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REFERÊNCIA: FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying escolar: perguntas &
respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008. ISBN 978-85-363-1366-5
Cleo Fante: Pedagoga e historiadora. É pioneira nos estudos e nas publicações sobre o tema bullying
escolar no Brasil. Autora do programa antibullying Educar para a paz. Vice-presidente do Centro
Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar - Cemeobes, Brasília/DF.
Consultora educacional, docente e coordenadora de cursos de capacitação e pós-graduação em
bullying escolar.
José Augusto Pedra: Teólogo e psicólogo clínico. Especialista em inteligência multifocal aplicada à
reestruturação da educação. Autor de diversos cursos, dentre eles: A saúde emocional do educador e
o gerenciamento do estresse; Otimização de performance de atletas; Preparação de candidatos a
concursos; A pedagogia da roda dos sonhos. Presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e
Orientação sobre o Bullying Escolar - Cemeobes, Brasília/DF. Docente em cursos de pós-graduação
e de capacitação.
APRESENTAÇÃO
(Página 13)
direção e riam, apontando para o tamanho dos seus pés, dentes, orelhas. Com o
tucano também foi assim, só que este tornou-se agressivo, por causa das piadinhas
que faziam com o seu bico, e durante o recreio procurava os galhos mais altos e
afastados para sozinho comer o seu lanche.
Já o urubu andava chateado, porque era sempre constrangido devido à sua
alimentação. O gambá decidiu abandonar a escola porque implicavam com o seu
cheiro. A onça, cansada de receber apelidos por causa das suas pintas, resolveu
implicar com o tamanho da boca do jacaré. O jacaré, por sua vez, acabou
descontando no sapo, que adoeceu de tanto medo. (Página 24)
Estranho foi o que fez a pacífica ovelha: proibia a pata de lanchar com a
turma. A pata, não entendendo os motivos, chorava pelos cantos da escola,
acreditando que ninguém gostava dela. Aos poucos, sua auto-estima foi baixando,
até que perdeu a confiança em si mesma, tornando-se insegura, aflita e temerosa.
Até a pacata zebra mudou seu comportamento, depois de muito sofrer “zoações” por
causa das suas listras, e passou a dar coices nos colegas. O tatu provocava
inúmeras situações embaraçosas e, como não conseguia se defender, se escondia
no buraco, mas, quando saía, levava cada safanão... A coruja sofreu tanta “zoação”
por causa dos seus olhos grandes que já não queria mais sair de casa. Em conversa
com sua mãe, ela contou que sentia muita raiva dos colegas, que não queria voltar
para a escola e que pensava em se vingar. (Página 26)
O elefante, coitado, ia para escola de casaco, num calor danado, para
disfarças sua gordura. Um dia, cansado das chacotas dos colegas, decidiu
emagrecer, mas acabou desenvolvendo anorexia (perdeu a vontade de se alimentar)
e teve que interromper seus estudos para tratamento.
O canguru não agüentava mais: todo dia desaparecia alguma coisa da sua
mochila. O macaco, muito bisbilhoteiro, sempre levava a culpa, mesamo sendo
inocente. Irritado com as acusações injustas, começou a fazer brincadeiras
inconvenientes com o porco por causa dos seus problemas intestinais. (Página 27)
Fato curioso aconteceu com o rinoceronte: apanhava todos os dias. De tão
amedrontado, quis desistir da escola, mas seus pais não deixaram. Bem que tentava
se defender, mas, sozinho, sentia-se impotente para enfrentar o grupo. Para ele, pior
do que apanhar dos colegas, apesar do seu tamanho, era mentir para os pais,
inventando desculpas para faltar às aulas.
Triste mesmo foi o que aconteceu com a raposa. Antes ela era meiga,
esperta, excelente aluna, mas de tanto sofrer intimidações, foi perdendo a
espontaneidade e a alegria de viver. Dizem que agora é perigosa, entrou para uma
gangue e está envolvida com drogas. Com o cavalo também foi assim. Querendo
dar um basta nos maus-tratos que sofria, veio armado para escola e acabou sendo
expulso. Com a abelha e a formiga não foi diferente. Após sofrerem muitas ofensas
por causa do seu tamanho, elas formaram um grupo e planejaram estratégias de
ataques contra seus colegas nos banheiros e no pátio do recreio.
