Você está na página 1de 82
era Biblioteca Central - UnB 89107524 UY Se ee WU TV Wa er viola tN LEONARDO BENEVOLO al AS ORIGENS DA URBANISTICA MODERNA PREFACIO A urbanistica moderna ndo surgiu contemporaneamente aos processas técnicos e econémicor que deram origem e implicaram @ transformagao da cidade industrial, mas formou-se posteriormente, quando os efeitos quantitativos das transformagées em curso se tor- naram evidentes e entraram em conjlito entre si, tornando inevitdvel uma intervencao reparadora. ° Ainda hoje a técnica urbanistica se encontra normalmente atrasada relativamente aos acontecimentos que ‘deveria controlar e conserva 0 cardcter de um remédio aplicado a posteriori. Torna-se por isso importante estudar as primeiras experiéncias urbanisticas aplicadas ao ambiente industrial, para descobrir 0 motivo do atraso inicial. © presente ensaio tem o propésito de pér em evidéncia, em primeiro lugar, a dupla origem, técnica e moralista, dessas expe- riéncias, e propde-se reconstruir paralelamente os dois tipos de mo- vimentos dos primeiros reformadores: as transformac6es econdmicas € sociais que produziram os desequilibrios dos primeiros decénios do século XIX, € as transformagées da teoria politica e da opinido piiblica, para quem estes desequilibrios jd ndo eram aceites como uma fatalidade inevitdvel, mas se apresentavam como obstéculos que podiam e deviam ser removidos. As primeiras tentativas para corrigir os males da cidade indus- ‘trial polarizaram-se_em dois casos extremos: ou se defendia a ne- cessidade de_recomecar do. princi vrapondo a cidade existente novas formas de convivéncia ditadas exclusivamente- pela teoria, ‘ou se procurava resolver os problemas singulares ¢remediar os inconvenientes isoladamente, sem ter em conta as suas conexbes € sem uma visio global do novo organismo citadino. Ao primeiro caso pertencem os chamados utépicos — Owen, Saint-Simon, Fourier, Cabet, Godin —que nao se limitam contuéo| 9 a descrever a sua cidade ideal, como Moro, Campanella ou Bacon, ‘mas se empenham em pé-la em pratica; ao segundo caso pertencem ‘08 especialistas e funcionérios que introduzem na cidade os novos regulamentos de higiene e as novas instalagées e que, tendo de | encontrar os meios técnicos e juridicos para levar a cabo estas mei cortes, dao efectivamente inicio 4 moderna legislagéo ur- | banistioa A maior parte destas iniciativas, mesmo as aparentemente mais técnicas, possuem um fundo ideoldgico facilmente reconhecivel, que coincide em larga medida com os primérdios do socialismo moderno, de tal modo que para encontrar noticias destes acontecimentos convém consultar os manuais de histéria econémica e de histéria do socialismo, mais do que os livros técnicos especializados. Esta coincidéncia s6 € porém verdadeira até 1848, enquanto ‘© movimento operdrio ndo esta ainda organizado contra os partidos burgueses; de facto, nas experiéncias urbanisticas deste periodo con- fluem diversas correntes ideolégicas, desde 0 comunismo igualitério de Cabet ao neocatolicismo frances. Marx e Engels imprimem seguidamente ao movimento operério a viragem decisiva, e o-sacialismo marxista, empenhado em explicar @ revolucdo de 48 ¢ 0 seu insucesso em’ termos estritamente po- liticos, poe em evidéncia as contradicdes dos movimentos' anteriores, ‘mas perde de vista a interligacio entre as instdncias politica ¢ urbanistica, que apesar de formulada de um modo simplista fora ‘aé ai tenazmente mantida De ai em diante, a teoria politica menospreza quase sempre as investigagdes e as experiéncias sectoriais, esforcando-se por absor- ver, sem deixar residuos, as propostas de reformas parciais na reforma seral da sociedade. Por seu ladv, « cultura urbxnistica, isolada do debate politico, configura-se cada vez mais como uma simples técnica ‘a0 servigo do poder constituido; mas ndo se torna por isso politi ‘camente reutra, caindo sim no ambito da nova ideologia conser- vadora em formagao precisamente nesses anos, do bonapartismo em Franca, dos grupos tories inovadores em Inglaterra, do imperialismo bismarckiano na Alemanha. Daqui deriva a feigéo agnéstica e subalterna das principais experiéncias urbanisticas posteriores a 48, por trés da qual se esconde @ paternalismo politico da nova direita. Esta é a tese central do livro, que contém ainda uma pista ara 0 debate contempordneo, As instancias renovadoras da cultura urbanistica moderna sé podem efectivamente traduzir-se em realidade se retomarem 0 contacto com as forcas politicas que tendem para uma transformacao geral anéloga da sociedade. 10 O debate cultural dos uiltimos trinta anos ensinou a reconhecer © conteido politico virtual das opgdes urbanisticas, mas este reco- nhecimento manter-se-d apenas no dominio teérico enquanto vigorar © conceito da urbanistica como um campo separado de interesses, que deve depois ser relacionado com os de natureza politica, 0 que constitui justamente a heranca actual da separagao entre os dois ‘ermos operada em 1848. Owen e Chadwick, se bem que apegados a uma ideia primi tiva da planificagao urbanistica, mostram-nos esta simples verdade: que a urbanistica € uma parte ‘da politica, necesséria para concre- tigar qualquer programa operativo e simultaneamente nao redutivel 4s formulas programaticas gerais. Para melhorar a distribuigdo territorial das actividades huma- nas & necessério melhorar as relagdes econémicas e sociais de que dependem essas actividades; por outro lado, néo basta. melhorar as relagdes econémicas e sociais para que as espaciais fiquem auto- ‘maticamente corrigidas. Os tempos e 0s modos desta acco sto infinitamente mais complexos do que Owen poderia supor, mas 0 objectivo estabelecido pela sua utopia continua ainda vdlido para os planos urbanisticos contempordneos: «Encontrar uma colgcagao vantajosa para todos, num sistema que permita-a continuagdo do progresso técnico de modo ilimitado». : ‘Na Historia da Arquitectura Moderna tentei jd uma breve reconstituigo destes acontecimentos. Fui induzido a voltar a0 dis curso de entéo, nao por uma exigéncia dialéctica, talvez prematu- ra, mas devido a algumas experiéncias recentes que tornaram ur- gente a definigiio de uma nova relacdo entre urbanistica e politica, € Por conseguinte entre planificagao espacial e planificacdo sécio- -econémica. Creio, além disso, ter individualizado a principal fra- queza daquele discurso, isto é, 0 omisso confronto entre os acon. tecimentos urbantsticos'e arquitecténicos e a profunda transforma. do da conjuntura politica entre 1830 e 1850, e sobretudo a crise de 1848. O esclarecimento dado nestas péginas rectifica, a meu ver, inclusive a exposigao dos acontecimentos do final do século € per- ‘mite uma melhor compreenséo dos movimentos de vanguarda de Morris em diante. Deste modo, toda a Hist6ria da Arquitectura Mo- derna se poderia rever deste ponto de vista, sem qualquer melindre Para 0 autor, uma vez aceite 0 cardeter provisorio de um discursa ‘historico que’ entra em linha de conta com os propositos operativos do nosso tempo; isto indica apenas que as condigées do nosso tra- batho mudam a todo 0 momento, exigindo uma continua revisao das nossas