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Análise Psicológica (2005), 4 (XXIII): 361-371

Desenvolvimento do auto-conceito físico


nas crianças e nos adolescentes

LUÍSA FARIA (*)

1. INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO E DELIMITAÇÃO mesma (Bandura, 1977; Lima Santos & Faria, 1999;
CONCEPTUAL DO AUTO-CONCEITO Nicholls, 1982; Novick, Cauce, & Grove, 1996).
Ora, o aumento dos estudos sobre o auto-con-
A importância do estudo do auto-conceito pren- ceito, nas últimas três décadas, permitiu: (1) alar-
de-se com o seu carácter preditivo quanto à rea- gar o nosso conhecimento sobre este construto psi-
lização dos indivíduos nos diversos domínios da cológico; (2) relacioná-lo com outras variáveis,
existência, entre eles o académico, o físico e o so- tais como o sucesso escolar, a ansiedade, a prá-
cial. tica desportiva e a competência social, entre ou-
De facto, o desenvolvimento do auto-conceito tras; (3) fomentar a construção de instrumentos
parece conduzir a uma melhor aceitação de si pró- para a sua avaliação; e (4) a emergência de pro-
prio e a realizações melhoradas, para além de per- postas e planos de intervenção para a promoção
mitir um maior aproveitamento da competência do auto-conceito em contextos clínicos, educa-
pessoal: os indivíduos que reconhecem e valori- tivos e desportivos (Harter, 1982, 1985, 1999). No
zam a sua competência têm mais probabilidades entanto, continuam a subsistir vários problemas
de a rendibilizar (Burns, 1979; Calsyn & Kenny, no domínio, pois como Marsh afirma (Marsh, Re-
1977; Man & Hrabal, 1989; Shavelson & Bolus, lich, & Smith, 1983), parece que o auto-concei-
1982; Sternberg, 1993). Na verdade, não serve de to, tal como muitos outros construtos, sofre do
muito ter competência se esta não for usada: ou seja, facto de toda a gente saber o que é.
não serve de muito pensar na competência como Assim, é de salientar que a par de definições
algo que se tem, mas sim como algo que se pode conceptuais variadas (unidimensionais vs. multi-
usar (Sternberg, 1993). Assim, as auto-avaliações dimensionais; taxonómicas vs. hierarquizadas; di-
de competência dos indivíduos parecem estar mais mensões independentes vs. correlacionadas; e es-
relacionadas com a forma como interpretam a rea- táveis ou não), coexistem instrumentos de ava-
lização, do que com a realização objectiva em si liação não equivalentes entre si e em elevado nú-
mero, com qualidades psicométricas deficientes
(Faria & Fontaine, 1990, 1995; Fontaine, 1991).
Neste contexto, como ponto de partida, parece
ser fundamental começar por definir o auto-con-
ceito: em termos gerais, podemos caracterizar o
(*) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Edu-
cação da Universidade do Porto. E-mail: lfaria@fpce. auto-conceito como sendo a percepção que o in-
up.pt divíduo tem de si próprio e, em termos especí-

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ficos, as atitudes, os sentimentos e o auto-conhe- traz consigo o não observável, o abstracto, logo,
cimento acerca das suas capacidades, competên- as auto-descrições estão mais sujeitas, na ado-
cias, aparência física e aceitabilidade social (Byrne, lescência, a distorções e a enviesamentos cogni-
1984; Faria, 2002a; Faria & Fontaine, 1990; Marsh tivos, o que pode implicar que o auto-conceito
& Hattie, 1996). do adolescente se possa tornar mais irrealista e,
Mais especificamente, e de acordo com vários até, conduzir a comportamentos desajustados (Har-
autores (Marsh & Hattie, 1996; Shavelson, Hub- ter, 1993).
ner, & Stanton, 1976), podemos afirmar que as Assim, temos adolescentes que desvalorizam
percepções acerca de si próprio e o auto-conhe- as suas capacidades, que não acreditam em si
cimento se constroem a partir da influência das próprios e que, por isso, abandonam, desistem e
experiências nos vários contextos de vida, por evitam as situações que os desafiam e que po-
exemplo, na família, na escola, no grupo de pa- dem pôr em causa o seu auto-conceito, desen-
res e no contexto desportivo, bem como das in- volvendo reacções emocionais desajustadas, an-
terpretações que os indivíduos fazem dessas ex- siedade, depressão e “abandono aprendido” (Fon-
periências e dos reforços e avaliações que os ou- taine & Faria, 1989). Ou então, temos adolescen-
tros significativos fazem dos seus comportamen- tes que devido a uma sobreavaliação das suas
tos, a par das atribuições ou explicações causais reais competências, aceitam tarefas demasiado
que os outros e o próprio elaboram para as mais exigentes, para as quais não têm competências ou
variadas condutas. preparação, conduzindo ao fracasso, ou, pelo con-
Por fim, ainda de acordo com as caracterís- trário, evitam o desafio porque este pode pôr em
ticas identificadas por Shavelson et al. (1976), a causa um auto-conceito irrealista e frágil, que ne-
aceitação de que o auto-conceito é organizado, es- cessitam de proteger a todo o custo (Harter, 1993).
