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4 Captulo 1 0 PROBLEMA DA ESCASSEZ A escassez & 0 problema econémico central de qualquer sociedade, Se nao hou- vvesse escassez, tampouco haveria a necessidade de se estudlar economia, ‘Mas, por que existe a escassez? ‘A escassez. existe porque as necessidades humanas a serem satisfeitas através do consumo dos mais diversos tipos de bens (alimentos, roupas, casas etc.) e services (trans- porte, assisténcia médica etc.) so infinitas e ilimitadas, ao passo que os recursos prodi- fivos (maquinas, fabricas, terras agricultéveis, matérias-primas etc.) a disposicdo da sociedade e que sio utilizados na producao dos mais diferentes tipos de produtos s30 finitos e limitados, ou seja, so insuficientes para se produzir 0 volume de bens € servigos necessarios para satisfazer as necessidades de todas as pessoas. NEGESSIDADES HUMANAS ILIMITADAS REGURSOS PRODUTIVOS LIMITADOS ESCASSEZ DE BENS E preciso nao confundir escassez com pobreza. Pobreza significa ter poucos bens. Escassez significa mais desejos do que bens para satisfazé-los, ainda que haja muitos bens. E preciso também nao confundir escassez com limitacao. Um bem pode ter sua oferta limitada. Entretanto, se esse bem nao for desejado, se nao houver procura por ele, ele nao serd escasso. ‘Assim, 0 fenémeno da escassez. esté presente em qualquer sociedade, seja ela rica ou pobre. E verdade que para paises como os Estados Unidos e a Suécia ela nao é um problema tio grave como para a Somdlia e a Etiépia, em que sequer as necessidades basicas da populacio s&o satisfeitas. Mesmo assim, a escassez continua sendo um problema, uma vez que as aspiracGes por bens e servigos em geral superam a quanti- dade de bens e servigos produzidos pela sociedade. Pode-se dizer, entao, que a escassez é a preocupacao basica da Ciéncia Econdmica Somente devido escassez de recursos em relacio as ilimitadas necessidades humanas é que se justifica a preocupacao de utilizd-los da forma mais racional e efi- ciente posstvel. Da dura realidade da escassez decorre a necessidade da escolha. Jé que ndo se pode produzir tudo 0 que as pessoas desejam, devem ser criados mecanismos que de alguma forma auxiliem as sociedades a decidir quais bens sero produzidos e quais necessi- dades sero atendidas. 2 DEFINIGAO DE ECONOMIA as Uma vez entendido o sentido econdmico da escassez, podemos passar para a definiggo de Economia. Nogdes Gerais de Economia 5 Em termos etimol6gicos a palavra “economia” vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). Teriamos, entio, a palavra oikonomia que significa “administracao de uma unidade habitactonal (casa)", podendo também ser entendida como “administracao da coisa publica” ou de um Estado. Por essa razdo, quando nos referimos a uma pessoa dizendo que ela é econdmica, estamos querendo dizer que ela & cuidadosa e parcimoniosa no gasto de dinheiro ou na utilizagio de materiais, ou seja, que ela € cuidadosa na administragao dos seus recursos. Em Economia, por sua vez, estudamos as maneiras pelas quais os diferentes tipos de sistemas econdmicos administram seus limitados recursos com a finalidade de pro- duzir bens e servicos, objetivando satisfazer as ilimitadas necessidades da populagao. “Se 0 objetivo é atender ao méximo as necessidades da populagao e se os recursos sao limitados, entao a administracao desses recursos tem de ser feita de maneira cuida- dosa, econémica (parcimoniosa), racional e eficiente.” Em outras palavras, temos de “economizar” recursos. Podemos, entdo, definir Economia como sendo “a Ciéncia Social que estuda como as pessoas e a sociedade decidem empregar recursos