Você está na página 1de 2

Fabular. Invencionices de quem se arrisca por terras estranhas.

Nos vcuos deixados pelas palavras que se dizem mudas: estranhos silncios. Fabular relaes entre a psicologia e a palavra (mesmo as palavras que no so ditas, mas que produzem efeitos). Inventar. Inventar usos e funes, que faam desfuncionar os usos que damos a palavra. Inventar funes que provoquem desarranjos, que nos empurre para outras vises de mundo. De clnica. De Psicologia. De sujeito. De ns. Transmutaes do olho. Se h rumores de uma suposta cura pela fala, reinventemos, pois, a fala, ento. Inventemos modos de falar onde nenhuma cura jamais caiba: uma fala incurvel de um sujeito que no se diz. Fabulaes. Fabular perguntas que acabem com a possibilidades de respostas. Perguntas-desejos, nada falta. Respostas que no venha em contraposio a uma pergunta. Experimentaes. Palavriar desenhos exauridos, que podem nos guiar um vida de explorao dos campos existenciais. Palavras-potncias, possibilidades e latncias. Cores, sons, murmrios e gaguejos. Risadas de quem se ama. Abraos, despedidas, olhares, e libido. Facas e mas: guas que matam a sede, mas que tambm a recria Eu poderia falar de todas estas palavras. Mas no por acaso, nem por ironia do destino, quero falar sobre a palavra que nos faz sujeito. E mais ainda, sobre a palavra que nos torna investigveis, passveis de interveno, e inscritos dentro de um demarcao clnica: tratveis. Pois, as condies sociais-histricas-culturais que nos fizeram sujeitos so as mesmas que nos subjugaram. A fora que nos eleva e nos faz pensar que evolumos, mesma que nos

faz cair por terra, frente a nossos desejos e animalidade inexorvel. Tambm somos palavras selvagens: arquitetos da barbrie, um horror que se olha no espelho. Basta-nos pensar apenas, se nossas relaes com as palavras tm nos permitido relaes ticas, polticas e estticas potentes de vida. E ainda, se temos nos permitido us-las de forma a fazer ouvir com os olhos tudo que inaudvel em ns. No nos enganemos, as potncias latentes so inexorveis. O enquadramento das foras criadoras que nos compe, cobra o preo das pequenas mortes.

Você também pode gostar