Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
i
ii
2007
iii
Agradecimentos
Obrigada à Ana Paula Jordão pelo apoio prestado aquando da elaboração do meu
pedido de licença sabática e à Sónia Figueinhas que, não acreditando que este trabalho
algum dia pudesse ter fim, se muniu de toda a paciência necessária para digitalizar e
enviar-me por email material impresso que eu não possuı́a.
Um agradecimento muito especial a todos os meus amigos que se ofereceram para
ler as versões prévias desta tese de modo a ajudar na detecção de gralhas, em particular
à Marta Carapuço a quem eu incumbi essa tarefa e que a cumpriu sempre com muito
boa disposição, muita eficiência e ainda com um enorme sentido crı́tico-construtivo.
Por fim agradeço àqueles que me acompanharam de perto, dia-a-dia, ao longo de
toda esta viagem, e que testemunharam todos os momentos não só de entusiasmo mas
também de angústia que fazem parte de tarefas como esta: o meu marido e o meu
filho. Não esqueço a resignação, a compreensão e o amor com que aceitaram a minha
ausência no tempo que roubei à convivência familiar para dedicar à finalização deste
trabalho.
viii
Benoı̂t Mandelbrot
ix
x
ABSTRACT The main objective of this work is the elaboration and presentation of
some proposals for classroom activities about fractals to be used in Mathematic classes,
with non-University students. In addition, it is also presented some activities for being
developed as a project. To reach this goal, which is highlighted in the last chapter,
three previous chapters are introduced. The first presents the concept of Fractal as a
fixed point of a Iterated Function System; the second relies on the concept of Fractal
Dimension, in particular in the definition of both the Hausdorff Dimension and the Box
Counting Dimension, being the first created from the Carathéodory Measure Theory;
and the third includes a compilation of possible applications of the Fractal Geometry
in order to emphasize the importance that this geometry has been gaining due to its
vast utility and applicability in various areas of knowledge. In the last chapter it is
presented a collection of classroom activities, which pretend to take the pupil into the
concept of Fractal and into the study of some properties of some particular cases. At
the same time, it is pretended that the students deep their knowledge about the impor-
tance of the Fractal Geometry in the current world. Whenever possible, the contents
of the current Portuguese official learning programmes of Mathematics were pointed
out in a way that they can be worked in parallel with the Fractal Geometry concepts.
Lista de Figuras xv
Introdução xxiii
As Minhas Motivações xxv
As Origens da Geometria Fractal xxviii
Os Conceitos de Fractal e de Dimensão Fractal xxxi
A Estrutura deste Trabalho xxxvi
Conclusão 289
Anexos 297
Bibliografia 321
Lista de Figuras
1.2 Distância de A a B. 8
1.7 Contracção em R 23
1.8 Representação gráfica de um ponto f de C[0, 1], da sua imagem pela função
1
w(f ) = f + 1 e do ponto fixo de w. 23
2
1.9 Contracção no espaço das funções contı́nuas em [0,1 29
1.13Um Fractal definido por um SFI é independente do elemento inicial de H(X ) ao qual
se aplica esse SFI. 38
1.16Resultado das cinco primeiras iteradas do SFI que gera a curva de Peano. 42
1.18Representação gráfica de algumas das iteradas de um SFI que define um fractal que
se assemelha a um feto. 44
xv
xvi LISTA DE FIGURAS
1.19Imagem obtida depois de cinco iterações num SFI com conjunto de condensação. 46
1.22À esquerda a folha que se pretende representar através do ponto fixo de um SFI
e à direita a imagem dessa folha por seis contracções diferentes juntamente com o
1.23A iteração zero e o resultado obtido ao fim de seis iterações através de um SFI
constituı́do por seis contracções em R2 . 51
2.15Divisão da imagem em caixas de lado 512, 256, 128, 64, 32, 16 e 8 pixels
respectivamente. 128
2.16Número de caixas que intersectam a folha (Nδ (G)) em função do comprimento (em
pixels) do lado da caixa (δ). 129
2.17Logaritmo do Número de caixas que intersectam a folha (log (Nδ (G))) em função
do Logaritmo do inverso do comprimento (em pixels) do lado da caixa (− log(δ)) e
2.18Primeiras duas iteradas da construção um fractal que pode ser definido por um SFI
constituı́dos por cinco contracções, com dois factores de contracção diferentes. 132
contracção. 133
3.1 Diversos elementos da flora que exibem a repetição da mesma forma a várias
escalas. 144
3.6 Padrão formado por bactérias em crescimento, em laboratório, em prato petri. 150
3.7 Vista aérea de uma rede fluvial e fotografia de uma cascata. 151
3.9 Imagens de montanhas onde a geometria fractal está bem patente. 153
3.18Secção de cabo de fibra óptica com a colocação das fibras segundo uma
estrutura fractal. 163
3.23Padrão fractal obtido pela compressão de tinta entre duas folhas de papel. 169
4.1 Esta folha foi, na verdade, desenhada por computador a partir de um SFI; mas
parece bem verdadeira! 241
4.3 À esquerda, a folha que se pretende representar através de um fractal definido por
um SFI e à direita, a reunião de seis imagens dessa folha através de seis contracções
4.4 Comparação da forma original com a forma obtida ao fim de seis iterações através
de um SFI constituı́do por seis contracções. 246
Lista de Tabelas
2.1 Valores obtidos a partir da contagem de caixas que intersectam a Figura 2.14. 129
xxi
Introdução
xxiii
xxiv INTRODUÇÃO
AS MINHAS MOTIVAÇÕES xxv
As Minhas Motivações
assunto, de algum modo ele me suscitou interesse que me incitou a aproveitar outras
oportunidades que foram surgindo para escutar várias pessoas a falarem sobre fractais.
Mais tarde aproveitei a oportunidade oferecida pela disciplina de “Seminário de
Matemática para o Ensino” integrada na parte curricular do Mestrado em Matemática
para o Ensino, para explorar o tema dos Fractais. Produzi um trabalho que consistiu
no estudo teórico do conceito enquanto ponto fixo de um sistema de funções itera-
das seguido da enumeração dos conceitos matemáticos constantes nos programas de
Matemática do ensino básico e secundário que podem estar associados ao estudo de
sistemas de funções iteradas. Este trabalho veio a constituir a base de desenvolvimento
do Capı́tulo 1 desta dissertação.
No congresso anual de professores de Matemática (Profmat 2003) em Santarém
orientei uma sessão prática de três horas sobre fractais onde, depois de uma explicação
sobre o conceito, apresentei aos professores participantes algumas das actividades que
podem ser realizadas com os alunos para que as resolvessem eles mesmos e depois
as comentassem. Voltei depois a dinamizar uma acção idêntica na Escola Secundária
c/ 3o C.E.B. da Batalha também dirigida aos professores de Matemática e, das duas
experiências, depreendi que seria importante organizar melhor as actividades que tinha
já pensadas para os alunos de forma a que estas pudessem estar disponı́veis e acessı́veis
a mais professores que possam interessar-se pelo assunto.
Em Setembro de 2004 participei numa Acção de Formação onde estavam presentes
professores de diversas disciplinas, intitulada “Interdisciplinaridade e Computação no
Ensino Secundário” e cujo objectivo era aprender as bases de programação em NetLogo,
uma linguagem que funciona com uma plataforma auxiliar de apresentação gráfica e
que permite criar programas de simulação de situações reais nas mais variadas vertentes
do estudo das ciências. O trabalho que realizei como produto final e para avaliação da
minha aprendizagem nessa acção de formação, incidiu mais uma vez sobre o tema dos
fractais e consistiu na criação de programas em NetLogo que permitem ao utilizador a
construção de fractais e na elaboração de algumas propostas de trabalho para alunos do
AS MINHAS MOTIVAÇÕES xxvii
ensino secundário, que lhes pede que explorem alguns conceitos matemáticos através da
construção e análise de fractais recorrendo ao software criado. Mais uma vez senti que
seria importante aprofundar este trabalho de forma a introduzir mais alguns aspectos e
a melhorar outros, para depois o poder aplicar na sala de aula e também disponibilizá-lo
a quem possa estar interessado em o utilizar.
O trabalho resultante destas últimas experiências constituiu o ponto de partida
para o Capı́tulo 4 onde é apresentado um conjunto de propostas de actividades para
trabalhar com os alunos, tendo o NetLogo perdido alguma relevância em detrimento
de outros softwares que também são sugeridos.
Foi com a realização do trabalho de “Seminário de Matemática para o Ensino”
que comecei a aperceber-me que o estudo dos fractais se encontrava em franca ex-
pansão devido à sua aplicabilidade num vasto leque de áreas. Apesar de se tratar
de um tema bastante recente (só lhe foi dada importância a partir da segunda me-
tade do século XX), os fractais já demonstraram ter correlação com quase todos os
domı́nios do conhecimento e surgem constantemente novas aplicações dos mesmos. Os
fractais “puros” estão patentes apenas na Matemática, mas podem servir para modelar
fenómenos e objectos da Fı́sica, da Astronomia, da Sismologia, da Meteorologia, da Bi-
ologia, da Medicina, das Ciências Humanas, da Economia, de diversas formas de Arte,
da Informática, da Indústria, etc, etc,... Esta constatação levou-me a considerar que
a Geometria Fractal merece ser apresentada aos alunos a partir do ensino básico e fez
com que o seu papel nas propostas de actividades apresentadas no último capı́tulo deste
trabalho deixasse de ser apenas o de elo de conexão entre conceitos matemáticos e o de
ilustração da aplicação dos mesmos, para passar a ser como que o actor principal, isto é,
o assunto que interessa realmente estudar. A necessidade de fundamentar esta opinião
deu origem ao Capı́tulo 3, onde tento dar uma visão abrangente das possibilidades de
utilização e aplicação da Geometria Fractal.
Assim, é possı́vel encontrar no estudo dos conjuntos fractais um manancial de
tópicos para trabalhar com os alunos em actividades de exploração e de investigação
xxviii INTRODUÇÃO
A partir da segunda metade do século XIX, foram sendo apresentados alguns dos
objectos hoje tidos como fractais. Exemplos disso são alguns dos Fractais clássicos fa-
mosos que serão mostrados durante este trabalho, como é o caso do Conjunto de Cantor
(ver Exemplo 11, página 38) introduzido pelo matemático alemão Georg Cantor (1845-
1918) em 1883, da Curva de Peano que percorre todos os pontos de um quadrado (ver
Exemplo 13, página 40), apresentada em 1890 pelo matemático alemão Giuseppe Pe-
ano (1858-1932), da Curva de Koch (ver Exemplo 40, página 122) que apareceu num
trabalho do matemático sueco Helge von Koch (1870-1924) em 1904 e do Triângulo de
Sierpinski (ver Exemplo 1, página 21 e Exemplo 9, página 37) apresentado pelo ma-
temático polaco Waclaw Sierpinski (1882-1969) em 1915.[48] Não havia, nessa altura,
quase nenhuma representação gráfica destes conjuntos porque a inexistência de com-
putadores na época obrigava a que se dispendesse muito tempo em cálculos fastidiosos
sem, no entanto, se produzirem grandes resultados gráficos. Por vezes, conjuntos deste
AS ORIGENS DA GEOMETRIA FRACTAL xxix
tipo, com propriedades estranhas - curvas que não eram diferenciáveis em nenhum
ponto, auto-semelhantes, com comprimento indefinido ou que não podia ser medido,
às quais o conceito de dimensão topológica parecia não se adequar - eram vulgarmente
apelidados de “monstros” e de “casos patológicos” sem interesse matemático e eram
apresentados sem qualquer suporte de imagem ou apenas acompanhados por esboços
de pouca qualidade gráfica. Exemplos disso são esboços de movimentos fı́sicos e de
movimentos brownianos simulados nos livros Les Atomes do fı́sico francês Jean Perrin
(1870-1942) de 1913 e Introduction to Probability do matemático croata William Feller
(1906-1970) de 1950, e aqueles que viriam a ser dos primeiros conjuntos a ser apelidados
de fractais, que apareceram no trabalho dos matemáticos franceses Pierre Fatou (1878-
1929) e Gaston Julia (1893-1978), por volta de 1918, sem terem sido representados
graficamente nessa época[5].
Em 1945, um tio de Benoı̂t Mandelbrot - Szolem Mandelbrot, um matemático
franco-polaco - recomendou-lhe a leitura de um trabalho de 300 páginas de Gaston
Julia intitulado Mémoire sur la iteration des fonctions rationelles, publicado em 1918
no Journal de Mathématiques Pures et Appliquées, e que foi um documento precursor
da moderna teoria dos sistemas dinâmicos.
Em 1970 Benoı̂t Mandelbrot, também ele matemático francês nascido na Polónia
em 1924, retomou o interesse pelas questões relacionadas com a publicação de Gas-
ton Julia e, com a ajuda dos meios computacionais que tinha ao seu dispor na IBM,
onde trabalhava, iniciou a partir de 1957 no centro de investigação Thomas J. Wat-
son, o seu estudo. Começou por estudar séries temporais relacionadas com preços e
posteriormente com um problema que, naquela época, preocupava os técnicos da mul-
tinacional, e que estava relacionado com o ruı́do das linhas telefónicas utilizadas para
interligar computadores. A informação transmitia-se mediante impulsos eléctricos, e
a consequência do ruı́do era o eventual desaparecimento de um fragmento de sinal.
Mandelbrot propôs um modelo que se inspirava directamente no conjunto de Cantor
xxx INTRODUÇÃO
e demonstrou que não era possı́vel eliminar os ruı́dos, mas poder-se-ia estabelecer um
controlo dos mesmos mediante oportunas estratégias de redundância.
Em 1962, Mandelbrot publicou a memória Sur certains prix spéculatifs: faits em-
piriques et modèle basé sur les processus stables additifs de Paul Lévy, uma das suas
primeiras referências sobre séries temporais em finanças. Em 1967 publicou How Long
is the Coast of Britain? Statistical Self-similarity and Fractional Dimension, sobre um
tema que encontrou numa publicação póstuma do cientista britânico Lewis F. Richard-
son.
E assim se foram dando os primeiros passos do desenvolvimento de uma geome-
tria fractal sistemática, que incluı́a o seu aspecto gráfico, levado a cabo por Benoı̂t
Mandelbrot, praticamente sozinho durante dez anos. Posteriormente passou a incluir
programadores que foram sendo pessoas diferentes ao longo do tempo, parte deles
estagiários na IBM[5].
Todo este trabalho de investigação viria a dar origem ao seu ensaio de 1975 in-
titulado Les objects fractales: forme, hasard et dimension. É nesse trabalho que é
introduzido o termo fractal a partir do adjectivo latino fractus, do verbo frangere,
que significa quebrar[48]. É por isso que este matemático é hoje apelidado de pai da
geometria fractal já que foi também a partir deste seu ensaio que começou verdadei-
ramente a desenvolver-se um interesse crescente, por parte da comunidade cientı́fica,
pela geometria fractal.
A partir de 1975 foi sendo possı́vel desenhar fractais com recurso aos computadores.
Mais tarde, Benoı̂t Mandelbrot, foi um dos primeiros a utilizar o computador para
processar iterações sucessivas de equações[6].
Em 1980, novamente com a ajuda de um computador, Mandelbrot apresenta o pri-
meiro traçado detalhado do gráfico de um conjunto deduzido da avaliação do parâmetro
de um sistema dinâmico no campo complexo: z → z 2 + c sendo c um número com-
plexo, que é o parâmetro em questão. O dito conjunto (hoje denominado conjunto de
OS CONCEITOS DE FRACTAL E DE DIMENSÃO FRACTAL xxxi
surgindo, mas todas pareciam ter o mesmo problema[2, pág. XX]. Mais tarde, Man-
delbrot propôs outra definição: Um fractal é uma forma composta de partes que de
algum modo são semelhantes ao todo[4, pág. 11]. Têm sido propostas várias outras
definições e, de facto, está-se diante de um conceito geométrico para o qual ainda não
existe uma definição precisa, nem uma teoria única e genericamente aceite[39].
Segundo a primeira definição, um quadrado não é um fractal. Mas se for visto
como o resultado de uma Curva de Peano (ver Exemplo 13, página 40), cuja dimensão
topológica é 1, já poderá ser considerado um fractal. Um objecto geométrico é tido
como um fractal se possuir pelo menos algumas das seguintes caracterı́sticas:
• Tem uma “estrutura fina”, isto é, contém detalhe a escala arbitrariamente
pequena e quanto mais se amplia a sua imagem, mais detalhes é possı́vel
observar.
• É demasiado irregular para poder descrever-se facilmente nos termos clássicos,
quer em termos globais quer ao nı́vel da sua geometria local, isto é, não se trata
do lugar de pontos que satisfaz uma determinada condição nem dos pontos
que representam o conjunto-solução de uma equação simples, sendo também
complicado descrever o que se passa à volta de cada um dos seus pontos.
• Possui algum tipo de auto-semelhança (exacta, aproximada ou estatı́stica), isto
é, contém cópias de si próprio a várias escalas. Um fractal auto-semelhante
“puro” contém cópias de si próprio a escalas tão pequenas quanto se queira.
Na Natureza, o intervalo de escalas a que o fractal se representa dentro de si
mesmo é limitado.
• Pode construir-se a partir de um processo muito simples e directo podendo
eventualmente obter-se através de um procedimento recursivo que gera, em
cada passo (iteração), uma melhor aproximação do fractal.
• As definições clássicas de medida (como a de Lebesgue, por exemplo), podem
não ser apropriadas para indicar o seu “tamanho”, e a sua dimensão fractal é
maior que a sua dimensão topológica.
xxxiv INTRODUÇÃO
Um fractal pode ter todas estas caracterı́sticas, ou apenas algumas. Pode ainda,
apresentar outras caracterı́sticas não mencionadas aqui mas que sejam de interesse.
De qualquer forma, qualquer fractal que se preze desse nome terá uma estrutura fina
com detalhes a qualquer escala, isto é, complexidade infinita, que permite ampliá-lo
infinitamente obtendo sempre “cópias” dele mesmo no seu interior. E esta aborda-
gem parece ser melhor do que optar por uma definição que possa excluir alguns casos
eventualmente interessantes.
Podem ser considerados vários tipos de auto-semelhança. Um fractal dir-se-á estri-
tamente auto-semelhante ou com auto-semelhança exacta quando for composto apenas
por reduções de si mesmo a várias escalas, como é o caso do Triângulo de Sierpinski
(ver Exemplo 1, página 21 e Exemplo 9, página 37). Um fractal dir-se-á auto-afim
ou com auto-semelhança aproximada quando for composto por várias contracções (ver
Definição 13, página 22) de si mesmo, como é o caso do feto do Exemplo 14, página 42.
Um fractal pode ainda ter uma auto-semelhança estatı́stica quando contiver dentro si,
a escalas tão pequenas quanto se queira, formas estatisticamente idênticas à sua forma
global. É o caso do fractal que se obtém com o mesmo processo da Curva de Koch
(ver Exemplo 40, página 122) acrescentando o facto de se sortear, em cada passo, o
lado para o qual se constrói a nova saliência da curva. Os fractais com este tipo de
auto-semelhança dizem-se aleatórios e não serão estudados neste trabalho.
Entretanto, nem todos os objectos auto-semelhantes são considerados fractais. A
recta real (uma linha recta Euclidiana), por exemplo, é exactamente auto-semelhante,
mas não tem uma estrutura fina, tı́pica de um fractal.
Não há fractais “puros” na Natureza, tal como nela também não existem esferas
perfeitas. Os fractais podem ser úteis para modelar objectos e fenómenos naturais,
desde a escala atómica (na turbulência de fluidos, por exemplo) até ao tamanho do
Universo (constituição de galáxias, por exemplo), porém, em cada caso, a sua auto-
semelhança não será repetida infinitamente, mas apenas num determinado intervalo de
escalas.
OS CONCEITOS DE FRACTAL E DE DIMENSÃO FRACTAL xxxv
Os fractais podem também ser divididos em várias categorias segundo o modo como
são formados ou gerados:
Apenas este último tipo de fractais referido será tratado neste trabalho.
Uma das ferramentas importantes para o estudo e análise de conjuntos fractais é
a dimensão fractal. Existem várias definições que podem não gerar o mesmo valor
quando aplicadas ao mesmo conjunto e é necessário saber sempre, em cada momento,
com qual das definições se está a trabalhar.
O valor da dimensão é um indicador da quantidade de espaço que ocupa um deter-
minado conjunto. É uma medida das proeminências das irregularidades de um conjunto
quando observado a uma escala muito pequena. No Capı́tulo 2 serão tratadas duas das
mais utilizadas habitualmente: a dimensão de Hausdorff e a dimensão de contagem
de caixas. Quando não for relevante acerca de qual das duas se fala, dir-se-á dimensão
fractal.
Curiosamente, o conceito de dimensão de Haudorff foi apresentado muito antes dos
ditos “casos patológicos” constituı́dos por conjuntos hoje conhecidos como fractais, em
1918, pelo matemático alemão Felix Hausdorff (1868-1942)[48] e é útil como quantifi-
cador da dimensão de conjuntos muito irregulares em qualquer espaço métrico sendo,
por isso, uma das definições de dimensão fractal mais usadas. É muitas vezes dita di-
mensão de Hausdorff-Besicovitch por ter sido Besicovitch (1891-1970), um matemático
russo, a introduzir muitos desenvolvimentos técnicos que permitem a computação da
dimensão de Hausdorff em conjuntos muito irregulares[48].
xxxvi INTRODUÇÃO
Fractal para a Sala de Aula de Ruy Madsen Barbosa[7], Fractais no Ensino Secundário
de Ana Paula Canavarro e Outros[21], Els Fractals - Introducció pràctica als fractals
IFS. Crèdit de Iliure elecció per a alumnes d’ESO um trabalho não editado de Oriol
OLIVÉ [30] e todo o conteúdo dos sites Fractal Geometry da responsabilidade de Mi-
chael Frame, Benoı̂t Mandelbrot e Nial Neger[41], Pattern Exploration: Integrating
Math and Science for the Middle School, um projecto para formação de professores do
Departamento de Ciências Matemáticas da Florida Atlantic University[43] e Patterns
in Nature, um projecto do Center for Polymer Studies da Universidade de Boston[42].
Dada a diversidade de notação de livro para livro, foi necessário proceder a escolhas
e a ajustes de modo a torná-la uniforme em todo este trabalho.
No Capı́tulo 1 é apresentado o conceito de fractal enquanto ponto fixo de um Sis-
tema de Funções Iteradas, com a devida apresentação dos elementos teóricos necessários
e a análise de alguns exemplos. No Capı́tulo 2, é apresentado o conceito de dimensão
fractal sendo estudadas duas das possı́veis definições de dimensão fractal - a dimensão
de Hausdorff e a dimensão de contagem de caixas. A primeira é feita a partir da
Construção de Medida de Carathéodory pelo que os conceitos matemáticos necessários
serão previamente apresentados, sendo também mostrados alguns exemplos ao longo
de todo o capı́tulo. O Capı́tulo 3 contém uma compilação de aplicações possı́veis da
geometria fractal e, sendo um capı́tulo ligeiro na medida em que os exemplos apresen-
tados não estão fundamentados teoricamente, tem interesse, para se poder perceber
a importância que esta geometria tem vindo a alcançar dada a sua enorme utilidade
e aplicabilidade nas mais variadas áreas do conhecimento. Finalmente, o Capı́tulo 4
contém um conjunto de propostas de actividades para realizar com os alunos do ensino
não universitário quer na aula de Matemática, quer noutros ambientes mais abertos
como é o caso do da disciplina de Área de Projecto. A ideia inicial era a de encontrar
propostas de actividades que utilizassem os fractais como meio de estudo de vários
conceitos matemáticos, já que isso é possı́vel, dada a grande conexão que existe entre
xxxviii INTRODUÇÃO
1
2 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS 3
Os fractais definidos por sistemas de funções iteradas constituem apenas uma pe-
quena classe dos fractais, mas esta forma de construir fractais é muito útil para traba-
lhar o conceito de fractal com os alunos dos ensinos básico e secundário porque, por um
lado é simples de entender e, por outro, pode interligar muitos conceitos matemáticos.
No Capı́tulo 4 serão apresentadas algumas propostas de actividades para a sala de
aula, em que se utilizam sistemas de funções iteradas, e onde se poderá notar a grande
conexão entre este tópico e um vasto leque de conceitos matemáticos. Além disso, o
facto de se conseguirem desenhar fractais, recorrendo a SFI’s, que se assemelham a
objectos naturais (como folhas e plantas, por exemplo) é, não só muito interessante,
como pode ser o mote para um conjunto alargado de actividades com fractais de ı́ndole
multi e interdisciplinar.
Para principiar, pode dizer-se que um Fractal é um subconjunto “complicado”de
um espaço métrico “simples”, tal como R, R2 , [0, 1], C e Ĉ, entre outros. Teoricamente,
qualquer espaço métrico, desde que completo, serve para construir um fractal, mas na
prática interessam aqueles que facilmente se podem representar graficamente, como é
o caso de R, R2 , C e Ĉ e seus subespaços.
Essa forma ”complicada”pode obter-se como resultado de um sistema de funções
iteradas (SFI). Segundo a abordagem que se apresenta de seguida: Um Fractal é o ponto
fixo de um sistema de funções iteradas num espaço métrico munido de uma métrica
de Hausdorff. De seguida, explicar-se-ão todos os aspectos necessários à compreensão
desta definição, a saber:
Qualquer conjunto X pode ser encarado como um espaço, em que os seus elementos
são os “pontos” desse espaço. Para se obter um espaço métrico, é necessário definir em
X uma métrica que é uma aplicação d : X × X → R com as seguintes propriedades:
Tendo uma aplicação deste tipo definida em X, diz-se que X, juntamente com essa
aplicação formam um espaço métrico (e. m.) que se designa por (X, d).
Assim, dado um e.m. completo (X, d), designe-se por H(X ) o espaço cujos
pontos são os subconjuntos compactos e não vazios de X. E agora define-se uma
métrica em H(X ).
Sendo (X, d) um e.m. completo, x um elemento de X e A e B elementos de H(X ),
definir-se-á a métrica de Hausdorff, percorrendo as seguintes etapas:
dx : X → R
y → d(y, x).
1
sucessão de elementos de A tal que d(x, yn ) − P ≤ n
, ∀n ∈ N. Desta forma, dx (yn )
tende para P quando n tende para infinito.
