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CONTRIBUICAO AO DIMENSIONAMENTO DE RESERVATORIOS CILINDRICOS PROTENDIDOS ENG. WILSON SERGIO VENTURINI Dissertagdo apresentada a Escola de Engenharia de Sdo Carlos, da Uni- versidade de Sdo Paulo, como parte dos requisitos para a obtengéo do te tulo de “Mestre em Engenh Estruturas”. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Dante F. V. Guelpa Prof. Dr. Roberto L. A. Barbato Prof. Dr. Dante A. O, Martin (orientador) Prof. Dr. Lafael Petroni (suplente) Prof. Dr. Walter Savassi (suplente) — 1977 - AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. Dante Angelo Osvaldo Martinelli, pela orientagao dada no decor- rer deste trabalho. Aos Srs. Jodo Paulo Moretti e Egfdio Jurandir Cristianini, pelos cuidadosos tra~ balhos de desenhos. K Sra. Wilma Provinciali Vall e Sr. Rui Roberto Casale, pela dedicagao nos tra- balhos de datilografia. A FAPESP, pela bolsa de estudos con- cedida durante 0 ano de 1973. RESUMO. Este trabalho tem como objetivo principal o estu do das dimensdes a serem fixadas num projeto de reservaté- rio cilindrico destinado a armazenamento de Agua. 0 reservatério base tomado para estudo tem o fun do apoiado em solo nao compressivel, parede cilindrica e cobertura conica; a ligagao entre o fundo e a parede @ des lizante, e entre parede e cobertura & monolitica, feita aq través da colocagao de um anel intermediario. Para a deter minagao dos esforgos, considerou-se que as cascas cilfndri cas e cénicas, que formam a parede e cobertura respectiva- mente, podem ser tratadas como sendo longas. Nos capitulos iniciais sao apresentados sucinta~ mente os equacionamentos para a obtengao dos esforgos de flexio e de membrana para as dues cascas. No Apéndice C @ apr-sentado um programa em linguagem FORTRAN IV para compu tadores IBM-1130, que da numericamente os esforgos necessa rios & compatibilizagao dos deslocamentos entre as partes da estrutura e os esforgos finais em qualquer ponto. A se~ qUéncia de calculo dada para a determinagao das armaduras protendidas e frouxas segue principalmente as especifica~ gdes da PNB-1/76 e do ACI-344, ABSTRACT This work analyses the usual dimensions of cy- lindrical tanks for liquid storage. The pattern tank has the following characteris ties: bottom lying on non-compressible soil; cylindrical wall and conic dome; separated bottom-wall joint; mono- litic dome-wall joint, with a ring beam; independent treat. ment of the edges of the wall and done shells. The calculus sequence of the efforts for the shells is presented. By using the program presented in Appendix C, the final efforts at all the points and the displacement compatibility between the structural parts are obtained. The reinforced and prestressed determina~ tion is based on the NB-1/76 specifications and ACI-344 recommendations. INDICE I - INTRODUGAO I.1 - CONSIDERAGOES GERAIS ... 1.2 - OBJETIVO . 1.3 - conrEtpo . See te I-1 cede | tal? ee 19) II - FUNDAMENTOS DA TEORIA DAS CASCAS II.1 - ESTRUTURAS DE SUPERFICIE, DEFINIQGES E HIPOTESES ......seeeeeeeee8 TITL TI.2 - EQUAGOES GERAIS ....e.005 11-2 II.2.1 - Esforcos solicitantes .. 11-2 I1.2.2 - Equagées de equilfdrio ..... 11-7 11.2.3 ~ Equagdes gerais das cascas . 