Você está na página 1de 1

Comentrio ao poema "Todesfuge" de Paul Celan O poema "Todesfuge" de Paul Celan baseia-se numa forma musical, a fuga, que

consiste na enunciao de vrios temas que se entrecruzam at que a pea atinge um clmax de complexidade chamado "stretto" ou "Engfhrung", cuja tenso se resolve no final. A ideia de aperto, espao limitado est directamente relacionada com o contedo do poema, que descreve a situao vivida num campo de concentrao nazi: o director ("der Mann", o homem), uma personagem de carcter esquizofrnico, ordena a um grupo de prisioneiros judeus que cavem a sua sepultura, ao mesmo tempo que ordena a um outro grupo de prisioneiros que toquem os violinos para que se dance. A linguagem utilizada muito simblica, sendo que grande parte das referncias est relacionada com a cultura alem. Por exemplo, uma das figuras femininas do poema chama-se Margarete (a quem "o homem" escreve cartas), uma citao da personagem de "Fausto" de Goethe. Do mesmo modo, so utilizados arcasmos como "trumet", o que indica uma ligao sui generis com a tradio literria, resultante de um modo de pensar a linguagem potica que Celan explica da seguinte forma: "No meio de tantas perdas, uma coisa permaneceu acessvel, prxima e salva - a lngua. [..] Mas depois teve de atravessar o seu prprio vazio de respostas, o terrvel emudecimento, as mil trevas de um discurso letal. [...] Fez a travessia e pde reemergir 'enriquecida' com tudo isso." O poema da resultante lanado "em direco a algo de aberto", como uma "mensagem na garrafa". O poeta escreve na sua lngua materna para, nas suas palavras, "[se] orientar, para saber onde [se] encontrava e onde isso [o] iria levar, para fazer o [seu] projecto de realidade". , portanto, atravs da tentativa de contacto que a poesia pretende construir uma nova realidade, em que ningum venha a ser novamente sobrevoado por estrelas que sejam obra humana.

Citaes: Celan, Paul. "Alocuo na entrega do Prmio Literrio da Cidade Livre e Hansetica de Bremen (1958)". Arte Potica. Org. e Traduo de Joo Barrento. Lisboa: Cotovia, 1996.

Você também pode gostar