Sendo A um conjunto compacto, sabe-se que {yn }∞
n=1 admite uma subsucessão
{yNi }∞
i=1 em que N1 < N2 < N3 < . . ., com limite a ∈ A. Como dx (y) é uma função
dx (a). Mas, se dx (yn ) tende para P , o mesmo acontecerá com qualquer sua subsucessão,
donde P = dx (a) e, portanto, o conjunto {d(x, y) : y ∈ A} tem mı́nimo.
Pelo mesmo argumento usado antes, é sabido que existe pelo menos um elemento
a de A e pelo menos um elemento b de B tais que d(A, B) = d(a, b).
8 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
onde c00 ∈ C é tal que d(a, C) = d(a, c00 ). Considere-se também b00 ∈ B tal que d(c00 , B) =
d(c00 , b00 ).
Então, de (1.1) e (1.2) vem: d(A, C) + d(C, B) ≥ d(a, C) + d(c00 , B) = d(a, c00 ) +
d(c00 , b00 ) ≥ d(a, b00 ) pela propriedade da desigualdade triangular da métrica d. Por
outro lado, d(a, b00 ) ≥ min {d(a, y) : y ∈ B} = d(a, b) = d(A, B). Portanto, d(A, B) ≤
d(A, C) + d(C, B), quaisquer que sejam A, B, C ∈ H(X ). Pela arbitrariedade de A, B
e C, também pode escrever-se que d(B, A) ≤ d(B, C) + d(C, A). Destas duas últimas
desigualdades obtém-se que
h(A, B) = max {d(A, B), d(B, A)} ≤ max {d(A, C) + d(C, B), d(B, C) + d(C, A)}.
De quaisquer duas parcelas, uma de cada soma, escolha-se a maior. Somando essas
duas parcelas maiores, obtém-se uma soma que é maior ou igual a qualquer das duas
somas anteriores. Então,
2. CONCEITO DE ESPAÇO MÉTRICO COM MÉTRICA DE HAUSDORFF 11
≤ max {d(A, C), d(C, A)} + max {d(C, B), d(B, C)} =
De seguida, pretende-se demonstrar que o e.m. (H(X ), h(d)) agora definido é com-
pleto. Para isso é necessário introduzir algumas definições e demonstrar alguns resul-
tados prévios.
de pontos de A + ε \ {a} tal que lim xn = a. Como A é fechado, vem que para cada
n→∞
inteiros tais que 0 < n1 < n2 < n3 < . . . . Supondo que existe uma sucessão de Cauchy
{xnj ∈ Anj }∞ xn ∈ An }∞
j=1 em (X, d), então existe também uma sucessão de Cauchy {e n=1
enj = xnj , ∀j = 1, 2, 3, . . . .
tal que x
xn ∈ An }∞
Demonstração. Comece-se pela construção de uma sucessão {e n=1 . Para
de Cauchy.
14 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
i 6= j.
pode encontrar-se uma colecção finita de bolas de raio 1 cuja reunião contém S. Sendo
2. CONCEITO DE ESPAÇO MÉTRICO COM MÉTRICA DE HAUSDORFF 15
a sucessão infinita, pelo menos uma das bolas da colecção - designe-se por B1 - contém
uma quantidade infinita de termos.
Seja N1 ∈ N tal que xN1 ∈ B1 . Sabe-se que B1 ∩S é totalmente limitado porque está
contido em S que também é um conjunto totalmente limitado, por hipótese. Então é
possı́vel cobrir B1 ∩S com uma famı́lia finita de bolas de raio 21 . Novamente, uma dessas
bolas - designada por B2 - contém uma quantidade infinita de termos de {xn }∞
n=1 .
1
uma sucessão de Cauchy. Seja ε > 0. Se se escolher k ∈ N tal que 2k−1
≤ 2ε , (ou seja,
k ≥ 2 − log2 ε), sabe-se que para todo n ≥ k, os termos xNn pertencem à bola Bk , cujo
1
raio é igual a 2k−1
e inferior ou igual a 2ε , pelo que a distância entre quaisquer dois
termos xNn e xNm tais que n, m ≥ k é inferior ou igual a ε. Então, {xNn }∞
n=1 é uma
sempre que i 6= j. Mas como, por hipótese, S é compacto, esta sucessão terá que
ter uma subsucessão {xNi }∞
i=1 convergente e, portanto, de Cauchy. Então é possı́vel
encontrar inteiros Ni e Nj , com Ni 6= Nj , tais que d(xNi , xNj ) < ε, o que contradiz
(1.3). Portanto, terá que existir uma rede-ε para S e S é totalmente limitado.
Prove-se agora que S é fechado. Seja a ∈ ad(S). Então existe uma sucessão {yn }∞
n=1
a) A 6= ∅.
b) A é fechado.
c) ∀ε > 0, ∃N ∈ N : ∀n ≥ N, A ⊂ An + ε.
d) A é totalmente limitado (e portanto, por b) e pelo Teorema 1, também será
compacto - ou seja, A ∈ H(X )).
e) lim An = A.
X. Ora, sendo {An }∞ n=1 uma sucessão de Cauchy em H(X ), pode considerar-se uma
1
sucessão de inteiros positivos N1 < N2 < N3 < . . . < Nn < . . . tal que h(Am , An ) < i ,
2
1
para m, n > Ni . De AN1 escolhe-se um elemento xN1 . Como h(AN1 , AN2 ) ≤ , pode
2
1
encontrar-se xN2 ∈ AN2 tal que d(xN1 , xN2 ) ≤ . Pode prosseguir-se este processo
2
até ser seleccionada uma sequência finita xNi ∈ ANi , i = 1, 2, . . . , k, para a qual
1 1
d(xNi−1 , xNi ) ≤ i−1 . Novamente, como h(ANk , ANk+1 ) < k e xNk ∈ ANk , pode
2 2
1
encontrar-se xNk+1 ∈ ANk+1 tal que d(xNk , xNk+1 ) ≤ k - basta que xNk+1 seja um dos
2
pontos de ANk+1 mais próximos de xNk . Por indução matemática, pode encontrar-se
1
uma sucessão infinita {xNi ∈ ANi }∞ i=1 tal que d(xNi , xNi+1 ) ≤ i .
2
∞
Veja-se agora que {xNi }i=1 é uma sucessão de Cauchy em X. Seja ε > 0 e escolha-se
P∞ 1
Nε ∈ N tal que i
< ε. Então, sempre que n > m ≥ Nε tem-se d(xNm , xNn ) ≤
i=Nε 2
2. CONCEITO DE ESPAÇO MÉTRICO COM MÉTRICA DE HAUSDORFF 17
∞
P P∞ 1
d(xNm , xNm+1 )+d(xNm+1 , xNm+2 )+· · ·+d(xNn−1 , xNn ) < d(xNi , xNi+1 ) =
i
< ε,
i=Nε i=Nε 2
o que quer dizer que para qualquer ε > 0 existe uma ordem Nε a partir da qual a
distância entre quaisquer dois termos xNm e xNn desta sucessão é inferior a ε, ou seja,
{xNi }∞
i=1 é uma sucessão de Cauchy. Usando agora o Lema da Extensão (Lema 2), pode
cujo limite existe e que, por definição de A, será um elemento de A. Fica então provado
que A é um conjunto não vazio.
Para demonstrar b), considere-se uma sucessão {ai }∞
i=1 de elementos de A conver-
gente para um ponto a. Para provar que A é fechado basta mostrar que a ∈ A, isto é,
que existe uma sucessão de Cauchy {zn ∈ An }∞
n=1 que converge para a. Por definição do
{xi,n ∈ An }∞ ∞
n=1 tal que lim xi,n = ai . Como {ai ∈ A}i=1 é uma sucessão convergente
n
para a, podem escolher-se nela termos tão próximos de a quanto se queira. Por exem-
1
plo, existe uma sucessão crescente de números positivos {Ni }∞i=1 tal que d(aNi , a) ≤ .
i
∞
Olhando agora para o conjunto das sucessões {xNi ,n ∈ An }n=1 sabe-se que existe
1
em cada uma delas uma sucessão de inteiros {mi }∞i=1 tal que d(xNi ,mi , aNi ) ≤ porque
i
{xNi ,n ∈ An }∞
n=1 converge para aNi . Donde, d(xNi ,mi , a) ≤ d(xNi ,mi , aNi ) + d(aNi , a) ≤
1 1 2
+ = .
i i i
Designando xNi ,mi por ymi obtém-se uma sucessão {ymi ∈ Ami }∞ i=1 tal que para
todo ε > 0, existe uma ordem i ∈ N a partir da qual d(ymi , a) < ε, bastando para isso
2
escolher i ≥ . Então, {ymi ∈ Ami }∞
i=1 é uma sucessão convergente e lim ymi = a.
ε i→∞
Para se obter uma sucessão de Cauchy, que converge para a, nas condições exigidas
pela definição do conjunto A, basta usar novamente o Lema da Extensão (lema 2), que
diz que é possı́vel encontrar uma sucessão {zn ∈ An }∞
n=1 tal que zmi = ymi , convergente
{zn ∈ An }∞
n=1 a convergir para a. Esta sucessão é construı́da a partir da
finita, pelo que, pelo lema 3, seria possı́vel encontrar uma sucessão {xi }∞
i=1 em A tal
que
d(xi , xj ) ≥ ε, i 6= j. (1.4)
Mas, pela alı́nea c) desta demonstração, existe n suficientemente grande tal que
A ⊂ An + ε/3 o que significa que, para cada xi ∈ A, existe yi correspondente em An
para o qual
{yni } convergente em An ; o que quer dizer que se podem encontrar pontos da sucessão
{yni } tão próximos quanto se queira. Em particular, podem encontrar-se dois pontos
yni e ynj tais que
seja, quer-se mostrar que para qualquer ε > 0 se tem h(An , A) ≤ ε a partir de certa
ordem.
Seja ε > 0. Por c) e pelo lema 1 basta provar que a partir de certa ordem se
tem An ⊂ A + ε. Como {An }∞
n=1 é uma sucessão de Cauchy, então existe uma ordem
o lema 1, pode afirmar-se que existe uma sucessão crescente {Nj }∞ j=1 de inteiros, com
ε
n = N1 < N2 < . . . < Nk < . . ., tais que An ≡ AN1 ⊂ AN2 + e ANj ⊂ ANj+1 +
2
ε
para todo j ∈ N. A partir desta nova sucessão, pode construir-se uma outra
2j+1
ε ε
sucessão {xNj ∈ ANj }∞ j=1 tal que y ≡ xN1 e d(y, xN2 ) ≤ 2
, d(xN2 , xN3 ) ≤ 3 , . . . e
2 2
ε
d(xNj , xNj+1 ) ≤ j+1 , para todo j ∈ N. Esta sucessão constrói-se do seguinte modo:
2
ε
Tem-se M ≤ n = N1 e An ⊂ AN2 + . Então, sendo y (≡ xN1 ) um elemento de
2
ε
An (≡ AN1 ), existirá pelo menos um elemento xN2 de AN2 tal que d(y, xN2 ) ≤ 2 . De
2
ε
seguida, para j = 2 vem que AN2 ⊂ AN3 + 3 e se xN2 ∈ AN2 , então existe pelo menos
2
ε
um elemento xN3 de AN3 tal que d(xN2 , xN3 ) ≤ 3 . De forma análoga, e por indução
2
matemática, pode encontrar-se uma sucessão xN1 , xN2 , xN3 , . . . tal que xNj ∈ ANj e
ε
d(xNj , xNj+1 ) ≤ j+1 .
2
Mas como Nj ≥ n > M para todo j ∈ N, também se tem, por (1.7) que ANj ⊂
ε
An + , para todo j ∈ N. Pelo que {xNj }∞ j=1 é, portanto, uma sucessão de pontos de
2
ε
An + . Além disso, {xNj }∞ j=1 é uma sucessão de Cauchy. Veja-se porquê: Sabe-se
2
que para qualquer ε > 0 existe uma ordem a partir da qual quaisquer dois termos
consecutivos de {xNj }∞
j=1 estão entre si uma distância igual ou inferior a ε/2
j+1
. Para
dois termos xNj e xNk , eventualmente não consecutivos, tais que Nk > Nj , vem:
k−j+1
1
k 1−
X ε ε 2 2k+1 − 2j 2k+1
d(xNj , xNk ) ≤ = j+1 · = ε · k+j+1 < ε · k+j+1 < ε.
2p+1 2 1 2 2
p=j 1−
2
Portanto, para qualquer ε positivo existe uma ordem n a partir da qual quaisquer dois
termos de {xNj }∞ ∞
j=1 estão a uma distância entre si inferior a ε, isto é, {xNj }j=1 é uma
sucessão de Cauchy.
ε
Assim, obtém-se uma sucessão de Cauchy de pontos de An + que, pelo Teorema 1
2
e pela Proposição 4, é um conjunto fechado. Donde se conclui que a sucessão {xNj }∞
j=1
ε
converge para um ponto x que pertence a An + e,
2
ε
a partir de certa ordem tem-se d(xNj , x) ≤ , para todo j ∈ N. (1.8)
2
2. CONCEITO DE ESPAÇO MÉTRICO COM MÉTRICA DE HAUSDORFF 21
uma sucessão de Cauchy {xn ∈ An } que converge para x, o que, por definição de A,
permite dizer que x ∈ A.
Ora, se x ∈ A e se d(x, y) ≤ ε, isso é equivalente a dizer que y ∈ A + ε. Mas como
y é um elemento qualquer de An , então An ⊂ A + ε, que era o que se pretendia. Assim,
vem finalmente que lim An = A.
H(X ) será, então, o espaço onde “vivem” os fractais e, para já, um fractal é um
qualquer dos seus pontos, ou seja, um subconjunto compacto não vazio de um e.m X
completo.
Retira-se o triângulo do meio e faz-se o mesmo processo em cada um dos triângulos que
sobram. E assim sucessivamente... A imagem mostra o resultado que se obtém depois
de se realizar esta operação três vezes. O conjunto que se obteria, se se realizasse
esta tarefa um número infinito de vezes, chama-se Triângulo de Sierpinski e só na
mente pode ser concebido. Representá-lo graficamente é impossı́vel: não há tempo e,
ainda que o houvesse, a definição do monitor do computador seria insuficiente por ser
demasiado “grosseira”.
Trata-se de uma contracção com factor de contracção igual a 1/2 e cujo ponto fixo
1 1
é o zero já que, para quaisquer pontos x e y de R se tem d(f (x), f (y)) = x − y =
2 2
1 1 1
|x − y| = d(x, y) e sendo x um ponto de R tem-se f (x) = x se e só se x = x, ou
2 2 2
seja, se e só se x = 0.
3. PONTO FIXO DE UMA TRANSFORMAÇÃO 23
Por outro lado, se f for um elemento qualquer de C[0, 1], tem-se w(f ) = f se e só
1 1
se f (x) + 1 = f (x), ∀x ∈ [0, 1], o que equivale a f (x) = 1, ∀x ∈ [0, 1], ou seja, f (x)
2 2
é a função constante igual a 2 no intervalo [0, 1].
d(w(x), w(y)) =
√ √ √ √
v !2 !2
u
u 1 3 1 1 3 1 3 1 3 1
=t − x1 − x2 + + y1 + y2 − + x1 − x2 − y1 + y2 =
4 4 2 4 4 2 4 4 4 4
r
1 h √ i2 h√ i2
= (y1 − x1 ) + 3 (y2 − x2 ) + 3 (x1 − y1 ) − (x2 − y2 ) =
4
1
q
= 4 (x1 − y1 )2 + 4 (x2 − y2 )2 =
4
1 1
q
= (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 = d(x, y)
2 2
1
Donde, w é, em R2 , uma contracção com factor de contracção igual a .
2
Determine-seagora o ponto fixo de w:
√
1 x1 − 3 x2 + 1 = x1
4 4 2
w(x) = x ⇔ √ ⇔ √ ⇔
3 1 3 x1 = x 2
x1 − x2 = x2
4 4 5
√ √
− 1 x 1 − 3 · 3 x 1 + 1 = x 1 x 1 = 5
4 4 5 2 14
⇔ ⇔ √
x 2 = 3
14
√ !
5 3
O ponto fixo de w é, portanto, ; .
14 14
No que diz respeito às contracções, serão úteis os dois resultados que se seguem.
Mas, dados x e y de X, d(f og(x), f og(y)) = d(f (g(x)), f (g(y))) que, por (1.10), é
menor ou igual a s.d(g(x), g(y)) e isto, por (1.11) , é menor ou igual a st.d(x, y). Para
além disto, se 0 ≤ s < 1 e se 0 ≤ t < 1, então também 0 ≤ st < 1 pelo que st é factor
de contracção de f og.
f 0 (x) = x
f 1 (x) = f (x)
f (n+1) (x) = (f of n )(x) = f (f n (x)), n = 1, 2, 3, . . .
a) {f n (x)}∞
n=0 é uma sucessão de Cauchy, ∀x ∈ X.
b) {f n (x)}∞
n=0 converge para o ponto fixo de f .
Então, dado x ∈ X fixo e dado ε > 0, basta escolher N o menor inteiro tal que
ε(1−s)
N ≥ logs d(x,f (x)) e obter-se-á que para quaisquer m, n > N, d(f n (x), f m (x)) < ε, o
que prova que {f n (x)}∞
n=0 é uma sucessão de Cauchy.
28 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
Demonstração de b): Como X é, por hipótese, um e.m. completo, então sendo
{f n (x)}∞
n=0 uma sucessão de Cauchy, sabe-se que tem limite em X - designe-se por xf .
Pretende-se demonstrar que xf é ponto fixo de f . Ora, f (xf ) = f lim f n (x) =
n→∞
n
lim f (f (x)) = lim f (n+1)
(x) = xf porque {f (n+1)
(x)}∞
n=0 é uma subsucessão de
n→∞ n→∞
{f (x)}∞
n
n=0 . E, portanto, xf é ponto fixo de f .
Demonstre-se, por fim, c). Para isso, suponha-se que f tem dois pontos fixos xf
e yf . Nesse caso, f (xf ) = xf e também f (yf ) = yf , o que faz com que d(f (xf ), f (yf )) =
d(xf , yf ). Mas como f é uma contracção de factor s, então d(f (xf ), f (yf )) ≤ s.d(xf , yf ).
Juntando estes dois factos vem que d(xf , yf ) ≤ s.d(xf , yf ) o que equivale a (1 −
s).d(xf , yf ) ≤ 0. Daqui, como (1 − s) > 0 porque 0 ≤ s < 1 e d(xf , yf ) ≥ 0 por-
que d é métrica, vem obrigatoriamente que d(xf , yf ) = 0, o que corresponde a dizer
que xf = yf , ou seja, xf é o único ponto fixo de f . Em conclusão, partindo de qualquer
elemento x de X, a sucessão das suas iteradas sucessivas por f converge para xf , que
é o (único) ponto fixo de dessa aplicação.
Figura 1.9. .
Dois exemplos apresentando as quatro primeiras iteradas por w de duas funções do espaço
C[0,1], iteradas essas que se aproximam progressivamente do ponto fixo de w que é a função
Então, {xn }∞ ∞
n=1 é uma sucessão em S, que é compacto e, por isso, {xn }n=1 tem uma
h(w(A),
e w(B))
e = max{d(w(A),
e w(B));
e d(w(B),
e w(A))}.
e
Relativamente a d(w(A),
e w(B))
e pode escrever-se que
d(w(A),
e w(B))
e = max{d(w(x), w(B))
e : x ∈ A} =
= max{min{d(w(x), w(y)) : y ∈ B} : x ∈ A} ≤
≤ max{min{sd(x, y) : y ∈ B} : x ∈ A} =
= max{s min{d(x, y) : y ∈ B} : x ∈ A} =
Analogamente, d(w(B),
e w(A))
e ≤ sd(B, A). Então,
h(w(A),
e w(B))
e ≤ max{sd(A, B); sd(B, A)} =
Portanto, w
e é uma contracção com factor de contracção s. Já se sabe, pelo Teorema
e têm, cada uma, um ponto fixo. Seja xw o ponto fixo de w e seja {xw } um
3, que w e w
ponto de H(X ). Então, w
e ({xw }) = {w (xw )} = {xw }, pelo que {xw } é o ponto fixo de
w.
e
Apresentam-se agora dois exemplos, um com uma contracção em (R) e outro com
uma contracção em (R2 ).
N
S
... ∪ w
eN (B) = en (B), ∀B ∈ H(X ). Então WN é uma contracção em H(X ) com
w
n=1
factor de contracção s = max{sn : n = 1, 2, . . . , N }.
d(B1 ∪ B2 , C1 ∪ C2 ) = max{d(x, C1 ∪ C2 ) : x ∈ B1 ∪ B2 } =
= max{max{d(x, C1 ∪ C2 ) : x ∈ B1 }; max{d(x, C1 ∪ C2 ) : x ∈ B2 }} =
max{d(B1 , C1 ∪ C2 ), d(B2 , C1 ∪ C2 )} =
Agora, de cada um destes dois pares de distâncias, convém, para o que se pretende, es-
colher d(B1 , C1 ) no primeiro par e d(B2 , C2 ) no segundo. Como os elementos escolhidos
podem não ser os menores valores em cada par de distâncias, então o mı́nimo é menor
ou igual que a distância escolhida. Com tudo isto obtém-se que d(B1 ∪ B2 , C1 ∪ C2 ) ≤
max{d(B1 , C1 ), d(B2 , C2 )} e, de forma análoga,
= max{d(B1 ∪ B2 , C1 ∪ C2 ), d(C1 ∪ C2 , B1 ∪ B2 )} ≤
Mas, escolher o máximo entre estas quatro entidades é o mesmo que dividi-las em dois
pares, escolher o máximo em cada um desses pares, e depois o máximo entre os dois
valores obtidos. Assim, como é conveniente neste caso, dir-se-á que a última expressão
designatória é igual a
max{h(w
e1 (B), w
e1 (C)), h(w
e2 (B), w
e2 (C))}.
Como w
e1 e w
e2 são contracções de factor s1 e s2 respectivamente, então este último
resultado é menor ou igual a max{s1 .h(B, C), s2 .h(B, C)} o que equivale a s.h(B, C),
sendo s = max{s1 , s2 }. Portanto, W2 é uma contracção de factor de contracção s.
Suponha-se agora que para N = k é verdade o seguinte: a aplicação Wk : H(X ) →
k
S
H(X ) tal que Wk (B) = w
e1 (B) ∪ w
e2 (B) ∪ . . . ∪ w
ek (B) = en (B), ∀B ∈ H(X ) é uma
w
n=1
contracção em H(X ) com factor de contracção sk = max{sn : n = 1, 2, . . . , k}.
Prove-se agora que a proposição também será verdadeira para N = k + 1. Sejam,
então, w
e1 , w
e2 , . . . , w ek+1 : H(X ) → H(X ) as contracções com factores de contracção
ek , w
4. SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS 35
e1 (B) ∪ . . . ∪ w
=h(w ek (B) ∪ w e1 (C) ∪ w
ek+1 (B), w e2 (C) ∪ . . . ∪ w
ek (C) ∪ w
ek+1 (C)) =
=h(Wk (B) ∪ w
ek+1 (B), Wk (C) ∪ w
ek+1 (C)).
Pelo resultado já comprovado para N = 2, sabe-se que o anterior é menor ou igual a
Esta não é “a” definição de fractal. Na verdade, como já foi dito na Introdução,
não existe uma definição de fractal porque qualquer uma delas pode excluir conjuntos
ou objectos com caracterı́sticas que permitem considerá-los de natureza fractal. Esta
definição apenas define fractal enquanto ponto fixo de um sistema de funções iteradas.
Trata-se apenas de uma das classes de fractais. Por outro lado, esta definição inclui
alguns conjuntos que, na prática, não são habitualmente considerados fractais. É o
caso do de um Intervalo em R (ver Exemplo 10, página 37) que, sendo o ponto fixo de
um SFI, é um conjunto que pode descrever-se de forma simples, quer a nı́vel global,
quer local, ao contrário daqueles conjuntos que são tidos, por quem conhece o conceito,
como fractais.
Tal como todos os entes matemáticos, os fractais só existem em estado puro na
mente humana, pois é impossı́vel, em tempo e em espaço, concretizá-los graficamente,
já que não é possı́vel determinar um número infinito de iteradas de uma função. O
computador é uma ferramenta muito valiosa no estudo e na construção de fractais
porque permite realizar com rapidez uma enorme quantidade de cálculos e representá-
los graficamente com grande precisão, dando ainda a possibilidade de facilmente poder
observar-se na figura as implicâncias da alteração de alguns parâmetros nas expressões
das funções que constituem o SFI que ela representa. Ainda assim, e por muito potente
que seja a máquina, a sua capacidade de cálculo e de representação gráfica é sempre
limitada; há que ter isso em consideração e imaginar o que esta não consegue executar.
Exemplo 8 (Há unicidade do SFI que produz um fractal?). Não há uni-
cidade. Por exemplo, os SFI’s {R; w1 = 21 x, w2 = 12 x + 12 } e {R; w1 = 13 x, w2 =
1
3
x + 13 , w3 = 31 x + 32 } definem ambos o mesmo fractal - o intervalo [0, 1].
w1 (x, y) = ( 21 x, 21 y),
w2 (x, y) = ( 12 x, 21 y) + ( 12 , 0), e
√
3
w3 (x, y) = ( 21 x, 21 y) + ( 14 , 4
).
Viu-se que um sistema de funções iteradas converge sempre para o mesmo ponto
de H(R2 ) independentemente do ponto com o qual se comece a iteração. Assim, para
obter o Triângulo de Sierpinski, não é obrigatório começar com um triângulo, podendo
iniciar a iteração a partir de qualquer conjunto compacto não vazio de R2 , como por
exemplo um quadrado “cheio’. A partir de uma ordem suficientemente grande, é irre-
levante a diferença entre cada uma das figuras que compõem cada iteração e cada um
dos triângulos que a comporiam caso se iniciasse com um triângulo (veja-se a Figura
1.13). Começando com um triângulo de lado lo , a n-ésima iteração é composta por
3n triângulos de lado ( 21 )n × lo e a sua área total é de A0 × ( 34 )n (em que A0 é a área
do triângulo inicial), que tende para zero quando o número de iterações tende para
infinito; ou seja, o fractal Triângulo de Sierpinski tem área nula. No entanto, o seu
perı́metro é infinito. Iniciando com um triângulo equilátero de lado lo , o perı́metro da
figura correspondente à n-ésima iteração é Pn = ( 12 )n × lo × 3 × 3n = 3 × ( 32 )n × lo que
tende para +∞ quando n tende para +∞.