truturado, multifacetado, hierárquico, estável, de- Ou seja, o desenvolvimento de um auto-con-
senvolvimental e avaliativo, permite-nos, então, ceito irrealista está relacionado com uma série de
enfatizar a relevância de investigar algumas das factores dos contextos de vida do adolescente, no-
dimensões mais importantes do auto-conceito, co- meadamente: (1) o feedback dos outros significa-
mo é o caso das dimensões académica, física e so- tivos acerca da competência pessoal, como por
cial durante a adolescência. exemplo, a opinião dos pares, a que os adolescen-
tes são particularmente sensíveis, e a dos pais;
(2) a comparação com os outros; e (3) a pressão
2. TRANSIÇÃO DA INFÂNCIA PARA A do contexto escolar ou do desportivo, que se tor-
ADOLESCÊNCIA: CARACTERÍSTICAS, nam progressivamente mais exigentes, normati-
DESENVOLVIMENTO, DIFERENCIAÇÃO E vos e competitivos.
INTEGRAÇÃO DO AUTO-CONCEITO Aliás, é de salientar que o contexto escolar e o
desportivo reforçam progressivamente o recurso
Com a entrada na adolescência, em consequên- à comparação social, ao feedback normativo e ava-
cia do desenvolvimento cognitivo e do pensamen- liativo, centrado na realização, tornando-se estes
to característico das operações formais, existem contextos cada vez mais formais e estruturados (Fon-
novas possibilidades oferecidas pela capacidade taine & Faria, 1989; Stipek, 1984). Por sua vez,
de abstracção. As auto-descrições concretas, cen- o adolescente ao incorporar nas descrições de si
tradas em aspectos comportamentais e externos, próprio a opinião dos outros, pode distorcer essas
características das crianças, são substituídas, na opiniões, sobretudo quando entram em conflito
adolescência, por auto-descrições mais abstractas com o seu auto-conceito (Harter, 1993).
e centradas em aspectos internos e psicológicos A par do desenvolvimento do auto-conceito,
dos comportamentos (Harter, 1983, 1993, 1999). entre a infância e a adolescência, também ocorre
Ora, se esta passagem do concreto e observá- a sua diferenciação, pois à medida que os sujei-
vel para o abstracto, não observável e hipotético tos crescem, abandonam as categorias indiferen-
é considerada um avanço em termos cognitivos, ciadas e gerais que utilizam para se descrever e
também pode representar, tal como todos os as- avaliar, adoptando, progressivamente, categorias
pectos do desenvolvimento, uma “faca de dois gu- diferenciadas e específicas, centradas em múlti-
mes” para o indivíduo, pois o mais desenvolvido plos domínios da sua existência, como o domínio

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académico, onde se distingue a Matemática, a Lín- si próprio, na procura do “verdadeiro eu”, pela
gua Materna e Assuntos Escolares em Geral, e o capacidade de se observar e auto-avaliar, bem co-
não académico, onde distinguimos o social, o emo- mo pela tomada de perspectiva social, que torna
cional e o físico (Faria, 2002a; Faria & Fontaine, possível perceber a posição dos outros acerca de
1990). si mesmo (Kolligian, 1990): ou seja, o adolescen-
No entanto, refira-se que a aceitação do carác- te é levado a considerar as suas experiências co-
ter multidimensional do auto-conceito não põe em mo únicas e diferentes, na procura da separação
causa o reconhecimento da possibilidade dos in- e das fronteiras entre o self e os outros, preocu-
divíduos fazerem uma avaliação global de si pró- pando-se consigo e com as suas vivências, encon-
prios, dependente da síntese pessoal das suas ex- trando assim os aspectos de si próprio susceptíveis
periências nos vários domínios da existência. Por- de evolução e desenvolvimento (Harter, 1993).
