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Osun

IBÀ ÒSUN! ÒSUN SIGINSI EMI L’OMO ÌJÈSÀ.


ÒSUN Ó JÍRE E O!

SAUDAÇÕES ÒSUN! ÒSUN SIGINSI SOU CIDADÃO DE ÌJÈSÀ.


ÒSUN, BOM DIA PARA VC!
OXUN TERIA NASCIDO DE UMA CONCHA DEPOSITADA POR SUA MÃE
YEMANJÁ, NAS MARGENS DE UM GRANDE RIO AO QUAL EMPRESTA O SEU
NOME, RIO OXUN, EM YORUBÁ "ODÔ OXUN". É NOS LOCAIS MAIS
PROFUNDOS DESTE RIO, ENTRE AS LOCALIDADES DE IGUEDÉ ONDE
NASCE E LEKÉ, ONDE DESEMBOCA NUMA LAGOA, QUE OXUN É
ORIGINALMENTE CULTUADA, TENDO O SEU TEMPLO PRINCIPAL
EDIFICADO NESTA REGIÃO, NA ALDEIA DE OXOGBO, PALAVRA DO DIALETO
YORUBÁ QUE SIGNIFICA: "OXUN ATINGIU A MATURIDADE". NO PERCURSO
DO RIO, QUE CORRESPONDE À TRAJETÓRIA DO PRÓPRIO ORIXÁ, OXUN
ASSUME DIFERENTES CARACTERÍSTICAS, TODAS LIGADAS À MANEIRA DE
SER DAS MULHERES, DE SEU CARÁTER E ATITUDES, DE SUAS
QUALIDADES E DEFEITOS. ASSIM, O AFRICANO SE REFERE À DIFERENTES
"CAMINHOS" DESTE ORIXÁ, QUE SERÃO DESCRITOS DE FORMA
PARTICULAR, SEMPRE COMPARADOS A SITUAÇÕES ESPECÍFICAS DO
PROCEDIMENTO FEMININO. TEMOS ENTÃO:

OXUN KAYODE, REPRESENTADA PELA DANÇA DE OXUN, REPLETA DE


MOVIMENTOS QUE DENOTAM A SENSUALIDADE REVELADA NA MANEIRA
DE ANDAR, DE SE MOVIMENTAR E DE PROCEDER DAS MULHERES.

YEYE KARE REPRESENTA O CULTO À BELEZA E À VAIDADE FEMININA, É


DESCRITA COMO "O ESPÍRITO QUE SE REFLETE NO ESPELHO", MOTIVO
PELO QUAL OXUN ESTÁ PERMANENTEMENTE SE ADMIRANDO NA
SUPERFÍCIE DE UM ESPELHO, DO QUAL NÃO SE SEPARA NUNCA. O GOSTO
PELA RIQUEZA, PELA OPULÊNCIA E PELO USO DE JÓIAS E ADORNOS SE
REVELA NO CAMINHO DE OXUN BUMI, ONDE A YAGBÁ COBRE-SE DE
PULSEIRAS, BRINCOS E COLARES DE OURO, METAL QUE LHE PERTENCE
POR DIREITO E AO QUAL ESTÁ LIGADA DE TODAS AS FORMAS.

OXUN SEKESE REPRESENTA A APARENTE FRAGILIDADE FEMININA,


ARTIFÍCIO USADO PARA OBTER A PROTEÇÃO DOS REPRESENTANTES DO
SEXO MASCULINO.

OXUN IBUKOLA É A SEDUTORA IRRESISTÍVEL E REPRESENTA O PODER DE


SEDUÇÃO FEMININO.

O ESPÍRITO MATERNAL É REPRESENTADO POR TRÊS DIFERENTES


CAMINHOS ONDE OXUN FUMIKE PROPORCIONA A POSSIBILIDADE DE
GERAR FILHOS, OXUN OXOGBÔ ASSISTE A MULHER NA HORA DO PARTO,
DESEMPENHANDO AÍ, A FUNÇÃO DE PARTEIRA E OXUN FUNKE É A
MESTRA, REPRESENTANDO A MÃE QUE ORIENTA E ENSINA AOS FILHOS AS
PRIMEIRAS PALAVRAS E PASSOS NO SEU PRIMEIRO CONTATO COM O
MUNDO E COM A PRÓPRIA VIDA.
OXUN MIWA, O ESPIRITO DAS ÁGUAS DOCES, ESTÁ, DE CERTA FORMA,
LIGADA AO PROCESSO DE GESTAÇÃO E DIZEM QUE ASSISTE E PROTEGE
O FETO DURANTE TODO O PERÍODO DE GRAVIDEZ, SENDO A DONA DO
LÍQUIDO AMINIÓTICO.
A INCONSTÂNCIA DO CARÁTER FEMININO É REPRESENTADA POR

OXUN AKURA IBÚ, QUE SE FAZ PRESENTE NOS LOCAIS DE ENCONTRO


DAS ÁGUAS DO RIO COM AS DO MAR. A MULHER GUERREIRA,
BATALHADORA E BELICOSA É REPRESENTADA POR QUATRO CAMINHOS
DE OXUN, NOS QUAIS PORTA SEMPRE UMA ESPADA. NESTES CAMINHOS A
ORIXÁ É CONHECIDA COMO:

OXUN APARÁ, OXUN OKE, OXUN IPONDÁ E YEYE IBERIN,


TODAS CONSIDERADAS COMO GUERREIRAS PODEROSAS. A MULHER
MADURA, CONSCIENTE DE SUA GRAÇA E ELEGÂNCIA, REVESTIDA DE
RESPEITO E CLASSE. São REPRESENTADAS POR OXUN EDE.

A PARTIR DAÍ, OXUN ASSUME CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS À


MULHER ENVELHECIDA, CHEIA DE MANIAS E PRECONCEITOS, RANZINZA E
IMPLICANTE E É ENTÃO REPRESENTADA POR OXUN OGÁ. NO ÚLTIMO
CAMINHO, VAMOS ENCONTRAR OXUN ABOTÔ, CONSIDERADA VELHA E
DECRÉPITA E ENVOLVIDA EM AÇÕES MISTERIOSAS E OBSCURAS
RELACIONADAS, TALVEZ, À PRÁTICA DA FEITIÇARIA. OXUN, ENTÃO,
ASSUME E REVELA TODO O PODER FEITICEIRO DA MULHER. DESPROVIDA
AGORA DE ESCRÚPULOS E DO SENTIMENTO DE PIEDADE, CONTESTA A
PSEUDO-SUPERIORIDADE DO MACHO E CRIA UMA SOCIEDADE SECRETA
ESTRITAMENTE MATRIARCAL DENOMINADA SOCIEDADE GUELEDÉ, ONDE
A FACE MALIGNA É ENCOBERTA POR MÁSCARAS MUITÍSSIMO
ELABORADAS.

É OXUN AWE QUEM SE ENCARREGA DE ORGANIZAR ESTA SOCIEDADE


ONDE O HOMEM NÃO TEM VEZ, DEVENDO, TÃO SOMENTE, SUBMETER-SE
DE BOM GRADO ÀS EXIGÊNCIAS DE SUAS LÍDERES.

OXUN, REUNINDO EM SI MESMA TODAS AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES


ANTERIORMENTE DESCRITAS, ASSUME PARA SI O ABSURDO PODER DE
YÁMI AJÉ - A MÃE FEITICEIRA – E, INVESTIDA DESTE PODER, CONTROLA A
VIDA E A MORTE, PUNINDO OU PREMIANDO INDISCRIMINADAMENTE, SEM
SENSO DE JUSTIÇA E SEM JULGAMENTO. AÍ, É REPRESENTADA PELA
GRANDE CABAÇA IGBADU, SÍMBOLO DO VENTRE GERADOR, ENCIMADA
PELO PÁSSARO OXORONGÁ, REPRESENTAÇÃO DO PODER FEITICEIRO
ILIMITADO QUE PODE ENVIAR AONDE BEM ENTENDER DE ACORDO COM
SUA CONVENIÊNCIA. SURPREENDENTEMENTE, DETERMINA QUE ESTA
CABAÇA JAMAIS SEJA VISTA OU CULTUADA POR MULHERES.
OXUN NO BRASIL
Estabelecido em definitivo o culto no Brasil, outras manifestações de Oxun podem
ser verificadas nos tradicionais terreiros ou roças de candomblé.

ENQUANTO NA ÁFRICA, AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES SÃO


CONSIDERADAS COMO CAMINHOS PERCORRIDOS POR OXUN COMO UMA
ÚNICA ENTIDADE, NO BRASIL CONSIDERA-SE CADA "QUALIDADE" COMO
SENDO UM ORIXÁ DIFERENTE E ASSIM, OXUN DEIXA DE SER UMA SÓ E
DIFERENTES OXUNS, COMPONENTES DE UMA GRANDE FAMÍLIA SERÃO
CULTUADAS DE ACORDO COM CADA DIFERENTE QUALIDADE. DESTA
FORMA,:

OXUN IJUMÚ, CONSIDERADA A RAINHA DE TODAS AS OXUNS ESTÁ LIGADA


AO ASPECTO DE YAMÍ AJÉ, OSTENTANDO, POR ISTO, O TÍTULO DE
YALODE.

Oxun Ayalá teria sido mulher de Ogun com quem trabalhava na forja, acionando o
fole para atiçar as brasas. Conta a lenda que o fole acionado por Oxun Ayalá
produzia um som ritmado e muito agradável. Atraído por este som, Egun pôs-se a
dançar diante da ferramentaria, atraindo um grande número de assistentes que
por ali passavam. Encantados com o bailado de Egun os passantes lhe fizeram
muitas oferendas de dinheiro, o que o deixou feliz e vaidoso. Ao saber que Egun
estava ganhando dinheiro com sua apresentação, Oxun exigiu que metade da
renda obtida fosse dividida com ela, caso contrário, não acionaria mais o fole que
produzia o ritmo sem o qual Egun não poderia mais dançar. Sem alternativas,
Egun teve que aceitar a exigência da Yagbá passando, a partir de então, a dividir
com ela tudo o que ganhava em suas apresentações. Esta Oxun além de sua
ligação com Ogun Alagbede tem sérios fundamentos com Egun.

OXUN ABALÚ, TAMBÉM CONHECIDA COMO OXUN ABOTÔ É CONSIDERADA


COMO SENDO A MAIS VELHA DE TODAS. É MUITO CIUMENTA E ADORA
RECEBER HORTÊNSIAS COMO OFERENDA. SUA LIGAÇÃO COM OMOLÚ O
ORIXÁ DA PESTE, TIDO COMO O MÉDICO DOS POBRES, É NOTÁVEL E
SEGUNDO DIZEM, ACOMPANHA ESTE ORIXÁ EM SUAS ANDANÇAS PELOS
QUATRO CANTOS DO MUNDO.

Oxun Ipetú é a guardiã dos segredos insondáveis. Sobre esta Oxun pouco se
sabe e nada se fala. A simples pronúncia de seu nome é revestida de muito
respeito e considerada quase como um tabu.

Oxun Popolokun, também revestida de uma enorme aura de mistério, é cultuada


em lagoas de águas profundas, onde estabelece a sua residência. Conta a lenda
que esta Oxun costuma aprisionar em seu reino aqueles que se aventuram a
mergulhar em suas águas.

Oxun Apará é a poderosa guerreira que acompanha Ogun em suas campanhas,


porta um sabre que manipula com força e destreza. Esta Oxun tem fundamento
com Yemanjá, de quem é filha e com quem costuma comer. Da mesma forma que
Apará, Oxun Ipondá é guerreira e dona de

caráter irascível. Esta Oxun costuma formar, junto com Oyá, uma dupla de
combatentes invencíveis.

Existe assim uma Oxun denominada Yeye Oloko, que habita nos mananciais
d’água existentes no interior das florestas mantendo ligações fundamentais com
Oxóssi e Ossain. Como vimos, Oxun representa a feminilidade em todos os seus
diferentes aspectos. Seu charme e inteligência proporcionaram-lhe a possibilidade
de ter sido, por escolha própria, esposa de inúmeros Orixás, com exceção de
Obatalá, de quem seria a filha dileta e de Exu, com quem sempre manteve uma
relação de amizade fraternal e cumplicidade. Como esposa de Orunmilá - Senhor
e Patrono do Oráculo de Ifá – Oxun recebe o título de primeira Apetebí, dado até
hoje às sacerdotisas do culto de Orunmilá e às esposas de seus sacerdotes, os
babalaôs. Uma lenda narra de que forma Oxun, com o auxílio de Exu, roubou o
segredo dos 16 signos do Sistema Oracular de Ifá, os 16 Odu-Meji, criando com
isto um novo sistema divinatório, o jogo de búzios, proporcionando condições
para que as mulheres pudessem proceder à adivinhação, o que anteriormente era
exclusividade dos homens. Dentre as figuras do oráculo, destacamos o Odu Oxe
Meji, através do qual Oxun se comunica com os seres humanos.