Interessante percepção foi a mãe coruja. Notando que sua filha chegava da
escola agressiva, com ar de superioridade, querendo intimidar seus irmãos mais
novos, resolveu ficar atenta. Procurou a direção da escola e contou o que estava
acontecendo, querendo saber se lá ela agia assim. Nessa época, vários pais
procuraram a escola para tentar entender os problemas apresentados por seus
filhos. Outros começavam tirar os filhos da escola. Até os professores não
agüentavam mais tanta violência. (Página 28)
Após reunir a equipe de professores e analisar os problemas enfrentados, a
direção da escola percebeu que toda essa mudança de comportamento foi
7
promovida por aquele bicho estranho, que haviam chamado de Bullying. Assim, a
escola resolveu convocar todos seus profissionais, os pai e os alunos para uma
grande reflexão. O grupo concluiu que o medo, a insensibilidade, a dificuldade de
compreender e se colocar no lugar do outro e a intolerância às diferenças individuais
de cada um estavam prejudicando o ensino, a aprendizagem, as relações sociais
entre as espécies, e a violência crescia no ambiente escolar.
O papai búfalo lembrou a todos que, na construção da escola, cada um
contribuiu conforme as suas habilidades e o resultado foi extraordinário. Todos
cooperaram com alegria, e a amizade foi fortalecida entre eles.
O diretor considerou que a maior dificuldade dos alunos não estava na
aprendizagem das disciplinas curriculares, mas sim na convivência, e disse que,
doravante, todos na escola se empenhariam em educar os alunos para a paz, a fim
de que a escola se tornasse um lugar onde todos pudessem ser incluídos. Por isso,
resolveram ensinar sobre a importante participação das diferentes espécies na
história da evolução e da manutenção do planeta. (Página 31)
Desta forma, os alunos aprenderam que as diferenças sempre existirão, mas
são os diferentes que fazem a diferença. (Página 32)
8
1. Muito se tem ouvido falar em bullying, mas, afinal, o que ele significa?
Bullying é uma palavra de origem inglesa adotada em muitos países para
definir “o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la
sob tensão" (Tatum e Herbert, 1999). É um termo utilizado na literatura psicológica
anglo-saxônica, nos estudos sobre o problema da violência escolar, para designar
comportamentos agressivos e anti-sociais. O bullying "compreende todas as atitudes
agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação ao evidente,
adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia, e
executadas dentro de uma relação desigual de poder, tomando possível a
intimidação da vítima" (Lopes Neto e Saavedra, 2003).
Trata-se de uma dinâmica psicossocial expansiva que envolve um número
cada vez maior de crianças e adolescentes, meninos e meninas, a medida que
muitas vítimas reproduzem a vitimização contra outro (s). É um problema epidêmico,
específico e destrutivo, motivo pelo qual deve ser considerado questão de saúde
pública. Portanto, requer esforços, investimentos e ações estratégicas conjuntas, por
parte de toda a (página 33) comunidade escolar e das autoridades competentes
ligadas à educação, à saúde e à segurança pública, por meio de programas
preventivos e assistenciais.
força coerciva, com atitudes agressivas, contra as quais a vítima não consegue se
defender. Os autores mobilizam a opinião dos colegas contra a vítima, através de
boatos difamatórios ou apelidos que acentuam alguma característica física,
psicológica ou trejeito considerado negativo, diferente ou esquisito. (página 36)
Outros perseguidos são os estranhos, os nerds, os que têm sotaque, jeito
efeminado ou sensível, no caso dos meninos, ou masculinizado e grosseiro, no caso
das meninas, ou aqueles que são diferentes da maioria dos alunos. Os agressores
normalmente maltratam suas vítimas, constrangendo-as com zombarias, "zoações",
"sacanagens" ou valendo-se de gestos, expressões faciais, risadinhas irônicas ou
olhares ameaçadores. Na maioria dos casos, a vítima sente-se isolada e excluída do
convívio dos colegas, seja por ter o moral rebaixado, seja pela rejeição a ela que os
grupos manifestam, uma vez que não querem entre eles alguém “tão fraco ou
indefeso" ou temem que, ao apoiá-la, tenham que enfrentar os seus agressores e
tomem-se as próximas vítimas.
bullying. Estudos evidenciam que dois terços dos protagonistas das 37 tragédias
ocorridas em escolas americanas queriam se vingar por causa das constantes
perseguições que sofriam por parte dos colegas. Estudos mostram ainda que as
idéias suicidas têm como causas a provocação, o bullying e a rejeição (Middelton-
Moz e Zawadski, 2007).