11-9 IL.3 > METODO DE ANALISE -.ssaseeeees rI-12 IL.4 - TEORIA DE MEMBRANA ..seeeeeeeeeee + I-12 IIT - ANALISE DA ESTRUTURA III.1 - DEFINIGKO DA ESTRUTURA « + UtI-1 III.2 - TEORIA DE MENBRANA PARA AS CASCAS CONICA E CILINDRICA . efi) IIT.2.1 - Casea cdnica « + 11-3 III.2.2 - Casea cilindrica + I1I-6 III.3 - EQUAGRO DIFERENCIAL HOMOGENEA PARA AS CASCAS CONICA E CILINDRICA ....... ITI-8 III.3.1 - Casca conica ........e . ItI-8 III.3.2 - Casea cilindrica ....+ + ITI-16 IIT.4 - LIGAGAO COBERTURA-PAREDE MEDIANTE ANEL DE BORDA .. ++ TII-19 III.4.1 = Anel de borda s+ TII-19 IIT.4.2 - Esforgos e deslocamentos devidos a uma forca horizontal distribuSda..III~20 IIT.4.3 - Esforgos e deslocanentos devidos a um momento distribufdo no anel ...TII-21 TIt.4 TII.5 III.6 III.6. III.6. III.6. 11.7 +4 - Esforcos e deslocamentos totais no anel ... ANALISE DA LIGAGRO PAREDE-FUNDACAO.. EQUAGOES DE COMPATIBILIDADE DOS DESLOCAMENTOS DO CONJUNTO .. Compatibilizacao dos deslocamentos 1 da borda superior da casca conica € do anel superior 2 Compatibilizacdo dos deslocamentos da borda inferior da cobertura, do anel e da borda superior da parede.. 3 Compatibilizacao dos deslocamentos da borda inferior da parede e do fundo - - ANALISE DA VARIACAO DE ESPESSURA NAS BORDAS DAS CASCAS . IV - ANALISE DAS ACOES NO RESERVATORIO Iv. IV.1.1 IV.1.2 Iv.1.3 Iv.2 IV.2.1 IV.2.2 IV.2.3 Iv.3 - Iv-4 IV.4.1 IV.4.2 IV.4.3 CARREGAMENTOS DA COBERTURA CONICA - Peso proprio ... - Sobrecarga ., - Lanternin . CARREGAMENTOS NA PAREDE CILINDRICA .... - Peso proprio da parede ....+ - Carga vertical uniformemente distri- bufda na borda superior do cilindro . - Carregamento devido ao liquido arma zenado ..... EFEITOS DEVIDOS AO VENTO . EFEITOS DEVIDOS A VARTAGAO DE TEMPE- RATURA - Variagio diferencial de temperatura entre parede e fundagdo sssseeeee Variasdo diferencial de temperatura entre cobertura e parede ..sssesseeee Variagéo diferencial de temperatura entre interior e exterior do reser— Seadeeaceeetaseasenseatassaseassas: III-22 III-27 III-30 TII-30 TIr.33 III-35 11-37 Iv-1 1v-2 Iv-2 Iv-4 Iv-4 Iv-5 1v-5 Iv-6 Iv-7 IV-10 IV-11 IV-12 Iv-13 IV.5 - RETRACKO ... IV.6 - PROTENSAO .. IV.6.1 - Tipos de protensao ... IV.6.2 - Protensao na parede ..... IV.6.3 - Protensao no anel ... IV.6.4 - Escolha do tipo de protensao . IV.7 ~ DETERMINAGAO DOS ESFORCOS FINAIS . IV.8 - PROGRAMACGAO PARA 0 CALCULO DOS ESFORGOS ........4. V - DISPOSICOES GERAIS E ASPECTOS CONSTRUTIVOS PARA 0 PROJETO DE RESERVATORIOS val v2 v.3 ves Vide Vide ve5 vis. Vi5s v.6 v.6. v.6. v.6. CONSTDERAGOES GERATS . PROTENSAO NA PAREDE « PROTENSAO NO ANEL ....05 ARMADURA FROUXA . - Determinagao .. - Disposicaes construtivas . VERIFICAGOES - Verificagio quanto @ fissuragio ..... - Verificag das tensoes ... . DETALHES DA LIGAGKO PAREDE-FUNDACAO ~ Vinculagao deslizante . - Vinculagdo articulada ~ Vinculagao engastada .. FUNDO ... constRugio .. VI - EXEMPLIFICAGAO DA SEQUENCIA DE CALCULO VI.1 ~ INTRODUGKO vr.2 - DADOS . VI.3 - ESFORCOS . VI.3.1 - Considerages gerais VI.3.2 ~ Esforgos no anel .....ee VI.3.3 - Esforcos da cobertura . VI.3.4 - Esforgos da parede . Iv-14 Iv-15 Iv-16 IV-16 Iv-28 1v-29 I-31 Iv-32 VirL VIL vIs3 Vis vI-4 vI-5 vI-8 VI. - vI.5 = V1.6 - V1.7 = VI.7.L VI.7.2 VI.7.3 VIL7.4 VI.8 - VI.8.1 VI.8.2 vI.9 VII - ANALIS: DESLOCAMENTOS . PROTENSAQ NA PARSDE ... PROTENSAO NO ANEL esses ARMADURAS FROUXAS ......0e5 - Armadura da cobertura ... ~ Armadura da parede seeeeseseeeee - Armaduras dos andis de borda ... - Armadura do fundo ... VERIFICAGAO DAS TENSOES ....... - Tensdes no concreto « - Tensdes no ago .. VERIFICAGAO DO APARELHO DE APOIO ...... EDA INFLUSKCTA VIR. vI-12 vI-16 vI-17 vI-18 viI-22 VI-27 VI-28 VI-28 vI-28 VI-29 vI-30 5 _DIVERSAS CARACTERIS~ TICAS GEOMETRICAS E ESTATICAS DOS RESERVATORIOS VII.L VII.2 VIT.2. VIT.2. VIL. 2. VIT.2. VIL.3 VIE.d VILLA. VIL.d. VITA. VIL.S VIT.6 VII.7 VIL.8 - OBJETIVO ~ ANALISE DA VINCULAGKO DO PE DA PAREDE ....0. - Parede engastada -........ ~ Parede articulada .... 1 2 3 - Parede sobre apoio movel . 4 - Esforcos e consumos de materiais para cada tipo de junta ...... - ANALISE DAS FORMAS DE COBERTURA . - INFLUENCIA DO ANEL DE BORDA - Comportamento do anel de borda .... 1 2 - Rigidez do anel ...... 3 - Posigao do anel .. INPLUENCIA DA INCLINACKO DA COBERTURA ...... INFLUENCIA DA ESPESSURA DAS CASCAS .. INFLUENCIA DA RELACAO DIAMETRO/AL TURA veseeee VII-1 VII-4 VII-4 VII-8 VII-10 VII-LL VII-14 VII-16 VII-16 VII-17 VII-19 VII-22 VII-24 VII-26 VII-29 VIII - CONCLUSOES IX - BIBLIOGRAFIA CE A ~ ANALISE DA PROPAGAGAO DOS EFEITOS DE BORDA NA CASA cONICA oO aL 2 = DEFINIGRO GEOMBTRICA ..... nono 21 3. - FUNGOES AUXILIARES ......eeeeeeeeeeeee + Ar? EFELTOS DO CARREGANENTO DE BORDA ....+ 3 VALORES DOS DESLOCAMENTOS Solugao da equagao diferencial homogénea .... A-3 Nomento unitario aplicado 3 borda superior .. A~4 Forga horizontal unitaria aplicada 3 borda superior s.seeeeeee Momento unitario aplicado @ borda inferior .. A~7 Forga horizontal unitaria aplicada & borda inferior . APENDICE B - RECONENDAGOES SOBRE PROJETO E CONSTRUGKO DE ESTRUTURAS CIRCULARES DE CONCRETO PROTENDIDO GENERALIDADES .... + BL - Introdugao . eee - Hist6ria e desenvolvimento Bo1 Objetivo ... Campo de estudo PROJETO se eeeeeeee B-6 = Notagio ....sseseeee B-6 ~ Métodos de projeto . 8-8 - Cargas de projeto .. R-9 - Tensdes admissiveis ... ++ BH10 ~ Projeto da parede + B13 2.6 - Projeto da cobertura ........00e + B-23 2.7 - Projeto do fundo ....... B-25 2.8 - Projeto do pé sessseeeee B-27 3 - MATERIAIS Joe... seeeeeeee B-27 Bel - Concrete seeesseseeeeees B-27 3.2 - Concreto projetado ..... B-27 3.3 - Aditivos se... stneeeees B27 4 - Armaduras so... cee + B+28 3.5 ~ Materiais elastoméricos .... ere + B-29 4 - PROCEDIMENTO PARA A CONSTRUGAO ... ee Gil - Concreto ceeseeeseeeeees eee eee haat B-31 pobeuepGuopunDGoG Leet) Subooupopa Le 4.2 - Execugao do concreto projetado . 4.3 > Execugéo das formas 4.4 - Armadura frouxa « 4.5 - Protensao -sssseeeee seeeeeeee B39 4.6 - Tolerancia ......5. B-44 4.7 - Cabos de sismdgrafos BOs 4.8 - Juntas de vedagao ... B-45 4.9 - Apoios elastonéricos B-46 4.10 - Enchimento de borracha B-46 5 - BIBLIOGRAFIA .eeeseeeeeeee + BH47 Sl ~ ReferEncias s.sseesseeseeeeeeees + BH47 5.2 - Normas do ACI citadas no texto .....seseeeses BOAT 5.3 - Normas do ASTN e do ANSI citadas no texto ... 