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Arroz do Cu

de

Jos Rodrigues Miguis

ESPAO geogrfico da aco: a cidade de Nova Iorque.

Ao longo dos passeios de Nova York, por sobre as estaes e galerias do subway, abrem-se grandes respiradouros gradeados por onde cai de tudo: o sol e a chuva, o luar e a neve, luvas, lunetas e botes, papelada, chewing gum, taces de sapatos de mulheres que ficam entalados, e at dinheiro.

Metro de Nova Iorque


O Subway o espao subterrneo onde trabalha o limpa-vias.

Mapa actual do Metro de Nova Iorque

O PROTAGONISTA do texto, o LIMPA-VIAS, apresentado como "Uma toupeira, um rato dos canos ., por trabalhar debaixo da terra.

O limpa-vias trabalhava h muitos anos no subway, sempre de olhos no cho. Uma toupeira, um rato dos canos. Picava papis na ponta de um pau com um prego, e metia-os no saco. Varria milhes de pontas de cigarros, () raspava das plataformas o chewing gum odioso, limpava as latrinas, espalhava desinfectantes, ajudava a pr graxa nas calhas, polvilhava as vias de um p branco e misterioso,

O Uptown o espao exterior. A se encontra a igreja de So Joo Baptista e do Santssimo

Sacramento.

Ora, esquina de certa rua, no Uptown, h uma igreja, a de So Joo Baptista e do Santssimo Sacramento, a todo o comprimento de cuja fachada barroca e cinzenta os respiradouros do subway formam uma longa plataforma de ao arrendado. Os casamentos so frequentes, ali, por ser chique a parquia e imponente a igreja.

Lanar arroz aos recm casados um smbolo da descendncia e da prosperidade que se deseja ao novo casal

()talvez seja um prenncio votivo de abundncia, ou um smbolo do crescei e multiplicai-vos (como arroz).

Os casamentos so frequentes, ali, por ser chique a parquia e imponente a igreja. O arroz chove s cabazadas em cima dos noivos, sada da cerimnia, num grande estrago de alegria. Metade dele some-se logo pelas grelhas dos respiradouros,()

Para o limpa-vias, o arroz que caa dos respiradouros do subway era uma "graa divina.

A primeira vez que viu aquele arroz derramado no cho, ()o limpa-vias no fez caso (). At que um dia, ()ajuntou os bagos com a mo, num montculo, e encheu com eles um bolso do macaco () e levou-o para casa. Pobres, aquela fartura de arroz enchia-lhes a barriga, a ele, patroa e aos seis ou sete filhos. () O arroz vinha do Cu, como a chuva, a neve, o sol e o raio. Deus, no Alto, pensava no limpavias, to pobre e calado, e mandava-lhe aquele man para encher a barriga aos filhos.

O Cu do limpa-vias a rua que os


outros pisam.

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