18 MEIA HORA ● DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2009 ●
● Celso se empolga ao falar da pequena Maisa:
TELEVISÃO
ENTREVISTA COM CELSO PORTIOLLI, apresentador
‘QUERO QUE NÃO IMAGINEM A TV SEM MIM’
Depois de, enfim, encontrar o sucesso no SBT, o comandante do ‘Domingo Legal’ diz que chegou a pedir demissão a Silvio Santos por achar que nunca teria espaço na emissora
● JOÃO FERNANDO
joao.fernando@meiahora.com
P
ersistência é o forte de
Celso Portiolli. Antes de
entrar no SBT — onde
está há 16 anos e agora brilha
no comando do ‘Domingo Le-
gal’, que vai ao ar hoje, às 11h
—, o apresentador chegou a ter
três empregos simultaneamente,
até realizar o sonho de ser colega
de trabalho de Silvio Santos.
Numa entrevista exclusiva,
em que recebeu o MEIA HORA
em sua casa, num luxuoso con-
domínio de São Paulo, Celso fa-
la sobre a nova fase na TV e a
época em que conciliava o tra-
balho temporário no SBT com
o posto de vereador em Ponta
Porã, no Mato Grosso do Sul,
sua cidade natal. “A oposição
começou a bater em mim: ‘Ou
é artista ou é vereador’”, conta
ele, que renunciou ao cargo polí-
tico assim que assinou seu pri-
meiro contrato fixo com a emis-
sora de Silvio Santos.
A boa relação com o homem
do Baú surgiu quando Celso en-
viou sugestões para o quadro de
pegadinhas ‘Câmera Escondi-
da’, do extinto programa ‘Topa
Tudo Por Dinheiro’. Aos 42
anos e casado com Suzana há
mais de uma década, ele é um
paizão para Luana, 3, Pedro
Henrique, 7, e Laura, 9. O trio,
aliás, sofreu um pouco com o su-
cesso dele no “Domingo Legal”,
porque o apresentador passou a
ficar menos em casa. Mas é bom
a garotada se acostumar. Os pla-
nos do papai vão longe: “Quero
fazer TV por mais 30 anos”.
●O apresentador disfarça quando é perguntado se sabe
Antes do ‘Domingo Le-
gal’, seu contrato estava
prestes a acabar. Pensou
que não renovaria?
Não. O meu medo não era não
ser renovado. Eu tinha planos de
tentar um novo caminho na minha
carreira, já estava ali há muito tem-
po. Nos últimos anos, não tinha fei-
to nenhum programa do meu inte-
resse. Estava chegando à conclusão
de que não teria espaço na linha de
shows. E deixei isso claro com o Sil-
vio quando ele me chamou para
conversar sobre o ‘Domingo Legal’ e
a renovação. Eu falei não para ele.
Eu não tinha outra proposta para
sair do SBT. Mas tinha convicção
de que deveria sair. Sentia uma co-
brança, por parte do público, de fa-
zer bons programas. Mas, o Silvio
me convenceu de que era o melhor
para mim. Foi a melhor coisa que
aconteceu na minha carreira.
Você tinha algum projeto
para oferecer a outras
emissoras?
Eu já tenho pilotos gravados, não
fiquei esse tempo todo sentado. En-
quanto não estava fazendo nada no
SBT, fiquei produzindo a minha vi-
da. Sou um cara de criação. Criei e
gravei alguns programas, tinha car-
tas na manga. Não ia lagar o certo
pelo duvidoso. Mas nessa reviravol-
ta, que não imaginei que fosse acon-
tecer, aconteceu e foi o melhor para
mim. Eu tinha alguns planos, mas
Deus fez planos melhores.
O que queria fazer?
Eu estava fazendo o “Sessão Pre-
miada”, que era um sucesso. Bati
recordes de venda, recorde de tele-
fonemas mundial quando apre-
sentei. O faturamento do progra-
ma sempre foi interessante, mas
eu estava cansado. Estava queren-
do algo maior e veio algo grande,
que é o ‘Domingo Legal’. Era o
que eu queria, um programa de
variedades. Caiu como uma luva.
