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FIBROMIALGIA: DOR INVISÍVEL

Depressão e imagem corporal


© Celeste Duque, Psicóloga Clínica (celeste.duque@gmail.com)

RESUMO
O síndroma de fibromialgia é uma doença que só em 1992 foi verdadeiramente
diagnosticada e separada das doenças do foro reumatológico.
O síndroma de fibromialgia caracteriza-se, entre outros sintomas, por: dores persistentes nos
músculos e tendões, dores de cabeça intensas, rigidez muscular matinal, alterações no ciclo
menstrual, transtornos intestinais, alterações ao nível da memória de curto prazo, dificuldade
de concentração, perda de sensibilidade ao nível das mãos, ausência da fase IV do sono
(sono profundo).
O diagnóstico da fibromialgia faz-se por resposta de dor em pelo menos 11 pontos de entre
os 18 pontos de pressão específicos (tender points), os exames de análise sanguínea não
apresentam alterações.
A esta doença estão frequentemente associadas depressões graves pelo que se pensou que
estas últimas estariam na origem do síndroma. No entanto, a investigação tem vindo a
demonstrar que estas são mais uma das inúmeras consequências do síndrome de
fibromialgia.
Nesta investigação, em que participaram três sujeitos diagnosticados com fibromialgia há
pelo menos três anos, verificou-se que os níveis de depressão apresentados (usando o
Inventário de Depressão de Beck) são elevados, verificou-se ainda possuírem baixos níveis
de auto-estima e auto-conceito e apresentarem uma imagem corporal negativa.
E que mais importante que a doença é a representação que os sujeitos têm sobre a Saúde e a
doença que marcam decisivamente a forma como vão reagir às adversidades da vida
(dependendo fortemente da personalidade, educação, experiências de vida, meio social e
cultural, grupo de amigos mas, também, da sua dimensão espiritualidade) e todos as
dimensões influenciam e são influenciadas sendo por isso necessária a análise caso a caso,
para se chegar à compreensão do indivíduo na sua globalidade, só após isso se podem
estabelecer as melhores estratégias de intervenção e modalidades de aconselhamento.

Definição
A fibromialgia, deriva do grego fibro my algia, e significa: "dor nos tecidos fibrosos dos
músculos".

A fibromialgia é um síndroma que causa dores músculo-esqueléticas (anteriormente chamada de


fibrositis) foi descrita pela primeira vez em 1843, como um tipo de reumatismo "com pontos
localizados altamente dolorosos". Os paciente atingidos por este síndroma foram frequentemente
rotulados de neuróticos, devido aos seus inúmeros e inexplicáveis sintomas. Não há testes

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laboratoriais para o diagnóstico do síndroma fibromiálgico. A fibromialgia foi reclassificada em
1992, tendo sido incorpora na WHO (World Health Organization), 10ª revisão da International
Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (ICD-10) que entrou em vigor
em 1 de Janeiro de 1993.

O novo documento define a fibromialgia como uma doença dolorosa que envolve
predominantemente os músculos. A dor muscular-esquelética irradiada é a causa mais comum da
sua cronicidade. Exclui assim, hipótese de se tratar de uma doença das articulações, pelo que foi
separada das doenças do foro reumatológico, tendo ganho estatuto próprio de doença (até aí
muitas vezes considerada uma falsa doença, com falsos sintomas).

Sinais e sintomas mais evidentes da Fibromialgia


Clinicamente, podemos dizer que os pacientes apresentam, para além da dor difusa e dos pontos
fibromiálgicos (tender points), fadiga e sono não reparador/restaurador e outros sintomas como
parastesias, sensação subjectiva de inchaço ("os anéis deixaram de me servir"), rigidez muscular
matinal, tonturas, palpitações, fenómeno de Raynaud (mãos e pés inchados e frios, dedos com
extremidades brancas), cefaleia, perturbações da memória a curto termo e dificuldade de
concentração, cólon irritável e distúrbios da afectividade (depressão e ansiedade).

De seguida apresenta-se no quadro 1 a lista dos sinais e sintomas mais frequentes associados à
fibromialgia.

