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Fernanda Mualeia, Aulas de Direito Económico, Universidade Lusíada

de Angola

O ACESSO À ACTIVIDADE ECONÓMICA

Em economias de mercado, rege o princípio da liberdade de


acesso á generalidade das actividades económicas. Este
principio que se encontra consagrado na Constituição
(art.11º/3) não significa, contudo, uma impossibilidade
absoluta de limitações ao modo como os direitos dele
resultantes podem ser exercidos.

As restrições à liberdade de acesso podem decorrer de


reservas de actividade a favor de determinadas categorias
de operadores económicos: empresas públicas, empresas
com maioria de capital público, pequenas e médias
empresas, empresas com maior capital nacional.

As restrições constituem, de facto, barreiras às entrada,


podendo, traduzir-se na interdição absoluta ou relativa do
acesso a determinadas actividades. Nos casos em que o
acesso é apenas condicionado e não proibido, ele fica
dependente e da atribuição d uma licença, ou seja, o acto
pelo qual um órgão da administração atribui a alguém o
direito de exercer uma actividade privada que é por lei
relativamente proibida.

Em sentindo amplo, a questão do acesso à actividade


económica não se reduz, contudo, à liberdade de entrada e
respectivas excepções. Abrange também o direito a exercer

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em concreto a actividade, o qual pode depender de uma


autorização, isto é, um acto pelo qual um órgão da
administração permite a alguém o exercício de um direito
ou de uma competência preexistente. Esta pode incidir
sobre a instalação e funcionamento do estabelecimento e
dos restantes instrumentos ou sobre a construção. O que
está em causa não é neste caso a liberdade de empresa em
abstracto, mas sim o direito de exercer uma actividade
económica em concreto, num dado local e em
determinadas condições.

Para proteger determinados valores e interesses (o


ambiente, a paisagem, a saúde e a segurança) podem ser
estabelecidas restrições ou condicionamentos especiais ao
modo como esse direito pode ser exercido. Naturalmente
que elas serão mais fortes para a instalação e laboração de
estabelecimentos industriais, do que para os comerciais ou
de serviços, visto ser mais amplo o leque dos valores a
proteger e de riscos associados à actividade industrial.

O processo que precede a instalação e o início de laboração


de um estabelecimento comercial ou industrial de acesso
condicionado é designado por licenciamento industrial ou
comercial.

REGIME DE ACESSO À ACTIVIDADE ECONÓMICA

1. Liberdade de Acesso

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O princípio de liberdade de acesso vigora igualmente para a


actividade comercial.

1.1. As excepções ao regime de livre acesso à


actividade económica
As excepções admitidas ao regime enunciado são, desde
logo, as que resultam da possibilidade de existirem
sectores vedados à iniciativa privada (vedação que
tem sido entendida como definição de reservas a favor do
sector público e, em geral, das limitações e
condicionamentos relativos ao exercício de determinadas
actividades económicas.

O art. N.º 11º/ 1 da Constituição diz que a lei determina os


sectores e actividades que constituem reserva do Estado.

Para outras actividades, é consagrada a reserva de


propriedade, admitindo-se que a sua exploração possa ser
entregue a entidades privadas, em regime de concessão ou
outro que não envolva a propriedade dos recursos a
explorar.

O domínio de acesso reservado é o das actividades de


prospecção, pesquisa, desenvolvimento e produção de
petróleo em áreas do território nacional a definir: fazendo
os jazigos de petróleo parte do domínio público do Estado, a
lei só permite a sua exploração mediante concessão a

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atribuir pelo Governo, na sequência de concurso público ou


negociação directa.

Exemplo:

A Lei das Actividades Petrolíferas que revogou a Lei


n.º 13/78, de 26 de Agosto, mantém o princípio
fundamental da propriedade estatal dos recursos
petrolíferos consagrados na Lei Constitucional, bem assim
como os regimes da concessionária exclusiva (SONANGOL)
e da obrigatoriedade associativa no âmbito das concessões
petrolíferas;

De acordo com a Lei, todos os jazigos existentes fazem


parte integrante do domínio público do Estado e os direitos
mineiros são atribuídos à Concessionária Nacional
(SONANGOL) e a esta é-lhe vedada a alienação total ou
parcial dos direitos mineiros, sendo nulos e ineficazes os
actos praticados em contrário.

Finalmente define-se um regime de reservas de autorização


para o acesso à indústria de armamento e exercício da
respectiva actividade.

Outros diplomas legais prevêem reservas de


autorização. Assim acontece no caso da actividade
bancária e seguradora.

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Lei das Instituições Financeiras – Lei n.º 13º/05, de


30 de Setembro.

Art. 1º, a presente lei regula o processo de


estabelecimento, o exercício, a supervisão e o saneamento
das instituições financeiras.

1.2. Outras excepções ao regime de livre acesso

Outras excepções ao regime de livre acesso consistem na


limitação do exercício de uma actividade económica
a determinada categoria profissional.
Por ex. a abertura de farmácias por farmacêuticos.

Finalmente, a liberdade de acesso à actividade económica


pode ainda ser limitada no caso de o investidor ter
nacionalidade estrangeira ou residir no estrangeiro.
Pela sua importância e especificidades, em geral no direito
Angolano, estas limitações serão analisadas de forma
autónoma.

