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O meu Brainstorm da Pornografia

Na velha discussão feminista sobre pornografia, erotismo e


sexualidade, eu me coloco definitivamente do lado antipornografia e
bem resistente quando o assunto é “encontrar o delicado limiar
entre pornô e erótico”. E isso não chega nem perto de puritanismo
ou problemas com a expressão da minha sexualidade, pra mim a
pornografia do senso comum é violência e não sexo, pornografia é
a teoria e o estupro é a prática.

“A pornografia interfere na maneira de uma pessoa perceber o


sexo. Ela estimula uma relação de mão única com o objeto do
desejo, admiração e satisfação, e estimula uma relação de uma
pessoa (a que está vendo a pornografia) com uma idéia, um ente
com quem não se trava relações, só se obtém satisfações. Esse
ente, o objeto do desejo e satisfação é manipulado como o
observador bem – ou mal – entender. A pornografia possibilita que
uma pessoa possa dedicar ao objeto de seu desejo pensamentos
recriminados ou considerados negativos por si mesma, sem em
nenhum momento ter resposta negativa a essas idéias, ou resposta
alguma. Consequentemente, a pornografia constrói a noção de que
essa pessoa possa dedicar sentimentos, idéias e até atos negativos
ao objeto de seu desejo sem que haja uma resposta negativa, ou
mesmo uma privação da satisfação de seu desejo e ansiedade.
Com certeza alimenta uma forma de se relacionar com o objeto de
desejos como se fosse um objeto. Com certeza é um treinamento
para estupros. E com certeza é condição de possibilidade de que
se veja a sexualidade, e sobretudo o sexo como algo ruim,
negativo, violento, sujo, pervertido.” Manifesto Antipornografia
Este trecho acima é um dos meus preferidos do manifesto, porque
expõe claramente a verdadeira relação que há por trás de toda
pornografia comercializada. Mais do que a inocente apimentada de
relacionamento ou estímulo para masturbação solitária, o formato
pornográfico comum proporciona ao indivíduo que se torne
espectador de sua sexualidade, que sujeite objetos à suas vontades
e anseios sem qualquer conseqüência.

É assim que eles gostam.


Eu já consumi pornografia. Fui exposta muito cedo a esse tipo de
conteúdo, assim como a maioria das crianças. No início é uma
curiosidade, “o que essas pessoas estão fazendo?”, logo que a
ideia de sexo é compreendida a pornografia parece ser o primeiro
contato direto com o assunto, somos praticamente educad*s por
ela. Se antes os garotos eram levados até os prostíbulos, hoje lhes
dão revistas pornográficas. Afirmo com toda a certeza que a
pornografia construiu na minha mente um formato de sexualidade
totalmente deturpado, hoje posso analisar e constatar esse fato.
Quando assistimos pornografia estamos vivendo nossos desejos
por meio de outros. Pior, estamos assimilando que aquilo é sexo
legítimo, sexo “explícito”, ou seja, o verdadeiro e mais exposto
possível. Aprendi que sexo “bom” mesmo era daquele jeito, rápido,
bruto, impessoal, focado em um pinto que ejacula mil litros, de
preferência em um rosto feminino.
Neste momento preciso traduzir alguns trechos de uma lista feita
por uma diretora de filmes pornográficos “feministas” (chegaremos
lá) sobre clichês do pornô:
Dá vontade de vomitar...ou espancar esse velho.
1. Mulheres usam salto alto na cama.
2. Homens nunca são impotentes.
3. Ao fazer sexo oral em uma mulher 10 segundos são mais que
satisfatórios.
4. Se uma mulher for pega masturbando-se por um estranho, ela
não gritará ou ficará constrangida, ao invés disse insistirá para fazer
sexo com ele.
5. Todo homem tem pelo menos um litro de esperma.
6. Se houverem dois litros, melhor ainda (a garota não sente nojo!).
7. Garotas jovens e belas adoram fazer sexo com homens feios de
meia-idade.
8. Mulheres sempre gozam quando os homens gozam.
9. Todas as mulheres trepam berrando.
10. Aqueles peitos são de verdade.
11. Dupla penetração faz uma mulher sorrir.
12. Homens asiáticos não existem.
13. Nem homens de pau pequeno.
14. Se você encontra um cara fazendo sexo com sua namorada em
uma moita, ele não reclamará se você esfregar seu pinto na boca
da garota.
15. Todas as mulheres adoram levar tapas na bunda.
16. Enfermeiras chupam o pau de pacientes.
17. Quando sua namorada te encontrar sendo chupado pela melhor
amiga dela, ela ficará bravinha por alguns instantes antes de trepar
com os dois.
18. Mulheres nunca têm dor de cabeça, nem menstruam.
19. Quando uma mulher está chupando um pau, é importante que o
indivíduo a lembre constantemente: “Chupa!”.
20. Um cu é sempre limpo e delicioso.
21. Mulheres sempre ficam surpresas e gratas quando abrem as
calças de um homem e encontram…um pau.
Estes são apenas alguns dos milhares de clichês pornográficos.
Sem falar nos ditos pornôs “inclusivos” que colocam pessoas
consideradas “feias” para fazer sexo, normalmente em situações
duplamente humilhantes e brutais. Sempre percebi que os pornôs
envolvendo mulheres negras, especialmente lésbicas, faziam
questão de apresentar cenas bastante agressivas, com movimentos
que, sinceramente, NUNCA causariam tesão em alguém. Essas
mulheres são retratadas de forma selvagem, embrutecida e
violenta, parece que esta seria a única forma de vender material
excitante de pessoas que são marginalizadas por sua aparência e
cor.
Mulheres no pornô geral são representadas, em 99% das vezes,
como a parte “dominada” na pornografia. Sim, porque nesses filmes
sempre há uma relação dominador/dominado no sexo, não existe
troca. Lembrando que mesmo em filmes que usam a figura da
“dominatrix” ou filmes gays masculinos impera a ideia de papéis
ativos e passivos, regra geral com variações de gênero – diz-se que
o passivo é a “mulher”, ou seja, toda passividade e submissão têm
caráter feminino. E quando não nos excitamos com nosso papel
passivão, dizem que o problema está conosco.

