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Gilmar Ferreira Mendes Inocéncio Mértires Coelho Paulo Gustavo Gonet Branco HERMENEUTICA CONSTITUCIONAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS INSTITUTO BRASILIENSE DE DIREITO PUB! an 2 Brasilia Juridica Direitos autorais reservados — © — LIVRARIA E EDITORA BRASILIA JURIDICA LTDA. SDS — BL. 0 ~ Ed, Venancio VI — Loja 27 Tel. (OXX61) 224-4607 — Pax (OXX61) 225-8494 — CEP 70.399-900, ‘e-mail: bsbjur@brasiligjuridica.com.br ‘www brasiliajuridiea.com,br Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) ‘Cimare Brastoira do Litre, Sb, Breil Mendes, Gina Persia ermontatizncontitaconal« dite fendaneo tate “Glinr Ferreira Monies, lacence Mattes Ghtne Pla Gusavo Goel ranean” Bessa Sean Ju 306 2229. 1 Diet Constitcional — Diritos Fundaneotie ~ Dist lode ial Got, csoes Marae I Beane, Paul Gsive Genet coo 3012 APRESENTACAO ‘No nici de 1998, conereticamos uma iia que aninhavamos hhéalgum tempo a de abrir as nossas conversas de amigos, sobre {esttes de Teoria Geral do Diretge de Divito Constitucional, quem Shais quisesse delas partiipar. Surg, aasim, o IDP — Tostesto Brasllense de Dirt Pablice, dsde logo compromstido em vi a ser tum espago aberta para arelexao ea erica de quantos se dspuses- Sema desenvolvé las sob as idins de auditoria univeral ede busca coperatioa da verdad, xm compromisso que, de rest, inspira fro texto da Consttuiedo, cua formula paiticaelogeu entre ov: ‘os valores igualmente encarecidos a dignidade da pessoa hums bie pluralizmo como fundamentos do nosso Estado de divi, Desde entio, ministramos diversos carsos de Hermentstica, sobre tomas gerais de Direito Constitucional © Teoria Coral de Dircitos Fundamentals. Nesse entretempo, o DP teve ahonra de ediar cursos dow Ministros Marco Aurtlio Mendes de Farias Nello, ‘Tose Augusto Delgado e Ives Gandra da Silva Martins Filho, as: sim come palestra do profesor Jorge Miranda, da Universidade ae Lisboa, Esperamos contar, para breve, com'a participagao 46 ‘utros uristas de igual eavergadura, que ja re dispuseram a tra Ser'a sua contribsigio para manter viva a dela que inspirow a ring do nosso Instituto e mantém abertas as suas ports. (0 livro que ora vem a pablico ¢ mais um rebento do IDP, resultado do ansoio de noticias sobre os temas da hermeneuticn, ‘do controle de constituconslidade © da teoria geral dos direitos ‘indamentais, que notamos nos amigos que requentam os mossos ‘cursos, © proposito desta pubicagao, rjetadon os fundamentar Tismos de fodos os matizes.¢ tornarinais amplo o expago para a discussho desses topos, gue o momento democraticetornou nu Slesres para qualquer amo do Direlto Prestadas essa informagtes, fechamos esta breve apresenta: 40 concordando com Machado de Assis em que, “para angariar as Simpatias da gpiniao,o primeiro remedio ¢fugir a um peologo ex: piel longo” Parafraceando omermomestre, ainda, afiangamos fue, se este lira te agradar, fino leitor,pagamo-nos da tare Os Autores SUMARIO 1* Parte — Inocéncio Mértires Coelho —Elementos de Teoria da Constituigho e de Interpre- tagdo Constitucfonal 1. Compreensto e pré-compreensio. Memérias constitu 1. Ordenamentojurigico,consttuiio enorma fundamental Concstaw abjoto da Constituigio 1. Ondenamento jardin, constituig norma fundamental 2. Coneeitoe objeto da Constituigao 2.1, Constituigio como garantia de status quo econd- tnlcoesoeal (Forstht. 2.2. Consituigio come instrumenta de governo (ennis) 2.8, Constituig como processo publica (Peter Ha. berle) : 2.4, Constituigao como ordem fundamental e prograe fave ago que identifies uma ordem politicoso- Gal eeu processo de realizagao (Baulin) 25, Consttuigdo como programa de integragio ¢re- prerentacao nacionais (Krger) 2.6, Consttwigao como legitimagio do poder sobera- no, segundo a idéia do Direito (Burdeaw) 2.1. Constituich como orem juridica fundamental, ms- terial eaberta, de wma determinada comunidade (esse) TIL Norma constituciona: espécies ¢ caactoristicas 1. Normas constitucionais materiaiseformais 2. Normas constitusionais operaivas o programas 3, Normas constitucionas auto-execut4veise no auto oxecutévels 29 a n 32 3a 36 37 40 4“ 4, Normas de organizagio enormas definidoras de dieitas 44 5.3. Inalienabilidade/indisponibitidade 122 1. Hermenéuticae ditito.O direito como objeto cultu 7. Fungées dos Direitos Fundamentais, 139 ral oo problema dacompreansi, 83 7.1. A teoria dos quatro status de Jelinek 139 Pa armies Paton spas edieltttass Jos juridicos: 82 7.2.2.2. Direitos a prestagdes materiais M5 Se alee tir ope caetae = 723 Diels funded partion 13 gitimidade e legitimasto da jurisdigao constitucional, 8, Dimensbes Subjetivae Objetiva dos Diritos Fundamentais, 152 titucional da separagio de poderes 85 sificago. 7 8. A criago judicial do direito em face do canone her- 9.4, O art. 5°42", da CF. 100 Peet ane ustars Genet Beanies 10.3. Capacidade de fato e capacidade de direito. 168 — Aspectos de Teoria Geral dos Direitos Fundamentais 103 111. Sujeitos Passivos dos Direitos Fundamentais 169 2. Histérico 104 sages 7 = cetnenteis ae I. Os Direitos Individuais e suas limitagdes: Breves 5. Crater Dinos Fondant ns 1 tured aa 43. Direitos fandamentais enquanto normas de protegao de 5.2, Historicidade. wi Pastinatoe jortdtooe 201 0 ermentuticnConstitucona 4, Direitos fundamentais enquanto garantias positivas do lexercicio das liberdades, 4.2. Direito a organizagao ¢ a0 procedimento 4.8, Os direitos de igualdade: a hipotese de exclusao de beneficio ineompattvel com o principio da igualdade 5, Direitos fundamentais e dever de protegao 11, Ambito de protegio de direitos fundamentais ¢ as possiveis limitagdes 1, Considoragies gorais 2, Determinacao do ambito de protecao 8. Conformagio de restricao 3.1. Consideragdes preliminares 8.2. Ambito de protegto estritamente normative 48.8. Definigioe limitagao doconteudo do dieeto:o exemplo ‘do dirvito de propriedade 4, Restrigdes a direitos fundamentals 4.1. Consideragoes preliminares 4.2. Tipos de restrigves a direitos individuais 4.2.1. Reserva legal simples 4.2.2. Reserva legal qualificada 4.2.3. Direitos fundamentais som expressa previsio de reserva legal IIL. Os limites dos limites 1. Consideragbes proliminares 2.0 prineipio da protec do nicleo essencial 2.1. Consideragdes preliminares 2.2, Diferentes posigies dogméticas sobre a protegio do iiicleo essencial 8.0 principio da proporcionalidade 8.1. Consideragoes preliminares 3.2. A proporeionalidade na jurispradéncia do Supremo ‘Tribunal Federal 3.3, Principio da proporcionalidade e direito de proprie- dade 202 203 205 207 208 210 210 212 213 213 215 air 223 238 227 252 236 240 241 2a 2a 2a 243 246 246 261 an Hermenéutica Consiusianal «Diritos Fandamentais 3.4, Duplo controle de proporcionalidade e controle de proporcionalidade in conereto 4. Proibigio de restrigdes easuisticas { 5. Acolisto de direitos fundamentais i 5.1. Consideragies preliminares +52. Tipos de clisto. 5.3, Solugao dos coaflitos 5.8.1, Consideragées preliminares 5.4, Colisto de direitos na jurisprudéncia de Supremo ‘Tribunal Federal 6. Concorréncia de direitos fundamentais = Apndice 1 = Apéndice II — Bibliografia. 22 276 280 280 281 282 282 295 au 315 ait 319 1? PARTE ELEMENTOS DE TEORIA DA CONSTITUICAO E DE INTERPRETACAO CONSTITUCIONAL Inocéneio Mértires Coetho 1. Compreensto e pré-compreensio, Memérias constitu fionats: 2 Ordenamento juridic,consttuiggo « norma fundamental Concetto otto da Constitugaos 3. Nor Ima constituianal,epécis caractertsticas, . Herme ‘neutica flosifea ¢ hermendutien Juridica, A dialétice 4s oplicorte do diel eo eardter exemplar da herme Intutca yuridion para ax extncine do eapisto, Dirtrces ‘para uta heymeneutica Juridica estratural 5. Criagaa Judicial do direst. Fundamentoselomites da atividade ‘udictal como fase do proceso legislative, Legtimedade @ legitimacdo do jurisdigdo constitucional. Ativiemo Ju ictal e separagto de poderes 1 — COMPREENSAO E PRE-COMPREENSAO. MEMORIAS CONSTITUCIONAIS. ‘Uma das mais importantes contribuigses da hermenéutica f= Toséfiea contemporiinea para a teoria e a sociologia do conherimento fia consolidagao do entendimenta de que a compreensao do sentido de uma coisa, de um acontecimento ou de uma situagdo qualquer Dressupée um pré-canhectmento daquila que se pretende eompreen- der, pelo que, desde o inicio e até 0 final do processo eognitivo, toda Interpretagao, embora nao chegue a ser determinada, em larga me- ida € guiada pela pre-compreensao do intérprete. Nesse sentido, afirmou Martin Heidegger, em ligdo que parece definitiva “A intorpretagao de algo como algo funda-se, essoncial- ‘mente, numa posifdo prévia, visdo prévia e concepcao pré ermenticnConstisusional¢ Divioe Fundamentaie " via. A interpretagao nunca é a apreensio de um dado preli- finar, isenta de pressuposicoes, Se a conerecao da interpre: tagio, na sentido da interpretacao textual exata, se compraz fem se basear nisso que esta” no texto, aquilo que, de imediat to, apresenta como estando no texto nada mais 6 do que a ‘opiniao prévia, indiscutida e supostamente evidente, do in- térprete, Bm todo principio de interpretagao, cla se apresen- ta como sendo aguilo que a interpretagdo necessariamente {i8"pae",ou seja, queé preliminarmente dado na posigao pré- visio prévia e concepeio prévia™" Aceito esse ponto de partida, de que 0 ser do intérprete — como ode todo homem —, 60 seutexistir ove seu mado de estar no mnundo, um dado de realidade que limita a nossa cosmovisio, tor- hnando-a necessariamente parcial, porque restrita a nossa pers: pectiva no momento da compreensao, se isso for verdadeiro, e pa- eee que o seja em linha de principio, aereditamos que uma ansili- se realista do processo de interpretacto e aplicagao do direito — como, de resto, da procesto cognitivo em geral —exige uma refle- ‘ao sabre os elementos ou fatores constitutives da personalidade ‘edo modo de pensar dos sujeltos da interpretacao, que sdo pessoas dle carne e osto, historicamente situadas ¢ datadas, cuja realida- dle radical, que tudo condiciona, é a sua prépria vida, tal como & ‘coneretamente vivida em cada lugar e em cada hora.” Nessa ordem de preceupagdes, comegariamos lembrando, com Ortega y Gasset — alias contempordneo de Heidegger — que o Bu do intérprete, de qualquer intérprete, é uma sintese que integra e ‘supera os elementos que 0 constituem, ou originario de cada um ‘eo seu entorno 0U circunstdncia, o mundo real em que todos se jnserem ¢ levam a sua vida, nessa complexa interagdo do que no hhomem & biologia © biografia, do que nele 6 historia e natureza, como dizia com rara elegancia o saudose Daniel Coelho de Souza fem suas aulas seminais de Introducao & Cieneia do Direit. "Sere Tempo Petripalis, Vose, 2 ed, 1088, Parte I, pg. 207; Nota plieative 51 pas 28. Para wine andi dor components — binges, pique eucoultaras —e do mulo como les interogens dando get peronatiage coneet Indi Siecle men comand lament imc, ni, Stan cf Eas Races Siceu etade Genera Forfa def Deiche. Serco. Parne. 