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Embora adorada pelo leitor brasileiro, a crnica frequentemente

esbarra na m vontade de quem a v como gnero literrio subalterno.


Nas universidades, ela tratada com desprezo, como se fosse
matria de jornal. Diferente do jornalismo, a crnica no tem
compromisso com a objetividade nem com a impessoalidade, e com ele s
tem em comum o meio, que a imprensa.
Pesquisar por Rubem Braga no banco de teses da USP resulta em
duas dissertaes, e pouco mais que 30 dos 1404 resultados do termo
crnica se referem literatura.
Nos concursos, a crnica costuma ir sombra da categoria do
conto, tal como baio e valsa em uma competio de dana.
Entre editoras, h algumas contrrias s compilaes porque os
textos estariam sendo republicados como se o leitor fizesse pastinhas
com colunas de cada cronista. Nos anos 60, foram os prprios escritores
que cuidaram de se publicar, pela Editora do Autor, criada por Braga e
Fernando Sabino. Se hoje j no se questiona o livro de crnicas como o
fazia Alceu Amoroso Lima, dizendo se tratar de um passarinho afogado
, ainda h narizes que se torcem diante de antologias.
claro que a crnica se alimenta das pequenas coisas e se interessa
pelo rodap da vida, mas injusto esquec-la ao rs-do-cho, por onde
passa, mas no fica. Vai de mos dadas com a banalidade para reinvent-
la, no reproduzi-la.
O ensaio de Paulo Rnai aqui publicado, que localizei em uma
antologia de crnicas para o ensino de portugus, uma palestra
proferida na Universidade da Flrida em 1969. Alm de contribuir para a
escassa bibliografia sobre o gnero, tem curioso valor histrico, pois
anterior s anlises clssicas de Antonio Candido e Davi Arrigucci. O
intelectual hngaro, fisgado pela brasilidade da crnica, faz uma reflexo
quase pioneira sobre seu carter fugidio, embora seja otimista quanto
sua permanncia. Muitos dos cronistas citados no sobreviveram
peneira do tempo, outros ainda esto por ser descobertos. Anime-se, pois:
h muita crnica para ser lida!

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