3-48 APENDICE C - LISTAGEM DA PROGRAMAGAO PARA 0 CALCULO DOS ESFORCOS DE RESERVATORIOS CILINDRICOS CoM COBERTURA CONICA 1 - INTRODUGAO | - CONSIDERACOES GERAIS A necessidade de grandes armazenamentos de agua e de outros produtos tem sido bastante freqiente nestes Gl timos anos. Para suprir essa necessidade, sao construidos reservatérios que, em geral, se classificam em tres grupo: elevados, enterrados e de superficie (Fig. I.1.1). Solu- goes intermediarias entre os dois Gltimos grupos sao fre- qlentes e, nestes casos, os reservatérios podem ser classi ficados como semi-enterrados. As formas dos reservatérios sao, em geral, circu lares ou retangulares (em planta). As cireulares se compor, tam melhor quanto 4 distribuigao de esforcos, devido as si metrias de revolugao de sua superffeie e dos carregamentos. A capacidade de armazenamento dos reservatérios circulares em geral pode ser elevada. Ja as formas retangulares nao tendo simetria de revolugao, apresentam esforgos maiores; quando se tem grande capscidade de 1fquido a ser armazenaé da, em geral, esta forma torna-se inconveniente. Esta for- ma se adapta bem a pequenos reservatérios, pois sua execu- gao € mais simples, apesar de exigir maior consumo de ma- terial. Dentre os grupos de reservatérios apresentados, 1-2 serao considerados neste estudo os de superficie de forma circular, podendo ser englobados também os enterrados e semi-enterrados, que apresentam como diferenga, para calcu lo, a inclusao do carregamento de solo nas cargas atuantes. b) Reservatorio de superficie 0} Reservoterio elevodo c)Reservotério enterrodo Fig. I.1.1- Classificagao dos reservatérios Nos reservatérios de superffcie e enterrados des tacam-se trés partes caracterfsticas que os compoem: pare- de, fundo e cobertura, esta ultima nem sempre necessaria. Deve-se ressaltar ainda as ligagées existentes entre as partes para a formagao do conjunto (Fig. 1.1.2). A parede @ um elemento de forma circular, ligada em cada extremidade ao fundo e & cobertura do reservatério. Sua fungao estatica no conjunto @ a de resistir 4 pressao hidrost@tica lateral, nao permitindo também qualquer tipo de vazamento, e transmitir os carregamentos da cobertura i fundagao. cipula onel do junedo cipula~ porede porede cilfnérica rr tartcio Fig. I.1.2 - Partes de um reservatério. As espessuras das paredes dos reservatorios sao constantes ou variaveis. No caso de espessuras variaveis, normalmente se tem variagio cont{nua do fundo ao topo, ow do fundo a um ponto intermediario, a partir do qual se tem espessura constante até o ponto de ligagao com a cobertura. Normalmente o fundo tem a fungao de transmitir as Presses hidrostaticas e as cargas da parede © da cobertu ra a fundacgao. fem geral constitufdo de uma placa cir- cular esbelta que resiste a pass{veis esforgos localizados devidos a recalques diferenciais e a deslocamentos impedi- dos, tendo na borda um espessamento para melhor distribui- gio das cargas da parede e da cobertura na fundagio. F o- portuno ainda lembrar que outros tipos de fundo, que nao em laje, podem as vezes ser mais interessantes em fungao » pode-se citar, entre outros da utilizagio da obra; assi os casos do fundo cénico para digestor ¢ 0 fundo tronco-c3 nico, usado em alguns reservatérios de agua (Fig. 1.1.3). In4 funda tronco- cBnico fundo cbnice Fig. 1.1.3 - Fundos tronco-cénico e cénico. A vineulagao do fundo com a parede @, em geral, constitufda por um engastanento, uma articulacao ou uma jun ta movel (Pig. I.1.4). 