escassos, que poderiam ter utiliza~ cio alternativa, na producio de bens e servicos de modo a distribui-los entre as varias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas”. Na realidade existem muitas definigdes da Economia como ciéncia, ¢ elas tém evoluido ao longo da histéria, desde as primeiras escolas econdmicas, datadas do sécu- lo XVI até o presente. Vejamos, entio, as definigdes de trés autores contemporaneos: Myron H. Umbreit, Elgin F. Hunt e Charles V. Kinter:! “A economia € 0 estudo da organizacao social através da qual os homens satisfazem suas necessidades de bens e servicos escassos.” Stonier e Hague? “Nao houvesse escassez nem necessidade de repartir os bens entre os homens, nao existiriam tampouco sistemas econdmicos nem Economia. A Economia é, fun- damentalmente, o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes.” Paul A. Samuelson “Aeconomia é 0 estudo de como as pessoas ¢ a sociedade decicdem empre- gar recursos escassos, que poderiam ter utilizagdes alternativas, para produzir bens variados e para os distribuir para consumo, agora ou no futuro, entre varias pessoas e grupos da sociedade.” Depreende-se dessas definicdes que a Economia é uma Ciéncia Social que tem por objetivo de estudo a questao da escassez. 1 UMBREIT, Myron H; HUNT, Elgin F; KINTER, Charles V. Economics: an introduction to principles and problems. Nova York: McGraw-Hill, 1957, 2 STONIER, Alfred W.; HAGUE, Douglas C. Teoria econdmica. Rio de Janeiro: Zahar, 1971 3. SAMUELSON, Paul Anthony; NORDHAUS, William D. Economia, 12. ed. Portugal, 1988. 6 captue! Cabe, entio, & Ciéneia Econémica, através do seu corpo tedrico, fornecer respostas, ainda que parciais, para questées do tipo: * O que ¢ inflagéo? Quais suas causas? Como baixdla? * Por que existe uma distribuigio tao desigual de renda? Como reduzir esse problema? * © que ¢ desemprego? Por que ocorre esse fenémeno? Como fazer para que 0 nivel de emprego aumente? © Qual o papel do Governo no bem-estar da populagao? * Como se determinam os precos? ‘© O que determina a existéncia de relagSes econdmicas internacionais? 3 POR QUE A ECONOMIA E CONSIDERADA UMA “CIENCIA SOCIAL"? ‘A Economia é considerada uma Ciéncia Social porque as ciéncias sociais estudam. a organizacdo e o funcionamento da sociedade. O Direito, a Sociologia, a Antropologia a Psicologia so ciéneias sociais, uma vez que cada qual estuda 0 funcionamento da sociedade a partir de um determinado ponto de vista. A titulo de exemplo, vejamos as definicdes dessas ciéncias: + Direito: Cigncia das normas obrigatérias que disciplinam as relacées dos homens em sociedade; © Sociologia: Estudo objetivo das relagies que se estabelecem, consciente ou inconscientemente, entre pessoas que vivem em uma comunidade ou em um grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que vivem no seio de uma sociedade mais ampla; * Antropologia: Ciéncia que retine varias disciplinas cujas finalidades comuns so descrever © homem e analisé-lo com base nas caracteristicas biol6gicas (antropolo- gia fisica) ¢ culturais (antropologia cultural) dos grupos em que se distribui, dando Enfase, através das épocas, as diferencas e variagdes entre esses grupos; « Psicologia: Ciéncia que trata da mente e de fendmenos e atividades mentais. Ciéncia do comportamento animal e humano em suas relagdes com o meio fisi- co € sociai ‘A Economia, portanto, também € uma Ciéneia Social, pois se ocupa do compor- tamento humano e estuda como as pessoas e as organizagées na sociedade se empenham na producio, troca e consumo de bens e servicos. 