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Ação coletiva para qualidade de vida: autonomia,

ARTIGO ARTICLE
transdisciplinaridade e intersetorialidade
Collective action for quality of life: autonomy,
transdisciplinarity and intersetoriality

Gert Ferreira Wimmer 1


Gustavo de Oliveira Figueiredo 2

Abstract In this study the social work lived by Resumo As práticas de trabalho intersetorial e
it’s authors have been taken as an object of analy- transdisciplinar vivenciadas pelos pesquisadores
sis by the human sciences. We have related our no Programa de Saúde da Família e no Programa
living experiences in the Family Health Program de Agentes Comunitários de Saúde (PSF/PACS)
and in the Program of Health Agents in order to são tomadas como objeto de análise a partir do
show our way of constructing local intersectorial referencial teórico das ciências humanas. A refle-
actions. This is a qualitative study having as main xão crítica das intervenções discute como as ações
objective the discussion of the representations and coletivas intersetoriais e transdisciplinares, quan-
values thru the social processes and thru the indi- do desenvolvidas com o objetivo de fortalecer a
vidual subjective processes. By doing the analysis autonomia dos sujeitos e o exercício da contra-he-
of our interventions we will discuss the potential- gemonia política, contribuem para a melhora da
ities of the intersectorial actions in the work of qualidade de vida da população.
promoting health. Palavras-chave Ação coletiva, Qualidade de vi-
Key words Collective action, Health quality, Au- da, Autonomia, Transdisciplinaridade, Interseto-
tonomy, Transdisciplinarity, Intersectoriality rialidade

1 Escola Nacional de Saúde


Pública, Fiocruz.
Av. Leopoldo Bulhões 1.480,
Manguinhos, 21041-210,
Rio de Janeiro RJ.
gertwimmer@yahoo.com.br
2 Escola de Governo em
Saúde e ENSP, Fiocruz.
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Wimmer, G. F. & Figueiredo, G. O.