tanto, o auto-conceito global representará um sen-
timento de valor pessoal que não se resume à so-
ma objectiva das partes, exigindo a elaboração 3. DEFINIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E
de uma síntese do valor pessoal global a partir dos IMPORTÂNCIA DO AUTO-CONCEITO FÍSICO
vários domínios do auto-conceito (Faria & Fon-
taine, 1992, 1995). Um dos domínios que mais contribui para a de-
Na verdade, o adolescente desenvolve diferen- finição do auto-conceito da criança e do adoles-
tes auto-conceitos em função dos diferentes pa- cente é o domínio físico e, muito particularmen-
péis sociais que tem que assumir – entre outros, te, o da aparência física, fundamental também pa-
por exemplo, como filho, aluno, colega, namora- ra a sua auto-estima global: ou seja, o domínio
do e atleta. Assim, as várias medidas de avalia- físico tem um papel importante, desde a infância,
ção do auto-conceito abrangem múltiplas dimen- no ajustamento psicossocial do indivíduo, pois
sões, que vão aumentando à medida que avança- as crianças recebem desde muito cedo feedback
mos no ciclo de vida. Concretizando, na adoles- directo e indirecto acerca da sua atractividade
cência são importantes as dimensões académi- física, da sua condição física, do seu peso, da sua
cas, com o auto-conceito para a matemática, para altura e da forma como se vestem ou se apresen-
a língua materna e para as disciplinas artísticas, tam.
bem como a dimensão não académica social, que Deste modo, as reacções dos outros significa-
abrange a relação com pares e pais, e a dimensão tivos, bem como as comparações que a criança
não académica física, que compreende a aparên- faz entre os seus atributos e a sua competência
cia física e a competência ou habilidade físico- física e os dos seus pares contribuem para a for-
-desportiva (Marsh, 1989). mação do seu auto-conceito físico (Bracken, 1996),
Deste modo, a diferenciação do auto-conceito, o qual está relacionado com a auto-estima glo-
característica da adolescência, exige integração, bal, particularmente para as crianças no que toca
organização e estruturação, para que o adoles- à habilidade e aparência físicas, constituindo estas
cente possa construir um self uno e consistente dimensões físicas, para os adolescentes, elementos
ao longo das várias situações de vida e no desem- fundamentais na escolha e selecção dos amigos (Stein,
penho dos diferentes papéis sociais, pois apesar 1996).
dos múltiplos auto-conceitos, que por vezes o le- No contexto português, foram realizados estu-
vam a questionar-se acerca de qual será o seu ver- dos que evidenciam o contributo da dimensão fí-
dadeiro eu (Harter, 1993), o adolescente neces- sica para a melhoria do relacionamento social com
sita de fazer a respectiva integração num todo coe- os pares, bem como para o incremento da auto-
rente e organizado, internamente consistente, que -estima global em adolescentes e jovens adultos
podemos definir e designar como a tarefa de cons- (Faria & Fontaine, 1992), reflectindo, também, a
trução de uma teoria pessoal acerca do self (Eps- importância que a sociedade actual confere aos
tein, 1973). aspectos físicos, à boa forma física e ao sentir-se bem
Portanto, a procura da coerência e da integra- com o corpo, como motores de aceitação inter-
ção dos diferentes auto-conceitos é acompanha- pessoal e de construção da intimidade. Esta re-
da, durante a adolescência, pelo aumento da in- lação entre a dimensão física do auto-conceito e a
trospecção, pela testagem de hipóteses acerca de aceitação e valorização de si próprio não parece

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confinar-se à adolescência, atravessando todo o pares, estando o ideal feminino de magreza e de
ciclo de vida, desde a infância até à idade adulta. corpo pré-pubertário mais de acordo com os actuais
Ainda no contexto português, existem estudos ideais sociais e culturais de beleza feminina.
diferenciais que demonstram que na adolescên- Pelo contrário, nos rapazes a maturidade física
cia as raparigas têm menor auto-conceito físico tardia parece ser mais negativa, devido ao pior de-
do que os rapazes nos domínios da aparência fí- sempenho em termos atléticos, à menor força fí-
sica e da competência atlética (Faria & Fontaine, sica e à aparência física menos adequada ao este-
1995; Fontaine, 1991), resultados estes que são reótipo masculino de virilidade e força: nos rapa-
consistentes com outros obtidos noutros contex- zes, a maturidade física precoce está associada a
tos culturais. maior popularidade, aceitação social, prestígio e
Ou seja, as raparigas parecem valorizar mais a auto-estima positiva, o que até pode afastá-los de
dimensão de aparência física, e sentem-se mais investimentos escolares (Brooks-Gunn & Reiter,
insatisfeitas com a mesma, o que evidencia a di- 1993).
vergência ou discrepância entre a aparência per- Então, podemos afirmar que o auto-conceito fí-
cebida e o valor que a esta é atribuído (Harter, 1993), sico é influenciado por transformações relaciona-
sendo de salientar que o corpo feminino sofre mais das não apenas com o contexto social, mas tam-
mudanças, que são, simultaneamente, mais mar- bém com as alterações provocadas pela idade, pe-
cantes e explícitas, como é o caso do aparecimen- los hábitos alimentares, pelos cuidados de saúde
to da primeira menstruação ou menarca, que mar- e pela actividade física (Silva, 1998).
