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Revolucionar
toda a vida!!
Abaixo a
sociedade de
classes!
Sim. Ou
lutamos pela
autogestão
ou lutamos
por nada!
REVISTA ENFRENTAMENTO
Índice Expediente
P
Á
A Revista Enfrentamento é uma publicação do
G Movimento Autogestionário. A revista não se
I responsabiliza pelo conteúdo dos artigos
N assinados, que são de inteira responsabilidade
A
dos seus autores. Os interessados em enviar
colaborações devem fazê-lo via e-mail e
Mais um Revista
03 Enfrentamento Enfrentamento
seguindo as normas de publicação da revista.
O e-mail para envio é:
revistaenfrentamento@yahoo.com.br e as
normas são: texto digitados em Word for
Autogestão: Lucas Maia dos Windows, com no máximo 10 páginas, espaço
04 Desejo e Santos 1,5, margens padrão do Word, fonte Time New
Possibilidade Roman, 12. A revista se preserva o direito de
publicar os artigos de acordo com seus
critérios políticos e de qualidade. Qualquer
O Que é caso omisso será resolvido por seu conselho
07 Autogestão? Nildo Viana editorial.
Conselho Editorial:
Os Conselhos
Lucas Maia dos Santos
14 Operários Anton
Nildo Viana
Veralúcia Pinheiro
Pannekoek
Revista Enfrentamento, ano 01, no 02. jan./jul. de 2007.
http://revistaenfrentamento.ubbihp.com.br
A Revolução revistaenfrentamento@yahoo.com.br
17 Húngara de 1956
Thomas Feixa
O Estado
19 Moderno e a
Propriedade Leila Silva
Privada Moura
MAIS UM ENFRENTAMENTO
Revista Enfrentamento
Este é mais um social é uma tendência no interior da sociedade
número da Revista capitalista, e vai ficando cada vez mais forte, pois
Enfrentamento. Hoje, a as condições para sua realização vão
situação do capitalismo aumentando. O mundo de riquezas produzido
marca uma época de hoje é suficiente para garantir a todos os seres
intensificação do humanos um bem estar geral. Isto, somando-se ao
processo de exploração fato de os desperdícios e parasitismo serão
e de aprofundamento o abolidos, então há tudo para vivermos numa
caráter sociedade igualitária e libertária num mundo de
concentracionário da abundância. Os gastos enormes com indústria
sociedade moderna. bélica, consumo supérfluo e inútil, grandes obras
Uma situação marcada sem utilidade real a não ser a ostentação de uma
pelo aumento da burguesia coisificada, seria abandonados e as
exploração e da energias desperdiçadas neste processo passariam
dominação, já que um a servir as necessidades humanas autênticas.
solicita o outro. A revolução é uma possibilidade imediata?
Assim, a autogestão social está na Sim, há esta possibilidade. A autogestão pode ser
ordem do dia. Para muitos, esta afirmação seria um processo que se desencadeará amanhã, daqui
precipitada, já que não se vislumbra nenhuma um ano, dez anos, 50 anos, ou um tempo mais
revolução proletária no mundo, a não ser nas longo. O que irá definir isso são as lutas de classes.
experiências bastante limitadas em alguns Assim, o processo histórico é marcado por
países da América Latina. inúmeras forças, tais como grandes empresas,
Sem dúvida, isto é verdadeiro. Porém, meios de comunicação, partidos, sindicatos,
mais verdadeiro ainda é a afirmação de associações, grupos informais, grupos políticos,
Bourdieu, segundo a qual pesquisa de opinião ideologias, teorias, idéias, indivíduos, que estão
pública não avisa a vinda de uma revolução. como num jogo complexo no qual existem
Também é verdadeiro que todas as grandes milhares de jogadores, alguns com maior poder,
revoluções proletárias não foram previstas. A outros com maior quantidade, e milhões de
Comuna de Paris, A Revolução Russa de 1905, jogadores indecisos. No jogo da luta de classes,
A Revolução Russa de 1917, A Revolução alguns jogadores, os dominantes, manipulam,
Alemã de 1919, entre diversas outras cooptam, dominam, exploram. Outros auxiliam
experiências, inclusive as mais recentes revoltas neste processo, se vendendo e se destruindo seja
e rebeliões, além de tentativas de revolução, tal por migalhas ou por uma fatia considerável do bolo
como no Maio de 1968 na França, As Lutas do mais-valor global. Alguns resistem e lutam
Operárias na Polônia em 1980; A Rebelião heroicamente contra tudo isto e a maioria sofre o
Argentina de 2002, A Comuna de Oaxaca no drama da indecisão e da falta de iniciativa. Assim,
México ano passado. Nenhum destes eventos, todos estão envolvidos e neste intrincado jogo,
mais radicais ou menos radicais, foi previsto. A todo indivíduo, idéia, ação, reflexão, apontam para
previsão da revolução é obstaculizada não só uma ou outra tendência. Desta forma, qualquer
pela aparente calmaria que esconde a iniciativa a favor da autogestão social é um passo
insatisfação e o potencial revolucionário que para sua concretização, aumentando a tendência de
olhos empiricistas jamais podem enxergar, sua realização. A Revista Enfrentamento faz parte
como também por seu rebento surpreendente e deste jogo e o seu lado é bem claro. Da mesma
extraordinário que deixam as pessoas de forma, os textos aqui presentes expressam esta
consciência coisificada totalmente atônitas, sem opção pela Revolução Autogestionária. Este é mais
chão mental onde pisar. um enfrentamento, mais um deslocamento no
Assim, a possibilidade de uma espaço para que a ventania autogestionária possa
revolução autogestionária está dada. Porém, se varrer o mundo da miséria (sob todas as suas
tal possibilidade é tendencial e se é imediata, formas), da exploração e dominação, instaurando
isto é outra questão. Sem dúvida, a autogestão um mundo verdadeiramente humano.
