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CHARTIER, Roger. O mundo como representao. Estudos Avanados. v.11,n.

5,
p.173-191. 1991.

Este retorno a Marcel Mauss e Emile Durkheim e noo de " representao coletiva"
autoriza a articular, sem dvida melhor que o conceito de mentalidade, trs modalidades
de relao com o mundo social: de incio, o trabalho de classificao e de recorte que
produz configuraes intelectuais mltiplas pelas quais a realidade contraditoriamente
construda pelos diferentes grupos que compem uma sociedade; em seguida, as
prticas que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira
prpria de ser no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posio; enfim,
as formas institucionalizadas e objetivadas em virtude das quais "representantes"
(instncias coletivas ou indivduos singulares) marcam de modo visvel e perptuo a
existncia do grupo, da comunidade ou da classe (CHARTIER, 1991,p.183)

Uma dupla via abre-se assim: uma que pensa a construo das identidades sociais como
resultando sempre de uma relao de fora entre as representaes impostas pelos que
detm o poder de classificar e de nomear e a definio, de aceitao ou de resistncia,
que cada comunidade produz de si mesma; outra que considera o recorte social
objetivado como a traduo do crdito conferido representao que cada grupo d de
si mesmo, logo a sua capacidade de fazer reconhecer sua existncia a partir de uma
demonstrao de unidade (183).

A relao de representao , desse modo, perturbada pela fraqueza da imaginao, que
faz com que se tome o engodo pela cerdade, que considera os signos visveis como
ndices seguros de uma realidade que no o . Assim desviada, a representao
transforma-se em mquina de fabricar respeito e submisso, num instrumento que
produz uma exigncia interiorizada, necessria exatamente onde faltar o possvel
recurso fora bruta: "S os homens de guerra no esto disfarados assim, porque na
realidade a sua parte mais essencial: estabelecem-se pela fora, ao passo que os outros
o fazem pela aparncia" (p.185)

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