Que porra é essa?


Lésbicas na pornografia heterossexual são tão plásticas que dão
nojo. É possível sentir a repugnância que as heterossexuais
fantasiadas de lésbicas ninfetas expressam ao fazerem sexo oral
em outra mulher. E claro, o homem está ali, mediando a situação
com seu pênis ereto, o verdadeiro protagonista. Por que afinal
mulheres não sentem tesão com filmes de homens gays? Deveria
ser super excitante a ideia de flagrar dois homens fazendo sexo e
juntar-se a eles pela lógica da “igualdade” que certas pessoas
promovem, mas não é bem assim que funciona.
As taras são diversas, mas a campeã parece ser o estupro, com a
maior incidência de buscas no Google. Até mesmo os filmes que
não promovem explicitamente o ato de forçar sexo a uma mulher se
apropriam da ideia para “excitar”. Sexo oral claramente forçado,
com aqueles empurrões grotescos, expressões de agonia e dor,
penetração brutal, gang bang violento, bondage, tudo isso é
simplesmente estupro. Aí vem gente dizer que na esfera da fantasia
tudo é permitido, que não significa que a pessoa realmente faria
aquilo, mas soa muito ingênuo acreditar que uma pessoa que busca
essas representações para satisfazer seus desejos não assimila os
valores do ato. Meu cérebro não derreteu ainda, não vou cair numa
dessas, queridos estupradores potenciais.
Há ainda homens que alegam não gostar de pornografia ,
preferindo algo “não vulgar”. Muitos recorrem ao estereótipo da
mulher “sexy”, através da playboy ou do “Sexy Time” do MultiShow.
Julgam que, se não há penetração em órgãos genitais expostos,
trata-se da mais leve e saudável forma de exploração do sexo
possível, não pode haver algo de errado em belas mulheres
siliconadas e photoshopadas em momentos de pura lascívia. Talvez
o padrão violento seja suficiente para justificar o repúdio a essas
práticas, mas acrescento ainda que os motivos que levam essas
garotas a prostituírem a imagem de seus corpos são os mesmos
que as colocam sob risco iminente de estupro na própria sociedade.