ca a entrada na puberdade: e estas mudanças mais De facto, o auto-conceito físico é multidimen-
visíveis do corpo feminino conduzem a maiores sional, apresentando por conseguinte várias face-
mudanças e flutuações no auto-conceito físico. tas, identificadas por vários autores: assim, para
No que se refere ao domínio da competência Williams (1983), o auto-conceito físico apresenta
atlética, este parece ser afectado por expectativas três dimensões fundamentais – o esquema corpo-
diferenciadas relativamente aos dois sexos, espe- ral, o conhecimento do corpo e a imagem corpo-
rando-se melhores desempenhos por parte do se- ral –, enquanto que Marsh e colaboradores defi-
xo masculino, que parecem confirmar-se: de facto, nem o auto-conceito físico a partir de duas di-
constata-se que existem consequências diferen- mensões – a aparência física e a aptidão/compe-
tes, em termos de aceitação no grupo de pares, po- tência física (Marsh, 1986; Marsh & Jackson, 1986;
pularidade e estima de si próprio, para rapazes e Marsh & Peart, 1988) – e Bracken (1992) sugere
raparigas com processos de maturidade física pre- que o auto-conceito físico é um construto unitá-
coces ou tardios (Craft, Pfeiffer, & Pivarnik, 2003), rio, tendo encontrado correlações elevadas (0,70)
de tal modo que os grupos de maior risco, em ter- entre a aparência física e a competência física, ava-
mos de ajustamento e aceitação social, são os de liadas pelos Self-Description Questionnaires (SDQ)
raparigas com maturidade precoce e os de rapa- de Marsh.
zes com maturidade tardia (Brooks-Gunn & Rei- Por sua vez, Fox (1990) propõe-nos um modelo
ter, 1993). hierárquico do auto-conceito físico e constrói o
Na verdade, as raparigas com maturidade pre- Physical Self-Perception Profile (PSPP), cuja es-
coce, no fim da puberdade, em média pesam mais trutura se baseia no modelo de Harter, e compre-
e medem menos, mantendo-se estas diferenças ende as seguintes dimensões: desporto ou habili-
constantes pela vida fora. Parecem, também, es- dade atlética, condição física, aparência física, for-
tar menos preparadas para enfrentar as mudanças ça percebida e auto-estima física global.
no corpo, nomeadamente no que se refere à me- O carácter multidimensional destas definições
narca, evidenciando ainda auto-imagens corpo- de auto-conceito físico implica que as mudanças
rais mais pobres, bem como maior prevalência de operadas em qualquer uma das dimensões possam
distúrbios do foro alimentar (Bacchini & Magliu- originar transformações mais globais do sistema
lo, 2003; Kansi, Wichstrøm, & Bergman, 2003). do self físico, bem como na organização das vá-
Portanto, uma auto-imagem física mais negativa rias componentes do auto-conceito físico (Silva,
está associada ao facto da aparência física e do de- 1998).
senvolvimento do corpo estarem intimamente li- Centremo-nos, então, na definição de algumas
gados à popularidade e à aceitação no grupo de das dimensões mais relevantes do auto-conceito

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físico, nomeadamente a aparência física ou ima- 4. CONTRIBUTOS DA ACTIVIDADE FÍSICA
gem corporal e a competência física, tendo pre- PARA A PROMOÇÃO DO AUTO-CONCEITO
sente que ambas as dimensões são susceptíveis FÍSICO
de evoluir ao longo do ciclo de vida, em função
de factores biológicos, psicológicos, sociais e cul- A prática regular de actividade física parece
turais, adaptando-se, organizando-se e transfor- constituir um meio privilegiado de melhorar o au-
mando-se em função da realidade percebida e ob- to-conceito em várias dimensões, muito particu-
jectiva. larmente na dimensão física, conduzindo a uma
A aparência física ou imagem corporal, que são melhoria da imagem corporal e da auto-estima
física, bem como a um maior ajustamento e adap-
similares na perspectiva de Williams (1983), re-
tação aos contextos de vida (Falsom-Meek, 1991;
presentam a imagem que o indivíduo tem de si
Marsh, 1993; Melnick & Moorkerjee, 1991; Mota
próprio e do seu corpo (Nash, 1970), na dupla ver-
& Cruz, 1998).