1585, page 1/0 7060, Tate de Sarl, Ru, Et Globo, 1068, tnd Jago Haptra Baker de Agua oT paps 4180, [Ainda com o autor das Meditaciones del Quijote, recordati- ‘mos que o ponto de vista individual ¢ o unico ponto de vista a partir do qual nbs podemos verdadeizamente olhar 0 mundo, por {gue a realidade — precisamente por ser realidade ese achar fora das nossas mentes individuais — se nos apresenta taorsomente ‘em perspectivas e s6 pode chegar até nés multiplicando-se em mil ‘earas ox em mil Faces® Por isso, sob pena de nos iludirmos e tomarmos o tode pela parte —um pecado elomentar que estamos condenades a cometer até nos darmos conta de que nto possuimes o dom da ubiquidade ‘eque anossa visio das coisas, por mais abrangente que seja, sera apenas uma entre tantas outras formas de enearar 0 mundo — s0b pena de incorrermos nease infantil equivocefilosstico, deve mos nao somente duvidar das evidéncias ndo refletidas, mas $0- bretudo somar & nossa a perspectiva do Outro, pois s6 assim lo graromos aprender a totalidade do real, uma tarefa necessaria ‘mente compartilhada sob a logica ea ética da diferenca e da bus- fa cooperativa da verdade, uma ligdo de humildade e sabedoria, que se recolhe nesta passagem de ll Espectador: “La verdad, Jo real, el universo, la vida — como querdis amarlo—, se quiebra en facctas insumerables, en vertientes sin cuento, cada una de las cuales da hacia un individuo, Si ste ha sabido ser fiel asu punto de vista, si ha resistido a la ‘eterna sedueeiin de cambiar su retina por outra imaginaria, Toque ve sera un aspecto real del mundo. Y viceversa: cada hombre tine una misién de verdad. Donde esta mi pupila no esta outra: lo que de la realidad ve mi pupila no lo ve otra. Somes insustituibles, somos nocesarios: Sélo entre todos los hombres llega a ser vivido lo Humano'— dice Goethe, Dentro dela humanidad cada raza, dentro de cada raza cada inidividuo, es un organo de percepeién distinto de todos los demas y como un tentaculo ue llega a trozas de universo para los otros inasequibles. La realidad, pues, se ofrece en porspectivas individuales. Lo que para uno esté en sitimo plano, se halla para otro en primer termino. BI paisaje ordena sus tamanos ¥ sus distan- as de acuerdo com nuestra retina, y nuestro corazén repar~ = Verde » Perspctisa, in BI Bopectador. Obras Compleat. Madsid Re sista de Ocsdete GF Toto hype 11, ce 18 ermepétie Consttuconal eDietos Fundamentals te log acentos. La perspectiva visual y la intelectual se conplican con la perspectiva de la valoracion. Bn vez de dispu- tar, integremos nuesires visiones en generose colaboractin intelectual, y como las riberas independientes se aunan en la ‘gruesa vena del rio, compongamos el torrente de lo real." (Os grifos sto nossos) Sea tudo isso adicionarmes ocomplicador ideologia, em qual- quer dos seus diversos sentidos e fungées," se iluminarmos esse {ator no conjunto dos componentes sociais ¢culturais da persona. lidade individual conereta do intérprete-aplicador do direito, de- finitivamente nos daremos conta da extrema complexidade que envolve o processo de atualizagao dos modelos juridicos, um ‘campo de manobra cheio de ciladas e armadilhas, via de regra indo pereebidas pelas suas vitimas, porque ao fim e ao cabo somos todos animais ideologices, como ideoldgiea @ a sociedade em que Enfim, se observarmos todos esses “conselhos” no ensino do direito constitucional, poderemos constatar, desde logo, que a com- preenstio dos temas objeto deste estudo serd inevitavelmente gui {fa, embora nao determinada em definitivo, por esse conjunto de fa- tores, que dirigem e modelam a nossa compreensto iniial sobre a Imatéria, o mesmo valendo, obviamente, para ensino do direito, om. geral, enquanto instrumento ordenador de situagées existenciais que, de alguma forma, j6 foram vivenciadas por nés e precisamente por {sso gularao 08 nossos passos na caminhada da reflexio, Dat que, aderindo aas ensinamentos do fildsofo de Sere Tempo — para quem todo questionamento é uma procura, que retira do “Sobre tigen sciis do pensamenty, Kael Maonhaim.Ieaogie «| ‘topia, Hi, Zanan, ots: Kart Nannie, Wright lee Rabert Merton. Sot lag de Canheciment os taba, 1067, Adams Seba HastoraeVerdade. Sto Pato Marine Foss 4 108; sbet os divers srntidorsfunice de de foi a Villers Boner dng Mei, ond Clr on. dimer Vendy Mltado Salnmanen Sigueme, 1093, page S8U37Tse sores {mnortibidade cotropligite do Jui asseptico, Bogen Ral Zalarni Euucturas Judit” Busaos Airs, Eder 106, page 109208 “A prop canine previ de Pl Reon “ru gue me {fd elos te de ssbe' ologin snes porsoase de favo de ur Toga ‘Eesloyie cham fe clneat Interpreten Idoigioe Rin, Prancato Ales 1088 pag 7. Hermenduticn Constitcinal e Disei Pandamentie 19 procurado a sua directo prévia’ —, Miguel Reale observa que qual- ‘quer pergunta ja envolve, de certa forma, a intuicdo do pergunta- 4o!, enquanto Karl Larenz acentua que 0 texto nada diz a quem no entenda ja alguma coisa daquile de que ele trata, es6 fala ou 56 responde Aquele que compreende a sua linguagem eo interro- ga corretamente’ Em termos proprios do voeabulério de Ludwig Wittgenstein” , dir-se-ia que para nos situarmos no mundo do direite e eompreen- ‘dermos o significado dos conceitosjuridicos, para termos acesso a ‘essa esfera do real, devemos participar do seu jogo de linguagem, ‘euja compreensio, de sua vez, pressupoe certas vivéncias-chave, porque o elemento normative nio se pode mostrar de um modo palpavel, como um objeto perceptivel pelos sentidos" A propésito do termo jogo de linguagem, que é da maior im- portincia para todos os campos do canhecimento e, precisamente por isso, no deve ser malbaratado, impbe-se atentarmos para esta dverténcia de Larens: “A expressio jogo de linguagem nao pode ser incorreta- mente compreendida, como se se aludisse com ela simples mente a um jogocom a linguagem, a um fazer malabarismos com palavras. Um jogo de linguagem, tal como aqui deve ser entondido, 6 0 modo especial como — adentro de uma deter minada linguagem — se fala de determinado setor de coisas ‘ou dmbito de experiéncia. Tai setores séo, por exemplo, a na ‘tureza inanimada e a natureza viva, a téeniea, a arte, ou mes. mo o Direito. Numa linguagem, fala-se sempre sobre algo. A compreensao por intermédio da linguagem ¢ compreensio de tuma eoisa que éfrazida d inguagem. A coisa de que se fala na, Tinguagem normativa da Jurisprudéncia é a coisa Direito™= Pois bem, aplicando esses pressupostos da hermenéutica f- lossfica 20 ensino do direito constitucional, pressupostos que, de resto, pertencem a teoria do conhecimento € a Sociologia do saber * aem idem, pég 30, ‘ Lgies Preliminare de Dire. Sk Pale, Saraiva, 1986 12d, » aeedelogia da Cnet do Dito, Lisa, Gulbenksn, 1989, 2 ea pig sTTe tat ™ Lads Wittgenstain,Tnvestigegsee Flosiege. Lisboa, Gulbenkian, 1965, a1, Deonaro Wagers Ri, Zabar, 1908, page 325028 Kae Lares, op. le, pgs 296259, # Op eta pa 298, 2 __Hemmenduien Consitusona eDistos Fundamentals — especialmente o achado da pré-compreensio— Gomes Canoti- Tho assinala que os estudantes chegam a universidade carrega- dos de memérias constitucionais, lembrangas que se traduzem ‘num conheclmento difuso, feito de imagens, representacoes © idéias, digamos, irracionais, sobre os principals problemas com {que se defrontam a teoria e a praxis constitucionais, nogses va- fas e imprecisas que serdo ordenadas ao longo da sua formagio ‘eadémica” ‘Nos dominios da ciéneia politien, essa vivencia institucional {oi descrita por Georges Burdeau em linguagem tio sugestiva que ro cometeriamos excosso se a reputissemos a mais didatica in- trodugao ao estudo dos problemas Estado “Ninguém jamais viu o Estado. Nao obstante, quem pos dria negar que se trata de uma realidade? O lugar que oc ‘pa em nossa vida cotidiana é tao importante, que nao pode: Fla ser eliminado dela sem que, por sua vez, se vissem com- prometidas nossas possibilidades vitals. A ele atribuimos fodas as paixdes humanas: é generoso ou ladrao, engenhoso fu estipid, cruel ou henévolo, disereto ou invasor. B porque #8 consideramos sujeito a esses movimentos da mente ou do coragao humanos, a ele dedieamos os mesmos sentimentos {que nos inspiram as pessoas: eonfianea ou temor; admiraciio fu desprezo; édio muitas vezes; porém, em cortas ocasives, lum timido respeito ou uma adoragao atéviea ¢ inconsciente do poder se misturam com a necessidade de acreditar que nosso destino, embora misterioso, ndo 6 um joguete do aca- 50. Se a historia do Estado resume nosso passado, sua exis- tencia atual parece prefigurar nosso futuro. Se as vezes © maldizemos, logo nos damos conta de que, para o bem ot para o mal, estamos ligades a elo” No easo particular dos cursos de especializagao, eujos parti- cipantes transformaram sua pré-compreensfo estudantil em pés- ‘compreensio profissional — em verdade uma nova pré-compreen ‘do que balizard os passos seguintes™ —, sobe de importancia 0 Divito Constitctonale Teorla da Constitute, Coimbra, Amana, 1908, pa 238 "BI Batado Madr, Seminariey Baiionn, S.A. 107, pi. 9; Tritéde Science Pottique Pari, LGD Jy Tob0, tome I pige 180183 ig. 28, * Hermentutiea Constituconal eDiritos Fundainetaie 2 papel dessas vivencias e memérins, porque todos jd estdo afeitos ‘20 Jogo de linguagom do direito ¢ seus conhecimentos juridicos deinandam, se tanto, apenas aprimoramentos conceituals ou re- finamentos tooricos, uns e outros 46 plenamente aleangaveis pela troca de idéias e de experiéncias entre os diversos interiocutores, ro ambito de um auditério que, de direito, se possa considerar universal e onde todos estejam sinceramente dispostos a0 dialogo 4 busca cooperativa da verdade.”" Por outras palavras, tendo em vista o propésite que inspira 0s seus protagonistas — questionar seus préprios dogmas profis- ‘que espontaneamente colocam sob suspeita — afigura-se indispensavel, para torné-la fecunda, que essa discussto se trave em condigdes lingutsticas ideais, ic, em situagoes discursivas nas ‘quais todos os interlocutores sejam tratados como pessoas, como sujeitos livres ¢ iguais; onde os argumentos de autoridade © vio- lencias afins cedam lugar a persuasao racional; em ambientes nos 4uais todas as formas de coagao estejam proseritas, salvo, eviden= temente, a coorgao sem coergics que exerce o melhor argunentor num espago, enfim, que se mostre verdadeiramente aberto, pluralista e democratico — vale dizer, deologicamente arejado — ‘onde. busca do consenso nio interdite odissenso, mesmo saben dose que esse pragmatico acordo, 6 alcangavel pela mediagao re- toriea, desde logo podera ser (des\qualifieado pelos seus eriticas como um prejuizo unitario ou um grande preconceito caletivo."” Destarte, gragas & conscientizagio de que o processo do co- anhecimento, aiém de ser uma relagio ontognosioldgica ou subjeti- ‘yo-objetiva,¢ também uma atividade inter-subjetiva, que envolve pessoas egeragves, e ao convencimento de que a interagao profes: Sor-aluno € da esséneia da aprendizagem como valor comparti- Ihado © mutuamente adquirido", assumimos o didlogo e a ctica nodiscurso como formas genuinas de busca da verdade, uma atit- % Jurgen Habermas, Teoria de la acca comanicativa, Madri, Taurus, 108, Tome pag 18 "Pit Hat gpad Norbert Hoerse, in Bn Dene def Pstisiamo J deo, Beeson, Gedies Bato, 1 pg. 108 ™ Palas, Bal V, & Young James Douglas. A Arte do Mesisirio. Rio, Zahar. 