASTRO, R., Carnaval no fogo: crônica de uma cidade excitante demais. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003.
COTRIM, G., História: para o ensino médio Brasil e geral. 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002.
DAPIEVE, A., Brock: o rock brasileiro dos anos 80. 5ª ed., Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
_____., Renato Russo: o trovador solitário. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: Prefeitura, 2000.
FAUSTO, B., História do Brasil. 10ª ed., São Paulo: Edusp, 2002.
FRANCHETTI, P.; PÉCORA, A., Caetano Veloso. São Paulo: Abril Educação, 1981.
FREITAG, L. V., Momentos de Música Brasileira. 2ª ed., São Paulo: Nobel, 1986.
GRAMSI, A., Concepção Dialética da História. 5ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
MARIZ, V., A Canção Brasileira: erudita, folclórica, popular. 3º ed., Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977.
RAYNOR, H., História social da música: da idade média a Beethoven. Rio de Janeiro: Guanabara,
1986.
RENNÓ, C.; DUÓ,E.; BRUNO, J. C., Cazuza. São Paulo: Martin Claret, 1990.
WISNIK, J. M., O Som e o Sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
52
ARTIGOS DE JORNAIS
ARTIGOS DE PERIÓDICOS
GRAVAÇÕES SONORAS
DISCOS DE VINIL
1/3
SECOS & MOLHADOS. _____. Continental, 1973. 1 disco: 33 rpm, microssulco, SLP 10112.
1/3
TITÃS. Go back. São Paulo: BMG Ariola, 1988.1 disco: 33 rpm, microssulco, 670.4033.
55
LEGIÃO URBANA. Mais do mesmo. Guarulhos: EMI, 1998. 1 CD: digital, 494495-2.
LIMA. M. Minha história. Rio de Janeiro: PolyGram, 1993. 1 CD: digital, M 5104702.
MAIA, T. Sem limite. São Paulo: Universal Music, 2001. 2 CDs: digital, 73145497902 e
73145497912.
MERCENÁRIAS. 1 CD: Cadê as armas. 1986 e Trashland (1988) (CD baixado da internet, presente
do amigo Carlinhos).
MOREIRA, G. Botinada – a origem do punk no Brasil, ST2 Vídeo, 2001, 1 vídeo disco (110 min):
laser, estéreo.
VELOSO, C. Sem lenço sem documento. Rio de Janeiro: PolyGram, 1989. 1 CD: digital, 836528-2.
ZISKIND, H. O som e o sint. CD que acompanha o livro "O Som e o Sentido" de José Miguel Wisnik,
ed. Companhia das Letras (1989). Análises sonoras de exemplos significativos de 3 sistemas
musicais: modal, tonal e dodecafônico. AA 2000.
56
CONSULTAS ONLINE
SALDANHA, R. M. “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”: os anos 90 e o
rock no Brasil. Disponível em
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/19466/1/Rafael+Saldanha.pdf. Acesso em
agosto de 2007.
TANOTTI JR, J. S. Mídia, cultura juvenil e rock and roll: comunidades, tribos e grupamentos
urbanos. Disponível em
57
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/4994/1/NP13JANOTTI.pdf. Acesso em
agosto de 2007.
ANEXOS
59
LETRAS DE MÚSICA
60
O Chefe da Folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar
Ai, ai, ai
É deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás
O “Peru” me disse
Se o “Morcego” visse
Não fazer tolice
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse-não-disse
Ai, ai, ai
Dança o samba
63
Em casas da zona
Não entra nem dona
Nem amigas sua
Se tem namorado
Converse fiado
No meio da rua.
Em porta e janela
Fica a sentinela
De noite e de dia;
Com as arma embalada
Proibindo a entrada
Das moça vadia
A lei da polícia
Tem certa malícia
Bastante brejeira;
O chefe é ranzinza
No dia de "cinza"
Não quer Zé-Pereira!
Coro (Civis)
Coro (Madamas)
3. Sinhô - O Pé de Anjo
Ó pé de anjo, ó pé de anjo
És rezador, és rezador
Tens o pé tão grande
que és capaz de pisar
Nosso Senhor, Nosso Senhor
A mulher e a galinha
Um e outro e interesseiro
A galinha pelo milho
E a mulher pelo dinheiro
65
Now blue ain't the word for the way that i feel
That old storm brewing in this heart of mine
Someday crazy arms will hold somebody new
But now I'm so lonely all the time
Now take all those precious dreams i had for you Dear
And take all that love i thought was mine
Some day your crazy arms will hold somebody new
But now i 'm so lonely all the time
[Chorus:]
Well, I said come on over baby, a-whole lot-ta shakin' goin' on
I said come on over baby, a-whole lot-ta shakin' goin' on
We ain't fakin', a-whole lot-ta shakin' goin' on
[Chorus]
Easy now
[Chorus 2:]
I said shake baby, shake
I said shake, baby shake now
I said shake it baby, shake uh huh
I said shake it baby, shake, bop bop
We ain't fakin', a-whole lot-ta shakin' goin' on
Yeh,
[Chorus]
[Chorus 2 2x]
Shake it out
73
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
19. Geraldo Vandré - Prá não dizer que não falei de flores
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantado
E seguindo a canção...