4 SISTEMA ECONOMICO a 4.1 Definigao Um “Sistema Econémico” pode ser definido como a forma na qual uma sociedade estd onganizada em termos politicos, econémicos e sociais pata desenvolver as ativi- dades econémicas de producio, troca e consumo de bens e servicos, 12 BB Caputo Bens de Consumo so aqueles diretamente utilizados para a satisfacao das necessi- dades humanas. Podem ser de uso ndo-duravel, ou seja, que desaparecem uma vez utiliza- dos (alimentos, cigarros, gasolina etc.), ou de uso durével, que tém como caracteristica 0 fato de que podem ser usados por muito tempo (méveis, eletrodomésticos etc.). Os Bens de Capital (ou Bens de Produgao), por sua vez, sao aqueles que permitem produzir outros bens. Séo exemplos de Bens de Capital as maquinas, computadores, equipamentos, instalagdes, edificios ete, Tanto os Bens de Consumo quanto os Bens de Capital sao classificados como Bens Finais, uma vez que ja passaram por todos processos de transformacao possiveis, significando que estdo acabados. ‘Além dos Bens Finais existem ainda os Bens Intermedidrios, que 50 aqueles que ainda precisam ser transformados para atingir sua forma definitiva. Eles sao produtos utilizados no processo de producao de outros produtos, sendo, também, clasificados como bens de capital. A titulo de exemplo, podemos citar o ferti- lizante utilizado na producao de arroz, ou 0 aco, 0 vidro e a borracha utilizados na producio de carros. ‘Os bens podem ser classificados ainda em Bens Privados ¢ Bens Piiblicos. Os Bens Privados sio os produzidos e possuidos privadamente. Como exemplo temos os automéveis, aparelhos de televisdo etc. ‘Os Bens Piiblicos referem-se ao conjunto de bens gerais fornecido pelo setor puiblico: educagao, justica, seguranga, transportes etc. 6.3 Recursos Produtivos Vimos, até agora, que as necessidades humanas sao ilimitadas. Algumas so ndo- econémicas, seja porque niio podemos produzir bens que as satisfagam (necessidade de amor, por exemplo), seja porque ndo precisamos produzir bens que as satisfagam (neces- sidade de respirar, por exemplo), ‘As necessidades remanescentes, que so as necessidades econdmicas, caracteri- zam-se, também, por serem ilimitadas. A fim de satisfazé-las necessitariamos de um conjunto infinitamente grande de bens econémicos. Isso, por seu lado, exigiria um con- junto infinitamente grande de recursos capaz de produzir tais bens. Entretanto, essa quantidade infinita de recursos néo existe. Surge dai o desafio que o ser humano tem forcosamente de enfrentar: 0 desafio da escassez. ‘Vejamos, agora, no que consistem tais recursos. Os Recursos Produtivos (também denominados fatores de produgao) so elemen- tos utilizados no processo de fabricagdo dos mais variados tipos de mercadorias, as quais, por sua vez, sio utilizadas para satisfazer necessidades. O trabalho, a terra, matérias-primas, combustiveis, energia e equipamentos sao, entre outros, exemplos de recursos produtivos. 6.3.1 Classificagdo dos Recursos Produtivos Os Recursos Produtivos podem ser clasificados em quatro grandes grupos: Terra, Trabalho, Capital e Capacidade Empresarial. Nogdes Gerais de Economia B13 a) Terra (ou Recursos Naturais) E onome dado pelos economistas para designar os recursos naturais existentes, ou dadivas da natureza, tais como florestas, recursos minerais, recursos hidricos etc. Compreende nao sé 0 solo utilizado para fins agricolas, mas também 0 solo utilizado na construcao de estradas, casas etc. Na verdade, toda a natureza, a energia do Sol, os ventos, as marés, a gravidade da Terra sao utilizados na produgao de bens econémicos. A utilidade desses elementos ird variar em fungdo de fatores como facilidade de extracao, refino e transporte. O que devemos destacar é que a