tente cognitiva (o conhecimento do corpo) e afec-
O carácter mediático da prática de actividade
tiva (a avaliação positiva ou negativa do corpo, física, a aceitação social e a mistura de desafio, re-
logo, a forma como é experimentado e sentido). laxamento, cooperação e construção que a mes-
Com efeito, os indivíduos mais velhos parecem ma envolve, contribuem para a melhoria do bem-
evidenciar uma maior preocupação com a auto- -estar físico e psicológico, aumentando a possi-
-imagem corporal e as suas transformações, apre- bilidade de experimentar sucessos e de aprender
sentando também um aumento da satisfação com a lidar com os fracassos, aprofundando o conhe-
o corpo à medida que a idade avança (Gray, 1977), cimento acerca de si mesmo, das suas potencia-
sendo de salientar que nas mulheres mais velhas, lidades e dos seus limites (Faria & Silva, 2000).
comparativamente às adolescentes e jovens, a maior Assim, a melhoria do auto-conceito físico, pro-
aceitação da sua imagem corporal pode revelar uma porcionada pela prática de actividade física, po-
menor influência de estereótipos e modas sociais de contribuir para a mudança pessoal em dimen-
e culturais acerca do corpo (Van-Gyn, Raddysh, & sões físicas e sociais, bem como na auto-estima
Bell, 1989). global, para além de promover explicações mais
A dimensão de competência física, também adaptativas para os fracassos (a factores externos)
designada de habilidade físico-atlética, refere-se e para os sucessos (a factores internos) nos do-
à percepção que o indivíduo tem das suas capaci- mínios físicos (Marsh & Jackson, 1986), facilitan-
dades físicas e atléticas (Shavelson et al., 1976), do a concretização de objectivos e a persistência
ou então a um conjunto de percepções e avalia- nestes domínios.
ções acerca da capacidade para realizar tarefas mo- Várias investigações, que relacionam a prática
toras (Pierce, Evans, DeGrenier, & Andres, 1991). de exercício físico com o auto-conceito, demons-
Nesta dimensão, a percepção e avaliação de si pró- tram que os praticantes habituais evidenciam ní-
veis mais elevados de auto-conceito físico, quan-
prio formam-se através da prática de actividades
do comparados com os praticantes iniciantes e os
motoras em situações de interacção social, permi-
não praticantes.
tindo ao sujeito perceber a sua competência e com-
Neste sentido, um estudo por nós conduzido,
pará-la com a dos outros.
com o objectivo de comparar os níveis de auto-
Portanto, e em síntese, podemos afirmar que conceito físico, nas dimensões de competência
quanto mais profundo for o conhecimento do su- desportiva, aparência física e auto-imagem cor-
jeito acerca da sua competência e aparência físi- poral, em mulheres jovens, com idade superior a
cas, mais fácil se torna a auto-avaliação das suas 17 anos, em função do tempo de prática (nula, mé-
potencialidades e limites, logo, mais fácil se torna dia e intensa) de exercício físico, mais especifi-
a mudança e o reconhecimento do valor pessoal camente de ginástica de academia, evidenciou per-
neste domínio: assim sendo, a prática de activi- cepções de competência desportiva, aparência fí-
dade física pode alterar o auto-conceito físico num sica e auto-imagem corporal mais elevadas nas
sentido positivo, influenciando, neste domínio, a praticantes intensivas (há mais de 4 anos) do que
motivação, a persistência e a concretização de objec- nas iniciantes e não praticantes. Ou seja, o aumen-
tivos pelos sujeitos. to de tempo na prática de exercício físico parece

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proporcionar melhoria da competência física per- -conceitos possíveis (Harter, 1983; Markus, Cross,
cebida e um conhecimento mais aprofundado das & Wurf, 1990).
respectivas capacidades e limites, a par de padrões Epstein (1973) afirma que o auto-conceito é uma
de vida mais saudáveis e maior satisfação com a teoria do self, que cada um constrói a respeito de
imagem corporal, cuja análise se torna mais flexí- si próprio, a partir da sua experiência global mais
vel e adequada (Faria & Silva, 2000; Silva, 1998). significativa, como organizador do seu funciona-
Por sua vez, um outro estudo, longitudinal, tam- mento pessoal. Estas teorias que construímos acer-
bém por nós conduzido, com uma amostra de 60 ca do mundo, do self e da interacção entre ambos
mulheres jovens, praticantes iniciantes (até ano e compreendem duas funções fundamentais: a de ma-
meio) de ginástica de academia, das quais 30 fo- nutenção da auto-estima e a de organização dos da-
ram avaliadas pela segunda vez, após um perío- dos da experiência de forma a melhor lidar com
do de tempo de 5 meses, durante o qual pratica- eles (Harter, 1983).