070, pg 198 “0 pratt eapande eapreade sea gue eget {3e.de nowy conhecmente; quando tomers ¢compreender 0 gue be etutantes tshom rspete dow ojetas« coneetn e perce o quants ler dere ext {Sera ate elo once sero pad Yom cas qe a fe 2 Hermentusisa Constitucons Diitos Puntamentais de intelectual que, de resto, reflete o ensinamento dos mais im- portantes pensadores contempordineos, entre os quais merece des: Eaque a figura de Karl-Otto Apel, de quem acabamos de reealher sais esta estimulante listo: “Para que haja comunicagdo 6 necosséirio que o Outro fale ereconhoga o qui eu flo, Nesse exo ja existe a assungéo mini- tna de que ha'um campo democratico e de respito na argu. Imentagio sem 0 qual nao existe comunicagao. B por isso que fafirmo que ¢ um tio de racionalidade que demanda um outro tipo de Bindmnio eogntivo:sujeitalco-sujeito e nao sujeitlobje- toveomo nas teoraa solipistas modernas. E uma validade epis- temologica intersubjetiva e nao uma busca de objetividade in- fenuamente neutra, como nos prope uma eiéncia cega. Os cientistas estdo imersos em uma comunidade comunieacional real, do contrério nfo conseguem nem mes- imo fazer a hipétese ‘acontecer’ Se um grupo de pessoas di ‘ute algo eom a intengao de chegar a uma conclusdo, quem Foubar no jogo destroi a argumentacdo. Nao se trata de uma (oeao'volitiva irracional de tipo popperiano, mas de uma Aadesio racional cognitiva: se roubarmos no jogo, acaba a ar- fumentagao, ea cognigao buscada se desfaz. Sem esse cam- [po democratice de respeito, toda fala ¢ blablabla... E a argu- Imentagto que deve ser ¢ modelo transcendental (sentido Kantiano) para a fundagio de uma ética atualmente (o que chamo de etica da discussdo), em um mundo pés-metafisio, Sem Deus e cheio de almas mortais que se inter-relacionam ‘hao mais dentro de esquemas culturais grupais fechados (que Sustentavam a ética solidévia no passado), mas por meio de iganteseas redes tecnoldgieas e comerciais impessoais."® I, ORDENAMENTO JURIDICO, CONSTITUICAO E NORMA FUNDAMENTAL. CONCEITO E OBJETO DA CONSTITUICAO. 1. Ordenamento juridico, constituigdo € norma fundamental Como a campreensio do ordenamento juridico, enquanto tal, cesté intimamente ligada as idéias de constituigdo e de norma fun- T Bntrevion a Lae Felipe Ponds, Caderae Mai, da “Pola de § Pal ermenduicn Consticoinal¢ Diretos Pundarentie 2 damental, as quais, por seu turno, reapareceréo quando formos ‘abordar as questdes hermenéuticas © 0 problema da eriagao j ical do dirt, impic se deste ng situa ens temdtin sua ‘mente embora, antes de tratarmos da estrutura e da elassificagao das normas juridicas, sobretudo as de nivel constitucional, que possuem especial relovdncia para 2 interpretagao-aplicagio da hormatividade ordinaria em geral Registrando, desde logo, que #¥o multiplos o sentdos ari buldos 2 expressio norma fundamental a que corresponem utras tantas fungées coreelatas ~ inclusive na obra de Hans KKelsen, a quem se deve a sun mais ampla utiliza no jogo de Tinguagem do dceto esclarecemos que, para os fin desta expos 40, qualiiearemos como norma fundamental aquela norma que, Soma determinada comunidad palin, unfice confer valida des suas normasjurdieas, as quai, em razio a partir dela, se organizam efou se estruturam em sistema" ‘Resuidamente, em palavras do proprio Kelsen, considera- se norma fundamental aquela que consttut @ wnidede de uma pluralidade de normas, enquanto representa o fundamento de Ualidade de todas as normas pertencentes a essa ordem normati- ‘caguea norma plato de iar uate ere hamento jridica, hide ser pessupost, visto que no pode er pos. {a pornenhuma autoridade, aqua se excise e tiveasecompeten- Gia para edit, 36 disporia dessa prerogativn em renao de wma ‘utra norma de hierarquia ainda mas clevada,e assim suas mente; aqusla norma, enfin, euja validade nto pode er doriveda do ‘ouirae cujo fundamento nao pode ser posto em questo Em sintes, como aquelenotével jurista acabou admitindo™, essa norma fundamental seria uma feydo, um como se un recur: de que e valeo pensamento quando nfo conseue aleangar seu objetivo com os elementos disponivei, um truque da racto Juridica gragas ao qual, mesmo sem podermos contar com essa torma como dado de realidade, nos a tilizames como hipotese instrumental de natureralgie-tranacendental, para fundamen ‘eempa. Tibunal Constitucional y Poder "Consislonler, 1805, pay 1 “Sobre os untae fungbesdanora fondasettl, Juan Antonia Grea Amado im Hane Ketsn la Norma Fundamental Made, Marcil Porn, 1956 Teor Pura do Dire, Coimbra, A. Amado, 1963, vol I, DAE © Apud Carin Mari Cron, in Le opacidad de dovcho, Mii, Bae a Tote 1098, page 3/7 Pn HHermestutia Constitucona ¢Dietos Pundomentals tar nfo apenas a validade da primeira constituigio, mas também, ‘a partir desta, a validade de todas as normas que integram o or: Genamento juridico, normas que, de resto, se entrelagam precisa mente pelo conceito de validade, formal e derivativa, que cada uma recabe da que Ihe 6 superior. Assim, por uma questio de ordem pratiea, pols do contraio cestariamos condenades @ um regressus in infinitum, temos de ‘supor a existéncia desea norma inaugural — que determina se cumpra aquilo que historicamente prescrove a primeira Consti tuigho* —e sobre essa norma inaugural, meramente suposta, pdr a primeira constituigao histdriea, euja validade, por sua vez, ¢0 Suposto dltime do qual depende a valldade de todas as normas do sistema por ela instituido e de tudo quant, a partir dela e na forma que ela mesma estabelecer — emendas, reformas ou revi ‘6e8 —, vena a ser juridicamente positivado.* ‘See quando for interrompida esta cadeia de normalidede — eg. no caso de uma revolugio vitoriosa —, a velha ordem, global- ‘mente considerada, desaparecera porque tera sido trocada a nor- ta basiea que Ihe conferia os atributos da juridicidade — funda- mento, eficdcia @ vigéncia —, passando a vigorar, como direito ‘novo, com o mesmo fundamento de validade, ndo apenas as nor- nas editadas pela poder recém-constituido, mas tambim aquelas ue, embora positivadas antes do ato revolucionsrio, e em conso- naneia com os valores entao prevalecentes, admitam recepedo pelo sistema emergente ou comportem leitura conforme a nova ordem festabelecida, Por se constituir em texto que reputamos de leitura obt atéria, merece transcrigio esta passagem de Kelsen sobre 0 ‘modo como se da a absorgao/eonvalidagao ou recepedo das nor- mas juridicas preexistentes, nos momentas de ruptura e transi- ‘eo institucional: “Se algumas leis promulgadas sob o império da velha Constituigao ‘continuam validas’ com a nova Constituigio, isso 56 6 possivel porque @ nova Constituigie Ihes eontere haa Joe Fass y Tele Cnceito«fundamento da vtidade da Dire ‘Tarren inntat Brslse de Inbrstieae Dives, 1998, paps 160108, Hans Kelsen Tora Geral dor Normac. Port Alegre, Sergio Fabris, tose, pag 27 Hana Keteen. Teoria General det Derecho y de Btedo, Méxice, UNAM, 1099, pan 130, ermencuica Cnsttcinsl ¢ Digits Fundamentals 25 validade, expressa ou tacitamente. Esse fendmeno é um ¢as0 de recepeto (semelhante a do Direite Romano). A nova or- ‘dem ‘recepeiona’, quer dizer, adota normas da velha ordem: f isto significa que a nova ordem considera vslidas (ou pie ‘em Vigor) normas que possuem 0 mesmo conteuido daquelas ‘que vigoravam sob a ordem precedente. A ‘recepeao"&, as sim, um procedimento abreviado de eriagio juridien, As leis 4que, em linguagem comum, permanecem validas, do ponto de vista juridico sto leis novas, eujo sentido coincide com 0 das leis anteriores. Nao sio idénticas a essas leis, porque ‘su fundamento de validade ¢ distinto e repousa na Consti- ‘wigdo nova e nao sobre a que foi substituida, nao existindo continuidade entre essas duas constituigses, quer sob a pers- pectiva da constituigao anterior, quer do angulo da que foi promulgada posteriormente. Destarte, nao ¢ apenas a Cons fituigao, mas todo o ordenamento, que muda em consequan cia de uma revolugdo” Assim é que se desenvolvem, no jogo de linguagem do Direito, ‘a0 menos como este 6 praticado por Kelsen, as relagies, digamos, rnormais entre alei fundamental, enquante hipatese ou ficgdo, © a8 Constituigdes histérieas, como reafidades constitucionais ® 2 Conceito e objeto da Constituigao Aplicando-se, também a esta tematica, 0 instrumental te6r «co antes referido, sobretudo a idéia de pré-compreensio, podere- ‘mos afirmar que qualquer nogio, por mais elementar que seja, sobre o conceito e objeto da Constivuicao estara condicionada, até certo ponto, pelo que desde logo — a partir de uma posigao, de luma visio ¢ de uma concepeao prévias— nds acharmos o que ou, deve ser, eo que contém ou deve conter toda constituigto, Como, por outro lado, toda pré-compreenséo possui algo de ‘rracional porque, entre outros fatores que a determinam, ela re- sulta de pré-juizos, pré-suposigdes ou pre-conceitas — idsiae-cren 28 ou evidéncias nde refletidas, no seutido em que Ortega y Gasset Teoria Generale pb. 198 > Para uma eric da nora fundamental keloeninna,poraue az em ‘potenciaimente toa ag pote vriagoes dove conteute nara” con Interprtacon def ey y de oe ats juries, pg 28. ermentatin Constitueanal¢Dirites Fandamentaie 8 bem cuidada, impediia duvidas, obseuridades ou contradigaes, tomnando dispensavelo labor interpretativo." Rofutande esse modo de ver as coisas, ¢ apés ressaltar a na- tureta nevessariamente problemdtiea de toda interpretagio— por: {que em seu ambito o intérprete deve considerar os diferentes 8 nifieados possiveis de um termo, ou de uma sequéneia de pala- ‘ras, para escolher, afinal, aquele que lhe parega correto—, Kat] Larenz adverte quo seria um erro aceitar-se que os textos jurid 08 $6 carecem de jaterpretacao quando surgem como particu mente obscuros, pouco elaros ou contraditarios. ‘Ao contrario—arremata o mestre da metodologia da ciéneia, do direito —, em principio, todos os textos juridicos sao suseeti veis ecarecem de interpretagio, sendo esta necessidade de inter pretasto nao um defeito, que so possa evitar mediante uma reda- (io to precisa quanto possivel, mas um dado de realidade, que Sontinuard a subsistir enquanto as leis, sentengas, resolugies © ‘mesmo os contratos nao forem redigidos exclusivamente em lin {guagem codificada ou simbolizada."