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Conquistas Ardilosas

José Rodriguez

Personagens
Ana Luisa
Valdemar

Um açougue meio sujo. Luzes fracas. Um ventilador velho. Um açougueiro, gordo e


suado, com uma camiseta de física e com palito entre os dentes que insiste em tirar algo.
Ele olha para algo e depois volta para o balcão e diz:

Valdemar: É hoje ! Eu não posso reclamá da minha vidinha.

Ouve-se o barulho de triturador de carne. Ele pergunta para uma provável pessoa que
ela não se atrase, pois quer fechar cedo. Agora , ele fica quieto e escuta um salto alto de
longe. Ana Luisa, jovem, bonita, com uns livros na mão dirige-se a Valdemar.
Demonstra uma preocupação.

Ana Luisa: Senhor, posso fazer uma ligação? A bateria do meu celular acabou, e o meu
namorado não estava onde havíamos combinado.

Quando ela solta os livros, cai o livro Manual do ator de Stanislavski. Valdemar junta o
livro para ela enquanto ele liga.

Valdemar: oh.. teu livro, moça.

Ela liga, mas ninguém atende. Ela fica preocupada, pois o suposto namorado não
atende.

Ana Luisa: Meu Deus! O que será que aconteceu com ele? To preocupada, senhor. Ele
não atende.

O açougueiro vai até uma outra porta e pergunta algo ao auxiliar. Ouve-se somente o
diálogo dele.

Valdemar: Falta muito, rapaz? ( tempo) Assim que tu terminar, tu me diz. ( Ele se
dirige a ela.) O meu empregado está arrumando as coisa. Se eu não ficar no bico dele,
ele faz o serviçu tudo errado. E a senhorita conseguiu fala com o teu namorado?

Ana Luisa: Não. Ele não atende. Estou bem preocupada. Nós combinamos de nos
encontrarmos no Madras e depois íamos sair.

Valdemar: Que estranho, moça. Será que ele não se esqueceu do encontro? Ou ele
sofreu um acidente?

Ana Luisa: Não sei... Onde esse homem se meteu?!

As máquinas são desligadas. Percebe-se um olhar diferente entre os dois. De uma certa
cumplicidade.
Valdemar: E o que tu vai faze agora, moça?

Ana Luisa: Vou ligar mais uma vez e depois vou tomar um táxi. E amanhã tentarei
ligar novamente.

Valdemar: Se quise, eu posso te leva pra casa. Já vou fechar o açougue.

Ana Luisa: Não precisa. Muito obrigada.

Valdemar: Eu quero te leva.

Ana Luisa: Muito obrigada, senhor. Mas não precisa mesmo. Qualquer problema eu
chamo meu pai, mas tenho dinheiro para o táxi.

Valdemar: Eu vou te leva.

Ana Luisa: Eu já disse que não precisa.

Valdemar tenta agarrá-la.

Ana Luisa: O senhor faz me um favor?

Valdemar: Calma, guria. Ta nervosinha? Eu ti largo desde que eu te levi.

Nisso, o auxiliar, lá de dentro, dá tchau. Ana Luisa solta uma gargalhada.

Ana Luisa: ( gargalhada meio diabólica)

Valdemar: Filha, tu estás virando uma excelente atriz. Estou perplexo.

Ana Luisa: Também, pai. Filha de um intelectual. E o senhor , falando errado. Até
parece aqueles ricos emergentes. ( ri)

Valdemar: filha, quem nos escuta, pensará que nós realmente não nos conhecemos.
Uma observação, filha. Esse livro. Não quero que tu andes com ele, pois podem
desconfiar.
Ana Luisa: Ta bom, paizinho. E Gostou desse rapaz?

Valdemar: Achei maravilhoso, Aninha. Esse é melhor que o outro.

Ana Luisa: Que bom, papi! Pai, ta na hora de tu trocares de ajudante. Fica difícil pra eu
mudar toda hora. É peruca... é tinta... Isso às vezes enche.

Valdemar: Eu já pensei nisso, filhinha do papai. Já providenciarei outro, caso contrário


nossa encenação irá ser descoberta.

Ana Luisa: Bom, pai. Vou lá. Vou no Madras ,achar um outro rapaz pra ti, ok?

Valdemar: Vai lá, filha. Eu te amo, sabia?


Ana Luisa: eu também, paizinho. E sempre te amarei.

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