1
Exemplo 10 (Um Intervalo em R). O SFI {R; w1 , w2 } em que w1 (x) = 3
x
e w2 (x) = 23 x + 1
3
tem factor de contracção igual a max{ 13 ; 32 } = 23 . Iniciando com
B0 = [0, 1], determine-se a primeira iteração B1 :
e2 (B0 ) = [0; 13 ] ∪ [ 13 ; 1] = [0; 1] = B0 . Então B0 = B1 =
e1 (B0 ) ∪ w
B1 = W (B0 ) = w
B2 = . . . = Bn = [0, 1] que tende para [0, 1] quando n tende para infinito; logo, segundo
a Definição 15, [0, 1] é um fractal em R. Na prática, este conjunto não é considerado
38 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
um fractal por não ter uma estrutura de detalhe intrincado, sendo um conjunto que se
pode definir facilmente tanto a nı́vel global, como local.
B0
e2 (B0 ) = [0; 31 ] ∪ [ 32 ; 1] =
e1 (B0 ) ∪ w
O resultado da primeira iteração é B1 = W (B0 ) = w
[0, 1] \ 13 ; 32 .
B1
5. EXEMPLOS DE FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS 39
e1 (B1 ) ∪ w
A segunda iteração será B2 = W (B1) = w e2 (B1 ) =
e1 ([0; 31 ] ∪ [ 32 ; 1]) ∪ w
=w e2 ([0; 13 ] ∪ [ 32 ; 1]) =
e1 ([0; 13 ]) ∪ w
=w e1 ([ 32 ; 1]) ∪ w
e2 ([0; 13 ] ∪ w
e2 ([ 23 ; 1]) =
= [0; 91 ] ∪ [ 29 ; 31 ] ∪ [ 32 ; 79 ] ∪ [ 89 ; 1].
B2
B3
B4
número de iterações; pelo que a diferença entre Mn e mn também tende para zero e,
portanto, ambas as sucessões convergem para x, sendo que pelo menos uma delas não
é constante a partir de certa ordem. Então, dado ε > 0, existe pelo menos um ponto
de A na vizinhança de x de raio ε e, por isso, x não é ponto isolado de A.
Note-se ainda a propriedade de auto-semelhança, caracterı́stica dos fractais, e que
neste caso é exacta: em qualquer escala, ou seja, em qualquer das iterações, cada parte
que compõe o conjunto nela obtido é semelhante a uma das iterações anteriores.
a b c d e f
1/3 0 0 1/3 0 0
1/3 0 0 -1/3 0 -1/3
1/3 0 0 1/3 -1/3 -1/3
-1/3 0 0 1/3 1/3 -2/3
-1/3 0 0 -1/3 -2/3 0
-1/3 0 0 1/3 0 -1/3
1/3 0 0 1/3 -1/3 1/3
1/3 0 0 -1/3 1/3 -2/3
1/3 0 0 1/3 -2/3 0
Para construirmos a curva podemos começar, por exemplo, com um segmento de
1
recta unitário e em seguida colocamos os nove segmentos de comprimento 3
como
mostra a Figura 1.15.
Figura 1.15. Resultado da primeira iterada do SFI que gera a curva de Peano.
O resultado que se obtém nas primeiras iterações é o que está na Figura 1.16.
Prova-se que o fractal Curva de Peano é uma curva que cobre por completo um
quadrado e, assim sendo, faz sentido perguntar: Qual é a dimensão desta curva?
Foi criado o conceito de dimensão fractal que mede a “quantidade” de recta, plano
ou espaço que ocupa um fractal. Também se pode pensar no valor da dimensão de
42 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
Figura 1.16. Resultado das cinco primeiras iteradas do SFI que gera a
curva de Peano.
1o - reescalamentos,
2o - simetrias,
3o - rotações,
4o - translações.
Contracção r1 r2 θ1 θ2 e f
Vejam-se agora exemplos de fractais definidos por SFI com conjunto de condensação.
Um “SFI com Conjunto de Condensação” é um SFI ao qual se acrescenta uma aplicação
constante em H(X ). Antes de um exemplo, apresentam-se as definições e os resultados
necessários para a sua compreensão.
7. SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS COM CONJUNTO DE CONDENSAÇÃO 45
Pode agora adaptar-se o Teorema 4 para sistemas de funções iteradas com conjunto
de condensação:
Figura 1.19. Imagem obtida depois de cinco iterações num SFI com con-
junto de condensação.
Poder-se-ia depois modificar alguns parâmetros nas funções e verificar que alterações
isso provoca na imagem obtida. Com SFI’s idênticos ao anterior podem obter-se con-
juntos como os representados na Figura 1.20.
Este é um dos exemplos onde se pode observar a estreita relação existente entre a
Geometria Fractal e a Natureza. Na verdade, e contrariamente à Geometria Euclidiana
que dificilmente terá na Natureza uma fiel representação de algum dos seus objectos, a
Geometria Fractal será talvez aquela que melhor se adequa, de uma forma umas vezes
mais, outras vezes menos grosseira (já que, como foi dito, os fractais no seu estado puro
só existem na mente humana) ao estudo das formas da Natureza: árvores e plantas,
flocos de neve, sistemas de irrigação sanguı́nea e de distribuição de oxigénio, galáxias,
recortes da costa dos continentes, nuvens, relâmpagos, ... e ainda numa multiplicidade
de processos fı́sicos e quı́micos como a cristalização, movimentos de partı́culas num
fluı́do, electrólise, etc. ...
Até agora mostrou-se como se constroem (aproximações de) fractais definidos por
sistemas de funções iteradas e um dos resultados conseguidos foi a obtenção de imagens
idênticas às de objectos naturais como os que estão representados na Figura 1.20, página
47 e na Figura 1.18, página 44. O que se pretende ver agora é o processo inverso, isto
48 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
é, dada uma imagem de um objecto natural, encontrar um SFI cujo ponto fixo seja a
imagem dada ou algo aproximado. Parte da resposta para este problema é dada pelo
Teorema da Colagem, que dá uma ideia de quão próximo está um conjunto dado do
ponto fixo de um SFI.
Exemplo 17. Pretende-se encontrar um SFI que defina uma imagem semelhante
à folha à esquerda na Figura 1.22. Para tal, efectuou-se uma “colagem” com seis
contracções dessa folha como se mostra na mesma figura, à direita.
Os coeficientes de cada uma das aplicações são apresentados na Tabela 1.1 (ver a
matriz no Exemplo 14, página 42 e a Figura 1.17, página 43).
Contracção r1 r2 θ1 θ2 e f
http://classes.yale.edu/Fractals/Software/detifs.html.
52 1. FRACTAIS DEFINIDOS POR SISTEMAS DE FUNÇÕES ITERADAS
A Dimensão Fractal
53
54 2. A DIMENSÃO FRACTAL
2. A DIMENSÃO FRACTAL 55
(1) ∅ ∈ M e X ∈ M.
(2) Se A ∈ M, então Ac ∈ M.
(3) Se {An }n∈N é uma colecção numerável arbitrária de elementos de M, então
S
An também é um elemento de M.
n∈N
58 2. A DIMENSÃO FRACTAL
O conceito de medida será introduzido mais à frente para conjuntos que sejam
mensuráveis. Há que ter em consideração que um conjunto pode ser mensurável em
relação a uma σ-álgebra e não o ser em relação a outra.
De seguida apresentam-se alguns resultados úteis.
Exemplo 18. Seja X um conjunto não vazio e M = {∅, X}. Então, M é uma
σ-álgebra em X.
O item 1 da definição de σ-álgebra está automaticamente verificado. O mesmo
acontece com o item 2, visto que X é o complementar de ∅ em X e vice-versa. Também
se verifica o item 3, já que X ∪ ∅ = X, ∅ ∪ ∅ = ∅ e X ∪ X = X e estes são os resultados
possı́veis de reuniões com os elementos de M.
Esta σ-álgebra chama-se σ-álgebra indiscreta ou σ-álgebra trivial e é a menor σ-
álgebra que se pode formar em X.
Sabendo que cada σ-álgebra consiste num subconjunto de P(X), faz sentido consi-
derar intersecções e reuniões de σ-álgebras. Apresenta-se agora a noção de σ-álgebra
gerada que irá ser necessária um pouco mais adiante.
T
Demonstração. Há que ver se MI = Mλ verifica os três items da definição
λ∈I
de σ-álgebra. Como ∅ e X pertencem, por definição de σ-álgebra, a todos os conjuntos
Mλ com λ ∈ I, então também pertencem a MI , ficando o primeiro item resolvido.
Para verificar o segundo item, considere-se que A ⊂ X é um elemento de MI .
Nesse caso, por definição de MI , sabe-se que A ∈ Mλ para todo λ ∈ I. Como Mλ
é uma σ-álgebra, então também se tem que Ac ∈ Mλ , para todo λ ∈ I. Portanto,
T
A∈ Mλ = MI .
λ∈I
O item 3 demonstra-se de forma análoga. Considera-se que {An , n ∈ N} é uma
colecção numerável de elementos de MI ; então {An , n ∈ N} é uma colecção numerável
de elementos de cada Mλ qualquer que seja λ ∈ I. Como, para todo λ ∈ I, Mλ é uma
S
σ-álgebra, então sabe-se que An é também um elemento de cada Mλ e, portanto,
n∈N
T
também é um elemento de Mλ = MI .
λ∈I
(1) ∅ ∈ τ e X ∈ τ .
(2) Se A ∈ τ e B ∈ τ , então A ∩ B ∈ τ .
(3) Se I é um conjunto arbitrário de ı́ndices e Aλ ∈ τ para todo λ ∈ I, então
S
Aλ também é um elemento de τ .
λ∈I
Note-se que há conjuntos que podem ser simultaneamente abertos e fechados em
relação à mesma topologia. Por exemplo, como ∅ e X pertencem sempre a τ e são o
complementar um do outro, então ∅ e X são sempre abertos e fechados para qualquer
topologia. Note-se também que um conjunto pode ser aberto para uma topologia e não
o ser para outra.
Exemplo 21. Seja X um conjunto não vazio e τ = {∅, X}. Então, τ é uma
topologia em X.
O item 1 da definição de topologia está automaticamente verificado. O mesmo
acontece com o item 2, visto que ∅ ∩ X = X ∩ ∅ = ∅ ∈ τ . Também se verifica o item
3, já que X ∪ ∅ = X ∈ τ .
Esta topologia chama-se topologia indiscreta ou topologia trivial e é a menor topo-
logia que se pode formar em X.
qualquer conjunto é igual a esse mesmo conjunto e a reunião de X com qualquer seu
subconjunto é igual a X.
Esta topologia é a menor topologia em X que contém A.
Demonstração. Tal como já foi dito, X e ∅ são conjuntos abertos em relação à
métrica d, pelo que pertencem a τd .
Sejam A e B dois subconjuntos de X pertencentes a τd . Se A ∩ B = ∅ então
A ∩ B ∈ τd , caso contrário, considere-se x ∈ A ∩ B. Por x ser um elemento de A e
A pertencer a τd , sabe-se que existe pelo menos um valor δ1 > 0 tal que para todo
o elemento x0 de X que esteja a uma distância inferior a δ1 de x se tem x0 ∈ A.
Analogamente, por x ser um elemento de B e B pertencer a τd , sabe-se que existe pelo
menos um valor δ2 > 0 tal que para todo o elemento x0 de X que verifica d(x, x0 ) < δ2
se tem x0 ∈ B. Basta agora escolher δ = min{δ1 , δ2 } e tem-se que todo o elemento de
64 2. A DIMENSÃO FRACTAL
Veja-se agora o caso do conjunto [a, b] cujo complementar é R\[a, b] =]−∞, a[∪]b, +∞[.
Verifique-se que ] − ∞, a[∈ τR . Para isso, seja x ∈] − ∞, a[ e seja δ = d(x, a). Para
qualquer x0 ∈ R tal que d(x, x0 ) < δ vem que x0 < x + d(x, a) = a porque x < a,
donde x0 ∈] − ∞, a[ e, portanto, ] − ∞, a[ é aberto para a métrica d. De forma análoga
também se prova que ]b, +∞[ é aberto para d. Como foi visto na demonstração da
Proposição 15, se ] − ∞, a[ e ]b, +∞[ são ambos abertos para a métrica euclidiana, o
mesmo se poderá dizer de ] − ∞, a[∪]b, +∞[. Então ([a, b])c ∈ τR e [a, b] é fechado em
relação a τR .
Como cada topologia é, por si, um subconjunto de P(X), então faz sentido consi-
derar reuniões e intersecções de topologias.
T
Demonstração. Há que ver se τI = τλ verifica os três items da definição de
λ∈I
topologia. Como ∅ e X pertencem, por definição de topologia, a todos os conjuntos τλ
com λ ∈ I, então também se tem que ∅ ∈ τI e que X ∈ τI , pelo que o primeiro item
está resolvido.
Para verificar o segundo item, considere-se que A, B ⊂ X são elementos de τI .
Nesse caso, por definição de τI , sabe-se que A, B ∈ τλ para todo λ ∈ I. Como τλ
é uma topologia, então também se tem que A ∩ B ∈ τλ para todo λ ∈ I. Então,
T
A∩B ∈ τλ = τI , como se pretendia.
λ∈I
O item 3 demonstra-se de forma análoga. Considera-se que {Aµ , µ ∈ J} (onde
J é uma colecção arbitrária de ı́ndices) é uma colecção de elementos de τI ; então
{Aµ , µ ∈ J} é uma colecção de elementos de cada τλ qualquer que seja λ ∈ I. Como,
S
para todo λ ∈ I, τλ é uma topologia, então sabe-se que Aµ é também um elemento
T µ∈J
de cada τλ e, portanto, também é um elemento de τλ = τI .
λ∈I
66 2. A DIMENSÃO FRACTAL
τ [A]. Pelo item 3 da definição de topologia sabe-se que qualquer topologia que contenha
A contém também as reuniões arbitrárias de elementos de A. Se B é um elemento de
τR então para cada x ∈ B existe um valor δ(x) > 0 tal que se |y − x| < δ, então y ∈ B.
S
Pode portanto escrever-se que B = ]x − δ(x), x + δ(x)[. Como todo o intervalo
x∈B
do tipo ]x − δ(x), x + δ(x)[ é um elemento de A, vem que B, que é uma reunião de
elementos de A, pertence a qualquer topologia que contenha A, nomeadamente a τ [A].
Portanto, τR ⊂ τ [A], como se pretendia.
Exemplo 27. Os intervalos ]a, b[, [a, b[, ]a, b], com a < b e [a, b], com a ≤ b, são
elementos da σ-álgebra de Borel M[τR ].
Como foi dito no Exemplo 25, página 64, para a, b ∈ R com a < b, tem-se que
]a, b[∈ τR e [a, b] é fechado relativamente a τR . Logo, o complementar de [a, b] é aberto
para τR , isto é, ] − ∞; a[∪]b; +∞[ pertence a τR . Pode então dizer-se que os conjun-
tos ]a, b[ e ] − ∞; a[∪]b; +∞[ são elementos da σ-álgebra gerada por τR - designada
por M[τR ]. Por definição de σ-álgebra, se ] − ∞; a[∪]b; +∞[∈ M[τR ] então também
(] − ∞; a[∪]b; +∞[)c = [a, b] ∈ M[τR ].
Sejam agora [a, b] e ]a0 , b0 [ elementos de M[τR ] tais que a < a0 < b < b0 . Então,
pela Proposição 11, página 58, [a, b]∩]a0 , b0 [=]a0 , b] ∈ M[τR ]. Do mesmo modo, se ]a, b[ e
[a0 , b0 ] são elementos de M[τR ], com a < a0 < b < b0 , então ]a, b[∩[a0 , b0 ] = [a0 , b[∈ M[τR ].
Se a = b, vem [a, b] = {a}. Por outro lado, ({a})c =] − ∞; a[∪]a; +∞[. Usando
de novo o Exemplo 25, página 64, sabe-se que os conjuntos ] − ∞; a[ e ]a; +∞[ per-
tencem a τR que é um subconjunto de M[τR ]. Sendo M[τR ] uma σ-álgebra, então
] − ∞; a[∪]a; +∞[∈ M[τR ], o mesmo acontecendo com o seu complementar; isto é,
{a} ∈ M[τR ].
{a0 } ∈ M[τR ],
S
Por Q ser numerável e por definição de σ-álgebra tem-se que Q =
a0 ∈Q
ou seja, o conjunto dos números racionais é um conjunto de Borel.
Já o Conjunto de Cantor é não numerável. No entanto, em cada iteração Bk da
sua construção tem-se uma reunião finita de intervalos fechados de R. Portanto cada
conjunto Bk correspondente a cada uma das iterações na construção do Conjunto de
Cantor é um conjunto Boreliano. Como o Conjunto e Cantor é a intersecção numerável
T
Bk então, pela Proposição 12, página 58, conclui-se que o Conjunto de Cantor
k∈N
também é um elemento da σ-álgebra M[τR ], ou seja, é Boreliano.
Em geral, pode dizer-se que qualquer conjunto que possa ser construı́do, começando
com conjuntos abertos ou fechados e tomando depois reuniões ou disjunções numeráveis
um número finito de vezes, é um Conjunto de Borel. Os subconjuntos de Rn encontra-
dos neste trabalho são, por norma, conjuntos de Borel.
Estão agora criadas as condições necessárias para a introdução do conceito de me-
dida.
(1) µ(∅) = 0;
(2) Se {Ai }i∈N é uma colecção numerável e disjunta de elementos de M, então
∞ ∞
S P
µ Ai = µ(Ai ).(Propriedade da aditividade numerável ou σ-aditividade.)
i=1 i=1
Como µ(A1 ) é finito, então µ(C) e µ(A) também são finitos (porque são
subconjuntos de A1 ). Subtraindo µ(C) a cada membro da última igualdade
obtém-se o pretendido.
(1) µ(∅) = 0.
(2) Se A ⊂ B então µ(A) ≤ µ(B).
(3) Para qualquer!colecção numerável {Aj , j ∈ N} de subconjuntos de X tem-se
S P
que µ Aj ≤ µ(Aj ).
j∈N j∈N
1. CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA PELO MÉTODO DE CARATHÉODORY 71
Note-se que as medidas exteriores são definidas sobre a totalidade dos subconjuntos
de X, ao contrário das medidas que são definidas apenas sobre σ-álgebras em X.
Outra distinção importante entre uma medida e uma medida exterior é que se A
for um conjunto e A1 e A2 forem dois subconjuntos próprios tais que A = A1 ∪ A2 , há
casos em que µ(A) 6= µ(A1 ) + µ(A2 ). Isto contraria a noção intuitiva de medida de
um conjunto. E, pela definição de medida apresentada atrás (Definição 30, página 68),
isto nunca acontece com uma medida µ, se A, A1 e A2 forem elementos da σ-álgebra
dos conjuntos mensuráveis por µ.
Relativamente a µ, se A1 e A2 são dois subconjuntos de X, tem-se que µ(A1 ∪A2 ) ≤
µ(A1 ) + µ(A2 ). (Para confirmar isto basta considerar, no terceiro item da definição de
medida exterior em X, Aj = ∅, para j > 2.)
A proposição que se segue será importante para a construção da medida de Haus-
dorff.
isto é,
Mas,
(A ∪ B) ∩ E ∩ A = (A ∪ B) ∩ (E ∩ A) =
= (A ∩ (E ∩ A)) ∪ (B ∩ (E ∩ A)) =
= (E ∩ A) ∪ (B ∩ (E ∩ A)) = E ∩ A.
porque B ∩ (E ∩ A) ⊂ E ∩ A. E também,
(A ∪ B) ∩ E ∩ Ac = [(A ∩ Ac ) ∪ (B ∩ Ac )] ∩ E = B ∩ Ac ∩ E.
Donde,
que é igual a µ(E) por hipótese, porque A ∈ Mµ . Por outro lado, como ∅ é o comple-
mentar de X e vice-versa e como também se tem E∩X = E, E∩∅ = ∅ e µ(∅) = 0, então
vem que µ(E) = µ(E ∩ ∅) + µ(E ∩ ∅c ) que é equivalente a µ(E) = µ(E ∩ X c ) + µ(E ∩ X)
e, portanto, fica provado que ∅ e X pertencem a Mµ .
74 2. A DIMENSÃO FRACTAL
Considere-se E 0 da forma
E 0 = (A ∪ B) ∩ E, (2.4)
n
!! n
!c !
[ [
µ(E) = µ E ∩ Bk +µ E∩ Bk , (2.5)
k=1 k=1
n
P
para todo E ⊂ X, sendo a primeira parcela da adição igual a µ(Bk ∩ E) porque os
k=1
conjuntos Bk são disjuntos dois a dois.
Se se considerar agora uma colecção numerável de conjuntos {Bk0 , k ∈ N} em que
n
n c
0 0
S S 0 S
Bk = Bk , para k = 1, . . . , n tem-se que Bk ⊂ Bk e, portanto, Bk ⊃
c k=1 k∈N k=1
S 0
Bk . Daı́ vem que
k∈N
n
!c ! !c !
[ [
µ E∩ Bk ≥µ E∩ Bk0 .
k=1 k∈N
Como esta desigualdade é válida para qualquer n ∈ N, então também se tem que
∞
!c !
X [
µ(E) ≥ µ(Bk0 ∩ E) + µ E ∩ Bk0 . (2.6)
k=1 k∈N
Mas a primeira parcela da adição, pela definição de medida exterior, é maior ou igual
S 0 S 0
que µ (Bk ∩ E) que, por sua vez, é igual a µ E ∩ Bk .
k∈N k∈N
Das duas últimas desigualdades obtém-se, finalmente, que
!! !c !
[ [
µ(E) ≥ µ E ∩ Bk0 +µ E∩ Bk0
k∈N k∈N
c n
Bk0 =
S S S
que é o mesmo que µ(E) ≥ µ E ∩ Ak +µ E ∩ Ak porque
k∈N k∈N k=1
n
S n
S
Bk = Ak . Está, então, demonstrado que Mµ é uma σ-álgebra.
k=1 k=1
Falta agora provar a segunda parte do Teorema que diz que a medida exterior µ
é uma medida quando restrita aos elementos da σ-álgebra Mµ . Para isso, há que
76 2. A DIMENSÃO FRACTAL
S P
demonstrar que µ Bk =
µ(Bk ). De (2.6) e tendo em conta que para qual-
k∈N k∈N c
∞
0
P S
quer k ∈ N, Bk = Bk , vem que µ(E) ≥ µ(Bk ∩ E) + µ E ∩ Bk ≥
c k=1 k∈N
S S
µ E∩ Bk +µ E∩ Bk = µ(E), pelo que se obtém a igualdade
k∈N k∈N
∞
c
P S
µ(E) = µ(Bk ∩ E) + µ E ∩ Bk para todo E ⊂ X; em particular, esta
k=1 k∈N
S
igualdade é válida para E = Bk . Fazendo essa substituição na expressão anterior
k∈N
S P
vem µ Bk = µ(Bk ) que era o que se pretendia.
k∈N k∈N
Está demonstrado o Teorema de Carathéodory que será utilizado na construção da
medida de Hausdorff.
Definição 34. Seja X um conjunto não vazio dotado de uma métrica d. Dados
dois conjuntos A, B ⊂ X define-se a distância entre A e B, denotada por d∗ (A, B),
da seguinte forma: d∗ (A, B) = inf{d(a, b), a ∈ A, b ∈ B}.
Note-se que esta definição é diferente e não equivalente às definições de “distância
de A a B” (Definição 5, página 7) e de “distância de Hausdorff entre A e B” (Definição
78 2. A DIMENSÃO FRACTAL
6, página 8) introduzidas no Capı́tulo 1. Além disso, é fácil verificar que d∗ não é uma
métrica em P(X) (basta ver que para dois conjuntos A e B diferentes entre si, mas de
intersecção não vazia não se tem d∗ (A, B) > 0).
Proposição 18. Seja X um conjunto não vazio dotado de uma métrica d e sejam
A e B dois subconjuntos de X tais que d∗ (A, B) > 0. Então, as aderências de A e de
B não têm pontos em comum, isto é, ad(A) ∩ ad(B) = ∅.
Definição 35. Uma medida exterior µ em X diz-se uma medida exterior métrica
(em relação à métrica d) se para todos os conjuntos A, B ⊂ X tais que d∗ (A, B) > 0
se tiver µ(A ∪ B) = µ(A) + µ(B).
Definição 36. Seja X um conjunto não vazio e {An }n∈N uma sucessão de sub-
conjuntos de X. Designa-se por limite máximo da sucessão de conjuntos e
representa-se por limAn o conjunto de todos os elementos de X que pertencem a uma
infinidade de conjuntos da sucessão; designa-se por limite mı́nimo da sucessão de
conjuntos e representa-se por limAn o conjunto de todos os elementos de X que per-
tencem a todos os conjuntos da sucessão a partir de certa ordem em diante. Quando
coincidam os limites máximo e mı́nimo de uma sucessão de conjuntos, ao conjunto
comum chama-se limite da sucessão de conjuntos e representa-se por lim An .
1. CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA PELO MÉTODO DE CARATHÉODORY 79
Definição 37. Uma sucessão {An }n∈N de conjuntos diz-se crescente, ou ex-
pansiva, se An ⊂ An+1 para todo n ∈ N. Uma sucessão {An }n∈N de conjuntos diz-se
decrescente, ou contractiva, se An ⊃ An+1 para todo n ∈ N.
