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A primeira coisa que as pessoas que gostam dos livros fazem quando
compram um é folheá-lo sem pressa, sem maiores compromissos.
Vejamos o que significa cada uma das seções e o porquê dessas interrupções.
® Em cada Pausa
Pausa, você encontrará um exercício-desafio para responder.
Consulte seus colegas e companheiros. Comente e discuta suas respostas.
Como diz o ditado, “duas cabeças pensam melhor que uma”...
® Em cada Em Tempo
Tempo, procuramos acrescentar alguma informação que
seja importante para o entendimento do texto. Por exemplo: dados
numéricos, trechos de documentos históricos significativos e assim por
diante.
Finalizado esse contato inicial com o seu livro, esperamos que você faça
muito bom proveito dele. Aceitamos, de bom grado, críticas, elogios e sugestões.
Os autores
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MÓDULO 6
Coronelismo
e mundo rural
Da Monarquia à República
O presidente
Campos Sales
governou com
muita oposição à
sua política
econômica.
19 O mundo rural, era também um mundo dos homens e das mulheres de mãos
marcadas pela enxada, pelo machado, pela foice e pelo laço de couro: trabalha-
dores das estâncias do sul, que cuidavam do rebanho, cultivavam o trigo e as
vinhas; lavradores de cafezais, das plantações de cacau e tabaco; volantes dos
seringais e castanheiras do norte; boiadeiros do sertão; lavradores dos canaviais
nordestinos, entre outros.
Muitos eram trabalhadores rurais, sem legislação previdenciária e obriga-
dos a entregar ao proprietário quase a totalidade do fruto do seu trabalho. Junto
a eles, compunham o cenário social pequenos proprietários das zonas rurais e
habitantes das pequenas cidades de fisionomia basicamente rural. Esse povo
formava a maior parte do eleitorado.
Sob o aspecto político, o coronelismo pode ser definido como um sistema de
troca eleitoral − de um lado, proteção e favores, sobretudo econômicos; de outro,
o voto seguro e controlado. Era o “voto de cabresto”.
Porém, esse caráter pacífico das relações coronelísticas não era o único. Além
da barganha, da troca, havia a opressão e a violência, utilizados para captar e
conservar votos, tão empregados e usuais quanto os favores e benefícios.
Em algumas situações, a força das armas era acionada, empregando-se as
polícias particulares formadas por jagunços. Amparados pela autoridade do
coronel, encarregavam-se de “convencer” os eleitores “contrários” ou “indeci-
Clavinote: sos”. Eram as chamadas eleições de clavinote , nas quais os eleitores votavam
pequena carabina sob as vistas do jagunço. Afinal, o voto não era secreto.
Assim, o novo regime, instaurado em 1889 e organizado politicamente na
Constituição de 1891, ao mesmo tempo que permitiu a criação de mecanismos
que favoreceram uma maior descentralização do poder, não favoreceu a criação
de um sistema eleitoral sem vícios e controlado pelo poder público. O voto dos
eleitores − transformado em mercadoria de troca entre os membros da sociedade
daquela época − era manipulado e controlado pelos chefes da política nos
estados e municípios. Essa foi, sem dúvida, uma das marcas da vida política e
social na Primeira República, uma “república de coronéis”.
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Relendo o texto Exercícios
A U L A
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade. 19
1. Releia D a M o n a r q u i a à R e p ú b l i c a e identifique a origem do termo
“coronel”.
Fazendo a História
Eleições na Roça
Mário Palmério - Vila dos Confins
19 Qual... minha vista não presta mesmo mais não. Besteira teimar...” Pé-
de-Meia não deixa passar o momento:
“Me dá licença, Seu João.” E pega no mãozão cascudo, pesado. Vai
guiando a bicha para cima e para baixo, vai caminhando com ela por
sobre o papel; (...) “Já varamos um bom eito. Vamos descansar um
pouco: ainda falta o Francisco, falta o ‘de Oliveira’...”
O trabalho não é fácil, não senhor, leva tempo. Mas aos poucos João
Francisco aprende a relaxar a mão, descobre que não carece de fazer
tanta força, já não molha de suor o papel. (...) E, quando o caboclo é ruim
de ensino, Pé-de-Meia é quem enche todo papel, borrando-o de propósi-
to, errando de velhaco, completando um perfeito e indiscutível requeri-
mento de eleitor de roça. Mas quando o caboclo é jeitoso como João
Francisco, Pé-de-Meia prefere carregar-lhe a mão durante o serviço
todo (...).
A pena ringe alto, mais risca bem grosso, bonito... Pelo meio do
caminho, já dono de si, João Francisco acha até de conversar, para
mostrar desembaraço.
“Este é o que é o tal de ‘gê’? Gostei dele: uma simpatia de letra.” E
Pé-de-Meia, solícito: “Pois está ficando um serviço de gente, Seu João.
O senhor até que tem jeito − um letraço! O juiz vai gostar”.
João Soares estava com a razão. Eleição custa dinheiro. Um cabo
eleitoral prático assim como o Pé-de-Meia garantia o serviço, mas
cobrava vinte mil réis por cabeça. E as despesas não ficavam só nisso:
precisa fazer o registro dos eleitores, buscar a certidão de nascimento ou
de casamento fora do município quando o caboclo nasceu fora, entrega
dos títulos. Lá se vai um dinheirão! Depois bóia o pagode. E condução
para muita gente, pois roceiro, quando viaja carrega família toda. A fila
em frente do juiz se reveza, e isso custa mais um ajutório ao Pé-de-Meia,
cuja presença o eleitor exige para assisti-lo na hora de passar o recibo.
Lá está ele, botando coragem no povo.
“Não se afobe, capriche. Você está implicando à toa com o ‘efe’ − a
letra é facinha. Se não decorou direito a voltinha, deixa: o juiz não
repara não...”
2. Substitua a expressão em destaque nesta frase por outra que tenha o mesmo
significado: “a eleição vem aí, e o título de eleitor rende a estima do patrão,
a gente vira pessoa ” .
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AUU
A L AL A
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MÓDULO 6
Expansão cafeeira e
modernização
A expansão cafeeira
20
Durante
muito tempo,
o café − como
produto de
exportação −
serviu de apoio
à economia
brasileira.
O porto de Santos
foi sendo
modernizado
e aparelhado para
atender à
exportação de bens
produzidos na
região Sudeste, e
acabou crescendo
mais que
o porto do
Rio de Janeiro.
O comércio em expansão fez crescer as cidades e, junto, vieram os bancos.
O aumento populacional e a infra-estrutura urbana que se formava permitiram
o surgimento de mercados locais que, desde o final do século XIX, fizeram surgir
inúmeras pequenas manufaturas. Muitas empregavam máquinas e em algumas
trabalhavam dezenas de trabalhadores.
As origens da indústria no Brasil nos levam a uma época anterior a 1888/89
e, portanto, à sociedade escravista do século XIX. Nas primeiras fábricas
brasileiras, trabalhava um número considerável de escravos, muitas vezes ao
lado dos operários livres.
No último ano da Monarquia, em 1889, havia cerca de 600 estabelecimentos
industriais, entre os quais figuravam indústrias de tecidos, de alimentos, de
produtos químicos, de vestuário, de madeira e de metalurgia.
A U L A Na década seguinte, 1890-1899, ocorreu a primeira expansão industrial
significativa. Passamos a importar menos produtos de consumo leve, como
6
O tempo Na Primeira República, o crescimento das atividades industriais ocorreu
não pára dentro de um país agrário: uma república de plantadores.
Sem perder suas características agrárias e somente a partir dos anos 30, o
país viveria um processo de industrialização efetivo, promovido em boa parte
pelo próprio Estado.
Relendo o texto Exercícios
A U L A
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade e no dicionário. 20
1. Releia A expansão cafeeira e:
b) retire do texto o trecho que trata da importância das ferrovias para a ex-
pansão da lavoura cafeeira;
Fazendo a História
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MÓDULO 6
Panorama da República
Velha - Parte 1
A República da Espada
A Revolução Federalista
Prudente de
Morais foi o
primeiro
presidente civil da
República.
A república oligárquica
21
Na modernização
do Rio de Janeiro,
foi criada a
Avenida Central,
no coração da
cidade.
Para isso, boa parte da velha cidade colonial foi destruída. As estreitas vielas
sucumbiram para dar lugar às largas avenidas, às modernas lojas, aos cafés
elegantes. Os tradicionais quiosques e os cortiços freqüentados pelo povo
também foram destruídos.
Lado a lado com a remodelação da cidade estava a ação do sanitarista
Oswaldo Cruz que tentava combater as doenças contagiosas que assolavam a
capital na época de verão. Oswaldo Cruz revolucionou a Saúde Pública comba-
tendo a febre amarela e a varíola.