33. A prática bullying vem crescendo ao longo dos anos? O que justifica
esse crescimento?
Infelizmente, o fenômeno vem crescendo em todo o mundo. Em 2000, os
índices apontavam que 7 a 24% (página 50) dos alunos estavam envolvidos. Hoje,
os índices evidenciam crescente envolvimento, de 5% a 35%. Dados obtidos pelo
Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar
(Cemeobes), em 2007, revelam que a média de envolvimento dos estudantes
brasileiros é de 45% acima dos índices mundiais. O mais preocupante é que
crianças na mais tenra idade escolar já apresentam envolvimento e evidências de
prejuízos sofridos.
Acreditamos que o aumento dos índices está relacionado à tendência da
vítima de reproduzir os maus-tratos sofridos. Por isso, o fenômeno se expande e
envolve um número cada vez maior de alunos. Além desse fator, motivos variados
impulsionam o aumento das práticas de bullying nas escolas ou a integração das
vítimas em grupos que se dedicam ao assédio. Dentre eles podemos citar o estímulo
à competitividade e ao individualismo, principalmente em decorrência da pressão
exercida pela família e a escola quanto à obtenção de resultados, especialmente nos
vestibulares; a banalização da violência e a certeza da impunidade; o desrespeito e
a desvalorização do ser humano, evidenciados em diversos contextos,
principalmente a mídia; a educação familiar permissiva e a ausência de limites e,
sobretudo, a deficiência ou ausência de modelos educativos baseados em valores
humanos, orientandos para a convivência pacífica, solidariedade, cooperação,
tolerância e respeito às diferenças, que despertam os sentimentos de empatia,
afetividade e compaixão.
38. Como o professor pode ter acesso aos estudos sobre o fenômeno
para saber identificá-lo?
Em nosso país, a bibliografia sobre o tema é escassa. São poucos os livros
disponíveis no mercado nacional, mas existem nos meios de comunicação,
principalmente na internet, uma série de artigos e reportagens sobre o tema.
Quando os professores são treinados para a identificação, o diagnóstico e o
encaminhamento do problema, tornando-se aptos a desenvolver estratégias
psicopedagógicas de prevenção, fundamentados nos princípios de educação para a
paz, são capazes de intervir de forma adequada em tais circunstâncias. Temos
constatado em cursos de capacitação e pós-graduação que um percentual
expressivo de professores percebeu o bullying ou esteve envolvido por ele quando
era estudante. Vários foram os que disseram que (página 54) ainda sentem os
efeitos do bullying exercido por parte dos próprios colegas professores. Por outro
aspecto, muitos são os relatos de professores e escolas que têm se empenhado
nessa causa e têm conseguido resultados expressivos. Nosso livro Fenômeno
bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz tem motivado
muitos experimentos e iniciativas pela paz, em nossas escolas.
intitulado "Massacre na Escola Jokela”, deixou oito mortos e vários feridos. A escola
Jokela Hight tinha 400 alunos entre 12 e 18 anos. Outras tragédias também
ocorreram no Canadá, no Japão, na Escócia, na Alemanha e na Argentina.
atraindo contra si reações agressivas, contra as quais não conseguem lidar com
eficiência. Por isso acabam vitimizados. Geralmente, são imaturos, apresentam
comportamento dispersivo e dificuldade de (página 59) concentração. Alguns
podem ser hiperativos, possuem "gênio ruim", agem de maneira provocadora aos
colegas e respondem de maneira ineficaz quando, em contrapartida, são atacados
ou insultados. Apresentam comportamento irritadiço, provocador, irrequieto,
buliçoso, dispersivo, ofensor, intolerante, de costumes irritantes e quase sempre são
responsáveis par causar tensões no ambiente em que se encontram (Olweus, 1998).
6. O CIBERBULLYING
foi criada uma disciplina para abordar o tema, denominada "netiqueta". Em outra
escola, o próprio Orkut é o antídoto anticiberbullying. Os alunos criaram uma
comunidade para discutir o assunto e dar depoimentos de casos vividos
(www1. folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/capital_300306.htm). Em algumas
escolas do Distrito Federal, promovemos discussões e orientamos os alunos, em
parceria com o Conselho Tutelar. Os sites de relacionamento Orkut, MySpace e
Facebook tornaram-se tão populares entre crianças e adolescentes que estão
transformando muitos pais em "espiões virtuais". De acordo com um estudo da
London School of Economics, 41% dos pais admitem verificar sigilosamente os sites
navegados pelos filhos e 25% deles conferem os e-mails que os filhos recebem.
(tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1631496-EI4802,00.htm1).
O uso do computador tem gerado muita irritação e discussões em famílias. A
maioria dos pais não consegue delimitar o tempo de permanência no computador e
nem estabelecer regras para o seu uso, o que gera o isolamento e o distanciamento
entre os membros da família. O ideal é que os pais orientem seus filhos e
estabeleçam regras para o uso do computador. Devem estar atentos para (página
70) que o uso do computador não se tome obsessivo. A observação do
comportamento dos filhos é muito importante. Como a criança reage quando está no
computador e quando sai dele? Está usando a rede para substituir as amizades?
previstas em lei. Mesmo que a maioria dos casos de ciberbullying não ocorra dentro
da escola, os professores precisam estar atentos para as relações interpessoais,
pois tudo se inicia com uma piadinha na sala de aula, vai para a comunidade no
Orkut e vira assunto no MSN.
maior parte das vezes, sutis e poderosos, na medida em que podem alterar
comportamentos, ocasionar transtornos e levar até à morte. Ninguém está blindado
contra o assédio moral. Todos os trabalhadores estão expostos a esse risco
invisível. (APECF/SP, 2005). (página 78)
74. Quais são as conseqüências dos atos de bullying para a saúde das
vítimas?
Dentre as diferentes e variadas conseqüências encontradas em estudos de
casos e atendimentos clínicos, podemos mencionar os altos índices de estresse.
Vale lembrar que o estresse é responsável por cerca de 80% das doenças da
atualidade, pelo rebaixamento da resistência imunológica e sintomas
psicossomáticos diversificados, principalmente próximos ao horário de ir à escola
(especialmente no caso das crianças menores), como dores de cabeça, tonturas,
náuseas, ânsia de vômito, dor no estômago, diarréia, enurese, sudorese, febre,
taquicardia, tensão, dores musculares, excesso de sono ou insônia, pesadelos,
perda ou aumento do apetite, dores generalizadas, dentre outras. Podem surgir
doenças de causas psicossomáticas, como gastrite, úlcera, colite, bulimia, anorexia,
herpes, rinite, alergias, problemas respiratórios, obesidade e comprometimento de
órgãos e sistemas. (página 83)
como resultante dessas interações ao longo do tempo. Todo o vivido será registrado
em sua memória, principalmente em função da carga emocional mobilizada na hora
do registro. Por isso, ela precisa ser educada de maneira afetiva, sentindo-se
amada, valorizada, com disciplina e limites. No entanto, se foi exposta a um
ambiente onde algum cuidador expressava-se de forma autoritária, agressiva ou
castradora, poderá manifestar comportamento agressivo no seu desenvolvimento
socioeducacional. Há casos em que a criança não manifesta agressividade, mas
apatia, bloqueios de aprendizagem e timidez.
9 CAUSAS DO BULLYING?
forma de esconder sua fraqueza, é ação prazerosa de fazer com que outros sofram
da mesma forma com que ele sofreu. Com o passar do tempo, suas ações negativas
se sedimentam, se interiorizam e passam a fazer parte do seu repertório
comportamental. Por isso, encontramos muitos adolescentes ou adultos que
apresentam comportamentos autodestrutivos ou violentos contra outro(s) e dizem
não se arrepender. Para essas pessoas, o sofrimento exacerbado, convertido em
atitudes perversas e cruéis, aumentando a intensidade e a gravidade no transcorrer
de suas existências, resulta de um esforço desprendido para lidar com suas
emoções e seus sentimentos. Não tendo (página 101) introjetado na primeira
infância um modelo positivo que lhe sirva de parâmetro para reger suas ações e
reações, a criança tem o direito de encontrar esse modelo no meio social imediato à
família, ou seja, a escola. Por isso, a figura do professor das séries iniciais é de
fundamental importância para que a criança tenha o quanto antes um referencial de
confiança, de respeito, de amor, de equilíbrio, de identificação. Se não encontrarem
na escola esse referencial positivo, tendem a buscá-lo fora dela. Porém, muitas
vezes, encontram-na na figura de anti-heróis ou no envolvimento delinqüente.