2. O Investimento Estrangeiro

O acesso à actividade económica por parte de investidores


estrangeiros suscita problemas especiais pelas suas
incidências políticas, económicas e sociais. Por este motivo,
muitos Estados possuem regimes jurídicos específicos para
o investimento estrangeiro. Esses regimes têm

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normalmente como objectivo regulamentar quer o acesso


ou constituição do investimento, ou seja, o conjunto de
operações através das quais o investidor afecta de forma
duradoira determinados bens ao exercício de uma dada
actividade económica, quer a sua protecção e garantia
depois de constituído, isto é, todos os aspectos que se
relacionam com a transferência de lucros, dividendos, ou do
produtos da liquidação dos investimentos e ainda com o
pagamento de indemnizações em caso de expropriações ou
nacionalização.

Alguns Estados têm procurado regulamentar o investimento


estrangeiro de modo a subordiná-lo a fins de interesse
nacional, estabelecendo um sistema de avaliação prévia
e/ou limitando o acesso a sectores considerados básicos ou
estratégicos. Essa tem sido a preocupação dos países
menos desenvolvidos, os quais por carência de recursos
humanos qualificados, são receptores do investimento do
que investidores.

Para outros Estados, menos carenciados deste tipo de


recursos, a legislação sobre o investimento estrangeiro
limita-se a estabelecer um regime de mera declaração para
efeitos de informação e controlo sobre o volume e
distribuição do investimento estrangeiro, recusando-se,
normalmente, formas de discriminação positiva ou
negativa.

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2.1. Regime Actual do Investimento Estrangeiro

Com a publicação da lei 11/03 de 13 de Maio (Lei de Bases


do Investimento Privado), a qual revogou a Lei n.º 15/94, de
23 de Setembro (Lei de Investimento Estrangeiro),
estabeleceu-se um novo sistema de investimento que se
consubstancia num novo quadro jurídico-legal para o
Investimento privado.

Para efeitos legais, é considerado estrangeiro em razão da


origem dos capitais, pelo que qualquer entidade, nacional
ou estrangeira, residente ou não no país, pode realizar
operações de investimento estrangeiro desde que utilize:

a) capitais importados do exterior;

b) capitais existentes em Angola, mas com direito a ser


transferidos para o exterior;
c) equipamentos provenientes do exterior;
d) tecnologias e Know how provenientes do exterior.

Garantias do Investimento:

a) O direito de os investimentos não serem afectados,

por um período de 3 a 5 anos, por quaisquer


alterações da política económica e fiscal que se
mostrem desfavoráveis;

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b) O direito dos investidores manterem sempre os


capitais importados e depositados em bancos locais
em moeda externa

Obrigações do Investidor:

a) importar os capitais no prazo máximo de 90 dias a


contar da data da emissão pelo BNA das respectivas
licenças;
b) possuir contas bancárias em bancos comerciais locais;
c) empregar e formar trabalhadores nacionais, nas
condições salariais e sociais equiparáveis aos dos
trabalhadores estrangeiros.

2.2. O acesso a incentivos e facilidades às operações


de investimento privado processam-se segundo dois
regimes: regime de declaração prévia e regime
contratual.

Estão sujeitos ao regime de declaração prévia as propostas


para investimento de valor igual ou superior ao equivalente
a USD 50.000,00 para investidores nacionais e a USD
100 000,00 para investidores externos, até ao limite
máximo equivalente a USD 5000 000,00. Neste caso
compete à Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP)
aprovar ou rejeitar os processos de investimento.

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Além do regime da declaração prévia, a lei considera a


possibilidade de existência de contrato de investimento
entre o Estado e o investidor privado. Para tanto, o Estado
será representado pela ANIP.

Ficam sujeitas ao regime contratual as propostas que se


enquadrem nas seguintes condições:

b) Investimento de valor igual ou superior a USD 5 000


000,00;
c) Independentemente do valor, os investimentos e,
áreas cuja exploração só pode, nos termos da lei, ser
feita mediante concessão de direitos de exploração
temporário;
d) Independentemente do valor, os investimentos cuja
exploração só pode, nos termos da lei, ser feita com
participação obrigatória do sector empresarial público.

Compete ao Conselho de Ministros aprovar o projecto de


investimento enquadrado no regime contratual (art. 35º da
Lei de Bases do Investimento Privado).

2.3. Estudo de Havard sobre o Investimento


Estrangeiro em Angola

Segundo o estudo realizado, as formas de investimento


consagradas na Lei do Investimento Estrangeiro são

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problemáticas e o Regulamento não ajuda a resolver


adequadamente tais problemas.

I) A lei exige que o investimento seja feito em


dinheiro e registado ao câmbio oficial.

A inflação desincentiva esta prática. Assim, deveria haver


um câmbio para o investimento estrangeiro que não fosse
superior a uma diferença de 12% face ao paralelo, a
exemplo do que acontece noutros países.

II) O art. 4º do Regulamento exige meios de prova do


valor do equipamento e tecnologia a investir.

Seria melhor indicar uma estimativa de avaliação de


mercado estandardizada ou deferir um padrão de preços
comparáveis, caso contrário haverá sempre a tendência de
o investidor inflacionar o custo da tecnologia, sem nenhuma
hipótese de ser contrariado.

III) A LIE ou o Regulamento não definem o que


tecnologia. O artr. 12º/2, i) do Regulamento sugere
um conceito de tecnologia limitado a patentes.

Acontece que muita da actual tecnologia não é patenteada,


como por ex. o Know how e os segredos comerciais.
O regulamento prevê negociações e aprovação de
tecnologia, mas isso não é desejável por provocar

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dificuldades às empresas angolanas na obtenção de


tecnologia.

IV) A LIE é omissa quanto à necessidade de assegurar

que as empresas subsidiárias sejam


adequadamente capitalizadas e que as empresas –
mãe das subsidiárias assumam essa
responsabilidade.

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