A campanha da vacina obrigatória foi fortemente rejeitada por parte da
população, que se amotinou na chamada Revolta da Vacina (1904).
Mas o “papai grande”, como era chamado, deixou o governo aclamado pelo
povo. A inauguração da Avenida Central (atual Rio Branco) em 15 de novembro
de 1905 foi um evento memorável.
Conhecido como escritor “maldito” pela intensa crítica que fazia aos diri-
gentes do país, Lima Barreto protestou contra o projeto de modernização da
cidade do Rio de Janeiro, denunciando que a cidade “moderna”, que então se
construía, estava sendo erguida às custas da destruição do que já existia e da
expulsão da população pobre, que já não mais podia circular livremente pelo
centro da cidade. Apenas para construir a Avenida Central foram demolidas
1.681 habitações e quase 20 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar para os
subúrbios ou para os morros mais próximos. Um dos morros mais habitados era
o morro da Favela, que acabou dando o nome a todos os demais morros
habitados pelos pobres da cidade.
Para o autor, o governo republicano estimulava a separação de dois mundos
que não podiam viver separados, pois um dependia do outro: o mundo dos
privilegiados e o mundo dos deserdados, ou, nas palavras do próprio autor,
a cidade européia e a cidade indígena . Sobre o ritmo acelerado da reforma
urbana, Lima Barreto escreveu:
A U L A “ Como isso mudou. Então, de uns tempos para cá, parece que essa gente
está doida; botam abaixo, derrubam casas, levantam outras, tapam as
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O tempo A busca de uma nação brasileira continuaria. De um lado estava o desafio
não pára de encontrar soluções para os problemas nacionais e a intenção de modernizar
a cidade; de outro lado, a preocupação de integrar o homem do campo, com suas
diversas etnias e culturas, na formação do povo brasileiro.
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Documento 1
“ Se houvesse liberdade de expressão e respeito aos interesses da 21
maioria da população, a política de Campos Sales, geradora do desem-
prego e da carestia, jamais teria sido posta em prática.
Se houvesse democracia política, a modernização do Rio de Janeiro
seria planejada de forma a não lançar milhares de homens, mulheres e
crianças ao desabrigo.
Se houvesse democracia, a polícia não expulsaria a cacetadas um
sujeito da casa em que morava com a família, enquanto uma turma de
demolição botava as paredes abaixo! E quando ele e outros iguais a ele
perdem a paciência e começam a espancar policiais, são chamados de
violentos e perigosos!
Se o sistema fosse democrático, o governo é que seria vigiado, e não
a multidão...”
José Carlos Pires de Moura. História do Brasil II . São Paulo, 1982,
Marco Editorial, pág. 31.
Documento 2
O texto abaixo foi escrito por um cronista da revista Fon-Fon , muito lida no
início do século.
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MÓDULO 6
Panorama da República
Velha - Parte 2
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Monteiro Lobato
criou uma
infinidade de
personagens em
seus livros. Mas
Jeca Tatu
destacou-se por
ser o retrato do
homem do campo
no Brasil.
“ Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças
tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim
zoológico da pior espécie. É essa bicharada cruel que te faz papudo, feio,
molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não... És tudo isso sem
tirar uma vírgula, mas ainda és a melhor coisa desta terra. ”
A política do café-com-leite
Santos Dumont
fez voar o seu
14-Bis, em 1906.
Rui Barbosa
Já no início do
século, Rondon
penetrava o
interior do país,
fazendo contato
com indígenas, o
que resultou na
fundação do
Serviço Nacional
de Proteção ao
Índio.
Os trabalhadores
organizavam-se e
faziam seus
congressos.
Para suceder o presidente Venceslau Brás, foi eleito Rodrigues Alves, que já
ocupara o cargo de 1902 a 1906. O ex-presidente, já com 70 anos, combalido pela
gripe espanhola, faleceu antes de tomar posse. Drama que se repetiu com
Tancredo Neves, em 1985. O vice-presidente eleito, assumiu por um período,de
menos de oito meses, até que se realizou nova eleição.
O curto governo do vice-presidente Delfim Moreira, nascido em Cristina A U L A
(Minas Gerais), ficou conhecido como regência republicana.
A oligarquia cafeeira divergiu a propósito da sucessão, de modo que
resolveu apoiar um candidato que não fosse paulista nem mineiro. 22
Mas ficou acertado que os próximos presidentes seriam um mineiro e, em
seguida, um paulista, como de fato ocorreu, dando origem ao termo política do
café-com-leite .
Nessa eleição, Rui Barbosa foi mais uma vez candidato. Apesar de vencer
nas capitais, onde as pessoas tinham mais liberdade para votar, a vitória coube
a Epitácio Pessoa, que era apoiado pelos coronéis. Nessa época a população rural
era muito maior que a urbana.
O movimento tenentista
Luís Carlos
Prestes e Juarez
Távora também
se juntaram ao
movimento
tenentista.
6
O tempo A República no Brasil já nasceu velha. Nasceu de um golpe militar, sem a
não pára menor participação popular. Apesar de ter uma Constituição liberal, manteve o
povo afastado das decisões do poder. A oligarquia cafeeira controlava o país por
intermédio do coronelismo, na área regional; da política dos governadores, na
área estadual; e da política do café-com-leite, na área federal. Isso permaneceu
assim, até que as forças da Revolução de 30 romperam essa dominação.
Relendo o texto Exercícios
A U L A
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade. 22
1. Releia Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos... e
explique:
a) a quem interessava a difusão da idéia da superioridade dos brancos;
Fazendo a História
Discuta com seus amigos as idéias deste texto, sobre o imperialismo das
nações européias industrializadas e suas conseqüências no Brasil.
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MÓDULO 6
Em busca da cidadania
O Viaduto do Chá e
o Teatro Municipal
mostravam o
desenvolvimento
de São Paulo.
Buscando reagir a essa situação, os trabalhadores se organizaram e se A U L A
rebelaram em defesa de seus direitos, em movimentos nem sempre vitoriosos.
No espaço da cidade, sua posição era a de personagens políticos em busca da
conquista da cidadania. 23
O primeiro partido operário do Brasil surgiu em fevereiro de 1890, no Rio de
Janeiro, numa reunião com cerca de 120 trabalhadores, que decidiram editar o
jornal Echo Popular (echo = eco). No Sul, no Norte, no Nordeste, nessa mesma
época, formavam-se diversos núcleos e grupos socialistas que se
autodenominavam partidos e que publicavam vários jornais operários.
Entre 1890 e 1910, surgiram dezenas de organizações socialistas em várias
regiões do país, mas todas tiveram vida curta. Não existia uma tendência
majoritária que fosse capaz de reunir os diferentes grupos.
Os primeiros anos do século XX representaram o início da ascensão do
movimento operário no Brasil, com o aumento do número de greves, o apare-
cimento dos primeiros sindicatos e o fortalecimento de novos grupos políticos,
em especial os anarquistas. Esses grupos tornaram-se uma tendência majoritá-
ria no conjunto do movimento operário de certas cidades, no estado do Rio de
Janeiro e, principalmente, no de São Paulo. Os anarquistas, imigrantes ou
brasileiros, eram defensores das idéias e das práticas libertárias.
A imprensa
brincava com a
obrigatoriedade da
vacinação.
A revolta da vacina
23
Oswaldo Cruz foi
ridicularizado em
várias caricaturas
da época.
Os revoltosos de
Canudos eram
uma ameaça aos
“coronéis”.
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Todos esses movimentos ocorreram na República das Oligarquias, que se O tempo
mostrou incapaz de integrar os setores populares à vida política do país. não pára
A década de 1920 anunciaria tempos de crise da República Oligárquica. Mas,
apenas a partir da Revolução de 1930 seriam realizadas profundas reformas
políticas, econômicas e sociais, que tiveram como um dos seus principais
objetivos a incorporação das massas trabalhadoras ao projeto político do novo
governo.
Exercícios
A U L A Relendo o texto
23 Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.
1. Releia O s m o v i m e n t o s s o c i a i s u r b a n o s e M a s , a f i n a l , o q u e é s e r
anarquista? e responda: Quem eram os anarquistas? O que eles defen-
diam?
Fazendo a História
Documento A
“ Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças,
uma idéia, um conselho para seus padecimentos. As autoridades
não fazem nada e não querem que ninguém faça (...) Eles têm
cobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Os
mandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aos
estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pinti-
nhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia. ”
Discurso do Monge José Maria, líder do Contestado,
citado na coleção Nosso Século , Vol. 2, pág. 21
1. Retire do texto as expressões utilizadas pelo monge José Maria que cor-
respondem aos seguintes agentes:
a) governo;
b) Brazil Railway;
c) coronéis;
d) sertanejos.
2. Tomando por base o texto da aula, explique o significado da frase: “ Eles têm
cobiça por terras” .