0 engastamento com laje anular pro- posto por BUYER (1957) (Fig. I.1.5) merece ser também des tacado. As coberturas servem para proteger o produto ar- mazenado, mas nem sempre sao necessarias (Fig. I.1.6); em alguns casos, onde nao é necessario garantir a qualidade da Agua, como em alguns reservatérios industriais, costuma-se eliminar essa parte do conjunto. Reservotorio com p engastodo DETALHE A bere Reservatério com pe’ deslizonte DETALHE B Reservatorio com pe’ articulado DETALHE ¢ Fig. I.1.4 - Tipos de ligagao parede-fundo. SS pe engestetssam piece envion Se Figs 1.1.6 - Reservatério sem cobertura. No caso de existéncia de cobertura, destacam-se os tipos em laje ¢ em casca. As coberturas em casca tém melhor comportamento quanto aos esforgos, quando comparadas com as lajes. Dife rentemente das lajes onde 0 esforco solicitante principal & sempre de flexdo, nas cascas, em geral, tem-se apenas compresses com pequenas flexoes causadas pelas vincula~ goes, sendo este tipo de solicitagéo preferfvel para as estruturas de concreto. As cascas podem ser de varias for mas, estabdelecidas, em geral, em fungao do diametroe da finalidade da obra; destacam-se aqui as formas cénica, es férica, elfptica (Fig. 1.1.7 a 1.1.9). As espessuras das cascas sao na maioria das ve~ zes constantes, podendo ter um alargamento préximo da jun gao com a parede (reg fletores). onde ocorrem os maiores esforcos Fig. Fig. 1.7 - Cobertura cdnica. I.1.8 - Cobertura esférica 1.8 As coberturas, algumas vezes, apresentam uma a- bertura no vertice da casca, utilizada para safda de ma- terial ou para inspecao (Fig. 1.1.7) A parede e a cobertura sao ligadas normalmente com um anel de rigidez intermediario, para diminuir os es~ forgos nas bordas das cascas; ligagoes sem o anel sao tam- bém utilizadas (Fig. 1.1.10). DETALHE DETALHE F. Fig. I.1.10 - Anel intermediario na juncao cobertura-parede. Tendo ja sido descritas as particularidades geo- nétricas de cada parte do conjunto, pode-se agora analisar algumas de suas caracterfsticas. Assim, inicialmente, esta Delecem-se dois grupos de reservatérios: os protendidos e os armados. A protensao em reservatério,en geral,é executada distribuida circunferencialmente sobre a altura da pare- de e concentrada no anel. A protensao na parede pode ser estendida da base ao topo ou da base a um ponto interme- diario, © normalmente se faz sua intensidade variar ao lon go da parede. A protensao circunferencial, tanto na parede como no anel, pode ser dada através de fios ou cabos pro- pendidos. A protensao da parede tem a fungao de combater as tensdes de tragio que surgem devido ao carregamento de 1-9 gua, e também eliminar os problemas relativos a fissura~ $80, normalmente existente em paredes sem protensao. A pro, tensao do anel tem por finalidade combater os esforgos nas bordas das cascas (cobertura e parede), provenientes dos carregamentos da cobertura, Em relagao 4 protensao, pode-se ainda mencionar a exist@ncia do tipo vertical, normalmente usado em gran- des reservatérios, onde os esforgos fletores préximos a0 pé sao elevados. Quanto aos reservatérios armados, seu maior pro blema @ a fissuragdo. Sem a existéncia de protensao, a e- liminagao do problema se faz com a utilizagao de baixa tensao na armadura ou com o emprego de produtos especiais que vedem os vazamentos surgidos com as aberturas de fis- suras. Em geral recomenda-se este tipo de construgao para reservatorios de pequenas dimensdes (1500n?). Para este caso o conereto armado pode ser mais econdmico do que o protendido. A