concepedes sobre 0 passado recente. [1963] A FORMAGAO DA CIDADE INDUSTRIAL, stica moderna é, numa primeira fase, uma historia de simples factos: as mudangas produzidas gradualmente pela revolugao industrial nas cidades e nos campos sO mais tarde surgem claramente ¢ séo percebidas como problemas, quando as quantidades em jogo se tornam suficientemente grandes. A primeira mudanca decisiva € 0 aumento de populagio, de- vido & diminuigdo da taxa de mortalidade que, pela primeira vez, se afasta decididamente da de natalidade'. Este mecanismo de +A populagio inglesa comeca a aumentar rapidamente a. partir de 1760, Os calgon moderns, baeados nos rimeron de enteron ¢ de baptisms, tstabelecem ue’ em 1700 a popwlagio da Inglaterra edo als de Gales cr {cinco milnoeo ©: moto, © enn 1720, de eee miles «-meiny rane nm. 1ADL ‘Quando se far 0 primeiro ecensenmento, i subir para nore. milhOes, Guten para catoree‘mithdes, Sabese, por outro. lado, que.» natalidade poe uk Teve aumento tos quatro primes. decenis do seculo dezoto — fe tantem penticementc constants em 000.0. periodo, com um indie variével 4G: See 2379 por mil, c nig parece-que imigragao. de outs paises tenha th comaentemanendo se cents ifrae hematomas clin, se contraparida a smortaigade, alts até 1740. devido as caréncias a0 Mole aimmuit gradualmenie de 358. por. mil no decénio de. 173040 pare 21 ‘por mil no'decenio de 1811-21. Entre as, causas desta diminuiéo, Riston estmera a" introdugto. das cultura de tubercles, que Tacitou a SENSE Go'tado ao Taverne ¢ torou ponivel 0 Teabastetimento de. camme frenca durante odo o- ano, a subtituigdo dos outros cereals pelo trig © 0 Mejor ceemumo de verduras, 9 melhor ascio pessoal, devido ao maior consumo Te'eibdo'e de soupn branca de algo a sbstureao Ga madetra plo. Wolo terates saredes, do colmo pela ardesia © pela pedra para os tlhados das casas Pjlminigto. os fabricosindusirias que se. pratcavam dentro das paredes omestn om progress a medina, san aumento dos hosp 2 don ainpensariost a Toaliagio mais racional dos deposits de lixo © dos Semméson’ ov melhoramento, dos expotor e dos aquedutos nas cidades (Cf. FSU ASHTON, Indus! Revolution) 13 crescimento d& mesmo origem a uma mudanga da composi¢io interna—aumenta a percentagem da populagdo jovem, pela queda da mortalidade infantil —e interrompe, sobretudo, o secular equil brio das circunsténcias naturais, pelo qual cada geracio tendia a ocupar o lugar das precedentes e a repetir o seu destino. As suces- sivas geragdes encontraim-se numa nova situagdo ¢ tém de resolver ‘com novos meios um problema desconhecido. ‘A medida que aumenta o niimero dos habitantes, muda a sua distribuigdo no territério como efeito das transformagdes econémi ‘As primeiras transformagdes dizem sobretudo respeito organiza do trabalho, criando as premissas para uma mudanga completa na técnica produtiva, que se reflecte & sua volta sobre a organizacéo acelerando 0 desenvolvimento € a concentraglio do novo sistema econémico. Por este motivo, a mudanga da distribuico da populagdo provocada pelas primeiras transformagoes organizativas e acentuada pelas inovagdes técnicas, assume o carécter de uma verdadeira crise, alterando bruscamente o antigo equilibrio entre cidade © campo € criando novas tensbes que s6 a longo prazo se poderio reequilibrar. Mas convém acompanhar ponto por ponto os efeitos das trans- formagées econémicas sobre o povoamente urbano e rural que se delinearam em Inglaterra entre 1760 ¢ 1830. . ‘A vedacio[enclosure]* das antigas terras comuns em redor das aldeias inglesas torna possivel uma melhor utilizag&o do solo e trans- forma gradualmente os cultivadores directos em rendeiros ou assala- riados, coagidos a um nivel de vida forgado. pouco superior ao minimo necessario para sobreviver’. A alternativa para este estado de coisas Emparcelamento © vedacho das teres comuns, que passim & ter pro prietario individual [N. T.]. if + Em 1795, 0 subsidio que a freguesia devia pagar aos trabalhadores necessitados foi estabelecido pela Speenhamland Resolution, determinando que cada familia tem direifo a uma retribuigdo minima, em’ conformidade com © preco do pio, e que a freguesia deve completar o salério real até aquele nivel: «Quando um pedago de plo de um galto custar um xelim, entto ca hhomem pobre e laborioso receberd para a sua subsisténcia trés xelins vemanais, ‘ou através do seu trabalho e do da familia, ou do subsidio aos. pobres, © para © sustento da sua mulher ou de qualquer outra pessoa da familia receberd um xelim e seis pence. Quando o mesmo pedaco de pio custar um xelim e quatro Pence, entio cada homem pobre e laboriowo resebers quatro. xeline semanals ‘0 seu sustento e um elim e dez pence para o de um outro membro da sua familia. E assim por diante proporcionalmente... «(ct. em The Village Labourer, J. L. e B. HAMMOND, London 1911, p. 139). este modo, © subsidio aos pobres serviu, até 1834 — quando o sistema foi abolido—para’ manter os salatios agricolas baixos, assegurando aos balhadores © minimo vital mas excluindo qualquer melhoria da sua condicao, 14 era o trabalho industrial, sobretudo 0 téxtil, que desde hé muito estava organizado nos campos, nos domicflios dos camponeses. Mas ‘2 antiga organizacio familiar, no Ambito da qual as operagdes de fino, tecelagem e tintura eram realizadas pela mesma familia, que comprava a la bruta ¢ vendia o produto acabado, era demasiado estdtica © improdutiva para fazer face & procura de um mercado em continua expansio; por isso, os comerciantes preferiam fornecer ‘a matéria-prima e receber 0 produto acabado, pagando o trabalho feito por empreitada, podendo as diversas operagdes ser confiadas a diferentes grupos de operarios especializados. Esgotadas porém as margens de maior produtividade facul- tadas .por este sistema, as exigéncias da concorréncia impunham uma ulterior diminuigéo dos custos e um aumento das quantidades, tendo estimulado uma série de invengdes técnicas que mudaram radicalmente as condigdes de trabalho. Os teceldes usavam a maquina inventada em 1733 pelo relo- jociro J. Kay (fly shuttle), que permitia que cada operdrio traba- Thasse sozinho no tear sem o auxilio de um ajudante que estendesse 68 fios; a produsio continuava porém limitada, pela impossibilidade de produzir fio em quantidade suficiente, até que em 1764 0 car- pinteiro Hargreaves inventou um nova tipo de maquina de fiacdo (jenny) que tornava possivel a um 6 operario manobrar mais fios ‘A jenny ¢ a fly shuttle entraram assim nas casas rurais dos distritos lanigeros ¢ algodoeiros, modificando o ritmo de vida de cada componente valido da familia. Mas a quantidade de fio e de tecido produzido por cada maquina era necessariamente limitada pela energia que o trabalho muscular permitia imprimir; para ir mais além era necessirio substituir 0 brago do homem por um impulso mecanico. Em 1771, um barbeiro de Preston, R. Arkwright, inventou a primeira mAquina de fiagio movida a energia hidraulica (water frame), ¢ em 1775 0 tecelio S. Crompton comegou a experimentar uma méquina mais aperfeicoada, resultante de uma combinacio da jenny com o novo tear a agua. Estas invengdes deram