Agora leia com atenção o memorial de reclamações apresentado pelo A U L A
Comitê de Defesa Proletária (dos operários) durante a greve geral de 1917 e faça
o que se pede.
23
Documento B
“É o seguinte o memorial de reclamações apresentadas pelo Comitê
de Defesa Proletária e que o proletariado continua a sustentar.
Os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e
das associações político-sociais que compõem o ‘Comitê’ de Defesa
Proletária, reunidos na noite de 11 de julho, depois de consultadas as
entidades de que fazem parte, expondo as aspirações não só da massa
operária em greve como as aspirações de toda a população angustiada
por prementes necessidades, considerando a insuficiência do Estado no
providenciar de outra forma que não seja pela repressão violenta,
tornam públicos os fins imediatos que a atual agitação se propõe,
formulando da maneira que segue as condições de trabalho que, oportu-
namente, serão examinadas nos seus detalhes:
1º Que sejam postas em liberdade todas as pessoas detidas por motivos
de greve;
2º Que seja respeitado do modo mais absoluto o direito de associação
para os trabalhadores;
3º Que nenhum operário seja dispensado por haver participado ativa
e ostensivamente no movimento grevista;
4º Que seja abolida de fato a exploração do trabalho dos menores de 14
anos nas fábricas, oficinas etc.;
5º Que os trabalhadores com menos de 18 anos não sejam ocupados em
trabalhos noturnos;
6º Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres;
7º Aumento de 35% nos salários inferiores a 5$000 e de 25% para os
mais elevados;
8º Que o pagamento dos salários seja efetuado pontualmente, cada 15
dias e, o mais tardar, cinco dias após o vencimento;
9º Que seja garantido aos operários trabalho permanente;
10º Jornada de oito horas e semana inglesa;
11º Aumento de 50% em todo o trabalho extraordinário.
O ‘Comitê’ de Defesa Proletária crê haver encontrado o caminho
para uma solução honesta e possível. Esta solução terá, certamente, o
apoio de todos aqueles que não forem surdos aos protestos da fome. ”
“O que reclamam os operários”, A Plebe, nº 6, 21.7.1917, pág. 3 (AEL). Extraído
do livro A Classe Operária no Brasil 1889-1930 - Documentos, Vol. 1 (Org.
Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Mall) Ed. Alfa Omega, SP, 1979.
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MÓDULO 7
Anos 20, anos de crise
A modernização
do país
prosseguia,
com indústrias
tocadas por
operários cada vez
mais politizados.
O Estado de Sítio era uma medida, prevista na Constituição de 1891, que Nesta
A U L aula
A
permitia ao governo federal (Poder Executivo) suspender quase todos os
direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros e aumentar seu próprio poder.
Para isso, era preciso a aprovação do Poder Legislativo (Câmara e Senado), 24
sempre que se considerasse a ordem pública fortemente ameaçada.
Boa parte dos anos 20 no Brasil, especialmente durante o governo do
presidente Artur Bernardes (1922-1926), foi vivida com o Estado de Sítio
decretado.
Nesta aula vamos tentar entender por que os anos 20 deste século são
lembrados como anos de crise .
Luís Carlos
Prestes passou a
ser chamado de
“O Cavaleiro da
Esperança”.
Final dos anos 20. O governo Washington Luís chegava ao fim de seu
mandato. Era hora de indicar o sucessor. Como determinava a política do café-
com-leite , era a vez de Minas Gerais indicar o Presidente da República. Porém,
o indicado por Washington Luís foi novamente um paulista − Júlio Prestes.
Era o rompimento entre Minas Gerais e São Paulo. Essa crise abriu espaço
para um candidato de oposição: o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, tendo como
vice o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa. Getúlio Vargas e João Pessoa
foram apoiados pela Aliança Liberal , que reunia os partidos republicanos de
Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da Paraíba.
A U L A O programa de governo da Aliança Liberal incluía o estabelecimento do voto
secreto, a Justiça Eleitoral e a anistia política. Com isso, ela conquistou a simpatia
24 da população das grandes cidades, bem como o apoio dos tenentes. A candida-
tura de Getúlio Vargas agradava também aos interesses das oligarquias ligadas
ao mercado interno, como os pecuaristas mineiros e gaúchos.
Apesar de todo o apoio obtido pela Aliança Liberal, foi mesmo o paulista
Júlio Prestes quem se elegeu, obtendo a maioria dos votos. Como era de costume,
os canditados a deputados em minoria (eleitos pela Aliança Liberal) não tiveram
suas eleições reconhecidas pelo Poder Legislativo.
Não satisfeito, Washington Luís ainda deu apoio à revolta do município de
Princesa, na Paraíba, contra o governo João Pessoa. O assassinato de João Pessoa
precipitou a crise.
A atitude do governo Washington Luís convenceu as oligarquias derrotadas
de que era preciso romper com a ordem constitucional. Antônio Carlos de
Andrada, presidente do estado de Minas Gerais, obteve apoio para a idéia com
as seguintes palavras: “é preciso fazer a revolução antes que o povo a faça ”.
Assim, no dia 3 de outubro de 1930, iniciou-se um movimento político-
militar para a derrubada do Governo.. Diante do crescimento do movimento em
todo país, o Alto Comando das Forças Armadas decidiu interferir e promoveu
a deposição de Washington Luís da Presidência da República.
No dia 23 daquele mesmo mês, Getúlio Vargas chegava ao Rio de Janeiro
como chefe do governo provisório.
Leia novamente o texto desta aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure seu significado, no dicionário ou no vocabulário da Unidade. 24
1. Releia Tempo de permanências e mudanças e identifique uma caracte-
rística de continuidade e outra de mudança da década de 1920.
Fazendo a História
Agora, responda:
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MÓDULO 7
Cidadania: da década
de 1930 ao Estado Novo
Com Washington
Luís, praticamente
termina a
República Velha.
Do governo provisório à Constituição de l934 A U L A
Getúlio Vargas
surge no cenário
político brasileiro
e ali permanece
durante três
décadas.
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O Estado Novo caracterizou-se pela consolidação de uma tendência à OA tempo
U L A
centralização política que se anunciava desde os anos 20 e que, ao longo do não pára
período, foi ganhando forma.
No Brasil, o Estado Novo foi a concretização desse caminho autoritário e 25
centralizador, em boa parte distante do jogo político tradicional e das forças
sociais. O novo regime aumentou a presença do poder público na economia, com
a legislação trabalhista, a criação de inúmeros órgãos de política econômica e as
primeiras empresas estatais, a exemplo da Companhia Siderúrgica Nacional.
Fazendo a História
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MÓDULO 7
Crescimento urbano
e industrial dos anos 20
ao Estado Novo
Mudanças na economia
Você sabe quais são os setores da economia? São três: primário, secundário
e terciário. O setor primário é aquele que desenvolve atividades rurais e de
extração, destacando-se a agropecuária. O setor secundário é composto pelas
indústrias. Já o setor terciário reúne o comércio e a prestação de serviços.
Até o final da República Velha, o setor primário predominava na economia
brasileira. Café, borracha, açúcar, cacau e algodão, voltados para a exportação,
eram lucrativos, mas dependiam da situação econômica e financeira dos nossos
principais compradores: a Europa e os Estados Unidos.
O setor secundário, também dependente de países estrangeiros, ainda era
insignificante. Nossas indústrias limitavam-se à produção de bens de consumo
como alimentos, calçados e roupas. Para produzi-los, o país precisava importar
os bens de capital , que são as máquinas e os equipamentos necessários à
fabricação dos bens ou produtos para o consumo da população.
Para garantir a manutenção dos lucros dos fazendeiros de café, o governo
contraía empréstimos em outros países, para a compra da produção excedente.
Isso provocava a desvalorização da moeda e dificultava a compra, pela popula-
ção, de produtos importados.
Assim, a indústria nacional − principalmente a de alimentos e a de tecidos
− foi se desenvolvendo para atender ao mercado interno.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o número de fábricas quase dobrou,
passando de 7 mil, em 1914, para 13 mil, em 1920.
Um dos fatores que contribuiram para o desenvolvimento industrial no
Brasil foi o rápido crescimento das cidades. O aumento da população nos centros
urbanos incentivou a procura de bens de consumo e, com isso, também
aumentou a necessidade de se conseguir mais matérias-primas, máquinas e
equipamentos para produzi-los.
Como vimos em outras aulas, o estímulo ao desenvolvimento industrial já A U L A
era uma tendência durante e após a Primeira Guerra Mundial, mas foi com a crise
de 1929 que a indústria brasileira começou a crescer.
26
O desenvolvimento
urbano trouxe
modernidades:
primeiro, o bonde
puxados por burros;
depois, o bonde
elétrico.
Para manter os
preços de
exportação das
sacas de café, o
governo comprava
tudo que
conseguia e...
queimava!
E a superprodução de café?