104. Uma vez que a violência tenha adentrado a escola, o que fazer?
Em primeiro lugar, há que se reconhecer que a violência é um problema
social. Nesse sentido, a escola tem papel fundamental na sua redução, por meio de
ações e programas preventivos, em parceria com as famílias dos alunos e os
diversos atores sociais, para garantir a sua eficácia. É fundamental que em cada
escola se constitua uma comissão ou equipe que possa articular políticas
preventivas e capacitar seus profissionais para atuar de forma segura, sem correr
riscos desnecessários.
121. Por outro lado, se a vítima for o professor, o que deve fazer?
O professor tem assegurado o direito à segurança na atividade profissional,
com penalização da prática de ofensa corporal ou outra violência sofrida no
exercício das suas funções ou por causa destas. Caso o professor seja vítima de
ameaças ou de alguma outra forma de maltrato que coloque em risco a sua vida ou
a (página 115) sua reputação, deve procurar imediatamente a direção escolar. O
diretor é quem tomará as providências adequadas. Caso a escola se omita, o
professor deve se dirigir à delegacia de polícia para lavrar boletim de ocorrências.
122. O que a escola deve fazer quando convocar os país dos alunos
praticantes de bullying e eles se negarem a comparecer?
Sugerimos que todas as vezes que a escola convocar os pais faça-o por
escrito e arquive a cópia, com as devidas assinaturas. Caso os pais não
compareçam ou enviem terceiros para representá-los, nova convocação deverá ser
encaminhada, com o mesmo texto da convocação anterior, porém, acrescentando o
seguinte: "O não comparecimento implicará no encaminhamento à Vara da Infância
e Juventude, conforme o disposto no art. 249 da Lei n° 8.069/90" (Shelb, 2005, p.
117).
129. Como a escola pode lidar com uma criança ou adolescente que
esteja sendo vítimizado?
Em casos crônicos a escola se vê impossibilitada de ir além das estratégias
que estão ao seu alcance. Sua função principal é orientar e encaminhar
corretamente os casos. Geralmente, sugerimos ouvir as partes envolvidas, por meio
de entrevistas individuais, a fim de compreender suas queixas, motivações e
sentimentos. Após a análise do caso, a direção escolar deve convocar os pais dos
alunos envolvidos para uma reunião, onde estes deverão tomar ciência da real
situação. O encaminhamento para multiprofissionais deverá ser por escrito e
arquivado no prontuário do aluno. Essa estratégia dá segurança ao profissional no
cumprimento de suas funções e à instituição. Nos demais casos, orientamos a
prática da reflexão e da interiorização de valores como técnica psicopedagógica
para o despertar do amor e de sentimentos de empatia, de tolerância, de respeito às
diferenças e de solidariedade. A formação de grupos de "pais solidários", visando o
envolvimento e (página 119) o compromisso com a escola, muito contribui para a
redução do fenômeno. Grupos de "alunos solidários" são treinados para auxiliar os
colegas que apresentam dificuldades de relacionamentos e de aprendizagem. O
objetivo é promover a inclusão dos alunos novos na escola ou daqueles que
52
130. O que a escola deve fazer quando o aluno falta às aulas ou desiste
da escola por causa da vitimização do bullying?
O ideal é que a vitimização seja identificada e interrompida antes de produzir
prejuízos dessa proporção. Porém, tais fatos são comuns de acontecer, e muitas
vezes a família não tem muito claro o motivo das ausências ou da desistência da
escola, urna vez que a vítima silencia. A escola primeiramente deve se informar
sobre o motivo das faltas do aluno enviando um mensageiro à casa do estudante
para saber o que está acontecendo e convocar uma reunião com os pais. É
importante conscientizar os pais ou responsáveis de que a educação é um direito de
todos e um dever do Estado e da família (art. 205 da Constituição) e que eles
poderão responder perante o juiz da Infância e da Juventude caso mantenham a
criança fora da escola, inclusive por abandono intelectual (artigo 246, do Código
Penal). Se a escola não tiver sucesso, o caso deve ser encaminhado ao Conselho
Tutelar ou ao Ministério Público.
131. O que a escola pode fazer para evitar que o aluno que cumpre
medida socioeducativa se envolva em bullying?