a fiagdo uma vantagem temporéria sobre a tecelagem, até que em 1778 o reverendo E. Cartwright inventou a primeira tecedeira mecénica; pouco depois, entre 1785 e 1790, descobriu-se uma forma de substituir a energia hidraulica recorrendo & méquina a vapor de Watt, patenteada em 1769, ‘A indistria téxtil tinha portanto de abandonar a antiga orga- nizagdo dispersa e concentrar-se em grandes oficinas onde pudesse dispor da necesséria forga motriz, primeiro proximo dos cursos de fgua e depois das minas de carvao, necesséries para alimentar 15 a maquina de Watt. Por sua vez, a méquina a vapor permitia resolver definitivamente © problema da’eliminacio das infiltragdes de Agua nas minas, revolucionando a técnica de extracgo do carvio ¢ transformando a propria mina numa oficina moderna. No mesmo periodo tornou-se de uso comum a invencao de Darby que substitufa 0 carvo vegetal pelo coque, na laboracao dos _metais ferrosos, e em 1783 H. Cort descobriu a maneira de utilizar 0 carvaio nos processos de pudlagem ¢ de laminagem; a derurgia tornou-se apta a alimentar a inddstria mecdnica nascente, € até as fundigdes, como os altos fornos, se deslocaram das regides de floresta para as regides mineiras, favorecendo o nascimento de Brandes instalagdes de tratamento completo. ‘Assim, consumaram-se durante uma tnica gerago, entre 1760 € 1790, os progressos técnicos que tornaram possivel um aumento ilimitado da produgdo industrial®; o desenvolvimento das indiistrias © a sua concentrasao em grandes oficinas atrairam muitas familias dos distritos agricolas do Sul para os distritos mineiros do Norte © do Centro, e transferiram-nas das casas isoladas do campo para 0s bairros compactos construidos nas proximidades das oficinas; nas- ceram assim, improvisadamente, novas cidades, e muitas das cidades antigas cresceram desmedidamente! A associacdo entre inddstria € cidade depressa se consolidou: nas novas cidades, que se desenvolveram fora do sistema tradicional dos burgos © freguesias, empresérios e operdrios podiam fugir aos vinculos anacronicos do sistema corporativo isabelino; os empre- sérios contavam com uma reserva de méo-de-obra sempre abun- dante ¢ substituivel, enquanto 03 operdrios, se bem que cruclmente explorados pelos novos patrdes, énconitravam na cidade uma maior variedade de escolha e uma possibilidade de reconhecer-se como classe, de se organizarem em defesa dos interesses comuns’. 2A producio de ferro passou de 17000 toneladas em 1740 para 650000 em 1830; a industria do algodio trabathava em 1764 (quando a jenny foi descoberta) 800000 ‘libras peso por ano, que aumentaram em "1775 —com 0 aparecimento do tear & vapor —para 18 milhoes, em. 1810_para 123 mithdes, e em’ 1830 para 273 milhoes de libras (ef. C. BARBAGALLO, Le Origin’ della Grande Industria Contemporanea, Florenga 1951). "Manchester, que em meados do século XVIIT era uma aldeia de 12000 habitantes, transforma-se em 1800 numa cidade de 95 000, © em 1850 170000. Em Franca, Mulhouse passoa de 10000 habitantes em 1812. para 36000 em 1836, e Roubaix de 8000 em 1816 para 65000 em 1866 (cf. P. LAVEDAN, Histoire de T'Urbanisme, vol, IM, Paris 1958) 5 AS primeiras associagdes operarias, surgkdas como antitese das cor- poragées tradicionais, incorrem nas proibigies da lei francesa de 1791 eda Inglesa de 1800, revopadas respectivamente em 1813 © em 1824 18 Figura 3: acompanha 0 tragado da vedagio. f English Landscape). Uma parte da periferia de Nottingham, onde o loteamento priv W.'C. HOSKINS, The Making of 19 Entretanto, devido as exigéncias do comércio ¢ especialmente Para o transporte das mercadorias pobres e pesadas como 0 carviio € 0s minerais ferrosos, foi renovada a rede das vias de comuni- cagio; as incémodas estradas das freguesias foram substituidas depois de 1745 por novas estradas com portagem, construidas por com- panhias privadas; 03 estuérios € © curso dos rios navegéveis foram ligados por novos canais ap6s os anos 60; outras companhias pri- vadas organizaram nas estradas e nos canais um servigo regular de diligéncias c de embarcagées para o tratsporte de passageiros € de mercadorias, Em 1767, R. Reynolds constr6i o primeiro carril em ferro fundido para o transporte de carvao, e em 1801 entrou ao servigo a Surrey Iron Railway, a primeira empresa ferrovidria para o transporte de mercadorias; mas s6 depois de 1825, a segui a invengio da locomotiva de Stephenson, se iniciou o desenvolv mento dos caminhos de ferro, marcando assim decisivamente os decénios seguintes. # em fungio da nova rede de transportes ¢ do movimento comercial sempre em expansio que convém interpretar o cresci- mento sem precedentes de algumas cidades, para onde convergiam as vias comerciais ¢ onde se concentravam as alavangas de comando, financeiras e administrativas, da nova economia; no final dos anos 700, Londres tinha ja um milhio de habitantes, e em 1841 estes ram avaliados em 22350000, superando qualquer outra cidade pre- sente € passada, Este conjunto de transformacdes originou a mudanga de do- micilio ¢ de modo de vida da maior parte da populacéo inglesa, € modificou a utilizacio do solo e a propria paisagem. € totalmente nova a natureza dos fenémenos —a multid’o dos habitantes, 0 ni- mero de novas casas, a capacidade das novas zonas industriais © comerciais, 0s quilémetros de novas estradas e canais, o nimero de vefculos que circulam nas estradas da cidade —e a velocidade das transformagdes nao tem precedentes: cidades que nascem e duplicam uma geracdo, iniciativas especulativas que se coneretizam pronta- mente em estabelecimentos, estradas, canais ¢ minas abertas em oucos anos na paisagem agreste, altos fornos e chaminés apon- tadas para o céu ao lado das torres das catedrais A cultura politica e econdmica da época € tocada niio tanto por aquilo que de novo se constréi, mas pela queda das estruturas tradicionais, ¢ teoriza sobretudo a oposigao aos vinculos ¢ instituigdes que impedem a livre expansio das novas iniciativas. Os reformadores politicos usam a critica racional para demolir 6s privilégios do absolutismo, da hierarquia social, do dirigismo eco- némico, ¢ enquanto estudam com cuidado as garantias’do cidadéo 20 Figura 4: A aldeia industrial de Sunny Brow, Durham (em SHARP) Contra os abusos da autoridade, deixam na sombra o tipo de orgu- nizagio do novo Estado, concebido de preferéncia como um espaco vazio onde © individuo © © poder piblico se confrontam directa. mente, abstraindo de qualquer estrutura intermédia que perturbe essa Felagio: a realizagio do ideal demociatico parece de facto. cond cionada & absorgiio de todas as «sociedades parciais» pela «republican soberanat. Esta posicio tedrica, enquanto coloca em primeiro plano os Problemas politicos gerais e constitucionais, menospreza os pro- blemas organizativos sectoriais ou redu-los a simples deduces ‘dos enunciados teéricos gerais Qualquer dificuldade encontrada, relacionada com a sobrevi- véncia de alguma instituig&o tradicional, favorece a formagio de teorias que excluem qualquer forma de intervengao publica nesse sector. Durante a fome de 1797, Malthus enuncia a sua teoria da Pepulago, demonstrando a inutilidade