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Resumo:
Este artigo discute o lugar que a Comunicação apresenta nos processos e programas
realizados no âmago do movimento de sustentabilidade, partindo da hipótese que este papel está
muito além da simples divulgação ou transmissão de informações. Ao buscar o diálogo com os
diferentes atores sociais que formam seu público, as empresas que adotam políticas de
sustentabilidade ou de desenvolvimento sustentável se organizam numa estrutura de rede
informacional. A Comunicação assumiria, portanto, a centralidade do movimento de implantação
da sustentabilidade, articulando valores e subjetividades e reelaborando o simbólico. Neste sentido,
mesmo em momentos de instabilidade e de redesenho do conceito, se afirma como essencial à
consolidação do processo.
Palavras-chaves:
1. Comunicação 2. Sustentabilidade 3. Mudança
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Introdução
A Comunicação é uma teoria plural, que admite múltiplas abordagens e por vezes se mostra
campo e por outras, objeto. Não é possível pensar a Comunicação só como estudo do conjunto dos
meios de comunicação, tal a integração que as novas tecnologias informacionais e
comunicacionais têm com nosso cotidiano. “A comunicação, por sua natureza polissêmica, é um
campo bastante fértil para a multiplicidade de abordagens e interpretações” (CASALI, inédito).
Em pauta
O aspecto dialogal com diferentes públicos é desta forma bastante nítido em várias falas
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sobre o assunto. Alguns teóricos do campo da Comunicação, como Zaccaria, chegam a considerar
que é impossível ter responsabilidade social corporativa incorporada à realidade da empresa se não
houver uma política de comunicação eficiente:
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material da sociedade num ritmo acelerado (CASTELLS, 2003). As economias e as sociedades
entram em interdependência global. No novo modo informacional de desenvolvimento, a fonte de
produtividade está na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento de informação e
de comunicação dos símbolos. Para Castells, trata-se da sociedade informacional, uma forma
específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação
tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas condições
tecnológicas surgidas nesse período histórico.
Estamos na economia da inovação, mas que não está circunscrita aos departamentos de
pesquisa e desenvolvimento das empresas. A inovação é acelerada, constante, contínua e depende
fortemente do trabalho em rede, interdependente, circulante, para acontecer. A inovação se
estabelece pelos fluxos comunicacionais que formam a própria estrutura da rede.
Para Cocco (2000), “hoje em dia, o sistema de produção se identifica com o processo de
produção da comunicação social, pois integra a comunicação na produção”. Para ele, a
comunicação funciona como uma interface entre os comportamentos de consumo e as condições
técnicas da produção material. “A nova indústria terciária da comunicação (...) transforma,
tornando-as circulares, as próprias noções de „produto‟ e de „ato de consumo‟”.
Pereira & Herschmann assinalam que o sentido ganha importância revisitada na sociedade
da informação e do conhecimento, principalmente em função da valorização da perspectiva
cultural:
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Ferramentas do diálogo
Penso que esta abordagem vai ao encontro do que verificamos na prática, especialmente
quando parametrizamos as atividades de Comunicação Organizacional em torno da
responsabilidade social e da sustentabilidade.
Por outro lado, ao se considerar a realidade social como um processo simbólico criado (e
recriado) por ações contínuas, a tendência será visualizar a Comunicação como Organização.
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Pensando em termos das atividades internas a serem desenvolvidas pela empresa, não teremos
mais setores e gerências de Comunicação, mas áreas responsáveis pela gestão de fluxos
comunicacionais, um intrincado campo de forças no qual se dá não só a inovação como a própria
constituição organizacional.
As ações sociais e ambientais das empresas são formas de discurso. São alternativas
para se posicionarem diante de seus públicos interessados. Mas, como todo
discurso, é formulado a partir do contexto e, simultaneamente, constrói o meio no
qual está inserido.
O contexto deve ser trazido à luz quando analisamos a atuação da Comunicação, não só
porque é ele quem traz as evidências a serem rearticuladas simbolicamente, mas também porque
estabelece as condições de identificação e de gestão dos públicos com os quais as instituições
querem ou precisam se relacionar.
No atual contexto econômico, em que vemos uma desarticulação de cenários mais positivos
para o incentivo à busca pela sustentabilidade, é preciso, acima de tudo fugir da precipitação de
reduzir investimentos em comunicação. É justamente em períodos como o atual que a
Comunicação confirma sua importância, pois mantém o diálogo permanente com os públicos,
reforçando relacionamentos que muito provavelmente levaram anos para serem construídos.
Atravessar as turbulências não será possível sem uma comunicação clara, objetiva,
estratégica e integrada, direcionada aos diferentes públicos de relacionamento das empresas,
alinhada a um planejamento orientado para o futuro.
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Considerações finais
Ao buscar o diálogo com os diferentes atores sociais que formam seu público, as empresas
que adotam políticas de desenvolvimento sustentável ou de responsabilidade social corporativa se
organizam numa estrutura de rede informacional – o que pode ser uma chave para explicar a sua
disseminação de forma tão rápida na atual sociedade em rede. São atores de diferentes posições
sociais e políticas que interagem debaixo deste grande guarda-chuva temático.
Já temos consciência, como demonstra Aldé (2004), que os meios de comunicação são a
mediação entre a sociedade e o espaço público. Os meios de comunicação são centrais na
elaboração e justificação das atitudes políticas. Agora começamos a perceber que os processos
comunicacionais, geridos pelas empresas em suas atitudes de responsabilidade social, vêm
promovendo um verdadeiro rearranjo na esfera pública, parametrizado pela iniciativa privada.
Ao mesmo tempo, o atual contexto econômico sugere uma revisão das práticas e processos
de produção, levantando o questionando sobre modelos de desenvolvimento adotados desde o
século XX, cujos impactos tem sido redimensionados nos últimos anos. Os novos arranjos
produtivos são pensados a partir de novos modelos e processos, nos quais o papel da comunicação
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De acordo com Murad (2005), no bojo do movimento de responsabilidade social a
sociedade civil propõe um Estado socialmente gerido e um mercado orientado para o social, sem
perder a perspectiva econômica e competitiva. Ele aposta que a “sociedade se apresenta como
„esfera social-pública‟ de legitimação e ação”, sendo que dentro dessa „esfera social-pública‟ as
identidades e os sentidos também são constituídos e mostrados. Podemos avançar e afirmar que a
sustentabilidade trabalha por um mercado orientado para o social, o ambiental e o econômico,
estabelecendo as bases para um futuro que não seja autofagocitante.
Mudanças de paradigmas colocam em cheque certezas antes ditas como inabaláveis. Num
primeiro momento, algumas instâncias podem ser colocadas em questão, serem abaladas e até
sofrerem em algum grau de imobilismo. No médio prazo, assim que passa o período inicial em que
tudo parece desmoronar, o cenário vai clareando e se evidencia a necessidade de as instituições
reforçarem o diálogo com seus públicos de interesse.
Estamos, portanto, falando tanto de construção de imagem e reputação das empresas, o que
diz respeito à transparência, quanto de inserção social das organizações. Ambas as interpretações
se relacionam com os conceitos de governança corporativa e de gestão empresarial e estão
profundamente envolvidas com os compromissos que uma empresa estrategicamente estabelece
com a comunidade e com seus públicos.
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