O Estado empresário
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De acordo com o que estudamos nesta aula, a industrializacão brasileira foi O tempo
uma meta de governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945). Nesse período, não pára
foram criadas as condições para a implantacão das indústrias de base, favorecen-
do a diversificação da produção industrial. Esse processo continuaria nos anos
seguintes. Mas, apenas nos anos 50, o Brasil deixaria efetivamente de ser um país
agrário, tornando-se predominantemente urbano e industrial.
Exercícios
A U L A Relendo o texto
26 Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Fazendo a História
1. De acordo com o discurso do presidente Vargas, qual era o peso que esma-
gava a economia brasileira?
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A L AL A
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MÓDULO 7
Arte e cultura
(1920-1942)
Com as privações
da Primeira
Guerra Mundial,
o Brasil aumentou
seu parque
industrial.
A U L A A intelectualidade brasileira promoveu, em 1922, em São Paulo, a Semana
de Arte Moderna . Expondo quadros, recitando poesias, fazendo apresentações
No Baile da Corte
Foi o Conde d‘Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de suri
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê, bebê, pitá e caí.
Batizado de
Macunaíma,
quadro de Tarsila
do Amaral.
27
Tropica
Tropicall , quadro
de Anita Malfati.
Fazendo a História
6
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A L AL A
28
28
Estado e sociedade MÓDULO 7
(1920-1942)
28 país. No ano seguinte, o número subiu para 116. Mas esses números eram
pequenos se comparados ao número de sindicatos existentes. Assim, as organi-
zações independentes resistiram, denunciaram, mas também fizeram greves
exigindo que os patrões cumprissem os direitos sociais.
O ano de 1933 trouxe algumas mudanças. A repressão aos sindicatos
diminuiu. Paralelamente, o governo regulamentou a Lei de Férias e instituiu a
carteira profissional (1932). Esse documento passou a ser necessário tanto para
a associação em um sindicato quanto para o direito de férias e a apresentação de
queixas ao Ministério. Tratava-se de um instrumento de controle, mas também
de uma garantia dos direitos. As antigas carteiras emitidas pelos sindicatos
deixaram de ter validade.
O operariado se
unia em seus
poderosos
sindicatos
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no vocabulário da Unidade e no dicionário.
Fazendo a História
6
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29
29
MÓDULO 8
Da vida à História
6
Nesta aula Nesta aula vamos estudar as relações entre o governo e a sociedade da crise
do Estado Novo até o final do segundo governo Vargas (1942-1954). Vamos
tentar compreender como foi construída a popularidade de Getúlio Vargas, que,
mesmo à frente de dois golpes de Estado (em 1930 e 1937) e da ditadura do
Estado Novo (1937 a 1945), da qual foi deposto, acabou chegando à Presidência
em 1950, com maioria absoluta de votos − em eleições livres. Vamos conhecer
também as redefinições legais da cidadania brasileira ocorridas nesse período,
a partir da elaboração de uma nova constituição em 1946.
O mundo em guerra
A invenção do trabalhismo
Laurindo voltou
Coberto de glória
Trazendo garboso no peito
A cruz da vitória (...)
As duas divisas que ele ganhou mereceu
Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu
Amigo da verdade
Defensor da igualdade
Dizem que no morro vai haver transformação
Camarada Laurindo
Estamos à sua disposição
Cabo Laurindo , samba de Haroldo Lobo,
gravado por Jorge Veiga, em 1945
O brigadeiro
Eduardo Gomes
tentou, por
duas vezes, ser
eleito presidente,
pela UDN.
Getúlio criara a
imagem de “pai
dos pobres” e o
povo o adorava.
6
O suicídio de Getúlio Vargas levantou o povo contra os inimigos do OA tempo
U L A
presidente. Lacerda teve de fugir, os jornais de oposição tiveram seus caminhões não pára
incendiados, a Embaixada dos Estados Unidos foi apedrejada... De repente, a
indignação tomou conta do país... 29
Um golpe, que parecia em marcha, capitaneado pela UDN, foi barrado. A
história tomou outro rumo e, de alguma forma, os que viriam a governar o país
nos anos seguintes precisariam mostrar um bom convívio com a memória do
presidente Vargas.
Fazendo a História
Abra a sua Carteira de Trabalho na parte inicial. Caso você não tenha, peça
emprestado a de alguém.
6
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30
MÓDULO 8
Caminhos da
industrialização
O nacionalismo varguista
Com a construção
da Usina de
Volta Redonda,
da Companhia
Siderúrgica
Nacional, o Brasil
passou a diminuir
sua importação de
ferro e aço.
A U L A Em 1943, inaugurou-se a Fábrica Nacional de Motores − FNM, primeira
empresa brasileira a fabricar veículos, em vez de apenas montá-los. A Compa-
Inaugurada em
1942, a
Companhia Vale
do Rio Doce
dominava o
comércio de
minério de ferro e
outros minerais.
O desenvolvimentismo de JK
Belo Horizonte,
fundada em 1897,
sofreu grandes
modificações,
quando JK
governou Minas
Gerais.
30
A primeira fábrica
de carros de
passeio no Brasil
foi a Volkswagen.
6
Os anos JK trouxeram euforia, crença e desenvolvimento. Porém deixaram OA tempo
U L A
algumas heranças que logo se revelaram complicadas. Brasília, a nova capital do não pára
país, foi construída durante o governo JK, sendo inaugurada em 21 de abril de
1960, como meta-síntese de JK. Nesse momento, grande parte das metas havia 30
sido alcançada, e a sociedade brasileira já não era basicamente rural. Porém, o
aumento da inflação, a concentração dos lucros industriais nas mãos de um
pequeno número de empresários de alguns setores industriais, assim como a
alta dívida externa, começaram a provocar um grande descontentamento em
boa parte da população brasileira.
Não foram apenas as questões econômicas que marcaram o período JK como
um período relevante; no campo cultural e político, também aconteceram muitas
mudanças, associadas ao crescimento das cidades e ao desenvolvimento indus-
trial. Mas, para entendê-las, você vai ter de esperar nossas próximas aulas.
a) qual setor industrial foi valorizado nos dois governos de Getúlio Vargas;
Fazendo a História
30 “ Petróleo é energia, que tem que ser vendida pelo preço mais barato
possível, a fim de facilitar a produção de todas as demais riquezas.
Petróleo é a base da economia e da defesa militar de um país. Não há
como, na indústria do petróleo, se associarem o Estado e os particulares.
Se a indústria do petróleo visa lucros comerciais, perde o seu caráter,
deixa de ser interessante para os capitais privados. É uma injustiça
social entregar o privilégio da indústria do petróleo a alguns, mesmo
sob a forma de ações de uma sociedade mista. O petróleo pertence à
nação, que há de dividi-lo igualmente por todos os seus filhos.”
Trecho do pronunciamento do general Horta Barbosa, durante a Campanha
“O Petróleo é Nosso”, em 1947.
Documento B
1. Identifique no documento A:
3. Identifique no documento B:
6
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31
Arte e cultura MÓDULO 8
(1942-1961)
31 Ela é fã da Emilinha
Não sai do César de Alencar
Grita o nome do Cauby (ihhh...)
E depois de desmaiar
Pega a Revista do Rádio
E começa a se abanar.
Fanzoca do Rádio , de Miguel Gustavo
César de Alencar e
Marlene: duas
figuras
extremamente
populares
por causa
dos programas
de rádio.
Além dos programas musicais, das notícias e das transmissões oficiais do A U L A
governo, o rádio se popularizou com as novelas, como O Direito de Nascer . Em
1945, a Rádio Nacional no Rio de Janeiro (conhecida como “A Rádio das
Multidões”) transmitia, diariamente, catorze novelas. As famílias se reuniam 31
em torno do rádio e, em muitas casas, o aparelho era um acompanhante que
ficava ligado, sempre presente, o dia todo.
Durante os jogos de futebol das Copas do Mundo desse período, e mesmo
nos jogos nacionais, o rádio era companheiro inseparável dos torcedores.
Quantos brasileiros não choraram, junto com os locutores, em 1950, no último
jogo contra o Uruguai, quando, jogando em casa, no Maracanã, o Brasil perdeu
a Copa? E quantos não comemoraram, agarrados a seu rádio, o sucesso de 1958?
Assim, nessas duas décadas, o rádio foi se tornando fundamental para a
criação de uma cultura brasileira, ou melhor, de uma cultura nacional. Formava
opinião, proporcionava prazer e diversão, ligava o país de norte a sul.
Mas, em termos de diversão popular, o cinema nacional não ficava atrás...