Uma outra lenda, ressaltando a astúcia de Oxun, narra que Xangô o poderoso
Orixá do trovão possuía três esposas, Oyá, Obá e Oxun, sendo que a última era a
sua favorita. Ansiosa por receber maiores atenções do marido, Obá pediu que
Oxun lhe ensinasse o feitiço que havia feito para conquistar o coração de Xangô.
Ardilosa e maldosamente a bela senhora orientou a concorrente para que cortasse
uma de suas orelhas e que a servisse depois de cozida, como alimento ao marido.
Obá, acreditando na sinceridade de Oxun, não hesitou em decepar a própria
orelha e com ela preparar um belo prato, de acordo com o gosto de Xangô. Ao
deparar-se com o alimento que a mulher lhe servia, Xangô, indignado, expulsou
Obá do palácio real, terminado assim, com qualquer possibilidade de um dia vir a
ser a sua favorita. A partir de então, Obá e Oxun tornaram-se inimigas
irreconciliáveis, Em outra ocasião, Oxun apaixona-se por Oxóssi que vinha
diariamente banhar-se nas águas do rio, no local exato em que ela morava. De
todas as formas, tentava atrair o caçador para dentro do rio onde pretendia
entregar-se a ele. Oxóssi, que não sabia nadar, embora atraído pela beleza de
Oxun, não ousava arriscar-se na correnteza e, desta forma, o ato de amor não se
consumava. Enlouquecida pela paixão, Oxun arquitetou um plano e fez com que
Oxóssi comesse uma iguaria preparada à base de mel de abelhas. Exu foi
encarregado de entregar à Oxóssi o doce feito por Oxun e, desta forma, após
comer a deliciosa torta, Oxóssi, enfeitiçado, perdeu o sentido de perigo e,
atirando-se às águas, deixou-se levar pelos encantos da bela senhora. Satisfeita
em seu desejo, Oxun simplesmente abandonou o amante ao sabor da corrente e
Oxóssi, sem saber nadar, sucumbiu, tragado que foi pelas águas do rio. Desta
união, nasceu Logunedé, Orixá menino, que possui características do pai, atuando
como caçador e vivendo dentro das matas durante um certo período e, noutro
período, assumindo as características de sua mãe, vive da pesca e reside nas
águas do rio. O culto à Oxun se destaca por características próprias e é na
cadência do ritmo ijexá que ela se apresenta, espargindo o perfume da água-de-
cheiro, dançando de forma sensual e maliciosa, envolvendo a todos na magia do
bailado onde exalta todos os seus aspectos de deusa-mulher e contagiando de tal
forma os presentes que, repentinamente, todos agitam os próprios corpos ao som
irresistível dos atabaques, gans, agogôs e afoxés, como crianças embaladas pela
magia dos cânticos da Grande Mãe. Esta é Oxun, a Deusa do Amor, a Senhora do
Ouro e do Mel, a Rainha das Águas Doces, dos Rios e das Cachoeiras. Esta é
Oxun, a Vênus Negra, nossa Mãe Transcendental, a quem saudamos efusiva e
respeitosamente:
Ore Yeye ô!

Entre os povos do Caribe, por influência dos escravos negros, o culto aos Orixás
se expandiu e, em Cuba, é conhecido como "Santeria". Muitas são as lendas
conhecidas naquele país que descrevem a trajetória dos Orixás tentando, sempre
de forma alegórica, explicar sua relação com a natureza e com os seres humanos.
Oxun, uma das mais importantes personagens do panteão afro-cubano, está
ligada a diversos aspectos da natureza como as águas doces, as cachoeiras, o

ouro, o mel e a reprodução das espécies. Representa a luta pela vida e pela
sobrevivência. Deusa do amor e senhora dos cursos d'água, sua primeira
manifestação teria ocorrido, segundo uma lenda, numa concha na beira de um rio.
Segundo os povos do Caribe, Oxun é filha de Nanan e de Obatalá e gerou
filhos ao acasalar-se com Obatalá, Orunmilá e Oxóssi. Com Orunmilá, gerou
Poroyé, do sexo feminino. Com Odé gerou Logun Edé, Orixá masculino, mas,
devido à sua delicadeza e infantilidade, visto como andrógino e, com Obatalá,
gerou Olosá ou Oloxá, entidade feminina que vive tanto nas águas dos rios
quanto nas águas do oceano. Sua relação sexual com Obatalá, seu pai,
considerada como quebra de um tabu rigoroso, é o segredo contido nos itans de
Ifá que se referem à uma relação incestuosa entre os Odus Ofun Meji e Oxe Meji,
depois da qual Ofun, que sendo o mais velho dentre os dezesseis Odus de Ifá,
cede sua primogenitura à Ejiogbe, passando, a partir de então, a ocupar o último
lugar entre os Agba Odu ou Odu Meji. Oxun exercia entre os Orixás, o cargo de
cozinheira e, exigindo deles uma possibilidade de participar de funções mais
importantes, lançou sobre toda a criação uma maldição que impedia a
continuidade da vida sobre a Terra. Para que tal praga fosse retirada exigiu uma
posição de destaque entre os principais Orixás, obtendo, desta forma, o respeito e
a submissão de Obatalá a quem provara representar o poder gerador feminino.
Teria vivido com Ajagunan, Orixá Funfun de caráter belicoso, tendo abandonado
sua companhia em decorrência da grande quantidade de igbíns que este Orixá
comia e que sendo a representação viva do elemento água, é uma de suas
maiores interdições. Uma das principais atribuições deste Orixá é cuidar do
desenvolvimento dos seres humanos a partir da fecundação, função esta que
exerce com muita dedicação, acompanhando o desenvolvimento do embrião,
passando pelo período fetal e só entregando aos cuidados do seu próprio Orixá a
criança que já possa reclamar a atenção de seus pais demonstrando de alguma
forma, sua necessidades pessoais.

Além de Obatalá, Orunmilá, Oxóssi e Ajagunan, Oxun teria sido mulher de Ossain,
Xakpanan, Xangô, Aganjú, Orixaoko e Inlé. Segundo afirmam, seu grande amor
teria sido Oxóssi e sua união mais conveniente teria sido com Orunmilá, com
quem adquiriu coroa e saber. Dentre os Orixás femininos, Oxun é a única que
pode ouvir a palavra de Ifá, o "Orô Orunmilá". Oxun é dona do mel e da doçura,
possui um belo sorriso que muitas vezes utiliza para augurar um desastre que,
propositadamente, provoca na vida de alguém através do seu poder de Iyamí Ajé,
o mesmo poder utilizado para obter a importante posição que hoje ocupa,
reconhecida até por Obatalá, o pai da criação. Oxun é amor, ternura, paixão,
desejo e sexualidade, da mesma forma que é dor, pranto, ódio, vingança e
castigo.

É a personificação do amor maternal e senhora do poder genitor feminino


representado pelo sangue menstrual que é simbolizado pelas penas vermelhas
"ekodidé". Estas mesmas atribuições lhe conferem o poder de Iyamí Ajé, Senhora
do Pássaro Oxorongá, símbolo do poder feiticeiro inerente à natureza feminina.

Muitos Odus de Ifá possuem itans que falam especificamente sobre Oxun,
destacando-se entre eles:

Em Ikadi, Oxun é desonrada por seu próprio pai.


Em Oxeturá obtém o reconhecimento de seus poderes de Ajé e é declarada chefe
das mães ancestrais.

Em Irosunká é nomeada como a primeira Apetebí ao casar-se com Orunmilá. No


mesmo Odu Oxun salva o mundo da destruição total.

Em Ofunkanran salva Omolú da morte.


Em Ejiogbe livra Oyá das garras dos inimigos.

Em Oxerosun, protege e salva o amor de Yemanjá e Ogun.


Assim é Oxun, doce veneno. Oxun, a fêmea ideal, o protótipo da mulher, perfeita
em suas próprias imperfeições. Mãe dos homens, senhora, companheira,
adversária e maior amiga. Mas Oxun representa principalmente e em toda a sua
complexidade, a mulher, a maior, mais perfeita e completa criação de Deus, a obra
prima da natureza.
QUALIDADES DE OXUN SEGUNDO A SANTERIA DE CUBA.

1 - IBU KOLE
Esta Oxun nasce no Odu Ogbetura e come galinha d’angola. É aquela que cuida
da casa e recolhe o lixo produzido dentro dela. Seu fio de contas é amarelo ouro
intercalado com âmbar e corais.

2 - OXUN OLOLODI
Trata-se de uma Oxun guerreira que porta uma espada. Seu adê é adornado com
búzios. Carrega um erukeré com o cabo adornado com contas de Orunmilá.
Dentro de sua sopeira coloca-se areia do mar e do rio misturadas. Entre os ararás
é conhecida como Atiti.

3 - OXUN OPARA ou APARÁ. (Em Cuba: Ibu Akparo) Esta qualidade de Oxun
nasce no Odu Owónrin Meji. Seu nome secreto é Iganidan. É aquela que reina
sem coroa. É representada pela codorna. Vive na desembocadura do rio com o
mar e, segundo dizem, é surda. Come codornas e, com Yemanjá, come duas
galinhas cinzentas.

4 - OXUN IBÚ ANAN.


Esta Oxun é tocadora de tambor e nasce em Oturukponyekú. Seu orikí diz:
Aquela que ao ouvir o tambor corre em sua direção.

5 - IBU INANI.
Aquela que é famosa nas disputas. Seu igbá fica sobre areia de rio. Leva um
abebé de metal com dois guizos. Os ararás a chamam de "Tukusi" ou "Tobosi".

6 - OXUN IJIMU OU YUMU.


Aquela que faz inchar a barriga sem que haja gravidez. Esta Oxun é belíssima e
nasce no Odu Ika Meji. Os ararás a chamam de "Tukusi" ou de "Tobosi".

7 - OXUN IBU ODONKI.


Esta Oxun vive em cima de um pilão. Ao lado de seu igbá coloca-se um cesto com
material de costura. Seu orikí diz: O rio está crescendo e suas águas estão cheias
de lixo. Entre os Ararás é conhecida como "Tokago".

8 - OXUN IBÚ ODOÍ.


Esta Oxun come inhame e, junto dela deve-se manter sempre, um inhame cru. É
estreitamente ligada com as Iyamí e possui o dom da feitiçaria. Entre os ararás é
conhecida como "Fosupô".

9 - OXUN IBU OGALE.


Esta Oxun vive rodeada de telhas de barro É uma Oxun velha e guerreira,
considerada a guardiã das chaves. Os ararás a chamam de "Oakerê".

10 - OXUN IYEPONDÁ.A LENDA CONTA QUE FOI ESTA OXUN QUEM LIBEROU
XANGÔ DO CATIVEIRO. SEGUNDO OUTRA LENDA, ESTA OXUN FOI MORTA E
ATIRADA ÀS ÁGUAS DE UM RIO, ONDE LOGROU RESSUSCITAR. É
GUERREIRA E BRIGONA. ENTRE OS ARARÁS É CONHECIDA PELO NOME DE
"AGOKUSI".

11 - OXUN IBU ADESÁ.


Esta Oxun é a dona do pavão real, animal que lhe é sacrificado. Seu nome
significa: "A Coroa é Segura". Entre os ararás é conhecida como "Abotô".

12 - OXUN AYEDÊ OU EYEDE.


Seu nome significa: "Aquela que age como uma rainha". Os ararás a chamam de
Iyaáde.

13 - OXUN OKPAXE ODO.


"Aquela que ressurgiu do rio depois de morta". É conhecida, entre os ararás, como
"Totokusi".

14 - OXUN IBUMI.
Esta Oxun é representada pelo camarão de água doce que, por sua vez, é seu
prato preferido. Não tem paradeiro, é caminhante e fujona. Entre os ararás é
conhecida pelo mesmo nome.

15 - OXUN IBU LATIE.Esta Oxun vive no meio do rio. Só come em cabaças e seu
igbá leva 15 flechas e cinco idés dourados. Não possui coroa e quando é vestida
enrola-se sua cabeça num ojá amarelo com um filá de búzios pequeninos. Seu
nome indica que possui poderes ilimitados e que tem fundamento com Exú
Elegbara. Os ararás a chamam de Kotunga.

16 - OXUN ELEKÉ OIYN.


Esta é uma Oxun guerreira e aguerrida. Seu igbá tem que estar sempre besuntado
de mel de abelhas da mesma forma que, segundo a lenda, massageava seu
próprio corpo com este material. É muito forte e carrega nas mãos um bastão com
a ponta em forma de forquilha.

17 - OXUN ITUMU.Esta é uma Oxun guerreira e que adora confusões. Veste-se


de branco e usa calças compridas como os homens. Dizem ser uma temível
amazona que nas águas combate montada num crocodilo e na terra, no lombo de
um avestruz. Habita as lagoas de águas doces e pode ser encontrada sempre na
companhia de Inlé e de Azawani. Os ararás a cultuam com o nome de Hueyagbe.

18 - OXUN TINIBÚ.Esta Oxun vive com Igbadu e nasce no Odu Ireteyero. É a


matriarca da Sociedade das Iyalodes. Come cabra, cuja cabeça, depois de seca,
é colocada sobre seu igbá. Conta a lenda que tem uma irmã chamada Miuá
Ilekoxexe Ile Bomu, que é cultuada junto com ela. Esta outra Oxun não toma a
cabeça de ninguém.

19 - OXUN AJAJURA.
Esta Oxun vive em lagoas, não usa coroa e é muito guerreira. Em seu igbá coloca-
se um casco de tartaruga.

20 - OXUN AREMU KONDIANO.


Teria sido a primeira a se manifestar numa cabeça humana. Veste-se inteiramente
de branco e seu fio de contas é de nácar e coral com gomos de contas verdes e
amarelas (de Orunmilá). Trata-se de uma Oxun muito misteriosa. Tem estreitas
ligações com Obatalá, chegando, por vezes, a ser confundida com ele. Esta
Oxun, segundo um itan do Odu Ogbekana, foi quem ajudou Orunmilá a
esquartejar o elefante. Os ararás a chamam de Tefande.

23 - OXUN IBU ODOKO.Esta Oxun é muito poderosa e nasce em Ogbekana. É


agricultora e acompanha Orixá oko.

24 - OXUN AWAYEMI.Esta Oxun nasce em Oyeku Meji. É inteiramente cega e


vive na companhia de Azawani e Orunmilá.

25 - OXUN IBU ELEDAN.Esta Oxun nasce no Odu Oxe Leso (Oxe Irosun). É a
dona das fossas nasais Come cabrito capado e pequeno.

26 - OXUN IDERE LEKUN.Nasce no Odu Oturasá. Vive nos buracos formados


nas pedras pelas ondas do mar nos locais de encontro do rio com o mar. Leva um
atabaque de cunha chamado "koto". Não usa coroa e esconde o rosto que é
deformado, com uma máscara de bronze.