Quadro 1
Sinais e sintomas associados à fibromialgia (Wolfe, 1990)
Sinais/Sintoma % Pacientes
Dores difusas 97,6%
Sensibilidade dolorosa em pelo menos 11 dos 18 pontos fibromiálgicos 90,1%
Fadiga 81,4%
Rigidez muscular matinal 77,0%
Distúrbios do sono 74,6%
Parastesias 62,8%
Cefaleias 52,8%
Ansiedade 47,8%
Síndroma pré-menstrual 40,6%
Síndroma de Sicca (boca e olhos secos) 35,8%
Depressão prévia 31,5%
Cólon irritável 29,6%
Infecções urinárias 26,3%
Fenómeno de Raynaud (mãos e pés ficam dormentes, brancos, e frios 16,7%

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Nota. Outros sintomas presentes nos pacientes com fibromialgia como: tonturas, perturbações da
memória (a memória a curto prazo fica fortemente comprometida) e concentração, comichão e
erupção cutânea crónica (dados não publicados), no homem impotência, na mulher cãibras
durante o coito.

A maioria dos pacientes com fibromialgia são do sexo feminino (80-90%) e, embora atinja
ambos os sexos e todas as faixas etárias é, no entanto, mais predominante nas mulheres entre os
35 e os 50 anos de idade. A idade mais usual do aparecimento da fibromialgia é entre os 20 e os
40 anos, pode, no entanto, aparecer por volta dos 2 anos ou ainda a partir dos 65 anos.

Wolfe (1993) considera que a fibromialgia afecta 2 a 4% da população geral dos Estados Unidos.
Não há dados estatísticos oficiais para Portugal, mas tudo leva a crer que a percentagem deverá
ser idêntica, dado que esta permanece semelhante no Canadá e em vários países da Europa.

No quadro 2 apresenta-se esquematicamente a caracterização geral da fibromialgia.

Quadro 2
Caracterização geral da fibromialgia
Idade de aparecimento 20-40 anos
Sexo mais atingido Feminino
Prevalência na população geral Comum
Causa Desconhecida
Crónica Sim
Sensibilidade dolorosa em 11 dos 18 pontos fibromiálgicos Sim
Dores difusas, fadiga, perturbação do sono Sim
Resultados dos Estudos Laboratoriais Normal
Patologia Nenhuma
Incapacitante Sim

Etiologia
A etiologia da fibromialgia permanece desconhecida.

Inicialmente classificada como uma doença inflamatória e catalogada como reumatológica,


Durante algum tempo pensou tratar-se de uma doença psicogénica (os sintomas não são
confirmados por exames médicos complementares de diagnóstico), actualmente os
investigadores são unânimes em considerar que a depressão, se e quando presente, é mais uma
das consequências e não a causa da doença. Tendo sido, deste modo, excluída a hipótese de se
tratar de uma doença psiquiátrica.

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Actualmente a teoria mais aceite integra uma disfunção do sistema nervoso central em regular a
sensibilidade dolorosa, com aumento dos estímulos nociceptivos oriundos de músculos,
ligamentos e articulações.

Assim, em indivíduos geneticamente predispostos, diversos factores de stress:


- Infecções;
- Trauma físico – decorrentes de acidentes de viação ou de trabalho, nomeadamente fracturas de
coluna, entre outros;
- Trauma psicológico – por exemplo, derivados de violação;
- Esforços repetitivos;
- Distúrbios do sono;

poderiam causar uma alteração nos centros moduladores de dor ao nível medular e cerebral,
traduzidos pela diminuição de serotonina e o aumento da substância P. Estas alterações de
neurotransmissores trariam um aumento da sensibilidade dolorosa, alodínia, alteração de sono e
fadiga.

Diagnóstico da Fibromialgia
O American College of Rheumatology estabeleceu os critérios diagnósticos para a Fibromialgia
em 1990 e que são:

Quadro 3
Critérios diagnósticos da Fibromialgia (ACR, 1990)
História de dor difusa* presente há pelo menos 3 meses (além disso a dor no esqueleto axial deve
estar presente ! coluna cervical, tórax anterior, coluna torácica ou lombar)
Dor em pelo menos 11 dos 18 pontos de dor à compressão digital**
Os 18 tender points são:
Occipitais (2): inserções dos músculos sub-occipitais
Cervicais inferiores (2): partes anteriores dos espaços inter-transversais C5-C7
Trapézios (2): pontos médios das bordas superiores
Supra-espinais (2): acima das escápulas, próximo das bordas médias
Segunda costela (2): lateralmente e acima das segundas junções costescapular
Epicôndilo laterais (2): distal a 2 cm dos epicôndilo
Glúteos (2): quadrantes superiores externos das nádegas, na dobra anterior do músculo
Grande trocânter (2): posteriormente à proeminência do trocânter
Joelhos (2): coxins gordurosos mediais, proximal à linha dos joelhos

Nota. * A dor é considerada difusa quando a sensibilidade dolorosa se encontra presente em todos os locais seguintes: dor
bilateral (no lado direito e esquerdo do corpo) e dor acima e abaixo da cintura; ** Deve ser exercida uma pressão digital de 4 kg à
qual o paciente deve reagir com dor.