partir desta dimensdo, os gastos de mate- rial se elevariam bastante para se ter o reservatério ar- mado, devido a possiveis aumentos de espessuras necess rios em algunas partes; além disso, obtém-se maior segu- ranga com o uso da protensao. £, entretanto, importante lembrar ainda que o lugar da construgao da obra e o produ to a ser armazenado sao condigses determinantes na esco- Iha do tipo (protendido ou armado) a ser utilizado Un dos parametros mais significativos a ser fi- xado em um projeto de reservatério & a relagao entre dia- metro e altura. Verificou-se que valores dessa relagao, préximos de quatro, em reservatérios protendidos, tornam os custos das construgdes minimos, considerando-se apenas © consumo de material; este valor da relacao diametro/al- tura tem sido recomendado por diversos autores como D0- BELL (1951) © LEONHARDT(1964). As espessuras das paredes dos reservatérios pro tendidos médios (3000m> a 10000m3) devem ser tomadas cons tantes; acima de 10000m? deve-se proceder a uma variacao I-10 de espessura. Em reservatério armados normalmente tem-se Parede com variagao linear da espessura, pois os esforgos Pr6ximos ao pé sao grandes, exigindo maiores secoes. £ im portante salientar que, em reservatérios armados, a liga~ gio entre parede e fundo , em geral, engastada. 0 engastamento entre parede e fundo @ uma boa solugao para pequenos reservatérios, protendidos ou nao. Mesmo com um grande aumento no consumo de armadura frouxa, algumas vezes @ vantajoso que se construam reservatorios protendidos com base engastada, devido ao menor custo da construcao da obra. Para reservatérios protendidos, acina de 5000n7, recomenda-se junta articulada ou ndvel. A ligagao da parede com a cobertura @, em geral, feita através de um anel de borda. A solugdo sem a intro ducgio do anel @ normalnente usada para reservatérios pe- quenos. No caso de reservatérios protendidos, a influén- cia do anel nos esforcos totais e no consumo de material praticamente nao existe. Neste caso, o anel & importante Para se dar a protensao concentrada necessaria devida aos esforgos de borda. Anéis de dimensdes grandes em reserva~ tdrios protendides nao tén utilidade: 36 aumentam o consu mo de material. Im reservatSrins arnados, entretanto, @ razofvel a colocagao de anéis maiores para diminuigio dos esforgos nas bordas das cascas. Em relagZo 4 cobertura, quando necessaria, po- de~se definir o tipo a ser utilizado por razdes estéticas ou de custo (neste caso, o principal fator & 0 diametro do reservatério), mas outros fatores, como o local da obra, qualidade da mao-de-obra e finalidade a que se destina po dem ter influéncia na escolha. Com relagao ao dia metro, sabde-se que para pequenos valores (até 12m) a solugio en laje leva a menores custos. Desta dimensao até os grandes vios @ melhor adotar a solugao em casea; outra alternati- va & a utilizagao de lajes com apoios internos (Figura tenet) A escolha da forma da casca a ser utilizada tam bém € condicionada em fungao do diametro ou da finalidade Fig. I.1.11 ~ Reservatdrio com cobertura em laje apniada em apoios intermediarios da obra. Assim, para valores do diametro de 10m a 25m, as solugoes em casca cénica ou esférica (Figs.1.1.7 a 1.1.8), em relagao ao consumo de meterial, sao equivalentes. Acima de 25m a solucao esférica deve