27 - OXUN IBU INARE. Vive sobre o dinheiro e, na praia, sobre o caramujo aje.
Esta Oxun não gosta de dar dinheiro a ninguém.

28 - OXUN AGANDARÁ.Esta Oxun nasce no Odu Ikadi. Vive sentada numa


cadeira de braços ou num trono. Seu igba deve estar sempre coberta com folhas
secas de oxibatá e oju oro.

ÀDÚRÀ OSUN

1. - Osun mo pé ó o!
2. - N’ò pé o s’Ikú eni kankan
3. - Béni n’ó s’árùn eni kankan,
4. - Mo pé ó níní owo.
5. - Mo pé ó sí níní omo,
6. - Mo pé ó sí níní aláfià.
7. - Mo pé ó sí òró.
8. - Kí àwa má ríjà ami o,
9. - Odoodún ní a mi orógbó.
10. - Odoodún ní mí obi lóri àte o,
11. - Odoodún ni ki wón ma rí wá o!
12. - Bi a se, èyi ju bàyi lo, ni àmódún.
13. - Òsun só wá, ki o máà sí wàbálà lárín àwa omo ré.
14. - Kí ilé má jò wá.
15. - Kí òna má nà wa o.
16. - Pèsè àse fún wá o.
17. - Eni ase àmódi ara.
18. - Fun ní àláfià o.
19. - Okó oba, àdá oba, kí ó ma sá wa lèsè o.
20. - Kí àwa má rí Ogun idilé!

TRADUÇÃO:

1. - Oxun eu te chamo
2. - Não te chamo por causa da morte,
3. - Não te chamo por causa da doença de alguém.
4. - Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.
5. - Eu te chamo para que tenhamos filhos.
6. - Eu te chamo para que tenhamos saúde.
7. - Eu te chamo para que tenhamos uma vida serena.
8. - Para que não sejamos vitimados pela ira das águas.
9. - Dizem que anualmente há orobôs na feira.
10. - Dizem que anualmente há obís novos na feira.
11. - Que as pessoas nos vejam todo o ano.
12. - Do mesmo modo que fizemos tua festa, que possamos fazer outra
melhor, no próximo ano.
13. - Oxun, nos proteja, para que não haja problemas entre nós, teus
filhos.
14. - Para que haja paz em nosso lar.
15. - Que nossos objetivos não se voltem contra nós.
16. - Dá-nos axé!
17. - À quem estiver doente,
18. - Dá saúde!
19. - Que as leis dos homens não sejam infringidas por nós.
20. - Que não haja problemas em nossa família!
ORIKI OSUN (Usado na Santeria de Cuba)
Yeyé wáile unsebó umbó omiô. Alade olugbá ibú laiye Agbá mofé kiwo.
Yeyé mi na muwá omi tutu nitosi uwenderé ati amagbe kpelu ré arun asó kele
ati sagbe kpefu ré arun, aso kpele mitosí di onire bogbo na burukú iwo ikó .
Olodumare obinrín okpa arô osátaní airô ati iwaju elo ojú ati rérin misin juló
Legba ni bogbo na Osá aiyagbá ati olugba ni bogbo na wura ni laiya Iyamí,
Asé.

TRADUÇÃO APROXIMADA:
Mãe, venha à minha casa fazer o ebó através das águas.
Rainha e Senhora de todos os rios, nós, teus filhos, suplicamos que tu, nossa
mãe, traga-nos a água que limpa e refresca nossos corpos, e que nos seques
depois com teus cinco panos para livrar-nos de todos os males.
Oh, Mãe! Mensageira de Olodumare, Santa Iyagbá, dona dos cabelos, rosto, olhos
e boca mais formosos do mundo, aquela que é dona do ouro, minha Mãe! Axé!

ÀDÚRÀ OSUN
21. - Osun mo pé ó o!
22. - N’ò pé o s’Ikú eni kankan
23. - Béni n’ó s’árùn eni kankan,
24. - Mo pé ó níní owo.
25. - Mo pé ó sí níní omo,
26. - Mo pé ó sí níní aláfià.
27. - Mo pé ó sí òró.
28. - Kí àwa má ríjà ami o,
29. - Odoodún ní a mi orógbó.
30. - Odoodún ní mí obi lóri àte o,
31. - Odoodún ni ki wón ma rí wá o!
32. - Bi a se, èyi ju bàyi lo, ni àmódún.
33. - Òsun só wá, ki o máà sí wàbálà lárín àwa omo ré.
34. - Kí ilé má jò wá.
35. - Kí òna má nà wa o.
36. - Pèsè àse fún wá o.
37. - Eni ase àmódi ara.
38. - Fun ní àláfià o.
39. - Okó oba, àdá oba, kí ó ma sá wa lèsè o.
40. - Kí àwa má rí Ogun idilé!
TRADUÇÃO:

21. - Oxun eu te chamo


22. - Não te chamo por causa da morte,
23. - Não te chamo por causa da doença de alguém.
24. - Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.
25. - Eu te chamo para que tenhamos filhos.
26. - Eu te chamo para que tenhamos saúde.
27. - Eu te chamo para que tenhamos uma vida serena.
28. - Para que não sejamos vitimados pela ira das águas.
29. - Dizem que anualmente há orobôs na feira.
30. - Dizem que anualmente há obís novos na feira.
31. - Que as pessoas nos vejam todo o ano.

32. - Do mesmo modo que fizemos tua festa, que possamos fazer outra melhor,
no próximo ano.
33. - Oxun, nos proteja, para que não haja problemas entre nós, teus filhos.
34. - Para que haja paz em nosso lar.
35. - Que nossos objetivos não se voltem contra nós.
36. - Dá-nos axé!
37. - À quem estiver doente,
38. - Dá saúde!
39. - Que as leis dos homens não sejam infringidas por nós.
40. - Que não haja problemas em nossa família!

CENTRO DE ESTUDOS DA CULTURA AFRO AMERICANA


CECAA

ÒSÚN É ÒRÌSÀ ODÒ (DOS RIOS), É A SENHORA DAS ÁGUAS DA VIDA


OLÓÒMI AYÈ, MÃE DAS ÁGUAS FRIAS E PROFUNDAS (ÌYÁ OMINÍBÚ); FOI
TAMBÉM UMA DAS ESPOSAS DE SÀNGÓ, JUNTAMENTE COM OBÀ E OYÁ.
ELA É MÃE CUIDADOSA (YÉYÉ KARE); ÒRÌSÀ DA MATERNIDADE, AQUELA
QUE PROPICIA A GESTAÇÃO DE FILHOS. É ÒRÌSÀ QUE TEM GRANDE
PODER DE FEITIÇO, POR SER A OLÓRÍ ÌYÁMI ELÉYE, ISTO É, AQUELA QUE
TEM O PODER E É A LÍDER DAS ÌYÁMI ÀJÉ, SENDO ÌYÁMI ÒSÒRÒNGÀ,
AQUELA QUE MAIS LIGAÇÃO TEM COM ÒSÚN. É SABIDO QUE QUANDO
ÒSÚN FICA ZANGADA ELA PODE USAR OS PODERES DE ÌYÁMI ÀJÉ, PARA
CAUSAR PROBLEMAS A ALGUÉM QUE A TENHA OFENDIDO.
Na lenda que fala dos primórdios do ayé, quando os òrìsà vieram se assentar aqui
na terra, conta que vieram também os dezesseis Odù àgbà (os dezesseis odù
principais). Eles vieram para ensinar aos aráayé (os habitantes da terra) como
cuidar dela, e quando estes tivessem condições de cuidar da terra sozinhos, eles,
os Odù àgbà, voltariam para o òrun (céu).

Eles convidaram Òsún para auxiliá-los na tarefa e ela aceitou. Mas, quando eles
iam deliberar sobre alguma coisa importante, nunca chamavam Òsún. Quando
eles iam participar de algo de alta responsabilidade, também não chamavam
Òsún. Òsún era somente para lavar suas roupas, fazer suas comidas, cuidar da
casa e não participava de nada com eles. Até que um dia ela se fartou disso. E foi
aí que ela lançou mão dos poderes de Ìyámi Àjé, de quem ela é a Chefe. Então,
quando eles deliberavam sobre a doença de uma pessoa e diziam que esta
pessoa não sobreviveria, Òsún colocava seu àse, e fazia com que acontecesse o
contrário: aquela pessoa sobrevivia. Quando eles diziam que alguém sobreviveria,
Ela fazia com que aquela pessoa não sobrevivesse, ela morria. Se eles diziam que
alguém teria muitos filhos,

Ela fazia com que aquela pessoa não tivesse nenhum filho. Se eles diziam que
alguém jamais teria filhos, Ela fazia com que aquela pessoa tivesse muitos filhos.

Então, as coisas começaram todas a dar errado no ayé, por mais que eles
fizessem para que houvesse prosperidade e fartura no ayé, só havia decadência,
fome, seca, e Eles não conseguiam mais acertar suas previsões e não tinham a
idéia do que causava aquilo. Então, eles intrigados foram à Òrúnmìlà, para que ele
os orientasse sobre o que estava acontecendo.

E Òrúnmìlà lhes disse que o motivo daquilo tudo, era a décima sétima pessoa do
grupo quem estava causando isso colocando o àse das Ìyámi Àjé, por não ser
chamada a participar das decisões, e que essa décima sétima pessoa era Òsún. E
que eles deveria chamá-la para participar de tudo aquilo que fosse deliberado,
para que as coisas voltassem ao normal.

Eles voltaram para o ayé e foram pedir a Òsún que se juntasse a eles para que
houvesse harmonia e prosperidade no ayé. Mas, ela era muito caprichosa e se
recusava a juntar-se a eles, porque não fôra chamada antes e somente agora que
estavam precisando dela é que a chamavam. Eles pediram, imploraram,
ajoelharam-se aos seus pés, mas, ela manteve-se irredutível. Eles ficaram
desesperados com a atitude de Òsún e já não sabiam mais o que fazer para
dissuadi-la. E como Òsún estava grávida, resolveu então que ela não participaria
com eles, mas, que quando o seu filho nascesse, este se juntaria a eles tomando
o lugar de Òsún.

Então, eles ficaram ansiosos pelo nascimento do filho de Òsún, que seria o
décimo sétimo elemento dos Odù àgbà. E todos os dias, eles vinham pela manhã
antes do raiar do sol, colocar suas mãos sobre o ventre de Òsún, para passarem
àse ao seu filho. Conta esse ìtòn que Ela deu a luz à Èsù e que ele recebeu o
nome de Òsétura (aquele que recebeu àse ainda no ventre da mãe) que tem àse
de acalmar o corpo.

Então, Èsù passou a integrar o grupo todas as vezes em eles se reuniam. Aí o


número dos Odù àgbà passou a ser o dezessete, ou seja, dezesseis mais um;
esse um é o significante de Èsù. E, é sabido que quando os bàbáláwo vão jogar,
sempre colocam um kawri, que é preparado num ritual de Ifá, para Èsù,
significando a presença dele como do décimo sétimo elemento. Esse kawri não
pode ser visto ou tocado por outra pessoa além o Olúwo, e fica escondido no local
do atendimento das pessoas, longe dos seus olhos. Então, Èsù ao tomar o lugar
de Òsún junto aos dezesseis Odù àgbà, tornou-se o décimo sétimo elemento do
jogo divinatório, de qualquer espécie ou instrumento.

Òsun é considerada um òrìsà de grande poder de feitiço, pois, ela é detentora do


poder dos òrìsà, das Ìyámi Eléye e do poder de Èsù, tornado-se por isso perigosa.
ÒSÚN OMINÍBÚ: LONGE DE SER UMA “QUALIDADE”, É UM ORÍKÌ QUE DIZ
QUE ELA É A PRÓPRIA ÁGUA PROFUNDA (OMI = ÁGUA + NÍ +ESTAR + IBÚ =
PROFUNDEZAS). ÒSÚN ÌYÁ OMINÍBÚ: ÒSÚN, MÃE DAS ÁGUAS
PROFUNDAS.

Òsún Olóòmi Ayè: Diz que ela é a Senhora das águas da vida. É a padroeira de
todo o tipo de água potável e fria, do líquido amniótico, que é a água da gestação
da vida.

Òsún Léwà: Òssún é linda, é bonita.

ÒSÚN KARE: AQUELA QUE PODE NOS FAZER FELIZES OU CUIDAR DE NÓS:
ORÍKÌ.

Òsún, Rora Yéyé: Òsún, Mãe cuidadosa. Saudação popular de Òsún.

ÒSÚN ÒPÀRA OU ÀPÀRÀ: É OPÀRÀ, COMO JÁ DITO, CUJO CULTO


ASSEMELHAVA-SE AO DE ÒSÚN, MAS, QUE SE PERDEU NO TEMPO E
TERMINOU VIRANDO QUALIDADE POR AQUI. SABE-SE POUCO SOBRE
ÒPÀRÀ ALÉM DE SEMELHANÇAS COM ÒSÚN, ELA, AO INVÉS DE UM ABÈBÈ
(LEQUE), ELA USA UMA ÀDÁ (ESPADA). E RECEBE EM OFERENDA, AO
INVÉS DE CABRAS, DE ÒDÁ (BODES CASTRADOS).

ÒSÚN YÈYÉPONDÁ OU YEPONDÁ: ÒSÚN, MÃE QUE É O VALE PARA ONDE


CONVERGEM AS ÁGUAS DA CRIAÇÃO. ORÍKÌ.

ÒSÚN ÀÀBÒTÓ: AQUELA QUE NOS DÁ BASTANTE COBERTURA, QUE NOS


COBRE EM TODAS AS NOSSAS NECESSIDADES. É UM ORÍKÌ DE ÒSÚN.