Apresentação ridade como um processo histórico de inter-


venção na realidade social complexa de comu-
Este estudo analisa a práxis dos pesquisadores nidades onde se vive o processo de exclusão
com equipes de saúde nas comunidades da Vila social.
do João e de Curicica no Rio de janeiro e à luz Apresentaremos a seguir vivências com a
das idéias de transdisciplinaridade, qualidade equipe do Posto de Saúde da Vila do João, no
de vida e ação intersetorial já que para Testa1, o Complexo da Maré, e com a equipe do Progra-
profissional de saúde deve aliar a argumenta- ma de Saúde da Família de Curicica, localizada
ção teórica à sua vivência prática e as suas vi- no bairro de Jacarepaguá – ambas no municí-
vências práticas ao embasamento teórico, nu- pio do Rio de Janeiro.
ma relação recíproca e integrada. Nóvoa2 acre-
dita que as reflexões dos profissionais sobre a
sua prática não podem apenas se direcionar Relato de intervenção
para teorias geradas em outros ambientes; são no PACS da Vila do João
construídas a partir de sua realidade profissio-
nal. Em consonância com estes autores nos O Complexo da Maré é constituído de 16 co-
sentimos instigados a realizar uma análise crí- munidades e habitado por 113.817 pessoas, se-
tica das nossas práxis num processo embasado gundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geo-
no rompimento processual com um saber está- grafia e Estatística (Brasil5). São 38.273 domi-
tico imposto e que rejeitamos ao longo de nos- cílios, formando o mais populoso conjunto de
sas vidas, principalmente na Faculdade de favelas do município do Rio de Janeiro e do
Odontologia onde, de acordo com Figueiredo3, Brasil5. A população da Maré representa, em
os currículos de formação do profissional de sua maioria, a classe mais explorada pelo siste-
saúde continuam impregnados pelo estudo de ma capitalista: a da população de baixa renda.
técnicas e patologias em detrimento das com- O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Ma-
plexidades humanas e sociais. ré (CEASM), financiado pelo Banco Nacional
Acreditamos que a complexa situação so- de Desenvolvimento Social (BNDES), realizou,
cial de exclusão em que vive a maior parte da em 2000, um Censo no Complexo da Maré e
população não pode ser resolvida apenas com verificou que, já na década de 1990, o número
ações setoriais, mas a partir de micro e ma- de analfabetos chegava a 20%. Segundo dados
croestratégias intersetoriais construídas em ar- do IBGE (Brasil5), já existia na região metro-
ticulação por Estado e Sociedade Civil. A inefi- politana do Rio de Janeiro, em agosto de 2003,
ciência das políticas públicas bem como das di- cerca de 10 mil pessoas que gostariam e esta-
ferentes instâncias de gestão freqüentemente vam disponíveis para trabalhar.
desviam recursos públicos e geram apatia. En- A taxa de analfabetos adultos da Maré é de
tretanto, não podem impedir que as parcerias 7,9% e, ainda segundo o IBGE (Brasil5), o tra-
locais ocorram. balho infantil atinge índices altos na Maré. Se
Antes de assumirmos uma abordagem teó- for considerado que o analfabetismo é uma
rico-metodológica, foi preciso reconhecer a forma de despolitização da população, pode-se
perspectiva proposta por Thiollent4 de que a vi- dizer que este fato é um reforço às práticas he-
são de mundo dos pesquisadores e a de outros gemônicas. Segundo Vázquez6 a despolitização
atores sociais sujeitos deste estudo estão impli- cria um imenso vazio nas consciências, o que
cadas em todo o processo de construção e que o só pode ser útil à classe dominante, uma vez
estudo qualitativo tem o objetivo de captar re- que, a partir disso, as consciências são rechea-
presentações e valores simultaneamente no “cam- das com atos, preconceitos, hábitos, lugares co-
po dos processos sociais” e no “campo dos proces- muns e preocupações que colaboram para man-
sos subjetivos individuais”. Optamos por reco- ter a ordem social. Entretanto há resistência, a
nhecer o caráter coletivo do trabalho prático Maré apresenta um grande desenvolvimento de
que nos permitiu construir esses relatos de in- ações populares, além de núcleos de atuação
tervenção e, com o objetivo de valorizar o pro- política e cultural que remontam aos princí-
tagonismo das equipes das unidades de saúde pios de sua história, quando as moradias no lo-
em que trabalhamos, por utilizar conjugação cal eram palafitas.
verbal em primeira pessoa do plural. Assim, como ficou patente na questão da
O estudo se fundamenta na construção de educação, o acesso também é restrito em rela-
ações coletivas embasadas na transdisciplina- ção à saúde. Ao analisar a Constituição Brasi-
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leira e fazer uma comparação com a realidade cer que o grupo poderia trazer temas do coti-
de famílias da Maré, Wimmer7 afirma que falta diano de suas vidas para serem debatidos.E,
saúde à grande maioria da população desta lo- ainda, que a equipe não estaria ali para ditar re-
calidade. gras de higiene bucal, mas para discutir a saúde
Isto se justifica pelo fato de a fome ser uma da comunidade como conviesse ao coletivo, já
realidade na Maré; de haver muitas moradias que, por vezes, a possibilidade do atendimento
precárias em suas estruturas; valões a céu aber- clínico era vinculado à “palestra”. Cabe ressal-
to estão presentes na comunidade sob o pseu- tar, entretanto, que a identidade de profissio-
dônimo de canal; de ocorrência de violência nais de saúde bucal que nos é conferida em al-
urbana nesses espaços por conta de conflitos guma hora despertou a curiosidade das pessoas
do tráfico com a polícia e de facções rivais do pelos assuntos referentes à bucalidade, sem que
tráfico, o que torna muitas vezes o meio am- tivéssemos imposto uma abordagem vertical
biente hostil; na Maré são muitos a enfrentar o do tema. É preciso que se respeite a curiosida-
desemprego; enormes filas atravessavam a ma- de e os interesses da população quando se pre-
drugada para se conseguir uma vaga na escola tende construir ações realmente coletivas.
pública; o lazer ocorre nos bailes locais ou nas Na primeira reunião de equipe no posto,
ruas, nos espaços esportivos, bares, ONGs. decidiu-se, a partir de uma demanda local, pela
Não é possível, portanto, discutir políticas realização de um trabalho interdisciplinar, com
públicas em saúde, baseando-se apenas em as- um grupo de jovens de uma associação de mo-
pectos biológicos, sem levar em conta os co- radores próxima ao posto, a respeito de sexua-
nhecimentos locais. Ampliando a discussão pa- lidade. Ao todo, participaram em torno de 500
ra Campos8, diz-se que só o reconhecimento de adolescentes, divididos em grupos de 25 indi-
que todo saber estruturado é limitado por par- víduos, para os quais foram desenvolvidas ofi-
te dos profissionais de saúde, já seria um cami- cinas de quatro encontros, abordando os se-
nho para uma clínica mais contextualizada e guintes temas: crescimento e desenvolvimento,
expandida. métodos contraceptivos, gravidez, DST/ Aids,
Dando início aos trabalhos com a equipe de drogas lícitas e ilícitas. É importante ressaltar a
saúde bucal da UBS, fomos então realizar um idéia do conhecimento transdisciplinar traba-
grupo de puericultura, quando uma das mães lhado nessas oficinas, que respeitavam o dire-
presentes nos fez o seguinte questionamento: cionamento dado pela população, na busca por
“A palestra é com o dentista? Eu queria ouvir o uma construção que desmembrasse o conheci-
pediatra, aqui não tem nem cadeira de dentis- mento técnico estruturado e o contextualizas-
ta!” Iniciou-se, então, a desvinculação de um se, corroborando para a definição de Vázquez6
futuro atendimento clínico da unidade, da ati- de que, só os homens são capazes de destruir o
vidade coletiva, explicando que as pessoas só que eles mesmos criaram para abrir caminho a
deviam permanecer no recinto se tivessem von- uma nova criação. As oficinas se desenvolviam,
tade, mas, que seria um enorme prazer, para a portanto, com dinâmicas de interação em que
equipe, poder conversar com elas. Prosseguiu- os conceitos eram produzidos coletivamente
se, dizendo que, apesar de sermos uma equipe em lugar das entediantes palestras expositivas.
de saúde bucal, não acreditávamos em falar só A culminância deste projeto se deu com
de boca como forma de promoção da saúde, um evento chamado “Espaço aberto à saúde”,
inclusive bucal. E que, portanto, não se falaria envolvendo vários projetos e instituições que
só de dentes, mas sim, de assuntos que elas atuam na Maré, como postos de saúde, Orga-
achassem interessantes. Este foi um dos grupos nizações não-governamentais (ONGs) e asso-
de puericultura mais construtivos de que já ciações de moradores. Acredita-se que este
participei até hoje, e aquela que começou co- projeto tenha sido um fator de integração para
mo opositora à realização foi quem, com seu as entidades que trabalhavam com jovens na-
senso critico, mais contribuiu, terminando por quela área, facilitando uma possível prática in-
dizer que embora antes não estivesse entusias- tersetorial futura, já que para a organização
mada a conversar com o dentista, saíra conven- deste trabalho foram necessárias diversas reu-
cida de que ele era “gente boa”. niões. Neste evento, houve apresentação de
Foi, portanto, necessário que se despisse da circo; capoeira; cavaquinho; street dance; pesa-
identidade autoritária legada ao dentista, para gem e medição da população; tenda de plane-
que a comunicação pudesse ocorrer. Para isso, jamento familiar e prevenção das DSTs; esco-
realizou-se uma reflexão no sentido de esclare- vação supervisionada dos dentes, com distri-
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Wimmer, G. F. & Figueiredo, G. O.