ser a adotada, e para valo- res do diametro acima de 59m solugses em casca eliptica po dem ser mais convenientes. Para a andlise dos parametros geonétricos (dimen sdes) ou estaticos (tipos de ligagao) do reservatério, se- ria necessario um estudo bastante ext-nso. Assim, para fa~ cilitar a andlise, resolveu-se particularizar um tipo de reservatério a ser estudado, fixando-se alguns parametros como € mostrado a seguir. Apesar da andlise ser feita para esse tipo particular de reservatdrio, algumas das conclu- I-12 sdes podem ser extrapoladas para outros tipos com razoavel aproximagao. Fig. 1.1.12 - Reservatério a ser analisado. Na Fig. I.1.12 € mostrada a particularizagéo j mencionada. Dentre as coberturas, tomou-se a cénica para estudo, Para a ligagdo da parede com o pé foi tomada a jun ta mével, e para a jungao parede-cobertura foi escolhidaa que possui anel de rigidez intermediario. Ainda foi elimi- nado o carregamento de solo pois, para a andlise pretendi- da, sua import@ncia nao @ fundamental. A andlise também fi cou mais restrita ao campo dos reservatérios protendidos. Reservatérios armados foram analisados apenas nos casos on de havia engastamento na ligacao parede~fundo. 12. OBJETIVO Num projeto de reservatério o niimero de parame- tros a serem definidos € muito grande. A fixagao de cada um deles & sempre feita com base na experiéncia do proje tista em obras similares. Essa escolha, em geral, nao @ a solugao mais adequada, tornando-se tanto mais arbitraria quanto menor for a experiéncia do projetista em obras des te tipo, e consequentemente causando uma grande elevagao do custo da obra. Pretende-se, neste trabalho, fixar racionalmen- te algumas diretiizes de projeto que permitam a definicao dos parametros mais importantes para o tipo de reservaté- rio a ser estudado, Para realizar o objetivo proposto 1-13 acima, uma solugao seria proceder a uma analise do compor- tamento de cada parametro em projetos ja executados; esta solugao nao & conveniente pois, apesar de ser grande o nd- mero de reservatérios j4 construfdos, existe uma grande va riabilidade dos parametros, tornando-se diffcil uma anali- se do comportamento de cada um. Além disso, a obtengao de um bom niimero de projetos para estudo seria muito dispen- diosa. Deste modo, a solug’o mais racional foi a obtida com a resolugao de uma série de exemplos com variagao de a penas um parametro de cada vez. Pode-se, assim, fazer um estudo sistematico do comportamento estatico e do custo, com base na série resolvida. Definido o objetivo fundamental do trabalho, pas sa-se agora a resumir 0 conteddo individual de cada capi- tulo. 13 - CONTEUDO No Capitulo If sao dados os fundamentos da teo- ria das cascas, tomando-se como base os textos de autores conhecidos, como GRAVINA (1956), BILLINGTON (1965), HAMPE (1963), BELLUZZI (1953), e outros. & importante esclarecer que as deducdes das expressdes nao foram feitas; apenas sao mostrados os principais passos para que se obtenham as equacdes fundamentais. Apés ter sido mostrada a equa~ ao geral das cascas, @ apresentada a solugao de membrana tomada como sendo uma particular. No Capitulo III é analisado fundamentalnente o com portamento estatico do conjunto. Inicialmente @ feito o es tudo de flexdo das duas cascas com a solugao da equacao ho mogénea obtida da equagio