ÒSÚN ÌJIMU OU ÌJUMU: MUITO CONHECIDA COMO “QUALIDADE”, MAS,


SEGUNDO A LENDA DE ÒSÚN, ÌJIMU É SUA CIDADE NATAL. ENTÃO A
CIDADE DE ÌJIMU É SAGRADA PARA ÒSÚN. TAMBÉM, PODE SER ÒSÚN
IJEMUN = Ì = AQUELA; JE = COMER + ÒMUN = LEITE DO SEIO =
AMAMENTAR.

Òsún Òsògbó: ÒSÒGBÓ É UMA CIDADE ONDE O CULTO DE ÒSÚN É MUITO


FORTE, ONDE ÒSÚN REINA SOBERANA (Ó JOBA-JOBÀ). ACREDITA-SE QUE
EM SE PEDINDO A ÒSÚN

QUALQUER COISA EM NOME DE ÌJIMU OU ÒSÒGBÓ, ELA ATENDERÁ. SÃO


INÚMEROS OS ORÍKÌ EM QUE LHE SÃO ATRIBUÍDAS “QUALIDADES”, COMO
AINDA, POR EXEMPLO ÒSÚN ÌJÈSÀ. ÌJÈSÀ, É O HABITANTE DA CIDADE DE
ILÉSÀ, CIDADE TAMBÉM YORÙBÁ, ONDE O CULTO A ÒSÚN É FORTÍSSIMO.
POR TER RITMO E CADÊNCIA DIFERENTES, DIZ-SE AQUI QUE É “OUTRA
NAÇÃO” DE ÒSÚN. É APENAS UMA OUTRA CIDADE QUE CULTUA ÒSÚN DE
MANEIRA LIGEIRAMENTE DIFERENTE COM AS DIFERENÇAS REGIONAIS.
DARIA PARA DIZER UM SEM NÚMERO DE “QUALIDADES”, MAS, PARA ÒSÚN,
FICAREMOS POR AQUI.

Oxum na mitologia afro-americana

Quem é o orixá do amor

Oxum é doçura sedutora. Todos querem obter seus favores, provar do seu mel,
seu encanto e para tanto lhe agradam oferecendo perfumes e belos artefatos, tudo
para satisfazer sua vaidade.

Na mitologia dos orixás ela se apresenta com características específicas, que a


tornam bastante popular nos cultos de origem negra e também nas manifestações
artísticas sobre essa religiosidade.

O orixá da beleza usa toda sua astúcia e charme extraordinário para conquistar
os prazeres da vida e realizar proezas diversas. Amante da fortuna, do esplendor
e do poder, Oxum não mede esforços para alcançar seus objetivos, ainda que
através de atos extremos contra quem está em seu caminho.

Ela lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e
a mais reverenciada.

Seu maior desejo, no entanto é ser amada, o que a faz correr grandes riscos,
assumindo tarefas difíceis pelo bem da coletividade. Em suas aventuras, este
orixá é tanto a brava guerreira, pronta para qualquer confronto, como a frágil e
sensual ninfa amorosa.

Determinação, malícia para ludibriar os inimigos, ternura para com seus queridos,
Oxum é, sobretudo a deusa do amor. Também deusa da fertilidade, na Nigéria é
dela o rio que leva o seu nome e no Brasil dela são as águas doces dos lagos
fontes e rios. Água que mata a sede dos humanos e da terra, que assim se torna
fecunda e fornece os alimentos essenciais à vida dos homens e mulheres tão
amados pela mamãe Oxum.

Este orixá encarna a identidade feminina, vivendo intensamente os papéis de filha,


amante e mãe. De menina dengosa, passando pela mulher irresistível até a
senhora protetora, Oxum é sempre dona de uma personalidade forte, que não
aceita ser relegada a segundo plano, afirmando-se em todas circunstâncias da
vida. Com seus atributos, ela dribla os obstáculos para satisfazer seus desejos.

O orixá amante ataca as concorrentes, para que não roubem sua cena, pois ela
deve ser a única capaz de centralizar as atenções. Na arte da sedução não pode
haver ninguém superior a Oxum.

No entanto ela se entrega por completo quando perdidamente apaixonada, afinal o


romantismo é outra marca sua.

Da África tribal à sociedade urbana brasileira, a musa que dança nos terreiros de
espelho em punho para refletir sua beleza estonteante é tão amada quanto a
divina mãe que concede a valiosa fertilidade e se doa por seus filhos. Por todos
seus atributos a belíssima Oxum não poderia ser menos admirada e amada, não
por acaso a cor dela é o reluzente amarelo ouro, pois como cantou Caetano
Veloso, “gente é prá brilhar”, mas Oxum é o próprio brilho em orixá. Ora Ieiê Ô!

As faces de Oxum

Oxum é esperada ansiosamente por sua mãe, que para engravidar leva ebó
(oferenda) ao rio. E tal desespero não é o de Iemanjá ao ver sua filhinha sangrar
logo após nascer. Para curá-la a mãe mobiliza Ogum, que recorre ao curandeiro
Ossaim, afinal a primeira e tão querida filha de Iemanjá não podia morrer.

Filha mimada, Oxum é guardada por Orunmilá, que a cria sozinho, mas com
grande dedicação para o que e para quem há de melhor no mundo. Tal
preciosismo faz Orunmilá ordenar o criado Exu a ficar de guarda no palácio para
evitar a entrada do indesejado Xangô. Mas a paixão é mais forte e passa a perna
no controle paterno. Xangô alcança o lindo corpo e o amor de Oxum, que de tão
feliz recebe o consentimento de seu pai para se casar. Nascida para ser admirada
e dona das coisas boas da vida, porque é tão bela e amada,

Oxum não pode se submeter à rotina simples do dia a dia e muito menos a maus
tratos. Ao sair de casa para casar com Xangô, ela espera somente prazer, nada de
afazeres domésticos. Quando presa na torre por seu marido, zangado pelo seu
desinteresse pelas tarefas da casa, ela é transformada em pombo, por Orunmilá,
para voar livre, de volta à proteção dos braços paternos, para as jóias e os
caprichos.
Enquanto mãe, Oxum é bastante zelosa. Para salvar da vergonha sua filha Omó,
cujo sangue fora espirrado na roupa branca de Oxalá, ela é capaz de, num grande
esforço, transformar espetacularmente as manchas de sangue em penas de
ecodidé, o pássaro vermelho, tão apreciadas pelos orixás.

Oxum coloca seu axé a serviço da salvação de seus filhos. Da paixão pelo
caçador Erinlé, nasce Logun-Edé. Ao levar seu filho para ficar consigo no rio, a
mãe Oxum o proíbe de brincar nas águas fundas, mas o menino, curioso e
vaidoso como os pais, não obedece sua mãe. Quando vê seu filho sendo afogado
pela antiga rival Obá, Oxum apela desesperadamente a Orunmilá para salvá-lo.

Assim é ela, a mãe que acaricia, ajuda e suplica por sua cria quando seu poder de
proteção é limitado.

Oxum é destemida diante das dificuldades enfrentadas pelos seus. Ela usa sua
sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o
mel, seduzindo Ogum até que ele volte a produzir os instrumentos para a
agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.

Oxum enfrenta o perigo quando Olodumare, Deus supremo, ofendido pela rebeldia
dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se
abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Oxum voa até o deus
maior, para suplicar ajuda. Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que
queima-lhe, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Olodumare. Indignada
por se perceber excluída da reunião de orixás masculinos, Oxum torna estéreis
todas as mulheres até que ela seja convidada para o encontro.

Uma demonstração de que com ela é assim: bateu, levou. Não tolera o que
considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à
força, com toque feminino de bondade, é assim o jeito dessa deusa-heroína.

Sensível à condição de fraqueza, Oxum se dispõe a aliviar o sofrimento alheio.


Assim ela o faz quando Orinxalá tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida
por Iansã. Oxum vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence.

Ela é adorada por Orixalá. A deusa do amor parte com um ebó até Olodumare,
para que não haja mais seca na Terra. No caminho ela não hesita em repartir os
ingredientes da oferenda com o velho Obatalá e as crianças que encontra, e
mesmo assim alcança seu objetivo pela comoção de Olodumare.

Com grande compaixão, Oxum intercede junto a Olofim-Olodumare para que ele
ressuscite Obaluaiê, em troca do doce mel da bela orixá. E ela garante a vida
alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai. Oxum
cuida da recém-nascida, a querida Oiá. Com suas jóias, espelhos e roupas finas,
Oxum satisfaz seu gosto pelo luxo. Extremamente ambiciosa, ela é capaz de
geniais estratagemas para conseguir êxito na vida. Vai à frente da casa de Oxalá e
lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna
desejada para então calar-se. E assim Oxum torna-se “senhora de tanta riqueza
como nenhuma outra santa mulher jamais o fora”.

Curiosidade é um comichão que a excita bastante. A vontade de conhecer os


segredos do destino faz com que Oxum, esperta que é, coloque seu poder de
atração sexual em acordos para esse fim.

Ela é especialista no toma-lá-dá-cá. É desse modo que aprende a arte da


adivinhação, fazendo duas trocas: relação sexual com Exu pelas roupas de
Obatalá, e as vestes do “Senhor do Pano Branco” pelo segredo do Ifá.

Assim Oxum se torna senhora do jogo de búzios. Beleza, agilidade e astúcia são
ingredientes do sucesso deste orixá.

No amor Oxum é ardorosa. Seu leito conhece muitos amantes, para os quais
propicia momentos de raro prazer, de tão formosa e quente que é. Mas quando se
apaixona realmente ela é entrega total. Oxum luta para conquistar o amor de
Xangô e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu
amado. Ela livra seu querido Oxóssi do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para
que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu. Porém Oxum é extremamente
caprichosa e volúvel.

Quando alguém lhe atrai, não importa quem seja o parceiro ou o sentimento que
vá causar, ela faz o que for preciso para conquistar e desfrutar do prazer, mesmo
que seja tão passageiro. Rebolando e cantando provocantemente, Oxum seduz a
bela Iansã, mas logo troca-a por outro alguém, tendo de fugir para não apanhar da
deusa da tempestade. Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu
amor: Xangô e Ogum, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por
ela. Xangô é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a
trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la.

Afinal Oxum quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma
rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é
o maior trunfo do orixá do amor. A vaidade a faz contemplar-se constantemente
pelos reflexos na água ou nos espelhos que sempre dispõe. Não basta ser bonita,
é preciso ser insuperável.

Para tanto Oxum vai ao ataque contra quem a “ameaça”, pois a inveja abala sua
autoconfiança. Ela usa o espelho de Egungun, que só mostra a morte, para que
sua irmã mais bela, Oiá, se veja destorcidamente refletida e então enlouqueça de
desespero.

Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está sempre
atenta para manter-se a mais amada. Ela adora enganar Obá. Oxum induz Obá a
cortar a própria orelha para cozinhar e servir para Xangô, dizendo ser o prato
preferido do marido, que na verdade fica enojado e enfurecido. Ela também
engana Eleguá que, a serviço de Obá para fazer um sacrifício, corta erradamente
o rabo do cavalo de Xangô. Outra vez Obá queria agradar seu marido, mas acaba
odiada por ele. Oxum definitivamente quer o fracasso de quem considera rival. É
preciso pisar em quem atrapalha sua supremacia. Oxum é vingativa quando
ofendida, sobretudo se sua forma física é ridicularizada.

Ela tem pavor de ser tida como velha e feia. Por isso chega a matar o caçador
pelo qual se enamora, após tanto tempo na lagoa se banhando, se preparando
para encontrar seu amor, tempo em que envelheceu sem perceber. Oxum o mata
por tê-la confundido com a velha feiticeira IAMI-Oxorongá. É humilhação demais
para quem tem a beleza acima de tudo. Melhor é cortar o mau pela raiz, custe o
que custar, afinal ser considerada feia é própria morte para ela.

Foi de Oxum a delicada missão dada por Olodumare de religar o orum ao aiê
quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o
aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que
Oxum veio ao aiê prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou as
mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de
ecodidé, enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés,
enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e
dançaram ao som dos atabaques e xequerês. Para alegria dos orixás e dos
humanos estava inventado o Candomblé. Os mitos da Oxum mostram o quão
múltipla é sua personalidade

Dessa riqueza de traços resulta a possibilidade de que as mulheres mais


diferentes como as que habitam um país tão grande como o nosso, em que a
diversidade é a norma, se identifiquem com Oxum em maior ou menor grau. Aliás,
os orixás têm forte presença na música e em outras formas de manifestações
artísticas da cultura brasileira (Prandi, 1997). É da mulher brasileira tal como a que
aparece no imaginário popular e sua proximidade com Oxum, que vamos tratar a
seguir.

O modelo mítico e alguns retratos da mulher brasileira


“Toda a cidade (Salvador) é d’Oxum”

(Gerônimo & Vevé Calazans)

Talvez melhor fosse dizer “toda mulher é d’Oxum”. O orixá da beleza e do amor é
em certa medida um modelo de realização para as mulheres brasileiras, de um
modo geral, ainda que muitas não o saibam. É a mulher que deu certo, do ponto
de vista estritamente humano, isento de julgamentos morais. O valor estético de
Oxum é inquestionável. No contexto brasileiro, inevitavelmente as mulheres se
identificam com algum traço da personalidade desse orixá. Tal como a deusa
africana, elas querem ser cobiçadas, contempladas e envolvidas intensamente no
amor, pois são genericamente românticas.

“E a Oxum mais bonita, hein?


Tá no Gantois
Olorum quem mandou
Essa filha de Oxum tomar conta da gente...”
(Dorival Caymmi)

Segundo o tipo mítico geral, quem é d’Oxum é a vaidade em pessoa. Seus filhos
têm as formas do corpo arredondadas, um jeito gracioso e grande capacidade de
amar (Prandi, 1991). Gente que quer brilhar, assim é a mulher exuberante que
ostenta os dons recebidos da mamãe Oxum. A idéia de mãe no Brasil é associada,
sobretudo à figura da mulher super protetora, que é capaz de grandes sacrifícios
por seus filhos. Aquela que está sempre na torcida ou preparada para acolher e
consolar em seu aconchego materno. É a chamada “mãezona” que se desdobra
em seus afazeres domésticos, tudo em função do marido e dos filhos.

