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REDAÇÃO DE ARTIGOS
CIENTÍFICOS
Logomarcas:
FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA
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EDUARDO ARAUJO OLIVEIRA
2008
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INTRODUÇÃO
A ciência não pode avançar sem que os resultados das pesquisas sejam efetivamente
para que os dados se transformem em informação, que por sua vez vai gerar conhecimento.
comunicação científica passa por uma mudança radical. Em 1665, em Paris, surgiu o
Journal des Sçavans, que pode ser considerada a primeira revista no sentido “moderno”. O
janeiro, na Royal Society of London. O Journal des Sçavans tinha como funções:
principais decisões jurídicas e publicar notícias sobre o que acontecia na “República das
Letras”. No mesmo ano, foram editadas as Philosophical Transactions of the Royal Society
correspondentes, tanto do país quanto do exterior, que traziam informações sobre novas
idéias e pesquisas. Cabe ressaltar que já naquela época, os editores dessa revista
preconizavam que os textos deveriam ser aprovados pelo seu conselho, sendo revistos
crença de que para haver novos descobrimentos era necessário um debate coletivo. No
séc. XVII passaram por uma grande evolução nos três últimos séculos, sendo influenciadas
com rapidez e efetuar buscas por palavras-chave, extraídas do título, do resumo, ou mesmo
Analysis and Retrieval Systems, gerenciado pela base de dados da National Library of
Medicine.
cientistas, uma vez que os pesquisadores dos países em desenvolvimento têm grandes
coloca os cientistas dos países periféricos em condições de igualdade com os cientistas dos
Pesquisas realizadas apontam que 70% das revistas latino-americanas não estão
No banco de dados WEB OF SCIENCE, em que são indexadas 10.000 revistas, nas
bases Science Citation Index-SCI, Social Science Citation Index-SSCI, Arts & Humanities
Institut for Scientific Information-ISI, aponta que a maior parte da pesquisa brasileira é
praticada nas Universidades Públicas, das quais a USP, a UFRJ, a UNICAMP, a UFMG e a
O Brasil está atualmente na 15ª posição na lista de países que mais publicam artigos
2004. Com isso, o País ultrapassou a Suécia e a Suíça e começa a ameaçar a Rússia, que
por sua vez apresentou uma queda significativa na área, de quase 17% no ano passado na
qualitativo. O nível de impacto dos artigos nacionais subiu, o que significa que mais
pessoas usam os trabalhos brasileiros para embasar suas próprias pesquisas. Entre 1981
e 1985, quando o País publicou 10.833 artigos (0,48% da produção mundial), eles foram
citados 14.625 vezes, apresentando um índice de impacto de 1,35. Entre 2000 e 2005, o
mesmo índice passou para 2,95: dos 70.003 artigos publicados no período (1,72 da
científica brasileira cresceu 133% nos últimos dez anos, só perdendo da China, entre os
O ARTIGO CIENTÍFICO
“Artigo científico é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute
(ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2). Para Lakatos e Marconi (1991) os artigos científicos têm as
questão.
Há vários tipos e subtipos de artigos científicos, desde uma carta ao editor até um
Relato de caso
Artigo de Revisão
Artigo original – investigação clínica
Artigo original – área básica
Carta ao Editor
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Nessa seção vamos nos ater a estrutura do tipo de artigo científico mais frequentemente
do artigo, que é seguida pela grande maioria dos periódicos médicos é conhecida pela sigla
composto de 4 seções, cada uma com suas próprias características e regras. Podemos ou
Pode-se descrever esquematicamente o que cada seção deve conter no quadro abaixo.
Em linhas gerais, cada seção deve conter um conteúdo específico e de certa maneira rígido
SEÇÃO DE INTRODUÇÃO
Na introdução o autor irá situar o leitor na temática desenvolvida no corpo do texto. Deve-se
introdução podem ser assim delineadas: (1) Motivar o leitor a ler o artigo despertando seu
interesse para o problema; (2) Auxiliar o leitor a entender o contexto do estudo e quais são
as perspectivas do tema; (3) Ser informativa o suficiente para preparar o leitor, seja ele
Em geral, essa seção deve ter três a quatro parágrafos, assim subdivididos:
Veja abaixo um exemplo de introdução em periódico de alto impacto. O artigo tem como
título: Early life risk factors for obesity in childhood: a cohort study. Foi publicado no British
Medical Journal em 2005 (BMJ. 2005 Jun 11; 330:1357). Na primeira parte, os autores
como eles também apontam as lacunas na literatura e os problemas com estudos prévios.