ram ginástica de forma regular (três vezes por se- Dweck e Leggett (1988) apresentam-nos duas
mana, durante 50 minutos), evidenciou evolu- concepções contrastantes acerca da natureza da
ções positivas em todas as dimensões do auto-con- inteligência, que podemos transpor para o domí-
ceito, nomeadamente na dimensão física (Faria & nio da competência física. Ou seja, as concep-
Silva, 2001). ções estáticas vs. dinâmicas da inteligência podem
Deste modo, quer os nossos resultados, quer ser transferidas para o domínio da competência,
os de outros estudos em contextos culturais dife- conceptualizada em dois sistemas qualitativamen-
rentes, permitem-nos afirmar que a prática regu- te diferentes do self, cada um com as suas regras,
lar de exercício físico contribui para o desenvol- a sua lógica e a sua coerência internas: a concep-
vimento do auto-conceito físico, abrindo perspec- ção estática de competência propõe-nos o self co-
tivas frutuosas de intervenção neste domínio (Fa- mo um conjunto de traços estáticos, susceptíveis
ria & Silva, 2000, 2001). de serem avaliados, enquanto que a concepção
dinâmica de competência, nos propõe o self co-
mo um sistema dinâmico que pode ser desenvol-
5. TEORIAS PESSOAIS ACERCA DO vido.
SELF FÍSICO Deste modo, a obtenção de níveis elevados de
auto-conceito no “sistema estático” dependerá da
Na perspectiva de Markus, Cross e Wurf (1990), avaliação favorável de traços, como por exemplo
são os esquemas do self ou generalizações cogni- a habilidade e aparência físicas. Pelo contrário,
tivas derivadas da experiência passada que orga- no “sistema dinâmico”, a obtenção de níveis ele-
nizam e guiam o processo de informação acerca vados de auto-conceito dependerá da prossecu-
de si mesmo, de tal modo que a mudança e o de- ção de acções que promovam o desenvolvimento
senvolvimento pessoais são mais prováveis para de atributos valorizados, nomeadamente a habi-
os indivíduos que possuem teorias desenvolvimen- lidade e a competência físicas.
tais e dinâmicas do self. Os indivíduos que vêem a sua habilidade físi-
Assim, os indivíduos com “esquemas fortes” e ca ou desportiva como algo que pode ser desen-
bem articulados para uma dimensão particular, volvido têm maior probabilidade de investir e per-
como por exemplo a física, poderão mais facilmen- sistir, mesmo perante dificuldades e fracassos, na
te processar informações acerca do seu self físico, melhoria dos seus desempenhos no domínio fí-
prever o seu comportamento no domínio e ava- sico, apresentando padrões de comportamento ori-
liar a relevância de novas informações para o seu entados para a mestria, pois em vez de conside-
desenvolvimento futuro, em vez de ficarem “apri- rarem as suas deficiências neste domínio de for-
sionados” no presente ou no passado. Os indiví- ma negativa e com ansiedade, encaram-nas, essen-
duos “sem esquemas”, sem definição ou articula- cialmente, como oportunidades para o desenvol-
ção de domínios do auto-conceito, têm concep- vimento pessoal e para o auto-conhecimento, in-
ções mais estáticas acerca das possibilidades de vestindo no treino e no aperfeiçoamento (Hender-
evolução do seu auto-conceito, limitando-se a cen- son & Dweck, 1993).
trar-se naquilo que são (presente) ou no que foram Por sua vez, e ao invés, os sujeitos que vêem a
(passado), falhando no desenvolvimento de auto- sua habilidade física ou desportiva como um atri-

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buto estático e imutável, apresentam com maior 6. CONCLUSÃO: PROMOÇÃO DO AUTO-CON-
probabilidade comportamentos de desistência, aban- CEITO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
dono da actividade e ansiedade, ou seja, padrões
de comportamento debilitantes, considerando as Sabemos que a importância do auto-conceito
suas deficiências e fracassos como elementos a está relacionada com a sua capacidade preditiva
evitar a todo o custo, pelo que são levados a aban- dos mais variados comportamentos, em diferentes
donar as tarefas ou actividades que podem pôr em contextos de vida, entre eles o escolar e o des-
causa o seu sentimento de competência física, arris- portivo, portanto, o conceito que o indivíduo tem
cando menos, escolhendo tarefas muito fáceis ou de si próprio, no domínio físico, não deixa de afec-
muito difíceis, que fornecem menos informações tar diversos níveis de desempenho, nomeadamen-
acerca do indivíduo, para assim protegerem a sua te o seu desempenho escolar (Reuchlin, 1991).
