Opiniao
Tomar “medidas”
Vasco Pulido Valente
pain pie
maravilhas”, que s6
existe na cabeca dele.
Nao passa de um
burocrata, ou de um
nocrata, sem destino, nem
visio. E cinzento, baco, previsivel,
mediocre. Falo, evidentemente, de
Sécrates, mais precisamente, do
que dizem dele os “comentadores” |
de toda a parte e de toda a espécie.
Mas, sem discordar no essencial,
acho que nenhum deles conseguit
ainda perceber bem como.o homem
funciona. Ora, a tiltima entrevista
foi um opti
como ele vé o mundo ese vé asi
mesmo. Basta pensar no que ele
disse, e principalmente no que n3o
disse, sobre educagao, um assunto
sobre que sempre se interessou
e uma “Area” de governo em que
se orgulha de ter feito grandes
reformas. Nada melhor do que 0
seguir de cada argumento a cada
conclusdo para chegar ao retrato do
verdadeiro Socrates.
Para comecar, lembrou logo
que sem ele nao haveria aulas de
substitui¢do, como na “Europa”
inteira. Sobre a importancia, a
utilidade e o efeito da coisa, nem
uma palavra. Manifestamente,
achava a medida “certa” ou, se
quiserem, “correcta” e 0 resto nao
Ihe interessava. A seguir, veio 0
encerramento de escolas rurais
quase sem alunos, outra medida
“certa” e “correctissima”. Mas
nem uma palavra sobre a espécie
de escolas para onde as criangas
Sem sair do seu mundo
Pb, Dennings :
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abstracto e asséptico, Socrates |
convence, até porque esta
inceramente convencido
206K
foram transferidas (professores,
equipamento, instalag6es,
dinheiro). Em terceiro lugar,
com uma citago de Clinton a
favor da “lideranga”, apareceu
inevitavelmente a gestao escolar.
$6 que Sécrates nao se lembrou
de explicar 0 objectivo dessa
“lideranca” (0 auténtico problema,
‘como se calculara) e nem sequer
tocou no risco e nos limites da
experiéncia (alias, legalmente
diluida) num pais como Portugal.
Para ele, a historia acaba na
‘medida. Como na medida acaba
a introducio do Inglés (de resto,
uma disciplina nao obrigatoria),
sem qualquer reveréncia a quem,
e como o ira ensinar. E, por fim, 0
argumento para aavaliagao
dos professores ficou
reveladoramente reduzido &
bondade intrinseca da medida pela
24 U2 louobi de:
medida: é melhor uma avaliacao ma
do que nenhuma.
entado em Sao Bento,
Sécrates nao vé o pais,
vé a organizagao juridica
da “educagao” (ou da
satide, ou da justi¢a) e um
molho de estatisticas. Depois toma
medidas, que julga aplicadamente
pelo seu “bom senso” e pela sua
racionalidade imediata, ou seja,
superficial. Para ele, governar €
“tomar medidas”. Imagina com
certeza que, “tomando medidas”,
reforma Portugal. A realidade nio
entra nesta hist6ria. Sem sair do
seu mundo abstracto e asséptico,
na televisdo ou no Parlamento,
Sécrates convence, até porque esti
sinceramente convencido. Mas ca
fora, embora incomodado aqui e
ali pela autoridade do Governo,
Portugal continua igual ao que era