de qualquer let para a assis- téncia aos pobres, e em 1817, durante a depressio do pos-guerra, Ricardo publica o seu tratado de economia politica defendendo « aboli¢ao dos impostos e das alfandegas. Assim, enquanto 0 pensamento liberal consegue levar a re~ mogdo das velhas restrigSes legais e consuetudindrias—o que na Europa ¢ na América se realiza quase completamente entre 1776 © 1832 — as cidades e os campos permanecem praticamente privados de controles urbanisticos adequados. A parte mais progressiva da cultura econémica ¢ politica Persuade os governos © a opinifo piiblica a nao interferirem, e Portanto a no reconhecerem os probleimas derivados das transtor. Mages em curso no territério; desacredita e enfraquece os métodos tradicionais de controlo urbanistico, sem propor outros métodos em alternativa, preconizando pelo contrario nesta matéria uma absurda extensio do laissez faire (Adam Smith aconselha o governo a liber. tarse das propriedades do Estado para pagar as dividas) Os arranjos urbanisticos barrocos, sobretudo algumas realiza- goes da corte da primeira metade dos anos 700, antecipam as vezes de modo sugestivo a dimensao espacial da cidade moderna (podemos imaginar as alamedas de Versailles transformadas nos boulevards de uma cidade do final dos anos 800, do mesmo modo que a forma wliada desenhada pelos jardineiros reais ws Campos Elisios vira dle facto a constituir o tragado da Etoile haussmanniana), mas man- temsse de facto estranhos a dimensfo temporal que condiciona assim doravante, € decisivamente, 0 novo ambiente urbano, * Esta € a terminologia de Rousseau no seu Contrat Social de 1762. asians ingleses em 1800 (ef. E. 1 AA rede de rios ¢ canais navepsves BOGART, Historia Econémica da Europa! Figura: Figura 6: Vista de uma cidade cat Foam 6 Vita idade catolica em 1440 (ef. A. W. PUGIN, Con- 4 il ic eo oh sh ct a i, mame ot Se a oe nacho as iret Zi traps lr Precisa, dotada de margens suficientes para absorver sem modifi- Seca pty tin ea res Serre a al ficava aplicar a uma realidade em movimento lent simo a. maior rie cam cage ee Se ai seer iain eee nal at Serta vee en Se a possiilidade de levar’a cabo, com coereneia, ste. ipo de ope, em ck ae Meena ee were Sica sige rs eee aa ceo oc seat na ee en ae ace eres et ls Se tecido da cidade. Pa eee en ah Stell Sau boca sa a I mine rt seers cae ied la er rac la A oe coe dnrade oie cs ci tat fei To eras oa We oes en fas cle? a dee ee ears Ci i eae cota erator Sin ta cae ae 24 Figura 7: Vista de uma cidade catélica em 1840 (em PUGIN) Luis XV, Gabriel constr6i igualmente apenas as fachadas dos edificios de cabeceira da Place de la Concorde, ¢ as dos edificios ao longo da Rue Royale (1755-63), mas os edificios da retaguarda 86 foram completados muitos anos depois. Finalmente, quanto & Rue de Rivoli, os arquitectos de Napoledo I, Percier ¢ Fontaine, forneceram em 1805 apenas o desenho das fachadas, que os cons trutores individuais se comprometiam a executar. ‘Analogamente, muitos dos mais admirados arranjos do final dos anos 700 em Inglaterra—o Circus e 0 Royal Crescent de Bath (J. Wood, 1764 ¢ 1769), as célebres squares londrinas de Bloomsbury (1775-1827), mais tarde Regent's Street em Londres GJ. Nash, 1812) —consistem numa arquitectura uniforme sobreposta @ uma multidio de casas independentes; a simetria ¢ a unidade de perspectiva passam de meios de controlo estrutural a_meios de controlo paisagistico. O refinamento a clegincia destes ul timos produtos da tradigdo clissica encobrem a separagdo agora total relativamente aos problemas da nova cidade, e impedem de facto qualquer contacto entre esta tradigao e 0 ambiente que se vai formando por efeito da revolucao industrial Enquanto a grande burguesia londrigna se retine nos ambientes requintados de Bedford Place ,¢ de Russel Square, os miseraveis bairros orientais crescem compactos, sem pausa nem esperanca. Rapidamente, a sua extensio e os Seus inconvenientes higiénicos puseram em crise toda a cidade, e foi necessario conceber de raiz uma nova metodologia urbanistica sem quaisquer ligagdes com antiga. 25 “BOE YU 7HZA 6 Peary LEC Figura 8: Paris, Place Vendome (vista do plano de Turgot, 1737). A. prasa fot projectada por Mansart entre 1685 ¢ 1699, em honta de Luts XIV, mee 4 attr de finais de 1677 0 arquitecto associara-se a outros financeltos, pars « lotear os terrenes circundantes. Quando 0s terrenos foram postos {oi estabelecido que «os compradores dos terrenos fronteiros 8 ‘prase -fo Proprictarios das fachadas que Sua Majestade fizer consiriit, ¢ oderio adquitir @ extensio descjada, desde que néo seja inferior a duas arcadas. Oz compradores ck tcireiws em Fedor da" praca e das Tuas que a ircundam ni terio de pagar quaisquer direitos por esta. aquisielo, salvo @8 direitos senhoriais devidos. aos anteriores proprietatios; segundo 0 decrsto 40 Consetho de Estado de 2 de Maio de 1686», Figura 9: Paris, Place de ta Concorde (em R. AUZEL L'Urbanisme). Gabriel projectou em 1755 a, decoragao 4 Luis XV, com os arranjos ajardinados do lado day Tulherlas ‘dos Campos Elisios, perspectiva para o Sena do lado do Palécio Bourbon, e ‘ae fachenon dos dois edificios na embocadura da Rue Royale. As fachadas foratn. cone truidas pela autoridade comunal © postas a venda do seguinte modo: eA Mo. nicipalidade encarrepar-se-4 da construgao das grandes fachadas a praca dda sua continuacio para as’ruas: o terreno sobre o qual se. encontram tals fachadas continuasé a pertencer aos respectivos. preprictarios, com as fachaden gue a ‘municipalidade cederd nas seguintes condigdes: 350 litas por brs 4e colunata, 300 por braga de fachada de pedra, 250 por braga da continuneie elas ruas, com serventia de passagem no portico, que sera ealculada para tal em um quarto do valor do terreno» (I. INSOLERA, Aypetti del Pacsageio Urbano di Parigi, em «Urbanistican, 11°32, p. 2h). E, Encyclopédie de aga, dedicada a 26 a Rue de Rivoli, A fachada foi desenhada por Percier © ie, em 1806, © imposta a todos os edificios do lado setentrional da rua Neste caso, a municipalidade forneceu apenas um desenho, deixando a nk. Ciativa privada todos os encargos da constnigdo, Figura 13: Londres, os atranjos concebides por John Nash para o Principe Regente (em H.R. HITCHCOCK, Architecture, Nineteenth and Teentiedh eon, de propriedade da Coroa; entre 1820 e 1850 foi feito 0 parque publica ee Regent's Park — com as casas circundantes, enquanto era aberia k nove. Tus de acesso a Picadilly Circus — Regent's Street através ‘de um populsss quent {eirdo, ‘Nash construiu alguns dos edificios em redor Jo parque da ‘wus, actuando ainda como empreiteiro -privado, enquanto. en IB13, ten Guat lidade de superintendente geral, teve a posibilidade de coordenar as iniciativas dos outros empresirios © dos outros projectntas, Nash teve a colaboracao de Humphry Repton para os ajardi- uidas a0 longo dos terrenos periféricos a sfande burguesia, enquanto as casts ao longo de Munster Square sio acessiveis aos recursos da. classe ‘média, © todo "0. completo Servido por um mercado localizado na margem oriental ‘Assim, o_pargue € concebido quase ‘como uma cidade ideal, iditica € ,abstracta, ‘aheando-se dor verdadeitos problemas ‘da cidade que ‘se’ lant ‘gravando naqueles anos, como Chadwick se estoryava por demonutrar 30 31 0 A EPOCA DAS GRANDES ESPERANGAS (1815 - 1848) Quando em Junho de 1815 chega a Inglaterra a noticia da vitéria de Waterloo, o alivio pelo final da guerra foi rapidamente superado pelas preocupagdes relativas a situago interna, agravada por muitas dificuldades que © sucesso militar deixava inalteradas. (0 velho Jorge III estava louco ¢ as suas fungdes cram exer- cidas pelo corrupto Principe Regente. A politica externa era dirigida pelo frio e impopular Castlereagh, que sete anos mais tarde se sui cidaria perante a indiferenca e a hostilidade dos seus concidados. ‘As despesas da guerra tinham causado uma progressiva inflagio, duplicando quase 0 custo de vida entre 1790 ¢ 1813; agora, o final trigdes de guerra colocava em crise quer 0 monopélio dos co- ites ingleses nas rotas ocednicas, quer 0 monopélio dos agri- cultores ingleses no abastecimento do’ mercado interno. O Parla- mento, dominado pelos proprietérios fundidrios, preparava-se para aprovar a infausta lei proteccionista sobre o trigo que iria transferir para os consumidores, ¢ indirectamente para o custo da mao-de-obra industrial, os encargos da crise agricola. O medo da Revolucio Francesa transformara muitos conservadores iluminados, como Burke, em pregadores da violéncia, e induzira 0 governo a reprimir com desusado rigor qualquer manifestagdo nao conformista. Entretanto, a revolucao demogrifica e industrial transformara jaradicalmente a distribuigdo dos habitantes no-territério, ¢ as . 33 cntnis dos novos teas. de fia na is fixagio comecavam a manifestar-se em la tea feces na auséncia de providéncias adequadas. =a svi ils ue sbandonsa ono Cte an alone sis nds Nava nes Ss Cc at pt Petiferia, que depresa se multiplicaram formando beiriee noo eae em redor dos nicleos primitives. —— to oto da concorrencin, qualidade ds lojmeton, eee Otel sry oxen ds brane ets com spas’ fm, toda a parte a pior que as familias operdtias estavam gpa a Tiprtar Or supers peta ry eae xtra incia dos vendedores de-forgu de trabalho, ve lucros sobie 34 capital investido s6 podiam_portanto. ser_aumentados. reduzindo (05. custos ¢ baixando o mais possivel o nivel das construsdes. Para além disso, a maioria das casas operérias de Manchester, de Leeds, de Birmingham © dos subdrbios de Londres fora coustruida durante as guerras napolednicas, quando a madeira importada dos paises balticos comecava a escassear, a mio-de-obra da constructo civil se tornara mais dispendiosa e’sobretudo as taxas de juro sobre 0 capital aplicado iam subindo, mantendo-se altas ainda durante muitos ‘anos apés o final do conflito. As condigdes do tempo de guerra contribuiram pois decisivamente para piorar a qualidade dos novos bairros. Com tudo isto, € provavel que as casas ocupadas pelas fami- lias operdrias nas cidades no fossem piores, consideradas uma a uma, do que as casas do campo de onde essas mesmas familias provinham em grande parte ‘As paredes eram construidas em tijolo em vez de madeira, € 08 telhados em ardésia ou em pedra em vez de colmo; os quartos eram mais acanhados, mas sem 0 estoryo € a poeira das maquinas fiandeiras domésticas; os sanitarios estavam ausentes ou eram igual- mente primitivos em ambos 0s casos. ‘A diferenca é, em contrapartida, evidente, se se considerarem: —0s problemas derivados das relagdes reciprocas entre as casas ¢ 08 outros edificios, no corpo compacto da cidade industrial; —a mudanga de atitude dos habitantes relativamente aos in- comodos que so constrangidos a suportar. “© As caréncias higi¢nicas relativamente suportaveis no campo tornam-se insuportéveis na cidade, pela contiguidade ¢ o niimero enormissimo das novas habitagoes. Enquanto cada casa tinha muito espago & sua volta, os de- jectos liquidos e sélidos podiam ser eliminados com facilidade, & as diversas actividades que se realizavam ao ar livre —criagio dos animais, tréfego dos pedes ¢ dos carros, os jogos das criangas — podiam processar-se sem interferirem demasiado entre si. Mas agora, © adensamento ¢ @ extensdo sem precedentes dus bairrus operérios tornam quase impossivel o escoamento dos detritos; ao longo das ruas correm, 08 regos dos esgotos a descoberto, ¢ qualquer recanto afastado esté cheio de amontoados de imundicies. Nos mesmissimos espagos, promiscuamente, circulam os carros e os pedes, vagueiam os animais, brincam as criangas. 35 Os baitros de habitacéo sio construidos preferencialmente pré- ximo dos locais de trabalho, pelo que as casas e as oficinas ficam ‘amitido em contacto, alternando-se sem qualquer ordem e pertur. bando-se mutuamente. As oficinas impregnam as casas de fumo, inguinam os cursos de agua com residuos, enquanto 0 tréfego industrial € penosamente twlhido pelo trafego residencial, Este quadro cadtico vai sendo continuamente alterado pelo dinamismo dos seus proprios factores: as oficinas transformamse € ampliam-se, as casas sdo demolidas © reconstruidas, as orlas da Cidade avangam para © campo sem se ordenarem num equilibrio definido. Eis a classica descrigio de Manchester feita por Engels em 1845, utilizando muitos dados dos inguéritos e dos estudos efectua- dos nos decénios precedentes: (Na cidade velha) as ruas, mesmo as melhores, sio estreitas e tor tuosas, as casas so imundas, velhas, a cair, c 0 aspecto das. ruay lotereis € absolutamente horrivel. Chegando a Long Millgate pela Igreja Velha, tense logo a direita uma fila de casas antiquadas, nas quais nem uma s das parcdse frontais se manteve de pé: sio os restos da velha Manchester préindustrai, ‘cujos antigos habitantes se transferiram com os seus descendentes, para beiries melhor construidos, abandonando as casas, que para eles se tinham tornado demasiado miseraveis, a uma casta de operirios fortemente mesclada de sanave islands. Aqui encontramo-nos realmente num bairro. quase manifestamente operirio, visto que nem as lojas nem as tabernas se ‘do a0. trabalte de mostrarem um pouco de asieio. Mas isty wine nao € nada. compere core 4s Vielas © 08 pitios que se estendem por detrés, © aos quals apenas se. ches por meio de estreitas passagens cobertas através das quais nfo passam men dluas pessoas 20 lado uma da outta E dificil imaginar a mistura desordenada das casas, escamecendo de qualquer urbanistica racional, © seu apinhamento, de tal ordem que s6. ere Contram Jiteralmente em cima uma das outras. Ea culpa nio £ somente imputével aos edificios sobreviventes dos velhos tempos de. Manchester cra tempos mais recentes a confusio foi levada a0 maximo, pois onde quer. que hhowvesse um bocadinho de espace ce as Construcoes” da” época’ procedenre continuou-se a construire a remendar, até arrebatar entre as casas wltine Unha de terreno livre ainda susceptivel descr utiizado. A. provico, ante Sentamos uma pequena parte da planta de Manchester; nio é tequer a parte ‘mais chocante © nfo representa nem um décimo de toda a cidade velhe 36 Enon une or 1069) 18. 