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
81
Eu ví um coração
Cansado de chorar
A flecha do amor
Só trás
Angústia e a dor
(Oh! oh! Cupido!)
Ter Muitas Garotas Para Mim É Normal, Eu Sou O Bom, Entre Os DezMais
Versão 2
Quando eu apareço
O comentário é geral
pode tirar
seu time de campo
o meu coração é do tamanho de um trem
iguais a você
eu já ganhei mais de cem
pode vir quente que eu estou fervendo
Estribilho
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto o que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou
E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor
Depois da banda passar cantando coisas de amor
92
Prá cantar!
Pontiarrrrrrrr!
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei
Por inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Prá buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar prá cantar...
Prá cantar
Pontiaaaaarrr!...(4x)
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...
O rei da brincadeira
Êh José!
O rei da confusão
Êh João!
Um trabalhava na feira
Êh José!
Outro na construção
Êh João!...
A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi prá lá
Prá Ribeira foi namorar...
Foi no parque
Que ele avistou
Juliana!
Foi que ele viu
Foi que ele viu!
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João...
O sorvete e a rosa
Oh José!
A rosa e o sorvete
Oh José!
Oi girando na mente
Oh José!
Do José brincalhão
Oh José!...
Juliana girando
Oi girando!
96
Oi na roda gigante
Oi girando!
Oi na roda gigante
Oi girando!
O amigo João (João)...
O sorvete é morango
É vermelho!
Oi girando e a rosa
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi girando, girando...
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém...
o monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
98
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
AU!
Ro!Quem é ele?
Quem é ele?
Esse tal de Roque Enrow!
Um planeta, um deserto
Uma bomba que estourou
Ele! Quem é ele?
Isso ninguém nunca falou!
Ôh! Ran!...
100
Quem?
Roque Enrow!
Roque Enrow!
Roque Enrow!...
101
Baby Baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
Ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
Oh! Oh! Ah!
Tchu! Tchu! Ah! Ah!...
Baby Baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
Ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
(Ovelha Negra da Família!)
Tchu! Tchu! Tchu!
Não! Vai sumir!...
102
No ar que eu respiro, uu
Eu sinto prazer
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Lá vou eu denovo
Um tanto assustado
Com Ali-Babá
E os quarenta ladrões
Já não querem nada
Com a pátria amada
E cada dia mais
Enchendo os meus botões...
Lá vou eu de novo
Brasileiro, brasileiro nato
Se eu não morro eu mato
Essa desnutrição
Minha teimosia
Braba de guerreiro
É que me faz o primeiro
Dessa procissão...
Isso aí!
E vamos nós de novo
Vamo na gangorra
No meio da zorra desse
Desse vai-e-vem
É tudo mentira
Quem vai nessa pira
Atrás do tesouro
De Ali-bem-bem...
Gita
Gita
Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)
Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)
Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
não, não porque
Eu nasci
(eu nasci)
110
(eu nasci)
Eu nasci
(há dez mil anos atrás)
Eu nasci há dez mil anos atrás
(e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais)
111
Estado Violência
Estado Hipocrisia
A lei não é minha
A lei que eu não queria...
Homem em silêncio
Homem na prisão
Homem no escuro
Futuro da nação
Homem em silêncio
Homem na prisão
Homem no escuro
Futuro da nação...
Estado Violência
Deixem-me querer
Estado Violência
Deixem-me pensar
Estado Violência
Deixem-me sentir
Estado Violência
Deixem-me em paz...(3x)
114
Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada
E eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada
E
Garrastazu,
Stalin,
Erasmo Dias,
Franco,
Lindomar Castilho,
Nixon, Delfin,
Ronaldo Boscoli.
A
Baby Doc,
Papa Doc,
Mengele,
Doca Street,
Rockfeller.
E
Afanásio,
Dulcídio Wanderley Bosquila,
Pinochet,
Gil Gomes,
Reverendo Moon,
Jim Jones.
E
General Custer,
Flávio Cavalcanti,
Adolf Hitler,
Borba Gato,
Newton Cruz,
Sérgio Dourado.
G
Idi Amin,
Plínio Correia de Oliveira,
Plínio Salgado.
E
Mussolini,
Truman,
Khomeini,
Reagan,
Chapman,
Fleury.
118
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pr'o sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo
Na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
As aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou enganando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
E hoje eu sei
Eu sei!
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando seus metais...
Nanananã! Naninananã!
Nanananã! Naninananã!
Hum!...
121
Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter
Hey mãe!
Tenho uns amigos tocando comigo
Eles são legais, além do mais,
Não querem nem saber
Mas agora, lá fora,
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas de qualquer lugar
As revistas
As revoltas
As conquistas da juventude
São heranças
São motivos
Pr'as mudanças de atitude
Os discos
As danças
Os riscos da juventude
A cara limpa
A roupa suja
Esperando que o tempo mude
Hey mãe!
Já não esquento a cabeça
Durante muito tempo isso foi
Só o que eu podia fazer
Mas, hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre coisas que a gente
Não pode entender
Hey mãe!
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto
Antes de anoitecer
Pois agora lá fora
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Ah, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do "Grand Monde"
O meu tesão
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim