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Morada

No ano em que Daniela Antonelli retorna ao Rio de Janeiro aps temporada paulista entrecortada por uma residncia artstica em Nova York, essa primeira exposio individual na galeria Mercedes Viegas percorre o caminho oposto. Das primeiras experimentaes em que, como a bailarina da infncia, traa pontos e linhas suaves que danam e orientam o olhar para a busca da linguagem, s instalaes que j do conta de todas as dimenses de sua arte, o que se revela a construo cuidadosa de uma morada. Como no processo cognitivo de uma criana que descobre o mundo da arte, so as cores primrias que levam Antonelli a errar acertadamente em movimentos curvilneos sobre a superfcie plana do papel. Trata-se de um devir-desenho que no busca formas, mas delicia-se no trajeto sem preocupar-se onde ir chegar, como uma pena flanando no sopro do vento. Quando o rs do cho em sua bidimensionalidade esgota suas possibilidades, naturalmente se levanta e descobre a arte a seu redor. O artista no busca seu lugar no mundo, mas cria um mundo para dar conta do seu no lugar. Se o im que usa para perdurar seus trabalhos de modo a dot-los de dimenso espacial tem a propriedade da atrao, aos poucos congrega outros elementos numa constelao de pequenos fragmentos onde as cores se misturam e cedem lugar sensorialidade de materiais, texturas e profundidades. Saindo de si, recorre natureza e ao universo sua volta para construir sua morada. Fora dela, tudo arte a partir de seu olhar e da costura delicada de suas mos. Pergamenas juntam-se a linhas, acrlicos, filmes plsticos e pedaos de galhos, criando as dimenses de um mundo concreto o microclima, para usar o ttulo de uma de suas obras onde pode finalmente sentir-se em casa. Os materiais que elege para criar sua arte tm o peso de todo o universo, concentrando o que h de natureza e de esforo humano. Em seus primeiros passos de maturidade artstica, essa exposio no marca uma chegada, mas revela a chave com que possvel abrir as portas desse espao subjetivo em que Daniela Antonelli deixa-se atravessar pelos elementos sua volta para atravessar-se pela sua arte criando seu prprio lugar no mundo.

Manuela Fantinato Junho/2013

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