Você ficou tenso quan-
do apresentou o progra-
ma pela primeira vez?
Não. O mais tenso foi a negocia-
ção. Quando Silvio me ofereceu o
‘Domingo Legal’, eu não disse sim
de cara. Ele me pediu: “Converse
com a sua mulher e me dê uma res-
posta”. Só que no dia seguinte já ti-
nha gravação e ele pediu para o Ma-
grão (diretor) não me deixar ir em-
bora. Falei com ela, pensei, porque
o “Domingo Legal” iria para o sába-
do. Falei: “Silvio, o SBT vai perder
um grande produto. Daqui a pou-
co, não vai dar certo no sábado e
vou voltar a fazer o “Sessão Premia-
da”. Não quero. Vou embora”. Ele
falou comigo e resolvi ficar. E ele dei-
xou o programa no domingo. Foi a
primeira grande vitória e uma de-
monstração de carinho do Silvio.
Está relaxado por causa
da boa audiência?
A batalha não está ganha. Ali,
é um leão por semana. A concor-
rência já mudou a programação,
tentando abafar audiência. Aí, a
gente muda de estratégia, não mu-
da de horário e vai acertando. A
SERGIO SAVARESE
cada vez que a concorrência mu-
da de horário, a gente muda a es-
tratégia. E tem dado certo.
Você acompanha a au-
diência minuto a minuto?
O lugar onde eu fico quando tem
alguma atração no programa é em
frente aos monitores de todas as
emissoras e ao monitor do Ibope.
Você recebeu críticas pelo
fato de o formato do pro-
grama não ter mudado
com a saída do Gugu?
Muita gente achou que eu ia en-
trar e fazer tudo novo. Eu entendo,
MEIA HORA ● DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2009 ●
‘Ela é um fenômeno. A cada 100 anos, nasce uma’ imitar Silvio: ‘Já esqueci’, diz ele, caindo na gargalhada
ROBERTO NEMANIS
mas é um risco. Se está dando certo,
por que mexer? Houve também de-
terminação da direção para manter
alguns quadros. Se eu tivesse 18
anos, bateria o pé para mudar tudo.
Como estou mais experiente, tenho
calma. Tem que ser tudo devagar.
Você dá muito palpite?
Eu só participei de duas reu-
niões, o Magrão não gosta que
eu participe, porque as pessoas fi-
cam tímidas. Mas dou os meus
pitacos, menos do que eu pode-
ria. Às vezes, discuto o roteiro e
dou sugestão de quadros.
Como foi seu começo?
Morava em Ponta Porã, no Ma-
to Grosso do Sul. Já tinha a vida fei-
ta lá. Tinha uma carreira, estava
na política, dirigi rádios e tinha loja.
Resolvi correr atrás do meu sonho e
mandei uma fita para o SBT. Vesti
o único terno que eu tinha, coloquei
a câmera em cima de um monte de
livros e falei por 50 minutos. Falei o
que já tinha feito, o que gostaria de
fazer e dei 11 ideias para o quadro
Câmera Escondida. Aí, me ligaram
pedindo mais ideias. Eu disse que
não queria dar mais ideias, queria
trabalhar lá. Por sorte, um amigo es-
tava trabalhando no SBT e me li-
gou dizendo: “Manda mais uma e
vejo se entrego para o diretor ou pa-
ra o Silvio”. Silvio ficou sabendo
que um maluco, que era vereador,
tinha mandado uma fita com boas
ideias e queria ser apresentador.
Quando vim a São Paulo receber o
dinheiro pelas minhas ideias, ele me
chamou para conversar.
O que ele falou com você?