buição de kits de escovação e orientações à fa- O trabalho intersetorial em parceria com


mília com subseqüente atendimento dos casos uma ONG permitiu-nos um trabalho conjunto
de urgência odontológica pela equipe do posto com a assistente social do posto para jovens da
da Vila do João em outro posto de saúde com região. Como proposta inicial, foram aborda-
o qual se estabeleceu uma parceria (um espaço dos os contrastes encontrados na comunidade;
contínuo para o atendimento clínico das ur- tudo aquilo que o grupo acreditava ser bom ou
gências). E houve, ainda, tenda sobre hiperten- ruim na Maré. Na seqüência, discutiu-se sobre
são e diabetes, onde a população podia fazer o as barreiras físicas, sociais e psicológicas que lhes
teste da curva glicêmica e aferir a pressão arte- eram impostas pela sociedade e pelo Estado.
rial; tenda de exposição de artesanato feito Chegou-se à conclusão de que a Maré é cer-
com material reciclado; tatuagem com rena; cada por muros e grades, que “protegem” as
tenda de informações sobre os direitos da mu- principais vias de escoamento do Rio de Janei-
lher. A interação das diversas instituições no ro. Recentemente pudemos confirmar a sabe-
sentido de uma formulação conjunta, pode-se doria desses jovens, já que foi proposta pelo go-
dizer, foi um fator importante para a abran- verno do Estado do Rio de Janeiro a constru-
gência e magnitude do evento. ção de um muro em volta das vias expressas do
Aos poucos, a saúde bucal começou a per- Rio para “protegê-las” das favelas. Outra bar-
mear os programas do posto de saúde. Certo reira discutida foi o preconceito que os jovens
dia se fez uma discussão com o grupo de hiper- da Maré dizem sofrer, quando estão fora de
tensos e diabéticos, a maior parte deles já na suas comunidades. A repressão policial tam-
terceira idade, sobre os conceitos de saúde, a bém foi considerada uma barreira pelos jovens,
relação com o corpo e com a boca (edêntula ou já que interfere no seu direito de ir e vir, assim
não, incluam-se aí as próteses) e a necessidade como as barreiras impostas pelas diferentes
de eles, como educadores dos seus filhos e ne- facções do tráfico, que ocupam as comunida-
tos, assumirem a responsabilidade pela saúde des da Maré. E o trabalho com os jovens teria
dos parentes mais jovens. No encontros subse- fortes limitações, se os exemplos trazidos à dis-
qüentes com esse grupo, a equipe da Unidade cussão não viessem dos próprios jovens, já que,
organizou um café da manhã com a presença segundo Cordón9, reformar a estrutura sanitá-
de um nutricionista na UBS. O objetivo foi cri- ria deve levar em conta a criação de um mode-
ar uma oportunidade para se discutir as vanta- lo de atenção à saúde com co-responsabilida-
gens de uma alimentação saudável, em vez de de, participante e democrático.
chamar as pessoas para proibir o consumo de Decidiu-se, com os jovens, que era preciso
coisas que lhes dão prazer. que o grupo se apropriasse da cidade, já que
A equipe começaria agora a capacitação dos muitos não conheciam as áreas de lazer gratui-
Agentes Comunitários de Saúde, em conjunto tas do Rio de Janeiro. O objetivo era incentivá-
com a equipe de saúde bucal da Unidade Bási- los a ocupar o espaço urbano e discutir o direi-
ca de Saúde Gustavo Capanema. O primeiro to de usufruto das qualidades da cidade. Fez-
grupo a ser capacitado foi o de agentes do Pos- se, então, um passeio à floresta da Tijuca e à ca-
to de Saúde Gustavo Capanema, seguido pelo choeira do Horto no Jardim Botânico, onde
da Vila do João e da Nova Holanda. A capaci- também se aproveitou para discutir a questão
tação constava de quatro momentos construí- do lixo na Maré e a diferença dos climas entre
dos coletivamente, quando se discutia: a con- um lugar arborizado e um local desprovido de
cepção de saúde dos agentes; o conceito de saú- árvores, como a Maré.
de bucal deles e o nosso; a anatomia da cavida- O trabalho com esses jovens teve a sua cul-
de bucal e abordagem que os agentes fariam na minância realizada em evento, em um hotel na
comunidade. Acredita-se, a partir desta expe- cidade de Nogueira, região serrana do Rio de
riência, que o trabalho com os agentes comu- Janeiro, graças a uma parceria realizada com o
nitários seja de suma importância para dar ca- Sesc. Neste encontro, jovens de diferentes pólos
pilaridade a ações da equipe de saúde, permi- e comunidades tiveram a oportunidade de de-
tindo uma maior abrangência das ações de mo- monstrar e discutir os seus respectivos traba-
bilização da comunidade. A parceria com a lhos e de se entrosar através de práticas despor-
equipe da UBS Gustavo Capanema nos permi- tivas e do lazer. Vale ressaltar que muitos dos
tiu atender às urgências da nossa unidade, já jovens talvez nunca tivessem se encontrado, já
que eles nos cederam uma cadeira para o aten- que moram em regiões diferentes muitas vezes
dimento curativo. proibidas de interação, por pertencerem aos