Apesar do desprezo dos críticos, como percebemos por esse trecho do artigo
de Salvyano Cavalcanti, o cinema brasileiro passou a conhecer um tempo de
glória com as chanchadas da Atlântida. As chanchadas eram filmes cheios de
cenas de fazer rir, sustentadas pelo talento de atores como Grande Otelo,
Oscarito, Zé Trindade, José Lewgoy, entre tantos outros. Era um tipo de filme
muito popular, e o público lotava as salas de cinema para se divertir com as
comédias, sempre com muita música, cenas de amor e também com críticas
alegres à vida política e cotidiana do povo brasileiro.
Grande Otelo e
Oscarito
participaram de
várias chanchadas
da Atlântida.
O cinema
nacional ganhou
seu primeiro
prêmio
internacional
com o filme
O Cangaceiro.
31 Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure o seu significado, no vocabulário da Unidade ou no dicionário.
2. Releia “Este programa pertence a vocês ” e cite uma razão para que os
programas de auditório no rádio fossem tão populares nas décadas de 1940
e 1950.
Fazendo a História
1. Escreva um pequeno texto sobre o período histórico tratado por esta aula,
utilizando as seguintes expressões:
− rádio:
− integração nacional:
− informação:
− diversão:
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MÓDULO 8
Os anos dourados
Nesta caricatura,
os soviéticos
encaram seus
inimigos na
Guerra Fria como
generais nazistas.
A U L A O mundo capitalista era composto pelas chamadas democracias liberais . A
liderança norte-americana em termos político-militar e econômico tornava-se
Plano Piloto de
Brasília: seu
desenho lembra
um avião, com as
asas norte e sul.
O maior símbolo do otimismo dos anos que ficaram conhecidos como “anos
dourados” foi, sem dúvida, a construção de Brasília − a nova capital do Brasil,
a partir de 1960.
JK dizia ter se resolvido pela criação da nova capital em um comício, quando
um popular lhe perguntara: “Já que o senhor se declara disposto a cumprir
integralmente a Constituição, desejava saber se irá pôr em prática aquele
dispositivo da Carta Magna que determina a transferência da capital da
República para o planalto goiano. ” Juscelino respondeu que sim, e transformou
Brasília em sua meta-síntese , fechando o programa de Metas.
Construir Brasília não significou apenas criar muitos empregos, nem provo-
car uma onda migratória de brasileiros, que, além de construir uma nova cidade,
esperavam conseguir uma vida melhor na nova capital. Brasília transformou-se
num símbolo dos “50 anos em 5”. Construí-la era prova de coragem, audácia,
ousadia...
Porém, sempre existe o outro lado da moeda. Construir Brasília nos custou
muito caro. Os gastos com as obras foram altos. Sua manutenção tornou-se
excessivamente cara. A inflação elevada ao final do governo JK teve na constru-
ção de Brasilía um dos seus principais estimuladores.
No dia 21 de abril de 1960, a cidade idealizada por JK e projetada pelos
arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foi inaugurada com muita festa e
euforia.
A U L A A sociedade e a cultura dos anos dourados
À esquerda,
Orfeu do
Carnaval, filme
que adaptou
Orfeu da
Conceição (de
Vinícius de
Morais).
À direita,
Carlos Lyra e
Nara Leão,
no início da
bossa nova.
Imagine uma peça de teatro escrita por Vinicius de Moraes com músicas de
Tom Jobim e cenários de Oscar Niemeyer: era Orfeu da Conceição, grande
sucesso de 1956. Nesse mesmo ano, Maria Clara Machado lançou seus Cadernos
de Teatros que incentivavam a criação de grupos amadores. Outras peças A U L A
famosas desse período foram Eles não usam black tie de Gianfrancesco Guanieri
e O pagador de promessa de Dias Gomes. Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha,
lançou os grandes sucessos Mão na luva e Rasga coração; e Augusto Boal ganhou 32
o primeiro prêmio Molière (de teatro), em 1963.
No cinema, como já se viu as chanchadas da Atlândida revelaram ao mundo
grandes humoristas como Grande Otelo e Oscarito. Jô Soares fez sua estréia em
1959, no filme “O homem do sputinik”. Chico Anísio já fazia o povo rir pela TV,
a partir de 1960.
O cinema de arte contou com grandes lançamentos de Nelson Pereira dos
Santos, Roberto Santos e Ruy Guerra. Em 1962, o filme O pagador de promessa,
do diretor Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Com os filmes de Gláuber Rocha, (Deus e o diabo na terra do sol, Terra em
transe e outros) o cinema de arte passou por uma revolução de linguagem e de
temas que o caracterizou como Cinema Novo .
A grande liberdade que reinava no país, permitiu a crítica social e incentivou
a produção artística. Havia certo orgulho romântico de ser brasileiro, e um
espírito de luta e otimismo.
Os estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes − UNE fundaram o
Centro Popular de Cultura − CPC, que pretendia levar cultura e conscientização
política para os trabalhadores, por intermédio da arte. Apoiando os estudantes,
estavam artistas e intelectuais.
Destacaram-se no cenário internacional feitos como o de Maria Ester Bueno,
que venceu o campeonato de tênis de Wimbledon em 1957; a conquista da Copa
do Mundo pela Seleção Brasileira de Futebol, em 1958; o título de campeão
Mundial de Boxe, na categoria “peso galo”, conquistado por Eder Jofre, em 1960
e a eleição da Miss Universo Ieda Maria Vargas, em 1963.
6
A euforia não duraria muito. A política desenvolvimentista resolvera alguns O tempo
problemas, adiara outros tantos e criara novos. Entre estes últimos estava o não pára
aumento da concentração de renda na região Sudeste e a inflação, que ameaçava
escapar ao controle. Na periferia de Brasília, a miséria das cidades satélites
expunha o outro lado da modernidade alcançada.
As crises, temporariamente adiadas, reapareceram já no fim do governo de
JK. A aliança PSD-PTB começou a “balançar”, com o grande crescimento dos
petebistas, que ameaçaram o tradicional domínio do PSD. Cresceu, também, a
participação dos militares, solicitados pelos políticos civis que consideravam as
manifestações populares, no campo e na cidade, como atividades que podiam
destruir a ordem. A campanha eleitoral para a sucessão do presidente Kubitscheck
substituiu o otimismo pelo moralismo do candidato Jânio Quadros, que se
mostrou como “aquele que poderia acabar com o caos no país”.
No próximo módulo, você vai ver como a esperança dos “anos dourados”
virou radicalização na década de 60 e quais as alternativas que os conflitos sociais
colocaram para a política e a economia brasileira.
Exercícios
A U L A Relendo o texto
32 Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Refazendo a História
Funeral de um lavrador
De João Cabral de Melo Neto
Este poema, que foi musicado por Chico Buarque, mostra como a produção
cultural dos anos dourados ia fundo nos problemas sociais. Qual é a grande
questão colocada nesses versos?
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33
Da esperança MÓDULO 9
à repressão
Varre,varre, vassourinha.
Varre toda a bandalheira,
Que o povo já está cansado
De sofrer desta maneira
Jânio Quadros é a esperança
deste povo abandonado (...)
Música da campanha de
Jânio para a Presidência.
33
O comício na
Central do Brasil,
no Rio de Janeiro,
disparou a reação
dos oponentes
a Jango.
Revolução
Mas, afinal, quem eram esses militares que assumiram o poder em abril de
1964? Eram, na sua maioria, membros da oficialidade, formados no pós-guerra,
em meio ao clima da Guerra Fria . Muito deles passaram pelos cursos da Escola
Superior de Guerra − ESG, criada em 1949, seguindo um modelo norte-america-
no, com o objetivo de preparar as elites civis e militares para resolver questões
relativas ao planejamento e à segurança nacional.
A segurança nacional era entendida como a mobilização de todos os
recursos nacionais contra as possíveis ameaças externas, mas, principalmente,
contra os inimigos internos, que eram identificados como “comunistas subver-
sivos”, naqueles tempos de Guerra Fria.
Depois da queda de Jango, a tarefa de organização do novo poder começou
a colocar frente a frente as posições de grupos, dentro das Forças Armadas, que
não possuíam as mesmas idéias a respeito dos rumos do movimento. De um
lado, estava o grupo mais moderado, com aspirações liberais; de outro, a
chamada linha dura que, acreditando travar uma “guerra revolucionária”,
desejava perseguições e o “endurecimento” cada vez maior do governo.
Foi nesse contexto que se desenvolveu o governo Castelo Branco. Em 1965,
com a vitória da oposição nas eleições para importantes governos, como os de
Minas Gerais, (Israel Pinheiro) e da Guanabara (Negrão de Lima), os setores da
linha dura levaram o governo a editar o Ato Institucional nº 2.
Além da prorrogação do mandato presidencial, esse Ato permitia que o
presidente fechasse o Congresso, realizasse novas cassações e, principalmente,
dissolvesse os antigos partidos políticos. Surgiram, dessa maneira, a Aliança
Nacional Renovadora − ARENA, que deveria servir de apoio ao governo, e o
Movimento Democrático Brasileiro − MDB, que faria a oposição consentida, isto
é, aceita pelo governo.