Ainda é presente em nosso imaginário a figura da “mãe de leite”, aquela negra


escrava que amamentava os filhos do senhor, e cuidava dos meninos brancos
com dedicação, as sinhás mães postiças, que são capazes de estenderem seu
carinho a muitos “filhos”. São as mulheres experientes que conhecem as
artimanhas da vida, as conselheiras, as pretas-velhas da umbanda, as ‘divinizadas
senhoras’. Essas são as velhas mulheres dos morros cariocas, as líderes
comunitárias, as baianas mães de santo. Pessoas bastante reverenciadas como
Menininha do Gantois, Clementina de Jesus, Ivone Lara, entre outras.

“Mas é preciso ter raça,


É preciso ter força,
É preciso ter gana sempre.”
(Milton Nascimento)

O amor traduz-se em entrega de si na maternidade. Ser mãe é prazer e dor, mas,


sobretudo uma profunda experiência amorosa para uma mulher. Não por acaso a
mãe é aquela que mais se alegra com sucesso e quem mais se angustia com o
sofrimento de quem antes de mais nada é seu filho. Talvez por essa doação de si
na relação materna, a mulher seja mais propensa à gratuidade no convívio social.
Daí para um envolvimento num tipo de trabalho comunitário é um passo. A
liderança da mulher em associações de moradores, movimentos populares e
grupos religiosos é fato no meio da população pobre brasileira. A mulher é mais
sensível ao trabalho voluntário e a dona de casa mais disponível para a
participação em organizações sociais a partir da condição de proximidade de
moradia, tais como em igrejas e grupos de bairro. Dessa atitude pode surgir
engajamento político, projeção abrangente e até exercício de cargos públicos. E aí
então o modelo são as conquistadoras de adesão e voto, como: Luiza Erundina,
Benedita da Silva, Deolinda Alves do movimento dos sem-terra.

"Ó mãe, me mostra, me ensina,


me diz o que é feminina.
Não é no cabelo, no dengo, no olhar,
feminina menina por todo lugar”
(Joyce)

Em nossa sociedade, contudo ainda é forte a idéia de que “menino é para


conhecer o mundo e menina é para se casar”. A questão da sexualidade aí é
marcante. O machismo segue fazendo essa distinção, afirmando que a filha deve
ser mais protegida que o filho. Tal como Oxum, na relação com seu pai Orunmilá,
tantas e tantas meninas são criadas com grande zelo, guardadas pelos pais dos
supostos perigos do mundo. A menina conhece desde cedo o dengo da família, as
roupas e os objetos femininos, pelos quais ela brinca com sua vaidade. Ela cresce
sabendo que ser bonita é bastante importante. O Brasil é um “país abençoado por
Deus e bonito por natureza”, como cantamos freqüentemente com Jorge Benjor. O
fator de identidade nacional, enquanto aquilo que temos a oferecer para o mundo,
desde a época da Colônia, tem sido nossas belezas naturais.

Nesse mesmo ideário, a mistura das três raças teria gerado um povo bonito e
originalmente astuto para superar as dificuldades. O catolicismo europeu conferiu
um controle formal e frouxo da conduta moral, e as religiões africanas contribuíram
significativamente com os elementos festa e sensualidade, na formação do jeito
brasileiro de ser e de viver. Em nosso país, o que é para ser mostrado parece
sobressair ao que é vivido, o carnaval é um bom exemplo disso. A forma do corpo
tem grande importância, o que dá pistas de que, por vezes, o valor da estética
prepondera ao da ética. A mulher brasileira valoriza sobremaneira a beleza física
enquanto elemento de afirmação pessoal, afinal a sensualidade é
reconhecidamente um dos traços do nosso povo.

No contexto de acesso limitado ao conforto e bem estar, a mulheres atribuem à


beleza as possibilidades de ascensão social, por meio de melhores oportunidades
de trabalho, destinadas a quem possui o tal quesito “boa aparência”. Não por
menos há tanta procura da parte de mulheres em geral por produtos cosméticos,
academia de ginástica, cirurgia plástica, enfim recursos para fazer parecer mais
bonita. Além de posse material, as pessoas querem ter prestígio. E a mulher quer
ser cortejada, desejada pelos homens e invejada pelas outras mulheres.

O sonho de ser rica e famosa, bem como bastante atraente sexualmente, faz
grande parte das meninas ter como ídolos as famosas modelos, atrizes, cantoras,
apresentadoras de TV, com esses atributos. Nesse nível estão as mulheres tidas
como “símbolo sexual” de suas épocas: Carla Perez, Luisa Brunet, Vera Fisher,
Sônia Braga, Marta Rocha, Carmem Miranda

O dom de sedução de Oxum vai de encontro a uma idéia preconceituosa,


largamente difundida, que é a do estereótipo da mulher bonita que, a fim de atingir
seus propósitos, é capaz de deitar-se com quem lhe convém. É bastante
conhecida vem de longa data esse tipo de rotulação em mulheres da vida pública
nacional, como Xuxa por exemplo, que “só chegou onde chegou porque foi
namorada do Pelé”.

Sendo mulher bonita e bem sucedida há quase sempre suspeita sobre sua real
competência. Não é só o sex appeal, capaz de fazer o transito parar, que fascina.
As mulheres têm vontade de ser as encantadoras meninas. São as jovens,
simpáticas mulheres, que todo homem gostaria de ter como namorada.

Elas são idealizadas pelo público masculino para uma relação afetiva mais
duradoura e não só como parceiras sexuais, pois aliam a beleza à meiguice. São
as chamadas “namoradinhas do Brasil”, como Angélica e Regina Duarte.

“Toda mulher quer ser amada,


Toda mulher quer ser feliz,
Toda mulher se faz de doida,
Toda mulher é meio Leila Diniz”
(Rita Lee)

O machismo ainda é forte na sociedade brasileira. A distinção de papéis persiste


oprimindo muitas mulheres que permanecem submissas. Apesar da liberação
sexual ocorrida nos anos 60, a ousadia de mulheres que contestam, rompendo
com padrões conservadores, ainda lhes custam alguns comentários negativos. O
desejo de inovar, atraindo a atenção do público é outro traço da mulher brasileira,
como Baby do Brasil, Rita Lee e principalmente Leila Diniz.

Dada a maior vaidade, a competição é mais comum entre as mulheres que entre
os homens, pois em certa medida “uma quer brilhar mais que a outra”. Essa
predisposição para competir, quando exacerbada e aliada à uma grande ambição,
impulsiona a mulher a passar por cima de quem está em seu caminho. Assim são
as conhecidas vilãs das telenovelas.

Tal como a sedutora Oxum, há mulheres que adoram jogar com os homens. São
em geral caracterizadas pela vulgaridade, com a qual não hesitam em “rodar a
baiana” quando julgam necessário. Vestem-se extravagantemente para chamar a
atenção e estão sempre jogando seu charme para conquistar. Essas são a
chamadas “peruas” ou as prostitutas, as famosas pombagiras da umbanda. A
esposa de Xangô ama profundamente a ponto de abrir mão da riqueza por seu
amor. Assim é a mulher que chega a colocar de lado seu projeto pessoal para
estar com seu amado. A brasileira é a Oxum, com suas diversas faces. Orixá e
humano se espelham. Na mitologia dos orixás Oxum é a filha dengosa, mulher
irresistível e corajosa e a mãe protetora. Seu caráter voluntarioso, como redentora
dos aflitos, remete à grande mãe da devoção católica, a Nossa Senhora em suas
diferentes versões.

Por outro lado, ela é o vaidosíssimo orixá do ouro, que não aceita brilhar menos
que ninguém e faz de tudo para satisfazer seus desejos, profanamente
concebidos. Aí então ela é a Eva transgressora, movida pela sedução. Deusa da
vaidade, da beleza, da fertilidade, do amor, se Oxum fosse uma escola artística
certamente seria a barroca por seus exageros, suas contradições. Oxum é um
arquétipo de feminilidade, sobretudo para as mulheres brasileiras.

Referências bibliográficas
PRANDI, Reginaldo. Mitologia de Orixás, Mitos afro-americanos reunidos e
recontados, São Paulo, 1997 (mimeo).

Os candomblés de São Paulo. São Paulo, EduspHucitec, 1991.

A expansão da religião negra na sociedade branca: música popular brasileira e


legitimação do candomblé.
São Paulo, 1997 (mimeo).

OSUN OPARA

No Dicionário de Yorùbá de R.C. Abraham, University of London Press temos: 1-)


APARA (acento ré+ré+ré, ou seja, sem acentos) = nome Feminino. 2-) OPARA
( com qualquer acentuação que seja, com ou sem ponto em baixo da letra “O”,
não existe neste dicionário) A Dictionary of the Yoruba Language, University Press
Ìbàdàn Ltd., temos: 1-) Àpárá (acentos do+mi+mi) = raillery – lampoon – caricature
– jest 2-) Àpárà (acentos do+mi+do) = tipo de uma árvore 3-) OPARA ( com
qualquer acentuação que seja, com ou sem ponto em baixo da letra “O”, também
não existe neste dicionário) Já Eduardo Fonseca Jr. Em seu Dicionário Yoruba
Português indica: 1-) Àpárá (acentos do+mi+mi) gracejo, sátira, caricatura,
galhofa 2-) Àpárà (acentos do+mí+do) = nome de uma árvore *Nota: Observe que
até aqui trata-se de uma cópia literal do Dicionário da Universidade de Ìbàdàn. 3-)
Apara (acentos ré+ré+ré) = Modo – “que vai e vem” – aquele/a que vai e vem –
qualidade da Divindade Òsun.(importante: esta informação é segundo o autor) 4-)
Opara ( com qualquer acentuação que seja, com ou sem ponto em baixo da letra
“O”, também não existe neste dicionário)

Até aqui concluímos que a palavra OPARA não se encontra nestes dicionários do
idioma Yorùbá .

Na África se conhecem títulos para Òsun relacionados com LOCALIDADES ou


LENDAS (fatos) onde ela esteja inclusa, mas isso não faz com que sejam vários
tipos diferentes de Òsun. Trata-se sempre da MESMA ÒRÌSÀ ÒSUN.

Algumas passagens relacionadas com Òsun: Yèyé Ade-Oko, Yèyé Ipondá (tem
ponto em baixo da letra “O”, fonética = ipóndá), Òsun Lògún, Yèyé Ojumo (tem
ponto em baixo da Segunda letra “O”, fonética – ôdjumó) Yèyé Iloba (tem ponto
em baixo da letra “O”, fonética = ilóba), Yèyé Ilè Elepe (todas as letras “E” tem
ponto em baixo, fonética = ilé élépé), Yèyé Jakuepe (fonética = djacuêpê), Yèyé
Ojuna (fonética ôdjuna) Yèyé Igando, Yèyé Ode-Dudu (fonética ódé dudu) Yèyé
Adobaba.

• YÈYÉ ÒPÀRÀ (ACENTOS DO+DO+DO E COM PONTO EM BAIXO DA


LETRA “O”, FONÉTICA = ÓPARA - "NÃO É ÓPARÁ"), PARA O TÍTULO
ÒPÀRÀ EU NÃO ENCONTREI UMA TRADUÇÃO PLAUSÍVEL, MAS SEU
ORÍKÌ DIZ QUE ELA ESTÁ RELACIONADA COM UMA PASSAGENS JUNTO
A SÒNPÒNNÓN, VEJA LÁ:

1- YÈYÉ ÒPÀRÀ !
2- OBÌNRIN BÍ OKÙNRIN NÍ ÒSUN
3- A JÍ SÈRÍ BÍ ÈGÀ
4- YÈYÉ OLOMI TÚTÚ
5- ÒPÀRÀ ÒJÒ BÍRI KALEE
6- AGBÀ OBÌNRIN TI GBOGBO AYÉ N’PE SIN
7- Ó BÁ SÒNPÒNNÓN JÉ PÉTÉKÍ
8- O BÁ ALÁGBÁRA RANYANGA DÌDE.

1- YÈYÉ ÒPÀRÀ !
2- ÒSUN É UMA MULHER FORTE COMO HOMEM.
3- SUA VOZ É BONITA COMO A VOZ DO PÁSSARO
4- SENHORA DAS ÁGUAS FRESCAS
5- ÒPÀRÀ DANÇA COM O VENTO SEM QUE POSSAMOS VÊ-LA
6- MULHER ANTIGA DE MUITA SABEDORIA QUE TODOS NÓS
VENERAMOS
7- QUE COME PÉTÉKÍ COM SÒNPÒNNÓN (*****)
8- QUE ENFRENTA PESSOAS PODEROSAS COM SABEDORIA E CALMA.

Portanto a Cultura Religiosa Yorùbá conhece o Título Òpàrà envolvendo Òsun


com Omolú. Eu não tenho referencias de Apará nessa Cultura.

Òsun

SUA ORIGEM VEM DA NIGÉRIA, MAIS PRECISAMENTE DO RIO ÒSUN QUE


BANHA ÌJÈSÀ, IJEBU E OSOGBÒ. SEU PRINCIPAL TEMPLO SITUA-SE EM
ÒSOGBO E ATÁÓKA (O OBA DESTA REGIÃO É SEU PRINCIPAL ADORADOR).

Òrìsà da beleza, doçura e benevolência, vaidade e fecundidade.

Sendo o Òrìsà da fecundidade a iniciação no Candomblé sendo um nascimento


ela se faz presente em todos os momentos da feitura, é a dona do Osú, aquela
que traz a possibilidade de comunicação com os Òrìsàs.

Quando um óvulo é fecundado, Òsun se faz presente, vai proteger o feto e


assegurar sua vida a partir deste momento, passando pelo seu nascimento e
crescimento até que adquira domínio sobre um idioma.