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Finalmente, algumas indicações podem ser apontadas para uma apropriada seção de
introdução: (1) Releia a introdução no final do estudo; (2) reveja as citações. Cuidado: os
revisores são provavelmente autores dos principais estudos da área; (3) ao apontar lacunas
podem substanciar essas lacunas; (4) não defina o que já é estabelecido. Não repita
conceitos óbvios. Lembre-se: o leitor interessado no seu estudo é pesquisador da área; (5)
SEÇÃO DE METODOS
importante do ponto de vista científico, pois a validade do estudo será julgada através das
informações nela contida. Em geral, deve ser a primeira parte a ser escrita. Na seção de
métodos, o autor irá situar o leitor como foi realizada a pesquisa. Fornecer completa
informação sobre pacientes, materiais, e métodos utilizados. Essa seção pode ter subitens;
suficiente de modo que o estudo possa ser reproduzido. Essa seção deve ser revista
cuidadosamente por todos os pesquisadores envolvidos. Em geral, essa seção deve ter de
Desenho do estudo
Amostra (pacientes)
• Local
• Tempo
Protocolo do estudo
Variáveis coletadas
Análise estatística
Ética
de dados;
testes realizados (métodos padrões não precisam ser descritos); mensurações obtidas
estudo;
estatísticos utilizados, Métodos usuais não necessitam referência, Ex: qui-quadrado, teste T,
correlação, etc. Métodos especiais devem ser referendados (Ex: Análise de Sobrevida,
Análise multivariada); se valores de “P” e “IC” forem usuais não é necessário relatar
objetivo geral do mesmo. Note-se que eles fazem referência a outro estudo no qual a
Desenho
Ética
Participantes
Mensurações
definem com precisão esse evento. Este é um dado de imensa importância para os
dependente. Toda a análise estatística deverá ser baseada na definição e no tipo dessa
variável.
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Evento de interesse
Variáveis independentes
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Nesse estudo com ótima apresentação do ponto de vista técnico e cientifico, os autores têm
o cuidado de definir cada variável independente. Com essa finalidade, eles usam o recurso
de uma tabela que sintetiza para os leitores, com clareza, esses dados.
Variáveis independentes
logística binária). Logo em seguida, eles detalham os passos que foram seguidos para se
há vários métodos para se estabelecer esses modelos. Assim, todo pesquisador deve ter o
SEÇÃO DE RESULTADOS
ilustrativo (tabelas e figuras) como texto. Embora isso possa parecer redundante, a seção
iniciantes colocam opiniões e discussão nesta seção. Esse erro deve ser evitado a todo
resultados deve ter a mesma seqüência. Assim, os resultados devem ser providos em uma
seqüência lógica, em conjunto com a seqüência em que o estudo foi realizado. Por
exemplo, os resultados das mensurações no “baseline” devem ser apresentados antes dos
resultados obtidos após uma intervenção. Convém ressaltar que nessa seção as figuras
(incluindo os gráficos) e tabelas são muito importantes para convencer editores, revisores e
eles estão considerando para publicação. Esse passo é importante, pois cada periódico tem
Pediatrics permite apenas 4(quatro) tabelas e/ou gráficos no total. Aliás, essa consulta a
Algumas indicações podem ser apontadas para uma apropriada seção de Resultados:
1) O texto segue uma seqüência e procura ter seu foco sobre as respostas às hipóteses ou
Tabelas e Figuras. Deve ser a segunda seção a ser elaborada, após a seção de métodos;
5) O autor deve ressaltar ao leitor quais os achados importantes apresentados nas tabelas e
figuras; contudo não repetir no texto dados apresentados em forma de tabelas e/ou figuras.
artigo tem como título: Effect of handwashing on child health: a randomised controlled trial.
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Foi publicado no LANCET em 2005 (Lancet 366: 225-233, 2005). Este artigo tem no total
objetivo de verificar o impacto da higiene das mãos com sabonete (com e sem
lembrado que a maioria dos editores exige que os ensaios clínicos sigam as
trials. The CONSORT statement. JAMA. 1996 Aug 28;276(8):637-9). Os autores fazem
nesse artigo um interessante uso de Tabelas e Gráficos, sendo que o texto dos Resultados
quatro figuras (sendo quatro gráficos). Inicialmente, os autores mostram em uma tabela, que
Posteriormente, eles mostram em duas tabelas o impacto que a intervenção (lavar as mãos)
qualidade das figuras e, consequentemente o impacto que elas têm sobre os leitores.