quantidade de recursos naturais, ou Terra, é limitada, até mesmo para as nacdes consideradas ricas. b) Trabalho E o nome dado a todo esforgo humano, fisico ou mental, despendido na produgio de bens e servicos. Assim, constitui trabalho no sentido econémico o servigo prestado por um médico, o trabalho de um operdrio empregado na construc civil, a supervisao de um gerente de banco, o trabalho de um agricultor no campo. O tamanho da populacao estabelece para esse fator de producao um limite em termos de quantidade. Entretanto, importa também a qualidade do trabalho. Todos sabemos que duas pessoas que trabalham oito horas por dia nao sao, necessariamente, sualmente produtivas. Por essa azo, em qualquer pais, a qualidade ¢ o tamanho da rca de trabalho sao limitados, o que implica dizer que a quantidade total do recurso denominado Trabalho também o €. ©) Capital (ou Bens de Capital) Pode ser definido como o conjunto de bens fabricados pelo homem e que nao se destinam a satisfacao das necessidades através do consumo, mas que sao utilizados no processo de producao de outros bens. O capital inclui todos os edificios, todos os tipos de equipamentos e todos os estoques de materiais dos produtores, incluindo bens par- cial ou completamente acabados e que podem ser utilizados na produgao de bens Exemplos de capital sao matérias-primas, computadores, maquinas, usinas, estradas de ferro, instalacGes fabris, mobilidrios de escritérios e todos os tipos de equipamentos uti- lizados na fabricagao de bens e servicos. E usual que, ao falarmos de capital, pensemos em coisas tais como dinheiro, agdes, certificados etc. Tais instrumentos, entretanto, devem ser considerados como Capital nanceiro e nao constituem realmente riqueza, e sim direitos a ela. Nao haveré aumento de riqueza na sociedade se esses direitos de papel aumentarem sez que ocorra aumento correspondente de edificios, equipamentos, estoques ete. d) Capacidade Empresarial Alguns economistas consideram a “Capacidade Empresarial” como sendo também um fator de producao. Isto porque o empresdrio exerce funcies fundamentais para o processo produtivo. E ele quem organiza a producdo, reunindo e combinando os demais recursos produtivos, assumindo, assim, todos os riscos inerentes A elaboracao de bens e servicos. E ele quem colhe os ganhos do sucesso (Iucro) ou as perdas do fracasso (prejuizo). Em algumas 14 HE Capitulo | firmas o empresério pode ter uma dupla fungio e ser também 0 gerente; em outras, tal fato nao corre. De qualquer maneira, a funcao empresarial é necessdria na economia. 6.3.2 Os Recursos Produtivos Sao Limitados De maneira geral, pode-se dizer que 0s recursos produtivos apresentam como caracteristica basica o fato de serem limitados ou escassos, ou seja, nao existem em quantidade suficiente para produzir todos os bens desejados pela sociedade, Os recur- Sos naturais, tais como recursos petroliferos, terras adequadas para agricultura etc. ndo existe em quantidades infinitas. Por essa razio, até mesmo as nagdes mais ricas se tessentem da limitacao de seus recursos naturais. Da mesma forma, em dado periodo de tempo, a quantidade de capital disponivel para a produsao também ¢ limitada pelo ntimero de maquinas, tratores, usinas, fabricas etc. existentes. Mesmo 0 trabalho, que € 0 fator de producgo mais abundante e mais importante em qualquer sistema econdmico, esta limitado pelo niimero e pela qualidade de pessoas disponiveis para essa atividade. Isso tudo evidencia, como jd dissemos, 0 fato de que os recursos produ- tivos sao limitados. 