* De outra parte, hd de se considerar que nenhuma interpre: tagio ocorre no vavio. Ao contrério, trata-se de uma atividade contextuatizada, que se leva a cabo em condigdes socials ehistori- fas determinadas, produtoras de usos lingofaticos dos quais deve partir qualquer atribuigao de significado, em todos 08 dominios 4a hermenéutica juridiea. E isso sem falarmos nos condiciona- mentos sécio-culturais, nos preconceites ou na ideologia dos in- térpretes-aplicadores do direito — dados de realidade, insista-se = cujos efeitos s80 reputados pevversor no ambito da Sociologia do Conhecimento, mas valorados, positivamente, nos dominios da Hermentutica Filoséfica, como elementos constitutivos da pré compreensio "= Dai, ainda a propésito desses usos e contextos linguisticos, 1s percucientes abservagies de Laren, alertando-nos, primeiro, que a interprotagao de qualquer enunciado normativo ha de nies ‘r-se pelo seu sentido literal, assim entendido o significado de um ‘= Sobre o sentido deste brocard, come principle Iigiee-abstrat, a ‘ebro, nna categoria atric var eto Migasl Reale Pars una her Rite rar a et dP Gani de Dre Se Pe, Kae Larens, Metadoogi, 1980, ci, pgs 24020, Fa tementutinCutiinl inne Pnumentis texto on de uma cadeia de patavras no us lingo eral ea ‘gat, que one fr posivelconstatar vos linguistics especas, Nalerdo significado tmergente dessa inguagem tecnica poraue a Suu adocto, no texto de dsterminada let, ter sido intencional e {ecorreate da necessidade de ating cbjetvos que, ao ver do le fholador,eventuatmontepoderia nao seraleangadon se wiizas- Sea chamagalinjuagem olga." ‘Ainda assim, emo odireito 6 uma coisa que interessa a t- dose. por sso, no pode renuncar acum minim decompreensib {dade eral, mosme essa inguagem teica, para se tornar aces- five deve apoiar-s na lingoagem comm ~ que, no cas, faz 38 ‘euas de eoperanfojuridico ~ a fm de que os destinatarios das Teis eatendendo og sous comandos,postam guise por cles € Asie reeber instrsto. Por iso, nas situagdes em que evidentemente, ale se tenha eavnd du ss inguin apa impos lor dene ara uvolingtistico gral que, entio, fenionara como instancia Ue sontyole efradugdn,balzando os limites dentro dos quais ha dececneontrar sentido pocsrad, como condigo de realizabi dade do preceite que se pretend apiiear, ate porgue parece int tivo que uma norma inintligive no poss, pelo menos legitima- monte, impor obrigagies a ningun No particular, iso signfia, também, que ao apicador do direito, por mais ampla que sejan soa necessria lbordade de Interpretagao, nao é dado, subjetivament, atribur significado frbitraric'ave enunciados nermativos, indo além do sentido Tingtisticamente possvel, que é coho elu fixad pela com nidade e asim, deve fancionar como limite objetivo da interpre feo" Porque a autonomia do objeto, na gnosiologia juridica, como 1a atividades eognitivas em geral, 6 condieao de possibilidade do Conhecimento enquanto fendmeno de natureza relacional; ¢ por- ‘que o dualismo sujeito/objeto pertonce & esséncia do conhecimen- to por todos entendide como a apreensao de algo pelo sujeito cognoseente —, se e quando, por qualquer forma, o sujeito “criar™ TS Metodolaga da Ciéncia do Dirt, 08 1989, ci. ge. 385090. ‘Gta pratt, a sing entre langue paral (Souarae), pote namente essed por Lil Feral Derecho raeon Mai, Eater ret, Hermentati Constiucinal¢ Diritos Fundamentals a ou “climinar” 0 objeto, ja nto se podera falar em conhecimento flgum, porque nada tera sido gpreendido." No ambito da Cultura e, por via de consequéncia, também ‘os dominios da Jurispradéncia, apesar das critieas que recebew pola rigidez das suas posigdes, impoe-se ereditar a Emilio Betti 0 érito de haver desenvolvido possivelmente as mais profundas reflexdes sobre a hermenéutiea como metodologia geral das cién- as doespirito, ede haverlutado para que, a pretexto da liberda- {de que todes consideram inerente ao ato de compreender, elas ‘lo descambassem para um relativismo estéril e banalizader. Fruto dessas suas reflexes de base foi a formulagao dos cdnones hhermencuticos fundamentals com relagio ao sujeito e ao objeto da {nterpretacio, dos quais destacamos, pela sua pertinéncia com esta parte da nossa exposigio, ocinone da autonomia hermentutica do objeto ou da imanéncia do eritério hermenéutico. Segundo o autor da monumental Teoria Generale della In terpretazione, para que nao se comprometa a objetividade da in- terpretacao, quaisquer formas signifieativas — obviamente tam- bém as formas juridicas —, enquanto objetivacées da mente de tum Outro, tém de ser compreendidas em relagao a essa mente, ‘que nelas fo objetivada, e ndo com referencia a qualquer sentido {que a propria forma posta adquirir, uma vez abstraida da funcao epresentativa que tinha para aquela outra mente ov aquele pen samente, ‘Bm suma, para esse jurista-fl6sofo — porque sensus non est inferendus sed efferendus —, 0 sentido a determinar-se tem de ser extraido ou provir das formas significativas, ¢ nio sor intro duzido nessas abjetivagies do espirito humano de modo arbitré- ro e, até eerto ponto, sub-repticio ou fraudulent, “Com isso, o que desejamos dizer — arremata Betti — 6 que as formas significativas tom de ser consideradas autd- rnomas e compreendidas de acordo com a sua prépria ldgica de desenvolvimento, conforme a sua necessidade interior, ‘oeréncia racionalidade; que ho de ser avaliadas de acor- 420 com os pardmetros imanentes aa intencto inicial a que deveriam corrosponder, do ponto de vista do autor e do seu ‘mpulso formativo no processo de eriagao, endo segundo sua = dehannes Hessen, Teoria da Conheciments, Coimbra, Arménio Amade, 1070, pag 28 8 Hermendutoa Constitvionale Dzeite Fundsmentais idoneidade para servir a este © aquele fim extrinseco que possa parecer relevante para o seu intérprete,”** [Nessa perspectiva, om que o respeito & autonomia do texto & indispensével a abjetividade e controlabilidade da interpretacao, ‘letra da lei possui uma dupla finalidade, funcionando, por um Tado, como ponto de partida da clucidagio do sentido pelo inter prete e, por outro, definindo os limites postos & sua atividade in- terpretativa (Meier-Hayoz) Ultrapassados esses limites, que server de fronteira entre a interpretagao em sentido estritoe livre eriagao judicial do dire to, atividade hermenéutica como que se contamina de subjetivi dade e Voluntarismo, expondo o interprete ao riseo de produzir ‘uma decisio ilegitima e, por isso, fadada a se tornar socialmente inefieaz Em linguagem kelseniana, dir-se-ia que, embora a atividade interpretativa nao seja apenas um ato de conkecimento, mas tam- bem de vontade, nao é dado ao intérprete-aplieador desconsiderar ‘0 marco normativa imposto pela norma de nivel superior, da qual eve extrair, por derivagdo, a desisdo para e easo conereto. ‘Trata-so de uma adverténcia que permanece vilida ainda ‘quando se reconhega que, ao limite, a propria definigao do marco ‘ormativo acaba sendo um construido hermenéutico do aplicador da direito, come nos objetou, com pertinéncia, Odim Brandao Fer reira. E que, no Estado de Dircito, para se reputar legtima e so ‘ialmente vinculante, essa eonstrusao — sobretudo ela! — deve lobservar normas e eritérios aceitos pela comunidade Dai se afirmar que uma opeao apenas razodvel ou plausivel, vuma decisao que nao se considare a melhor, embora seja passivel de eritions segundo padroes de corres absoluta — a Dworkin, por exemplo'”—, nao estara sujeita a desfazimento se, apesar dis” fo, tiver sido adotada no marco das derivacdes possiveis © luz dos eritérios usuais de interpretagao. E que — ainda relembrando Kelson —, assim como da Cons- tituigdo, através de interpretacdo, nao podemos extrair as vinicas "=a Intrpetcin de ayy dele actor arden, ps. 3238, Los devehos tm sre. Batetnay Ase, 195, page. 880 ego Conf ‘encias de Honeld Duortin +n Chui. Santage, Corperaeice Nacional de Hermentutcn Conetitucona eDisitosFundamentais 19 Jels retas, tampouco podemos, a partir da lei, por interpretagio, ‘bter a tinieas sentengas carretas." Esso, para n6s, 6 0 fundamento hermencutico da Stmula 400 {do Supromo Tribunal Federal, a estabelecer que nio se admite recurso extraordindrio contra decisio que dew razodvel interpre tagao a le, ainda que nao seja a melhor, o mesmo valendo para a ‘Stmula 349, onde se diz que nto cabe agi resciséria por afensa a literal disposigao de lei, quando a decisto rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretacao controvertida nos tribu- ais, interdigao que subsistira ainda que a jurisprudéncia do STF venha, posteriormente, ase fixar em sentido contrario." Apesar dessa oriontagdo, e som prejuizo de se reconhecer 20s Jjulgadores a prerrogativa ou, até mesmo, a obrigerao de mudar Ge entondimento quando, a seu ver, melhores razdes apontem para foutra interpretagdo, ninguém imagina dispensar-Ihes da exigén- cia de explicitar aquelas razoes, nem tampouco da obrigagae de mostrar que esses argumentos sustentam a nova interpretacdo, tanto vista do caso que se esté a decidir, quanto de easos novos, da mesma espécie, que veaham a surgir ne futuro." Por isso é que o abandono dos precedentes exige nio apenas ‘a explicagao ordindria das razses de fato e de diresto que funda mentem essa decisio, mas também uma justificagdo adicional dos rmotivos que levaram o intérprete ase afastar do crtério anterior. Quem resolve desprezar um precedente, assume o énus da argu: mentagio, pois ndo parece sensato abandonar-se, sem melhores razoes em contrario, um entendimento até entio prevalecente.