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Segunda, 10 de maio de 1504

Hoje, o meu marido partiu. A multido no cais do Restelo estava triste, uma
mar de emoes circulava pelo ar, pelos abraos e beijos. A nau, carregada de
mantimentos e imagens da famlia, estava decorada com papis coloridos. Os
meus filhos nunca tinham visto o pai a chorar. Uma figura que, para eles, era
sinnimo de fora e coragem, era agora uma figura a partir para a ndia.
Os rostos cados e plidos predominavam naquele cais, juntamente com as
lgrimas salgadas correndo-lhes pelos rostos. A emoo era digna de nos partir o
corao.
Resta-nos esperar trs anos. Nesse tempo, vou ter de me contentar com a
nica fonte de energia que terei: os meus filhos. E por isso que desejo a Deus
que tudo lhes corra bem!
sempre uma grande revolta quando eles partem. De trs em trs anos,
junto-me quele grupo de mulheres que, angustiadas, deprimidas, tm de seguir
com a vida, tm de continuar a tratar dos filhos, tm de lidar com os sentimentos
de forma inimaginvel, porque, sempre que a nau volta cidade, enche-se de
alegria, de luz e de cor. Parece que a cidade tem outro encanto!
Mas, quando a nau vai partir, a cidade escurece, como se as nuvens a
tivessem tapado propositadamente.
Todas estas mudanas de humor e de personalidade fizeram com que, por
mais lucrativas que as viagens fossem, a sociedade se degradasse.
Joo Pedro Costa, 9 A, Escola D. Domingos Jardo

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