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Instituto de
Pedagogia Espírita
EDUCAÇÃO ESPÍRITA
Instituto de Pedagogia Espírita do Ceará - IPE-Ce
do Ceará
EDITORIAL
Nesta edição, damos início a um projeto que herdados pelo Movimento Espírita de nossa tradição
consiste na publicação de uma série de artigos que cultural católico-jesuítica distorcem nossa visão da
visam colaborar com a reflexão sobre a educação no Doutrina e da Educação Espírita.
Movimento Espírita iniciando com os precursores de Pretendemos dedicar nove edições a esta
Allan Kardec: Comenius, Rousseau, Pestalozzi e; de temática. Posteriormente debateremos propostas
práticas ligadas à educação da infância, juventude e
Kardec, antes de seus estudos dos fenômenos
adultos. A formação do educador deve integrar prática e
espíritas, com a Revista Espírita e a Codificação
reflexão teórica, principalmente a formação do
Kardequiana; com seus continuadores no Brasil, educador espírita que herdou a proposta educacional
Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo e Herculano mais revolucionária e sublime de nossa história.
Pires; concluindo com as propostas de Sócrates, A concretização deste Projeto envolve inúmeros
Platão e de Jesus, que estão entre os grandes fatores: o estudo, a pesquisa e a reflexão; a edição e a
educadores da Humanidade. impressão; a distribuição do jornal; e, é claro, o interesse
Este projeto inicia com a reflexão sobre nós de cada um de nossos leitores.
mesmos, isto é, sobre como valores e posturas A edição
HISTÓRIA E AUTORITARISMO
Os portugueses, os negros e os índios iniciaram A intolerância para quem não se submete às regras
a civilização brasileira. Destacaremos a influência formais, ainda caracteriza nossa conduta, o prazer
portuguesa, pois como colonizadores, eles foram os sádico do mando ainda predomina ante o conceito de
maiores responsáveis pelo desenvolvimento do justiça e liberdade. Sentir-se importante, estar perto
autoritarismo no início de nossa formação social. do poder institucional e punir os 'rebeldes' que
Portugal era um país Católico, e o catolicismo ameaçam o status quo são duas faces da mesma
português era, ao mesmo tempo, autoritário e moeda. A intolerância tem sido responsável pela
condescendente. Impiedoso com os que formação de uma cultura do formalismo e da astúcia,
desrespeitassem as regras da igreja, mas de grande opostas a alegria e a espontaneidade cristãs,
condescendência em relação à conduta moral dos ensinadas por Jesus.
“filhos obedientes”. Punindo quem fosse flagrado Veremos como o autoritarismo se desenvolveu
insultando aos santos, arrancando a língua pela na educação brasileira através da Companhia de
garganta e convivendo com costume das mulheres Jesus, que somando ao autoritarismo da escravidão,
estéreis esfregarem-se, de saia levantada, nas pernas influenciou a sociedade como um todo.
de São Gonçalo do Amarante e adorando Nossa
Senhora do Ó na imagem de uma mulher grávida.
2 IPE EDUCAÇÃO ESPÍRITA JULHO/AGOSTO DE 2006
A PEDAGOGIA JESUÍTICA
A pedagogia jesuítica pode ser sintetizada em três características. A primeira é o respeito
máximo a autoridade e a hierarquia institucional, com a utilização de punições físicas e de
humilhações, como vara de marmelo, palmatória de sucupira com espinho ou alfinete nas pontas. O
riso é infração.
A segunda característica é a valorização do dogma, da memória e da oratória e do
desinteresse pela ciência, pelas atividades manuais e artísticas. A memória e a oratória eram as
armas de pregação, os argumentos "bem elaborados" que nada ensinavam, mantendo o status da fé
católica e do pregador; assim iniciamos o “hábito” de admirar o que não entendemos.
A terceira característica é o ensino descontextualizado (ensino distante das
problemáticas sociais), arma dos fariseus de todos os tempos, elemento fundamental em um
processo de formação acrítica, essencial para a manutenção de uma sociedade perversa e injusta,
geradora de tantos sofrimentos.
Esse processo tem como culminância o bloqueio do desenvolvimento intelectual e moral do
ser, o que levou aos Jesuítas, apesar das “obras de Caridade”, afastarem-se de maneira flagrante do
Cristianismo.
“Ensinava Loiola: se a
É preciso, contudo, conhecer a origem da Companhia de Jesus, para melhor entender os
Igreja dissesse ser o
propósitos da Pedagogia Jesuítica.
preto branco seus fiéis
teriam teriam a A COMPANHIA DE JESUS
obrigação de acreditar.”