Proposição 19. Se uma sucessão de conjuntos {An }n∈N for crescente ou decres-
∞
S
cente então lim An existe. Se {An }n∈N é crescente, tem-se lim An = Ak . Se {An }n∈N
k=1
∞
T
é decrescente, então lim An = Ak .
k=1
e que,
para l − k ≥ 2, Bl ⊂ A \ Ak+1 (2.11)
porque d∗ (Bk , Bl ) = inf{d(x, y), x ∈ Bk , y ∈ Bl } que, por (2.10) e por (2.11) é maior
que
inf {d(x, y), x ∈ Ak , y ∈ A \ Ak+1 } isto é, que d∗ (Ak , A \ Ak+1 ), que é positiva por
hipótese. Por definição de medida exterior métrica, vem de (2.12) que µ(B1 ∪ B3 ) =
µ(B1 )+µ(B3 ), µ(B2 ∪B4 ) = µ(B2 )+µ(B4 ) e, por indução matemática, tem-se também
que
m
! m m
! m
[ X [ X
µ B2a−1 = µ (B2a−1 ) e µ B2a = µ (B2a ) para todo m ≥ 1.
a=1 a=1 a=1 a=1
(2.13)
Há dois casos a considerar:
k
[
para todo k ∈ N, Ak = Ba . (2.14)
a=1
k
S k
S
Logo, para todo k ∈ N tem-se A2k−1 ⊃ B2a−1 e A2k ⊃ B2a . Portanto, µ (A2k−1 ) ≥
k a=1 a=1 k
S k
P S
µ B2a−1 que, por (2.13), é igual a µ (B2a−1 ) e µ (A2k ) ≥ µ B2a que, no-
a=1 a=1 a=1
k
P
vamente por (2.13), é igual a µ (B2a ) .
a=1
Consequentemente, se qualquer das somas em (2.13) divergir quando m → ∞ ter-
se-á lim µ (An ) = ∞, o que implica µ(A) = ∞ porque se A ⊃ An para todo n, então
n→∞
µ(A) ≥ µ(An ), também para todo n. Nesse caso ter-se-ı́a, então, µ(A) = lim µ(An ) =
n→∞
∞
! ∞
! ∞
[ [ X
µ(A) = µ Aj ∪ Ba ≤ µ(Aj ) + µ Ba ≤ µ (Aj ) + µ(Ba ), (2.15)
a=j+1 a=j+1 a=j+1
1. CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA PELO MÉTODO DE CARATHÉODORY 81
sendo a última soma convergente, por hipótese. Pela mesma razão, tem-se que
∞
X
lim µ(Ba ) = 0
j→∞
a=j+1
Se se provar que lim µ(Em ) = µ(E ∩A), ter-se-á por (2.19) que µ(E) ≥ µ(E ∩A)+
m→∞
c
µ(E ∩ A ) o que completará esta demonstração. Para estabelecer a relação pretendida,
percorrer-se-ão três passos sucessivos.
O primeiro passo é provar que
[
E∩A= Em . (2.20)
m∈N
lim Em = E ∩ A. (2.21)
m→∞
1
Assim, d∗ (Em , (E ∩ A) \ Em+1 ) = inf {d(x, z), x ∈ Em , z ∈ (E ∩ A) \ Em+1 } > −
m
1
> 0, o que prova (2.22).
m+1
Por (2.21), por (2.22) e pelo Lema 7, tem-se µ(E ∩ A) = lim µ(Em ).
m→∞
Logo, de (2.19) vem que µ(E) ≥ lim µ(Em ) + µ(E ∩ A ) = µ(E ∩ A) + µ(E ∩ Ac ),
c
m→∞
Proposição 20. Seja X um conjunto não vazio e seja R ⊂ P(X) uma colecção
não vazia de subconjuntos de X tal que ∅ ∈ R. Denote-se por GR a colecção de todos
os subconjuntos numeráveis de R. Considere-se a função h : R → R+
0 ∪ {∞} tal que
Teorema 10. Seja X um conjunto não vazio. Suponha-se que existe uma colecção
não vazia R ⊂ P(X) de subconjuntos de X com as seguintes propriedades:
(1) ∅ ∈ R.
(2) Se GR denota a colecção de todos os subconjuntos numeráveis de R, então
existe uma função H : GR → R+
0 ∪ {∞} com as seguintes propriedades:
(a) H({∅}) = 0.
b b
H(Rb )
S P
(b) Se R ∈ GR para todo b ∈ N, então H R ≤
b∈N b∈N
(3) Todo o subconjunto A de X possui pelo menos um recobrimento numerável por
elementos de R. Denote-se por CR (A) ∈ GR a colecção (não vazia) de todos
os recobrimentos numeráveis de A por elementos de R
em X.
[
Rb ∈ CR (A), ∀b ∈ N ⇒ Rb ∈ CR (A).
b∈N
ε
H(Rb ) ≤ µ(Ab ) + . (2.23)
2b
O diâmetro de um conjunto é, portanto, em limite, a maior distância que pode obter-
se entre dois pontos seus. Para o conjunto vazio, convenciona-se que o seu diâmetro é
zero.
Definição 40. Seja A um subconjunto não vazio de Rn e {Ri } uma colecção finita
ou numerável de subconjuntos não vazios de Rn de diâmetro menor ou igual a δ, isto
S
é, 0 < |Ri | ≤ δ, ∀i. Diz-se que {Ri } é um recobrimento-δ de A se A ⊂ Ri .
i
Note-se que CRδ (A) é, portanto, a colecção de todos os recobrimentos-δ de A por
elementos de Rn e inclui recobrimentos-δ finitos: como ∅ ∈ Rδ , basta considerar que um
recobrimento-δ finito é um recobrimento-δ numerável em que apenas uma quantidade
finita de elementos da colecção que o constitui é diferente do conjunto vazio.
Ora, com os elementos que agora se definiram e com o facto de todo o subconjunto
de Rn possuir um recobrimento-δ, a Proposição 20 e o Teorema 10 garantem que
µδ,s
H (A) = inf{Hs (R), R ∈ CRδ (A)} =
( )
X
= inf hs (Rn ), R ∈ CRδ (A) =
(2.24)
Rn ∈R
( )
X
= inf |Rn |s , R ∈ CRδ (A)
Rn ∈R
definida para todo A ⊂ Rn , é uma medida exterior em Rn . De uma forma mais simples
e de modo a aliviar a notação, agora que o conceito de medida está explanado, pode
escrever-se
( )
X
µδ,s
H (A) = inf |Rn |s : {Rn } é um recobrimento-δ de A (2.25)
n
Proposição 21. Para cada s ≥ 0 e todo A ⊂ Rn tem-se que se 0 < δ1 < δ2 , então
µδH1 ,s (A) ≥ µδH2 ,s (A). Logo, para todo A ⊂ Rn ,
cresce à medida que δ tende para zero, pelo que tomar o supremo de µδ,s
H (A) é o equi-
ou por
( )
X
µsH (A) = lim inf |Rn |s : {Rn } é um recobrimento-δ de A , para todo A ⊂ Rn
δ→0
n
B que não intersecta A e R0 que não intersecta nem A nem B. Se assim não fosse,
existiria um aberto em R que intersectaria A e B, o que só seria possı́vel se o seu
diâmetro fosse maior que ε.
Note-se que RA ∈ CRδ (A), que RB ∈ CRδ (B) e que R0 pode ser vazio. Tem-se,
portanto,
X X X X
hs (Rn ) = hs (Rn ) + hs (Rn ) + hs (Rn )
Rn ∈R Rn ∈RA Rn ∈RB Rn ∈R0
µδ,s
H (A ∪ B) = inf{Hs (R), R ∈ CRδ (A)} + inf{Hs (R), R ∈ CRδ (B)} =
= µδ,s δ,s
H (A) + µH (B).
Note-se que M[τd ] não depende de s e, portanto, faz sentido perguntar como varia
com s a medida de um conjunto Boreliano fixo. A proposição que se segue fornece
algumas respostas.
µδ,s n s δ,s
H (E), para todo E ⊂ R . Pela definição (2.28) tem-se µH (E) = lim µH (E) para
1
δ→0
todo s ≥ 0 e, portanto, segue que µsH1 (E) ≥ µsH2 (E) sempre que 0 ≤ s1 ≤ s2 < ∞ já
que δ se torna menor que 1 quando tende para zero.
Pela Proposição 22, sabe-se que para todo δ > 0 e sempre que 0 ≤ s ≤ t se
δ,s
tem µH (E) ≥ δ s−t
µH (E) . Neste caso, se µtH (E) = lim µδ,t
δ,t
H (E) for não-nulo, o
δ→0
algum t > 0 vem µsH (E) = ∞ para todo 0 ≤ s < t e µsH (E) = 0 para todo s > t.
com 0 < µsH (E) < ∞ para s = dimH (E), ao número dimH (E), que é único, chama-se
dimensão Hausdorff do conjunto Boreliano E.
O gráfico de µsH (E) em função de s, na Figura 2.1 mostra que existe um valor crı́tico
da variável onde µsH (E) “salta” de ∞ para 0; a esse valor crı́tico chama-se dimensão
de Hausdorff de E e representa-se por dimH (E).
Tem-se dimH (E) = inf{s : µsH (E) = 0} = sup{s : µsH (E) = ∞} porque
∞ se s < dimH E
s
µH (E) =
0 se s > dimH E
e se s = dimH (E), então µsH (E) pode ser 0 ou ∞ ou 0 < µsH (E) < ∞.
Além disso, já se sabia pela Proposição 24 que, se µ0H = k < ∞, então µpH (A) = 0
para todo p > 0. Portanto, dimH (A) = 0.
µsH (E1 ) = 0 para o mesmo s, porque uma medida não toma valores negativos. Assim,
a dimensão de Hausdorff de E1 que é o valor de s em que µsH (E1 ) “salta” de ∞ para
0, será sempre igual, ou inferior, à dimensão de Hausdorff de E2 .
Note-se que, para um espaço métrico X em geral, é possı́vel haver conjuntos com
dimensão de Hausdorff infinita. Porém, no caso em que X = Rn com a métrica
Euclidiana usual, pode provar-se que dimH (E) ≤ n para todo o Boreliano E ⊂ Rn .
Isso será discutido de seguida, após a introdução de uma definição que será necessária.
n
µnH (K) ≤ n 2 < ∞ para qualquer n ∈ N. Pela Proposição 24 vem, então, que µsH (K) =
0 para todo s > n, pelo que dimH (K) ≤ n. Como Rn é a soma numerável de cubos
fechados limitados (compactos), segue também que µsH (Rn ) = 0 para todo s > n e,
portanto, que dimH (Rn ) ≤ n, donde, pela Proposição 25, dimH (E) ≤ n para todo o
Boreliano E ∈ Rn .
2. MEDIDA E DIMENSÃO DE HAUSDORFF 95
Uma contracção (veja-se a Definição 13, página 22) é uma aplicação de Lipschitz
em que 0 < c < 1.
Semelhança de razão λ
Comprimento → λ× Comprimento
Área → λ2 ×Área
Volume → λ3 ×Volume
µsH → λs × µsH
Isto significa que as medidas de Hausdorff são invariantes para as isometrias como
é o caso da translação e da rotação.
Apresentam-se agora dois exemplos onde serão utilizados alguns dos resultados
demonstrados.
do comprimento do lado dos quadrados da iteração anterior, tal como mostra a Figura
√
2.3. Então, 1 ≤ µ1H (C) ≤ 2, donde dimH (C) = 1.
98 2. A DIMENSÃO FRACTAL
Exemplo 32. Seja C o Conjunto de Cantor em [0, 1]. Como foi visto no Exemplo
11 do Capı́tulo 1, página 38, C é compacto e é totalmente desconexo (veja-se a Definição
53 na página 104). O seu processo de construção está ilustrado na Figura 2.4.
2. MEDIDA E DIMENSÃO DE HAUSDORFF 99
i
3
1 s
à escala, Corolário 2, tanto µsH (CE ) como µsH (CD ) equivalem a 3
µsH (C). Como na
primeira parte deste exemplo se concluiu que no valor crı́tico s = dimH (C) se tem
0 ≤ µsH (C) ≤ 1, assuma-se que µsH (C) 6= 0; tem-se:
s
1
µsH (C)
=2 µsH (C) ⇔
3
s
1
⇔1=2 ⇔ (2.30)
3
log 2
⇔s= .
log 3
log2
µsH (C) ≤ lim 2k 3−k log3
=
k→∞
k
2
= lim log2 = (2.31)
k→∞
3 log3
= lim 1k = 1.
k→∞
Exemplo 34. Seja f : R2 → R tal que f (x) = projx, isto é, f (x1 , x2 ) = x1 para
todo (x1 , x2 ) ∈ R2 . Então, como foi visto no Exemplo 31, página 97, tem-se, para
quaisquer x, y ∈ R2 , |f (x) − f (y)| = |projx − projy| ≤ |x − y|. Mas não existe c > 0
tal que para quaisquer x, y ∈ R2 seja válido que c|x − y| ≤ |projx − projy| porque se
x e y forem dois pontos de R2 com a mesma abcissa, então |projx − projy| = 0. Logo
f é uma aplicação de Lipschitz mas não é uma aplicação bi-Lipschitz. Assim, dado
F ⊂ R2 , vem dimH (f (F )) < dimH (F ).
(1) F ∩ A1 6= ∅ e F ∩ A2 6= ∅,
(2) (F ∩ A1 ) ∩ (F ∩ A2 ) = ∅,
(3) F = (F ∩ A1 ) ∪ (F ∩ A2 ).
Por outras palavras, existem pontos de F tão próximos quanto se queira de qualquer
ponto de X. Por exemplo, Q é denso em R relativamente à métrica usual; tem-se
ad(Q) = R. Contudo, Q é numerável e R não.
ser uma medida exterior métrica (Proposição 23, página 89), e pela Propriedade do
Redimensionamento à Escala (Corolário 2, página 96), vem que, para s ≥ 0, µsH (Fr ) =
4 4
µsH (Fr,i ) = rs µsH (Fr ). Assumindo que quando s = dimH Fr se tem 0 < µsH (Fr ) <
P P
i=1 i=1
∞ e aplicando o método heurı́stico já usado no Exemplo 32, obtém-se 1 = 4rs donde
log 4
s=− . Fazendo r variar entre 0 e 21 , a dimensão de Hausdorff de Fr tomará todos
log r
os valores entre 0 e 2.
Falta apenas encontrar um subconjunto do plano que seja totalmente desconexo
com dimensão de Hausdorff igual a zero e outro que seja totalmente desconexo com
dimensão de Hausdorff igual a 2.
Para o primeiro caso é muito simples: basta considerar um conjunto formado por
um único ponto de R2 .
∞
S
Para o caso de s = 2, considere-se o conjunto G = Gk em que Gk = F 1 − 1 +(k, 0).
2 k
k=3
Em termos práticos, G é o conjunto que se obtém colocando todos os F 1 − 1 lado a lado,
2 k
sem que dois conjuntos sucessivos se intersectem. Os conjuntos Gk são disjuntos e cada
2. MEDIDA E DIMENSÃO DE HAUSDORFF 107
2
subconjunto de R totalmente desconexo. Pela Propriedade da Estabilidade Numerável
da dimensão de Hausdorff (que será explicada já de seguida) tem-se que dimH G =
sup dimH Gk = sup dimH F 1 − 1 = 2
2 k
k≥3 k≥3
Por outro lado, se s > dimH Fj qualquer que seja j, então µsH (Fj ) = 0
∞
s
S
para todos os elementos da colecção de conjuntos e µH Fi = 0. Este
i=1
último valor deixa de ser zero quando, ao diminuir o valor de s, este toma o
maior valor para o qual um dos Fi tem dimensão de Hausdorff diferente de
zero. Portanto,
∞
!
[
dimH Fi ≤ sup {dimH Fi }. (2.33)
1≤i≤∞
i=1
∞
S
De (2.32) e de (2.33) conclui-se que dimH Fi = sup {dimH Fi }.
i=1 1≤i≤∞
Propriedade 3. Conjuntos numeráveis - Se F é numerável, então dimH F = 0. Ver o
Exemplo 30, na página 93.
Propriedade 4. Conjuntos abertos - Se F ⊂ Rn é aberto e contém uma bola de
volume n-dimensional positivo, então dimH F = n. Um aberto em Rn é um
108 2. A DIMENSÃO FRACTAL
são convenientes porque quaisquer dois conjuntos binários ou são disjuntos, ou um está
contido no outro, permitindo que qualquer recobrimento de intervalos binários seja re-
duzido a uma recobrimento de intervalos binários disjuntos. Em cada caso, para cada
conjunto em particular, pode adoptar-se a definição que melhor convier ao cálculo da
sua dimensão de Hausdorff. Na secção que se segue apresentam-se outras definições de
dimensão que, em geral, não são equivalentes à definição de dimensão de Hausdorff.
Apenas em alguns casos especı́ficos poderá haver igualdade entre os valores obtidos
através das diferentes definições. Isso também será abordado.
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 109
significando que a diferença relativa entre Mδ (F ) e cδ −s tende para zero com δ, e diz-se
que F tem “dimensão” s olhando c como o “comprimento s-dimensional” de F .
Aplicando o logaritmo a ambos os membros de (2.34) obtém-se log Mδ (F ) ∼ log c −
log Mδ (F ) log c s log δ
s log δ; dividindo ambos membros por − log δ vem ∼ − + e
− log δ log δ log δ
log Mδ (F )
passando ao limite quando δ tende para zero, obtém-se s = lim .
δ→0 − log δ
Esta fórmula leva a procedimentos computacionais, pois s pode ser estimado através
do declive de uma gráfico log-log desenhado num intervalo apropriado de δ (ver-se-á
um exemplo mais adiante). No entanto, quando isto é aplicado ao estudo de fenómenos
naturais, só é possı́vel considerar “intervalos” finitos de valores de δ, já que a experiência
e a teoria divergem antes ainda de se alcançar a escala atómica. Por isso, quando se
estudam fractais naturais só se utiliza uma certa gama de escalas que será apropriada
e adequada a cada caso. Também pode acontecer que não se consiga alcançar o valor
exacto de s e que apenas se possam determinar os seus limites superior e inferior.
De salientar ainda que para que o valor de s determinado da forma dada acima se
comporte como uma dimensão é necessário que o método de medição seja tal que, ao
redimensionar F e, proporcionalmente, a escala a que se fez a medição, isso não afecte
a resposta; isto é: Mδ (δF ) = M1 (F ), qualquer que seja δ. É que, se por exemplo se
alterar a definição de Mδ (F ) para que passe a ser a soma dos comprimentos dos passos,
110 2. A DIMENSÃO FRACTAL
tem-se que Mδ (δF ) = δ 1 M1 (F ) para δ > 0; e é necessário ter isto em conta quando é
definida a dimensão.
Mas não há regras rápidas para decidir se uma determinada quantidade é uma
dimensão; tudo depende da definição. E muitas vezes são necessárias a experiência
e a intuição para decidir se uma definição de dimensão é aceitável. Pode acontecer
que definições muito parecidas de dimensão tenham propriedades muito diferentes e
como tal não se deve assumir que definições diferentes de dimensão produzem o mesmo
valor de dimensão, mesmo tratando-se de conjuntos “bons”. As propriedades de cada
de dimensão devem, portanto, retirar-se da sua própria definição e não inferirem-se de
propriedades de outras definições de dimensão. Nem todas as propriedades da dimensão
de Hausdorff se mantêm necessariamente válidas para as outras definições de dimensão,
no entanto, é desejável que outras definições de dimensão mantenham as seguintes:
log Nδ (F )
dimB F = lim (2.35)
δ→0 − log δ
e por
log Nδ (F )
dimB F = lim . (2.36)
δ→0 − log δ
Se estes dois limites forem iguais, designa-se o seu valor por dimensão de con-
tagem de caixas de F (ou dimensão de caixas de F) e tem-se ,
log Nδ (F )
dimB F = lim . (2.37)
δ→0 − log δ
− log δ (que é positivo sempre que δ < 1). No limite, quando δ tende para zero, vem
colecção ainda maior de bolas). Então, as Nδ0 (F ) bolas concêntricas com as Bi mas de
raio 2δ (diâmetro 4δ), cobrem F e N4δ (F ) ≤ Nδ0 (F ).
Por outro lado, suponha-se que B1 , . . . , BNδ0 (F ) são bolas disjuntas de raio δ com
centro em F e seja U1 , . . . , Uk uma colecção de conjuntos de diâmetro menor ou
igual a δ que cobre F . Como o centro de cada uma das bolas Bi é um elemento de
F , então cada bola Bi tem que conter pelo menos um dos conjuntos Uj . Como as
bolas Bi são disjuntas, então há pelo menos tantos conjuntos Uj como bolas Bi ; donde,
Nδ0 (F ) ≤ Nδ (F ). Tomando em cada membro o logaritmo e em seguida o limite quando
δ tende para zero, obtém-se o mesmo valor para a dimensão de caixas se se utilizar na
respectiva definição, Nδ0 em vez de Nδ .
log Nδ (A ∪ B)
dimB (A ∪ B) ≤ lim ≤
δ→0 − log δ
log [Nδ (A) + Nδ (B)]
≤ lim =
δ→0 − log δ (2.38)
Nδ (B)
log 1 +
log Nδ (A) Nδ (A)
= lim + lim .
δ→0 − log δ δ→0 − log δ
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 117
log Nδ
Demonstração. Tem-se por definição que dimB (F ) = lim em que Nδ é
δ→0 − log δ
de infinito para zero é dimH (F ) ≤ s = dimB (F ). Se este limite não for zero, sendo
finito, tem-se dimH (F ) = dimB (F ).
log 2
Exemplo 37. Seja C o Conjunto de Cantor. Então dimB C = dimB C = log 3
.
O recobrimento-δ de cada iteração Bk da construção de C (ver Figura 2.4, página
99) de 2k intervalos dá que Nδ (C) ≤ 2k se 3−k < δ ≤ 3−k+1 e tem-se
Por outro lado, qualquer intervalo de comprimento δ com 3−k−1 ≤ δ < 3−k in-
tersecta, no máximo um dos intervalos binários de diâmetro 3−k que compõem cada
estádio Bk . Há 2k intervalos desses em Bk e portanto, são necessários pelo menos 2k
log 2
intervalos de comprimento δ para cobrir C. Daı́, Nδ (C) ≥ 2k o que dá dimB C ≥ .
log 3
log 2
Logo, dimB C = , valor esse que é igual à dimensão de Hausdorff de C deter-
log 3
minada no Exemplo 32, página98. Portanto, no caso do Conjunto de Cantor tem-se
dimH C = dimB C.
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 119
log Nδ (F )
A Definição 2.37, página 111, que diz que dimB F = lim indica, gros-
δ→0 − log δ
Daqui se conclui que conjuntos numeráveis podem ter dimensão de caixas dife-
rente de zero, o que não acontecia com a dimensão de Hausdorff. Além disso, a di-
mensão de caixas de qualquer número racional olhado como um conjunto singular é
zero (como foi visto no Exemplo 35 na página 115); no entanto, a união numerável
destes conjuntos singulares tem dimensão 1. Então, nem sempre será verdade que
∞
S
dimB Fi = supi dimB Fi como se passa com a dimensão de Hausdorff.
i=1
Isto limita a utilidade da dimensão de caixas já que, introduzindo um “pequeno”
conjunto, isto é, um conjunto numerável de pontos, isso pode alterar completamente a
dimensão do conjunto ao contrário do que acontecia com a dimensão de Hausdorff.
Tal como são muito convenientes na prática, as dimensões de caixas são também
muito úteis na teoria. Se, como acontece regularmente, se puder demonstrar que um
conjunto tem dimensão de caixas igual à dimensão de Hausdorff, da relação entre essas
duas definições podem surgir resultados profı́cuos.
122 2. A DIMENSÃO FRACTAL
Se C for a Curva de von Koch, então, pela alı́nea iv) do Teorema 12, dimB C é, no
máximo, log 4/ log 3 e pela alı́nea v) do mesmo Teorema, dimB C é, no mı́nimo, esse
mesmo valor; donde dimB C = log 4/ log 3.
k k−1
1 1
Vejam-se os pormenores: Para ≤δ< são necessários, no máximo,
3 3
4k conjuntos de diâmetro δ para cobrir C; veja-se a Figura 2.10.
k
1
Figura 2.10. Para δ = são necessários, no máximo, 4k conjuntos de
3
diâmetro δ para cobrir a Curva de Koch.
k
1
Figura 2.11. Para δ = conseguem-se, pelo menos, 4k + 1 bolas de
3
diâmetro δ com centro em pontos da Curva de Koch.
log Nδ (C) log 4k + 1 log 4k log 4
≥ k ≥ k =
− log δ 1 1 log 3
− log − log
3 3
log 4
donde, dimB C ≥ .
log 3
log 4
Portanto, dimB C = ≈ 1, 262. Este valor, sendo maior que 1 e menor que 2,
log 3
é consistente com o facto de se tratar de uma linha com comprimento infinito e com
área nula.
Teorema 15. Seja F ∈ H(X ), sendo (X, d) um espaço métrico. Seja δk = C.rk
log Nδk (F )
para números reais 0 < r < 1 e C > 0 e para k ∈ N. Se D = lim então,
k→∞ − log δk
f (δ) 1 1 r
Para valores de δ pequenos tais que f (δ) ≤ δ ≤ < 1 vem ≥ ≥ > 1.
r f (δ) δ f (δ)
1
Como log x é uma função crescente e positiva para x ≥ 1, vem que log ≥
f (δ)
1 r
log ≥ log que é o mesmo que escrever
δ f (δ)
f (δ)
− log f (δ) ≥ − log δ ≥ − log . (2.40)
r
log Nδk (F )
= lim .
k→∞ − log δk
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 125
log Nδk−1 (F )
= lim =
k→∞ − log r − log δk−1
log Nδk−1 (F )
= lim =
k→∞ − log δk−1
log Nδk (F )
= lim .
k→∞ − log δk
Este último resultado permite que o cálculo da dimensão de caixas se torne mais
simples, sempre que seja possı́vel determinar uma sucessão {δk } adequada.
Para este conjunto já tinha sido determinada a sua dimensão de Hausdorff, cujo
valor é também 1 (Exemplo 31, na página 97).
Então, pela alı́nea ii) do Teorema 12 e pelo Teorema 15, a dimensão de caixas do
Triângulo de Sierpinski é
log 3k log 3
lim k = .
k→∞ 1 log 2
− log
2
Exemplo 43. Na Figura 2.13 está uma imagem de uma das árvores da espécie acer
palmatum cujas folhas são muito recortadas. Mostra-se de seguida como determinar a
dimensão de caixas de uma delas.
Em primeiro lugar procedeu-se à obtenção de uma imagem digital da folha. Neste
caso foi usado um scaner, tendo o cuidado de espalmar o melhor possı́vel a folha e de
a abrir de modo a evitar a sobreposição das suas diversas componentes. De seguida
produziu-se uma versão da imagem a preto e branco (Figura 2.14). É de salientar que,
neste caso, a a atribuição da cor branca ou preta a cada um dos pixels foi feita de modo
automático, pelo programa usado para trabalhar a imagem.
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 127
Depois, a imagem foi dividida em quadrados (“caixas”) de lado δ cada vez menor.
Para cada valor escolhido para δ contou-se o número de quadrados da rede-δ que
intersectavam a imagem (Figura 2.15).
Os dados dados obtidos são os que estão registados nas duas primeiras colunas da
Tabela 2.1 e a respectiva representação gráfica encontra-se na Figura 2.16.