A expressão mais excitante para um macho


Um fenômeno que observei foi a invasão de vídeos exibicionistas
de mulheres no Yotube rebolando para a câmera de calcinha.
Alguns vídeos parecem ter sido feitos para alguém e depois
“vazaram”, outros são feitos para divulgação mesmo. Para aqueles
que foram colocados na internet sem permissão, é a mesma
situação de milhares de mulheres expostas em vídeos e fotos nas
comunidades estilo “caiu na NET”, onde o ex-namorado predador
se vinga da garota tornando públicas suas intimidades. Produzir
material pornográfico para o namorado é vendida como uma ideia
excitante e proveitosa para a vida sexual do casal, embora o
homem nunca o faça. É realmente muito excitante poder objetificar
a própria companheira, justo aquela mulher que parecia ser a única
com características de sujeito, que não podia ser usada como as
atrizes do pornô, torna-se disponível. E produzir material
exibicionista para vários homens? Dizem que é uma “escolha”
deliberada, uma forma genuína de prazer. Eu digo que uma mulher
no contexto feminino de sujeição precisa provar constantemente
que é atraente e capaz de seduzir um homem, já que sua auto-
estima é esmagada por todos os lados e seu único valor como
indivíduo parece depender de aprovação masculina. Parte dessa
necessidade de mostrar-se sexualmente disponível em busca do
status da fêmea no patriarcado está exposta nesses vídeos, é uma
das poucas saídas que muitas mulheres encontram para sentirem-
se valorizadas e desejadas de alguma forma, mesmo que através
de insultos.
Mas voltando à indústria pornográfica, este artigo da antropóloga
colombiana María Elvira Díaz Benítez, “Nas redes do sexo:
bastidores e cenários do pornô brasileiro”, vale uma leitura porque
explica bem a questão dos estereótipos femininos trabalhados na
pornografia, desde a latina caliente até a ninfetinha asiática. E
também um pouco sobre os estereótipos masculinos, como o negro
bestial e o tiozão viril.

Garotas dominadas? Enfia no seu cu seu fetiche.


É claro que os bastidores do mundo pornô tentam mostrar uma
imagem positiva e saudável de suas práticas. Fala-se muito em
escolhas, especialmente as escolhas da mulher, que parece “optar”
por ser humilhada em um set de filmagem. Para esse assunto eu
indico um post escrito pela blogueira Marjorie, simplesmente
fantástico, abordando a questão da livre escolha entre outros
assuntos,
http://marjorierodrigues.wordpress.com/2009/07/24/da-onda-
feminista-i-choose-my-choice/
Alguns recortes do texto:
“Por exemplo: “se eu escolhi ser prostituta/stripper/atriz
pornô/whatever, se eu fiz isso porque quero, então eu não sou uma
mulher objetificada. Eu sou sujeito das minhas ações e quem disser
que estou numa posição de passividade ou vulnerabilidade está
errado. É paternalista dar a entender que eu sou burra, não sei o
que faço ou sou apenas um joguete do patriarcado.”
“[...]o contexto em que uma determinada escolha é tomada a dota
de um significado particular.”
“Vulnerabilidade que a Charlotte não escolheu, mas que pode vir de
brinde com sua escolha. Logo, não adianta ser sujeito na hora de
escolher, se o contexto te coloca numa posição subordinada
depois. O féladaputa do contexto pode te transformar em vítima da
sua própria escolha.”

Cala a boca, mulher.


“Contextualizar a escolha, dizendo que ela pode levar a uma
situação de vulnerabilidade, não é negar o fato de que escolher é
uma ação. Nem dizer que o autor da escolha não pense por si.
Está-se apenas inserindo esta escolha em um mundo e, então,
refletindo quanto à influência do mundo sobre a escolha e o efeito
dessa escolha no mundo.”
Perfeito, eu não poderia explicar melhor. É isso, nossas escolhas
estão sempre inseridas em um contexto, não podemos
simplesmente nos separar do mundo inteiro e colocar nossas
escolhas em uma bolha em que tudo acontece conforme o
esperado. Então, se a atriz pornô escolheu deliberadamente sua
profissão, isso não significa que a situação não a torna vulnerável e
vítima dentro de um sistema de desigualdade em que mulheres são
inferiorizadas. Vítima da própria escolha. Quantas dessas mulheres
têm a opção de conhecer outros caminhos? Ou mesmo, quantas
tiveram condições de fazer uma análise crítica sobre a pornografia?
Não é à toa que várias usam drogas e o índice de suicídio é
altíssimo, como no mundo da prostituição, esqueçam o glamour e a
liberdade do pornô.
Até que ela parece feliz, não é mesmo?
Alguém tem um exemplo melhor que Linda Lovelace? A atriz de
“Garganta Profunda” que apanhava e era estuprada no set e só foi
protagonista do filme pornográfico mais famoso da História porque
foi FORÇADA? Não por acaso, Linda milita contra a pornografia
hoje em dia. Ela vivia presa ao homem que a obrigou a realizar o
filme, o mesmo homem que a prostituía, estuprava e fazia com que
outros homens a estuprassem. É possível ver os hematomas de
Linda durante o filme. Ela demorou anos para tomar coragem e fugir
do agressor, porque se sentia dependente dele. E ainda tem gente
que culpa as mulheres por não conseguirem se defender de certas
coisas, ao invés de culpar quem as ataca!

