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PODER EXECUTIVO ESTADUAL. EXCELENTISSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ‘SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Copidenadoria de ‘ADPF - 132 Processamento inicial 27/02/2008 16:55 25832 AGERE TA © GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com fundamento no art. 102, § 1°, da Constituigdo Federal ¢ no art. 1° segs. da Lei n° 9.882, de 3.12.99, vem apresentar ARGUICAO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, indicando: 1. como preceitos fundamentais violados, o direito a igualdade (art. 5°, caput); 0 direito liberdade, do qual decorre a autonomia da vontade (art, 5°, 11); 0 principio da dignidade da pessoa humana (art, 1°, IV); ¢ o principio da seguranga juridica (art. 5°, caput), todos contidos na Constituigao da Repiblica; ¢ 2. como atos do Poder Piiblico causadores da lesito: a) o art. 19, Ie Ve o art. 33, 1a X e pardgrafo linico, todos do Decreto-lei n° 220, de 18.07.1975 (Estatuto dos Servidores Civis do Estado do Rio de Janeiro. Inteiro teor em anexo, doc. n° 1), se interpretados de maneira discriminatéria em relagdo aos homossexuais; b) 0 conjunto de decisdes judiciais proferidas por tibunais estaduais, inclusive ¢ notadamente o do Rio de Janeiro, que negam as unides homoafetivas 0 mesmo regime juridico das unides € PODER EXECUTIVO ESTADUAL Subsidiariamente, caso esse Eg. Tribunal entenda no ser hipotese de cabimento de ADPF — o que se admite apenas para argumentar, sem conceder — 0 autor requer que o pedido seja conhecido como Acao Direta de Inconstitucionalidade, para o fim de se atribuir interpretagdo conforme aos referidos dispositivos do Estatuto dos Servidores Publicos Civis do Estado do Rio de Janeiro e também ao art. 1723 do Codigo Civil (Lei n.° 10.406/2002), que dispde sobre o regime juridico da Unido Estavel'. A interpretago requerida devera excluir a possibilidade de se dar a tais disposigdes normativas aplicagtio geradora de conseqiiéncia discriminatéria incompativel com a Constituigao. A demonstragao da satisfagio dos requisitos processuais, bem como da procedéncia do pedido, de sua relevancia juridica e do perigo da demora seré feita no relato a seguir. I. NOTA PREVIA? SINTESE DAS IDEIAS QUE FUNDAMENTAM A PRESENTE AGAO. L1. As relagdes homoafetivas e 0 Direito 1 Nas ultimas décadas, culminando um processo de superagio do preconceito ¢ da discriminag&o, inimeras pessoas passaram a viver a plenitude de sua orientago sexual e, como * Cédigo Civil (Lei n® 10.406/2002), art. 1.723: “E reconhecida como entidade familiar @ unio estével entre 0 homem e a mulher, configurada na convivéncia pablica, continua e duradoura e estabelecida com 0 objetivo de constituigo de familia”. Algumas idéias, informagSes @ passagens da presente pega foram colhidas em Lufs Roberto Barroso, “Diferentes, mas iguais: 0 reconhecimento juridico das relagbes homoafetivas no Brasil", Revista de Direito do Estado 5:167, 2007. 5 4 2 € PODER EXECUTIVO ESTADUAL desdobramento, assumiram publicamente relagdes homoafetivas. No Brasil ¢ no mundo, milhdes de pessoas do mesmo sexo convivem em parcerias continuas e duradouras, caracterizadas pelo afeto e pelo Projeto de vida em comum. A aceitagao social ¢ 0 reconhecimento Juridico desse fato sao relativamente recentes e, conseqientemente, existem incertezas acerca do modo como o Direito deve lidar com 0 tema. 2. ‘Nesse ambiente, é natural que se coloque, com preméncia, o tema do regime juridico das unides homoafetivas. De fato, tais parcerias existem e continuaro a existir, independentemente do reconhecimento juridico positivo do Estado. Se o Direito se mantém. indiferente, de tal atitude emergira uma indesejdvel situagdo de inseguranga. Porém, mais do que isso, a indiferenga do Estado € apenas aparente e revela, na verdade, um juizo de desvalor. Tendo havido ~ como houve — uma decisdo estatal de dar reconhecimento juridico as relages afetivas informais, a nfo-extenstio desse regime as unides homoafetivas traduz menor considerag&o a esses individuos. Tal desequiparagdo ¢ inconstitucional, pelos motivos que seraio apresentados ao longo da presente peticao. 1.2. Fundamentos filoséficos 3 A presente ago se assenta sobre dois fundamentos filoséficos. O primeiro deles € que 0 homossexualismo é um fato da vida. Seja ele considerado uma condig&0 inata ou adquirida, decorra de causas genéticas ou sociais, a orientagdo sexual de uma pessoa n&o é uma escolha livre, uma opgao entre diferentes possibilidades. Deve-se destacar, ademais, que o homossexualismo — ¢ as uniées afetivas mg f

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