Como o número de quadrados a cobrir a área total da figura é proporcional ao qua-
drado do inverso da medida do lado de cada quadrado em que se dividiu a mesma, basta
agora usar os resultados obtidos nas medições anteriores, e representar graficamente
o logaritmo do número de caixas que intersectam a figura em função do logaritmo do
128 2. A DIMENSÃO FRACTAL
Figura 2.15. Divisão da imagem em caixas de lado 512, 256, 128, 64, 32,
16 e 8 pixels respectivamente.
inverso do lado de cada quadrado (Figura 2.17). O declive da recta de regressão linear
que melhor se ajusta ao conjunto de pontos obtidos é uma estimativa da dimensão de
caixas da imagem. Neste caso obteve-se 1, 5362 como valor aproximado da dimensão
de contagem de caixas desta folha de acer palmatum.
Convém referir que uma gama diferente de escalas pode originar outro valor para a
dimensão. Um alinhamento diferente da grelha que forma a rede-δ pode também pro-
duzir resultados ligeiramente diferentes; e um tratamento diferente da imagem quando
se produz a imagem a preto e branco também pode interferir em todo o processo,
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 129
δ Nδ (G)
64 96 1,9823 1,2041
Figura 2.16. Número de caixas que intersectam a folha (Nδ (G)) em função
do comprimento (em pixels) do lado da caixa (δ).
de pontos representados.
log Nδ (G)
zero, de . Tudo isto indica que este método é, apesar de muito prático e fácil
− log δ
de utilizar, também bastante empı́rico.
Veja-se agora que relação existe entre as dimensões de caixas de dois conjuntos
metricamente equivalentes.
Teorema 16. Sejam (X1 , d1 ) e (X2 , d2 ) dois espaços métricos equivalentes. Seja
h : X1 → X2 a transformação que providencia a equivalência dos espaços. Seja A1
um elemento de H(X1 ) com dimensão de caixas D. Então, A2 = h(A1 ) também tem
dimensão de caixas igual a D.
O Teorema anterior permite-nos concluir que dois objectos fractais que resultam um
do outro por uma “distorção simples” têm a mesma dimensão de caixas. Além disso,
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 131
uma aplicação bi-Lipschitz entre dois conjuntos garante que estes tenham a mesma
dimensão de caixas, tal como acontecia para a dimensão de Hausdorff (Proposição 31,
página 103).
Exemplo 44. O Conjunto de Cantor que se constrói tendo como ponto de partida
o intervalo [0; 1] ou o Conjunto de Cantor que se obtém da mesma forma mas iniciando
com o intervalo [0; 3] têm ambos a mesma dimensão de caixas.
Considerem-se os espaços métricos (X1 , d1 ) e (X2 , d2 ) em que X1 = [0, 1], X2 =
[0, 3] e d1 e d2 são ambas a métrica euclidiana. Considere-se também a aplicação
h : [0, 1] → [0, 3] tal que h(x) = 3x que é invertı́vel. Defina-se em [0, 1] a métrica d˜1 tal
que d˜1 (x, y) = d2 (h(x), h(y)), para quaisquer dois elementos x e y de X1 . Tem-se
e também
1˜ 1 1
d1 (x, y) = |h(x) − h(y)| = |3x − 3y| = |3x − 3y| = |x − y| = d1 (x, y);
3 3 3
isto é,
1˜
d1 (x, y) ≤ d(x, y) ≤ d˜1 (x, y), ∀x, y ∈ [0, 1].
3
Portanto, d1 e d˜1 são métricas equivalentes em [0, 1] e ([0, 1], d1 ) e ([0, 3], d2 ) são
espaços métricos equivalentes (ver Definição 48 e Definição 49 na página 102).
Se A1 for o Conjunto de Cantor em [0, 1] e A2 o Conjunto de Cantor em [0, 3],
tem-se A1 ∈ H([0, 1]), A2 ∈ H([0, 3]) e A2 = h(A1 ); pelo Teorema 16 ambos terão a
mesma dimensão de caixas.
N
|sn |D = 1, então se o SFI é total-
P
n ∈ {1, 2, . . . N } e D ∈ [0, m], a única solução de
n=1
mente desconexo ou justaposto (isto é, para quaisquer i, j ∈ {1, 2, . . . , N }, wi (F ) e
wj (F ) “tocam-se” mas não se sobrepõem), vem que a dimensão de Hausdorff (dimH F ) e
a dimensão de caixas (dimB F ) do fractal F são iguais e tem-se dimH F = dimB F = D.
Se existir sobreposição no SFI, então dimB F ≤ D.
Um exemplo de aplicação deste resultado foi já apresentado no Exemplo 32, página
98, em que uma parte foi resolvida através de um método heurı́stico. De seguida,
apresentam-se mais exemplos da sua aplicação a fractais definidos por sistemas de
funções iteradas em que a imagem produzida por cada uma das contracções não se
sobrepõe a nenhuma das imagens produzidas pelas restantes. Nesses casos, a dimensão
de Hausdorff é igual à dimensão de caixas.
Exemplo 45. Seja F o fractal cujos primeiros estádios de construção estão repre-
sentados na Figura 2.18. Este fractal pode ser definido por um SFI constituı́do por
de contracção diferentes.
1
cinco contracções, uma delas de factor de contracção 2
e as restantes de factor de con-
tracção 41 . O Método Heurı́stico diz que a dimensão fractal (quer de Hausdorff, quer
s s
1 1
de caixas) deste conjunto é a solução de 4 + = 1. Pode obter-se a solução
4 2
desta equação quer algebricamente, quer graficamente.
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 133
s
1
Resolução algébrica com a mudança de variável y = :
2
s 2 s
1 1
4 + −1=0
2 2
⇔4y 2 + y − 1 = 0
√
1 ± 17
⇔y =
8
√ ! √
−1 + 17
⇒s = − log2 = − log2 17 − 1 + 3 ≈ 1, 357.
8
s s
1 1
Resolução gráfica: Representam-se graficamente as funções f (s) = 4 +
4 2
e g(s) = 1. O valor pretendido corresponde à abcissa do ponto de intersecção entre os
gráficos destas duas funções; veja-se o gráfico na Figura 2.19.
Exemplo 46. O Triângulo de Sierpinski pode ser definido por um SFI constituı́do
1
por 3 contracções de factor de contracção (veja-se o Exemplo 9, página 37 do Capı́tulo
2
1). As primeiras iteradas desse SFI estão também representadas na Figura 2.21.
Quando o SFI é constituı́do por N contracções que não se sobreponham, todas com
factor de contracção igual a r, a dimensão do fractal é o valor D tal que N rD = 1, isto
D
1 log N
é, N = ou então, D = . Mas este valor para a dimensão só faz sentido
r 1
log
r
no caso de fractais com auto-semelhança exacta em que as várias partes que o compõem
são cópias de si mesmo, todas elas à mesma escala. Esta definição de dimensão só se
aplica, portanto, a uma pequena classe de conjuntos estritamente auto-semelhantes.
O número obtido desta forma é por vezes chamado de dimensão de semelhança do
conjunto.
Exemplo 47. No caso da Curva de Peano já apresentada no Exemplo 13, página
40 do Capı́tulo 1, utilizam-se nove contracções (N = 9) com factor de redução igual
a 1/3 (r = 1/3). Então D = log9/log3 = 2. Este é um exemplo interessante por se
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 135
tratar de uma curva no plano (em R2 ) com dimensão 2. O ponto fixo do SFI que a
define é uma curva que passa por todos os pontos do interior de um quadrado.
Exemplo 48. Este mesmo processo pode servir para verificar que imagens com
dimensão euclidiana têm dimensão fractal com igual valor. Por exemplo, um segmento
de recta é feito de quatro cópias de si mesmo a uma escala de 1/4. O segmento tem
log 4
dimensão log 14
= 1. Um quadrado é composto de quatro cópias de si mesmo a uma
1 log 4
escala de 2
e tem dimensão log 12
= 2.
Exemplo 49. A Curva de Koch cuja dimensão fractal já foi calculada no Exemplo
1
40 na página 122 é constituı́da por 4 cópias de si mesma a uma escala de . Tem
3
log 4
dimensão ≈ 1, 286.
log 3
Esta curva tem algumas propriedades interessantes (tais como não ter derivada em
nenhum dos seus pontos e ter comprimento infinito) que serão utilizadas no Capı́tulo
4 em propostas de actividades para realizar com os alunos na aula de Matemática.
Exemplo 50. As curvas cujas primeiras iteradas estão representadas na Figura 2.22
constroem-se de uma forma idêntica à Curva de Koch, variando o factor de redução
de cada um dos segmentos relativamente ao segmento inicial e, automaticamente, o
ângulo entre estes segmentos. Ambas são definidas por SFI’s constituı́dos por quatro
136 2. A DIMENSÃO FRACTAL
9
contracções de igual factor de contracção; no primeiro caso o factor de contracção é 20
e no segundo é 21 .
...
...
Figura 2.22. Primeiras iteradas da construção de duas curvas com processo
de construção idêntico à Curva de Koch.
log 4 log 4
A dimensão da primeira curva é 20 ≈ 1, 736 e a dimensão da segunda é = 2.
log 9 log 2
Exemplo 52. O Conjunto de Cantor também pode ser visto como compreendendo
quatro cópias de si mesmo a uma escala de 1/9. Com base nisso pode calcular-se a sua
log 4 log 2
dimensão da seguinte forma: D = = ≈ 0, 631. O valor que se obtém é o
log 1/9 log 3
3. DEFINIÇÕES ALTERNATIVAS DE DIMENSÃO 137
mesmo que já se tinha obtido por outros métodos, como é o caso do cálculo efectuado
no Exemplo 32.
CAPı́TULO 3
139
140 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL 141
Em cada campo da ciência os conceitos de geometria vão sendo adaptados às ne-
cessidades do que se estuda (morfologia, espaço de 4 dimensões, textura, etc.) sendo
frequentemente utilizados de forma intuitiva. Durante séculos, a geometria euclideana
serviu de base para a modelação e para a compreensão da geometria da Natureza. Com
o aparecimento da geometria fractal nos anos ’70 do século XX, pela mão de Mandel-
brot, que escreveu artigos que a relacionam com a geometria de fenómenos observados
em diversas áreas da ciência, o conceito de fractal acabou por captar a atenção de cien-
tistas de muitos campos diferentes e hoje aparecem diariamente artigos sobre fractais
aplicados nos mais diversos contextos .
A geometria fractal pode ser utilizada para modelar objectos naturais desde a escala
atómica (por exemplo na dinâmica de fluı́dos) até ao tamanho do universo (como no
caso do estudo da formação de galáxias). Porém, há que ter em conta que em cada caso
a aplicação dos fractais está sempre limitada a um intervalo de escalas, fora do qual
a propriedade da auto-semelhança, seja ela exacta ou estatı́stica, já não se verifica.
Isso faz com que, em geral, não se possa aplicar directamente a teoria às situações
práticas; por exemplo, para o cálculo da dimensão de contagem de caixas, na prática,
não se pode considerar o diâmetro das caixas a tender para zero, porque isso deixa
de fazer sentido fora de um determinado intervalo de valores. Assim, a modelação
de objectos ou fenómenos naturais com a geometria fractal, é feita considerando uma
série de aproximações que dependerão do grau correcção que se pretende nos resultados
finais, tal como já se fazia antes com a geometria euclideana onde, por exemplo o
globo terrestre é, em muitos casos, estudado como se de uma esfera se tratasse. Há
também que ter em conta que nem tudo na Natureza é fractal, pelo que a geometria
euclideana continuará a ser útil e necessária. Por exemplo, a luz, constituı́da por
partı́culas elementares e sem subestruturas não é fractal, no entanto, um relâmpago
viaja segundo uma linha fractal. Porções de água parada, ou gotas de água não são
fractais, mas as ondas do oceano e as correntes e percursos dos rios são, muitas vezes,
fractais.
142 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
1. Fractais Naturais
a relação entre a geometria fractal do solo e a diversidade das suas micro-flora e micro-
fauna.
1.1.3. Estruturas de Plantas e de Fungos. Já foi medida a dimensão fractal do
contorno de folhas de várias espécies e pensa-se que, apesar desse valor variar bastante
dentro da mesma espécie, ele poderá vir a ser uma referência taxonómica.
Também já foi medida a dimensão fractal de sistemas de raı́zes através do método
de contagem de caixas e demonstrou-se que a dimensão fractal de um sistema de raı́zes
vai aumentando ao longo do tempo e varia conforme a espécie.
A geometria fractal da forragem de fungos foi estudada e concluiu-se que a dimensão
fractal varia entre as espécies e tende a ser maior quando há mais nutrientes disponı́veis.
Muitas plantas crescem de forma ramificada: o tronco subdivide-se em vários ramos
que, por sua vez, se subdividem em ramos mais estreitos e assim por diante. Muitas
vezes, uma parte da planta tem uma forma semelhante à planta completa.
http://www.flickr.com/photos/gripspix.)
Figura 3.2. Vegetais com estrutura fractal. Nestes dois casos é clara
a semelhança entre uma parte da planta e a planta inteira. (Imagens reti-
http://www.flickr.com/photos/87024394@N00).
sua vez se subdividem em tubos cada vez mais finos, e assim sucessivamente até se
atingirem os tubinhos mais fininhos do sistema que são os bronquı́olos, que vão dar
aos alvéolos. Uma análise cuidada aos pulmões revela que este possui vários nı́veis de
auto-semelhança e notou-se que esta estrutura fractal torna os pulmões mais tolerantes
a defeitos durante o crescimento.
http://library.thinkquest.org/26242/full/)
De forma semelhante, a subdivisão sucessiva pode também ser encontrada nos vasos
sanguı́neos. A aorta divide-se em artérias menores, que por sua vez se vão subdividindo
146 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
em vasos sanguı́neos mais estreitos até se chegar aos vasos capilares. O coração está
repleto de redes fractais: as coronárias, as artérias e as veias, as fibras que ligam as
válvulas à parede do coração, os músculos cardı́acos e o sistema His-Purkinje (que
é constituı́do pelas fibras através das quais viajam os impulsos eléctricos que fazem
contrair os ventrı́culos).
http://www.greenspine.ca/en/mGFP neuron2.html).
Há ainda a acrescentar que o corpo humano também apresenta dinâmicas fractais.
Por exemplo, o batimento cardı́aco de um coração saudável é caótico e não regular.
A representação gráfica de um batimento cardı́aco revela auto-semelhança em diversas
escalas de tempo.
O cálculo da dimensão fractal é utilizado para o diagnóstico de células tumorais. As
células doentes tendem a ser mais ramificadas e, por isso, terão uma dimensão fractal
maior que as células sãs.
A geometria fractal é também útil para caracterizar os padrões gerados por electro-
encefalogramas em estudos sobre o reconhecimento de odores familiares e em estudos
sobre os diversos estados do cérebro durante o sono.
1.1.5. O tamanho dos organismos e a sua fisiologia. A modelação da relação entre o
tamanho e a fisiologia (ritmo de metabolismo, velocidade de crescimento da população
da espécie, idade da primeira reprodução, duração do desenvolvimento do embrião,...)
de cada ser vivo só começou a produzir previsões de valores próximos aos obtidos
nas observações directas quando se entendeu que os mecanismos de distribuição de
148 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
Figura 3.7. Vista aérea de uma rede fluvial e fotografia de uma cascata; em
ambas as imagens são bem visı́veis estruturas ramificadas auto-semelhantes.
Os sitemas fluviais têm dimensão fractal [4, pág. 5], havendo uma relação entre o
comprimento do braço principal e a área drenada. [4, pág. 209].
O movimento das ondas do mar sendo muito interessante de observar, é também
vital para diversas actividades. O ciclo de vida de alguma fauna e flora marinha
dependem dos ciclos das marés. Por outro lado, uma boa parte das perdas de vidas
152 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
de http://www.flickr.com/photos/51656349@N00).
fractais para estudar as fissuras causadas por tremores de terra[9]. As montanhas são
construı́das por forças tectónicas e são esculpidas pela água e pelo vento que actuam de
formas semelhantes, em diversas escalas. Apresentam formas fractais e podem inclusivé
ser imitadas por algoritmos matemáticos e software baseado na geometria fractal.
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Nature/MountainsReal/MountainsReal.html).
http://www.flickr.com/photos/fernandafronza/407955174/ respectivamente).
que o cristal fosse perfeito com todos os átomos no seu devido lugar, isso seria apenas
em termos médios, já que cada átomo se encontra sempre em movimento térmico.
Portanto, o estado de qualquer sistema, por mais perfeito que seja, tem elementos
aleatórios, por isso, muitos fenómenos ou objectos naturais terão de ser modelados
através de fractais aleatórios (que não foram estudados neste trabalho).
Os percursos aleatórios, ou movimentos brownianos têm grande importância na
fı́sica, na quı́mica e na biologia. O movimento errático de partı́culas microscópicas de
pólen é fı́sico, e não biológico, como se pensou inicialmente. Tudo está sujeito a flu-
tuações térmicas e moléculas, macromoléculas, vı́rus, partı́culas e outros componentes
do mundo natural estão todos em constante movimento, colidindo ao acaso devido à
energia térmica.
O movimento de uma partı́cula browniana visto pelo microscópio consiste aparen-
temente em passos dados numa direcção aleatória e com um comprimento que tem um
determinado valor caracterı́stico. O movimento de uma partı́cula num dado intervalo
de tempo é independente do seu movimento noutro intervalo de tempo. Aumentar a
resolução do microscópio e a resolução da escala de tempo apenas produz percursos
aleatórios semelhantes.
Muitas imagens atractivas e interessantes podem ser geradas usando teorias da
quı́mica e da fı́sica. Um exemplo disso é o processo de agregação por difusão limitada
(DLA) que descreve, entre outras coisas, a difusão e a agregação de iões de zinco numa
solução electrolı́tica nos eléctrodos e que produz estruturas do tipo das que estão na
Figura 3.12.
O modelo de agregação por difusão limitada conduz a estruturas que exibem au-
tosemelhança estatı́stica, constituı́das por aglomerados de partı́culas, arborescentes e
altamente ramificadas. Existem vários exemplos na Fı́sica e na Biologia que correspon-
dem a modelos de crescimento deste tipo: solidificação dendrı́tica, colónias de bactérias,
sistema vascular da retina, etc. E é também compatı́vel com a produção de relâmpagos,
a cristalização de lava, formação de cristais como os dos flocos de neve e crescimento
156 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
Figura 3.12. Imagens deste tipo são obtidas nos processos de Agregação
por Difusão Limitada, e também em colónias de bactérias em crescimento.
de espaços urbanos, entre outros fenómenos. O uso da geometria fractal para o estudo
de fenómenos como a cinética da agregação, da congelação e da sedimentação ajuda a
racionalizar grandes quantidades de resultados experimentais. [4, pág. 3-4]
Quanto à deslocação de um fluido num meio poroso (fenómeno designado por per-
colação) sabe-se que, quando o fluido é de baixa viscosidade ou é um gás, a sua des-
locação é matematicamente idêntica à cinética do processo de agregação.
Os engenheiros estudam o comportamento fluido imprevisı́vel da água ou do gás
quando injectado em reservatórios de petróleo e também esse fenómeno produz padrões
fractais.
A superfı́cie de um pó e de outros meios porosos é fractal [4, pág. 5]. A superfı́cie
especı́fica do modelo depende do tamanho das moléculas usadas. A porosidade mi-
croscópica de certas substâncias pode também ser fractal [4, pág. 237-239].
1. FRACTAIS NATURAIS 157
Figura 3.13. Há diversos tipos de flocos de neve. Alguns têm estruturas
fractais. (Imagens retiradas de http://www.its.caltech.edu/ atomic/snowcrystals/).
http://library.thinkquest.org/26242/full/).
criar cenários virtuais. A geometria fractal permite simular imagens naturais não só
de paisagens, como também de núvens e de plantas (veja-se o Exemplo 14 na página
42).
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/.)
na verdade se dispõe apenas de preto e branco. Uma delas consiste em varrer a imagem
por linhas, colocando em cada pixel uma quantidade de tinta apropriada ao tom cor-
respondente da escala de cinzentos. Mas este processo produz, habitualmente, imagens
de muito baixa qualidade, em que se nota esse varrido por linhas. A curva de Hilbert
é conhecida desde 1890 e é, portanto, muito anterior ao inı́cio do desenvolvimento da
geometria fractal por Benoı̂t Mandelbrot, mas há aplicações técnicas desta curva no
processamento de imagens digitais. Se se aplicar um algoritmo em que esse varrido dos
pixeis seja feito segundo a curva de Hilbert, conseguem-se imagens de melhor qualidade
em que a direcção do varrido dos pixels não se nota (veja-se a Figura 3.16).
A compressão de dados informáticos também pode ser feita através de métodos
que envolvem a geometria fractal. Uma imagem do Conjunto de Mandelbrot (ver
página 163 e seguintes e Figura 3.20 na página 165), em formato GIF, ocupando todo
o écan, pode ocupar 35 kilobytes e pode ser armazenada segundo a fórmula que a gera
- z = z 2 + c - que não ocupa mais do que 7 bytes. Neste caso, tem-se uma compressão
de 99.98%. Da mesma forma, para outra imagem qualquer, podem procurar-se funções
que produzam, cada uma delas, uma parte da imagem dada. Para uma imagem que não
seja fractal poderão ser necessárias centenas de funções dessas; no entanto isso pode,
ainda assim, ocupar menos espaço que mihares de pixels coloridos. Michael Barnsley
foi quem primeiro sistematizou os fractais gerados por sistemas de funções iteradas e
quem lançou a base da compressão de imagens através da geometria fractal, utilizando
os SFI. Para além de se conseguirem valores muito bons de compressão, o importante
é que essa compressão é feita sem perdas, isto é, ao recuperar a imagem ela está igual
e, além disso, pode ainda usar-se o SFI para gerar mais detalhe e conseguir imagens
de alta-resolução.
A estutura da Internet é constituı́da por um número relativamente pequeno de
grandes nós que se ligam a um número maior de nós de tamanho médio que, por sua
vez se ligam a uma imensidão de pequenos nós. É uma estrutura com caracterı́sticas
fractais. A modelação do tráfego na internet é um ingrediente chave na planificação
2. FRACTAIS CRIADOS PELO HOMEM 161
conjunto menor de tons (ao centro) e com dithering baseado só em dois tons
mostra-se como é feito o varrido dos pixeis seguindo a curva de Hilbert. (As
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/ManuFractals/FractalAntennas/FractalAntennas.html).
2. FRACTAIS CRIADOS PELO HOMEM 163
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/ManuFractals/FractalFiberoptics/FractalFiberoptics.html).
Na indústria são usados misturadores com estruturas fractais que permitem a mis-
tura de fluı́dos com um menor grau de turbulência que os misturadores “normais” e
ainda com consumo inferior de energia. Com este tipo de misturadores pode conseguir-
se um maior controlo das reacções entre os vários fluı́dos quando se misturam, já que
o fluido injectado sai de todos os pontos de injecção ao mesmo tempo, porque todos
estão à mesma distância da fonte (ver Figura 3.19). Salienta-se ainda que a área de
interface entre os fluidos é aumentada significativamente em relação aos injectores de
fluidos com formas geométricas tradicionais.
Há vários métodos de análise de texturas baseados na geometria fractal. Isto pode
ter várias aplicações e um exemplo é a utilização destes métodos para a detecção de
falhas em tecidos na indústria têxtil.
Imagens digitais de rara beleza e extremamente complexas são criadas segundo o
mesmo processo com que é desenhado o Conjunto de Mandelbrot .
164 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
http://www.arifractal.com/ari%20engineered%20fluid%20transporting%20fractals.pdf).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto de Mandelbrot).
2.2. Arte. Tal como já sugere o último exemplo de aplicação dos fractais men-
cionado na secção anterior, eles também estão presentes na arte. Ou porque o ob-
jecto artı́stico é construı́do segundo processos da geometria fractal, ou porque esta é
útil para investigar acerca das caracterı́sticas desse objecto. Curiosamente, isso não é
válido apenas para imagens ou objectos tridimensionais, como esculturas ou edifı́cios
arquitectónicos, como à partida se poderia pensar; os fractais estão também presentes
na música!
2.2.1. Música. A relação entre a música e a matemática há muito que é conhecida
e as ligações entre as duas disciplinas são de vária ordem - simetrias entre trechos da
166 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
html.rincondelvago.com/fractales-y-caos.html e de http://www.faemalia.net/Fractals/Sterling-v1.7-
Part1/).
dı́spares nas pessoas, entre o apreciar muito e o detestar ao ponto de se sentir mal
fisicamente ao ouvi-la.
Existe uma variedade considerável de software disponı́vel na internet para com-
posição de música fractal e alguns dos programas transformam imagens fractais, como
o Conjunto de Mandelbrot (ver Figura 3.21 na página 166), em música. Fazem isso
associando a cor de cada pixel a uma nota. Percorrendo a imagem linha a linha obtém-
se uma melodia. Outro método consiste em criar as notas com base na localização do
“pixel” no monitor do computador, na ordem pela qual o fractal foi criado. Estes são
apenas dois dos métodos possı́veis para a transformação de uma imagem fractal em
música fractal, existindo ainda outros.
Existem já alguns músicos profissionais a usar música fractal, como é exemplo a
”New World Chaos”, uma banda de música fractal, ou a ”Omar´s Basement”, uma
banda de jazz, que em 1995 actuou na Austrália com uma música de 4 minutos em
que a bateria, o baixo, a guitarra e o saxofone foram tocados por pessoas e o piano
sintetizado foi tocado por um computador que tinha um programa fractal. Portanto,
quando menos se esperar, a música fractal poderá ainda vir a desempenhar um papel
na sociedade, idêntico ao de outros estilos musicais. Um dos compositores que mais se
tem dedicado a este tipo de música é Phil Thompson, hoje o mais conceituado autor
de música fractal.
Por outro lado, a análise de partituras de música não fractal, isto é, não produzida
da forma supracitada, pode, por vezes, também revelar auto-semelhança no processo
de composição. Há quem encontre aspectos da geometria fractal nos trabalhos de
compositores de música clássica e barroca.
Uma das experiências possı́veis consiste em retirar o terço central da composição
e depois retirar o terço central de cada um dos dois trechos restantes, e assim suces-
sivamente, repetindo isto diversas vezes, à semelhança da construção do Conjunto de
Cantor (ver Exemplo 11 na página 38) e de seguida verificar se o que sobra ainda soa de
forma idêntica à composição inicial. Isso acontece realmente em composições de Bach,
168 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
Beethoven e Brahms mas não em obras de outros compositores menos complexos. Isto
pode sugerir que a robustez de uma composição perante um processo destes possa ser
um indicador de sofisticação musical.