1920 [2 oosaies 6 pres © crecoe == Ouos cana —Leta ea Figura 15: 0 to de Manchester (em P, GEORGES, Les Ville) igura crescimento, 37 ius Figura 16 tier, Et 2bov0 suficiente para caracterizar 0 urtanismo abuurdo de tod dears, garculamente oa viihanga do irk’ martem mapdonl do Se ¢ smu ult nereme e com uma alta entre quinze tints es sobre ets ‘mais baixa das quais se ersue quase lores, para ‘entrarem €.saitem ta “deurina putrefacta ede em baixe, sabre 0 io ‘ ue’ empestam "toda “a. zona Som o Te a os patios por basso de Ducte Bridge a on Por escadas estreitas © sujas, ¢ rd te mea dln io por 5 ¢ 30 atravessando: montées fe aco undicies se consegue chegar as casas O rien por tino de Dusie Bridge chama-se. en's Cour, © durante a'cdler een em condigées tais que a policia sanitéria teve D deemed, Ene 6 desinfectar com loro: 0" doutor Kay far numa van ous, HAE fencontram-se numerosas fibricas de curtumes som 0 fedor da. putrefacgio animal i 2 JiP KAY, The Moral and Physical Condition of the We Employed in the Cotton Manufact ince ee Manufacture’ in’ Manchester, London 1832. (Nota 38 terrificante das condigSes deste patio nagueles tempos. Desde entio, parece {que alguma coisa for demolida e reconstruida; pelo menos, da, Ducie Bridge econse. ainda algumas paredes em ruinas e altos monies de entulho a0 lado de casas de construgio recente, vista desta. ponte —~delicadamente es: condida dos mortais no multo altos por um parapeito de pedra e cal da altura de um'homem —é em geral caracteristica de toda a zona. Em baixo Sone, ou imelhor, estagna o irk, um rio estreito, etcuro, fedorento, chelo Ge imundicies e de detritos que’ atira para cima’ da margem direita, mais plana: como tempo seco, esta margem fica coberta de repugnantes’ pogas Tamacentas, esverdendas, de cujo fundo saem continuamente até & superficie bolhas de gés fetido que difundem um mau cheito intolerdvel até para quem festa sobre '@ ponte, quarenta ou cinguenta pés acima do nivel da agua. Para ‘slem disso, a cada paso 0 Tio € inlerrompido por altos diques, dentro dos {uals se depositam e apodrecem em grandes quantidades 0 lodo ¢ os detritos. ‘Kcima" da ponte ficam grandes oficinas de curtumes, e mais acima ainda tinturarias, moinhos para palverizar ossox e gasdmetros, cujos canais de escoa- mento e detritos desembocam todos no Irk, que recebe ainda 0 contetdo dos esgotos € latrinas vizinhos. facil imaginar, portanto, qual a natureza, dos Sepositos que 0 rio encerra. Aos pés da ponte vése o entulho, a imundicie, fa Sujidade e as Tuinas dos pétios que dio para a ingreme margem esquerda, fs casas sucedentse imediatamente uimas as cutras e, devido a inclinagao da margem, conseque verse um bocado de cada uma: todas negras do. fumo, ‘esfeitas, velhas, com os cainhos © os vidros das janelas em pedagos. O fundo € constituldo por velhos estabelecimentos industriais semelhantes a quarttis* [ A cidade nova estende-se depois da cidade velha, sobre uma colina at- tilosa entre o Ink e St George's Road, Aqui desaparece qualquer fisionomia Ge cidade; filas de ioladas casas ou grupos de Tuas encontram-se_dispersss laqui e acold'como pequenos aglomerades, sobre o desnudado terreno argiloso onde nem a erva_cresce: as casas, OU aMtes, a5 cottages, encontram-se em ‘estado degradado, sem nunca terem sido reparadas, sujas, com quartos em aves. himidas. einsalubres, as ruas néo so. pavimentadas nem possuem Canais de escoamento, mas albergam inimeras colénias de porcos, fechados Sar pequenos palicr © chiqueiror ‘ou percorrendo Iivremente © encosta. Estas uas so tho lamacentas que somente quando 0 tempo esté muito seco se {em alguma possibilidade de as alravessar sem afundar os pés até a0 tornozelo a cada paso. Nas vizinhangas de St. George’s Road, as ilhas de casas tornam-se mais densas, e deparamos com uma série interminavel de caminhos, becos, ruclas secundirias © pitios, cada ver mais numerosos e desordenados a’ medida {que nos vamos aproximando do centro da cidade. Em compensacio, tornam.se fhais frequentes as ruas pavimentadas ou pelo menos com passes. calcetados fe canais de escoamento; mas a poteatia € as caréncias das casas, particular- mente as caves, mantém-se exactamente as mesmas E> oportano fazer aqui algumas observacdes de caricter geral sobre © tipo de construsses.proprias dos bairros operirios de Manchester. Vimos fomo na cidade velha foi.na maior parte das vezes 0 acaso a presidir 20 Serupamento las casts, Cada casa é construida sem qualquer preocupacio Com as restantes, ¢ os FecaMtos lives entre as casas recebem, a falta de outro 2 FE ENGELS, A. Situagdo da Classe Operdria em Inglaterra (1845) 0 @ nome de pitios (court). Nas partes mais novas deste ¢ eperdrios, construidos nos. primeiros tempos de florexcinente ae sade Sharrase UM talon cforeo de, skemaitasion O° cpa ence duns et Aproximadamente do. seguinte modo: "= "UO" Parte de forma quadrad, Figura 17 Sinan ain de eniadn «© aon eins tem sccm dass ae teeters Ss & Spas Stadia aye de IESG pa and inl are ln fe Ura yi on ed rena, Bae a pancreas Sie Se tse gl le aan gee en {enientnt ¢ St fa dma ete pena le cinzas € de imundicies que neles existem, Estive “nas proxi ts duzias, ou verdadeiramente aos montées, construindo wim sa. pr etciro a via secundaria (back street), que € obstruida for const iru Baan aie ate 40 para a rua do lado opesto © pagam um aluguer inferior ao da primeira fila, mas superior ao da segunda, Eis pois, aproximadamente, a disposigdo das ruas: Figura 18 Com este sistema de construcio, a ventilapdo das cottages da_ primeira fila 6 bastante boa, e a das cottages ‘da terceira fila nao € pelo menos. piot ddo que a das construsées correspondentes do velho sistema; mas a fila central mal ventilada, pelo menos tanto como as cikas dos pitios, e a rua sec suja e s6rdida, niko menos do que or proprios patios. Os empreiteiros pre ferem este sistema de construcdo porque economiza espago e permite explorar ainda mais os operirios melhor pagos, mediante os alugueres. mais elevados ‘das cottages da primeira e da terceira fila. Em toda a Manchester se encontram testes trés_tipos de cottages, ou melhor, em todo 0 Lancashire © Yorkshire, Frequentemente misturados, mas na maior parte das vezes bastante separados, ‘o que permite deduzir a idade relativa dos Varios bairros citadinos. O terceiro Sistema, o das ruas.secundérian, predomina decididamente no grande bairro operirio & Este de St. George's Road, dos dois lados de Oldham Road e de Great “Ancoats Street, © € também o mais difundido nos outros. bairros ‘operarios ‘de Manchester ¢ dos seus subsirbios 'No grande bairra jé mencionado, conhecido pelo nome de Ancoals, estio situadas ao longo dos canais a major parte das grandes fabricas de Manchester, eilficios colowais de sels a sete andares, que com as suas chaminés altaneiras sobranceiran ax pequcns covlages oper, Par so a populacho do buirto € principalmente ‘constituida por opersrios fabris ©, nas Tuas telbes manuals, As ruas mals proximas do. centro da_cidadk tntigas, © portanto as piores, mas mesmo assim lageadas ¢ providas de valetas ‘de escoamento: entre estas contam-se as paralelas mais proximas de Oldham Road e de Great Ancoats Street. Mais pata ld, na direcedo Nordeste, existem algumas ruas “de construgdo nova; aqui as coftages