O quadro político foi agravado por novas medidas autoritárias, como o Ato
Institucional nº 3 (determinando a escolha indireta dos governadores de estado),
o Ato Institucional nº 4 (estabelecendo as condições em que a nova Cons-
tituição seria votada pelo Congresso) e a indicação do general Costa e Silva, A U L A
ministro do Exército, para suceder ao marechal Castelo Branco.
Tal situação frustrou as expectativas de antigos aliados civis do golpe, que
acreditavam poder participar mais intensamente das decisões políticas. 33
Alguns órgãos de imprensa, que haviam apoiado o movimento de 64,
começaram a denunciar as violências e as perseguições, como o jornal carioca
Correio da Manhã. Aos poucos, esse órgãos foram sendo atingidos pela censura.
As promessas de devolver o país à democracia não se cumpriam.
Além das transformações jurídico-políticas ocorreram mudanças na econo-
mia. Combater a inflação e recuperar a confiança dos investidores e credores
internacionais passaram a ser prioridades.
Para atingir esses objetivos, ainda em 1964 foi lançado o Plano de Ação
Econômica do Governo − PAEG, coordenado por Roberto Campos. O país se
abriria para as empresas multinacionais, que iriam gerar empregos e progresso.
O governo brasileiro, para colocar esse plano em prática, contou com o apoio
do governo norte-americano, que tinha um programa de ajuda aos países
subdesenvolvidos chamado Aliança para o Progresso . Com empréstimos dos
Estados Unidos, com a diminuição dos gastos públicos e com a contenção
salarial, o governo pretendia acabar com a crise econômica brasileira.
Já que a ação dos sindicatos estava limitada pela política de cassação e
repressão do governo militar, os trabalhadores acabaram perdendo boa parte do
seu poder aquisitivo. Foi criada a correção monetária , que estimulou as
cadernetas de poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço − FGTS,
que permitiu o investimento na construção de moradias (embora tenha sido
construída apenas uma pequena quantidade de conjuntos habitacionais) pelo
Banco Nacional de Habitação − BNH. O FGTS também tinha o objetivo de
extinguir determinados mecanismos que garantiam a estabilidade no emprego.
Com o aumento dos juros e os estímulos à exportação, foram beneficiados
bancos particulares e o parque industrial privado. Mas muitas pequenas e
médias empresas não suportaram a concorrência das grandes e acabaram
fechando suas portas.
Era a retomada da oligopolização (controle de setores do mercado por
algumas poucas empresas que fazem acordo sobre os preços) e do processo de
concentração de riqueza.
33 Ampla ao fracasso.
Em 1968, protestando contra a política educacional, o corte de verbas, a
diminuição dos salários dos professores, a redução do número de vagas, o
incentivo ao ensino particular com verbas públicas, e opondo-se ao próprio
governo, os estudantes realizaram diversas manifestações em várias capitais. O
ponto máximo da mobilização dos jovens ocorreria em junho, por causa do
assassinato do estudante Edson Luís, pela polícia.
No dia 26 de junho de 1968, o Rio de Janeiro assistiu à Passeata dos Cem
Mil . Milhares de pessoas saíram às ruas, na maior manifestação contra o
governo desde 64. Artistas, intelectuais, estudantes, padres, freiras, professo-
res, funcionários públicos, jornalistas e mães exigiam a libertação dos jovens
presos. A classe média saía às ruas para mostrar sua insatisfação. O governo
relutava em negociar e respondia com evasivas.
Naquele momento em que os protestos contra o regime não paravam, a
oposição consentida do MDB no Congresso passou a ser mais agressiva em suas
acusações ao governo. Aí surgiu a gota d’água para o fechamento do regime.
Um discurso do deputado carioca Márcio Moreira Alves, do MDB, pregan-
do o boicote popular ao desfile de 7 setembro, provocou irritação nas Forças
Armadas e levou o governo a exigir que o Congresso punisse o deputado. Mas
o Congresso recusou o pedido de licença para processá-lo. No dia seguinte, 13
de dezembro, o presidente Costa e Silva assinou o Ato Institucional nº 5, que
fechou o Congresso por tempo indeterminado, cassou diversos mandatos e
levou mais gente para a cadeia. Era o fechamento completo do regime .
6
O tempo Com a “Revolução” de abril de 1964, foi implatado no Brasil um novo
não pára projeto de Estado, privilegiando a manutenção da ordem, o desenvolvimento
econômico capitalista e o controle dos movimentos sociais. Para atingir esses
objetivos, os líderes militares mostraram-se dispostos a sacrificar qualquer
noção de direito, de cidadania e de Estado de Direito vigente no país.
No ano de 1968, o termômetro da mobilização social atingiu graus intolerá-
veis para as autoridades. A violência do Ato Institucional nº 5 significou o início
dos “anos de chumbo”.
Em agosto de 1969, com a doença de Costa e Silva, que sofreu um derrame
cerebral, o vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, foi impedido de assumir a
presidência por sua posição contrária ao Ato Institucional nº 5. Os três ministros
militares formaram, então, uma junta militar e assumiram o governo.
A violenta repressão e a censura que se abateu sobre o país impediram a
participação política da sociedade. Assim, alguns grupos partiram para o
caminho da clandestinidade e da luta armada. Organizações guerrilheiras,
formadas por diferentes grupos radicais de esquerda, passaram a realizar
assaltos a bancos, como forma de obter dinheiro e armas para a luta, e a
seqüestrar embaixadores estrangeiros, com o objetivo de denunciar o governo
e obter a libertação de presos políticos que iam para outros países, exilados.
Iniciou-se uma verdadeira guerra entre as forças militares e os grupos da
esquerda armada.
Foi nesse contexto de crise que se deu a escolha do general Emílio Garrastazu
Médici para o governar o Brasil.
Relendo o texto Exercícios
A U L A
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade. 33
1. Releia O fim da república democrática e explique:
a) o que foi a Campanha da Legalidade;
b) o acordo que evitou a guerra civil e garantiu a posse de Jango.
2. Releia Revolução e responda:
a) que setores apoiaram a deposição de Jango?
b) com que Ato as Forças Armadas se responsabilizaram pela manutenção
da ordem interna e do combate à corrupção?
3. Releia Duros x moderados: o governo Castelo Branco (1964-1967) e diga
que medidas práticas foram tomadas com o Ato Institucional nº 2?
4. Releia O fechamento do regime: o governo Costa e Silva (1967-1969) e
explique as manifestações estudantis de 1968.
5. Dê um novo título a esta aula.
Refazendo a História
Marcha da quarta-feira de cinzas
Letra de Vinicius de Moraes e música de Carlos Lyra
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Nesse poema, Vinicius de Moraes, lamentava o fim do período democrá-
tico, comparando-o ao carnaval. No entanto, previa que, em breve, voltaria
a esperança. Infelizmente, ele não viveu para ver esse dia feliz.
Em sua opinião, que esperança era essa, e quais seriam essas promessas
de luz a que Vinicius se referia?
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34
MÓDULO 9
Os anos de chumbo
Milagre econômico
Criados pelo
governo, estes
lemas eram
divulgados pelo
país inteiro.
Repressão
A propaganda
O movimento
estudantil entrou
em conflito com a
polícia e com
outras forças da
repressão.
No governo Médici foi instituída a censura prévia . Tudo que se lia, via ou
ouvia, tinha de ser autorizado pelo Departamento de Censura Federal. Os filmes
sofriam cortes; peças de teatro eram modificadas, e até se alteravam letras de
músicas. A liberdade de imprensa foi tolhida de tal modo que, dentro da redação
de jornais e revistas, havia censores.
Os livros considerados subversivos foram retirados das bibliotecas e livra-
rias. Disciplinas como Filosofia e História , que são tão importantes para o
desenvolvimento do pensamento e da crítica, foram simplesmente eliminadas
dos currículos escolares. Em seu lugar foi introduzida uma disciplina chamada
Estudos Sociais, que misturava a história oficial e geografia, e Educação Moral
e Cívica, cujo objetivo era a doutrinação dos estudantes.
A ampliação da violência e do controle da imprensa e das artes provocou um
clima de tensão e de insegurança. Por isso, muitos artistas e intelectuais tiveram
de sair do país, e os que ficaram foram perseguidos, além de terem sua liberdade
de criação limitada pela censura e pelo medo da prisão.
Geraldo Vandré
escreveu a música
Para não dizer que
não falei de flores.
Pra não dizer que não falei de flores A U L A
34 Caetano Veloso,
Rita Lee,
Maria Bethânia,
e outros artistas
formavam o grupo
tropicalista.