Na figura 1 apresenta-se a localização dos 18 pontos fibromiálgicos.

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Figura 1. Localização dos pontos fibromiálgicos (http://www.futureon.com/~hunter/fms.htm, 1998)

Tratamento da fibromialgia
O tratamento passa pelo tratamento medicamentoso e não medicamentoso.

Uso de anti-depressivos (amitriptilina, ciclobenzaprina, entre outros) ! as investigações têm


demonstrado que são eficazes no combate à dor, fadiga e distúrbio do sono, no entanto, as
melhoras significativas com relevância clínica apenas acontecem em 30-40% dos pacientes. O
seu efeito parece estabilizar-se ou até diminuir com o decorrer do tempo.

Os tricíclicos, em doses tão baixas como as recomendadas no tratamento da fibromialgia, não se


destinam ao tratamento da depressão, mas sim a melhorar efectivamente a fase IV do sono (fase
não-REM). Concomitantemente, os indivíduos que relatam melhoras ao nível do sono referem
igualmente diminuição das dores.

Apesar dos tricíclicos serem eficazes, menos de 50% dos pacientes os tomam regularmente
devido à grande quantidade e gravidade dos efeitos secundários, tais como secura da boca,
tonturas rotatórias, obstipação intestinal, sonolência excessiva, alucinações, ou mesmo indução
de depressão.

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Quadro 4
Substâncias químicas que ajudam no tratamento da fibromialgia (adaptado de Nye, 1997)
Substância química Dose inicial (mg) Tomar x Horas Dose máxima (mais
antes de deitar usual)

Tradozone 50 0 600
Ciclobenzaprina 10 1 60
Alprazolam 0,5 0,5-1 4
Carisoprodol 350 0 1400
Difenidramina 50 0,5-1 300
Amitriptilina 5 2 150

No quadro 5 apresenta-se a lista dos factores que afectam a fibromialgia.

Quadro 5
Factores que afectam os sintomas de fibromialgia
Factores que agravam Factores que melhoram
Clima frio ou húmido Clima quente ou seco
Sono de má qualidade Sono reparador/restaurador
Doenças recorrentes Aplicação de calor nos músculos afectados
Trauma Exercício físico adaptado e moderado
Stress físico e/ou psicológico Dieta equilibrada
Exercício físico exagerado

Educação
Os sintomas devem ser explicados pormenorizadamente ao paciente. Este deve ser informado
que não existe cura para este síndroma e que é uma doença que oscila entre momentos bons (de
relativa acalmia) e momentos de crise. Deve-se informar, igualmente, o paciente que tratamento
desta doença requer um envolvimento efectivo por parte do médico mas também e
principalmente do paciente, só assim poderá beneficiar de uma melhor qualidade de vida.

Os indivíduos com fibromialgia deverão ter acesso a uma educação de novos hábitos de higiene
articular, criação de novos ciclos de vigília/sono adaptados à sua nova condição e ao seu nível de
limitação/incapacidade (deve ser enfatizada a importância do sono).

Os pacientes com fibromialgia consideram-se indivíduos noctívagos, no entanto, o que sucede é


que sofrem de perturbações do sono que passam por insónias e/ou privação da fase IV do sono
(sono profundo).

Assim, é importante que se estabeleça uma hora certa para se deitar (entre as 21,00 e as 22,00
horas) por forma a romper com os anteriores ritmos patogénicos.

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Aprendizagem de novos comportamentos mais saudáveis isentos de stress físico e psicológico,
i.e., devem ser reeducados por forma a estarem preparados para viver com as suas limitações
efectivas adquirindo a melhor qualidade de vida possível.