Quando o embrião se forma no útero imediatamente o sangue é retido e forma-se


a placenta, que está permanentemente ligada ao feto através do cordão umbilical
e mantém a sua vida. Esse acúmulo de sangue proporciona a vida do bebê. O
sangue mandado por Òsun é a existência da vida, pois a menstruação é para as
mulheres um bênção de Òsun, revela a realidade de seu poder: a possibilidade de
gerar filhos. É na placenta que se aloja o destino de cada ser, seu Odù, que coloca
em jogo a vida da criança e de sua mãe. Quando uma criança nasce se a placenta
não for retirada a mãe certamente morrerá, é o sangue que jorra sobre a criança
no dia do nascimento que a consagra à vida.

Todas seus símbolos remetem à idéia de fecundidade. Os peixes ou os pássaros,


através das escamas e das penas, evocam a multidão dos seus descendentes.

DENTRO DO KETÚ, BRASIL, SÃO 16 AS "QUALIDADES" (CAMINHOS) DE


ÒSUN, AS MAIS VELHAS RESIDEM NAS PROFUNDEZAS DOS RIOS E AS
MAIS NOVAS NAS PARTES SUPERFICIAIS. OPARÁ É A MAIS JOVEM E A MAIS
GUERREIRA, TÃO FEROZ QUE É CAPAZ DE BEBER O SANGUE DE SEUS
INIMIGOS. YÈYÉ KARÈ TAMBÉM É MUITO GUERREIRA, MAS SUA ARMA É
UM OFÀ (ARCO E FLECHA). YÈYÉ IPONDÁ É A MÃE DE LÒGÚN ODE E COM
SUA ESPADA GUERREIA BRAVAMENTE. ÒSUN AJAGIRA E YÈYÉ ONÍRA
TAMBÉM SÃO GUERREIRAS, FOI ESPOSA DO MAIS VELHO ÒSÓÒSÌ QUE
EXISTE E CRIOU OS FILHOS DE OYA TEVE COM SEU MARIDO, ALIÁS SÓ
PERMITIA QUE OYA TRATASSE DE SEUS FILHOS QUANDO ELES ADOECIAM.

Nas nascentes dos rios reside Yèyé Odò. Òsun Ijìmú é a rainha de todas as Òsun
com Àyàlà, que também foi esposa de Ògún Alagbedé e é conhecida como a avó
que tocava música num fole para fazer Egúngún dançar, mantendo estreita ligação
com Ìyá-mi.

Òsun Abalò é a mais velha de todas, outra Òsun velha e briguenta é Òsun Yèyé
Ogá, Yèyé Merín é feminina e elegante. Òsun Gbo é a padroeira da cidade de
Osogbò e padroeira das mulheres parturientes. Yèyé Olóko vive na floresta. Além
dessas existem Yèyé Ipetú, Yèyé Pòpólokum, cultuadas nas lagoas e, dizem,
não sobem à cabeça das pessoas. Esses nomes podem variar da África para o
Brasil, mas todos concordam que existem 16 qualidades. Essas qualidades
provavelmente sejam "passagens e encontros dessas energias (Òrìsà) com os
demais ebora".

O Abèbé (leque com espelho) é o símbolo da sua vaidade, mas também uma
arma que ofusca os olhos de quem a ataca.

A água e a terra veiculam àse genitor feminino: a água elemento contido na terra.
Òsun é o Òrìsà do rio de mesmo nome. No Brasil está associada à todos rios,
cascatas, córregos e mesmo ao mar, visto que a grande entidade Olòkun,
associada ao mar em país Yorùbá não é cultuada de forma intensa no Brasil.

Òsun é a genitora por excelência, ligada particularmente à procriação e, nesse


sentido, ela está associada à descendência no àiyé. É a patrona da gravidez:

"Nígbà tí àun ó sì mo bò láti òdò Olódùmarè un ló okù omo lé lówó wípé eni tí
Òrìsà bá sèdá kalè tán, bi Òsun yò se móo pín omo fun gbogbo àwon tí omo
kò bá fé gba inú won wáyé. Àti bi omo bá nwá nímú, eni tí ó mo se ìtójú rè tó
kò fi ní í móorí ìdàànú títí o fi móo wáyé. Tó bá sì wà sí ayé náà. Nigbà tí kò tíi
ní òye tí kòi tí mò èdèé fò, gbogbo ònà àwòyè rè Òsun no wón kó odùn omo
lé lowo. Kò sì gbodò bínú enikan pé eleyí ni òtá mi, kò bímo tàbí elèyí ni òré
mi. Isé tí won rán Òsun oùn nìyí, òun ni Ìyàmi àkókó, òun si ni Olòtójúu àwon
omo láti ní títí di ìgbà tí yí ní òye táà n pè ní àwòyè Òsun ni álàwòyè omo
Bi Òsun ò tí se gbódò bá enìkan sòtá nìyì."

"No tempo da criação, quando Òsun estava vindo das profundezas do òrun,
Olódùmaré confiou-lhe o poder de zelar por cada umas das crianças criadas por
Òrìsà que iriam nascer na terra. Òsun seria a provedora de crianças. Ela deveria
fazer com que as crianças permanecessem no ventre de suas mães,
assegurando-lhes medicamentos e tratamentos apropriados para evitar abortos e
contratempos antes do nascimento; mesmo depois de nascida a criança, até ela
não estar dotada de razão e não estar falando alguma língua, o desenvolvimento e
a obtenção de sua inteligência estariam sob o cuidado de Òsun. Ela não deveria
encolerizar-se com ninguém a fim de não recusar uma criança a um inimigo e dar
a gravidez a um amigo. A tarefa atribuída a Òsun é como declaramos. Ela foi a
primeira Ìyá-mi, encarregada de ser a Olùtójú awon omo (aquela que vela por
todas as crianças) e a Álàwòyè omo (aquela que cura as crianças). Òsun não
deve vir a ser inimigo de ninguém."

Por ser a patrona da gravidez, Òsun está ligada ao corrimento menstrual, e às


atividades que representam esse corrimento.

Ela é Ìyámi Àkókó (Mãe ancestral suprema).

Ela é a cabeça da sociedade das Ìyá-mi, chamadas também de Ìyá-àgbà (as mães
anciãs). Em um ìtòn Òsun transformou o Ohun-omobìrin (corrimento menstrual)
em penas vermelhas de ikódídé, colocando dentro de uma cabaça, onde se diz:
"Yèyé sawo" (Mãe fez mistério, ou mãe conhece segredo, é mistério).

Neste mesmo ìtòn Òòsààlà rende homenagem à Òsun fazendo dòdòbálè. Nesse
contexto, o vermelho representa o poder de realização o àse de gestação,
humana, animal, vegetal, mineral; o àse da terra também simbolizado por suas
águas que o veiculam. A gestação significa abundância e riqueza. A cor de Òsun é
o pupa ou pon, que significa tanto o vermelho como amarelo.

Pón ròrò é o amarelo-dourado, a cor que caracteriza Òsun.

O amarelo é uma qualidade do vermelho, um vermelho-claro e benéfico,


significando "está maduro". Outra forma de dizer vermelho em yorùbá é pupa
eyìn, literalmente quer dizer, gema de ovo. Sendo o ovo um dos seus símbolos
mais representativos de seu àse e de todas Ìyá-àgbà (ancestres femininos).

Todos metais amarelos pertencem a Òsun, o ouro e principalmente o bronze. As


penas de ikódídé representam o poder de Òsun-Olórí-Eléye (chefe suprema das
possuidoras-de-pássaros), representando como os cauris, seres individualizados,
o elemento procriado.

O título de Ìyáalódé não é apenas de Òsun e Nàná, mas ao cabeça de cada


comunidade Ìyálódé. A Ìyálódé reúne as mulheres para discussões públicas que
lhes interessam. Antigamente elas possuíam escravos. A Ìyálódé representa todas
mulheres de sua comunidade. Esse é o maior título honorífico que uma mulher
pode receber e que a coloca automaticamente à cabeça das mulheres e da
representação no àiyé o poder ancestral feminino. O abèbè, leque ritual, é seu
emblema, símbolo da cabaça-ventre com o pássaro-procriação.
Erelú é o título da sociedade secreta Ògbóni, complexa instituição religiosa e
política que compreende representantes de todos os segmentos da sociedade e
que contrabalançava antigamente o poder dos reis, particularmente Òyó e em
outras grandes cidades Yorubana.

Òsun também está ligada a Èsù na comunicação e vidência; é através do


eríndínlógún que os Òrìsàs revelam os caminhos e desejos para o equilíbrio de
todo o sistema, é Èsù quem movimentará os cauris de Òsun e trará essas
respostas. Mostrando a relação de Òsun com Òrúnmìlà, também se destaca
dentro do culto à Ifá.

Como têm ligação a Ajè, tem o poder da feitiçaria.

Babalòrìsà Francisco d´Ósóòsì


Ilè Òrìsà Odè Inlè

Elementos e símbolos
Dia Sábado.
Metal Ouro, cobre, latão e bronze.
Símbolo Abèbé, idé.
Omolokun, Ipetè, Aberèn.
Ajeun

Rora Yèyé ó fí dé rí omon!


Saudação
(Mãe cuidadosa, aquela que usa coroa e olha seus
filhos!).

Odontologia, medicina, veterinária, pedagogia, culinária,


Profissão
estética.

Pedra preciosa Brilhante.

Partes do corpo todo o rosto, o baixo ventre, o baço, às vezes o coração;


patrona do ventre, a terceira visão e a circulação
sangüínea.

Cor Amarelo-ouro.
Toques Ìjèsà (preferido), Batá, Agere, Ilù.

Rios, cachoeiras, mar, cascatas, amor, fecundidade,


Domínios
gestação e maternidade.

Dão muito valor à opinião pública, fazem qualquer coisa


para não chocá-la, preferem contornar suas diferenças
com habilidade e diplomacia. São obstinados na busca
de seus objetivos. Tem tendência a engordar, são
risonhos e bem humorados. Têm vida sexual intensa,
mas com muita discrição, pois detestam escândalos.

São pessoas amáveis e cativantes, sempre preocupadas


com o que os outros vão pensar.

Choram fácil e por qualquer motivo. São elegantes e de


Características muita sutileza. São atraentes e não raramente volúveis.

É o tipo atemporal, pois é tanto maternal como passa


pelas manias de uma velha, e também possui uma
juventude de criança inconseqüente, que julga
naturalmente merecer todos cuidados e mimos. Não são
confiáveis para segredo, pois tem o costume de falar
demais, ciumentas, vingativas, possessivas e
desatentas.

Devem Ter cuidado com acidentes domésticos e fogo.


Abebê - Um objeto nascente da cabaça

No amplo e diverso conjunto de objetos usuais nas religiões de origem africana e


em outras processadas em âmbito afro-brasileiro, há destaque especial para a
cabaça, enquanto objeto e símbolo pluralmente interpretado e visíveis nos
templos, nos santuários, e nas cozinhas entre outros espaços. A cabaça forma
instrumentos musicais, como aguê e o afoxé, contempla o berimbau-de-barriga ou,
ainda, é referencia ao xere - chocalho de Xango, peça que emite sons
característicos e que chama os Orixás nos candomblés, notadamente os nagos. A
cabaça imemorialmente representa a barriga - útero, a sexualidade feminina e o
todo emanente dessa simbolização, - marcando desenho volumoso, sempre
lembrando um estado de gravidez - repertório constante da vida e sua procriação,
para os homens e os deuses. O abebê é objeto yorubá - condicionamento ao
amplo imaginário referente acabaça, constituindo-se num emblema das Yas, que
são as mães ancestrais, divindades das águas, relacionadas com a vida e a
morte.

Tanto em espaço africano, em pólos de coexistência histórica e religiosa dos


Orixás e Voduns na Nigéria e Benin, como em núcleos de manutenção dessa
historia no Brasil, notadamente no candomblé e no xangô, há objetos rituais e
litúrgicos evidentemente masculinos e femininos e uma terceira categoria, para os
andrógenos. O abebê inclui-se entre os femininos e andrógenos.

Geralmente, objetos masculinos são verticais, eretos, expressivamente fálicos


como os apá-ogô de Exu, ferros de assentamentos de Ogum, Oxosse, Ossãe,
Erinlé, entre outros santos machos como são chamados pelo povo do santo. Para
as santas fêmeas, são guardadas as formas arredondadas, comparadas à
anatomia da mulher - seios, nádegas e barriga, onde novamente ser referem à
cabaça - útero fortemente ligadas a laços ancestrais e formuladores do gênese do
mundo e dos homens. São meias cabaças para os assentamentos e abebês como
insígnias de Oxum e Yemanjá. Oxalufã, na sua interpretação essencialmente
nàgó, porta o opaxoro e um abebê que marcam o caráter andrógeno do Orixá da
criação, símbolos gerais dos Orixás funfun (brancos). O abebê é identificação
imediata das Yas, popularmente chamadas e conhecidas como as mães d'água.

Diz o costume que os abebês de Oxum são dourados, em latão, até em ouro,
recebendo de seus construtores trabalhos elaboradíssimos, revelando aspectos
identificadores do Orixás mais vaidoso, as água doces, yalode - a grande senhora.
Abebê - do yorubá, leque - leque em diferentes metais, mantendo o formato
arredondado, decorado por marcheteamento, incisos, ampliações e pendantifs,
geralmente em metal. O tamanho médio de um abebê gira em torno de 30 cm de
altura e 15 cm de largura, podendo nos candomblés acrescido de laços de fitas
em cetim e nas cores dos Orixás: amarelo e rosa pra Oxum; azul e verde para
Yemanjá.
Os abebês compõem assentamentos nos santuários pejis - especialmente no
candomblé e no xangô. São vistos também em miniatura na composição dos ibás
- conjunto de louças, peças em metal e otás (pedras) que fazem os
assentamentos dos Orixás, Voduns e Inkices. Os abebês são peças
indispensáveis nas roupas cerimoniais, sendo emblema marcante e identificador
de Oxum e Yemanjá.