Dirigidos por nossos pastores, encontramo‐ fins leva a uma pré-determinação no que se
nos apenas uma vez em companhia da liberdade: no refere aos meios.
dia do seu enterro. C) Controle Operário: Segundo Guillerm
Karl Marx e Bourdet, o controle operário significa um
passo adiante em relação à co-gestão, mas ainda
não é autogestão, pois o controle operário surge
A autogestão, para uns, é um “método de
como produto de uma intervenção conflitual que
gestão de empresas” e, para outros, é uma
arranca concessões para os trabalhadores,
“forma política” que assume o comunismo, ou
embora se limite a exercer-se sob pontos
seja, a “democracia direta”. A primeira
específicos que não questionam o salariato. Para
concepção deixa entrever a possibilidade de
Brinton, a proposta de “controle operário”
existir autogestão no interior da sociedade
apresentada por diversos grupos políticos
capitalista e a segunda apresenta a idéia de que é
(principalmente leninistas e trotskistas) expressa
possível haver comunismo sem autogestão, já
a vontade de apresentarem-se como mais
que esta é reduzida a uma mera “forma política”
democráticos e fazem isto buscando nos iludir
e, sendo assim, não é a essência do comunismo e
com a afirmação de que o leninismo sempre
por isto este poderia utilizar outras “formas
defendeu tal proposta. Para ele, o controle
políticas”. Entretanto, tal como pretendemos
operário, ao contrário da autogestão, não
demonstrar no decorrer deste trabalho, estas
significa que a classe operária irá gerir a
concepções são equivocadas, pois não
produção e sim que ela irá “supervisionar”,
conseguem expressar o verdadeiro sentido da
“inspecionar” ou verificar as decisões tomadas
autogestão.
por “instâncias exteriores” ao processo
Antes de mais nada, tal como fizeram A.
produtivo, tal como o estado ou o partido.
Guillerm e Y. Bourdet, é útil distinguir o
D) Cooperativa: Segundo Guillerm e
conceito de autogestão de outras palavras que
Bourdet, “esquematicamente, pode-se, com
muitos pensam ter o mesmo significado.
efeito, convir que (...), as cooperativas têm
Autogestão não possui o mesmo significado que
‘vegetado’ sempre sob formas locais, a tal ponto
“participação”, “co-gestão”, “controle operário”
que esta limitação se tornou seu sinal distintivo.
ou “cooperativismo”. Vejamos o significado
Por isso, para designar a generalização dos
destas palavras:
sistemas de cooperativas, far-se-á mister uma
A) Participação: Participação não
palavra nova. O termo autogestão deve assumir
significa autogestão, pois ela significa participar
o papel” Guillerm e Bourdet (1976, p. 19-20).
de algo já existente, ou seja, de uma atividade
Acontece que, no interior da sociedade
que possui estrutura e finalidade próprias.
capitalista, as cooperativas não determinam seus
Segundo Guillerm e Bourdet, o participante é
fins, pois o mercado e o estado sempre
como um flautista numa orquestra: participa se
interferem nas finalidades de uma cooperativa e
misturando individualmente a um grupo que lhe
não só nos fins como, em menor grau, também
é preexistente.
nos meios.
B) Co-Gestão: A co-gestão é uma
Em síntese, a participação, o controle
tentativa de integrar a criatividade e a iniciativa
operário, a co-gestão e as cooperativas podem
operária no processo produtivo capitalista (com
existir no interior do modo de produção
o objetivo de aumentar a produtividade e,
capitalista e são assimiláveis por ele. O
conseqüentemente, a extração de mais-valor
capitalismo envolve todas estas manifestações e
relativo - ou mais-valia relativa) e que permite a
as colocam sob sua direção, direta ou
participação dos trabalhadores apenas no
indiretamente. Não existem nem podem existir
processo de produção, nos meios e não nos fins.
“ilhas de autogestão” cercadas pelo mar do
Mas mesmo essa co-gestão nos meios é
capitalismo. A autogestão só pode existir em
limitada, pois a definição por outros sobre os
locais isolados por um curto período de tempo e
BIBLIOGRAFIA