Perguntou o que eu fazia e quan-
to eu ganhava. Disse que eu ganha-
va muito bem e televisão pagava
mal. Ele me ofereceu um quarto do
que eu ganhava. Eu disse: “Negócio
Celso Portiolli com a família (no alto), em ação no ‘Domingo Legal’ (à esquerda) e com o ídolo Silvio Santos: ‘Sou fã dele até hoje’, confessa fechado”. Ele perguntou: “Mas por
TELEVISÃO
que você aceitou?”. Disse que era
meu sonho trabalhar lá. Comecei co-
mo freelancer (temporário) no SBT.
Ficava alguns dias e voltava de ôni-
bus, ia nas sessões da Câmara, escre-
via minhas ideias, fazia meu progra-
ma de rádio aqui e mandava para
Ponta Porã. No fim, a Angélica foi
para a Globo, me ofereceram a
chance e renunciei ao mandato.
Como você conseguia
conciliar tudo?
Era uma loucura, mas sempre
fui muito peitudo, encarava tudo.
Cheguei a fazer gincana com 400
pessoas, organizei, apresentei... Até
carregar o cenário e montar o som
eu já fiz. Já aprendi que meu lugar é
como apresentador. Mas, se preci-
sar editar, produzir, eu faço tudo.
Você é o novo Silvio Santos?
Nessa história de ser o Silvio San-
tos 2, não acredito. Substituto para
Silvio Santos não vai existir nunca.
Eu faço televisão, mas assisto ao Sil-
vio em casa e fico aplaudindo. O ca-
ra é fera. Você passa a valorizar
mais ainda uma profissão quando
faz aquilo. Depois que comecei a fa-
zer televisão, não acho ninguém
ruim, porque sei como é difícil estar
ali na frente da câmera e fazer. O ca-
ra que está há mais tempo ao lado
do Silvio no SBT, hoje, sou eu. Acho
que as pessoas enxergam tanto isso
que o universo parece conspirar a fa-
vor. Tenho a mesma linha dele, nós
viemos do rádio. Acho que meu ca-
minho, se eu continuar no SBT, vai
ser um caminho bacana, pois quero
retribuir o que já fizeram por mim.
Imaginava ser tratado de
igual pra igual por Silvio?
É muito louco isso. Na minha ci-
dade, nem SBT tinha. Quando co-
mecei, não imaginava ser um comu-
nicador de televisão. Meu sonho era
ser radialista. Quando fiz TV pela
19
primeira vez, me obrigaram. Só fiz
para não perder o emprego, eu ti-
nha medo de televisão. Sempre fui tí-
mido e me escondia atrás do micro-
fone da rádio. A vida me leva para
caminhos que eu até me assusto às
vezes. Pô, um cara de uma cidade
que não tinha SBT, de repente, está
no camarim, conversando com o Sil-
vio sobre televisão. É bom se lem-
brar disso para colocar o pé no chão.
Como é o assédio a você?
Eu sempre fui assediado, mas, ul-
timamente, as pessoas têm me co-
nhecido mais. Por causa disso, o as-
sédio vem aumento de uma manei-
ra impressionante. Quando gravo
na rua, tem gente chorando, espe-
rando para me abraçar. Fico im-
pressionado e feliz em saber que as
pessoas estão ali para me ver. Não
posso atender a todos, mas falo ‘oi’
para todo mundo. Eu sei o que é ser
fã e não receber atenção. É a maior
decepção que um fã pode ter.
E de quem você é fã?
Eu fui fã do Silvio. Sou até ho-
je. Quando vou gravar com ele,
fico tremendo (risos).
Sua família reclama do
excesso de trabalho?
Quando comecei a fazer o “Do-
mingo Legal”, eu sumi. Todos os
dias ia trabalhar. Quando chega-
va em casa, meus filhos gruda-
vam na minha perna, porque sem-
pre fui um pai presente.
Tem algum sonho que
não conseguiu realizar?
Do lado profissional, ainda não
realizei 20% do meu sonho. Quero
fazer muita coisa na televisão. Estou
começando, quero fazer TV por
mais 30 anos. Eu quero ser um gran-
de animador da TV. Eu quero fazer
parte da família brasileira, quero
que não imaginem a TV sem mim.