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Folha 14/09/2013
Cultura dos inmeros recursos banaliza o mal de no decidir
JOAQUIM FALCO
Ningum defende condenar um inocente. Mas tantos recursos so indispensveis defesa de rus j
defendidos? Ser a justia prorrogada destino inevitvel? Qual o limite? O que significa esta proliferao
de recursos de nosso direito processual que todos condenam? Por que esta obsesso recursal?
Condenar ou absolver muito difcil. Exige coragem e juzo de valor. Recurso em cima de recurso, acima
de um limite razovel, pode apenas adiar a coragem.
Coloca o magistrado imerso numa mquina burocrtica processual com a falsa aparncia de normas
tcnicas, e que pensa por ele. Que o substitui. Onde ele no exerce sua responsabilidade maior. Tritura e
adia sua vontade e convico. Adia sua humanidade, enfim. Esconde os juzos morais que, no fim das
contas, fundamentam a Justia.
Na democracia, convencionamos que cabe ao Judicirio concretizar estes juzos morais --a Justia um
deles--, estabelecendo a verdade social. Houve ou no pagamentos? Houve ou no corrupo? Houve ou
no quadrilha?
Recursos infindveis so um mal. O direito processual nasceu para viabilizar a coragem de decidir.
Aceitar a cultura do recurso sobre recurso banaliza o mal de no decidir. Torna-o natural e inevitvel. Que
os advogados levem esta cultura ao extremo, at se compreende. Mas que os magistrados estejam dela
prisioneiros, no.
Recorrer de um juiz de primeira instncia, ou tribunal, at se compreende, mas recorrer do plenrio do
Supremo? O que faltaria mais?
Se houve um bom momento deste julgamento aquele em que a opinio pblica, as pessoas aprenderam a
distinguir em at que ponto o direito de defesa dos rus foi respeitado. Nestes sete anos, em mais de 60
sesses em mais de 50 mil pginas. No processo onde a defesa no nega os fatos. As pessoas puderam
perceber tambm que excesso de recurso a banalizao do mal judicial. a ausncia da coragem da
Justia.
JOAQUIM FALCO professor de direito constitucional da FGV Direito Rio

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/128816-cultura-dos-inumeros-recursos-banaliza-o-mal-de-naodecidir.shtml

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