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domínios de diferentes facções do tráfico. Pen- auxiliar na compreensão do estado de miséria
samos que a discussão da realidade local é de da comunidade: 99,1% das famílias não pos-
suma importância para a promoção da saúde suem sistema de descarte de esgoto, 93% das
coletiva. Sem ela, corremos o risco de sermos famílias convivem com lixo a céu aberto, 30%
higienistas e fortalecedores de um sistema he- das famílias sem acesso à água do sistema pú-
gemônico (Gruppi10) que culpabiliza a popu- blico de abastecimento e 68% das pessoas da
lação por problemas dos quais são vítimas. Há comunidade não participam de nenhum grupo
que se politizar até mesmo o ato de se escovar social na comunidade, enquanto somente cerca
os dentes como uma opção pelo não consumo de 22% participam ao menos de grupos e asso-
da tecnologia das amputações. Não se pode ne- ciações religiosas.
gar, aí, a necessidade de atendimento curativo, Com o objetivo de construir junto com a
o qual é muito importante na atual condição população uma resposta que desse conta de dis-
de saúde da população. cutir as diversas demandas coletivas da comu-
nidade, a equipe de saúde da família propôs a
articulação de uma ação coletiva intersetorial
Relato de intervenção no PSF de Curicica denominada 1o Encontro de Famílias.
O 1o Encontro de Famílias do PSF – Curi-
A comunidade de Curicica localiza-se na região cica aconteceu na Escola Municipal Silveira
de Jacarepaguá, município do Rio de Janeiro, Sampaio e contou com a participação de 117
numa área com população de baixa renda, com famílias da comunidade abrangida pelo pro-
ocupação desordenada dos espaços, não obe- grama e um número aproximado de 564 parti-
decendo às diretrizes de urbanização. O pro- cipantes dentre os 820 jovens e adultos inscri-
cesso de favelização resultou da falta de uma tos para participar do encontro. As inscrições
política de habitação coerente com as necessi- foram realizadas em dois dias no módulo do
dades da população, levando a um aumento de PSF – Curicica e tiveram de ser encerradas an-
moradias precárias construídas em áreas sujei- tes do prazo previsto devido à enorme procura.
tas à erosão e a enchentes provocadas pelo trans- Na comunidade as Agentes Comunitárias de
bordamento dos rios. O padrão de moradia Saúde foram insistentemente abordadas por
popular reflete assim um dos efeitos da situa- pessoas que exigiam uma vaga para a sua famí-
ção econômica precária em que vive a comuni- lia no Encontro. Este fato já era previsto, uma
dade e do descaso do poder público. Não obs- vez que devido às restrições orçamentárias o
tante o problema de moradia, a população en- evento havia sido planejado para apenas 800
frenta problemas mais graves como a fome crô- pessoas, e isto equivale a cerca de 8% da popu-
nica e aguda, falta de vagas em creches e esco- lação atingida pelo Programa. Portanto, apesar
las, enchentes, convívio diário com ratos e ou- da alta eficiência qualitativa, numericamente
tros vetores de doenças, violência e abuso do tivemos um baixo impacto. O custo total de
poder policial, altos índices de desemprego, fal- realização do evento, que preferimos denomi-
ta de perspectiva de futuro, abuso no uso de nar de investimento, não passou de quatro sa-
drogas lícitas e ilícitas com ênfase no álcool e lários mínimos.
na cocaína (o primeiro com maior prevalência Com o objetivo de nos afastar do modelo
entre adultos e o segundo com maior prevalên- assistencialista proposto pelos eventos organi-
cia em adolescentes e adultos jovens). zados por políticos, fundações, redes de televi-
O Programa de Saúde da Família de Curici- são, etc., optamos por trabalhar com a idéia de
ca atende cerca de 3.980 famílias e 9.772 pes- arte, lazer e educação política.
soas com apenas duas equipes de saúde da fa- No dia do evento foram realizadas ativida-
mília composta por 1 supervisor (assistente so- des de esporte, lazer e, com grande destaque,
cial), 2 médicos, 2 enfermeiros, 1 dentista, 2 au- foram realizadas 17 oficinas de arte/educação
xiliares de enfermagem, 1 técnico de saúde bu- diferentes dentre as quais cada pessoa poderia
cal e 1 auxiliar de saúde bucal. Como os profis- escolher por duas, a saber: teatro, música (com
sionais possuem vínculo empregatício precá- ênfase em hip hop e funk), reciclagem de lixo,
rio, freqüentemente a equipe entra em greve e artesanato, dança, capoeira, grafitagem, além
suspende suas atividades por atrasos de até de jogos e dinâmicas para a discussão de temas
quatro meses nos salários. como drogas, sexualidade e organização popu-
Algumas informações estatísticas do Siste- lar da comunidade. Além das oficinas, foi reali-
ma de Informação em Atenção Básica podem zada uma plenária popular com o objetivo de
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Wimmer, G. F. & Figueiredo, G. O.