Já foram construı́dos tambores com formas fractais e analisados os movimentos da
sua superfı́cie quando se bate num ponto. Verificou-se que, ao contrário dos tambores
normais em que toda a superfı́cie vibra, nestes consegue-se que apenas vibre uma parte
da sua superfı́cie. Em consequência disto, foi sugerido que a razão de a costa marı́tima
ser fractal (veja-se a página 152) é que essa é a melhor forma para travar as ondas e a
sua acção erosiva, de modo que a forma da costa fique estabilizada, sem que essa acção
consiga provocar alterações significativas.
Um projecto, intitulado “A Música do coração” consiste em transformar os da-
dos obtidos em gravações digitais dos sinais elécticos do coração humano (através de
electrocardiogramas - ECG) em música. Os dados obtidos no ECG são convertidos
em notas musicais e a seguir o compositor acrescenta harmonia e ritmo para tornar
a música agradável. Como já foi dito antes, um coração saudável apresenta um bati-
mento cardı́aco irregular e, por isso, a partir do método usado neste projeccto, produz
músicas agradáveis e melodias interessantes, enquanto que um coração doente cria
melodias nonótonas.
2.2.2. Pintura, Fotografia. Historiadores de arte usam fractais para datar pinturas
chinesas antigas.[9]
Estruturas auto-semelhantes, com caracterı́sticas fractais, estão também patentes
em alguns padrões decorativos africanos e islâmicos. A técnica de pintura de alguns
pintores também produz resultados com caraterı́sticas fractais. É o caso de alguns
trabalhos de Jackson Polloc (ver Figura 3.22).
Podem criar-se padrões fractais muito interessantes com tinta comprimida entre
duas folhas de papel que depois se descolam (ver Figura 3.23). Ao variar a viscosidade
da tinta que se usa e a forma como se comprimem e descolam as folhas, obtêm-se
padrões diferentes.
2. FRACTAIS CRIADOS PELO HOMEM 169
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/pollock/).
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/Decalcomania/Decalcomania.html).
http://www.rpi.edu/∼eglash/eglash.dir/afractal/afarch.htm).
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Architecture/AfricanArch/Kotoko1.html).
Mandelbrot escreveu muitos artigos que lidam com a geometria de fenómenos ob-
servados em diversas áreas da ciência. Ele estudou a geometria fractal das mudanças de
preço e da distribuição de salários, da estatı́stica dos erros em mensagens telefónicas,
da frequência de palavras em textos escritos e de muitos outros objectos matemáticos
noutros assuntos.[4]
comportamento dos ı́ndices ou dos preços de acções na bolsa, permitem visualizar essa
teoria.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro da Batalha).
várias ruas, nas quais vivem diversas famı́lias, compostas por indivı́duos. Isto poderá
representar relacionamentos funcionais a diversos nı́veis de escala.
Nas estatı́sticas do tamanho e frequência de guerras foram também encontradas
diversas escalas sugerindo uma possı́vel aplicação da geometria fractal. Um modelo
proposto para estudar a interacção entre os paı́ses e as possibilidades de guerra e
alastramento da mesma entre eles, é baseado no modelo aplicado ao estudo dos fogos
florestais, em que as árvores secas ou de mais fácil combustão são substituı́das pelos
paı́ses nos quais uma pequena instabilidade pode levá-lo a entrar em guerra.
de http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Architecture/daVinci/daVinci.html).
uma organização multidisciplinar internacional que pretende reunir os esforços dos que
se interessam e investigam as possı́veis aplicações da teoria de sistemas dinâmicos, da
auto-organização, redes neuronais, fractais, autómatos celulares, caos e outros tópicos
relacionados. A organização tem membros das disciplinas de psicologia, ciências soci-
ais, reabilitação, biologia, fisiologia, neurociência, matemática, filosofia, fı́sica, ciências
computacionais, economia, gestão, ciências polı́ticas, engenharia e artes. Exemplos de
investigações levadas a cabo por membros desta organização são: a aplicação de Siste-
mas de Funções Iteradas para modelar a memória visual e a comparação do formalismo
dos SFI com a dinâmica de tratamento psicoanalı́tico de um paciente cujos resultados
sugerem aspectos fractais do ego.
da história ocorrem, isto é, cada vez que a personagem tem que escolher entre várias
alternativas, ele escolhe todas, criando diversos futuros e múltiplos tempos, que por
sua vez evoluem e também ramificam. Os fractais também aparecem, por vezes, como
objectos explı́citos na literatura. Exemplos disso são um castelo com um lago com a
forma do Conjunto de Mandelbrot (ver Figura 3.20 na página 165), ou descobertas
matemáticas (entre as quais aspectos da geometria fractal) que vão sendo feitas pela
personagem principal, ou ainda uma experiência psicológica na qual a observação de
imagens fractais altera os arquétipos da percepção, abrindo a visão a fantásticos mundos
novos.
Foi proposto um modelo de medição da complexidade de um texto a partir da
medição da dimensão fractal de um diagrama efectuado com base em determinadas
regras. Esse modelo sugere que quanto maior for a dimensão, maior é a complexidade
do texto. Um outro projecto envolve a desconstrução de um poema. Retira-se a terça
parte do meio. Primeiro retira-se a terça parte das estâncias, depois das linhas, a seguir
do conjunto de palavras de cada linha. Em alguns casos, o resultado final ainda se lê
bem e preserva algum do sentido global, sugerindo que esses poemas possuem uma
estrutura fractal através da repetição de ideias a diversas escalas.
A repetição é um processo fundamental na poesia e os padrões de repetição há
muito que vêm sendo estudados. Foi descoberto uma nova forma de repetição em
determinados poemas, em que a mesma palavra (dita raiz do poema) aparece com um
padrão de repetição na estrutura global do poema, idêntico ao formado pelas várias
componentes de uma determinada iteração do Conjunto de Cantor (ver Exemplo 11
na página 38).
No final do séc. XIX, quando Poincaré tentava resolver as equações que lhe per-
mitiam descrever o movimento de três corpos em interacção gravı́tica percebeu que
o problema não tinha soluções regulares e periódicas como, à partida, tinha suposto.
Afinal, o comportamento de um corpo sob a influência gravı́tica de outros dois corpos
176 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
muito mais pesados (por exemplo um asteróide entre o campo gravı́tico do Sol e de
Júpiter) era irregular, e essencialmente imprevisı́vel, pois quaisquer duas órbitas com
condições iniciais arbitrariamente próximas resultavam, no futuro, em órbitas muito
diferentes. Estes foram os primeiros passos para o conhecimento do caos determinista,
que não tiveram grandes consequências imediatas devido à falta de matemática e de
meios técnicos suficientes na época.
Só no inı́cio dos anos 60 do século XX é que Lorenz, ao calcular com recurso a
um computador, soluções aproximadas para um sistema de equações que modela a
convexão na atmosfera, se deparou com o mesmo fenómeno de divergência de soluções
inicialmente muito próximas que Poincaré tinha descoberto. Este fenómeno, a que se dá
o nome de sensibilidade às condições iniciais, deu origem, neste contexto, à metáfora do
efeito borboleta, já referida na secção 3.2. A partir dos seus cálculos, Lorenz desenhou
o primeiro esboço do atractor caótico que hoje é conhecido com o seu nome.
Um sistema é formado por um conjunto de objectos que se relacionam entre si. Podem
considerar-se dois tipos de sistemas: os lineares e os não-lineares. No primeiro tipo, a
resposta a um distúrbio é directamente proporcional à intensidade deste; no segundo,
a resposta obtida não é necessariamente proporcional à intensidade do distúrbio. Em
sistemas não lineares e com feedback, inclusive em sistemas bastante simples, pode
aparecer o caos.
A teoria do caos estuda o comportamento aleatório e imprevisı́vel dos sistemas e
sustenta que os comportamentos casuais (aleatórios) também são governados por leis.
O comportamento do sistema dependerá da sua situação “de inı́cio”. Se se alteram
essas condições iniciais, ainda que as alterações sejam pequenas, o sistema poderá
comportar-se de forma muito diferente.
Bons exemplos de sistemas caóticos são o crescimento de lavouras e a formação de
tempestades, onde qualquer pequena alteração da direcção ou da velocidade dos ventos,
por exemplo, pode provocar grandes mudanças ao fim de algum tempo. Outro Exemplo
é a formação de uma nuvem no céu, que pode ser desencadeada e desenvolver-se com
base numa grande variedade de factores tais como o calor, o frio, a evaporação da água,
o vento, o clima, condições do Sol, os eventos sobre a superfı́cie e inúmeros outros. Não é
por acaso que os meteorologistas se enganam com frequência nas previsões atmosféricas.
Outros fenómenos, para além dos meteorológicos, podem ser entendidos à luz da teoria
do caos: o sistema solar (que era tido como extremamente ordenado), a evolução de
populações, o escoamento de fluidos, as reacções quı́micas, as variações no mercado
financeiro, os movimentos de placas tectónicas, etc. O trânsito é outro exemplo. Basta
um pequeno acidente para provocar grandes alterações no fluxo das viaturas pelas
artérias de uma cidade.
Os conjuntos invariantes de muitos sistemas dinâmicos não lineares, em particular
os chamados “atractores estranhos”, têm estruturas detalhadas em todas as escalas de
magnificação. É esta a ligação dos fractais à teoria do caos. Há uma ordem fractal por
detrás de fenómenos aparentemente caóticos. Assim, a teoria do caos não é uma teoria
178 3. APLICAÇÕES DA GEOMETRIA FRACTAL
de desordem mas busca, no aparente acaso, uma ordem intrı́nseca determinada por
leis precisas. Nas últimas décadas, depois de um árduo trabalho, matemáticos e fı́sicos
elaboraram teorias para explicar o caos. Hoje sabe-se muito a respeito de fenómenos
imprevisı́veis que, ao serem compreendidos, passam a ser um pouco mais previsı́veis.
CAPı́TULO 4
179
180 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA 181
tamanho do pixel. Se o software permitir ampliações, haverá uma altura em que só se
conseguirá ver o detalhe e não o fractal completo. Por outro lado, a partir de certa
iteração, é impossı́vel notar a diferença entre duas iterações. Por exemplo na curva de
Koch, é impossı́vel notar a diferença entre a décima e a vigésima iteradas; no entanto,
essa diferença existe e é substancial.
Há ainda a salientar o facto de nunca nenhuma das imagens obtidas numa iteração
de construção de um fractal, ser auto-semelhante. Apenas o fractal o é. Será sempre
necessário imaginar as iterações que faltam para identificar, a partir da imagem de uma
iteração, as várias reduções que o fractal contém de si mesmo.
Porquê trabalhar com Fractais com alunos do Ensino Básico e Secundário? Em
primeiro lugar, o facto (já referido no Capı́tulo 3) de a forma e dimensão fractais
estarem muito presentes na Natureza deverá ser, por si só, um factor de motivação para
professores e alunos. A propriedade da auto-semelhança é facilmente entendida por
uma criança se visualizada, por exemplo, na folha de um feto ou na estrutura de uma
couve-flor. Por outro lado, a aplicabilidade do estudo dos fractais num número cada
vez mais crescente de áreas da ciência e da tecnologia (ver Capı́tulo 3) torna admirável
o facto de não haver referências obrigatórias aos fractais nos programas oficiais de
Matemática do sistema de ensino português. A necessidade do uso do computador para
a execução de algumas das propostas de trabalho é, hoje em dia, um problema menor,
visto que quase todas as escolas de Portugal vão estando suficientemente equipadas
com material informático. A utilização da tecnologia pode também ser outro factor
de motivação para alguns alunos estudarem e explorarem estas formas geométricas e
por outro, uma eventual entrada para o mundo da programação e da exploração de
software de representação de imagens fractais. É ainda de salientar que a quantidade
de conceitos matemáticos que podem ser abordados ou trabalhados quando se realizam
actividades de exploração de fractais pode ser vastı́ssima, e será tanto maior quanto
mais avançado for o nı́vel dos alunos. Vários são os conceitos matemáticos que o aluno
pode adquirir, compreender ou aplicar ao realizar uma tarefa que envolva a construção
4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA 183
ou a exploração de fractais. Esses conceitos podem ser abordados de uma forma mais
ou menos objectiva, mais ou menos evidente, consoante a tarefa estiver dirigida e
consoante a percepção que o aluno vai tendo das operações e das ideias envolvidas.
Os fractais e a geometria fractal, são temas que suscitam o interesse de quem os
explora pelas inúmeras surpresas que escondem. Ao proporcionar uma visão dife-
rente da Matemática, a geometria fractal permite suavizar a abordagem dos conteúdos
programáticos, permitindo também a conexão entre saberes que, por vezes, são consi-
derados pelos alunos como apartados e sem qualquer tipo de correlação possı́vel. Por
exemplo, numa actividade sobre sistemas de funções iteradas podem ser trabalhados os
conceitos de vector, redução, razão de semelhança, transformações no plano (rotação,
simetria, translação), reunião de conjuntos, coordenadas de pontos, função, etc...
Não está previsto nos programas de Matemática portugueses o tema da geome-
tria fractal como um tópico de ensino obrigatório e muito menos lhe está reservado
um perı́odo de tempo para a sua exploração. O único programa que contém uma
referência aos fractais é o de Matemática A para o 11o ano que, no Tema III, Su-
cessões Reais, sugere o estudo da Curva de Koch ou de um Poliedro Fractal como um
problema sobre limites com progressões. Nos programas curriculares de Matemática
para o Ensino Básico e para o Ensino Secundário, encontram-se conteúdos como auto-
semelhança, forma, dimensão, polı́gonos e sólidos geométricos, perı́metros, áreas e volu-
mes, funções, transformações geométricas, semelhança de figuras, sucessões, operações
com conjuntos, composição de funções, função logarı́tmica e limites. Todos eles podem
ser adquiridos, compreendidos e/ou aplicados pelo aluno, através da realização de uma
actividade que envolva a exploração e/ou a construção de fractais.
Em projectos mais completos sobre fractais, a utilização de software torna-se ine-
vitável e a programação será um tópico que, no mı́nimo, terá de ser abordado e discu-
tido. Nas actividades que serão propostas, a programação aparecerá sempre como uma
opção adicional de exploração; mas em trabalhos realizados na modalidade de projecto,
onde o tempo e os materiais disponı́veis o permitirem, ela fará todo o sentido.
184 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Muitas e variadas serão, por certo, as competências que podem ser desenvolvidas
pelos alunos que explorem os fractais. A aquisição ou o desenvolvimento de com-
petências diversas dependerá das actividades que o aluno realizar e de como ele for
guiado através delas, de como estas estiverem construı́das, de como ele for motivado
para elas, das ferramentas que utilizar e ainda da apetência e do conhecimento prévio
que trouxer consigo.
Não será sugerido um tempo para a realização de cada uma das actividades porque
cada uma poderá ser explorada de diversas formas, consoante o contexto em que for
realizada, o nı́vel de preparação dos alunos em causa e os objectivos pretendidos com
a realização da actividade.
Na secção de Anexos (página 299 e seguintes) estão os materiais necessários à
resolução das actividades e no CD incluı́do neste trabalho está o software de distribuição
gratuita utilizado em algumas das actividades.
A seguir, neste capı́tulo, explica-se o tipo de actividades que irão ser apresentadas,
depois é feito um resumo de alguns conteúdos matemáticos que poderão ser trabalhados
e de algumas das competências que poderão ser desenvolvidas com a resolução de
actividades envolvendo fractais; seguem-se algumas considerações sobre a utilização de
software e, finalmente, é apresentado um conjunto de várias propostas de trabalho para
realizar com os alunos.
1. Tipos de Actividades
Em consonância com o suporte teórico deste trabalho apresentado nos dois primeiros
capı́tulos, não se propõem actividades sobre fractais definidos no conjunto dos números
complexos (como o Conjunto de Mandelbrot) nem sobre fractais aleatórios, nem sobre
a relação dos fractais com a Teoria do Caos. Em contrapartida, várias são as propostas
para trabalhar o conceito de sistema de funções iteradas e de dimensão fractal, para
além do próprio conceito de fractal.
As actividades propostas mais à frente incluem:
1. TIPOS DE ACTIVIDADES 185
Nas Tabelas 4.1 e 4.2 apresentam-se alguns dos conteúdos que podem ser abordados,
explorados e/ou aplicados em cada uma das actividades propostas. Em alguns casos, a
conexão entre a Proposta e os conteúdos pode não decorrer imediatamente da resolução
da actividade, mas de uma exploração mais alargada dos conceitos que estão implı́citos
ou das sugestões que estão no final de cada Proposta. Outros conteúdos, além dos
indicados, poderão também estar implı́citos em cada uma das actividades propostas.
Número da Proposta
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Transformações geométricas
redução, contracção)
Semelhança de figuras x x x x x x x x
Razão de semelhança x x x x x x x
Padrões numéricos x x x x x x
Padrões geométricos x x x x x x
Propriedades de polı́gonos x x x x
e de sólidos geométricos
Conceitos matemáticos
Área x x
Volume x
Perı́metro x x
Ângulos x
Propriedades de ângulos x
Razões trigonométricas
Teorema de Pitágoras x
Representação gráfica x x x x x x
Declive x
Função afim x x x x x x x x
Função exponencial x x x x x x
Conceito de limite x x x x x x x
Conceito de infinito x x x x x
Tabela 4.1. Conceitos matemáticos implı́citos em cada uma das Propostas.
188 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Número da Proposta
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Auto-semelhança x x x x x x x x x x x
Vectores x x x
Sucessões x x x x x x x
sucessão limitada,
Iteração de funções x x x x
Triângulo de Pascal x
Binómio de Newton x
Critérios de Divisibilidade x
Progressão aritmética/geométrica x x x x
Escala x
Regressão Linear x
Tabela 4.2. Conceitos matemáticos implı́citos em cada uma das Propostas.
matemático e, a partir daı́, ajudar a que cresça a confiança pessoal do aluno para se
empenhar em actividades intelectuais.
Sugere-se que uma parte das actividades propostas sejam realizadas em grupos.
Essa metodologia de trabalho é uma das que mais fomentam a comunicação com os
outros. As ideias, as descobertas, os conceitos que poderão ser transmitidos oralmente,
por escrito (em linguagem corrente ou matemática) ou através de imagens, esquemas,
gráficos, etc., estarão a fomentar a capacidade de comunicação dos alunos. Tudo isto,
de uma forma ou de outra, poderá ser trabalhado no conjunto de actividades que
será apresentado. A resolução de algumas destas actividades permitem ainda ao aluno
3. COMPETÊNCIAS, CAPACIDADES E ATITUDES 189
O conhecimento das possı́veis aplicações dos fractais nas diversas áreas do conhe-
cimento poderá ajudar a desenvolver nos alunos a capacidade de usar a Matemática
como instrumento de interpretação do real e a promover o aprofundamento de uma
cultura cientı́fica, técnica e humanı́stica que constitua um suporte cognitivo e meto-
dológico para a vida futura, contribuindo também para uma atitude positiva face à
Ciência e para o desenvolvimento de cidadãos activos e participativos em áreas como
o ambiente, a saúde e a economia. A interdisciplinaridade revelada pela geometria
fractal é também um ponto de partida para a apreciação do contributo da Matemática
para a compreensão do mundo que nos rodeia e para a evolução da ciência e poderá
despertar no aluno a curiosidade e o gosto de aprender, de pesquisar e de investigar.
A diversidade de conexões entre diversos conceitos matemáticos que estará patente
em algumas das propostas, permitirá não só a ampliação do conhecimento da Ma-
temática, a aquisição e a consolidação de conceitos matemáticos, mas também poderá
contribuir para a compreensão da Matemática enquanto elo de coesão do pensamento
cientı́fico.
Os temas transversais do programa de matemática do ensino secundário estão todos
eles patentes, de alguma forma, nas actividades que se apresentarão neste capı́tulo. A
comunicação matemática, a lógica e o raciocı́nio matemático são essenciais em todas
elas; a aplicação e a modelação matemática aparecerá sempre que se descobrir geome-
tria fractal em objectos ou fenómenos e ainda na construção de fractais no plano e/ou
no espaço; a tecnologia foi necessária para o aparecimento e desenvolvimento desta
geometria e sê-lo-á também para a realização de uma boa parte das propostas; a ac-
tividade investigativa será um dos objectivos de algumas das propostas e, finalmente,
parte da história da matemática deverá ser também revelada aos alunos, ao ser-lhes
explicada a origem e o desenvolvimento da geometria fractal, a forma como esta se
imiscuiu em tantas áreas do conhecimento e ainda ao serem estudados exemplos de
fractais clássicos.
4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS COM SOFTWARE 191
Com alunos que não conhecem ainda o conceito de fractal, o professor deve começar
por fazer uma abordagem que os motive para o tema que deve passar pela comparação
da geometria fractal com a euclidiana, pela explicação do conceito de fractal e pela
demonstração da aplicabilidade da geometria fractal em contextos diversos. Depois
poderá propor-se aos alunos que descubram no meio em que vivem, objectos que possam
ser representados por cada uma das geometrias: a euclidiana e a fractal.
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 195
O conceito de dimensão fractal também deverá ser abordado. Com os alunos mais
jovens essa noção deverá ser introduzida de uma forma intuitiva para que possam
conseguir ordenar vários fractais segundo o valor da sua dimensão, consoante o seu
“grau de rugosidade”. Aos alunos do ensino secundário, sobretudo aos do 12o ano, pode
pedir-se-lhes o cálculo da dimensão fractal de fractais com auto-semelhança exacta, que
pode ser determinada por D=log(N)/log (1/r), sendo N o número de cópias que cada
iteração contém da iteração anterior e r a razão de semelhança entre cada uma dessas
cópias e a figura da iteração anterior.
Note-se que se fala em “dimensão fractal” sem especificar qual a definição a utilizar
(dimensão de Hausdorff, de contagem de caixas ou outra), porque no caso dos fractais
com auto-semelhança exacta os valores das definições mais utilizadas coincidem e com
alunos dos ensinos básico e secundário não valerá a pena aprofundar o conceito de
dimensão fractal mais do que isto.
As Propostas de actividades estão numeradas, não significando isso uma ordem
obrigatória para a sua resolução. Também não se pretende que todas sejam realizadas
pelos mesmos alunos. Cada uma das actividades deverá ser adaptada adequadamente
ao público alvo, ao contexto em que está a ser realizada e aos objectivos que se preten-
dem atingir.
196 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
1
Proposta 1 (Por onde andam os fractais?).
Objectivos: No final desta actividade o aluno deve ser capaz de distinguir entre ob-
jectos com formas melhor modeladas pela geometria euclidiana e objectos melhor mo-
delados pela geometria fractal.
Actividade: Objectos que possam ser modelados por fractais têm caracterı́sticas com-
pletamente diferentes dos objectos que se assemelham mais das figuras geométricas
euclidianas.
(1) Procura dentro da tua sala de aula objectos a cujas formas possas associar
figuras geométricas euclidianas conhecidas.
(2) Procura também na tua sala de aula objectos que te pareçam ter uma estrutura
fractal.
(3) Procura agora no exterior da tua sala de aula, em contacto com a Natureza
(parque, jardim, campo, quintal...) objectos a cujas formas possas associar
figuras geométricas euclidianas conhecidas.
Sugestões: Antes desta actividade o professor terá que fazer aos alunos uma in-
trodução à geometria fractal, focando as principais caracterı́sticas que um fractal pode
ter. F
Actividade: Vamos agora estudar o Conjunto de Cantor, um dos fractais mais fa-
mosos.
C0
C1
C2
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
Iteração n
(Lei de Formação)
(b) Consegues explicar como é o conjunto ao fim de uma quantidade infinita
de iterações?
(c) Consegues evidenciar partes do conjunto que sejam iguais na forma ao
todo?
(d) Determina a dimensão Fractal do Conjunto de Cantor.
(3) Consegues imaginar um processo análogo a este, mas trabalhando no plano
(começando com um quadrado) ou trabalhando no espaço (começando com um
cubo)? Tenta construir estas duas propostas de fractais ou outros idênticos e
explora algumas das suas propriedades.
Observações:
Sugestões:
Iteração 0 1
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
Iteração n
(Lei de Formação)
(b) Consegues explicar como é a Linha de Koch ao fim de uma quantidade
infinita de iterações?
(c) Para que valor tende cada uma das sucessões apresentadas no quadro de
3a?
(d) A linha de von Koch é auto-semelhante? Na iteração mais avançada
que desenhaste, imagina nela o que falta para obter o fractal e assinala
algumas partes da figura onde estão contidas reduções do fractal. Escolhe
regiões onde a cópia do fractal apareça em escalas diferentes.
(e) Determina a dimensão fractal da Linha de Koch.
(4) Desenha novas Linhas de Koch, variando o factor de redução através do slider
presente no modelo.
(a) O que acontece quando o factor de redução usado é de 50%?
(b) Qual te parece ser a influência do factor de redução escolhido na dimensão
da respectiva figura obtida?
(c) Experimenta vários valores para o factor de redução e determina a di-
mensão fractal de cada uma das respectivas linhas.
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 203
Observações:
• Consoante a preparação prévia dos alunos com quem se realize esta actividade,
pode haver necessidade de fornecer algumas pistas sobre como organizar os
dados na tabela da questão 3a, podendo, para tal, completar-se algumas das
suas células. Por exemplo, pode preencher-se a linha da iteração 2 com os
2 2
dados 42 , 13 e 42 31 .
• Na questão 3b, com os alunos dos 11o e 12o anos pode procurar-se que eles
concluam que a Curva de Koch não tem derivada em nenhum dos seus pontos.
• A questão 3c pode ser respondida mesmo por alunos mais novos, bastando
que compreendam que ao multiplicar um valor por um número maior que 1 se
obtém um valor maior que o inicial e ao multiplicar por um número menor
que 1 se obtém um resultado inferior ao inicial.
• A questão 3d pode ser usada para explorar os conceitos de auto-semelhança e
de razão de semelhança.
Sugestões:
• Pode pedir-se aos alunos que comecem por desenhar a Curva de Koch à mão,
usando a grelha de triângulos equiláteros (Anexo 1) ou de pontos (Anexo 3)
sendo para isso necessário explicar a regra de formação e retirar a questão 2 e
adaptar convenientemente a questão 4.