Tente isso e veja se é bom.


Este é um vídeo muito interessante,
http://br.youtube.com/watch?v=r0q_VGacfNk
descrição: “Este poderoso vídeo é em memória de centenas de
estrelas pornográficas mortas. Este vídeo é dedicado às estrelas
pornográficas ainda vivas. Minha esperança é que este vídeo toque
muitas vidas e que elas parem de ver e fazer pornografia. A
Pornografia não é glamurosa.”
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e depressão são comuns
em pessoas que estão na indústria pornográfica. A razão mais
buscada pelas mulheres parece ser o cachê mais alto e pelos
homens a oportunidade de reafirmar sua virilidade e potência. No
set de filmagem nem a lubrificação vaginal é real, ou não suportaria
todas as modalidades de penetração por tanto tempo. Trecho de
entrevista com psicólogo especialista em relacionamentos e
ansiedade Alexandre Bez:
Problemas familiares podem ajudar na escolha pela profissão
de ator/atriz pornô?
Dr. Alexandre Bez: Sim, devemos lembrar que para todos nós a
questão familiar é muito importante. Assim como problemas de
ordem social, econômica ou sentimental, falta de carinho ou
constantes dificuldades na família podem ser catalisadores para
uma pessoa encarar esse tipo de profissão.
Pois é, desde a formação no núcleo familiar existem estímulos e
situações que nos levam a fazer escolhas que não são “livres”, pois
não temos acesso real a diversas escolhas e reflexões. Não
podemos culpar as mulheres por promoverem uma indústria
pornográfica que inferioriza elas mesmas, precisamos focar nossos
objetivos naqueles que produzem e consomem esses materiais.

Pornografia feminista, será?


Mas espera aí, não tem mulher que gosta de pornografia? A
maioria, mesmo sem contextualizar, parece sentir uma certa
repugnância dos formatos masculinos de pornografia, como os
clichês acima citados. O que me surpreendeu foi descobrir que
existe uma onda de diretoras de pornografia “feminista” invadindo a
Europa.
A proposta, tenho que admitir, é louvável. Uma das diretoras, que já
foi atriz pornô e hoje é cientista política, reconhece que os filmes
insultavam sua inteligência e a colocavam como um objeto
domesticado. Os filmes produzidos por ela exploram a sexualidade
feminina, orgasmos reais, homens que realmente existem na trama,
relações de respeito mútuo e algumas peculiaridades de filmagem
como nunca exibir ejaculação masculina e dar preferência ao foco
nas expressões faciais de prazer ao invés dos genitais. Duas
entrevistas com diretoras explicam mais sobre,
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI67802-
15220,00CANDIDA+ROYALLE+QUERO+QUE+OS+HOMENS+AS
SISTAM.html
e
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI67813-
15220,00PETRA+JOY+ESTAMOS+LUTANDO+POR+LIBERDADE
+SEXUAL.html

Liberdade? Ah tah, valeu.