A Companhia de Jesus fundada em 1534, por Inácio de Loiola, nobre espanhol que vivia de
guerras e pilhagens, que após um período de recuperação de um ferimento grave, arrependeu-se da
vida que levava, e num período de doentias flagelações teve visões de Jesus, da Santíssima Trindade
e de Satanás.
Os jesuítas foram os auxiliares políticos do papa Paulo III, o que iniciou o “Santo Ofício” em
1542, tornando-se uma poderosa ordem internacional, presente na Ásia, África, América do Sul e do
Norte, além da Europa. A ordem era pautada em uma rígida disciplina militar, com o intuito de
defender os interesses da Igreja e jamais questionar a autoridade institucional da igreja, conforme
ensinava Loiola “ se a Igreja dissesse ser o preto branco seus fiéis teriam a obrigação da acreditar.
Obviamente existiam espíritos nobres vinculados a Companhia de Jesus, mas suas idéias não
moldaram a ação geral dos jesuítas.
No Brasil os jesuítas fundaram e mantiveram as escolas com exclusividade e autonomia, de
1549 a 1759, quando foram expulsos pelo Marquês de Pombal, mas deixando uma prática que ainda
hoje nos orienta (ou desorienta). Sua atuação centrava-se na catequese e na educação das elites,
Segundo Kardec para a então o objetivo era claro: formar fiéis e servidores.
Lei de Deus só existe uma Vejamos a análise do espírito Emmanuel, sobre a Companhia de Jesus, psicografada por
autoridade, que não é Francisco C. Xavier, na obra A Caminho da Luz:
oriunda nem da “ A Companhia de Jesus
mediunidade, nem da Uma onda de claridades novas felicitava todas as consciências, mas os Espíritos tenebrosos e
habilidade de falar, nem pervertid
dos cargos, é intelecto- os, que mostraram ao europeu outras aplicações da pólvora, além daquelas que os chineses haviam
moral. enxergado na beleza dos fogos de artifício, inspiraram ao cérebro obcecado e doentio de Inácio de
Loiola a fundação do jesuitismo, em 1534, colimando reprimir a liberdade das consciências.
(Grifamos)
A Igreja, estendendo mão forte a essa idéia, inaugurava um dos períodos mais tristes da
história ocidental. O Tribunal da Inquisição, com poderes de vida e morte nos países católicos, fez
milhares e milhares de vítimas, ensombrando o caminho dos povos. Espetáculos sangrentos e
detestáveis verificaram-se em quase todas as grandes cidades da Europa, os autos-de-fé
acenderam horrendas fogueiras do Santo-Ofício, por toda parte onde existissem cérebros que
pensassem e corações que sentissem. Instituiu-se a devassa de todos os institutos sociais e a
violação de todos os lares. Na Espanha, queimavam o infeliz na praça pública; na França, tétrica
noite causava pesadelos coletivos em matéria de fé; na Irlanda, muitos "fiéis" faziam questão de
levar ao altar de Jesus a vela feita da gordura dos protestantes.
Ação do Jesuitismo
Psicografado por A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava conhecer os meios, para cogitar
F r a n c i s c o C â n d i d o tão-somente dos fins imorais a que se propunha.
Xavier, Este livro enfoca, Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da civilização ocidental,
d e s d e a g ê n e s e contribuindo amplamente para o atraso moral em que se encontra o "homem científico" dos
p l a n e t á r i a , a t é a s tempos modernos.
perspectivas para o Suas hordas de predomínio, de cupidez e de ambição não martirizaram apenas o mundo
futuro da humanidade: secular. Também os padres sinceros sofreram largamente sob a sua preponderância nefasta. Tanto
os primeiros habitantes assim que, quando o papa Clemente XIV tentou extingui-la, em 1773, com o seu breve 'Dominus ac
d a Te r r a , p o v o s e Redemptor', exclamava desolado: - 'Assino minha sentença de morte, mas obedeço à minha
religiões do passado, consciência.' Com efeito, em setembro de 1774, o grande pontífice entregava a alma a Deus, no
I m p é r i o R o m a n o e meio dos mais horrorosos padecimentos, vitimado por um veneno letal que lhe apodreceu
Revolução Francesa. lentamente o corpo.” (pág. 176-179)
EDUCAÇÃO ESPÍRITA JULHO/AGOSTO DE 2006 IPE 3
Eis a origem dos princípios educacionais que defendemos com tanto empenho em nosso Movimento!
Criticaremos esses princípios da pedagogia jesuítica, nessa edição, a partir do pensamento de Comenius. Porém não nos
furtaremos, nos próximos números, de confrontá-los com o pensamento de Pestalozzi, Rivail, Kardec (Doutrina Espírita),
Eurípedes Barsanulfo e J. Herculano Pires, mas, como ensina o Eclesiastes, tudo tem seu tempo...Comecemos por Comenius.