™ Essa ¢ a azo por que, ainda quando bem fundamentadas, as viragens de jurisprudéncia nao invalidam nem questionam a3 Interpretagdes adotadas no passado; apenas sinalizam que, doravante, a vista de nova valoragio dos mesmos fatos socials — lum fate rotineiro no ambito da experiéneia Juridica —, a norma "Teoria Pare do Diet, vk pg. 22 = Gh, no mean vende, Sula 134, do extinto TPR; ¢ Encino 89, aorst, Tete Kar tars Malad Cod Dirt Lisbon, Calero, 1078 pg 368 logic 108 yp S18 Marina Gs Abel Le ti ‘ea precedent fa rgunntcn recon ena, 1 pag =ltubet Alay. Torta dea Argurntatandartaee. Mad onto de ‘BatudineCottctonates 1000, pag Si Marna Gascon Alan op pa SMG Rl Ari La ractna como razon ce pag 20 passa a vigorar no significado ou na modifieagao que a jurispru- ddencia Ihe dew” Por outro lado, como as transformagbes sociais, de que de- correm as mudancas de jurisprudéncia, ndo se verifieam da noite para dia, muito embora, em eertas épocas, possam adquirir maior Velocidade, parece lieito coneluirmos que, em razao do mode como se altera a realidade social, a escolha do caso ou do momento em que se deva atribuir novo significado a determinado texto de lei encerra, a rigor, uma decisio disericiondria dos aplicadores do siteito, [Nessa perspectiva, os chamados leading cases s4o instantes, de viragem hermenéutica que, em certa medida, poderiam ser antecipados ou diferidos, como atesta, alids, a experiéncia dos originalissimos apelos ao legislador, ousadas construgdes hermenéuticas via das quais, nas agbes de inconstitucionalidade que é instado a julgar, o Tribunal Constitucional de Repiblica Foderal da Alomanha — o Bundesverfassungageriteh —, embora rejeitando 0 pedido, adverte o Parlamenta de que se prenuncia ‘uma situagao de conflito com a Lei Maior, um ehoque que se tor- ‘hard atual se ndo forem adotadas medidas legislativas eapazes de ‘conjurar essa patologia constitucional Por outras palavras, embora ainda eonstitucional, aos olhos do tribunal a situagio tende se tornar inconstitucional, exiginds {do Parlamento uma pronta atuasio para estancar 0 processo € impedir seu desfecho, Via de regra, esses apelos tém sido atendi- dos, dando ensejo a profundas reformas legislativas, eomo regis tra em sua erudita tese de doutoramento oilustre constituciona- lista de Gilmar Ferreira Mendes." Finalmente, como derradeira concdigao do trabalho herme: néutico, cumpre assinalar 0 eardter unitario do processo em que ‘le se desenvalve, do que resulta considerarem-se as suas distin: tas fases come momentos necessarios de uma unidade de compreen: ‘0, a exigir que todos os instrumentos hermencuticns sejam in ‘ogrados na tarefa de atribuir sentido a8 normas sob interpreta ‘sto, independentemente da sua natureza e posigao hierdrquica ho dimbito do sistema juriico 1 Karl Lorene. Metodoloie, e197, et, pg 198; ubee as mudangas "8 Gamat Ferreira Mendes. Juriaiguo Consituconal. Sta Pal, Sara va, 1008, eds poe BE. } ” ersentstica Connitvcionl » Dineun Pundamentais a Por isso, embora essa observagio tenha sido feita em sede de interpretacao constitucional, pode-se dizer, eitando Gomes Cano tilho, que atualmente a interpretagao das normas juridieas 6 um tonjunto de métodae, desenvolvidos pela doutrina e pela jurispra- déncia com base em eriterios ou premissas—filosoficas, metodo- Tégieas, epistemoldgicas — diferentes mas, em geral, reciproca mente complementares.™ No mosmo sentido, afirma Friedrich Muller que as regras tradieionais de interpretagao nao podem ser individualizadas como métodos independentes entre si, porque desde o inicio do processo deconeretizagao elas se manifestam nao apenas complementando- 0. apoiando-se reciprocamente, mas também entrelacadas, ma- terialmente, umas com as outras.* ‘Apesar de importantes, essas observagdes no primam pela originalidade, porque ha mais de século e meio o velho Savigny ia aadvertia que os elementos gramatical,logico, histori e sistemé- fico nfo constituem quatro lasses de iaterpretagao, entre as quais © possa optar segundo o gosto ou o capricho, mas apenas quatro ‘operades, distintas embora, cujaintegracdo 6 indispensavel para éxito da interpretagao.™ Como, por outro lado, nao existe uma relagio hierdrquica fixa entre us diversos eritérios de interpretagio — até porque, adverte Kelsen, todos os métodos conhecidos conduzem sempre 8 ‘um resultado possivel, nunea a um resultado que seja o nico cor- eto!" — essa pluralidade de métodos se converte em *veieulo da liberdade do juiz' (Martin Kriele), 0 qual, por isso e até certo pon- to, acaba podendo escolhé-los em funcao do objeto e até mesmo do resultado que, estimando correto e justo, pretenda aleangar em cada caso, ‘Tratando-se, porém, de uma liberdade objetivamente vin: Jada — porque esta presa a corregto e &justiga da decisto —, no pode o intérprete partir de resultados preconcebidos e, pa Tegitima-los, afeigoar a norma aos seus preconceitos com uma seudo-argumentacio. Se o fizer, essa tendenciosa inversdo do Diet Constitusana, cit, pag 08K 8 Apud Karl Laren, in Metodologa e189, ei, po. 886. ‘Sistema del Deretho Romano Actua. Madrid, Centro Editorial de éngora 2c sats, Fae, pa Torts Parada Diet, val th pa. 290, 2 Hermeniutis Consttaconal eDiitos Fundamentals itinerério do raciocinio acabaré desqualifieando a gvaliagdo dos resultados como parametro de controle da interpretagao, Afinal de contas, uma coisa é a intuiedo do justo ou a pré- comprocnsi axiologica do aplicador do dielto, ue entremostram fa sua decisao e legitimam a tese de Radbruch de que “a interpre- {agi 6¢ resultado do seu resultado™; e outra, bem distinta, é 2 deliberada distorgto de fatos e perspectivas, com 0 proposito de atingir objetivos que, sem esse desvio ético-funciona, difieiImen- te poderiam ser aleangados."™ Pois bem, & vista da reconhecida interdependéneia dos pro- cedimentos interpretatives — que se entrelagam sob a idéia de (que a decisdo do caso concreto, para se reputar juridica, ha de ser correta e justa —, perdeu sentido também a velha disputa entre ts chamados “métodos” de interpretagao do direito, os quais de- ‘vem ser utilizados em conjunto e complementarmente, em ordem Arefletir toda a complexidade do trabalho hermentutico como ati vidade em que se fundem, necessariamente, a compreensdo, a in- terpretacdo e a aplicagao dos modelos juridicos, 4. Diretrizes para uma interpretagao estrutural dos modelos juridicos Adotada essa perspectiva integradora da atividade herme- nbutica, que, de resto, decorre da unidade essencial da experién- ia juridiea, ganham relevo as reflexdes de Miguel Reale sabre as Giretrizes de uma inferpretacdo estrutural, cujas notas distinti- vas foram destacadas em conferéneia de homenagem a0 leptvagérimo aniversario de nascimento do jusfilésofo Luis Recaséns Siches."® Partindo da idéia de que o ordenamento juridico 6 uma tota- lidade orginica em perene dinamismo e as regras de direito, como todo produto histOrico-cultural, encerram um motivo e um senti- do consubstanciadores de certa intencionalidade; e firme no en- tendimento de que, existindo uma correlagio eseencial entre ato normative e ato hermenéutico, mostra-se absurda a opgio entre dois termos complementares ~~ 0 propésito inicial da le a sua ppossivel adequagio a valores e fatos supervenientes —, 0 mestre Paulista asseverou que se impunba reformular a compreenste da Ap SosetHsser, Print y norma pags 180 «$26. Karl Larens Metodloia da Cente do Dir, 1978 ot pee % Bxtudos de Fa linia do Dire, i, pgs. 7282 experiéncia normativa, para deixar de entendé-ta como estrutura Téico-formal e passar a vivencidcla em fermos retrospectivos de fontes e prospectivos de modelos. Em razio dessa nova compreensto da experiéneia normati- va, operaram-se radieais mudangas nos dominios da hermenéuti- ta juridica, abandonando-se 08 tradicionais métodos eeriterios de interpretagao— que aprisionavan 0 aplicador dodireito a estrita Hteralidade da lei —, para se adotarem pautas axioldgieas mais amplas e flexiveis, nao raro indeterminadas, que permitam aos operadores do direito ajustar os modelos juridicos as necessida- des de um mundo cada ver mais complexo e, por isso, menos pro- picio a qualquer tipo de arrumacao.* Na estaira dessa viragem hermenéutica, mesmo sob o riseo de comprometerem os valores da estabilidade ¢ da seguranga ju ridiea, 6 grande o niimero dos autodenominados juristas eriticos, em sua maioria idedlogos desprovidos de consciéneia dialetica, que rio podendo conceber a sintetizagdo dos contrarios, ingenuamen: tesudetituem ainterpretagao da lei pela concretizapaa do dieit, eas inegabilidades da dogmatica pelas cporias (u)t6picas.."" Nesse contexto, as diretrizes para uma interpretagio eatru tural da experiéneia juridica, no modo como foram apreseatadas por Miguel Reale, onsubstanciam o mais completo inventario er. tico das diferentes contribuigdes que, a partir daquela mudanca de rumos, foram sendo incorporadas & hermendutica juridica em feral, um balango a tal ponte abrangente que logrou retratar pra tieamente todas as correntes da tooria juridica contemporanea, no particular aspecto das respostas que, a seu modo, entenderam aadequadas para o radical problema do compreender. cane, notte toga compete de mand-cmpleniade do iris, spedaiments as page 105163. 7 7 ‘cr, area incgoblidadee da dogmatic urtica, Nkae Lekman. Sima suridcos Dogmatic urd, Madrid Geatre de Etats Cette Bales 189, pags 21M, « al Larene Metdetoin od. 1885 hs age, 27) ETT sobre at aporiae e a snags ica cf. Theodor Vive. Tuhen 5 jars Pradencia. Madd, Tavs, 1864, epecinzete p49 terming aorta de ‘ena precisument una evestgn que es aucante © ibladile, I fake de un ‘tinea stueisn de on prams que oe posible aparar lo gue Bocce {Eto asso deuimente om lapelabre latina ubtes in pie pretend tina dno rhe ons ay abe cmportara seston Haan eee a acne i Hermentutie Conettucona Dist Fvndamentais Pela importéncia dessas diretrizes para esta exposiao, pela forma lapidar em que estao enunciadas e, também, para evitar- mos as sinteses deformadoras, vale a pena transcrevé-las inte- sralmente, & guisa de fecho para esta parte das nossas reflexdes: ‘+ a interpretagao das normas juridicas tem sempre ea- rater unitario, devendo as suas diversas formas ser consideradas momentos necessérios de uma unidade ‘de compreensi (unidade do processo hermenéutico), * toda interpretagao juridica ¢ de natureza axiologica, isto é, pressupée a valoragao objetivada nas propos ‘bes normativas (natureza axialdgica do ato interpre tativo), * toda interpretagao juridica da-se necessariamente ‘num contexto, isto é, em fungao da estrutura global do ordenamento (natureza integrada do ato interpre tativo); + nonhuma interpretagio jurfdiea pode extrapolar da cestrutura objetiva resultante da signifieagao unitaria @ congruente dos modelos juridicos positives (limites objetivos do processo hermentutico), + toda