Devem ser incentivados a relacionar-se com os outros, a não se isolarem e a aprenderem a gerir o
seu tempo por forma a intercalarem no tempo útil que têm (variável de caso para caso, mas que é
muito frequentemente de 4 a 5 horas/dia) distribuindo entre as suas actividades profissionais (não
raras vezes vêem-se obrigados a mudar de profissão) e as actividades prazerosas e/ou recreativas
(nas quais se deve incluir a prática de exercício físico moderado e regular, por exemplo as
caminhadas a pé são ideais, tal como o andar de bicicleta).

Essa reeducação/aquisição de novos hábitos passa pela adopção de uma dieta alimentar na qual
devem ser evitadas (preferencialmente banidas) as seguintes substâncias: açúcar refinado, álcool,
cafeína, alimentos saturados em gordura, alimentos altamente calóricos, a comida pronta a comer
(junk food ou fast food) de baixo valor nutritivo.

Estes indivíduos beneficiam de uma dieta moderadamente equilibrada em carbo-hidratos,


proteínas e gorduras. Sendo considerada como a mais saudável a dieta que apresenta a seguinte
composição (baseado na percentagem de calorias e não em gramas):
- 40% de carbo-hidratos;
- 30% de proteínas;
- 30% de gordura.

É, igualmente, importante beber muita água (2,5 litros/dia), pois esta ajuda a libertar as toxinas
do organismo.

Tratamento
Vejamos, então, de uma forma esquemática, como se deve processar o tratamento da
fibromialgia.

Quadro 6
Tratamento da fibromialgia
Diagnóstico e tranquilização do paciente
Evitamento dos factores agravantes (por exemplo, frio, narcóticos, esteróides, cafeína, stress, etc.)
Introdução de modificações ao nível do trabalho ! quando o paciente consegue manter-se a trabalhar é
necessário introduzirem-se modificações físicas no local de trabalho (por exemplo uso de cadeira e
teclado ergonómicos, etc.) e modificações dos ritmos, horas e volume de trabalho.
Opções farmacológicas
Modalidades físicas (por exemplo, calor, massagem, sprays, anestésicos, acupunctura, etc.)
Exercícios aeróbicos recreativos
Papel activo do paciente

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Estudo psicológico de doentes diagnosticados com fibromialgia
Muitos são os caso de doentes diagnosticados com fibromialgia objecto de estudo psicológico,
numa tentativa de melhor perceber o síndrome e as consequências e limitações por ele
introduzidas na vida quotidiana do sujeito.
Como já se viu, a fibromialgia afecta a vida do sujeito a todos os níveis, não fora o ser humano
um ser altamente complexo, e uma verdadeira “caixinha” de surpresas!
A depressão está muitas vezes presente, e não raras vezes tão saliente que acaba por abafar todos
os outros sinais/sintomas, sendo por isso uma das causas de “mau” diagnóstico. Resta saber até
que ponto é que a depressão é, de facto, causa ou consequência da fibromialgia?
Analisando três casos (do género feminino), procurou-se saber qual o grau de depressão
presente. A fibromialgia tinha sido diagnosticada há pelo menos três anos e a depressão e
sintomas eram sobejamente conhecidos do paciente. Procurou-se, igualmente inferir da
integridade da auto-estima e auto-conceito, relacionando todas as variáveis presentes para se
formar uma ideia de como estes sujeitos lidam com a sua imagem corporal.

Caracterização da amostra
Três sujeitos do género feminino com diagnóstico de fibromialgia há mais de três anos,
residentes na área geográfica da zona Centro, que foram “forçados” a abandonar a sua primeira
actividade profissional e que desempenham actualmente as suas funções profissionais a partir de
casa com uma profunda restrição de horário, de 8 horas para 3 horas de trabalho diário e isso, nos
dias em que não estão em “crise” (relativamente raros ! em média 2 a 3 dias por semana).

Metodologia
Utilizou-se como metodologia a entrevista clínica (psico-diagnóstica), tendo-se recorrido ainda à
aplicação do Inventário de Depressão de Beck.
Cada sujeito da amostra participou voluntariamente em três sessões, com a duração média de 1
hora. Na 1ª sessão foi efectuado o levantamento da história de vida, dando-se especial atenção
aos elementos relacionados com o síndrome. Na 2ª sessão e uma vez criadas as condições de
confiança e empatia, foi aplicado o Inventário de Depressão de Beck, complementado com o
aprofundamento do seu relato de vida. Na 3ª sessão foi realizado um levantamento clínico nas
vertentes da auto-estima, auto-conceito e imagem corporal.