Elas afirmam que seus filmes seriam ótimos para educar homens
em novos papéis sexuais, mais humanos e reais, além de serem
feitos com responsabilidade e envolvimento dos protagonistas. Eu
não invalido totalmente a ideia porque de alguma forma é diferente,
mas infelizmente está inserido no mesmo contexto machista em que
vivemos. Não é um pornô com uma perspectiva feminista que vai
revolucionar a indústria pornográfica masculina, além de não estar
livre da questão do voyeurismo impessoal. Pesquisei algumas
capas de filmes e encontrei alguns clichês como mulheres de seios
enormes nuas, fantasiadas e com um padrão próximo ao
convencional, não vou arriscar generalizar, mas foi a impressão.
Ainda prefiro a extinção dos formatos pornográficos comuns do que
reformas desse tipo, acho a questão perigosa. Além do mais,
adivinhe como era o troféu que premiava as melhores diretoras?
Em formato de PINTO.
Também encontrei referências das diretoras enaltecendo o Suicide
Girls. Para mim, esse site sempre foi uma Playboy alternativa e de
péssimo gosto. Alt-porn não é menos violento nem menos opressor
só porque mostra algumas garotas fora do padrão com piercings e
tatuagens, buscando um lugar ao sol para serem admiradas com
sua resistência estética. Se fosse realmente uma representação de
resistência aos padrões, por que colocariam essas mulheres
“exóticas” na mesma posição sexualizada e objetificada das garotas
da Playboy? No fim, toda a subversão de valores alternativos acaba
na masturbação do macho que consome o material.
São 5 páginas de Word e eu não consigo sentir que disse tudo o
que pensava sobre a pornografia, na verdade são inúmeras as
implicações envolvidas. Sou definitivamente antipornografia,
enxergo nesses materiais um ódio repulsivo contra a mulher e um
conservadorismo nas questões de gênero absurdo, além de uma
forma de construção de uma sexualidade falsa, egoísta, impessoal.
Não é a minha sexualidade, não envolve respeito ou
responsabilidade, não implica um contato íntimo e real, destrói
relações. Eu me sinto livre por não consumir pornografia, assim
como conheci pessoas que admitiram sentir-se escravizadas por
um vício pornográfico. E o que mais me dói em tudo isso, é ver
como as mulheres são constantemente condenadas pela estética
pornográfica comum, como a sexualidade feminina é obscura nessa
indústria e o quanto ela tem poder de influência sobre os homens.
Sobre o que chamam de pornografia alternativa, feita com casais
reais, mulheres que representam sujeitos e coisas assim, ainda não
tenho opinião formada. É claro que não se deve condenar todas as
representações sexuais, o problema é a delicadeza de lidar com
isso em um mundo machista que glamouriza o egoísmo. Eu,
pessoalmente, não assistiria nem se fosse o vídeo da Maria e do
João em casa fazendo um papai-mamãe cheio de ternura,
dispenso. Estou bastante satisfeita com a minha sexualidade assim.
Publicado em Questão de postura
http://whothehelliscely.wordpress.com/2009/08/06/o-meu-
brainstorm-da-pornografia/#comments
Trechos de um debate sobre “ porno feminista” na comunidade
Feminismo e Libertação do Orkut:
“...dizem "as mulheres precisam de mais referências em que apareçam
como sujeito no sexo..."
O que eu não entendo bem, desde aqui, é por que é que alguém precisa de
referência visual de sexo... Eu posso (devo) dizer pra mulher que ela não é
um objeto, certo! Mas eu preciso ilustrar pra ela imitar? Parece que vira
literalmente um manual, não me fez sentido.

(...)Outra coisa que eu acho é que soft porn, filminho com historinha, tudo
isso já existe. Tudo que fica entre sexo com o pé grande, com entregador de
pizza e com o príncipe do cavalo branco, em termos de enredo, vc consegue
achar (disso pra atrocidades, inclusive), fazer "pornô deglutível" não vai
fazer diferença alguma com relação ao pornô degradante de sempre.

Aliás, pra mim esse papo de pornô feminista servia pra dizer "olha, tem pra
todo mundo, até praquelas irritantes, então não tem problema algum eu
curtir meu fetichezinho de estuprador pq cada um tem o seu, ok?", não faz
tanto tempo que eu descobri que existem mesmo propostas de levar essa
idéia a sério.
a misoginia do filme pornô começa atrás das câmeras! não é só contra o
filme em si que eu sou contra, mas contra todo o mecanismo pornográfico...
não é uma coisa fácil nem gostosa de fazer, então qual é a graça de
assistir? é tudo falso, não preciso dessas referências. quanto mais dermos
bola pra pornografia e quanto mais as pessoas reclamarem dela, mas
quererem outras formas de pornografia, ela continuará existindo, elá
continuará sendo glamourizada, e muitas mulheres entrarão nela e por mais
que há quem diga que está nessa pq quer, não consigo acreditar que a
pessoa tá sendo feliz assim.

continua sendo pornografia, ou seja: continua sendo um excelente exemplo


da subestimação do potencial das relações sexuais, um exemplo de como
se ensina a mecanizar e limitar o sexo, deixa de ser uma experiência
inventada, mas aprendida de fontes externas e aprendida em massa. E
principalmente, continua sendo um mercado que vende e compra pessoas,
continua abrindo portas para a prostituição (de menores e de adultos),
cafetinagem e tráfico de seres humanos, e como falaram já aí, continua não
sendo sexo, apenas consumo.”