auto-estima (Henderson & Dweck, 1993). Ora, as crianças e os adolescentes que subes-
Nesta perspectiva, podemos, então, afirmar que timam as suas capacidades têm expectativas ne-
os indivíduos com concepções estáticas, no do- gativas acerca da sua realização futura, evitam a
mínio dos atributos físicos, produzem com maior acção, pensam que os outros esperam menos de-
probabilidade juízos mais globais, juízos estes les e percebem os seus esforços e os seus investi-
que são elaborados com base em informações li- mentos como menos regulares e eficazes, sobre-
mitadas, geralmente negativas, que têm tendên- avaliando o grau de exigência das tarefas de rea-
cia a generalizar para outras situações e para ou- lização e sentindo de forma mais negativa a pres-
tros domínios, sustentando previsões negativas quan- são e as exigências dos vários contextos, bem co-
to a resultados e aos seus comportamentos futu- mo as pressões dos outros significativos (pais, pro-
ros. Mais ainda, este fenómeno parece observar- fessores, treinadores e, particularmente, dos pa-
-se tanto na auto-avaliação como na avaliação res).
dos outros (Dweck, Hong, & Chiu, 1993; Faria, De facto, a desvalorização de si próprio con-
1998). duz a um subaproveitamento das potencialidades
Ao contrário destes, os sujeitos com concep- individuais e, frequentemente, a menores expec-
ções dinâmicas, também no domínio dos atribu- tativas por parte dos outros em relação ao indiví-
tos físicos, fazem análises a um nível mais espe- duo, o que conduz à atribuição de objectivos me-
cífico, integrando os resultados e os comporta- nos desafiantes (Reuchlin, 1991).
mentos isolados, que enquadram num contexto O desenvolvimento e a diferenciação do auto-
mais alargado, isto é, considerando os factores -conceito, na transição da infância para a adoles-
situacionais e temporais, de tal modo que os fra- cência, acarreta desafios que é importante sus-
cassos são interpretados como multidetermina- tentar e resolver, pois a promoção do auto-con-
dos, logo, existirão várias soluções para os supe- ceito passa pelo desenvolvimento de processos
rar (esforço, mudança de estratégias) e haverá uma de aquisição de autonomia por parte do indiví-
menor preocupação em produzir juízos avaliati- duo: então, a “pedagogia da adulação ou lison-
vos acerca de si ou dos outros (Dweck, Hong, & ja”, que compreende a apresentação de tarefas fá-
Chiu, 1993; Faria, 1998). ceis, de encorajamentos e felicitações abundan-
As potencialidades de aplicação deste modelo tes, reforços positivos e silêncio perante os erros,
ao contexto físico e desportivo, bem como ao do- deve ser substituída pela “pedagogia da conquis-
mínio do auto-conceito físico em particular, es- ta da autonomia” (Reuchlin, 1991).
tão ainda a dar os primeiros passos, exigindo maior Na verdade, a “pedagogia da conquista da au-
investimento e investigação. No entanto, pode- tonomia” encara o auto-conceito, ou qualquer ou-
mos afirmar que nos parece fundamental promo- tro atributo psicológico, não como uma entidade
ver teorias ou concepções dinâmicas acerca dos mas sim como um processo, processo este que se
atributos físicos, promotoras do auto-conceito fí- desenrola em torno de desafios e em que tanto é
sico e potenciadoras de análises mais construti- possível beneficiar com o erro como com o êxito,
vas da realização, do esforço e do investimento, ambos promotores da capacidade dos indivíduos
no sentido de facilitar a emergência de padrões de para serem não apenas actores ou, até, sujeitos
comportamento orientados para a mestria. passivos nos vários contextos de vida, mas para

367
se transformarem, sobretudo, em autores e agen- contextos de vida (família, escola e sociedade) e
tes activos nos múltiplos contextos do seu existir. estes nem sempre nos fazem sentir bem. Por ve-
Ou seja, a aceitação do auto-conceito como um zes, a sua mudança em nosso proveito é difícil,
processo torna possível delinear estratégias faci- quando não é praticamente impossível: nestas situa-
litadoras da sua promoção, estratégias essas que ções, o afastamento pode ser proveitoso para o
devemos discutir e realçar como alicerces de fu-
nosso bem-estar, isto é, vale a pena recusar a to-
turas investigações e intervenções no domínio da
lerância ou a aceitação de ambientes e situações
promoção do auto-conceito.