O ideal é que, ao receber um adolescente que cumpre medida
socioeducativa, a escola guarde sigilo, assim como os seus profissionais. Deve
orientá-lo quanto ao seu direito de não dizer aos colegas sobre a sua situação e
para que, caso se sinta constrangido ou receba qualquer forma de maus-tratos,
comunique imediatamente (página 120) ao professor da sala ou à direção escolar.
Geralmente, como forma de se impor ou amedrontar colegas e professores, o
próprio aluno divulga sua situação e, por isso, se torna discriminado, excluído ou
zombado na escola, e também pode praticar o bullying. É importante debater o tema
com os alunos, uma vez que as escolas também são responsáveis pelo processo de
ressocialização. Assim evita-se o preconceito e estimula-se a inclusão e o respeito.
137. O que os pais precisam saber para ajudar seus filhos a romper o
silêncio?
Sabemos que o mundo moderno e suas transformações vêm afetando
diversos cenários, dentre eles o das relações interpessoais. As diversas demandas
do cotidiano têm comprometido o relacionamento familiar, proporcionando certo
distanciamento entre seus integrantes. Porém, é imprescindível encontrar tempo
para a convivência saudável, especialmente com os filhos, manter diálogo
constante, conversar sobre os diversos aspectos da vida, conhecer o mundo deles e
deixar que conheçam o seu. É importante que os filhos encontrem em casa um
ambiente de amor e aceitação, favorável a que se expressem, tanto sobre seus
triunfos e suas conquistas como sobre seus fracassos e suas dificuldades nos
relacionamentos, nos estudos ou em relação a si mesmos.
É importante os pais e educadores considerarem que, antes de repreender os
filhos ou alunos, é preciso ouvi-los sem animosidades, com disposição de ajuda ao
fortalecimento da auto-estima na resolução de seus conflitos. Para isso é necessário
54
que se reforcem (elogiem) os aspectos (página 123) positivos das crianças e seus
acertos, para que se sintam seguras e confiantes. Somente assim é possível o
rompimento da barreira que impede a vítima de denunciar.
141. Existem pais que ficam com raiva e vão tirar satisfação dos
agressores dos filhos? O que este procedimento pode acarretar?
É normal que os pais fiquem com raiva, chateados ou aborrecidos ao
descobrir que seu filho se converteu em "bode expiatório" e que não está em
segurança na escola. Porém, incentivar o revide, tirar satisfação do agressor ou de
seus pais em nada ajudará. Ao contrário, pode acarretar problemas maiores para o
filho e para si. Não são poucos os pais, principalmente as mães, que adotam
atitudes impensadas, na ânsia de interromper a vitimização: intimidam o agressor,
pedindo explicações; apertam seu braço e o ameaçam; seguram-no ou encurralam-
no para o filho revidar; discutem ou mandam irmãos maiores da vítima darem uma
"lição" no agressor; exigem da escola providências e não dão o tempo necessário
para que as estratégias surtam efeito; pedem transferência da escola, sem resolver
a questão, o que acaba resultando em prejuízos para a vítima, uma vez que esta
tenderá a enfrentar os mesmos problemas em outra escola. (página 125) O ideal é
que os pais, em parceria com a escola, encontrem soluções tanto para os filhos que
são alvos, quanto para os autores de maus-tratos. Ambos necessitam de ajuda e,
muitas vezes, de encaminhamento a outros profissionais, especialmente da área da
saúde.
147. Existe uma receita para que pessoas vítimas desse mal possam se
livrar dos seus agressores? É possível dar a volta por cima?
57
Não existe receita pronta, pois cada indivíduo é um ser especial, com suas
dificuldades e habilidades. Muitas vítimas recorrem aos profissionais de psicologia,
que as ajudam na elevação da auto-estima, nas habilidades de assertividade,
resolução de conflitos e auto-superação. Algumas são resilientes e encontram suas
próprias soluções e, com o tempo, superam seus traumas. Outras carregam consigo
os traumas da vitimização, podendo tomar-se adultos inseguros, tensos, depressivos
ou agressivos, capazes de reproduzir no futuro o que (página 128) sofreram na
escola, na constituição familiar ou no local de trabalho. Existem aquelas que, em
decorrência da vitimização, podem desenvolver transtornos psicológicos, tais como:
transtornos do humor/afetivos; transtornos neuróticos, relacionados com o estresse
e somatoformes; transtornos da personalidade e do comportamento adulto. Ainda há
aquelas crianças com transtornos do desenvolvimento psicológico, que podem ter
sua situação agravada pelo envolvimento bullying.