interpretagdo 6 condicionada pelas mutagies his torieas do sistema, implicando tanto a intencionali dade originéria do legislador, quanto as exigéncias faticas eaxiolégicas supervenientes, numa eompreen- do global, ao mesmo tempo retrospectiva e pros- pectiva, (naturesa histérico-concreta do ato interpre tative), + a interprotagio jurfdiea tem como pressuposto a re- cepeao dos modelos juridieos como entidades lagicas, {sto 6, validos segundo exigéncias racionais, ainda que a sua genese possa revelar @ presenga de fatores alogicos (natureza racional do ato interpretativo}; ‘+a interpretagio dos modelos juridicos ndo pode obe- decer a puros eritérios de Légica formal, nem se redu- ir a uma andlise linguistics, vendo desenvolver-se segundo exigencias da razdo historica entendida como azto problematica (problematicismo e razeabilidade do processo hermentutico); + sempre que for possivel concilis-lo com as normas sv periores do ordenamento juridieo, deve preservar-se ‘ existéncia do modelo juridico (naturesa econémica do processo hermenéutico}, + entre varias interpretagbes poss{veis,optar por aque Ja que mais corresponda aos valores éticos da pessoa da convivencia social destinagao ética do processo interpretativo), + compreensio da interpretagao como elemento consti- tutive da visao global do mundo e da vida, em eujas coordenadas se situa o quadro normativo abjeto de ‘exegose (globalidade de sentida do processo hermentu tieo) Rigorosamente, como acentuamos acima, salvo algum particularismo irrelevante, que, por isso mesmo, nto merece re- fistro nesse precioso inventatio, af se encontram resumidas as fontribuigdes de maior importancia para 9 avango da hermentu- tic juridica, um avango que s6 fol aleangado porque se integra~ ‘am as reflexdes dos fildsofos¢ cientistas do direito sobre a expe- rléncia jurfdica como dimensdo essencial do nosso modo de ter & decestar no mundo V— CRIACAO JUDICIAL DO DIREITO: FUNDAMENTOS E LIMITES DA ATIVIDADE JUDICIAL COMO FASE ‘DO PROCESSO LEGISLATIVO. LEGITIMIDADE E LEGITIMACAO DA JURISDICAO CONSTITUCIONAL. 0 CHAMADO ATIVISMO JUDICIAL EM FACE DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA SEPARACAO DE PODERES. 1. O canone hermeneutico da autonomia do objeto ‘A andlisefenomenoligica do conhecimento,levada aefeit, entre ‘outros, por Johannes Hessen e Manuel Garcia Morento™, eujos en= sinamentos aqui reprodusimos, propie-se a descrever 0 evento ‘ognitivo tal como ele se apresenta em sua estrutura geral, abs- 7 Tore do Conkecimento.Caimbrs, Arménio Amd LecinesPreliminaren de Basia Benes Aten, Earl ae Hermentutiza Consttuconl « Diets Fundamentais trafdos quaisquer vinevlos com a reatidade, a historicidade e a ‘istancelidade,desprerando,inclrive »diseusao em toro da possbilidade do conheciments Gragas a essa espécie de redustocidética™, que intenta co Iocar eee parenvesen osbjeteconfimento para poder eaptar ihe's asada no modo comin ne mano na experienc opativa, 6 possivelafimarsse que aquilo a que ehamamos co Ghecimentovapresentarse como um fenomeno de natureza ‘lacional, mais precisamente como uma relagao dupla ou uma Correlapde ontognosiolgien, na qual se encontram frente a frente sujeitoe objeto do conhecimento ‘No imbito dessa relagto, embora complementarmente im bricadon, 9 sujito eo objeto possiem fangtesdistintas incon funatvets, pois enquanto ao sujelto pensante eu suelto cognos- tente compote apreender o objeto —o que ele faz saindo de sua tsfora.cinpresaando na esfera propria do objeto —, a este corres ponde a fungao de ser conhecido ov apreendido pelo suit, 20 {ual ransfore as suas propriedades Como, por outro lad, aquelas propriedades ato sto apreea didasdiretament pelo sujeto, mas captadas através da imagem, dnvepreventogto ov do ponsanente que neve formam acerea do objeto, pode-e diver que, sab esse ponto de vista ou por causa fissure conhocimento do objeto mao igual a0 objeto do coahest mento™ ‘Tendo om vista que, nessa relagdo ontognosiolgica, seus cle smentos constitutive implitam es exigem resirocamente — mora proservada a sua necessdria autonomia—,€ possvel afir- Snarsse quo clos s0 sto o que sto enquanta oso win para o outro. Mais precisamente, em palavras de Manuel Garcia Morente, “0 uel objeto eo, no foes en sty por 6 sino en tanto en cuanto es Sajeto de un sujet Lo que el sees tompoco foes coma tn ser Sbnoluo,en s()por at, shen tantoen cuanto es suet dstinado a conocer un objeto, No mesmo sentido, respeitada, obviamente, a diferenga ra- ical que singulariza, em tudo o mais, a teoria marxista do conhe- GE ideo; redughesidatica om dneéFerrter Mora Diciondro de Flow, Man, Alanan ators, 1085, pps S080 I Roger Garnudy, Por anhecerpeneementa de Hegdl. Porta Alegre Pa, 1088, pig 7 “ Opselt p23 Hermentutica Conettacona e Ditor Pundamentis a cimento, Henri Lefebvre assinala que, em termos filosdficos, 0 sujeito ¢ 0 objeto atuam ¢ reagem continuamente, em perpetua Interagdo, e que essa interagio ¢ de natureza dialctica porque, no Ambito do processo gnosioldgico, embora sejam opostos, aqueles elementos sao partes de um mesmo todo, tal como se integram ‘numa discussao ou num didlogo os seus diversas participantes.”” [Em razio dessa necesséria correlagio, que os torna insepa- raveis, podemos dizer que até no plano conceitual sujeitae objeto ‘40 congenitamente complementares e interdependentes, tal como © sio outros conceitos correlatos, do tipe direitalesquerda, acimal abaixo, quo se implicam ¢ se exigem reciprocamente, no momento ‘mesmo om que sto formulados. Aposar dessa similitude, no entanto, uma diferenga essencial particulariza a relagio ontognosioldgica em face das outras rela tes conceituais que Ihe sto afins. E que, no ambito da relagto Subjetivo-objetiva — porque sAo intrinsecas ow inerentes aoe sous lementos constitutives —, as posigdes e/ou fungoes corresponden- tes ao sujeito e ao objeto ado, também, mutuamente inconversiveis, ‘© mesmo, porém, nao se verifiea nas relagoes desempenha- das por aqueles outros conceitos correlates, cujas fungdes e/ou posigaes — porque Ihes sto externas, contingentes ou acidentais —, podem ser trocadas mutuamente, desde que, para tanto, inverta: ‘mos as posigdes atribuidas aas elementos da relagao Com feito, se invertermos as posigdes que dois objetos ocu- pam no espago, deslocando-os da direita para a esquerta ou de ‘ima para baixo, ssa alteragao implicard a troca das fungtes que ‘les desempenhavam anteriarmente. A esquerda te converters em direita quando a direita se converter em esquerda; o que estava abaixo passara para cima, quando o que se encontrava em cima se deslocar para baixo Isso ocorre, precisamente, porque nao sendo da esséncia de tais objetos assumir ou sinalizar posigdes no espago, podem I Yremente jogar com eles ou deslocé-los de um ponto para outro, sem que esse jogo ou esse deslocamento desnaturem tais abjetos ou inviabilizem as suas relagdes mutuas, No ambito da relacdo ontognosiolégica, no entanto, iss0 ndo Pode ocorrer, porque ao sujeito incumbe, necessaria e exclusiva: sen, ema ee an Mate, Sle Xd Expt Bors, ‘Tal como observado por Hesse, a garantia de liberdade do Individuo que os direitos fundamentais pretendem assogurar so. mente 6 exitosa no contexto de uma sociedade livre. Por outro Jado, uma sociedade livre pressupde a liberdade dos individuos ¢ cidadaos, aptos a decidir sobre as questdes de seu interesse e res ponsaveis pelas questdes centrais de interesse da comunidade Eseas caracteristicas condieionam e tipificam, segundo Hesse, 4 estrutura e a funcao dos direitos fundamentais. Eles asseguram ‘nao apenas direitos subjetivos, mas também os principios objet vos da ordem constitucional e democratien,” 2, DIREITOS FUNDAMENTAIS ENQUANTO DIREITOS DE DEFESA Enquanto direitos de defesa, os direitos fundamentais asse sguram a esfera de liberdade individual contra interferéncias ile gitimas do Poder Piblico, provenham elas do Executivo, do Legis. Ttive ou, mesmo, do Judiciario. Se o Estado viola esse principio, dispde o individuo da correspondente pretensio que pode consis: tir, fandamentalmente, em uma: (1) pretensio de abstenedo (Unteriascungsanspruch): (2) pretensio de revogagao (Aufhebungsanspruch), ou, ain da,em uma (3) protensto de anulagio (Beseitigungsanspruck) Os direitos de defesa ou de liberdade legitimam ainda duas outras pretensdes adicionais: (4) pretensdo de eonsideragao (Berucksitigungsanspruch), que ‘mpae 0 Bstado o dever de levar em conta a situagae do evential ‘afetado, fazendo as devidas ponderagies";e 6) pretensio de defesa ou de protegao (Schutzanspruch), que impo a0 Estado, nos casos extremos, o dever de agir contra ter- THESE, Bedeutung der Grandrehte, in: BENDA, Erut/ MAIMOFER. \Wermer/ VOGEL Hanedochen, Handbuch des Vevfarungteete Berlin, 1235 eanaltyBATRS, UlscGUSY, Crisp, Bintuhrug in ds Stier ‘ BATTISIGUSY, Binfahrung in das Stantreeht it, pags 250 5 Hermann Const [A cssica concepgao de matriz iberal-burguesa dos direitos fundamentais informa que tais direitos constituem, em primeiro jlano, direitos de detesa do individuo contra ingeréncias do Esta oem sua liberdade pessoal e propriedade. Esta concepeio de di- {eitos fundamentais ~ apesar de ser pacifico na doutrina o reco hecimento de diversas outras — ainda continua ocupando um Tugar de destaque na aplicagto dos direitos fundamentais. Esta concepsao, sobretudo, abjetiva a limitagao do poder estatal a fim de assegurar ao individuo uma esfera de liberdade. Para tanto, futorga ao individuo um direite subjetivo que permite evitar in ferferéncias indevidas no Ambito de protecio do direito funda mental ou mesmo a eliminagao de agressdes que esteja sofrendo fm sua esfera de autonomia pessoal." nalisando as posigdes jurdicas fundamentais que intogram ‘os direitos de defesa, importa consignar que estes nao se limitam Asliberdades c igualdades direito geral de liberdade e igualdade, bem como suas coneretizagdes), abrangendo, ainda, as mais di versas posigies jurdieas que os direitos fundamentais intentam roteger contra ingeréneas dos poderes publicos ¢ também con: 2 abusos de entidades particulares, de forma que se euida de garantir a livre manifestagao da personalidade, assegurando uma tsfera de autodeterminagao do individuo.” 