6.3.3 Remuneragao dos Proprietérios dos Recursos Produtivos Qualquer que seja a firma — agricola, industrial ou de servicos ~, ela necessita, para operar, do concurso de recursos produtivos. Necessita, por exemplo, de um pedago de terra; necessita também de bens de capital, que sao bens utilizados para produzir outros bens; além disso, muitas vezes o empresario pode ter necessidade de dinheiro de terceiros para a compra de méquinas, matérias-primas etc.; necesita, finalmente, de mio-de-obra ou forca de trabalho para operar os bens de capital de modo a transformar 8 bens intermedidrios em novos produtos. (0 preco pago pela utilizacio dos servicos dos fatores de produgiio ird se constituir na renda dos proprietérios desses fatores. Segundo a definicéo de renda geralmente aceita, a renda ganha em um ano ¢ 0 pagamento pelos servigos de fatores de produgio durante 0 ano, Isso merece uma explicacao. Com telacao ao fator trabalho, podemos dizer que o trabalhador é 0 proprietario desse recurso, e que a remuneragio que ele tecebe das firmas pela utilizagio que Sstas fazem desse recurso denomina-se saldtio (genericamente). Na verdade, a firma remunera o trabalhador pelo uso do seu tempo, e essa remuneragao (salério) pode ser mensal, semanal etc. A renda do trabalhador, portanto, consiste do saldrio que ele recebe, ‘Com relagio ao fator de produgao terra, ele pode ser negociado de duas maneiras. a) O proprietario pode vender 0 direito de uso durante um més, um ano, ou qual- quer outro periodo que se estabeleca. Nesse caso, 0 prego pago pelo uso tem- pordrio da terra é chamado aluguel; ¢ b) © proprietério pode vender a terra de uma vez, 0 que dé ao seu novo dono 0 direito de usé-la. Capitulo II PROBLEMA DA ESCASSEZ E D, NECESSIDADE DE ESCOLHA — 4 QUESTOES ECONGMICAS FUNDAMENTAIS ‘Como vimos anteriormente, a sociedade nao dispoe de recursos produtivos em quantidade suficiente para produzir tudo o que a populacao desea. | Assim & que toda sociedade, qualquer que seja sua organizacao politica, se defronta com trés questies econdmicas bésicas decorrentes do problema de escassez: a) © que e quanto produzir? ‘Ja que nao se pode produzir a quantidade desejada pela sociedade dos mais diversos ‘Spos de bens e servicos, a sociedade deve escolher entre as varias altemativas, quais bens «eservigos serdo produzidos e em que quantidade. Devemos produzir mais automsveis do que roupas? Mais roupas e menos alimentos? Quanto de roupas e quanto de alimentos? b) Como produzir? Em segundo lugar, a sociedade tem de decidir a maneira pela qual o conjunto de ‘bens escolhido seré produzido. Normalmente os bens podem ser obtidos mediante -Sierentes combinagdes de recursos e técnicas. Nese sentido, deve-se optar pela técni- = que resulte no menor custo por unidade de produto a ser obtido. ©) Para quem produzir? Uma vez decidido que bens produzir e como produzi-los, a sociedade tem de [omar uma terceira decisdo fundamental: quem ird receber esses bens e servicos? |Sabemos que a produco total de bens ¢ servigos deverd ser distribufda entre os | Sterentes individuos que compéem a sociedade. De que maneira essa distribuicio aa t 48 ml Captuol! ocorrerd? Serd que todas as pessoas receberdo a mesma quantidade de bens e servigos? Ou serd que a distribuicdo de bens e servigos seré feita segundo a contribuigao de cada um a produgo? Ou a cada um segundo a sua necessidade? 