Os abebês poderão ser complementados com outras ferramentas, como o alfanje


e o ademata - arco e seta, representando as qualidades das Santas -
características mitológicas. Abebês recentes feitos em papelão e cobertos de
tecidos e lantejoulas ou ainda com detalhes em canutilhos e metalóide, são
francamente consumidos pelos terreiros, ocupando as mesmas funções dos
objetos convencionais, em diferentes folhas metálicas. O abebê pode também ser
interpretado enquanto um objeto emissor de sons -instrumento musical não formal
- quando exibe elementos complementares, como guizos, pendantifs em latão,
búzios entre outros. Durante as danças rituais de Oxum, segundo modelo gexá, o
abebê é usado e mostrado com diferentes finalidades e, assim, emite sons
característicos que se unem aos dos atabaques, afoxés e agogôs. Alem do abebê
marcar visualmente as Yas, ha o uso feminino dos leques à européias também
integrados as montagens simbólicas nos santuários, convivendo com os demais
objetos de uso e representação nitidamente afro-brasileiro. Alguns casos
especiais são incluídos neste âmbito de abanos - abebês -, são os feitos em pele,
couro e estrutura de metal, couro e detalhamento em búzios. No Benin, o ezuzu é
um abano circular em pele, couro e cabo em madeira. O ezuzu expressa o poder
social da mulher - distingue rainhas - mães e amplia seus domínios ao âmbito
religioso - relativamente uma insígnia, como o bastão, para a representação do
poder masculino.

Diferentes soluções plásticas e destinações de abebês são documentadas nos


livros catálogos sobre as mais importantes coleções afro-brasileiras existentes no
país, destacando as do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, do Museu do Estado de Pernambuco e Museu
Arthur Ramos. Próximo à casa do presente, no Rio Vermelho, Salvador, Bahia, ve-
se esculturas representando uma sereia em cimento armado sexual, segundo
concepções imemoriais da mulher - peixe, no caso afro-brasileiro uma das formas
usuais das Yas, para os candomblés e os xangôs. A sereia exibe um abebê que se
projeto por sobre o mar - referencias dos Orixás das águas, símbolo da fertilidade
e das mães ancestrais.

transcrito do livro - O Povo do Santo - de Raul Lody

OXUM ITAN

Conta a lenda que, em um tempo imemorial, o rei Xangô, orixá escolhido por
Oxalá para governar a terra e os outros deuses, tinha diversas esposas. As duas
mais importantes eram Yansã, a Senhora das Tempestades, e Oxum, cujo domínio
se estendia pelos rios, lagos e cachoeiras.
Certo dia, enciumada da preferência de Xangô pela sua adversária; Yansã decidiu
vingar-se de Oxum e, em um raio intempestivo de cólera, investiu contra a mãe
das águas doces, quando esta se banhava nua às margens de um grande lago,
tendo apenas um espelho entre as mãos. Devido ao fato de não ser uma
guerreira, mas uma mulher dócil e vaidosa, afeita apenas aos expedientes da
Sedução e da Dissimulação para se defender; Oxum viu-se completamente
indefesa frente à ira arrebatadora da Rainha dos Raios. Oxum, então, rezou a
Oxalá e, em um instante mágico, percebeu que o Sol brilhava forte nas costas de
sua agressora. Rapidamente, ela utilizou seu espelho para refletir os raios solares
de forma a cegar Yansã.

Ao saber da vitória de Oxum, o rei Xangô reafirmou sua preferência pela Senhora
das Águas, que além de mais bela e delicada, provou ser também mais poderosa
que a Senhora das Tempestades.

"Oxum é a alegria do sangue das mulheres fecundas. Até mesmo Oxalá teve que
inclinar-se à seu poder." A tradição Nagô relata a Lenda de uma sacerdotisa, Omo
Òsun ('filha de Oxum"), encarregada de cuidar dos paramentos de Oxalá. Havia
muitas mulheres com inveja dela que para criar caso, jogaram a coroa de Oxalá
no rio, pouco antes do começo do grande festival anual.

Omo Òsun conseguiu encontrá-la na barriga de um peixe. Suas rivais


despeitadas, fizeram então um feitiço e, no meio da festa, na hora em que deveria
levantar-se para saudar Oxalá, ela não conseguiu. Seu corpo aderira ao assento.
A pobre sacerdotisa, fez tanta força que acabou levantando-se, mas parte de seu
corpo ficou grudada ao assento. O sangue jorrou,
manchando os paramentos de Oxalá. O vermelho é tabu para o Grande Deus da
Cor Branca, que se mostrou extremamente irritado, e Omo Òsun, envergonhada,
fugiu. "Todos os Orixás Fecharam-lhe as portas. Somente Oxum à acolheu e
transformou as gotas de sangue em penas de papagaio, pássaro chamado Odidé.
Lembramos que pássaros simbolizam a fecundidade das Grandes-Mães, e as
plumas representam a multidão dos descendentes. Por isso , Oxum é a "dona de
muitas penas de papagaio'. Os Outros Orixás ao saberem do milagre da Deusa da
água doce foram procurá-la. O último à procurá-la foi Oxalá que, em sinal de
respeito e submissão ao poder feminino, aos pés de Oxum se prostrou. Fez mais:
Colocou na testa uma pena vermelha e declarou que as iwaôs (Yawôs = filhas de
santo) que não usarem ekodidé ( as penas de papagaio) não serão reconhecidas
como verdadeiras Yawôs. É por isso que os Yawôs no fim da iniciação usam uma
pena vermelha.

“A iniciação no Candomblé é um nascimento, e o poder da fecundidade tem


que estar presente, pois Oxum mostrou que a menstruação em vez de
constituir motivo de vergonha e de inferioridadenas mulheres, pelo
contrário, proclama a realidade do poder feminino, a possibilidade de gerar
filhos”.

AZIRI

AZIRI É UM ORIXÁ DA NAÇÃO GÊGE IDÊNTICO A O


ORIXÁ OXUM. AS PESSOAS DESTE ORIXÁ DEVERÃO
SER FEITO NO GÊGE E SOMENTE NELE, ATÉ PORQUE
AZIRI SÓ CHEGA EM ALGUM FILHO NOS RITUAIS DESTA
NAÇÃO. SEU SÍMBOLO É A ESPADA E UMA SERPENTE.
ESTE ORIXÁ TEM PARTICULARIDADES NA SUA FEITURA
E DEVE SER FEITO PELO GÊGE PURO.

AZIRI é incontestavelmente um VODUN jeje embora muito pouco


ainda se faz para esse Orixá tão lindo devido as complicações de
seu culto...para muitos é uma espécie de oxum e para os ÈGBÁ é
correspondente a IYEWÁ, é dengosa, glamurosa, delicada como
uma flor mas também é uma cobra embrulhada para presente,
esse vodun só era cultuado pelas mulheres da roça e era feito
somente em meninas ainda sem virar moça ou seja as que ainda
não tinham menstruação...isto era lei segundo as tradições
daquela roça e de todo o povo Savalu que infelizmente Hoje em
dia quase acabou, existem poucos desse povo tanto na
Bahia(afro-descendentes)quanto na África.

Yabas: Mulheres Negras, Deusas, Heroínas e Orixás: personalidades sem


fronteiras.
Sylvia Egydio; Kiusam Regina de Oliveira.
Da Kaballah hebraica ao império Yorubano

Verger nos mostra como os estudos desenvolvidos pelo Capitão Clapperton


(Travels and Discoveries in Northen and África - 1822/1824) a partir de um
manuscrito em língua árabe, trazido por ele do Reino de Takroor (atual Sokoto),
naquela época dominado pelo Sultão Mohamed Bello, de Haussa, fornece dados
analíticos comprovados sobre a origem dos povos africanos.

Eduardo Fonseca Júnior tendo como base esses estudos mostra que Opá
Oranian (monólito de Oranian), um obelisco considerado o túmulo deste grande
herói possui características de origem fenícia além de conter palavras
pertencentes à Kaballah hebraica que são: YOD, RESH, VO, BETH e ALEPH,
definição hebraica do nome YORUBÁ, cuja tradução seria a seguinte:

YOD - a divindade por ordem da


RESH - unidade psíquica do ser
VO - deu origem
BETH - ao movimento de luz, objeto central.
ALEPH - de estabilidade coletiva do homem.
Desta forma YOD e RESH comporiam as letras Y - O - R, o símbolo VO comporia
a letra U, o símbolo BETH a letra B e o símbolo ALEPH a letra A.

Veja:

YOD - YO
RESH - R
VO - U
BETH - B
ALEPH - A

Clapperton, desta forma, comprova a origem cabalística da palavra YORUBÁ,


oriunda da localidade YARBA, que “ ... é sinônimo do termo YARRIBA, que os
Haussas usam para identificar a palavra Yorubá.” No mesmo monólito encontra-
se a profecia que prevê a implantação do império Yorubano por Nimrod, sob o
nome da divindade Oduduwá, “ ... por ordem da unidade psíquica do ser, seria
por ordem de Deus.” E assim se deu a fundação da antiga cidade de Ilê Ifé,
considerada o berço da cultura yorubana. Yorubá que aparece em alguns
trabalhos como um grande país formado por cinco regiões: Oyó, Egbwa, Ibarupa,
Ijebu e Ijexá.

Foram grandes os esforços no período colonialista franco-britânico a fim de


destruir o culto e as tradições africanas. Assim, começou a batalha pela
desmoralização das divindades africanas e, ESU/EXÚ, de Mensageiro e Deus da
Fertilidade passou a ser divulgado como demônio. “Mesmo após as descobertas,
por teólogos da implantação colonialista, da identificação total entre Olorum e
Jeovah, os pesquisadores mantiveram e acirraram a campanha de
desmistificação das religiões negras, classificando essas divindades como
demônios pagãos”.

Na teogonia africana temos Olodumaré (Oló = Senhor, Odú = Destino, Maré =


Supremo = Senhor do Destino Supremo) e Oduduwá (Odou = Fonte, da =
Geradora, iwá = vida = Fonte Geradora da Vida) como os criadores da vida
humana, sendo que Oduduwá uniu-se a Olokun (Oló = Senhora, Okun = Mar =
Senhora do Mar) para gerar três filhos - Ogun, equivalente a Vulcano, senhor do
ferro, fígado, agricultura; Ishedale, equivalente a Afrodite, senhora das águas e
mãe de todas as ninfas e heroínas deificadas; e Okanbi, senhor do fogo, das
conquistas e da justiça. “Da linhagem de Ogun, todos os Orixás morreram. Da
linhagem da princesa Ishedale, nasceram deusas e ninfas, conhecidas por
Ayabas. Da linhagem de Okanbi, nasceram os reis e heróis deificados tais
como Xangô, Aganjú, Kori, Abipa, Abiedum e outros...”.

Os filhos de Okanbi dão início à epopéia dos heróis yorubanos pois dentre seus
sete filhos aparece Oranian, o implantador da cultura yorubana.
“Independentemente de ter tentado continuar a missão de seu avô Oduduwá em
sua Guerra Santa contra os descendentes de Ismael, transformou-se na maior
figura dessa cultura, a tal ponto que é o mais famoso dos sete filhos de
Okanbi”.Okanbi instituiu o primeiro feudo de que se tem notícia, pois se tornou
detentor de todas as terras da África Ocidental, instalando-se definitivamente em
Ilê Ifé. Neste momento, Oranian se afasta temporariamente de Ilê Ifé indo ocupar
a cidade de Oyó.

Assim, Fonseca Júnior nos mostra a cronologia da época:

OKANBI - Primeiro Alafin de Oyó - 1700 a 1600 a.C.


ORANIAN - Segundo Alafin de Oyó - 1600 a 1500 a.C.
AJAKÁ - Terceiro Alafin de Oyó - 1500 a 1450 a.C.
XANGÔ - Quarto Alafin de Oyó - 1450 a 1403 a.C.
AJAKÁ - Quinto Alafin de Oyó - 1403 a 1370 a.C.

A história da origem do povo yorubano mostra que Oduduwá era o próprio


conquistador caldeu Nimrod, descendente de Noé, que era primo de Abraão,
neto de Cam e filho de Kusí e “... que foi designado por Olodumaré para levar a
remissão e a palavra de Olorum (Deus) aos filhos de Caim que, amaldiçoados,
viviam na África.”

São essas coincidências que ligam a história da origem do povo africano à


Kaballah hebraica sendo que, a partir da análise de documentos que comprovam
esta história, foi formulada a tese que liga Abraão, pai dos semitas, e Oduduwá
(Nimrod), pai dos africanos. Isto pode também ser constatado se for feita uma
análise do Vodu (africano) cujo símbolo é a serpente telúrica de DAN, com o
símbolo de uma das doze tribos de Israel que possui o mesmo nome, DAN, e o
mesmo símbolo - a serpente telúrica.

DE ISHEDALE ÀS GRANDES HEROÍNAS

Conta a história que da linhagem da Princesa Ishedale nasceram Deusas E


Ninfas, isto é, mulheres adoráveis pela beleza protetoras dos rios, bosques,
matas e montes, costumeiramente associadas às mulheres jovens, guerreiras e
formosas, conhecidas na teogonia africana por Ayabas que em Yorubá significa
“... rainha mulher do rei. Termo honorífico dado às divindades femininas da
cultura Yorubana ...”.

Dessa linhagem nasceram Oyá-Yánsàn, que embeleza seus pés com pó


vermelho; Òsun, seja ela Àpara, Àyálá, Oke ou Oníra, aquela que limpa suas
jóias de cobre antes de limpar seus filhos; Obá aquela que com sua força física
lutou e venceu Oxalá, Xangô e Orunmilá, sucessivamente; Yemoja, seja ela
Ogunté, Assabá ou Assessu, aquela que vive e reina nas profundezas das
águas; Nàná Buruku, aquela que mata uma cabra sem usar um obé (faca); Iewá,
aquela jovem virgem que recebeu de Orunmilá o poder de ler o Oráculo de Ifá.