3. DIREITOS FUNDAMENTALS ENQUANTO NORMAS DE PROTECAO DE INSTITUTOS JURIDICOS A Constituigto outorga, nfo raras vezes, garantia a determi- nados institutes, isto 6, a um complexo evordenado de normas, tais como a propriedade, a heranea, ocasamento, ete. Outras ve- aes, elassicos direitos de liberdade depondom, para sua real ‘eo, de intervengao do legislador. Assim, a liberdade de associagao (CP, art, 5*, XVID depende, pelomenos parcialmente, da existéncia de normas diseiplinadoras do direita de sociedade (constituicao e organizagao de pessoa juri- dica, ete), Taypbém a liberdade de exercicio profissional exige a Possibilidade de estabelecimento de vinculo contratual e pressu- Be, pois, uma disciplina da matéria no ordenamento juridico. O TBARLET, A eficicia dos direitos fundamental, pig. 187 "2 neoesntie SARLET, A wfdsis do direitos fdamentais, pi. 169 aoe ermenduiea Copstiusona ¢Disitos Funda direito de propriedade, como observade, nao 6 sequer imaginave, sem disciplina normativa," Da mesma forma, 0 direito de protegio judiciria, provisto no art. 5, XXXV, o direito de defesa (art, 5% LV), e 0 direito ta Juiz natural (art! 5", XXXVID), as garantias constitucionais do ‘habeas corpus, do mandado de seguranga, do mandado de injungso edo habeas data sho tipicas garantias de eardter institucional, dotadas de ambito de protocae mareadamente normative,"* Entre nds, Ingo Sarlet assinala como auténticas garantias institucionais no catélogo da nossa Constitwigio a garantia da propriedade (art. 5%, XXID, o direito de heranga (art. 5%, XXX),¢ Tribunal do Jari (art. 5°, XXXVITD, a lingua nacional portoguesa (art, 18), o8 partidos politicos e sua autonomia (art 17. caput e § 1°), Também fora do rol dos direitos e garantias fundamentais (Titulo 1) podem ser lcalizadas garantias institucionais,tais como ‘agarantia de um sistema de seguridade social (art. 194), da fam. lia art. 26), bem como da autonomia das universidades (art. 207), apenas para mencionarmos alguns dos exemplos mais tipicos Ressalte-se que alguns desses institutos podem até mesmo ser considerados garantias institucionais fundamentais, em face da abertura material propiciada pelo art. 5, § 2", da Constituigao.” ‘Nesses casos, a atuagao do legislador revela-se indispensé: vel para a propria concretizacao do direito. Pode-se ter aqui um auténtico dever constitucional de legislar (Verfussungsauftras), ‘ue obriga olegislador a expedir atos normativos “conformadores™ ‘econeretizadores de alguns direitos" 4. DIRBITOS FUNDAMENTAIS ENQUANTO GARANTIAS POSITIVAS DO EXERCICIO DAS LIBERDADES A garantia dos direitos fundamentais enquanta direitos de ddefesa contra intorveneao indevida do Bstado-e contra medidas legais restritivas dos direitos de liberdade nao se afigura suficien te para assegurar o pleno exereicio da liberdade, Observe-se que ‘do apenas a existéncia de lei, mas também a sua falta podem sone, tye tito, KREDS,retchte durch rare, JURA "C. PIEROTHSCHLINK, Grundreche — Statareeh Il pi 53. * SARLET, A efiedein dos diets fundamenten pag 182 ‘ BATTISIGUSY, Eifubrang in don Staatarcht et pg. 82 | \ ) Hermentatia Constituciooa eDiretoa Fundamentals 203 setlrse aoniaus ns dios fndanentain" Bo qu nover- ays com os dretes& prestagan postiva de indole normati- fev incuaivoochamaodirtto porgantagaoe co procesto (echt Jer Organisation und ouf Verfahren), nao vards exes; com 0 Siete de iguaidade Vineulados& concepgto de queso Estado incumbe,além da suo-intorvongao na esfera da iberdate pessoal do individuos farantidn pelos direitos de dlesa, a are do caeear 4 dsposigao {iinclos materia e implementa ax condos ftieae ae poss. Shitom o efetivoexerico das Hberdades fandamentas, ode tos fundamentals a prostaghes bjetivam, em altima andlise, 0 fnrantia nto apenas da literdade-autonomta Giberdade porate FEstado, mac tambem da iberdade por intermedio do Bxtado, arta da promiusa de que oindvido, no que concerne A con: {usta e manutengdodesua iberdade, depende em muita de uma stura ativa dos poderes publics. Asse, enguanto direitos de Iefsn status ibertotisse status negatvns)e sire, em pra tipo, uma porgao de rspeitaeabitengto por parte do poderes fublico, os direiiesn prestayes, que, de modo gera,e resale Ais os aang repsirado a longo do tempo, podem ser recond- tilos a fates posttious dedelinck, implica wma posta at ‘aid Buta, no sntide do que este se encontraabrigado aco. Gara dispoigao dos indvtisosprestagos de natucezajurtica © mineral ‘A concretizagio dos dirsitos de garantias as ibordades ex: fe, nto raras votes, a edieno de toe lopnatives, de mode que ontual incre do lesiader pode configurar afronca a um deter Sonsttuconal do logila, 4.1. Direitos fundamentais enquanto direitos a prestacées positivas Como ressaltado, a visio dos direitos fundamentais enquan: todireitos de defese (Abwehrrecht)revela-se insuficiente para as- sogurar a pretensdo de eficécia que dimana do texto constitucio- ‘al. Tal foro observado por Krebs, no se eulda apenas de fer berdade fm relagdo ao Bstado (Freiheit vom...) mas de desfruter essa liberdade mediante atuagio do Estado (Fretheit durch...” pan tigger sent, eit "Cf, muss sentido, SARLET, Aisin do ireitos fundasents 166-180, "KREBS, Freibeituchute durch Grandrecte, dt 617 (28) 204 Hermentutia Constituciona« Dineitos Fundameniaiy A moderna dogmatica dos direitos fundamentais discute a possibilidade de o Estado vir ser obvigadoacriar os pressupostos Fiticos necossirios ao exercico afetivo dos direitos constituciona mente assegurados ¢ sobre a possibilidade de eventual titular dy direito dispor de pretensao a prestacdes por parte do Estado.” ‘Se alguns sistemas constitucionais, como aquele fundado pela Lei Fundamental de Bon, admitem diseussao sobre a existeneia de direitos fundamentais de eardter social soziale Grundrechte}" ‘certo que tal controvérsia nao assume maior relevo entre nés, ‘uma vez que o constitute, embora em eapitulos destacados, houve por bem consagrar os direitos sociais, que também vineulam Poder Publico, por forga inclusive da eficdvia vinculante que se extrai da garantia processual-constitucional do mandado de {njungio e da agao direta de inconstitucionalidade por omissao." Nao subsiste divida, tal como enfatizado, de que a garantia da liberdade do exercicio profissional ou da inviolabilidade do domicilio nao assegura pretensio ao trabalho ou & moradia. Tais pretensdes exigem nao sé acio legislativa, como, ndo raras vezes, tnedidas administrativas.” Se o Estado esta constitucionalmente obrigado a prover tais demandas, eabe indagar se, eem que medida, as agSes com o pro posite de satisfazer tais pretenses podem ser juredicizadas, isto 6, se, ¢ em que medida, tais agbes se deixam’ vineular juridica- mente. Outra peculiaridade dessas pretensdes a prestardes de indo: lepositiva éa de que elas estao voltadas mais para a conformacio do futuro do que para a preservagao do status quo, Tal como ob servado por Krebs, pretensdes a conformagao do futuro (Zu shunftgestaltung) impoem decisoes que estao submetidas a eleva: "RES, Pec ch rnd 619 (2 * Gf mune recta drch Grane, Gp B17 24 sunt, hari Sb * Oana enn conto areas doe edad ‘Sire 4" a Sac se ita dr ncaasnalde pr Shi Fa, 92 ea rare torment tam epee dio erm : ua, Shae Sb as pg : WCE REDS, Presa ah Grd 61 (8 {os riscos: 0 direito ao trabalho (CF, art. 6°) exige uma politica festatal adequada de criagao de empregos. Da mesma forma, odi- feito & edueacao (CF, art 205 ele art. 6%), 0 dreito a assisténcia focal (CF, art, 203 ee art, 6°) ¢& previdéncia social (CF, art. 202, ‘lc art, 6") dependem da satisfagao de uma série de pressupostos de indole econdmiea, politica e juridiea, ‘A submissdo dessas posigbes a regras juridicas opera um fe nnomeno de transmuutacao, convertendo situagdes tradicionalmen- fe consideradas de natureza politica em situaghes juridieas. Tem fe, pos, a jurtdicteugo do processo decisério, acentuande-se a tensio entre direite e politica" Observe-se que, embora tais decisdes estejam vinculadas ju- ridicamente,é corto que a sua efetivagao esta submetida, dentre foutras condicionantes, a reseroa do financeiramente poss(vel (CVorbehalt des financiel! Moglichen"). Nesse sentido, reconhe- eeu a Corte Constitucional alema, na famosa decisdo sabre “humerus clausue” de vagas nas Universidades (*numerus-clausus Entecheidung"), que pretensoes destinadas a eriar os pressupos- {as fticos necessérios para o exerccio de determinado dircitoestio submetidas a *reserva do posstvel” "Vorbehalt dee Moglichen")* Os direitos a prestagies encontraram uma receptividade sem precedentes no constitucionalismo patrio, resultando, inclusive, ha abertura de um capitulo especialmente dedicado aos direitos ‘socials no eatilogo dos direitos © garantias fundamentais. Além disso, verfica-se que mesino em outras partes do texto constitucio- nal encontra-se uma variada gama de direitos a prestacées. Nes- tecontexto,limitande-nos, aqui, aos direitos fundamentais, basta uma breve referéncia aos exemplos do art. 17, §3%, da Constitui- lo Federalfdireito dos partidos politicos a recursos do fundo par- fidario), bem como do art. 5%, ieisos XXXV e LXXIV (aeesso & ‘Justiga e asistencia juridica integral e gratuita).” 4.2, Direito a organizagao e ao procedimento [Nos ultimos tempos vem a doutriaa utilizando-se do concei- to de “direito a organizacao e ao procedimento” (Recht auf Orga: nization nd auf Verfahren) para designar todos aqueles direitos fandamentais que dependem, na sua realizacio, tanto de provi GE KRENS, Freibeitachte durch Grundeshte, cit, pag. 617 (625), BverfGE 33, 309533. P SARLET, A efledia do dritos fandamentais 16, 206, ermanésties Consituconal ¢ Diets Pundamentig dencias estatais com vistas A eriagto e conformagio de érgaos, stores ou repartiches (direito @ organizacao), como de outras, normalmente de indole normativa, destinadas aordenar a fruiga ‘dedeterminados direitos ou garantias, como 6 ocaso das garantiag processuais-constitucionais (direito de acesso a justiga;direito de protesao judieidria; direito de defasa) * Reconkece-te 0 significado do direito & organizagao © 20 pro. cedimento como elemento essencial da realizagio e garantia dos direitos fundamentals.” Isto se aplica de imediato aos direitos fundamentais que tém por objeto agarantia dos postulados da arganizagio e do procedi- tento, como éoeaso da liberdade de assaciagao (CF, art. 5", XVID), das garantias processuais-constitucionais da defesa e do contra: ditorio (art. 5% LV), do direito ao juiz natural (art. 5°, XXXVI), das garantias processuais-constitucionais de cardter penal Gnadmissibilidade da prova ilfeita,o direito do acusado ao sien. cio € & ndo-auto-ineriminagao, ete). Também poder-se-ia cogitar ‘aqui da inclusso, no grupo dos direitos de partteipacio na organi ‘agdo e procedimento, do direito dos partidos polities a recursos do fundo partidario ¢ do acesso a propaganda politica gratuita nos meios de comunicagho (art. 17, § 38, da CF), na medida em aque se trata de