Caracterização psicológica dos pacientes com fibromialgia


Concluiu-se que, pelo facto de os pacientes com fibromialgia terem sempre uma aparência
saudável (como diz o povo “boa cara”), por muito mal que se sintam, são muitas vezes
ignorados, vitimizados pelos médicos (e profissionais da Saúde, em geral), família e amigos
levando-os a duvidarem de si, a sentirem-se culpados e a serem atingidos na sua auto-estima, em
suma a deprimirem, sendo esta mais um sinal de que algo de errado se passa... algumas vezes
desencadeada com o intuito de chamar a atenção para si, como um pedido de socorro!

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Os pacientes com fibromialgia são indivíduos que se auto-impõem ritmos de trabalho intensos, e
prolongados no tempo, regra geral, muito altruístas e sempre prontos a ajudar quem mais precisa,
pelo que não é de estranhar que apesar de estarem, eventualmente, a sentir dor intensa e/ou um
cansaço extremo, sejam incapazes de dizer não! Mostrando-se (pré)dispostos a um esforço extra
quando este lhes é expressa (ou implicitamente) pedido/exigido.

Descuram a sua alimentação, chegando a tomar apenas uma refeição por dia e mesmo essa muito
frugal. Têm tendência a compensar a falta de alimento com a ingestão de café e “petiscando”
doces (um rebuçado, um bolo, um pacote de açúcar...). Raramente comem uma peça de fruta, os
vegetais são consumidos em quantidades ínfimas. Costumam adorar cozinhar e ter muito prazer
em ver os outros a comer... Algumas vezes o cheiro dos alimentos, ao serem cozinhados, são “a
gota de água” para criar a sensação de nojo.

Os ruídos e cheiros ambientes são amplificados, sucedendo, por exemplo, em épocas de crise
que o sujeito não se sente bem, podendo mesmo sofrer de quebras de tensão e desequilíbrios,
alterações de visão, quando se encontra em grandes superfícies (tais como hipermercados,
Centros Comerciais, etc.).

Durante grande parte da sua vida passam aos outros a imagem de serem infalíveis, verdadeiros,
super-homem/mulher (dormem pouco, têm horários intensos e longos de trabalho e, não
satisfeitos, acabam, por se envolver em muitas outras actividades extras; não raras vezes
desempenham mais de uma actividade profissional – acumulam horários e mais de um emprego).

No entanto, e sem aviso prévio, um dia a sua vida transforma-se num caos pois as suas
capacidades físicas e psicológicas levam-no a ter que abrandar, quando não a abandonar, para
sempre estes ritmos.

Apesar de todos os seus esforços os fibromiálgicos sentem, literalmente, na pele o não


reconhecimento do seu valor por parte das pessoas mais próximas (familiares, patrões,
conhecidos e amigos) e isso é o pior que lhes pode suceder pois isso tem consequências
imediatas, repercutindo-se em níveis de auto-estima muito baixos que têm tendência a ser
compensados (devido a esta sua fraqueza/insegurança) com uma necessidade desmesurada de
reconhecimento do seu valor, por parte dos outros; como este não lhes é feito a sua auto-estima
sofre ainda mais, a sua auto-imagem torna-se profundamente negativa, e o seu auto-conceito
sofre um profundo golpe (acabando por se desvalorizarem face aos outros e estarem numa
permanente dúvida quanto às suas capacidades) o que leva a estados de tristeza e depressão
profundos que se arrastam e prolongam no tempo.

O grau de depressão presente nos doentes fibromiálgicos varia de caso para caso, de acordo com
a estrutura de personalidade, representações que o sujeito tem sobre a saúde (mas também sobre
a doença) e forma como lidam com a mesma, podendo variar de depressão major ao simples
humor depressivo.

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Vivem rodeados de stress (físico ou psicológico) e este é-lhes profundamente prejudicial (aliás,
como o é em geral para o ser humano). Apresentam grande dificuldade em gerir/lidar com o
stress e, não raras vezes, têm ainda dificuldade em lidar com figuras de autoridade.

Sentem-se profundamente frustrados, incompreendidos ou mesmo "castrados".