Então, podemos postular que o treino de com- que nos façam sentir incapazes e inadequados.
petências nos vários domínios do desempenho, No entanto, saliente-se que o treino de estra-
como o cognitivo, o social e o físico, fomentará tégias de coping gera novas alternativas emocio-
os sentimentos de auto-eficácia e a melhoria do nais, cognitivas e comportamentais, permitindo
auto-conceito, pois o sentimento de competência lidar, de forma mais adequada e flexível, com as
pessoal não se constrói no vazio, mas sim nos pressões dos vários contextos, logo, prevenindo
mais variados contextos de vida com a aquisição as ameaças à auto-estima (Faria, 2002a).
de competências e de comportamentos adequa- Nas várias tarefas desenvolvidas em contextos
dos. de realização, valorizar o processo, em vez de ape-
Ora, se a utilização de modelos pode favore- nas o resultado, aumenta a satisfação consigo pró-
cer o treino de competências físicas e sociais, o
prio e com o seu desempenho, permitindo a valo-
treino de auto-observação e de supervisão das rea-
rização do esforço e da persistência, e enfatizando
lizações pessoais facilita o reconhecimento dos
pontos fortes e fracos do desempenho individual, o papel do erro como informação útil para o desen-
permitindo pôr em destaque os pontos fortes e com- volvimento da competência, em vez de ameaça à
pensar os pontos fracos. auto-estima (Faria, 2002b; Faria, 2003).
Assim, no que se refere às crianças, o processo A promoção de análises diversificadas das si-
de aquisição de competências pode ser feito atra- tuações de realização, fazendo apelo a explica-
vés de instruções directas e supervisão, com o ções multideterminadas para os sucessos e para
objectivo de identificar as estratégias e os com- os fracassos, pode facilitar os sentimentos de au-
portamentos inadequados, a corrigir, acompanha- to-controlo e de auto-eficácia, permitindo ao in-
das do reforço das estratégias e dos comportamen- divíduo perceber-se como autor e agente do pro-
tos adequados, numa perspectiva de aproxima-
cesso de construção da aprendizagem, em vez de
ção sucessiva aos objectivos, constituindo-se ca-
mero espectador, fruto das circunstâncias: quanto
da etapa ultrapassada num sucesso a caminho do
sucesso. maior for o envolvimento dos sujeitos nos pro-
Deste modo, o estabelecimento de objectivos cessos de aprendizagem que ocorrem em qualquer
para a realização é fundamental, pois os objecti- contexto, maior será a probabilidade de retirarem
vos a longo prazo devem ser subdivididos em pe- reforço positivo da sua realização, maior será a sua
quenas etapas e em tarefas específicas, de tal mo- capacidade de auto-análise e de análise do pro-
do que permitam a supervisão do processo e o con- cesso de aprendizagem e maior será o seu senti-
trolo pessoal, e aumentem, também, a probabili- mento de competência pessoal e de autonomia (Fa-
dade de atingir o sucesso e de reforçar o compor- ria, 2002b; Faria, 2003).
tamento perante cada etapa cumprida. Neste quadro global da íntima relação entre a
Por sua vez, a mudança de crenças irracionais percepção de si mesmo e o comportamento de cri-
e de expectativas irrealistas é essencial para pro-
anças e adolescentes, que é o quadro do seu agir
mover padrões razoáveis de auto-aceitação: mu-
e realizar, a prática de actividade física, ao con-
dar percepções e mudar crenças implica valori-
zar e salientar o que as pessoas têm de positivo, tribuir para a promoção do auto-conceito físico,
em vez de enfatizar apenas o que é negativo (Bra- constitui-se como factor fundamental da promo-
cken, 1996). ção do auto-conceito nas suas múltiplas dimen-
As expectativas irrealistas e os padrões inade- sões, logo, na melhoria do seu bem-estar físico, psi-
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368
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370
blema da definição e da delimitação conceptual do au- relevance and predictive power of individuals’ global
to-conceito; (2) os aspectos desenvolvimentais do auto- psychological well-being. Therefore, in this article, with
-conceito na transição da infância para a adolescência; the aim of contributing to a major clarification of the re-
(3) a definição e o desenvolvimento do auto-conceito search and of the intervention in the physical self-con-
físico; (4) os contributos da actividade física para a sua cept domain, the following topics are analyzed and dis-
promoção; (5) a construção de teorias pessoais acerca cussed: (1) the problem of self-concept’s definition and
do self físico; e, por fim, (6) são apresentadas propos- conceptual delimitation; (2) the self-concept develop-
tas de intervenção para a promoção do auto-conceito mental aspects during the transition from childhood to
em crianças e adolescentes, centradas na construção pro- adolescence; (3) the definition and development of phy-
gressiva da autonomia dos indivíduos, logo, do seu bem- sical self-concept; (4) the contributions of physical acti-
-estar físico, psicológico e social. vity to the promotion of self-concept; (5) the construc-
Palavras-chave: Auto-conceito físico, teorias pes- tion of personal theories about the physical self; and,
soais, infância, adolescência. finally, (6) the main guidelines for intervention in or-
der to promote children and adolescents self-concept,
centered on the progressive construction of individuals’
ABSTRACT autonomy, consequently on their physical, psychologi-
cal and social well-being.
The increasing number of studies on self-concept in Key words: physical self-concept, personal theories,
several contexts such as the sport one is related to its childhood, adolescence.

371

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