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A MONARQUIA NO BRASIL

Com que força admirável a nossa monarquia popular persiste. Todos os dias, nos últimos vinte
anos, Xuxa, a rainha dos baixinhos, reina na tela da televisão. Pele é o rei do povo. Sua coroa é a bola.

A monarquia brasileira não só existe como resiste. Em teoria, pelo menos, deveríamos
ser republicanos. Esta na Constituição Federal, escrito e registrado. Mas com que força
admirável a nossa monarquia popular persiste. É extraordinário. Todos os dias, nos últimos
vinte anos, Xuxa, a rainha dos baixinhos, reina na tela da televisão. Pele é o rei do povo. Sua
coroa é a bola. Nos anos sessenta, Roberto Carlos e sai corte inauguraram a Jovem Guarda.
Roberto tomou-se o rei do pop romântico nacional. Na nossa cidade, como em outras, no,
comércio, há muito "reis". É rei das ferramentas, do bolinho de bacalhau, do pastel, do
desmanche.
Recentemente, numa partida do circuito nacional de vôlei de praia, o título em disputa
era o de "Rei dos Reis" do vôlei de praia. Achei aquilo bastante interessante.Com tantos reis
pelas ruas estou ressentindo que o valor psicológico da majestade acabou ficando diluído no
universo do desdém, justamente por estar distribuída num número muito grande de
postulantes à nobreza instantânea. Acredito que seja mais ou menos o que aconteceu com a
figura de Jesus de Nazaré. Lendo a história antiga, podemos perceber que o "título" de
Messias (aquele que deveria ser ungido), era reivindicado por muitos profetas. Por ocasião da
passagem do Cristo pela Terra, muitos contemporâneos seus acreditaram não ser a figura de
Jesus, o hoje chamado Rei dos Reis, filho de José e Maria, aquele profeta que se enquadraria
nos atributos de um verdadeiro Messias, como estava previsto nas escrituras sagradas e, por
isso, era tão esperado pelo povo para ser o seu redentor.
Entre reis confusos e súditos esperançosos, o fato é que, alguns crédulos nas profecias
do fim do mundo, sempre pregaram que os indícios do fim dos tempos seriam as guerras e
catástrofes e o aparecimento de falsos profetas. Depois do atentado de 11 de setembro nos
EUA, do agravamento da questão Palestina e da quantidade de reis andando pelas
ruas, estou começando a acreditar que, ou o fim do mundo está mesmo próximo, ou estamos
prestes a convocar uma nova Assembléia Constituinte. No novo texto constitucional sugiro
que devam constar os pressupostos da primeira monarquia popular pluralista do mundo
encravada no Brasil. Sugiro também que se faça a diferença entre o conceito singular de Rei e
o conceito plural da majestade tupiniquim. Aliás, já que somos uma monarquia plural, não
tem nada demais aceitar uma crença politeísta em santos que joguem bola, em outros que
rebolem na televisão, e num restante vendendo ferramentas a bolinhas para consertar e
alimentar a um rei desgovernado.

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