Quando em acompanhamento psicológico apresentam grande dificuldade em verbalizar os seus


sentimentos. O que é perfeitamente normal até porque aprenderam, ao longo da vida, a calar o
seu sentir ! habituaram-se a receber dos outros a troça (são considerados fingidores,
hipocondríacos, mentirosos, preguiçosos, etc.; a sua doença é profundamente incompreendida),
gera-se à sua volta um ambiente de desconfiança, de dúvida e são frequentemente rotulados de
neuróticos e desequilibrados – o que agrava ainda mais toda a sintomatologia, podendo
desencadear graves crises que se prolongam no tempo.

Resultados
Os indivíduos acompanhados apresentaram níveis elevados de depressão.

Os níveis de auto-estima e auto-conceito são baixos e a imagem corporal é extremamente


distorcida, negativa, o que confirma a depressão.

Discussão dos resultados


Os sujeitos que participaram neste estudo vivem em depressão há já alguns anos, derivada da
incapacidade imposta pela doença, sendo, precisamente por isso, a depressão mais um sintoma
que causa da fibromialgia.

Apresentavam um profundo sentimento de incapacidade/impotência em lidar com as rotinas


diárias, o que os deixa ainda mais deprimidos, pelo que se provou ser altamente benéfico para
estes sujeitos da amostra (mas também para todos quantos sofrem deste síndrome) ser-lhes
proporcionado um acompanhamento multidisciplinar médico (técnicos da área da medicina,
psiquiatria, neurologia, reabilitação e Saúde em geral), dietético e psicológico.

O acompanhamento psicológico, deve sempre adoptar uma perspectiva da Psicologia Clínica


e/ou da Saúde, com forte componente de Educação para a Saúde, dada a necessidade de se
fornecer aos sujeitos os instrumentos de melhor lidar com a doença e toda a sintomatologia dela
decorrente. Por exemplo:
- ensiná-los a gerir o stress;
- levá-los a adoptar estilos de vida mais adequados à sua actual condição física;
- identificar e evitar/erradicar comportamentos de risco:
- implementar hábitos saudáveis de alimentação;

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- eliminar maus hábitos de consumo: cafeína, bebidas alcoólicas, dependência de medicamentos ou
outras substâncias, tabaco;
- adoptar hábitos de sono mais saudáveis: estabelecer horários para deitar e levantar, que se
cumprem; dormir pelo menos 8 a 9 horas;
- adoptar a prática de exercício físico moderado e adaptado: caminhar, andar de bicicleta, ginástica
aeróbica.

Promovendo, deste modo, a Saúde e obtendo-se um maior bem estar e qualidade de vida as
quais têm, por sua vez, reflexo directo na auto-estima, auto-conceito e imagem corporal.

O doente com Fibromialgia costuma ainda beneficiar de algum alívio ao usufruir de tratamentos
das ditas medicinas alternativas (que devem ser encaradas como complementares, quando
praticadas por profissionais competentes e idóneos) tais como: massagem, acupunctura,
musicoterapia, aromaterapia, etc.

Não existem fórmulas mais eficazes nem gerais, tudo depende do doente e do seu caso
específico. O que é altamente benéfico para um pode ser profundamente prejudicial para outro.
Interessa, isso sim, não perder a esperança e manter o bom senso. Algumas vezes basta ouvir a
“voz do corpo” ou da consciência para se evitarem exageros e se viver melhor...

Em suma, o doente com Fibromialgia deve (re)aprender a viver (aceitando a sua


doença/incapacidade), a melhor (con)viver com uma doença crónica (que tem alguns, poucos,
momentos de alívio e grandes crises e sofrimento) mas, também, aprender a viver melhor
consigo (aceitando-se tal como é, com todas as virtudes e defeitos) e com os outros.

Aprender a dizer não! E a parar (sempre que necessário e se disso depende o seu bem estar e
saúde); a retirar prazer da vida e das pequenas vitórias que lentamente vai alcançando. Até que
seja capaz de atingir um estado de maior equilíbrio em que os sintomas lhe dão algumas
“tréguas”, permitindo-lhe fortalecer a sua esperança na vida, deixando de se lamentar. Aprender
a viver um dia de cada vez, como uma grande dádiva (casos há em que são, literalmente,
interpretados como um verdadeiro milagre).

Não esquecendo nunca que, por pior que seja a sua situação/condição há sempre pessoas que
vivem ou sobrevivem em piores condições...

REFERÊNCIAS CONSULTADAS
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© Celeste Duque – 2008-04-05

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