identificar as necessidades mais urgentes da co- ocupação de proporcionar prazer para os di-
munidade e formar grupos de trabalho com o versos segmentos etários que formam a mesma
objetivo de desenvolver ações capazes de en- família, o que viabilizou a possibilidade da es-
contrar respostas para necessidades levantadas colha entre ficar em atividades diferentes ou
coletivamente. participar de uma mesma atividade. Seja qual
Ainda como atividade do encontro, for- tenha sido a opção, a família teve uma expe-
mou-se uma comissão para organizar a eleição riência comum, um momento de aprendizado
de um Conselho Popular de Saúde, que será e lazer que despertou a curiosidade e o interes-
um grupo de pessoas eleito pela própria comu- se de seus integrantes como um todo e, certa-
nidade e trabalhará em parceria direta com o mente, se tornou numa experiência de vida
PSF – Curicica e com o Conselho Local de Saú- forte naquele contexto, criando referências afe-
de para organizar ações que possam melhorar tivas, laborativas ou mesmo políticas.
a qualidade de vida da comunidade de Curici-
ca, o que está de acordo com Jha11, quando 2) Promover a integração das diferentes famí-
afirma que a verdadeira democracia participati- lias por meio de ações coletivas – educati-
va ainda tem de surgir, já que democracia não vas e culturais –, de forma a possibilitar o
deve ser reduzida a eventos eleitorais e ao direito questionamento da realidade concreta em
a voto. Uma das principais condições para o que se vive em Curicica
exercício pleno da democracia é a capacidade
de discutir abertamente e sem restrições os A integração entre as famílias ocorreu du-
principais insumos nacionais e problemas que rante as apresentações artísticas da abertura do
transcendem os limites nacionais, [...] no senti- evento, durante as oficinas, o almoço, as brin-
do de tomar-se decisões, que sejam uma reflexão cadeiras, o lanche e o show de encerramento.
dos desejos e sentimentos da população11. Foi possível observar desde crianças fazendo
Sem ações coletivas intersetoriais as práti- passos de balé, até um casal de idosos apren-
cas governamentais correm o risco de serem es- dendo a fazer pátina em madeira. Não pode-
truturalistas e orgânicas à hegemonia do Esta- mos deixar de citar os diversos casais adoles-
do, acabando dessa forma a imaginação que o centes, grávidos ou não, das crianças que pin-
homem faz de si (“de si”, neste caso, inclui to- tavam enquanto os pais bordavam. Não pode-
dos os homens) por dominar o próprio ho- mos esquecer da mãe que amamentava ao seio
mem (Marx12). Realizamos ainda neste dia um sua criança que conhecemos nas consultas de
campeonato entre as famílias, de forma a pro- puericultura ou até mesmo antes pela ultra-so-
porcionar um momento de integração intra e nografia do pré-natal. Ainda mais injusto seria
extrafamiliar capaz de fortalecer vínculos e deixar de sublinhar a presença vigorosa dos ho-
também criar um espaço de entretenimento. mens. Homens que o Programa de saúde da
Os esportes e outras atividades de lazer como Família raramente atende, porque ele está tra-
bingo e jogos de cartas serão estimulados, já balhando. Eles também estavam lá, discutindo
que estas atividades podem reconhecidamente a organização comunitária, aprendendo a fazer
potencializar a formação de grupos. caixas de presente, pintando ou jogando ca-
poeira.
Objetivos e avaliação das ações coletivas
desenvolvidas em Curicica 3) Criar um espaço que proporcione um mo-
mento de lazer onde as famílias possam co-
1) Trabalhar a totalidade do núcleo familiar, nhecer pessoas, fazer amizades e fortalecer
estimulando a participação de todos os vínculos, uma necessidade sentida pela co-
membros e proporcionando uma experiên- munidade e de fundamental relevância pa-
cia comum à família ra estimular a participação popular no PSF