• Pode usar-se o Logo em vez do NetLogo, sendo para isso necessário adaptar as
questões e fornecer, ou não, o algoritmo, consoante as noções de programação
dos alunos. O aluno pode também começar por construı́-lo dando as instruções
uma a uma e depois passar à programação por recursividade, isto é, programar
para que o software devolva a imagem do conjunto a partir dos dados que lhe
fornecemos: comprimento do segmento da 1a iteração e número de iterações
pretendidas (ver algoritmo no Anexo 20).
204 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
• Pode pedir-se que a lei de formação seja explicada pelos alunos indicando
quais as funções que compõem um SFI que defina a Curva de Koch. Mesmo
que não indiquem a expressão analı́tica de cada uma, podem identificá-las
verbalizando as transformações no plano envolvidas. Depois de identificadas
essas transformações, a expressão pode ser escrita tendo em conta as indicações
do Exemplo 14, na página 42.
• De uma forma mais arcaica, mas não menos eficaz e divertida, pode proceder-
se à construção da curva através de fotocópias sucessivas usando os Anexos 7
e 8. Conceitos como razão de semelhança e relação entre áreas e perı́metros de
figuras semelhantes poderão ser explorados usando este processo. Além disso,
cada aluno ou grupo de alunos pode usar uma figura inicial diferente (desde
que não seja um “segmento de recta fino” que poderá desaparecer ao longo
das fotocópias sucessivas) para depois, ao compararem os trabalhos uns dos
outros, poderem compreender que o conjunto inicial ao qual se aplica um SFI
não determina a forma do fractal.F
2
Proposta 4 (A Ilha de Koch ou O Floco de Neve de Koch).
fractals IFS .
206 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
(b) Determina o termo geral da sequência dos perı́metros da alı́nea anterior.
(c) Como evolui esta sequência e para que valor tende?
(4) Faz agora um estudo semelhante relativamente à área da figura correspondente
a cada iteração.
(a) Regista as tuas conclusões no quadro seguinte:
Área
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
(b) Determina o termo geral da sequência das áreas da alı́nea anterior.
(c) De que valor se aproxima a sequência? (Podes utilizar uma calculadora
gráfica ou uma folha de cálculo e construir tabelas e/ou representar os
valores da sucessão para te ajudar a chegar a uma conclusão.)
(5) Imagina a construção do floco de von Koch obtido após um número infinito de
iterações. Consegues assinalar onde estão partes da figura que contêm o todo,
isto é, reduções da figura completa? Este fractal é auto-semelhante?
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 207
“Milhões de toneladas de neve caem sobre grandes áreas a cada ano. Ficamos
maravilhados quando paramos para entender que toda aquela neve é composta
do que a unha de seu dedo menor. E que desenhos lindos! As pessoas que os
existem dois iguais. Seu desenho próprio com raras excepções, os flocos de
neve tem sempre seis lados. Às vezes os seis lados são rectos e achatados, mas
com maior frequência eles têm seis pontas lindamente desenhadas que saem
Cada ponta na forma de lança faz par com as outras no mesmo floco, mas
como foi mencionado acima, não foram encontrados dois flocos exactamente
(http://www.stories.org.br/snow.html)
“Não há dois flocos de neve exactamente iguais. Cada um é uma colecção de
peratura, altura e água contida na nuvem na qual se formam. A neve pode ser
a temperatura está quase zero. É perfeita para fazer bolas de neve, mas difı́cil
ratura está bem abaixo de zero. O granizo é normalmente neve derretida, mas
esfriam ao cair.”
(http://www.trabalhoescolar.hpg2.ig.com.br/neve.htm)
(f) Adapta o modelo já construı́do em NetLogo para desenhares outros “Flocos de
Observações:
• Tal como já foi referido para a questão 3c da Proposta 3, a questão 3c desta
actividade pode ser respondida por alunos mais novos. A idade e a preparação
dos alunos em causa, pode determinar a escolha do valor do comprimento do
lado do triângulo inicial (1 ou a).
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 209
• A questão 4 será melhor resolvida por alunos do 12o Ano que já dominem o
conceito de progressão geométrica e possam determinar o valor da sua soma,
não necessitando para isso da sugestão dada na alı́nea 4c. O interessante
desta questão é poder concluir que a Ilha de Koch é uma linha de comprimento
infinito que delimita uma área finita.
• A questão 6c responde-se com muito poucos cálculos tendo em conta o trabalho
que já foi feito antes. É interessante comparar os dois fractais com o mesmo
perı́metro.
• A questão 6d permite observar dois fractais diferentes com a mesma dimensão
fractal.
• As questões 6e e 6f poderão fazer mais sentido no âmbito de uma Área de
Projecto.
Sugestões:
Actividade:
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
Iteração n
(Lei de Formação)
(b) Consegues explicar como é o Triângulo de Sierpinski (o conjunto que se
obtém ao fim de uma quantidade infinita de iterações)?
(c) Como evolui e para que valor tende cada uma das sucessões apresentadas
no quadro de 3a?
(4) Imagina a construção triângulo de Sierpinski com um número infinito de
iterações.
(a) O Triângulo de Sierpinski é auto-semelhante? Consegues assinalar onde
estão partes da figura que contêm o todo, isto é, reduções da figura com-
pleta? Indica reduções do todo a várias escalas.
(b) Determina a dimensão fractal do Triângulo de Sierpinski.
212 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
(5) Imagina que o processo de construção da figura era colorir o triângulo central
e em seguida dividir este em quatro triângulos colorindo o central e assim
sucessivamente.
(a) De que se aproximaria esta sequência de figuras?
(b) Adapta o modelo já construı́do em NetLogo para obter a sequência de
figuras sugeridas em 5.
(c) A figura limite dessa sequência tratar-se-á de um fractal?
(6) Sierpinski no Espaço
Pensa no processo análogo ao anterior, mas aplicado a um tetraedro. O
processo de construção está representado a seguir:
(a) Constrói com os teus colegas vários tetraedros de papel3 iguais. Os tetra-
edros devem ser todos do mesmo tamanho para que seja possı́vel juntá-los
para construir um modelo deste fractal com um determinado número de
iterações. A turma deve decidir a que iteração pretende que corresponda
o modelo e determinar previamente o número de tetraedros necessários.
3Em [20, pág. 20 e 21] encontram-se instruções para a construção de tetraedros por dobragens.
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 213
Número de Tetratedos
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
Iteração n
(Lei de Formação)
(b) Qual é a forma dos “buracos”?
(c) Explica como é a lei de formação deste “tetraedro esburacado”.
(d) Segue um raciocı́nio análogo aos das questões 3 e 4 sobre o Triângulo de
Sierpinski de forma a conseguires responder:
(i) Qual é o volume deste fractal?
(ii) Qual é a sua área total?
(iii) Qual é a sua dimensão?
(iv) Como é o seu aspecto?
(v) Qual é a sua dimensão fractal?
Observações:
trabalhar com radicais, poderá ser levada a cabo à parte, considerando que o
triângulo que constitui a iteração zero tem área 1.
• Na questão 6c a lei de formação do tetraedro pode ser apenas explicada em lin-
guagem corrente ou então explicando quais as funções que compõem o sistema
de funções iteradas que produzem a figura.
Sugestões:
(1) Constrói o Triângulo de Pascal com pelo menos 8 ou 16 linhas (podes usar a
grelha de hexágonos do Anexo 5 ou utilizar o Triângulo de Pascal já construı́do
no Anexo 6) e pinta as casas correspondentes aos números ı́mpares.
(a) Que observas?
(b) Consegues encontrar uma regra que indique que células de uma linha
devem ser pintadas, em função das células pintadas na linha anterior?
216 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Observações:
• Esta actividade será realizada na sua plenitude, isto é, tocando num maior
número de conteúdos programáticos, se for realizada por alunos do 12o ano.
Será uma oportunidade para aplicarem os seus conhecimentos sobre o binómio
de Newton, podendo até aplicar a fórmula de cálculo do número que constitui
uma determinada célula, o que pode ser útil para dar continuidade a um padrão
geométrico pintado no triângulo.
• Com alunos mais pequenos, nomeadamente os do 7o ano, esta poderá ser uma
actividade de investigação onde poderão aplicar os seus conhecimentos sobre
os critérios de divisibilidade de números por determinados divisores.
Sugestões:
4
Proposta 7 (Árvores).
Actividade:
4Adaptado de: “Fractais no Ensino Secundário” - Ana Paula Canavarro e Outros, APM
http://math.rice.edu/ lanius/images/triangle.gif
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 219
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
Iteração n
(Lei de Formação)
(ii) Para que valor tende cada uma das sucessões apresentadas no qua-
dro de 1(b)i?
(2) Observa as seguintes sucessões de imagens contendo as três primeiras iterações
para a construção de uma árvore.
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
(ii) És capaz de encontrar uma fórmula que te permita determinar o
número de segmentos que compõem a n-ésima iteração?
(iii) Como evolui esta sucessão?
(c) Faz agora um estudo semelhante relativamente ao comprimento de cada
segmento novo que constitui a figura em cada iteração.
(i) Regista as tuas conclusões no quadro seguinte:
Comprimento de cada segmento novo
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
(ii) És capaz de encontrar uma fórmula que te permita determinar o
comprimento de cada um dos segmentos que compõem a n-ésima
iteração?
(iii) Como evolui esta sequência?
(d) Estuda agora o comprimento total da árvore:
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 221
Iteração 0
Iteração 1
Iteração 2
Iteração 3
(ii) És capaz de encontrar uma fórmula que te permita determinar o
comprimento total da n-ésima iteração?
(iii) Como evolui esta sucessão?
(iv) Consegues dizer qual seria o comprimento total da árvore completa
(i. é., depois de repetirmos o processo um número infinito de vezes)?
(3) Imagina a construção da árvore até ao infinito. Consegues assinalar onde estão
partes da figura que contêm o todo, isto é, reduções da figura completa? Tenta
encontrar “o todo” em escalas diferentes em cada figura.
(4) Aproveita para descansar e, ao passear no campo, procura recolher pedaços de
plantas que te pareçam desenvolver-se segundo uma forma fractal. Consegues
explicar para cada uma delas a sua lei de formação (aproximada)?
(5) Consegues identificar outro tipo de “coisas” que tenham uma estrutura rami-
ficada?
Observações:
Sugestões:
Actividade: Vamos usar o Triângulo de Sierpinski como base para esta actividade
que introduz o conceito de Sistema de Funções Iteradas.
As primeiras iteradas da construção do Triângulo de Sierpinski são:
(1) Observa as imagens e explica, por palavras tuas, que transformações são apli-
cadas ao triângulo inicial para se obter cada um dos triângulos que compõem
a primeira iteração.
Função f1
Função f2
Função f3
Iteração 0 Iteração 1
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 227
Que obtiveste?
(7) Que se obtém se aplicarmos f1 , f2 e f3 ao objecto correspondente à segunda
iteração do Triângulo de Sierpinski?
(8) Ao conjunto das três funções f1 , f2 e f3 com o espaço em que estão definidas
(R2 , neste caso) chama-se Sistema de Funções Iteradas (SFI) e é representado
por {R2 ; f1 , f2 , f3 }. O Triângulo de Sierpinski é o objecto que se obtém após
a aplicação do SFI um número infinito de vezes.
Que acontece se aplicarmos este SFI a um quadrado, em vez de ser a um
triângulo? (Utiliza uma fotocopiadora para obteres as iterações sucessivas e
os Anexos 9 ou 10 e 11 para colocares as cópias na posição correcta.)
(9) Que concluis?
Observações:
Sugestões:
• É muito provável que a questão 5 seja difı́cil para os alunos conseguirem res-
ponder à primeira. Será necessário realizar algumas experiências para perce-
berem bem o processo de iteração das funções f2 e f3 . Como, para além da
redução, estas aplicações contêm uma translação, a visualização do resultado
dos seus processos iterativos não é tão imediata como para a função f1 . A
utilização de uma quadro interactivo na sala de aula, caso seja possı́vel, po-
derá ser uma forma muito prática de realizar várias experiências rapidamente
para levar os alunos a uma conclusão. Ou então, usar o applet disponı́vel em
228 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
5
Proposta 9 (Alterando o SFI que define o Triângulo de Sierpinski).
5Adaptado de http://classes.yale.edu/fractals/IntroToFrac/TransfGeom/TransfGeom.html
230 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
O Reescalamento:
No caso dos reescalamentos há a ter em conta aqueles cujo factor de redução segundo
os dois eixos é igual (obtém-se uma redução - uma figura semelhante à inicial) e aque-
les em que o reescalamento segundo o eixo das abcissas é diferente do reescalamento
segundo o eixo das ordenadas.
A Simetria:
A Rotação:
A Translação:
232 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
1o - reescalamentos,
2o - simetrias,
3o - rotações,
4o - translações.
Actividade:
234 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
(1) Observa a figura dada acima onde estão representadas algumas das iteradas
de um SFI.
(a) Quantas são as contracções que compõem o SFI? Identifica as suas repre-
sentações gráficas na imagem.
(b) Quais são as transformações no plano de que é composta cada uma das
aplicações do SFI?
(c) Na janela IFS do programa, introduz os parâmetros relativos a cada uma
das aplicações que indicaste nas alı́neas anteriores.
(d) Selecciona a operação Draw no menu Draw (ou clica CTRL+D) várias
vezes seguidas para obteres as várias iteradas. Compara com a figura e
comprova se os valores dos parâmetros que introduziste estão correctos.
Caso seja necessário procede a correcções.
(2) Verifica agora o que acontece se forem introduzidas alterações nas funções
do SFI. Na figura que se segue, à esquerda está a iteração 0 e à direita está
representada a primeira iterada de um SFI.
(3) Repete o raciocı́nio anterior para cada um dos SFI cujas iteração 0 e iteração
1 estão representadas em cada alı́nea:
(a)
(b)
(c)
(4) E agora ao contrário: a partir da imagem de um fractal dado, descobre as
contracções (de maior factor de redução) de si mesmo que o compõem e indica
as transformações de que é composta cada uma delas. De seguida, introduz
os parâmetros correspondentes para confirmar a tua resposta. (Sugestão: Se
tiveres dificuldade em visualizar as transformações, recorta as imagens à direita
de cada fractal, onde estão uma cópia reduzida, uma simetria segundo o eixo
vertical e outra segundo o eixo horizontal.)
236 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
(a)
(b)
(c)
(d)
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 237
(e)
(f)
(g)
(h)
238 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Observações:
• Dada a complexidade desta actividade e tendo em conta que nem sempre é fácil
identificar as várias componentes de um fractal e as respectivas aplicações as-
sociadas, aconselha-se que seja realizada pelos alunos utilizando a metodologia
de trabalho de grupo.
• Em alguns dos SFI, algumas das funções poderão ser definidas de vários modos
diferentes; por exemplo, uma rotação de 180o equivale a uma simetria em
relação à origem. O professor deve aproveitar esta actividade para relembrar
isso aos alunos ao comparar a forma como cada grupo definiu os SFI’s.
Sugestões:
fractal, o aluno tem que descobrir quais são as transformações que compõem
cada uma das contracções de um IFS que defina esse fractal.
• Por fim, há sempre também a possibilidade de recorrer a uma fotocopia-
dora e aos Anexos 10 e 11 para a elaboração dos fractais. Com alguma
paciência também se pode usar um software de desenho que permita reduções
e rotações.F
240 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Actividade:
Os Sistemas de funções iteradas que construı́ste nas Propostas anteriores são com-
postos apenas por semelhanças. Os resultados são fractais com um aspecto quase
sempre “muito geométrico”. Talvez o da questão 3c da Proposta 9 seja o que tem uma
forma mais parecida com um objecto da natureza. Porém, é possı́vel utilizar sistemas
de funções iteradas para tentar reproduzir objectos naturais com a geometria fractal.
É o caso da folha de um feto representada na Figura 4.1. Verás agora como podes
obter matematicamente um objecto deste tipo.
Pode considerar-se que a folha completa é a reunião de três contracções de si própria:
a sua “sub-folha” inferior esquerda, a sua “sub-folha” inferior direita e o restante (ver
imagem 4.2).
Repara que as imagens das contracções não são exactamente semelhantes à folha
inicial; há pequenas distorções. Repara também que o pé da folha não fica incluı́do em
nenhuma dessas três imagens da folha; por isso não irá aparecer no fractal que resultar
do SFI constituı́do por essas três aplicações. Veremos mais à frente como o conseguir.
As funções que se pretende determinar são funções afins que aplicam pontos (x, y)
do plano
em pontos (x1 , y1 ) do plano e cujas expressões são do tipo:
ax + by + e = x1
.
cx + dy + f = y1
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 241
Figura 4.1. Esta folha foi, na verdade, desenhada por computador a partir
de um SFI; mas parece bem verdadeira!
respectivas imagens na imagem da folha obtida pela contracção que se pretende definir.
Estão já marcados esses pontos na Figura 4.1: A; B e C na folha inicial, A1 ; B1 e C1
como respectivas imagens na sub-folha esquerda, A2 ; B2 e C2 como respectivas imagens
na sub-folha direita, e A3 ; B3 e C3 como respectivas imagens na parte restante da folha.
Observações:
• Uma das dificuldades desta actividade, para alguns alunos, vai ser a deter-
minação das coordenadas dos pontos. Pode ser uma oportunidade para lhes
mostrar que a Matemática, quando aplicada à realidade, normalmente não
produz resultados inteiros ou na forma de fracções “bonitas”.
• Outra dificuldade será a resolução de sistemas de seis equações a seis incógnitas.
Poder-se-á “saltar” esse obstáculo utilizando software indicado nas sugestões
que se seguem.
Sugestões:
• Para que o trabalho de cálculo não seja tão fastidioso, pode dividir-se a turma
em três grupos, ficando a cargo de cada um deles uma das alı́neas da questão
3.
• Pode usar-se a grelha quadriculada do Anexo 2 para fotocopiar em acetato e
usar como referencial que, aliás, deve ser colocado da mesma forma por todos
os alunos se se optar pela sugestão anterior.
244 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
8Disponı́vel em http://classes.yale.edu/fractals/Software/detifs.html
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 245
cuja forma seja muito idêntica à forma do objecto, então o fractal definido pelo SFI cons-
tituı́do por essas contracções também vai ser parecido com o objecto dado. Esta parecença
Contracção r1 r2 θ1 θ2 e f
original.
(1) Encontra uma folha (ou outro objecto) que te pareça ter uma forma fractal.
(2) Produz uma imagem digital da folha, utilizando um scanner e software ade-
quado.
(3) A partir desta imagem, produz outra que consista na folha toda a branco e o
fundo a preto.
(4) Converte uma cópia da imagem para o modo de escala de cinzentos (ou para
menos de 256 cores), formato bmp, com um tamanho que se aproxime dos
600x600 pixels (sem deformar a imagem).
(5) Abre o programa IFS Lab 9 e no menu Outline selecciona Load Outline e escolhe
a imagem que gravaste no passo anterior. (Se for necessário fazer alguns ajustes
na imagem, existem as ferramentas lápis e borracha na régua de ferramentas
ou no mesmo menu.)
(6) Novamente no menu Outline clica em Edit Collage. Isso fará aparecer uma
redução da imagem inicial, dentro de uma caixa rectangular cujos vértices
estão denominados por O, X, Y e Z.
(7) Cada um dos vértices tem uma função:
O - colocando o cursor aqui com o botão do rato premido permite mover a
imagem. O mesmo também se pode fazer com o cursor situado em qualquer
outra parte do écran.
X - colocando o cursor aqui com o botão do rato premido permite reescalar
e rodar as linhas horizontais da caixa rectangular. Passando X para o outro
lado de O, consegue-se uma simetria segundo o eixo OY.
Y - colocando o cursor aqui com o botão do rato premido permite reescalar e
rodar as linhas verticais da caixa rectangular. Passando Y para o outro lado
de O, consegue-se uma simetria segundo o eixo OX.
(10) No menu File, executa Save para guardar o SFI que construı́ste.
(11) No menu Attractor, selecciona uma das opções Preview e deixa passar algum
tempo até a imagem estar suficientemente preenchida. Para parar, executa
Stop no menu Attractor.
(12) Para regressar ao SFI de forma a proceder a alterações escolhe Return to
Collage no menu Attractor.
Observações:
Sugestões:
Actividade:
log N
D= ,
1
log
r
determina a dimensão destes fractais:
(a) (b)
(c) (d)
252 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
(e)
(2) Quando o fractal tem auto-semelhança exacta, mas os factores de redução não
são todos iguais para todas as contracções que o compõem, aplica-se uma ge-
neralização da fórmula anterior - a Equação de Moran:
Um fractal com auto-semelhança exacta definido por um SFI, constituı́do por N
reduções w1 , w2 , · · · , wN com factores de redução s1 , s2 , · · · , sN respectivamente,
tem dimensão fractal D, tal que
(c) (d)
(e)
(3) Com o programa IFS Construction Kit constrói dois fractais com dimensão
log 5 log 12
e dois fractais com dimensão . (Sugestão: Utiliza a opção Examples
log 3 log 5
- Box Fractals do menú Design.)
Observações:
• Desde a Proposta 2 que se pede aos alunos que calculem a dimensão de fractais
com auto-semelhança exacta; a actividade agora proposta pretende consolidar
esse método e generalizá-lo a fractais com auto-semelhança exacta em que os
factores de contracção das várias contracções que o compõem não são todos
iguais.
• Na questão 1e pode aproveitar-se para se comparar a dimensão fractal deter-
minada com a dimensão topológica do objecto. Por norma, um fractal tem
dimensão fractal superior à sua dimensão topológica. Neste caso, a dimensão
fractal é 2 e a topológica é 1. Eventualmente, os alunos poderão dizer que a
dimensão topológica deste fractal é 3, por se tratar de um objecto definido em
254 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Sugestões:
Actividade:
A B
C D
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 257
E F
G H
Observações:
Sugestões:
• Com alunos mais novos pode imprimir-se cada um dos fractais em folhas se-
paradas e pedir-lhes que os ordenem no quadro por ordem da sua dimensão,
sem as associar a valores.F
258 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
10
Proposta 14 (Costa Fractal).
10Adaptado de http://polymer.bu.edu/java/java/coastline/coastline.html e de
http://argento.bu.edu/java/java/coastline/chap1/node12.html
5. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES PARA A AULA DE MATEMÁTICA 259
(d) Que concluis? Consegues prever de que valor se aproxima N×L à medida
que L se aproxima de zero? Que representa esse valor?
(2) Qual é a dimensão da nossa costa?
Considerando que a linha da nossa costa marı́tima tem uma estrutura fractal,
não se tratará de um fractal com auto-semelhança exacta, mas apenas aproxi-
mada. Para determinar a dimensão fractal deste tipo de fractais não se pode
aplicar a fórmula utilizada na Proposta 12, que só é válida para os fractais com
auto-semelhança exacta. Um dos processos para o fazer é utilizar os dados já
recolhidos na questão 1c e representá-los graficamente.
(a) Coloca um sistema de eixos coordenados e os valores adequados no papel
de escala logarı́tmica do Anexo 12.
(b) Representa no referencial construı́do na questão anterior o número de
passos em função da unidade escolhida.
(c) Os pontos representados no gráfico devem estar aproximadamente alinha-
dos segundo uma linha recta. Desenha a recta que melhor se adapta a
esse conjunto de pontos.
(d) A dimensão fractal da costa é o simétrico do declive da recta desenhada
na questão anterior. Determina-a. (Atenção: o declive da recta deve
260 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
ser calculado usando medições com uma régua e não com base na escala
logarı́tmica.)
(3) Outro processo muito utilizado para determinar a dimensão fractal de uma
curva é o método da contagem de caixas, que determina a Dimensão de Caixas.
(a) Desenha na fotocópia do mapa da costa marı́tima portuguesa, um qua-
drado que a contenha.(A este quadrado chamamos “caixa”.)
(b) Divide o quadrado grande em quadrados iguais de lado δ, e conta quantos
deles (Nδ ) contêm um troço de costa. Repete o processo várias vezes com
δ cada vez menor e preenche a tabela que se segue. (Sugestão: em cada
passo utiliza quadrados com o lado igual a metade do lado dos quadrados
do passo anterior.)
Lado da Caixa Número de caixas que
Sugestões:
A Área de Projecto é uma área curricular não disciplinar inscrita no horário lectivo
dos cursos cientı́fico-humanı́sticos no 12o ano de escolaridade, de frequência obrigatória,
com uma carga horária semanal de 2 unidades lectivas de 90 minutos cada.
Segundo o documento de orientação elaborado pelo Ministério de Educação para a
disciplina de Área de Projecto do 12o Ano dos Cursos Cientı́fico-Humanı́sticos, a Área
de Projecto é de “natureza interdisciplinar e transdisciplinar, visando a realização de
projectos concretos por parte dos alunos, com o fim de desenvolver nestes uma visão
integradora do saber, promovendo a sua orientação escolar e profissional e facilitando
a sua aproximação ao mundo do trabalho.”[17, pág. 3] Deve ser “um espaço de con-
fluência e integração de saberes e competências adquiridas ao longo do curso, em torno
do desenvolvimento de metodologias de estudo, investigação e trabalho de grupo.”[17,
pág. 5]
O tópico da Geometria Fractal poderá ser do interesse dos alunos e pode ser ex-
plorado de variadı́ssimas formas, procurando-se as relações entre os fractais e as mais
diversas áreas do saber em geral e da ciência em particular. Visto serem inúmeras as
aplicações práticas da geometria fractal, apresentam-se de seguida apenas algumas das
possibilidades de exploração deste tema que deverão ser precedidas por actividades que
permitam ao aluno consolidar o conceito de fractal bem como construir alguns fractais
e analisar as suas caracterı́sticas.
Não menos importante será o trabalho do professor que dirigir uma Área de Pro-
jecto sobre este tema que deverá ter os conhecimentos e a sensibilidade necessários para
reconhecer a geometria fractal nas suas diversas aplicações e para poder acompanhar
os alunos nas suas investigações. A colaboração com os professores de outras discipli-
nas (Biologia, Fı́sica, Informática, etc) poderá ser fulcral para um acompanhamento
integral aos alunos e para que se possam levar a cabo algumas actividades de ı́ndole la-
boratorial e de interesse relevante. Neste tipo de actividades, os alunos poderão dar-se
266 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
O sentido que fará a realização de cada uma delas dependerá do interesse manifes-
tado pelos alunos e dos seus objectivos quando se propuseram a estudar os fractais.
