Autoridade
democratica
Daniel Sampaio
recente remodelago ministerial
fez-me pensar na questio dos resultados objectivos das.
politicas do Governo e nos inevitaveis constrangimentos 8
sua acco,
‘Sera dificil voltara encontrar condigaes tao propicias
Apartida como no caso do PS: maioria absoluta,
“cooperagdo estratégica” proposta pelo Presidente da
Repiiblica, expectativa positiva pelo estilo “determinado”
do primeiro-ministro. EntZo por que razaoa descrenga
voltouaos portugueses e um ministrocorajoso como
Correia de Campos nao teve éxito?
‘Ao contrario de muitos, nfo acho que orelativo
Insucesso do Governo se deva i forma de comunicar as
‘medidas. Sei que abunda a tese da excessiva preocupagao
coma “transmissi0”, que seria pouco “genuina”, “de
plistico”, mais centrada na forma do que no contetido.
Infelizmente, penso que a questdo é mais complexa.
Estd cada vez mais presente no inconsciente das
pessoas uma ideta terrivel: quem governa no centra
‘asua acgo na resolucao dos problemas sociais que
afectam 0 quotidiano dos cidados, antes busca um
equilorio dificil em satisfazer “lobbies” diversos e
garantira sua sobrevivéncia politica (edo partidoa que
pertence)
Esta crenga, injusta para muitos politics, corr6i
‘ademocracia e aumentaa distancia entre o “poder”
‘eo homem comum, que cada vez mais se refere aos
dlirigentes como termo “eles”. As causas sio complexas:
‘democracia ainda recente, pouica participasio dos
‘idadaos na gestdo da sua vida (ami, escola,
‘comunidade), sucessivas suspeitas de corrupgo ou
de falta de ética em muitos epis6dios recentes. Ea
autoridade democrética, que deveria decorrer com
naturalidade do voto nas eleigdes, vai perdendo sentido:
seaideia prevalente ¢ de que quem fala no nos ouve na
realidade nem quer saber de n6s, entio como acreditar
nas medidas propostas?
E que aautoridade democrtica de um governo nao
se pode definira partir de uma qualidade ou defeito de
‘quem precisa dea exercer, masimp0e recorrer a uma
relagdo: requer um elo de reciprocidade entre o detentor
dessa autoridade e aquele a quem se dirige, uma partilha
cde qualquer modo. A autoridade ¢ sempre, em derradeira
analise, uma questo cultural: é preciso que quem
‘manda” e quem 6 suposto “obedecer” reconhegam.
{82 +10 Fevereiro 2008 + Pablica
‘essa hierarquia como legtima eo demonstrem no
‘quotiiano. Ao Governo exigeseacso eficaz, mas ndos,
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