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SEÇÃO DE DISCUSSAO
randomised controlled trial. Foi publicado no LANCET em 2005 (Lancet 366: 225-233, 2005)
literatura. Essa é uma característica importante, que todo revisor espera encontrar na
seção de Discussão. Note-se que devem ser ressaltados estudos que tenham resultados
que corroborem os achados assim como outros trabalhos que eventualmente são
contraditórios.
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A partir daí, são expostas as limitações do estudo e as implicações dessas limitações nos
achados. Deve ser lembrado que todo estudo clínico tem limitações por mais que a
metodologia seja apropriada para responder às questões propostas pelos pesquisadores.
Assim, novamente, todo revisor e editor espera que os autores reconheçam as limitações
da metodologia empregada e comentem as possíveis implicações dessas falhas nos
resultados do estudo.
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TÍTULO
O título de um artigo científico é de grande importantância, pois é o primeiro componente
que o eventual leitor terá contato. A atenção para um artigo muitas vezes é despertada
por um título chamativo e apropriado.
Algumas observações são importantes:
(1) o título deve ser uma frase concisa com informação suficiente sobre a investigação
realizada;
2) Deve ter em torno de 80-90 caracteres;
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3) Pode incluir achados relevantes do estudo (desde que haja uma evidência clara e
inequívoca);
4) Deve chamar atenção para aspectos positivos do estudo. Por exemplo: se o desenho
do estudo for de interesse (um ensaio clínico randomizado, um estudo de coorte
prospectivo, uma meta-análise), essa característica deve constar no título. Por outro lado,
se a força do estudo estiver relacionada à amostra (tamanho, características) esse
aspecto deve ser destacado no título. Em suma, o título pode conter, dependendo do
ponto que se quer enfatizar, o desenho do estudo; palavras–chaves do estudo; achados
significativos do estudo e os sujeitos da pesquisa.
Alguns exemplos de título apropriados que destacam aspectos do estudo estão
demonstrados abaixo. Note-se a ênfase no desenho do estudo ou nas características da
população em estudo, ou nas palavras-chaves.
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RESUMO
O resumo (abstract) de um artigo científico também é de extrema importância, pois é o
componente do artigo que será lido em primeiro lugar. Muitas vezes outros pesquisadores
da área terão acesso apenas ao resumo do artigo. Essa seção é a versão condensada do
artigo. Deve ser auto-explicativa. O resumo deve conter: porque o estudo foi feito; como
foi feito; o que foi encontrado e a interpretação/conclusão. Em outras palavras deve
conter: objetivo, métodos, resultados e conclusão.
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Na maioria dos periódicos, o Resumo deve ter entre 150 – 250 palavras. Há uma grande
variedade de formato entre periódicos. Portando, convém checar antes as “Instruções
dos autores”.
Alguns exemplos de Resumo, de periódicos de excelência, estão demonstrados
abaixo (note-se que a maioria, mas nem todos, são estruturados).
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REFERÊNCIAS
Referências. Lembrar que as seções que devem conter referências são: Introdução,
Métodos e Discussão. Muitos periódicos limitam o número de referências em artigos
originais (entre 20 a 50, a maioria em torno de 30). Para relato de casos, o limite fica entre
10 e 15. Para artigos de revisão, o número de referências permitido é maior. Muitos
editores recomendam o uso de softwares que fazem automaticamente a indexação das
referências. Há vários no mercado atualmente, sendo o mais utilizado em pesquisas
biomédicas o programa EndNote (http://www.endnote.com).
AGRADECIMENTOS
PROCESSO DE EDIÇÃO
Para se obter sucesso na publicação de seus estudos, os autores devem compreender o
processo de edição de um periódico e os passos que um artigo científico percorre para
ser considerado apropriado para publicação. Em primeiro lugar, sempre siga
cuidadosamente as “Instruções para os autores”. A apresentação do artigo deve obedecer
rigorosamente às regras impostas pelos editores. Muitos periódicos fornecem check-list
que devem ser cuidadosamente seguido. Lembre-se que a publicação de artigos é
altamente competitiva e os editores vêem mais favoravelmente aqueles autores que
procuram apresentar o manuscrito inicial de forma elaborada e cuidadosamente revisado.
Um ponto importante que deve ser definido prioritariamente é a escolha do periódico.