geral para carregamentos unita- rios aplicados nas bordas. Deste modo, obtén-se coeficien- tes de flexibilidade que permitem estabelecer as equagdes de compatibilidade nas vinculagdes j@ apresentadas. Com a Te14 solugao do sistema de equacoes de compatibilidade obtém-se esforcos hiperestaticos nas bordas das cascas. Com estes valores obtém-se os esforcos finais en qualquer ponto das cascas. Ainda neste capitulo @ ressaltada a aproximacao de HANNA (1956) para cascas esféricas com alargamento na bor~ da, sendo aqui esta sélugdo adaptada para as cascas céni- cas. © Capitule IV trata da definigéo dos carregamen- tos atuantes no reservatorio estudado. Inicialmente sao da das as expressdes dos esforgos e deslocamentos para as cas cas cénicas e cilindricas, e para cada carregamento. A and lise de protensdo é feita ainda neste capftulo. Para a pro tenso circunferencial sao apresentadas varias distribui- des que podem ser utilizadas nos reservatorios. No Capitulo V sao dadas algumas recomendagdes pa ra a determinagao da protensdo circunferencial a ser apli- cada em reservatérios ¢ as especificagoes referentes aocal culo das armaduras frouxas prescritas na NB-1. Mostram-se, ainda, algumas recomendagées do ACI para a fixagao de cer tos pardmetros do reservatério. © Capitulo VI traz o célcule de um reservatério protendido. Através desse exemplo mostram-se os passos a serem seguidos no dimensionamento dos reservatérios do Ca~ pitulo Vir. No Capitulo VII @ calculada uma série de reserva térios do tipo apresentado, isto @, com cobertura cénica e parede protendida sobre apoio mével, fazendo-se variacdes dos outros parametros para determinar a influencia de cada um nos esforcos e no consumo dos materiais. 0s paranetros analisados sao, pela ordem: o anel de borda, onde se desta cam a posigéo e as dimensdes; 0 Angulo de inclinagao da co bertura; as espessuras das cascas, dando-se Enfase a0 estu do do espessamento;e a relagao diametro/altura para a pare de do reservatério. A analise deste dltimo parametro &,tal vez a mais importante, pois em fungdo dele @ que ocorrem as maiores variagdes de consumo para o reservatério estuda do. Apés um estudo da influéncia de cada parametro acima I-15 mostrado, alguns resultados foram comparados com outros ti pos de reservatérios. Inicialmente efetuou-se a comparagao dos resultados de um reservatério calculado com os de re- servatérios com as mesmas dimensdes, mas que tinham 0 pé engastado ou articulado. Prosseguindo as comparacses, des- tacam-se ainda os resultados da utilizacao de coberturas esféricas e a possibilidade econdmica da construgao de re~ servatérios arnados. 0 Capitulo VIII sistenatiza algumas conclusdes decorrentes do trabalho, especialmente aquelas relaciona~ das & fixagao de dimensdes observadas no Capfeulo VII. Nos Apéndices ressalta-se a programagao dos es- forgos do reservatério-tipo em linguagem FORTRAN IV para computadores IBM-1130. Esta programagao podera ser util a quem for projetar reservatérios do tipo dado ou pfoximo deste. Sao também apresentadas, nos Apéndices, as recomen dagdes do ACI-344 que dizem respeito a projeto e constru- cio de reservatdrios protendidos, bem como a solucao da casca conica curta, onde quatro constantes de integracao so consideradas.

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