Da linhagem de Okanbi temos, também, mulheres exemplares que fizeram a


história do povo yorubano como Ya Torôsi Ayabá Nupe (Senhora Torôsi Rainha
de Nupe) - que viveu em 1460 a.C., filha do Rei, tia de Oyá. Oyá, portanto, foi
prima e mulher de Xangô, com quem conquistou vários reinos. Outra mulher
fantástica foi Moremi que, como Torôsi e Oyá, também pertencente a região de
Tapá, foi uma grande princesa e sacerdotisa yorubana, considerada heroína por
romper com os sacerdotes de seu povo por acreditar que eles estavam
distanciando-se dos ensinamentos originais de Oduduwá. Funda, então, Abomei
(Dahomé-Benin) instituindo o matriarcado além de criar a sociedade secreta
dos homens-leopardos (Ekun-Wale) que é uma qualidade de Odé, isto é,
caçador tido como rei. Foi conhecida como a Rainha-gata, aquela que instituiu
as bases da cultura Gêge. Alami, filha de Okanbi, princesa real e fundadora do
Reino de Ketu reinou soberanamente até passar o poder a seu filho, Alaketú,
que veio a ser o primeiro rei de Ketú. Oxum, Obá, Yemanjá, Iewá, Nanã entre
outras formaram, na África, uma sociedade feminina secreta.

Os homens eram vetados, uma vez que, nestas reuniões, elas tratavam de
assuntos pertinentes aos direitos das mulheres - era um grupo feminista. Com
muita estratégia estas mulheres traçavam planos e executavam ações para
solucionarem problemas de vários tipos, recorrendo, muitas vezes, do poder das
FEITICEIRAS IYAMIS. Lutaram bravamente para manter a soberania feminina e
impedir que os homens conquistassem espaço maior como vinha acontecendo.

Mas o segredo durou pouco: os homens, estranhando o comportamento de suas


mulheres, resolveram segui-las para descobrir o que estava acontecendo, afinal,
até mesmo Iewá, aquela jovem e bela casta que nunca saia da beira de seu rio,
podia ser vista caminhando pela floresta rumo ao desconhecido. Após algum
tempo descobriram o refúgio das mulheres e seu objetivo resolvendo, então,
revidar. E assim o fizeram. Armaram um plano terrível no qual Xangô,
contrariadamente, teve de seduzir Obá e tomá-la como sua primeira mulher, para
logo em seguida conquistar Oyá e por último Oxum. Todos passaram a conviver
debaixo do mesmo teto: Xangô desprezava Obá e já não dava tanta atenção à
Oyá, mas Oxum passou a ser sua predileta sendo deliciada por ele a cada minuto
do dia. Automaticamente, a rivalidade nasceu entre essas mulheres que
tinham um objetivo em comum: não entregar o poder aos homens. Mas o
ciúme, a inveja e a raiva causaram uma divisão no grupo.

Oxum gabava-se das outras chegando ao ponto de ensinar Obá a fazer uma
comida que deveria ser preparada com sua própria orelha, alegando que isso faria
Xangô olhar para ela com olhos de amor. Obá, ardente de paixão, assim o fez e
Xangô, ao ver a orelha no prato e a mulher desfigurada, ficou irado expulsando as
duas de casa.

Pois é, o feitiço virou contra a própria feiticeira. Desesperadas, não conseguiram


controlar suas emoções transformando-se em rios: Obá num rio de águas
turbulentas e Oxum num rio de águas calmas. Oyá continuou a viver com
Xangô até que ele desejou lutar e conquistar a cidade de Tapa, seu local de
origem. Ela o desafiou fazendo com que Xangô desistisse da idéia mas, a
partir deste momento, suas vidas se separaram.

DAS GRANDES HEROÍNAS AOS ORIXÁS FEMININOS - AS YABAS

Alguns autores retratam os Orixás como forças da natureza associadas a imagem


de um “Orixá-herói” cujo arquétipo do Orixá passa a fazer parte do inconsciente
coletivo de uma nação, levando os filhos de cada Orixá a desenvolver e a reforçar
certas características do mesmo.

Voltando-nos para a mulher negra brasileira atual que não possui em suas
lembranças recentes imagens de mulheres negras sacerdotisas, princesas ou
rainhas, adquirir a consciência histórica e espiritual da mulher africana e de seu
valor na cultura é essencial para se pensar no resgate de uma possível auto-
estima perdida. Os arquétipos destas heroínas africanas que, ao fazer sua
passagem para outro plano transformaram-se em forças da natureza, tem se
revelado um excelente tratamento para mulheres negras freqüentadoras das roças
de Candomblé. É um conhecimento que tem levado essas mulheres ao campo de
batalha usando, como arma, as marcas da ancestralidade que só a sabedoria
aliada ao poder da tradição oral, podem registrar.
Desta forma, conhecer a história destas ancestrais femininas, reconhecendo-as
como atravessadoras de fronteiras, traz, às mulheres negras de hoje, a
possibilidade de contato com uma dimensão da religião que seita nenhuma traz: a
aceitação da complexidade do ser humano

No Candomblé a complexidade feminina jamais foi vista como impedimento para


que uma mulher guerreira ou sensual, jovem ou velha, feia ou bonita se
transformasse em forças da natureza. Jamais uma mulher negra foi santificada
como prêmio por sua castidade ou por fazer o bem sem olhar a quem. São
mulheres negras que tornaram-se formas de energia como conseqüência de viver
intensamente seus amores, desamores, encantos ou desencantos buscando,
ardentemente, formas de viver melhor e em plena harmonia com a consciência
divina.

O arquétipo de Nanã é o daquela pessoa majestosa que tem a consciência de que


cada gesto traz conseqüências, mostrando-se meticulosa em seus atos e
equilibrada; Oxum que com sua beleza e sensualidade sabe ser enérgica quando
necessário; Obá que com seu porte forte e viril é sedutora; Yewá que com forma
esbelta é dominadora e moralista, desconfiada e arredia; Oyá que com sua grande
beleza é poderosa, audaciosa e violenta despertando o desejo dos homens;
Yemanjá que é carinhosa com seus filhos e deseja o luxo para sua vida; até
mesmo Oxóssi (que no Brasil tomou uma forma masculina, característica de seu
correlato masculino Odé e que na África é conhecida como a Diana da África) tem
o dom de provocar o cio nas fêmeas para o acasalamento. Conhecida como a
mulher de Ogum em um antigo texto do Ijalá ‘Osósí L’Orukó Obinrin Ogum’ -
Oxóssi é o nome da mulher de Ogum.

Conhecer esses arquétipos pode oferecer às mulheres negras a possibilidade de


sobreviver numa sociedade competitiva e injusta como a nossa uma vez que esse
conhecimento tem se mostrado capaz de despertar nas pessoas, conhecedoras
de seu Orixá de cabeça, as similaridades entre pessoa-Orixá além do desejo de
tornar-se uma pessoa cada vez melhor e à altura de seu Orixá.

DAS YABAS ÀS GRANDES HEROÍNAS - O RETORNO SEM FRONTEIRAS

Quais as fronteiras existentes entre mulheres negras, deusas, heroínas e


orixás?

Seria o mesmo que perguntar quais as fronteiras existentes entre o blues, jazz e
rap ou mesmo entre o samba, axé e o maracatu. Podemos perfeitamente idealizar
um samba-axé com swing de maracatu como um blues-jazz com swing de rap.
Isto porque a criatividade humana não tem fronteira - é livre - para atrever-se a
alçar grandes vôos nos quais tempo e espaço configuram-se apenas como
coadjuvantes. É absolutamente lógico juntar todos esses estilos se se pensar que
um é derivado do outro e que fazem parte da mesma natureza, em sua essência.
Os limites sempre nos aprisionam assim como os preconceitos nos impedem de
vislumbrar diferentes formas de simplesmente ser.
A conscientização de ser mulher negra num país como o Brasil passa por várias
etapas desde não se perceber como negra até mesmo de superar essa
percepção. É através do conhecimento da história do povo africano que a mulher
negra passa a reconhecer-se como portadora de títulos de nobreza que a qualifica
como legítima herdeira do trono real, mesmo diante do silêncio e da simplicidade
de sua tarefas.

Neste sentido, as mães-de-santo negras do Candomblé brasileiro continuam


ocupando lugar de honra no processo de resgate da identidade cultural e filosófica
de ser mulher negra através dos tempos. Identidade (re)buscada quando traz à
tona, memórias faraônicas que remontam o poder das sete Cleópatras e o suicídio
da última que, num ato extremado e consciente, tirou sua própria vida para não
ser subjugada por um homem.

São mulheres que, por serem as sacerdotisas centrais do culto, possuem o papel
de integradoras dos membros dos grupos. Não têm a pretensão de carregar o
estereótipo de mulheres puras, doces ou meigas pois, humildemente, se
reconhecem como figuras contraditórias. A cultura africana não descarta uma
coisa para qualificar outra pois convive perfeitamente com a dualidade complexa
existente dentro de todos: as pessoas são e não são ao mesmo tempo.

Ninguém é de todo bom ou mal, apenas carregam dentro de si ambos os aspectos


da personalidade sendo que um não existiria sem o outro, pois são forças opostas
que se atraem e que se completam.

Exemplificando, no Candomblé para uma mulher negra ser mãe não precisa abrir
mão de sua sensualidade ou sexualidade - ser mãe - não a obriga, portanto, a ser
menos feminina.

As mulheres negras têm um valor que às vezes desconhecem mas, o Candomblé,


como forma de resistência, refúgio para as injustiças vividas no cotidiano, tem
ajudado essas mulheres a se perceberem como donas de seus próprios destinos
sem que dependam de seus homens uma vez que, 36,7% das famílias negras,
são chefiadas pelas mulheres.

O reforço oferecido pelas mães-de-santo vem através da percepção de que as


mulheres negras, guerreiras em sua essência, estão capacitadas para construírem
grandes obras. É por isso que o espaço de resistência chamado Candomblé, em
dias de atendimento e festa, é reconhecido como “terapia para o povo” pois
oferece subsídios permanentes para que a mulher encontre o que procura: uma
vida com equilíbrio e confiança em si própria.

Bem próximo do ano 2000 é chegada a hora das mulheres negras se unirem e
exigirem que suas histórias sejam passadas a limpo, aproveitando para revelar o
que está por trás de todo carnaval propagado pela Rede Globo com relação ao
Brasil 500 anos, como sendo esta mais uma atitude que tenta levar o povo à
ignorância, desconsiderando que o Brasil já havia sido descoberto pelos índios
antes da chegada dos colonizadores.

Temos visto, portanto, diariamente, a história do Brasil sendo recontada pelos


descendentes destes mesmos colonizadores, continuando a valorizar apenas o
que lhes convém.

Talvez deva-se criar um movimento paralelo, que (já sabemos) não terá o mesmo
apoio da mídia chamado - Brasil: 500 anos de história mal contada - ou ainda -
Brasil: 500 anos da história que não foi revelada.

E através de iniciativas como esta da Rede Globo, continuamos a ver o triunfo do


engodo coletivo proporcionado sempre por aqueles que detém o poder e que
determinam o que o povo deve ou não saber e as mulheres negras, continuam a
ver tentativas de silenciar suas bocas pretas até perderem o fôlego (e seu
referencial) assim como fizeram com Jacinta.

A mulher negra jamais precisou esperar a boa vontade de um homem para ajudá-
la a resgatar sua identidade - historicamente tem encontrado apoio em grupos
organizados por mulheres negras que abrigam, dentro de um corpo, várias
personalidades resgatadas.

Mulheres negras, deusas, heroínas e orixás - personalidades multifacetadas que


se confundem mas também se completam a fim de fazer realçar o glamour e a
nobreza deste grupo.

São mulheres que entendem fronteiras como a impossibilidade de se expressar


com liberdade, fato que a mulher negra repudia por fazer com que relembre seus
tempos de cativeiro, local este que jamais a impediu de lutar por seus direitos. É
preciso que a mulheres negras entendam, de uma vez por todas que, apesar de
não se conhecerem umas às outras enquanto pessoas, compartilham histórias de
vida semelhantes pois ocupam o mesmo espaço físico na memória nacional. São
histórias que as ligam como os retalhos são ligados uns aos outros (pelo alinhavo)
numa colcha de retalhos. Fronteiras?

Não podemos mais reconhecê-las como legítimas pois legítimo é o nosso passado
que nos qualifica como nobres sendo que o lema é: jamais se curvar diante
daquele que deseja nos ver subjugada e não aceitar os limites que nos são
impostos já que possuímos, em nosso registro corporal, a marca que nos legitima
como seres encantados e encantadores, como deusas-mulheres, rainhas de
nossas próprias vidas.

Este artigo é para você, Jacinta, grande yabá: após 60 anos a reconhecemos
como grande mulher que, mesmo após a morte, continuou a servir aos
sinhozinhos paulistas; corpo negro eternamente aprisionado, ironicamente, para o
bem de todos e felicidade geral da nação.
Felizmente, a alma da mulher negra é livre tanto quanto a energia: voa, flutua,
mergulha, dança, ricocheteia e, como o raio de Oyá, corta a escuridão do céu
arriscando um desenho ousado provando a todos uma coragem que não tem
limites. É com este perfil que nós, yabás contemporâneas, entraremos no século
21: não aceitando nada menos que deixar nossas marcas na escuridão do céu
infinito.

Axé!

**Iyalorixá do Axé Ilê Obá; Iyanifá; Chief of Ido Osun. Membro do Conselho
Editorial da revista de CULTURA VOZES (Rito Afro-brasileiro)

*** Mestranda em Psicologia da Educação da Universidade de São Paulo (USP)


professora no Curso Normal e Coordenadora Pedagógica do Axé Ilê Obá –
Jabaquara – São Paulo, SP.

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