Este objetivo foi alcançado na medida em Nestes momentos de lazer que compreen-
que presenciamos a freqüência de pessoas de deram bingo, gincana de atividades, pelada de
diversas idades de uma mesma família, inclusi- futebol ou ginga de capoeira, as diversas famí-
ve a figura paterna, sempre tão ausente da fa- lias puderam se conhecer (ou re-conhecer) e
mília porque tem de trabalhar e ser explorado afirmar sua identidade de vizinhos e de mora-
nas atividades do dia-a-dia. Ao oferecer diver- dores das comunidades expropriadas de Curi-
sas atividades simultaneamente, tivemos a pre- cica. Com estes encontros se formaram novos
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vínculos afetivos, novos contatos, novas possi- ver um maior desenvolvimento socioeco-
bilidades de relação entre aquelas pessoas. Esta nômico na região
integração facilitou também a percepção de
que os problemas são comuns a todos e não Ainda se constitui um grande desafio para
simplesmente problemas individuais. Foi pos- a equipe organizar estas lideranças comunitá-
sível perceber, portanto, que o desemprego e o rias identificadas durante o trabalho para que,
saneamento básico (água, lixo e esgoto) são pro- efetivamente, se constituam um grupo de pres-
blemas maiores que as capacidades individuais são para as estruturas locais de poder. Mais de-
de reivindicação e que se faz necessária uma safiador ainda será fazer a comunidade acredi-
união em torno de objetivos comuns para que tar que o imobilismo que lhe é imposto pode
se possa atingir uma melhoria na qualidade de ser rompido por meio de um esforço conjunto.
vida local. Sem o apoio da comunidade, este evento não
teria ocorrido pois dela mesma foi a financia-
4) Discutir com as famílias presentes os fato- dora de metade do evento. A Gincana de Ado-
res que interferem em sua qualidade de vi- lescentes, outra ação coletiva realizada pelo
da e as formas possíveis de se organizar pa- PSF – Curicica, que reuniu cerca de 400 adoles-
ra lutar por seus direitos e reivindicar, de centes e foi acompanhada e avaliada pelo Cen-
forma ativa, dos órgãos do governo um tro de Informação Científica e Tecnológica do
conjunto de ações capaz de resolver as prin- Departamento de Comunicação e Saúde da
cipais necessidades levantadas Fundação Oswaldo Cruz (Araújo e Cardoso13),
foi mais uma constatação de que a organização
Devido a um atraso na agenda, não foi pos- intersetorial e a união transdisciplinar em tor-
sível realizar uma discussão com a totalidade no de um esforço comum são capazes de fazer
das pessoas presentes no evento. Optou-se, en- uma pequena revolução. A articulação com o
tão, por estimular a reflexão sobre os proble- setor privado ainda é difícil de se atingir em ní-
mas da comunidade somente entre as pessoas vel local e comunitário já que somente prestam
que claramente demonstrassem interesse em auxílio se têm um eficiente programa de “res-
discutir os problemas de saúde da região. Sen- ponsabilidade social” que financia ações apro-
do assim, unimos o grupo que na parte da ma- vadas pelas diretorias de marketing com di-
nhã havia ficado na oficina de participação po- nheiro do governo camuflado pelos descontos
pular ao grupo que na parte da tarde se interes- no Imposto de Renda ou algum interesse espe-
sou em conversar um pouco sobre qualidade cífico no território da comunidade.
de vida. Agendou-se uma reunião deste grupo
naquela mesma semana, participando do en-
contro mais de 15 pessoas da comunidade, que Reflexão a partir da práxis
discutiram um pouco mais sobre a política de
Curicica, as estruturas de poder já existentes e Ação coletiva, intersetorialidade,
a necessidade de criar vias alternativas de asso- transdisciplinaridade e autonomia
ciação dos moradores em torno dos problemas
comuns. Este grupo está sendo articulado para A complexidade do setor saúde não permi-
participar do 1o Encontro Popular de Saúde, te uma abordagem dos problemas que se reali-
que será realizado como uma atividade prepa- ze de forma fragmentada por estruturas seto-
rativa para a Conferência Distrital de Saúde. rializadas. Para enfrentar de forma eficiente os
Acreditamos que, com a continuidade do tra- problemas de saúde em que vive a população,
balho, será possível organizar um grupo de somente ações coletivas, intersetoriais, trans-
pessoas, líderes da comunidade, para participar disciplinares e que proporcionem o desenvol-
da conferência e, assim, institucionalizar as rei- vimento de autonomia nos sujeitos podem
vindicações dos moradores de Curicica e pres- apresentar resultados satisfatórios (Junqueira
sionar os órgãos do governo para adoção de et al.14, Junqueira e Inojosa15).
um conjunto de ações que seja capaz de resol- O caminho para a estruturação de ações
ver as principais necessidades levantadas. coletivas mais complexas, que dêem conta da
realidade e de suas diversas nuances, é a articu-
5) Organizar a comunidade para que seja ca- lação intersetorial e transdisciplinar. A interse-
paz de formar parcerias com instituições torialidade é uma prática integradora de ações
públicas e privadas, no sentido de promo- de diferentes setores que se complementam e
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Wimmer, G. F. & Figueiredo, G. O.