6
O tempo Para se legitimar, ou seja, para ser aceito pelo povo, o regime militar
não pára precisaria ter sucesso em desenvolver o país e dar melhores condições de vida
à população. Embora conseguisse sufocar qualquer oposição, a ditadura não
conseguiu superar suas próprias contradições. A partir de 1973, num cenário de
crise internacional pela alta dos preços do petróleo e alta dos juros, o “bolo
econômico” parou de crescer, sem que o povo tivesse recebido sua “fatia”.
Iniciou-se, então, um longo e gradual processo de abertura política.
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
3. Releia Censura, nunca mais! e Pra não dizer que não falei de flores e
explique de que forma a censura afetou a produção cultural do país.
Sr. Ministro:
6
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35
MÓDULO 9
Amanhã há de ser
outro dia
Do milagre à crise
Exemplo de obra
gigantesca, a
hidrelétrica de
Itaipu gastou
milhões de dólares
em sua
construção.
A crise do petróleo
Outro exemplo de
obra gigantesca:
35
a usina nuclear
Angra I.
A reação foi imediata: impôs-se um duro golpe aos setores radicais do próprio
governo, com a demissão do comandante do Segundo Exército e do próprio
ministro do Exército.
Os pacotes eleitorais
O pacote de abril
A década de 1970 terminou com um Brasil bem diferente do que começara. O tempo
No plano econômico, a euforia deu lugar à crise; e no plano político, os anos de não pára
chumbo cederam espaço para um pouco de liberdade. Em dezembro de 1978, foi
revogado o Ato Institucional nº 5, o mais importante instrumento de repressão
política. A partir daí, veio a certeza de que o regime autoritário se esgotara e de
que era chegada a hora da democracia.
No plano político, a década de 1980 representou um momento decisivo na
História brasileira. O regime militar − pressionado tanto pela crise econômica
como pela capacidade de organização da sociedade − foi sendo obrigado a abrir
mão do poder. As campanhas pela anistia e pelas diretas já tiveram um papel
significativo nesse processo de democratização do Estado.
O primeiro governo da Nova República teve de enfrentar a grave crise
econômica, com inflação em alta, e a crise social, com desemprego, miséria, falta
de assistência à população. No campo político conseguiu que fosse mudada a
legislação autoritária, por meio de uma nova Constituição.
Fazendo a História
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A hora e a vez MÓDULO 10
da democracia
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Com a revogação do Ato Institucional nº 5, no final do governo Geisel, a Nesta aula
sociedade passava a ter mais liberdade e crescia a organização política e a
mobilização. Nesta aula estudaremos o processo de redemocratização, também
chamado de abertura política , e a transição do governo militar para o governo
civil. Vamos enfocar a participação popular em duas campanhas memoráveis:
a da Anistia e a das Diretas Já.
A pergunta que fica no ar é: quem redemocratizou o país foi o governo ou
o povo? Boa leitura!
A abertura política
A União
Nacional dos
− UNE,
Estudantes−
Estudantes
fechada pelo
governo,
reapareceu
em 1979.
Com a abertura,
tornou-se possível
até fazer
caricaturas como
esta, que mostra
os deputados
Ulisses Guimarães
e Francelino
Pereira em luta.
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A posse do vice-presidente José Sarney transcorreu em absoluta normalida- OA tempo
U L A
de, confirmando o desejo popular de restabelecimento pleno da democracia. não pára
No entanto, durante o governo Sarney, o povo brasileiro teve de enfrentar
duras provas: a inflação atingiu níveis insuportáveis, trazendo a recessão, o 36
desemprego e a fome.
Fazendo a História
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A UA UL L AA
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MÓDULO 10
A Nova República
Nesta aula Em 1985, depois de 21 anos, o Brasil tinha novamente um governante civil.
Os movimentos sociais estavam conseguindo a redemocratização do país e o
restabelecimento dos direitos civis.
Nesta aula veremos como o novo regime democrático se firmou, depois da
elaboração da Constituição mais moderna e democrática que já tivemos.
José Sarney Com a posse do presidente José Sarney, eleito vice-presidente na chapa
era o presidente encabeçada por Tancredo Neves, iniciou-se a fase da história republicana
do PDS. brasileira conhecida como Nova República.
O rompimento A expressão “Nova República” foi cunhada pelo então governador de Minas
aconteceu quando a Gerais, Tancredo Neves, ao se lançar candidato à Presidência da República, com
maioria da direção o significado de compromisso com a superação definitiva do regime militar, por
do PDS desaprovou meio do pleno restabelecimento do regime democrático.
a idéia de se Na formação do governo da Nova República refletia-se a complexa “enge-
realizar uma prévia nharia política” executada pelo presidente Tancredo Neves no sentido de
eleitoral, da qual constituir uma equipe administrativa comprometida em dar continuidade ao
participariam todos processo de redemocratização. Por essa razão, o ministério do presidente José
os filiados ao Sarney era constituído pelos mesmos ministros que haviam sido convidados por
partido, para ver Tancredo Neves.
qual era o A posse do vice-presidente eleito − quando problemas de saúde impediram
candidato preferido: Tancredo Neves de assumir a Presidência da República − foi mais um passo na
Paulo Maluf , direção da construção de uma ordem democrática no país.
Aureliano Chaves ou
Mário Andreazza.
Flávio Rangel. Eliminando o entulho autoritário
Jornal do Brasil
23 de abril de1985 A Nova República tinha dois objetivos políticos a curto prazo: primeiro, o de
revogar as leis que vinham do regime militar, chamadas pelo então senador
Fernando Henrique Cardoso de “entulho autoritário”; o segundo objetivo,
consistia na eleição de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elabora-
ção de uma Constituição que restabelecesse o Estado de Direito.
Em maio de 1985, o presidente José Sarney enviou ao Congresso Nacional
um conjunto de projetos de lei para começar a constituir uma ordem jurídica
democrática e, ao mesmo tempo, criar condições para uma ampla participação A U L A
política da sociedade na escolha da futura Assembléia Nacional Constituinte.
Entre essas medidas, que foram transformadas em lei pelo Congresso Nacional,
destacam-se as seguintes: 37
l restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, vice-
presidente e para prefeitos das capitais, das áreas consideradas de seguran-
ça nacional e das estâncias hidrominerais;
Durante muitos
anos, o deputado
Ulisses Guimarães
foi presidente da
Câmara dos
Deputados,
fazendo oposição
ao governo.
No entanto, até a promulgação da nova Constituição, a Nova República era
ainda um período intermediário entre o regime autoritário dos militares e a
democracia plena. O presidente da República continuou com poderes concen-
trados, como o de baixar decretos-leis, utilizar o decurso de prazo para aprovar
projetos no Congresso ou determinar medidas de emergência.
Também as Forças Armadas, por causa dos dispositivos legais ainda em
vigor, continuaram a reprimir conflitos internos e a intervir no processo político,
ainda que discretamente. Um exemplo trágico foi a invasão da Companhia
Siderúrgica Nacional por tropas do Exército para reprimir uma greve, em 1988,
o que resultou na morte de três metalúrgicos.
A U L A A nova Constituição
Com a chamada
Constituição
Cidadã, o povo
podia tirar
definitivamente a
“mordaça” da
repressão e
expressar-se como
membro ativo da
sociedade.
l o direito, expresso nas leis votadas pelos representantes eleitos pelo povo,
constitui o instrumento regulador das relações políticas, econômicas e
sociais na sociedade;
PA RT I C I P E DA S E L E I Ç Õ E S
P ELA CONSTITUIÇÃO DE 1988, TODAS AS PESSOAS MAIORES DE 16 ANOS
PODEM VOTAR . E O VOTO É OBRIGATÓRIO A PARTIR DOS 18 ANOS .
A LÉM DE ESCOLHER CONSCIENTEMENTE O SEU CANDIDATO, AS PESSOA PODEM
PARTICIPAR DO PROCESSO ELEITORAL DE OUTRAS MANEIRAS :
Frei Betto
Betto, OSPB
Introdução à Política Brasileira, Editora Ática, São Paulo, pág. 71
A U L A A revisão constitucional
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade
Fazendo a História
Documento A
Documento B
3. “As diferenças de raça, cor, sexo, condição social e econômica não mudam
a natureza das pessoas, nem criam espécies diferentes de seres humanos.”
Levando em conta essa afirmação e mais o que está garantido pela Consti-
tuição, faça uma redação sobre os Direitos Humanos.
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A UA UL L AA
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MÓDULO 10
Inflação:
diagnósticos e terapias
Inflação: os diagnósticos
Inflação, você sabe muito bem, é o aumento constante e geral dos preços, o
que provoca a perda do poder de compra que a moeda possui.
No início da década de 1980, mais precisamente entre 198l e 1983, o país
mergulhara na sua crise econômica mais grave, resultante do modelo de
desenvolvimento do regime militar.
