Mrio de S-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 Paris, 26 de Abril de 1916) foi

um poeta, contista e ficcionista portugus. Nos seus trabalhos, era notrio a confuso dos
sentidos, o delrio, quase chegando a alucinao; ao mesmo tempo, revela um certo
narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a disperso que sentia do
seu eu no mundo revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto
consistente.
O narcisismo, motivado certamente pelas carncias emocionais (era rfo de me desde
pequeno), levou-o ao sentimento da solido, do abandono e da frustrao, traduzvel numa
poesia onde surge o retrato de um intil e inapto. A crise de personalidade lev-lo-ia, mais
tarde, a abraar uma poesia onde se nota o frenesi de experincias sensrias, pervertendo
e subvertendo a ordem lgica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver
aquilo que sonhava sonhando por isso cada vez mais com a aniquilao do eu, o que
acabaria por o conduzir, em ltima anlise, ao seu suicdio. Estudos recentes evocam a
influencia de Oscar Wilde na obra do autor dias antes do seu suicdio. Acredita-se que,
atormentado pela leitura de De Profundis, Mrio de S-Carneiro teria visto o ponto final de
sua vida e sua carreira.
Embora no se afaste da metrificao tradicional
(redondilhas, decasslabos, alexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus
ataques gramtica, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse
estilo clssico, numa segunda, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade
autntica, triste e trgica. Uma vez que a vida que trazia no lhe agradava, e aquela que
idealizava tardava em se concretizar, S-Carneiro entrou numa cada vez maior angstia,
que viria a conduzi-lo ao seu suicdio prematuro, perpetrado no Htel de Nice, no bairro
de Montmartre em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina.

Loucura Mrio de S-Carneiro
Loucura? Mas afinal o que vem a ser a loucura?... Um enigma... Por isso
mesmo que s pessoas enigmticas, incompreensveis, se d o nome de loucos...
Que a loucura, no fundo, como tantas outras, uma questo de maioria. A vida
uma conveno: isto vermelho, aquilo branco, unicamente porque se determinou
chamar cor disto vermelho e a cor daquilo branco. A maior parte dos homens adotou
um sistema determinado de convenes: a gente de juzo... Pelo contrrio, um
nmero reduzido de indivduos v os objetos com outros olhos, chama-lhe outros
nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como esto em
minoria... So doidos..