enfileramse_limpas ¢ polidas, com” portas. © janclas novas e envernizadas de Tresco, eas divis0es Interiores bem eaiadas; as proprias Tuas so mais atejadas, com espacos livres maiores © mais frequentes. Mas ‘sto feporta-se apenas a uma parte © nio & Iaiotia das habitagses; ao que vem ainda somarse 0 facto de em quase todas as covtages eistirem caves habitadas, de muitas ruas no serem pavi tmenfadas nem providas de valetas e, sobretudo, 0 facto de este aspecto limpo 4l ini‘ gg ee nfo pasar de apartncia. Aparécia esta que nto dura mais de dee anos De’ cto a estrtura das propria corlogs no '¢ menos enrotanc de f dipoigho da. rut. De nel todas se apreentne hngee shige oe fuss parsdes‘macigas de plo cnchem a" vit, perconeet nets ‘dpe 'de cents recente, em tr tn saa gs seanday Gur sem oheervar melhor & consruglo dos_propeiss aces, Mic anions ‘perros se encontra iho bem alojades come Gh Wale Nias os tm pouco mais de. perto. vee que a, paredes desist sortcen hp ae fel que €"posivel comirurs AS puedes exerions qe sesemr's Ges andar térreo ¢ 0 telhado tém, no maximo, a espessura de um tijolo, de tal todo que em cada estralo horizontal es tijolos se encentinn oto pt ino mi compile mar corps ds mesa ara =e tlgumastinda tm eonsirucho — nas quals as paredeecxterores Wha nooaee a espessura de mei tol, ¢ em que.astijolos ram portanto aplicades no, ies a comri, ide hi ts Suto esd als acontce em parte pura poupar materia, € cin pane’ anon Targa se preiteiron no sio os proprietéris do terreno mas, segundo w Costume mngie, femno ahigado por vinte, trata, quareni, cinguenia Gate por movin ee sero attra perio tm u's aac aed Se s"tncontra,sem_ que este timo fenke Ue‘ reemtelar sou Suse fer pel construglo erguida. Por isso 0 attendatério constr6i en edifcios le tal modo Aue, no fim do prazo contatul, exam 0° masposshel proedes, Set? ina medida ex qur eins connges to equentemente, erties ares inte ou rita ans ants: de al‘data, & (acl conpreeader ae oes Tei doestejam ineresados em farte com chs grandes, pec, TEES vem jintarse © Taco. de esis onsiuiors, aa au matic seaeetoe: pinteiros ou industriais, gastarem pouco ou nada em reparagdes, em ‘parte Para nfo diminuirem os Fendimentes,provenientes: dos. alugueres, ecm parte também: porque. se avsioha 0, momento’ de resiuicto: de teresa nde ne trem at construebes, © a tudo blo Yom tind sonceae eee ge ide ioe comereia& Gomsqunte Tala de" abo. farem, eat Eis efectivamente a descrigfo de um bairro epee ic ro de cottages nas quais habita um total de cerca de'4000 pessoas, quase todas ilandesas, detritos © lama nauseabunda estéo disperscx por todo o lado em cnormes * Op. cit suas exalagdes e escurecida e adensada por uma dGzia de chaminés; uma ‘massa de mulheres e de eriangas maltrapilhas circulam pelas imediagGes, sujas Como of porcor que se deleitam nos montdes de cinzas e nos. lameiros; em Suma, toda a zona apresenta um aspecto,talvez mais desagradivel © repug~ hhante do que os piores patios junto ao Irk. A raga humana que vive nestas Cottages a eait, por tris de janelas partidas e remendadas com tela, por tris de portas desconjuntadas ede. caixilhor podres, o_-nas eaves. himidas -€ fexcuras, no meio de toda esta porcaria sem limites © deste mau cheito, numa atmosfera qe parece propositadamente fechada, esta raca humana deve per- fencer realmente ao mais baixo degrau da humanidade; esta € a impressio © a conclusto que somos constrangidos a tirar tio s6 pelo aspecto exterior {do bairro, Mas que dizer a0 tomar conhecimento de que em cada uma destas tasitas, que contém no méximo dois quartor eas 4guasfurladas, © quando ‘muito ainda ‘uma cave, habitam em média vinte pessoas, a0 saber que em todo 0" bairro existe uma dnica Tatrina—naturalmente, na maior parte das Yeres “impraticével para cada’ 120 pessoas, aproximadamente, © “que no Dbstante todas as adverténcias dos médicos, nfo obstante a agitacio provocada hha policia sanitdria na época da célera pelas condigdes da «Pequena Irlanda», ftinda hoje, no ano da sraga de 1848, as condigdes se mantém quase as mesmas de 18312 0 doutor Kay relata que no somente ae caver mae também fos andares térreos de todas as casas deste bairro sso himidos; que numerosas caves, inicialmente aterradas, pouco tempo volvido foram de novo desobstruidas fe so agora habitadas por irlandeses; que numa. cave cujo pavimento seen ontrava abaixo do nivel do rio, a agua brolava continuamente por um buraco Subterrineo tapado ‘com arsila, pelo que 9 inguilino, um tecelo manual, fora obrigado a esvaziar a sua cave atirando & gua para a rua‘ Engels descreve os casos piores ¢ niio a média, Todavia, a sua recolha de situagSes-limite € justificada na medida em que a opinido publica jé nfo as considera admissiveis, independentemente da sua difusio estatistica. Aqui reside 0 verdadeiro mébil das denincias literérias contempordneas e das sucessivas accSes reformadoras, Os inconvenientes do ambiente pré-industrial eram entendidos como um destino inelutavel; existiam desde tempos imemordveis € pareciam — pelo menos no horizonte de cada geraco —substancial- mente imutaveis. Em contrapartida, a cidade industrial € um facto novo, surgido num tempo limitado Sob os othos das mesmas pessoas que Ihe suportam. os incémodos. E um facto singular, perturba os habitos € a capdcidade de compreenso dos contemporaneos, mas parece tudo menos fixo e inevitével. Ainda no se encontrou um sistema razofivel para controlar os seus processos, mas parece natural que a inventiva do homem ¢ a forga das maquinas, tal como originaram esta realidade, possam também mudar-lhe o curso, Em todas as épocas existiram misérias equipardveis ¢ talvez mesmo mais graves do que as descritas por Engels ¢ pelos outros + Op. ait 4B LL eseritores dos primérdios do século XIX, e € possivel contrapor as suas descrigdes outros escritos mais antigos que repetem quase lite- almente a mesma coisa; foi o que fez Barbagallo, citando textos de Vauban (1698), de Boisguillebert (1697) ¢ de Mercier (1783 De facto, a diferenga nfo reside nas coisas descritas, mas no tom das descrigées: triste € resignado na época pré-industrial, ¢ agora carregado de revolta e iluminado, néo obstante a grande miséria do presente, pela confianga num futuro melhor. A_pobreza—condigao suportada ha séculos sem esperanga de alternativas razodveis — € agora reconhecida como «misériay, quer dizer, € vista na perspectiva moderna de um mal que pode © deve ser eliminado com os meios a disposigdo. ‘A. Bevan escreve: «Por miséria entendo uma consciéncia geral de privagdes nao necessarias— e esta € a condigdo normal de mithies de pessoas na moderna cidade industrial —unida a um profundo sentimento de desilusio e de insatisfagio pela situagio local actual. De nada serve replicar que as coisas sempre esto melhor que outrora. As pessoas vivem no presente, nao no passado © descontentamento nasce do contraste entre aquilo que se sabe ser possivel e o que efectivamente existe. Hé a universal ¢ justificada conviegao de que a grande massa de homens mulheres se encontra Pior do que poderia estar»’, ‘Convém portanto buscar as origens do urbanismo moderno nna época em que as situagdes