O governo João Figueiredo procurou combater a inflação com uma política
que procurava reduzir a atividade econômica, porque, dessa forma, ao diminuir
a massa salarial, o governo achava que os preços tenderiam a subir menos, por
falta de compradores. O governo foi, assim, o agente direto da recessão dos
primeiros anos da década de 1980.
Quando se iniciou o governo do presidente José Sarney, em março de 1985,
a situação econcômica do país vinha se recuperando da recessão . O grande
impulso proveniente das exportações permitiu que a economia brasileira reto-
masse o crescimento. A queda das importações e o aumento das exportações
fizeram com que houvesse um saldo de 13,1 bilhões de dólares na balança
comercial, permitindo que o Brasil pagasse os juros de sua dívida externa. As
reservas externas brasileiras chegaram a 9 bilhões de dólares.
O país encontrava-se, portanto, em situação um pouco mais confortável,
podendo até prescindir do Fundo Monetário Internacional − FMI e procurar
acordos diretos com os bancos credores privados.
A U L A
EXPORTAR É A SOLUÇÃO? 38
“ Essa política econômica voltada para a exportação provoca, entre
outras coisas, duas conseqüências graves: aumenta a pobreza do povo e
enriquece ainda mais as multinacionais. Aumenta a pobreza porque não
há interesse em favorecer o mercado interno; a produção é para ser
vendida em dólar. Não havendo interesse em ampliar o mercado interno,
não há interesse em aumentar os salários dos trabalhadores brasileiros.
Ao contrário, quanto menos ganhar o trabalhador brasileiro, mais
barato fica o custo de produção das mercadorias vendidas lá fora e,
portanto, maior o lucro das empresas”.
Frei Betto
Betto, OSPB
Introdução à Política Brasileira, Editora Ática, São Paulo, pág. 57)
38 O Plano Cruzado
No Plano Cruzado,
cada cidadão que
fosse a um
supermercado, ou a
algum outro tipo de
loja, podia se
transformar num
“fiscal do Sarney”,
denunciando
aumentos abusivos
de preço.
O Plano Bresser
O Plano Verão
Brasil
De Cazuza
Não me convidaram prá essa festa pobre Ver TV a cores na taba de um índio
Que os homens armaram prá me convencer Programada só prá dizer sim,sim...
A pagar sem ver toda essa droga Brasil, mostra a tua cara
Que já vem malhada antes de eu nascer Quero ver quem paga
Não me ofereceram nem um cigarro Prá gente ficar assim
Fiquei na porta estacionando os carros Brasil, qual é o teu negócio
Não me elegeram chefe de nada O nome do teu sócio, confia em mim
O meu cartão de crédito é uma navalha Grande Pátria desimportante
Não me sortearam a garota do Fantástico Em nenhum instante eu vou te trair
Não me subornaram, será que é o meu fim Confia em mim. Confia em mim, Brasil!
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OA tempo
U L A Não foi à toa, portanto, que alguns economistas chamaram os anos 80 de
não pára “década perdida” no Brasil. A economia brasileira viveu anos de estagnação e
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Exercícios Relendo o texto
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Fazendo a História
Depois de ler esse texto, e considerando tudo o que você aprendeu nas aulas
anteriores, tente responder estas questões:
4. Explique com suas palavras a frase “o Brasil gasta o que não tem naquilo que
não precisa”.
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A UA UL L AA
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MÓDULO 10
Um país
em construção
A campanha das
Diretas Já
mobilizou o
Brasil inteiro.
Democracia e organização
O primeiro presidente brasileiro eleito diretamente após tanto tempo, havia
sido afastado do poder. Chegara a hora de reconstruir o país e recuperar a
confiança da população nos homens públicos.
Tendo em vista essas preocupações, o novo governo, presidido por Itamar
Franco, tratou de buscar apoio dos partidos políticos para formar um governo
forte, com sustentação no Congresso e na opinião pública. Para isso, convocou
políticos e personalidades de diferentes visões para constituir um governo de
coalizão. Ao mesmo tempo, procurou estabelecer uma política de bom relacio-
namento com o Congresso Nacional para viabilizar seus projetos.
Enquanto o governo procurava acertar os rumos de suas políticas (combate
à inflação, reorientação do programa de privatização e enfrentamento de
problemas sociais), novas denúncias abalaram mais uma vez a República
brasileira durante o ano de 1993. Diversos parlamentares foram acusados de
envolvimento na manipulação de verbas no orçamento da União, beneficando
empreiteiras e desviando recursos para entidades ligadas a eles. Era o escândalo
da “máfia do orçamento”. Mais uma vez, a opinião pública mobilizou-se para
exigir uma imediata investigação e punição para os culpados.
No final do ano, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(“CPI do Orçamento”), que iniciou um processo cujo resultado, no ano seguinte,
seria cassação de alguns parlamentares. Apesar do esforço do Congresso em
afastar parlamentares denunciados por corrupção, a imagem da instituição
ficou bastante abalada para grande parcela da sociedade.
Nesse quadro de construção da democracia , a busca por uma conduta A U L A
baseada em princípios éticos vem ganhando força em diversos aspectos da vida
nacional.
Um exemplo disso foi a sentença da juíza Denise Frossard, mandando 39
prender os mais famosos bicheiros cariocas (acusados de formação de quadrilha)
em maio de 1993.
Esse fato revela que o Poder Judiciário também tem demonstrado que é
necessário romper o círculo vicioso de violência e impunidade que tem marcado
as grandes cidades brasileiras.
Mas os esforços de enfrentar as graves questões brasileiras não se desenvol-
vem apenas nos órgãos públicos. Especialmente a partir dos anos 80 têm surgido
centenas de organizações não governamentais (ONGs) que buscam atuar em
diversas áreas, muitas vezes em conjunto com o poder público. Há atualmente
no Brasil organizações que lutam pelos direitos dos negros, das mulheres, das
crianças, das vítimas da AIDS e em defesa da ecologia.
Nesse processo de auto-organização da sociedade brasileira, foi criado, em
1993, um dos mais importantes movimentos de solidariedade da história do
país: a Campanha contra a Fome .
A Campanha contra a Fome − como ficou popularmente conhecida a Ação
da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida − surgiu no contexto do
Movimento pela Ética na Política , coordenado por diversos grupos da
sociedade civil em apoio ao impeachment do presidente Fernando Collor.
Num encontro que reuniu, no início de 1993, grupos civis e entidades não
governamentais, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, propôs uma
mobilização em caráter de emergência contra a fome e a miséria. Em abril, teve
início a campanha.
O movimento ganhou força em todo o país e ainda naquele ano já estavam
em funcionamento cerca de mil comitês, mobilizando diversos setores da
sociedade. A campanha motivou ainda a criação do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar − CONSEA, formado por membros do governo federal e
representantes da sociedade civil, e presidido pelo Bispo de Duque de Caxias
(Rio de Janeiro) Dom Mauro Morelli.
Na visão do sociólogo Betinho, os resultados do movimento representaram
uma resposta positiva da sociedade, abrindo caminho para mudanças na
política e no comportamento do eleitorado, e, ao mesmo tempo, ofereceram
novas perspectivas para a democracia em nosso país e para a construção de
uma nova cidadania .
Itamar Franco
conciliou as
forças políticas
e passou a faixa
presidencial para
Fernando Henrique
Cardoso.
A U L A O Brasil do Real
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O tempo Assim, chegamos ao Brasil dos anos 90. E que país é esse? Certamente um
não pára país de contrastes e de velhos problemas. Porém, ao que tudo indica, um país
que busca um novo caminho, não mais marcado pela exclusão da maior parte da
sociedade mas pelo desejo de integrar todos os brasileiros e todas as brasileiras
na construção de um novo Brasil.
Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu
e procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Meu país 39
De Moraes Moreira
1. Extraia desse poema as ações que você considera importantes para a cons-
trução de um Brasil melhor.
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MÓDULO 10
O Brasil e a nova
ordem mundial
A internacionalização da economia
Eletrodomésticos,
carros e outros
produtos
passaram a fazer
parte integrante
da vida brasileira.
Houve aquilo que os economistas chamam de “internacionalização do A U L A
processo produtivo”, que teve como conseqüência a abertura de novas áreas de
industrialização em diversas regiões. A mais importante delas se encontra no
Sudeste da Ásia, constituída por países conhecidos como os “tigres asiáticos”. 40
(Coréia do Sul, Cingapura e Hong-Kong).
Ao mesmo tempo, rompiam-se na Europa velhas barreiras comerciais e
tarifárias, surgindo a Comunidade Econômica Européia.
Esta potente
antena de
telecomunicações
simboliza, aqui, a
velocidade com
que as
informações
correm neste final
de século.
A revolução tecnológica
O Muro de Berlim
A nova ordem
40 Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu e
procure ver o que elas significam, no dicionário e no vocabulário da Unidade.
Fazendo a História