Em geral, as actividades estão pensadas para os alunos do 12o ano, mas poderão ser
adaptadas para alunos mais jovens. O facto de se propor estas actividades para a Área
de Projecto não quer dizer que não possam ser desenvolvidas no âmbito de outra dis-
ciplina; e as actividades apresentadas desde o inı́cio do capı́tulo até aqui e que foram
essencialmente pensadas para a disciplina de Matemática poderão igualmente ser tra-
balhadas na disciplina de Área de Projecto. Tudo depende dos objectivos estabelecidos
pelos alunos e pelos professores.
11
Proposta 15 (Arte com fractais).
Objectivos: Com esta actividade pretende-se despertar a atenção dos alunos para a
aplicação da geometria fractal na arte. A partir de alguns exemplos pretende-se que
tros, APM; Projecto Final de Conclusão De Curso de Taı́s Alves Moreira Barbariz
eles olhem para os objectos de arte de um novo prisma e que eles próprios encontrem
outras ocorrências de fractais na arte.
Toucador Bamana
Imagem em
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/AfricanArt/Headress.html
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/
AfricanArt/Tuareg.html
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/
Hokusai/Hokusai.html
270 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/Dali/Dali1.html
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/Art/
Mandalas/Mandala.gif
http://members.cox.net/fractalenc/fr6g6s.577m2.html
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 271
http://www.allegria.com.au/jewellery.html
12
Proposta 16 (Fractais de Tinta).
Actividade:
http://classes.yale.edu/fractals/Labs/
FingerPaintLab/FPLColor.html)
(1) Coloca um pouco de tinta viscosa (tinta de óleo, por exemplo) num pedaço de
papel grosso sobre o tampo de uma mesa. Cobre o papel com outro pedaço de
papel (ou com um acetato de forma a poder projectar uma cópia do padrão).
Aperta as duas folhas e espalha a tinta pressionando a folha de cima contra a
de baixo. Em seguida separa as folhas.
Enquanto as folhas se separam, o ar invade a tinta seguindo de frentes
instáveis para pequenas perturbações.
Observa o padrão que obtiveste. Poderás considerá-lo um fractal?
(2) Investiga como se altera o padrão ramificado consoante:
- a viscosidade da tinta;
- a grossura ou qualidade do papel usado;
- a velocidade com que se separam as folhas;
- a pressão que é aplicada às folhas de papel.
http://classes.yale.edu/fractals/Labs/FingerPaintLab/FPLSample.html
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 273
Sugestões:
Actividade:
(1) Investiga que aplicações pode ter a geometria fractal na Arquitectura. Aqui
estão alguns tópicos para a tua pesquisa:
(a) Catedrais da Europa;
(b) Catedrais da Índia;
(c) Arquitectura Africana;
(d) Arquitectura Moderna.
Com os elementos recolhidos por ti e pelos teus colegas, elaborem uma mostra
dos mesmos.
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 275
Sugestões:
13
Proposta 18 (Fractais em Papel).
Actividade:
Com alguma habilidade para cortar e dobrar, podes construir um fractal em papel.
http://www.ime.uerj.br/∼progerio/monografia/1999/atividade2.html
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 277
Sugestões:
• Com alunos do ensino secundário poderá ser possı́vel partir desta actividade
para um projecto mais ambicioso, de construção de um modelo tridimensional
deste tipo, representando mais iterações. O fractal terá de ser maior, os alunos
terão de construir eles próprios o molde para cortar e dobrar e os materiais a
utilizar provavelmente terão que ser outros.F
278 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Actividade:
Escolhe um dos seguintes projectos para realizares com os teus colegas.
Imagem retirada de
http://www.public.asu.edu/ starlite
Construção do Dragão de
Harter-Heighway com dobragem de
papel.
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 279
Imagem retirada de
http://www.sonoma.edu/math/faculty/falbo/sierp3.jpg
Escolhido o projecto, o grupo deve pesquisar sobre o fractal a construir para conhe-
cer o processo de o fazer, de seguida determinar que materiais usar e as quantidades de
cada um necessárias e, por fim, distribuir as tarefas pelos vários elementos do grupo. É
desejável que se comece com um esboço do resultado que se pretende e com os cálculos
das dimensões dos vários elementos que irão constituir a estrutura a construir. F
280 4. EXPLORAÇÃO DE FRACTAIS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA
Actividade:
“Depois de três minutos de “Caos Organizado” tocado numa estação de rádio britânica
seguiu-se uma torrente de chamadas telefónicas de ouvintes. Queriam saber mais acerca
do que tinham ouvido. Para alguns tinha sido uma experiência assustadora. E depois
disso, diversos fãs continuam a escrever ao compositor - Phil Thompson - para des-
crever o quão profundo a música fractal lhes toca. Para alguns tornou-se até uma
obsessão.”
“Para criar a sua música só precisa de um computador e de uma equação sim-
ples que, por iterações sucessivas gera imagens complexas e espectaculares, ao pintar
um determinado pixel do écran de determinada cor, consoante a solução da equação
obtida. Estas imagens fractais espectaculares e a matemática que a apoia inspiraram
um crescente grupo de compositores, programadores e amadores. As imagens fractais
enfeitiçam não só pela sua beleza, mas também pelas suas formas extremamente com-
plexas que surgem de equações muito simples. A mais famosa é conhecida por Conjunto
de Mandelbrot e deve o seu nome ao matemático Benoit Mandelbrot que, em 1795 usou
o termo “fractal” vindo do latim “fractus” que significa quebrar.”
“Qual é o som do caos? Nunca é o mesmo. Uma mistura de familiar e de novo, a
complexidade da música tem notas que soam a jazz e a avant-gard. A música prende
alguns ouvintes em quase suspensão quando pensam ter descoberto uma regularidade
na melodia e já sabe o que se segue; mas depois a música acaba por dar uma volta
completamente inesperada. A base para caos em música é muito simples. Associa-se
cada nota musical a um único número. Por exemplo, dó, ré e mi podem corresponder
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 281
de: http://www.apm.pt/apm/curiosidades/curio13.htm)
(5) Faz uma pesquisa por “fractal music” e visita outros sites relacionados com o
tema.
Depois de leres o texto, ouvires alguns exemplos de “músicas fractais” e de, eventu-
almente teres tentado criar a tua própria melodia fractal, escreve um texto sobre este
assunto, tocando nos seguintes pontos:
Actividade:
Fotografa objectos da Natureza ou do teu mundo que te pareçam ter uma estrutura
fractal. Salienta a auto-semelhança encontrada nas estruturas fotografadas e discute
com os teus colegas a validade de cada uma das fotos enquanto exemplo de forma
fractal.
Organiza, com os teus colegas, uma exposição fotográfica.
Nos Anexos 16, 17 e 18 estão exemplos de fotos.
Sugestões:
Actividade:
(1) Investiga que aplicações pode ter a geometria fractal na Biologia. Aqui estão
alguns tópicos para a tua pesquisa:
(a) Objectos naturais com estruturas fractais;
(b) Superfı́cie de células cancerı́genas;
(c) Padrões formados por colónias de bactérias em crescimento;
(d) Representação gráfica de um batimento cardı́aco;
(e) Movimentos aleatórios e sua relação com o percurso de alguns animais (O
que é um movimento aleatório?);
(f) Estrutura geométrica de proteı́nas.
Elabora um texto onde expliques as tuas descobertas.
(2) Escolhe duas espécies de árvores ou plantas cujas folhas te pareçam ter di-
mensão fractal. Recolhe várias folhas de cada uma delas e determina a di-
mensão fractal das linhas de contorno dessas folhas (ver Exemplo 43 na página
126).
(a) As folhas da mesma espécie têm dimensão fractal idêntica?
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 285
(b) Há diferenças significativas entre a dimensão fractal das folhas de uma
espécie e a das folhas da outra espécie?
Observações:
Sugestões:
Objectivos: Com esta actividade pretende-se que os alunos descubram algumas das
possibilidades de aplicação da geometria fractal ao estudo de fenómenos fı́sicos. É uma
actividade aberta, de investigação, que exige dos alunos a capacidade para recolher,
organizar a informação e posteriormente apresentá-la de forma adequada.
Actividade:
(1) Investiga que aplicações pode ter a geometria fractal na Fı́sica. Aqui estão
alguns tópicos para a tua pesquisa:
(a) Dimensão fractal de uma galáxia;
(b) Movimento browniano (Geometria da trajectória de partı́culas);
(c) Indústria (mecânica de fluı́dos - misturadores, antenas);
(d) Turbulência atmosférica;
(e) Agregação de Difusão Limitada (ADL);
(f) Flocos de neve (ver Proposta 4).
Elabora um texto onde expliques as tuas descobertas.
Observações:
Sugestões:
• Em http://www.math.fau.edu/Teacher/CATEs PDF/9%20TI
%2083+/TI%2083+,%20part%202.pdf encontra-se um programa (BALLAGG
(Patterns in Nature)) para a calculadora gráfica TI-83 que simula a agregação
de partı́culas. No programa é possı́vel definir o grau de atracção que a estrutura
já construı́da exerce sobre as partı́culas que se aproximam para depois observar
a influência que esse valor tem na forma da estrutura final.
6. PROPOSTAS PARA A DISCIPLINA DE ÁREA DE PROJECTO 287
Actividade:
(1) Investiga que aplicações pode ter a geometria fractal na Geografia. Aqui estão
alguns tópicos para a tua pesquisa:
(a) Formas de paisagens;
(b) Redes fluviais;
(c) Manchas florestais;
(d) Costa marı́tima;
(e) Nuvens;
(f) Meteorologia.
Elabora um texto onde expliques as tuas descobertas.
Observações:
Sugestões:
289
290 CONCLUSÃO
CONCLUSÃO 291
agora estaria em condições para realmente começar a estudar geometria fractal. Sinto
que esta jornada serviu apenas para adquirir os conceitos básicos.
Nem tudo na Natureza é fractal e, como já foi dito no inı́cio deste trabalho, a Geo-
metria Euclidiana continua e continuará a ser fundamental não só para a estruturação
do raciocı́nio matemático, como para a modelação de inúmeros objectos e fenómenos.
Por outro lado, não basta que um determinado padrão se repita num objecto para que
ele possa ser considerado um fractal. Por exemplo, uma parede de tijolos não deverá
ser considerada um fractal porque a repetição que se verifica diz respeito essencial-
mente a translações e não a contracções. Deve haver alguma auto-semelhança num
determinado objecto para que ele possa ser considerado um fractal e é necessário que
essa auto-semelhança se repita por, pelo menos, alguns nı́veis de escala. Além disso,
essa repetição deve acontecer através de duas contracções no mı́nimo; caso contrário
o que se obtém não deverá ser considerado um fractal, porque se existir uma única
contracção, após infinitas iterações obter-se-á um ponto.
A geometria fractal é uma nova linguagem para a interpretação das formas e dos
padrões complexos patentes na Natureza e tem contribuı́do para o evoluir da ciência
ao fornecer novas ferramentas para descrever, modelar, analisar e medir o mundo e
revela conexões espantosas deste com a Matemática. A geometria fractal é excitante,
intrigante, desafiadora e importante para muitas disciplinas. O conceito de fractal
é simples de entender e julgo que com relativamente poucos conhecimentos de ma-
temática é possı́vel abordar e resolver vários tipos de problemas que envolvam fractais.
Valerá a pena continuar a estudar o conceito de Fractal e as suas aplicabilidades
e a formalizar meios de apresentar esta ideia matemática aos alunos. Não é fácil, no
âmbito dos currı́culos actuais, um professor conseguir uma ou duas semanas de tempo
de aula para leccionar uma unidade extra especifica sobre fractais, mas esse tópico
pode ser usado como uma forma diferente, rica e contemporânea de abordar muitos
dos conteúdos programáticos, dada a forte conexão entre os fractais e um vasto conjunto
de conteúdos programáticos já presentes no currı́culo.
CONCLUSÃO 293
O ideal seria que a Geometria Fractal pudesse passar a fazer parte, de forma oficial
e consciente, do currı́culo dos nossos alunos, quer do ensino básico, quer do ensino
secundário, não só da disciplina de Matemática, mas também de outras disciplinas em
que a aplicabilidade da geometria fractal é mais evidente, como é o caso da Biologia,
da Geografia, da Fı́sica e da Quı́mica. Nas disciplinas das áreas de Informática e
das Artes, os alunos deveriam também ter a oportunidade de construir objectos com
estruturas fractais. Julgo que não seria necessário investir muito tempo em cada ano
lectivo exclusivamente com este assunto, mas sou da opinião de que o tema pode ser
muito enriquecedor, sobretudo se a forma como for trabalhado proporcionar aos alunos
a noção de que todos os saberes estão, de alguma forma, interligados. Penso que poucos
temas de estudo podem proporcionar esta ideia de forma tão evidente e abrangente e
é por isso que considero que o tema é passı́vel de ser explorado na disciplina de Área
de Projecto.
Com os alunos mais pequenos, pode começar-se com actividades que explorem o
conceito de iterada, “semente” (isto é, conjunto inicial ao qual é aplicado uma função),
“órbita” (isto é, sequência das iteradas) e “regra” (ou seja, qual a função que está a
ser aplicada). A identificação das contracções do fractal contidas em si mesmo, com
fractais mais simples, também é possı́vel realizar com os alunos mais jovens.
Para levar isto a cabo, seria necessário começar pela formação dos professores, das
várias áreas de estudo, onde eles próprios começariam por aprender os conceitos básicos
e por desenvolver pequenos projectos multi e interdisciplinares para, a partir da daı́,
perceberem que tipo de actividades faz sentido propor aos alunos. Posteriormente seria
interessante que esses professores testassem as convicções adquiridas na sua formação,
realizando algumas sessões de formação para alunos do ensino secundário, dedicadas
exclusivamente à geometria fractal enquanto tema unificador do conhecimento e às suas
aplicações nas áreas das disciplinas curriculares.
Algumas universidades têm vindo não só a integrar disciplinas dedicadas à Geo-
metria Fractal nos seus cursos cientı́ficos, como também a desenvolver vários projectos
294 CONCLUSÃO
relacionados com formação de professores (procurando que depois alguns deles pros-
sigam com a formação de outros professores) ou com formação de alunos (mesmo os
que não têm uma forte preparação matemática ou particular interesse pela ciência)
ou ainda com o desenvolvimento de materiais curriculares que poderão ser utilizados
pelos professores do ensino secundário. É o caso de um projecto realizado desde 1995
pelo Departamento de Ciências Matemáticas da Florida Atlantic University14, de ou-
tro concretizado pela Universidade de Yale dedicado aos alunos15 e ainda de um outro
levado a cabo pelo Center for Polymer Studies da Universidade de Boston, desde 1989,
que consiste no desenvolvimento de materiais curriculares para o ensino secundário e
universitário, baseado em investigação da ciência moderna e no qual se incluiu uma
parte dedicada à geometria fractal16.
Considero urgente e importante que os nossos alunos contactem com a geometria
fractal e adquiram e compreendam alguns dos seus conceitos básicos. Em primeiro
lugar porque não faz sentido que a palavra “geometria” faça surgir nas suas mentes
apenas imagens relacionadas com a geometria euclidiana sendo o mundo natural muito
melhor descrito pela geometria fractal; em segundo lugar, porque a possibilidade de
aplicação desta geometria a outras áreas é tão elevada que poderá ser uma mais valia
para os alunos terem a mente aberta e desperta para esta possibilidade; em terceiro
lugar porque a geometria fractal é muito atractiva devido às bonitas representações
gráficas que gera e ao interesse que desperta não só pelas propriedades interessan-
tes patentes nos fractais, como na conectividade que revela ter com outros conceitos
matemáticos e com outras áreas do saber; em quarto lugar porque pode fomentar o
desenvolvimento de inúmeras capacidades e competências que já foram referidas no
Capı́tulo 4 (ver página 186) e entre as quais destaco as mais imediatas: a predisposição
http://www.math.fau.edu/Teacher/MSP/
15Projecto “Fractal Geometry” - http://classes.yale.edu/fractals/
16Projecto “Patterns in Nature” - http://polymer.bu.edu/ogaf/
CONCLUSÃO 295
297
298 ANEXOS
ANEXOS 299
(Adaptado de [18, pág. 37]-Fractal Cuts de Diego Uribe, edição de Tarquin Publicati-
ons distribuı́do em Portugal pela Editora Replicação.)
312 ANEXOS
(Adaptado de [18, pág. 19]-Fractal Cuts de Diego Uribe, edição de Tarquin Publicati-
ons distribuı́do em Portugal pela Editora Replicação.)
ANEXOS 313
(Adaptado de [18, pág. 49]-Fractal Cuts de Diego Uribe, edição de Tarquin Publicati-
ons distribuı́do em Portugal pela Editora Replicação.)
314 ANEXOS
Anexo 16. Neste cacto pode observar-se a mesma forma em diferentes escalas.
ANEXOS 315
Anexo 17. Nesta foto podem observar-se dois exemplos de fractais: o padrão
gerado pelos candeeiros alinhados ao longo da avenida (que pode obter-se através de
um SFI com conjunto de condensação) e as nuvens.
316 ANEXOS
Anexo 18. Nesta foto pode observar-se a mesma forma em diferentes escalas no
padrão gerado pelo rebentamento da onda.
ANEXOS 317
Curvas de Peano
to peano2 :itera :size
if :itera = 0 [fd :size stop]
peano2 :itera-1 :size/3
lt 90
peano2 :itera-1 :size/3
rt 90
peano2 :itera-1 :size/3
rt 90
peano2 :itera-1 :size/3
peano2 :itera-1 :size/3
rt 90
peano2 :itera-1 :size/3
rt 90
peano2 :itera-1 :size/3
rt 90
peano2 :itera-1 :size/3
peano2 :itera-1 :size/3
end
Curva de Koch
to koch :iteration :longitud
if :iteration = 0 [fd :longitud stop]
koch :iteration-1 :longitud/3
lt 60
koch :iteration-1 :longitud/3
rt 120
koch :iteration-1 :longitud/3
lt 60
koch :iteration-1 :longitud/3
end
ANEXOS 319
Ilha de Minkowski
to Minkowski :size :level
repeat 4 [MLado :size :level rt 90]
end
Triângulo de Sierpinski
to sierpinski :itera :size
if :itera = 0 [setpc 0
setfc pencolor
repeat 3 [fd :size lt 120]
pu
lt 10
fd :size/2
fill
bk :size/2
rt 10
pd
stop]
if :itera = 1 [sierpinski :itera-1 :size
fd :size/2 lt 60
setpc 7
setfc pencolor
repeat 3 [fd :size/2 lt 120]
pu
lt 10
fd :size/4
fill
bk :size/4
rt 10
rt 60
bk :size/2
pd
stop]
sierpinski :itera-1 :size/2
fd :size/2
sierpinski :itera-1 :size/2
bk :size/2
lt 60
fd :size/2
rt 60
sierpinski :itera-1 :size/2
lt 60
bk :size/2
rt 60
end
320 ANEXOS
• NetLogo (Algoritmos)
• Imagens a cores
• Apresentação Powerpoint “Fractais? E isso come-se com quê?”- apresentada
no âmbito do Projecto para a Licença Sabática durante a Semana Cultural na
Escola Secundária c/3o C.E.B. da Batalha
Bibliografia
[1] BARNSLEY, Michael F..Fractals Everywhere. London: Academic Press Professional, 1993
[2] FALCONER, Keneth. Fractal Geometry - Mathmatical Foundations and Applications. Chichester:
[3] FALCONER, Keneth. Techniques in Fractal Geometry. West Sussex: John Wiley & Sons, 1997
[5] BARNSLEY, Michael F., DEVANAY, Robert L., FISHER, Yuval, MANDELBROT, Benoit B.,
McGUIRE, Michael, PEITGEN, Heinz-Ottto, SAUPE, Dietmar, VOSS, Richard F.. The Science
[6] STEVENS, Roger T.. Creating Fractals. Hingham: Charles River Media, Inc., 2005
[7] BARBOSA, Ruy Madsen. Descobrindo a Geometria Fractal para a Sala de Aula. Belo Horizonte:
Autêntica, 2002
[8] BUNDE, A., HAVLIN, S.. Fractals in Science. Berlin: Springer-Verlag, 1994
[9] CHOATE, Jonathan, DEVANEY, Robert L., FOSTER, Alice. Fractals, A tool Kit of Dynamics
[10] PEITGEN, Heinz-Otto, JÜ RGENS, Hartmut, SAUPE, Dietmar. Fractals for the Classroom, Part
One, Introduction to Fractals and Chaos. New York: Springer-Verlag New York, Inc.,1992
[11] PEITGEN, Heinz-Otto, JÜ RGENS, Hartmut, SAUPE, Dietmar, MALETSKY, Evan M., PER-
CIANTE, Terence H., YUNKER, Lee E.. Fractals for the Classroom, Strategic Activities, Volume
[12] PEITGEN, Heinz-Otto, JÜ RGENS, Hartmut, SAUPE, Dietmar, MALETSKY, Evan M., PER-
CIANTE, Terence H., YUNKER, Lee E.. Fractals for the Classroom, Strategic Activities, Volume
[13] PEITGEN, Heinz-Otto, JÜ RGENS, Hartmut, SAUPE, Dietmar, MALETSKY, Evan M., PER-
CIANTE, Terence H.. Fractals for the Classroom, Strategic Activities, Volume Three. New York:
[14] NONNENMACHER, T. F., LOSA, G. A., WEIBEL, E. R.. Fractals in Biology and Medicine.
[15] BUNDE, Armin, HAVLIN, Shlomo. Fractals in Science. Berlin Heidelberg: Springer-Verlag, 1994
321
322 BIBLIOGRAFIA
[16] MONTEIRO, A. J. Antunes. Álgebra Linear e Geometria Analı́tica. Lisboa: Associação de Es-
entações. Área de Projecto dos Cursos Cientı́fico-Humanı́sticos. Projecto Tecnológico dos Cursos
[19] DUMITRU, Petru. Logo. 500 de proceduri. Focşani: Editura Spot, 1997
[20] MITCHELL, David. Origami Matemáticos. Lisboa: Editora Replicação, Lda, 2001
[21] CANAVARRO, Ana Paula, NUNES, Cláudia, ALVES, Diogo, ALVES, Sofia. Fractais no Ensino
[22] CARVALHO E SILVA, Jaime (Coordenador), FONSECA, Maria Graziela, MARTINS, Arsélio,
[23] CARVALHO E SILVA, Jaime (Coordenador), FONSECA, Maria Graziela, MARTINS, Arsélio,
[24] CARVALHO E SILVA, Jaime (Coordenador), FONSECA, Maria Graziela, MARTINS, Arsélio,
[25] CARVALHO E SILVA, Jaime (Coordenador), FONSECA, Maria Graziela, MARTINS, Arsélio,
FONSECA, Cristina, LOPES, Ilda. Matemática B. 10o ou 11o Anos. Cursos Cientı́fico-
da Educação, 2001
[26] CARVALHO E SILVA, Jaime (Coordenador), FONSECA, Maria Graziela, MARTINS, Arsélio,
FONSECA, Cristina, LOPES, Ilda. Matemática B. 11o ou 12o Anos. Cursos Cientı́fico-
da Educação, 2002
[27] FIGUEIRAS, Lourdes, MOLERO Marı́a, SALVADOR Adela, ZUASTI Nieves. Una propuesta
metodológica para la enseñanza de la Geometrı́a a través de los fractalaes. Suma, ICE Universidad
[28] WILLIAMS, Nigel. Fractal Geometry Gets the Measure of Life’s Scales. Science, vol 276, p 34,
Abril 1997
[29] WEST, Geoffrey B., BROWN, James H., ENQUIST, Brian J. A General Model for the Origin
of Allometric Scaling Laws in Biology. Science, vol 276, pp 122-126, Abril 1997
[30] OLIVÉ, Oriol. Els Fractals. Introducció pràctica als fractals IFS. Crèdit de Iliure elecció per a
alumnes d’ESO.
[31] Ministério da Educação. Currı́culo Nacional do Ensino Básico. Competências Essenciais. Ma-
http://www.dcc.ufla.br/infocomp/artigos/v4.3/art07.pdf
2007
[34] KENKEL, N.C.; WALKER, D.J.. Fractals in the Biological Sciences. De-
http://www.umanitoba.ca/faculties/science/botany/LABS/ECOLOGY/FRACTALS/fractal.html
[35] LUÍS, Gregório. Análise Matemática I Elementos sobre Teoria dos Conjuntos. Departamento de
http://pascal.iseg.utl.pt/∼jldias/am1/AMI-pdf/AMAT1-CONJ.pdf
http://teses.cnen.gov.br/tede/tde arquivos/1/TDE-2005-10-06T124629Z-4/Publico/Tese-CST.pdf
[38] FERNÁNDEZ, Ana Marı́a San Luis, ÁLVAREZ, Benjamı́n Dugnol. Notas de Geome-
http://coco.ccu.uniovi.es/geofractal/
324 BIBLIOGRAFIA
[39] ÁLVAREZ, Benjamı́n Dugnol, FERNÁNDEZ, Ana Marı́a San Luis, CERNEA,
http://coco.ccu.uniovi.es/geofractal/leccion1/index2.htm
http://classes.yale.edu/fractals/Panorama/welcome.html
[41] FRAME, Michael, MANDELBROT, Benoı̂t. Fractal Geometry. Yale University, E.U.A., dis-
ponı́vel em http://classes.yale.edu/fractals
[42] Center for Polymer Studies. Patterns in Nature. Boston University, E.U.A., disponı́vel em
http://polymer.bu.edu/ogaf/
Science for the Middle School. Florida Atlantic University, E.U.A., disponı́vel em
http://www.math.fau.edu/Teacher/Teacher homepage.htm
[44] LANIUS, Cynthia. Fractals. A Fractals Unit for Elementary and Middle School Students That
Adults are Free to Enjoy. Departamento de Matemática, Rice University, E.U.A., disponı́vel em
http://math.rice.edu/∼lanius/frac/
[45] CHANDLER, Gayla. of a Fractal Nature. Arizona State University, E.U.A., disponı́vel em
http://www.public.asu.edu/∼starlite/
[46] ARONOV, Dmitriy, RADOMYSELSKIY, Mikhail, PO, Ming Jack. Fractals Unleashed. Dis-
ponı́vel em http://library.thinkquest.org/26242/full/
[47] NUNES, Ana, TELO DA GAMA, Margarida (Coordenação). Prisma à Luz da Fı́sica. Caos
http://cftc.cii.fc.ul.pt/PRISMA/capitulos/capitulo2/