de facto se coneretizaram em medida suficiente para provocar ndo somente o mal-estar, mas também o protesto das pessoas nelas envolvidas; aqui 0 discurso historico deve ser necessariamente alargado das formas de pavoamento i. proble- mética social da época, mostrando 0 correcto posicionamento da urbanistica moderna como parte da ientativa em curso para es- tender a todas as classes'os beneficios potenciais da revolugao indus- trial, e pondo a claro de uma vez por todas a inevitavel implica politica inerente ao debate técnico, Nio € por acaso que se dé precisamente em Manchester, em 1819, o primeito incidente importante que inaugura os conflitos so- ciais' do século XIX: 0 episédio de Peterloo. A politica repressiva do governo levara as associagdes operérias € 08 radicais extremistas a porem-se de acordo. Os operdrios liam * C. BARBAGALLO, Le Origin’ della ranea, cit. cap. XIX, © Cit. in all Mondo», 20 de Dezembro de 1960. inde Industria Contempo- 44 © «Policial Register» de Cobbett, que desde 1816 era vendido a dois pence, e 0 governo respondia mobilizando policia e exército, ordenando prisdes preventivas, fazendo suspender as seculares garan- tias do habeas corpus. A. 16 de Agosto de 1819 —conta Trevelyan — foi autorzada para o campo de". Pedro, em Manchester, 2 reunigo de uma multdio ordenada eNieermada de 60060 homens, mulheres ¢ crianea mas depos, as autorMdades Sncaregadas da vigiine, slarnadas 8 vista dena tl mide, mandaram S"hlleie'e eavelo prendet o-orndor, 0 conhecido radial Hunt, on altura’ em fue a feunifo’aingla 0 auge” Quando on mitre, embrenhundo-se ef ‘aio para cumpirem a: misst foram valads & Fepelios, as autoridades Sricnafen i eavelaria de reserva que carreras O embate empurrou a densa than de sees mumanorprouejndo eran para Tora do campo, etuagto {forma Por pari vores, brandi os ben com Eta Not Fecontros dese dia” pelo: menos one. pesoas foram. mors, ou. moreram fe aegutncia de ferimentos nmi Je wha contenu ict Teri pelos sabres Dien Miran centenne fom calli” pelow eancos dos exvaly ou stam Sulttatadse de eica"O” numero de mulher Teids slevouse a mals-de" uma Este episodio rapidamente sensbilizou a imaginagio_ dos con- temporaneot, que 0 baptizaram com 0 ngme de ehatalha de Peterloo». IA'Wstorla corroborou, esta apreciagdo, e-em todos o5 manuals 0 ome de Peteloo vem lado a lado, com sigifiatva simetria, com 0 de Waterloo, realgando 0 contraste entre 0 esplendor da. politica externa e 0 obseurklade politica interna ‘Os contemporincos foram sensibilizados nfo pela natureza dos factos nem pela erueliade das autoridades responsveis, que cederam fe panico'e nao propriamente sum plano preestabelecido, mas pelo SSalimento' de nutialade no comportamento dss duas pares, ambes Sparentementeblogueadas num mpase sem sake, ‘A auloridade, adoptando uma. posigho de forea, nfo, podia esperar qualquer resultado duradouro razoavel (a historia. inglesa {Shnurs desde hé tempo impossivel governar com ais meio, © 0s mnanifestantes, por sua ver os moradores Jas viel © dos patios Guscttos por’ Fngels-—eram_movidos por me revolta elementar, finda privada de_perspestivas de acglo.definias. onbete inventare um termo significative, « coisa, xpara de- signar.o conjunto de ministos, de taficantes elitoras, de jbilados, ae tnhores de ecteslastos, Ue induntiais que acorrentavam, tra nivavam ¢ cangravam a Inglaterra’, e contra uma imagem deste G. M. TREVELYAN, British History in Nineteenth Century and After (1922) Op. cit escritores dos primérdios do século XIX, e € possivel contrapor as suas descrigSes outros escritos mais antigos que repetem quase lite. almente a mesma coisa; foi o que fez Barbagallo, citando textos de Vauban (1698), de Boisguillebert (1697) e de Mercier (1783)° De facto, a diferenga nao reside nas coisas descritas, mas no tom das deserigdcs: triste © resignado na época pre-industrial, ¢ agora carregado de revolta ¢ iluminado, nfo obstante a grande miscria 4o presente, pela confianca num futuro melhor. A_pobreza—condig&o suportada ha séculos sem esperanca de alternativas razodveis — 6 agora reconhecida como «miséria», quer dizer, ¢ vista na perspectiva moderna de um mal que pode e deve ser eliminado com os meios & disposigdo. A. Bevan escreve: «Por miséria entendo uma consciéncia geral de privagées no necessérias— e esta € a condigao normal de milhdes de pessoas na moderna cidade industrial —unida a um profundo sentimento de desilusio © de insatisfagao pela situagio local actual. De nada serve replicar que us coisas sempre estao melhor que outrora. As pessoas vivem no presente, no no passado, © descontentamento- nasce do contraste entre aquilo que se sabe ser possivel ¢ o que efectivamente existe, Hé a universal ¢ justificada convicgao de que a grande massa de homens ¢ mulheres se encontra pior do que poderia estar! Convém portanto buscar as origens do urbanismo moderno nna época em que as situagdes de facto se concretizaram em medida suficiente para provocar nao somente o mal-estar, mas também o Protesto das pessoas nelas envolvidas; aqui o discurso historico deve Ser necessariamente alargado das formas de povoamento a proble- matica social da época, mostrando 0 correcto posicionaniento. da uurbanistica' moderna como parte da ientativa’ em curso para es- tender a todas as classes ios beneficios potenciais da revolucao indus- trial, © pondo a claro de uma vez por todas a inevitavel implica politica inerente ao debate técnico. Nao é por acaso que se dé precisamente em Manchester, em 1819, o primeito incidente importante que inaugura os conflitos so- ciais do século XIX: o episddio de Peterloo. AA politica repressiva do governo levara as associagSes opersrias, € 08 radicais extremistas a porem-se de acordo. Os operarios liam * C. BARBAGALLO, Le Origini della Grande Industria Contempo: vanea, cit. eap. XIX, * Git. in «ll Mondo», 20 de Dezembro de 1960, 44 era vendido # © «Policial Registers de Cobbett, que desde 1816 eM rercito, dois pence, € 0 governo respondia mobilizando Polis ordenando prises preventivas, fazendo suspender 3: tias do habeas corpus. ste sae Tan are mui, formadapor pts tore, brandia os tbe CO, Emorreram™ Tak rea atten nce ee Ph cee Ropder gare rp c jnagio dos ©! Este episédio rapidamente sensibilizou a imagitactoy eto» temporieos, que o baptizaram com o nome de «batalla °e ais 0 A'histria, Corroborou esta apreciagdo; © em tOdes. "com 0 nome de Peterloo vem lado a lado, com signifiativa Smet ote de Waterloo, realgando 0 contraste entre o esple' : externa e a obscuridade da politica interna. uureza do! (Os contemporineos foram sensibilizados mio pela PN ram factos nem pela crueldade das autoridades responsaveis, aU° To.’ pelo Ee ri forca, nitoridade, adoptando uma posicio de forca, MRO. ttoca eran peat ene duradouro. razoavel (a histor Ta tornara desde ha tempo impossivel governar com tals M35 ios manifestantes, por sua vez—os moradores das vielas © Cre enuar, deseritos por’ Engels — eram movidos por uma revo ainda privada de_perspectivas de acgao_definidas a de ‘a coisa, «para Je Cobbettinventara. um term significativo, @ CO tyiados Sharon Vineteenth Century an

Você também pode gostar