Essa tarefa não é trivial, pelo contrário é muitas vezes complexa e envolve um grande
número de fatores, que devem ser considerados pelos autores. As agências de fomento à
pesquisa têm valorizado a publicação em periódicos de alto impacto. Assim, os grupos de
pesquisa que publicam nesses periódicos têm maior acesso a verbas de pesquisa e
bolsas, entre outros auxílios. Além disso, essas publicações têm um grande peso na
avaliação dos cursos de pós-graduação. Contudo, deve ser lembrado que quanto maior o
impacto do periódico, maior a chance do artigo ser recusado. Por exemplo, a taxa de
rejeição dos periódicos de alto impacto em Medicina Interna, como o New England
Journal of Medicine e Lancet, ultrapassa a 90%. Assim, os autores devem fazer um
balanço entre a possibilidade de publicação e/ou de rejeição versus a qualidade do
periódico. Em geral, esses periódicos de alto impacto de Medicina Interna aceitam
grandes estudos multicêntricos, ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte
prospectivos e que tenham amplo interesse na comunidade médica internacional. Em
Pediatria, os bons periódicos têm fator de impacto em torno de 2 a 3 e a aceitação nessas
publicações está em torno de 40% a 50%, ou seja, metade dos artigos submetidos é
geralmente rejeitada. A CAPES classifica os periódicos em seis níveis de acordo com a
indexação e o fator de impacto:
IA – indexado no MEDLINE, ISI e alto FI (em geral > 1)
IB - indexado no MEDLINE, ISI e baixo FI (em geral, < 1)
IC – indexado no MEDLINE
NA – Indexado no SCIELO
NB – indexado no LILACS, EMBASE
NC – sem indexação
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Adaptado de Pierson DJ. The Top 10 Reasons Why Manuscripts Are Not Accepted for Publication. Respir
Care 2004;49(10):1246 –1252.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Atualmente há vasto material disponível para o pesquisador interessado em aprimorar a
redação cientifica e seus projetos de pesquisa. Esse material pode ser encontrado em
periódicos científicos, em livros, e na internet. Abaixo, relacionamos o material de apoio
que temos utilizado. O pesquisador com pouca experiência ler muitos artigos de sua área
de interesse e estar sempre acompanhando o periódico de sua especialidade. De maneira
geral, periódicos de alto impacto em todas as áreas publicam artigos de alta qualidade,
semanalmente ou mensalmente. No Portal CAPES pode-se encontrar a grande maioria
desses periódicos como Lancet, New England J Medicine, JAMA, Annals of Internal
Medicine, BMJ, Journal of Pediatrics, Archives Disease of Childhood, Pediatric Research,
entre outros.
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LIVROS:
Day, R. A. How to Write and Publish a Scientific Paper, 4th Ed., Cambridge University Press, 1995
O’Connor, M. Writing Successfully in Science, Academic Press, 1991
Huth, E. J. Writing and publishing in Medicine. Williams & Wilkins. 1999
Lang, TA & Secic M. How to Report Statistics in Medicine: Annotated Guidelines for Authors,
Editors, and Reviewers. American College of Physicians; 2nd edition (December 30, 2006)
Zeiger, M. Essentials of Writing Biomedical Research Papers. McGraw-Hill Professional; 2 edition
(September 30, 1999)
Motulsky H. Intuitive Biostatistics. Oxford University Press, USA; 1 edition (October 19, 1995)
Hulley et al. Designing Clinical Research: An Epidemiologic Approach. Lippincott Williams & Wilkins;
3 edition (November 1, 2006).
Altman DG. Practical Statistics for Medical Research. Chapman & Hall/CRC; 1 edition (November
22, 1990)
ARTIGOS
Hess DR. How to write an effective discussion. Respir Care. 2004 Oct;49(10):1238-41.
Kallet RH. How to write the methods section of a research paper. Respir Care. 2004
Oct;49(10):1229-32.
Skelton J. Br J Gen Pract. 1994 Oct;44(387):455-9. Analysis of the structure of original research
papers: an aid to writing original papers for publication.
International Committee of Medical Journal Editors – Ann Intern Med 1997: 126: 36-47.
The Top 10 Reasons Why Manuscripts Are Not Accepted for Publication. David J Pierson.
Respiratory Care • October 2004 Vol 49 No 10
Anatomy of a Research Paper. Richard D Branson. Respiratory Care • October 2004 Vol 49 No 10
REFERÊNCIAS