interagem, para uma abordagem mais comple- possíveis não fosse: 1) a valorização e incorpo-
xa dos problemas. ração da sabedoria local; 2) o esforço transdis-
Para a Rede Unida16, a construção e a via- ciplinar da equipe das unidades básicas de saú-
bilidade política de um projeto intersetorial de e 3) as parcerias com outros setores trans-
passa por um novo olhar e um novo agir sobre versais ao setor saúde.
a realidade, sob a lógica de problemas prioritá-
rios, definidos democraticamente, cuja redu-
ção ou controle necessita de conhecimentos, Construir é enfrentar problemas
habilidades e compromissos de vários setores, e propor
cujos sujeitos precisam encontrar novas formas
de relação com os outros. Um aspecto impor- Neste estudo analisamos ações coletivas desen-
tante da intersetorialidade é, como afirma volvidas pelas equipes do Programa de Saúde
Bourguignon17, a possibilidade de enfrenta- da Família de Curicica e do Posto de Saúde da
mento de problemas multidimensionais como Vila do João. Optamos por elaborar um relato
a exclusão social, que exige uma abordagem que valorizasse a idéia de que construir é en-
marcada pela complexidade e pelo pensamento frentar problemas e propor soluções, levando
transdisciplinar. em consideração a possibilidade de contra-he-
A transdisciplinaridade, segundo Piaget, não gemonia inerente a qualquer espaço político,
se limita às interações e à reciprocidade, mas in- estimulando a crítica social e a compreensão de
clui essas interações em um “sistema total” sem que a realidade de vida que se vivencia na po-
limites entre as disciplinas. Esta perspectiva está breza não é natural, mas reflexo da exploração
certamente mais próxima de atingir as necessi- social histórica gerada pelo lucro.
dades da comunidade de forma integral. Quan- A partir de nossa experiência, podemos
do se fala de transdisciplinaridade não está se fa- afirmar que nas lutas hegemônicas e contra-
lando de uma “geléia geral” de Campos8, mas hegemônicas, a produção e a regulamentação
sim, de uma abordagem, que seja “[...] comple- do desejo são tão importantes quanto a cons-
mentar à aproximação disciplinar”. trução do significado e que a idéia e a experiên-
Segundo a Carta da Transdisciplinarida- cia do prazer devem ser construídas politica-
de18, pensar transdisciplinarmente deve pro- mente, para que se possa analisar como o cor-
mover não só um diálogo das ciências exatas po se torna sujeito do prazer. Neste caso, de
com as humanas, como também levar em con- acordo com Botazzo21, o próprio prazer se tor-
ta fatores como as artes, mitos e religiões. O na o consentimento da vida no corpo e propor-
que está de acordo com a concepção de auto- ciona uma importante condição corpórea da
nomia proposta por Freire19 quando afirma vida, e talvez um importante instrumento/mo-
que educar é proporcionar autonomia de esco- mento revolucionário.
lhas, uma cultura de vida, associando à idéia de O profissional de saúde, o sanitarista, o edu-
autonomia a idéia de liberdade e de força pes- cador, etc. podem – e devem – apoiar a comu-
soal e coletiva para intervenção na realidade e nidade para que ela mesmo vença as suas difi-
escolha dos próprios caminhos. Para Carva- culdades, e estas não devem ser ditadas por um
lho20, os estudos em saúde pública proporcio- único setor, mas construídas numa discussão
nam o desenvolvimento de autonomia quando intersetorial que fortaleça um processo de to-
orientam os profissionais no sentido da reali- mada de consciência e de enfrentamento dos
zação de uma “reforma organizacional”, que problemas vividos na realidade cotidiana pela
permita a inclusão de novos sujeitos na cons- comunidade. Para tanto, faz-se necessário que,
trução de projetos para a saúde. além da capacidade científica, do domínio téc-
Acreditamos que pelas ações coletivas é pos- nico e da ação política, tenhamos ainda com-
sível intervir na realidade local por meio da promisso com o desenvolvimento de autono-
prática da intersetorialidade, da transdiscipli- mia da comunidade fundamentado em certas
naridade e da educação para autonomia. Assim atitudes como amor, escuta, afetividade, respei-
estamos mais próximos de pensar as necessida- to, tolerância, humildade, alegria, gosto pela vi-
des da comunidade de forma mais ampla e de da, abertura ao novo, disponibilidade à mu-
agir nos problemas de forma menos pontual e dança, esperança, abertura à justiça. É necessá-
considerando toda sua complexidade. As cons- rio, então, auxiliar na descolonização vivida
truções relatadas nas duas intervenções, tanto pelas pessoas da comunidade em seu corpo,
de Curicica quanto da Vila do João, seriam im- trabalhando com arte, cultura e subjetividade,
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Ciência & Saúde Coletiva, 11(1):145-154, 2006