2 ACURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUI PROBLEMA DA ESCASSEZ E DA ESCOLI 2.1 Introdugao A anilise das ilimitadas necessidades humanas ¢ da escassez de recursos empreen- dida até aqui conduz a conclusio de que a Economia é uma Ciéncia ligada a problemas ide escotha. Esse fato pode ser exemplificado através da utilizagio de graficos e de exem- pplos aritméticos. Para fins de simplificacao, discutiremos o dilema da opgio e suas pos- siveis solugdes aplicados a um empreendimento agricola. Posteriormente, a questo da escolha sera abordada no Ambito de todo o Sistema Econdmico. ‘Trés hip6teses bésicas sio necessérias para que possamos desenvolver o modelo da “Curva de Possibilidades de Produc a) Existéncia de uma quantidade fixa de recursos. A quantidade e a qualidade dos recursos produtivos permanece inalterada (constante) durante o periodo de tempo da analise bb) Existéncia de pleno emprego dos recursos. A economia opera com todos os fatores de produgio plenamente empregados e produzindo 0 maior nivel de produto possivel. ¢) A tecnologia permanece constante 2.2 Uma Fazenda e sua Fronteira de Possibilidades de Produgao Consideremos inicialmente uma fazenda com uma determinada extensio de terra, ‘um conjunto de instalagdes, maquinas e equipamentos e um ntimero fixo de trabalhadores. Consideremos ainda que 0 proprietario dessa fazenda possua qualificacées téenicas que Ihe permitam se dedicar a qualquer tipo de atividade agricola, Ao decidir o que e como produzir, 0 fazendeiro estaré decidindo a maneira pela qual os seus recursos produtivos serdo distribufdos entre as varias combinagdes de bens possiveis. Quanta terra serd desti- nada a pastagem? E a producio de soja? Ser conveniente utilizar parte da rea destinada 2 lavoura de soja e parte para o plantio de milho? Por que nao introduzir também a cul- tura de arroz? De que modo os empregados serdo utilizados nas varias atividades? ‘Como a andlise simultanea de tais problemas é bastante complicada, vamos, para) simplificar, supor que essa fazenda s6 produza dois tipos de bens: milho e soja. Se o fazendeiro utilizar toda a terra para cultivar milho, nao haverd drea dispont- vel para o plantio de soja. Por outro lado, se ele quiser se dedicar somente & cultura de soja, utilizando-se de toda a sua propriedade para este fim, néo poderé plantar milho. Estamos diante de duas opges extremas. Existirdo, é claro, soluc6es alternativas inter- mediérias, com a utilizagéo de parte das terras para o plantio de soja, ficando a fracio. restante para a cultura de milho. As varias possibilidades de produgéo podem ser ilustradas através de um exemplo numérico. Tomemos, ento, o seguinte quadro: (vests EendmiasFundamonais Decorentes do Problema Escaser oc Ncessdade de Esclha Im 49 QUADRO Possibitidades de produpao em uma fazenda A ° 000 8 1.000 7500 c 2.000 6500 D 3000 5.000 E 000 000 F a Suponhamos, entéo, que o fazendeiro decida utilizar toda a sua propriedade (e Semais recursos) no cultivo de milho. Nesse caso seré possfvel produzir no maximo 5.000 quilos de milho (alternativa A) e nenhuma quantidade de soja. No outro extremo, imaginemos que todos os recursos (terra, trabalhadores etc.) s soja. ‘Vamos, a seguir, representar graficamente a escala de possibilidades de producio entre milho e soja (Figura 1). Para tanto, utilizaremos um sistema de eixos cartesianos. ‘eixo das ordenadas (vertical) representaré a quantidade de milho que a fazenda pode ‘produzir. No eixo das abscissas (horizontal) representaremos a quantidade de soja que pode ser obtida. O ponto A indica uma situacio em que toda a terra esté sendo utilizada na pro- Gago de milho. Nesse caso, a produgio de soja é zero. O ponto F indica o outro ‘ecremo, ou seja, quando toda a terra é usada exclusivamente para plantar soja; logo, a produgio de milho € nula. Os pontos B, C, De E indicam possiveis combinagées inter- ‘=editias ao alcance do produtor na hipétese de a terra (e demais recursos) estar sendo plenamente utilizada. Podemos, agora, unir os pontos de A até F. A linha resultante denomina-se "Curva & Possibilidades de Producé0” (ou Fronteira de Possibilidades de Producao) e nos mostra sedas as combinagdes possiveis entre milho e soja que podem ser estabelecidas, quan > todos 0s recursos disponiveis esto sendo utilizados (significando estar havendo leno emprego de recursos). A Figura 2 nos fornece a representagdo grafica desse nosso exemplo. 