“...mas vejo a massificação que a pornografia traz como uma maneira de


trazer o sexo à esfera do "todo mundo faz, deveria ser mais natural e
aceito" (aliás, este é um dos argumentos que mais ouço quando querem
defender a pornografia, determinando quem é contra como puritano ou
beato), porém mostrado de maneiras:
- sexistas (não preciso dizer, né?)
- opressoras (sm, bondage e coisa e tal)
- elitistas (o "piscineiro" pobre porém pintudo e a patroa rica)
- preconceituosas ("sexo interracial" - quer termo mais babaca?)
- padronizadoras (tipo pornografia alternativa que assimila "estilos" e os
transformam em novos padrões sexuais)
- especistas (vide tópico sobre o filme "amor cigano")
- etc...

ou seja: na visão geral, me parece que continua sendo "coisa que todo
mundo faz", porém veiculado sempre de maneiras que não são aplicadas na
maioria dos casos (sem entrar na questão da imitação da pornografia, uma
mimese que vira círculo vicioso).”

“referência como sujeito na


pornografia? Na pornografia nunca há
sujeito, há dois objetos, sexualidade
não é comércio,principalmente a
sexualidade feminina,como a
pornografia prega.
Não tenho medo que me chamem de
puritana ou o caralho a quatro, já que já
chamam as feministas de tantas coisas
mesmo, isso é só mais uma pra lista.
Aliás, sempre querem dividir entre
puritanos e pevertidos : Castração
moralista da sexualidade é o
complemento perfeito para a perversão
e imundíce. Pornografia e liberalismo
não sobrevive sem moralismo e
conservadorismo.

Sobre o pornô "igualitário" (ainda custo


a acreditar que realmente exista) O
opressor pode estar introjetado dentro
de nós. Podemos fazer um pornô que
acabe sendo igual ao convencional, e
ainda estar colaborando pra inocentar
os impérios pornográficos, protegê-los,
confundir a ofensiva sobre eles,
suavizar as reações, sem contar que
fazer uma pornografia alternativa não
faz sequer cócegas no patriarcado ou
supremacia masculina

Podem existir tentativas de porno


igualitário, mas podem não passar de
formas de melhorar a imagem da
pornografia e até atingir os nichos de
mercado mais diferentes que ainda não
foram alcançados. “

“Tbm sou muito cetico com essa ideia


de porno "feminista", até pela minha
experiencia de homem criado a base de
pornorafia. Vai muito alem dos filmes
serem misogenos, violentos,
objetificantes etc... o dano está em
separar a imagem da sensacao, em
tranformar pessoas em personagens,
em criar representacoes sexuais
baseadas em mentiras (acredite,
ninguem sente prazer num set de
filmagem, pelo menos nao o tipo de
prazer que sente na intimidade.)

Logico que cinema e publicidade tbm


transformam a vida em imagens, a
diferença é que qualquer um sabe que
cinema é faz-de-conta e que
propaganda é pra te vender alguma
coisa, enquanto a pornografia ainda é
vista como sendo a representaçao dos
nossos desejos mais intimos, a
referencia sexual para as pessoas, o
campo de experimentacao da
sexualidade humana etc...

como sendo a representaçao dos


nossos desejos mais intimos, a
referencia sexual para as pessoas, o
campo de experimentacao da
sexualidade humana etc...

Sinceramente tenho muito medo dessa


proposta de pornografia para mulheres.
Como se a sexualidade feminina já nao
fosse reprimida o suficiente, com o
amplo acesso a pornografia (alternativa
ou nao) que existe na era da internet,
acho que corremoso risco de criar uma
geracao de mulheres com uma visao do
sexo tao embrutecida e mecanica
quanto a dos homens. Acho que era o
que faltava pra fazer todo mundo
transar que nem um robozinho imitando
o que viu no filme. Se sexo nao é feio
nem errado, entao deveriamos nos
exitar no convivio unxs com xs outrxs, e
nao na frente da telinha. “

“não vejo muita diferença entre pornografia e "vídeos de sexo amador", pra
mim a única diferença é não ter um loguinho da playboy do lado. Funciona
da mesma maneira, também ajuda a cobrir e a defender pornografia
amadora "hardcore" (vídeos de estupros reais, estupro de menores, e até o
que estava se falando no tópico do sexting, mulheres que são filmadas
transando sem o consentimento delas da filmagem que vão parar à público)

aliás, essa coisa de mulheres que descobrem que o namorado filmou


fazendo sexo sem o consentimento dela me diz muita coisa sobre como as
pessoas acham que não basta mais fazer sexo, tem que tornar público, tem
que mostrar pra todo mundo, tem que pornografar e etc etc etc”

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