O Brasil se insere na temporalidade da crise estrutural do capital nesse início de século XXI, vivenciando um processo intenso de reorganização do capitalismo nacional, denominado de “Novo Desenvolvimentismo”. Dentre as estratégias do Estado há a retomada do planejamento nos governos petistas, tanto nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, como de Dilma Rousseff, sendo o PAC o programa articulador, como no caso da política de infraestrutura energética. É nessa conjuntura que a Amazônia se reinsere como a nova fronteira hidroenergética a partir da transformação da mercantilização da natureza em territórios do hidronegócio-energético, como as UHEs de Jirau e Santo Antônio, no Complexo Hidrelétrico Madeira (RO). O problema norteador da investigação constitui-se em evidenciar qual o papel da Amazônia na produção de energia hidrelétrica, bem como quais mediações e formas de controle do trabalho são mantidas entre capital, trabalho e Estado para a construção desses empreendimentos, enquanto expressões da irracionalidade sistêmica do capital. Disso, objetiva-se analisar a superexploração do trabalho atrelada à construção da UHE de Jirau e os conflitos decorrentes das revoltas de trabalhadores nos anos de 2011 e 2012. São nas complexas relações espaço-temporais postas em movimento que o desigual e o combinado, enquanto relações de controle e de superexploração do trabalho, se expressam no território revelando momentos distintos da história, porém consentâneos de (des)realização do capital, ou seja, a partir de mecanismos de acumulação primitiva e acumulação/reprodução ampliada do capital. Condições análogas à de trabalho escravo, intensa migração e mobilidade do trabalho, força de trabalho excedente à disposição do capital, mecanismos de degradação, precarização, fundamentados na superexploração e nos descumprimentos contratuais etc., estão vinculados aos maus tratos no âmbito da reprodução propriamente, ou seja, no controle objetivo e subjetivo dos trabalhadores, na restrição à visita familiar, nas péssimas condições dos alojamentos, da alimentação, na ausência de atendimento à saúde prescrito no ACT. Esse é o contexto da neobarbárie enquanto revelação do destrutivismo imanente do “Novo Desenvolvimentismo”, que avança para além dos canteiros das UHEs, pois a flexibilização dos licenciamentos ambientais e a forma atropelada como a construção dos empreendimentos são realizados aumentam o caos destrutivo e o desterreamento de populações camponesas, ribeirinhas e extrativistas. Isto é, o trabalhador desterritorializado junta-se aos milhares de migrantes empregados em tais obras. A neobarbárie também atinge a cidade de Porto Velho e distritos como de Jaci-Paraná e Nova Mutum-Paraná e, portanto, o trabalho é atingido pelo capital no campo e na cidade, na floresta e na ambiência do rio. Estamos, assim, diante do trabalho fragmentado, entre atingidos e explorados na construção civil e montagem eletromecânica nas UHEs, bem como impactados por essas obras, revelado no interior do ambiente do "Novo Desenvolvimentismo", como imposição da estratégia para se construir UHEs na Amazônia. Se as revoltas surgem como expressão fenomênica da rebeldia, resistência e contestação das formas de controle e superexploração protagonizadas pelo capital e sacramentadas pelo Estado, a não organização do trabalho para além da fragmentação técnica, enraizada no vínculo e na existência dos sindicatos, impõe limites à própria rebeldia. Essas formas históricas de organização do trabalho não permitem ir além da luta imediata, tampouco romper com a estrutura de dominação de classe, o que nos remete à compreensão desses tensionamentos no interior do movimento social, temática apropriada para as pesquisas do devir.
Título original
AS REVOLTAS DOS TRABALHADORES EM JIRAU (RO): DEGRADAÇÃO DO TRABALHO REPRESADA NA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NA AMAZÔNIA
O Brasil se insere na temporalidade da crise estrutural do capital nesse início de século XXI, vivenciando um processo intenso de reorganização do capitalismo nacional, denominado de “Novo D…