50 HE capituot FIGURA 1 Possibilidades de produgao de uma fazenda ono $* 7500 7000 500 000 5.000 4000 tito aus) 000 2.000 4.000 FIGURA 2 Curva de possibilidades de produpao de uma fazendla 3.000 7.000 6000 | s0m- z = 000 000 + 2.000 1.000 ‘Questes Econdmizas Fundamentals Decorentas do Problama de Esrassez ¢ da Necesidade de Escola ll St 2.2.1 Eficiéncia Produtiva No nosso exemplo, a fazenda estar funcionando de maneira eficiente sempre que, 20 aumentarmos a producao de um bem, tivermos de reduzir a producao de outro bem. Assim, teremos eficiéncia produtiva somente se estivermos situados sobre a fron- teira (ao longo da linha AF), na qual aumentos na producao de soja deverao vir, neces- sariamente, acompanhados de diminuigdes na produgao de milho. Imaginemos, entao, que a fazenda esteja operando no ponto D. Nesse ponto si0 produzidos 5.000 quilos de milho e 3.000 quilos de soja. Se 0 fazendeiro optar por um aumento na producio de soja, a fazenda poderé passar a operar, por exemplo, no ponto E,no qual seréo produzidos 4.000 quilos de soja. Entretanto, esse aumento de produsa0 (de 3.000 para 4.000 quilos) s6 seré possivel se parte dos recursos (como, por exemplo, parte das terras), anteriormente destinados & produgio de milho, forem desviados para a producdo de soja. Conseqiientemente haveré uma diminuicao na producio de milho, de 5.000 para 3.000 quilos. 2.2.2 Custo de Oportunidade Acabamos de verificar que, se a fazenda estiver usando eficientemente seus recur- 50s (0 que indica uma situagdo de pleno emprego), um aumento na produgao de soja somente ocorrerd mediante diminui¢o na produeao de milho. Assim, o custo de um produto poder ser expresso em termos da quantidade sacrificada do outro. “Custo de Oportunidade” & expressao utilizada para exprimir os custos no que se refere as alternativas sacrificadas. Ainda de acordo com o nosso exemplo, se estivermos no ponto C da curva (6.500 quilos de milho e 2.000 quilos de soja) e quisermos passar para 0 ponto D, aumentando a producéo de soja para 3.000 quilos, esse aumento 86 sera conse- guido mediante o sacrificio de 1.500 quilos de milho. O “Custo de Oportunidade” desses 1.000 quilos adicionais de soja ser dado pelos 1.500 quilos de milho a serem sacrificacios Seguindo essa linha de raciocinio, 0 "Custo de Oportunidade” de se aumentar a pro- dugao de soja de 3.000 para 4.000 quilos (passagem do ponto D para o ponto E da curva de possibilidades de producéo) seré de 2.000 quilos de milho. Sintetizando, para que tenhamos a ocorréncia de "Custo de Oportunidade” & preciso mio $6 que 08 recursos sejant limitades, mas que estejam sendo plenamente utilizados. Qualquer que seja o movimento ao longo da curva de possibilidades de producao, fica claro que haverd uma “troca” entre soja e milho. Essa “‘troca” é conhecida em economia como “Custo de Oportunidade”. O “Custo de Oportunidade” 6 definido como sendo o valor da proxima melhor alternativa que deve ser sacrificada quando uma escolha ¢ feita Cabe-nos, aqui, fazer uma andlise um pouco mais aprofundada 2 respeito desse importante conceito na teoria econémica. “Aprendemos desde muito cedo que as pessoas tém de fazer escolhas porque existe a escassez. Devido as nossas ilimitadas necessidades