ou seja, seus sentimentos, emoções, e verdadei- transdisciplinar dos saberes baseada no con-
ros desejos no intuito de fortalecer os proces- frontamento, na reconstrução e na articulação
sos de tomada de consciência e conquista da das diferentes especialidades dos atores envol-
autonomia. vidos, das realidades e organizações dos setores
Ressaltamos a necessidade e a importância cujas ações tenham impacto nas condições de
de uma integração plena com a comunidade no vida da população; 2) práticas intersetoriais,
levantamento crítico das suas necessidades e que possibilitam uma maior integralidade de
problemas garantindo uma interpretação dia- atuação de diferentes setores que se comple-
lética e transdisciplinar da realidade. mentam e interagem para uma abordagem
As ações coletivas podem ser desenvolvidas mais complexa dos problemas da saúde; 3) au-
como estratégias eficientes para a melhoria da tonomia dos sujeitos e mobilização popular,
qualidade de vida da população, quando se fun- com o empoderamento do direito à vida com
damentam na intersetorialidade, na transdisci- qualidade e a partir de uma participação mais
plinaridade e no desenvolvimento de autono- ativa no diagnóstico de problemas e na geração
mia dos sujeitos, já que permitem não somente de iniciativas – inclusive políticas para enfren-
a discussão dos problemas que afetam a comu- tamento e resolução.
nidade como também possibilitam a constru- Como conclusão da reflexão realizada a
ção coletivas de estratégias de intervenção. partir de nossa práxis afirmamos que as ações
A análise das intervenções nos permite enu- coletivas intersetoriais e transdisciplinares,
merar alguns resultados relevantes que legiti- quando desenvolvidas com o objetivo de forta-
mam as ações coletivas como estratégias indis- lecer a autonomia dos sujeitos e o exercício da
pensáveis para a melhora da qualidade de vi- contra-hegemonia política, contribuem para a
da visto que possibilitam: 1) uma abordagem melhora da qualidade de vida da sociedade.

Colaboradores Agradecimentos

GF Wimmer e GO Figueiredo trabalharam no relato de Agradecemos especialmente as equipes do Posto de Saú-


intervenção do PACS da Vila do João e do PSF de Curici- de da Vila do João e do Programa de Saúde da Família de
ca, respectivamente, e trabalharam igualmente nas demais Curicica pela oportunidade do trabalho coletivo. Não ha-
partes do artigo. veria ainda como deixar de agradecer ao sr. secretário de
Saúde dr. Ronaldo César Coelho e ao Ilmo sr. prefeito Cé-
sar Maia que pela ingerência com que administram a Se-
cretaria de Saúde do Município do Rio de Janeiro nos
possibilitaram aprender a despeito do caos, da falta de re-
cursos e das péssimas condições de trabalho. Foi com a
comunidade que passamos a acreditar ser possível traba-
lhar e viver mesmo com a indignação frente ao poder pu-
blico.
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Wimmer, G. F. & Figueiredo, G. O.

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Artigo apresentado em 25/06/2005


Aprovado em 17/08/2005
Versão final apresentada em 12/09/05

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