em face dos limitados re- cursos existentes, algumas dessas necessidades nao serdo satisfeitas. Devemos, entio, fazer escolhas. O maior valor da oportunidade ou alternativa nao escolhida vem a ser © que chamamos de custo de oportunidade. Toda vez que fazemos uma escolha, in- corremos em um custo de oportunidade. Vocé pode, por exemplo, fazer uma escolha: jogar futebol. Ao fazer essa escolha, voc negou a vocé mesmo os beneficios que 52 Capitulo! obteria ao fazer qualquer outra atividade. Certamente, vocé estara deixando de lado uma série de outras coisas que também gostaria de fazer: ler um livro, ir ao cinema, assistir a uma novela na televisio etc. Qualquer coisa que vocé escolha fazer ao decidir nao jogar futebol é 0 seu custo de oportunidade de jogar futebol. Exemplificando: se vocé optar por ir ao cinema em vez de jogar futebol ~ supde-se que vocé ao néo jogar futebol optou por aquilo que considera a préxima melhor alternativa, uma vez que age racionalmente, e ndo iria escolher uma alternativa pior -, entio o custo de oportunidade de jogar futebol é ir ao cinema”. 2.2.3 Desemprego Pode acontecer, muitas vezes, que a fazenda esteja produzindo abaixo de suas pos- sibilidades. Isso pode ocorrer porque os recursos produtivos esto ociosos (terras inati- vas, trabalhadores desocupados). Essa situagao ¢ representada pelo ponto G no interior da curva de possibilidades de produgao (Figura 2). Nesta hipétese, a produgio de milho ou a de soja ou ambas podem ser aumentadas até alcancar a curva, simplesmente utilizando o servico dos fatores ociosos. Fazendo assim poderemos, por exemplo, passar ou do ponto G para ponto C (com a mesma produgao de soja e uma quantidade maior de milho), ou do ponto G para o ponto E (com a mesma quantidade de milho e uma produgio maior de soja) ou entdo do ponto G para o ponto D, quando ent&o teremos uma produgao maior de ambos os bens. Em contraposicao, pontos situados além da curva, tais como o ponto H, so inatin- giveis, uma vez que envolvem uma combinagdo de milho e soja que a fazenda, em virtude dos recursos e tecnologia disponiveis, no pode produzir. Conclui-se, portanto, que pontos situados além da fronteira s6 poderao ser alcancados mediante aumento na disponibilidade de fatores de produgao (a incorporagao de novas terras, por exemplo) e/ou mediante evolucao tecnolégica (a introdugo de sementes melhoradas, por exemplo) que permita aumento nas possibilidades de produc&o com os mesmos recursos produtivos. 2.3 A Curva de Possibilidades de Produgdo de uma Sociedade ‘Trabalhamos até agora com um cenério no qual uma fazenda, com certa dotagio fatorial e certo nivel tecnoldgico e que produzisse apenas dois bens, teria uma deter- minada curva de possibilidades de producio. Vimos também as opgdes de producio existentes & disposigao do fazendeiro e varias situagdes decorrentes da utilizagio de seus recursos produtivos. Veremos agora que o dilema da escolha no Ambito do Sistema Econémico é, em esséncia, semelhante ao do proprietério da fazenda. Sabemos, de antemao, que um sistema econémico é capaz de produzir milhares de produtos, desde que conte com adequada dotacao fatorial. Sabemos também que se a Economia deve decidir como os escassos recursos serao distribuidos entre as inimeras possibilidades de producao de bens e servigos, o dilema da escolha toma-se bastante complexo. E por essa raz3o que proporemos uma hipstese simplificadora: a de que a economia a ser estudada produza apenas dois bens econdmicos. © raciocinio a ser ela- borado a partir de agora sera semelhante aquele desenvolvido no caso da fazenda.

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