prestagies dirigidas tanto a manutengio da estru- ‘ura organizacional dos partidos (e até mesmo de sua propria exis ‘téneia como instituigdes de importaneia vital para a democracia), quanto a garantia de uma igualdade de oportunidades no que ‘concerne a participagao no pracesso democratico.” Ingo Sarlet ressalta que a problematica dos direitos de par ticipagao na organizagao e procedimento centra-se na possibillds de de exigir-se do Estado (de modo especial do lgislader) a emis so de atos Tegislativos e administratives destinados a eriar 6r ios e estabelecer procedimentas, ou mesmo de medidas que objetivem garantie aos individuos a participagdo efetiva na orf nizagio e procedimento. Na verdade, trata-se de saber se existe Gh, sabre oassunto, HESSE, Grandsuge des Vernarungaechs, ci ig. MALERY, Theor de Orundesie, pay 400, CANOTILI, ira Con= ‘itll Combes: 1000, pays S40 "'RESSE Konrad, Bedeutung der Grundeechte, in: Handbuch des Vertustungerehta in. BENDA, Ensen! MALHOFES. Werne! VOGEL, Hate ‘then: Handbuch dee Verfsrongereshta, Belin, 198, pap 127 (46-147 SARLET, A ecéin ds direitos fundamental, pg 198 Heyoentutea Constucona ¢ Divito Fundamental 20 uma obrigagio do Estado neste sentido ¢ se a esta corresponde tum direito subjetivo fundamental do individuo.” Assim, quando se impie que determinadas medidas estatais que afetem direitos fandamentais devam observar um determi ‘ado procedimento, sob pena de nulidade, nao se esté a fazer ou {a clsa sendo proteger o direito mediante o estabelecimento de determinadas normas de provedimento Bo que ocorre,v.g., quando se impoe que determinades ator processuais somente poderao ser praticados com a presenca do ‘dvogado do acusado. Ov, tal come faz a Constituigao brasileira, ‘quando se estabelece que as negociagoes coletivas somente pode ‘ho ser celebradas com a partieipagto das organizagies sindieais, (Constituigao Federal, art 8°, VD." Canotilho anota que o direito fundamental material tem ir radiagao sobre o procedimento, devendo este ser conformado de forma a assegurar a efetividade étima do direito protegido.™ 4.8. 0s direitos de igualdade: a hipstese de exelusdo de beneficio incompativel com o principio da igualdade O prinefpio da isonomia pode ser visto tanto como exigincia de sratamento igualitarie(Gleichbehandlungsgebot), quanto com proi- bigdo de tratamento diseriminatéri (Ungleichbehandlung-sverbot ‘Alesdo ao prineipio da isonomia oferece problemas sabretudo quan- ose tem a phamada “exclusdo de beneficio incompatixl com o prin elpio da iglaldade” (willkurlicher Begunstigungeaussehluss). Tem-se uma “exelusao de Beneficioincompativet com o principio dda iqualdade” se a norma afronta ao prinepio da isonomia, eonceden do vantagens ou beneficios a determinadas segmentos ou grupas sem ontemplar outros que se encontram em condigbosidénticas. Essa exeluso pode verifiear-se de forma concludente ou ex: Dlicita Ela € concludente se lei concede beneficios apenas adeter 4% CANOTILIO, 3. Gomes, Topiege sabre um curso de metrado sobre steitoesandarmontatn:ProedimentsPreense eOrgemtags, Coimbra 190, coins, NOTH, Cones Drgnte« Viner do apna, Hermetic Conetituconal e Diets mente, a tarefa de conhecer, ao mesmo tempo que ao objeto, tan- bem de forma necesséria © exclusiva, esté afeta a fungto de ser conhecido, Noutras palavras, como o sujeito é sempre o sujeitoe o abje- to & sempre o objeto —e um ed 60 que é enquanto 04 para 0 outro =, qualquer mudanga nas suas posigdes relativas, mesmo que se trate de uma alteragao simplesmente imagindria, implicara a eli rminagao do proprio conhecimento, ‘Assim, ainda quando nos ensimesmamos, quando n0s faze: mos objeto das nossas reflexdes, quando nos afundamos em nos: 503 préprios pensamentos, mesmo nessa particularissima rel ‘ontognosiologiea — em que, pensando, o homem é ele mesmo, sen do outro'™ -— no se confundem o et pensante e 0 eu pensado, permanecendo irredutiveis e necessariamente separades, o pri Ieiro enquanto tujeto, o segundo enquanto objeto do conheci- thento. E que o dualismo sujeito-objeto, convém insistir a exaust, pertence esséncia do conhecimento, funcionando como verda- ‘eira condigao de possibilidade de todo evento cognitivo. ‘Tendo em conta, por outro lado, que apesar da autonomia ¢ dda irredutibilidade dos elementos da relagao ontognostolégica, 0 sujeite 6 sempre determinado pelo objeto — mais precisamente, pela imagem do objeto que se forma em sua conseitneia cognos- fente —, em razao dessa prevaléncia do elemento objetivo costu- tna-se definir ofendmene do conhecimento como uma determina: ‘0 do sujeito pelo objeto, Por isso, também se afirma que no processo gnosioligico 0 sujeito se conduz receptivamente em face do objeto, muito embora festa receptividade nao signifique nem passividade nem subordi- hago do sujeito perante 0 objeto, Isso porque, 20 fim e a0 cabo, 0 fonhecimento constitui uma atividade espontaneamente desenvol Vida polo sujet, uma tarefa que ele desempenha para aprender objeto, vale dizer, para dominar cognitivamente a realidade. Noutras palavras, é saindo de sua esfera ¢ trabathando © objeto, que 0 sujeito constroi o conhecimento e o traduz em lin- guage, Nessa perspectiva, portanto, afigura-se equivoco falar- mos em passividade do sujelto, como se no processo do cone ‘mento ele permanecesse contemplative ou inerte diante do objeto, ‘apenas registrando sinais recebidos de fora da sua consciéne mane! Caroaire Late, in Apreentgae de Ser ¢ Tempo, cit, Pare ‘pte 18 Afinal de contas, sem a criagdo do objeto, ainda que apenas enquanto objeto do conecimento — objeto que nao é um ser em si fe por si, mas uma entidade puramente Logica, que 0 sujeito poe Giante de si para ser conhceido —,semamovimentacdo do sujeito hilo oeorre o fendmeno ou o evento a que chamames conhecimen- to, Entao, tambem sob esse ponto de vista, pode-se dizer que 0 sujeito 6 0 senhor do conhecimenta. ‘A despeito de preservar, por essa forma, a sua autonomia e atuar com espontaneidade no ambito da relagio cognitiva,impoe- e-alientar que, ainda assim, desde o inicio e definitivamento, 9 sujeito ¢ determinado pelo objeto, pela simples razto de que o conhecimento, sempre e necessariamente, 6 o conhecimento do tbjeto, de algo externo e alheio, que esta fora do sujeito, que se Ihe opte e para ele permanece um outro, mesmo depois de ser ‘opreendido pela consciéncia, Em razio disso, afirma-se que o objeto transeende o sujeito — em face do qual se mantém autonome e independente —, uma ‘assertiva que ¢ valida para qualquer objeto do conhecimento, in elusive para os objetos ditos ideais, que nem pelo fato de serem Duros entes de razio perdem aquela transcendencia epistomolé- fica em face do sujeito que Ihes da existéncia, Destarte, a autonomia do objeto perante o sujeito cognos- ‘ente é um dado priori ou, como salientado anteriormente, ver- adeira condicao de possibilidade do conbecimento, que se nes presenta como a apreensio das propriedades do objeto pelo su- jeito, deserigdo fenomenolégica que ¢ valida tanto para oconheci- mento que se obtém entre as cidncias naturais, quanto parao que se produz no Ambito das chamadas ciencias humanas ou ciénctas do espirito, 2.0 problema da autonomia do objeto nas eiéncias do espirito Entre as citneias naturais, rigorosamente, como todos sabe- ‘mos, a questio da autonomia do objeto soquer se coloca, pela evi dencia de que, nesse terreno, o sujelto do conhecimento nio pode criar nem consumir o objeto das suas investigagées. E que, sendo texternos e estranhos, de todo alheios ao cientista, os fendmenos Te Sore a ipurtacad tr elie proce do obec ver aah Wat rate Se Fale Sar oan tr Capes A BIAgS Caulon © Proc do Concent A Verde gy 8 rnaturais nfo se prestam s contaminagées subjetivas, menos, diga ‘mos, por virtude do sujeito, do que pela impropriedade do objeto. Desencantada pelo eselarecimento (Aufklarung )— como di- iam, entre outros, Adorno e Horkheimer'” —, a natureza hi ‘muito vem sendo estudada com a objetividade eo distanciamento nocessérios a racionalidade do seu conhecimmento, o que torna dis pensdveis, até certo ponto, quaisquer preocupagdes com a chamada heutralidade cientifia dos pesquisadores, apecar das respeitaveis ‘opinides em contrario daqueles que, vez poroutra, e poem a dentn- ‘ar os peeados ideldgicos dos cientistas alienados, que se rect: ‘sam aos engajamentos politicos exjgidos pelas eircunstancias.™ No Ambito da cultura, no entanto, porque os estudiosos tra- bbalham com formas significativas, com a conduta e as eriagdes do hhomem, suma palavra, com realidades que nio se explicam, an- tes se compreendem'®, aquelas preocupagbes de objetividade sem- pre se fizeram presentes, notadamente porque, nessa regido éntica, {adda descoberta de sentido envolve ow exige, necessariamente, uma atribuigto de sentido Porisso, também, e diversamente do que ocorre nas ciéncias paturais, no dominio das ciéncias do esplrito sa0 imprecisos os limites entre sujeito e objeto, em que pese a necessidade episte- rmoldgica — nao ¢ demais insistir — de que os dois pélos da rela (a0 ontognosialogica se mantenham separados ¢ independentes, Como eondigae de possibilidade do evento cognitivo. Neste terreno — obviamente com algum exagero —, talvez se pudesse dizer que a regra é a indefinisan daqueles limites epis- temol6gieos, pela conviegdo generalizada, embora até certo ponto acritia, de quo som a participagao eriadora do sujeitorestara com- prometida ou pelo menos empobrecida a apreensio do objeto. Daf o prestigio daquetes defensores da liberdade de inter pretaglo, que a pretexto de condenarem métodos e eritérios por " Dittien do Boelarecimento, Ro, Jorge Zabar Bator, 1086, pég. 19 "Robert Lyra Pio por expla, denunca omit da nevtealtade en te, porn ce, ee esa ut me a doin ferqo ena pontaraeficn nh signin nn ner eniolas defen teres deme cidnla poli, tal ome aeaboyou tear tlt Donde recta Porto Alegre, Sergo Fabra Bait 1085, pop 272 "bre dfreng entre ents ator groiligicn a ina do Dilthey tf, oc verbetes Compreontao'e Feline go Dicinds de Piosle de Jose Fecrater Mora ety pips. S46148 11001104, rempectvomente Hermenteten Consticona eDietos Pundamentais 2 cles desde logo desqualificndos como impréprios ou inadequados para @ compreensao das coisas do espirite —, propugnam pela abolisto de quaisquer parimetros de controle, talvez porque, af nal, se minimamente observados, esses instrumentos de avalia Ho permitiriam separar o joio do trig, o falso conhecimento do fonhecimento verdadeiro Nese clima, em que praticamente tudo é permitido — em que se admite, até mesmo, a possibilidade de uma desordem fe eunda*® —, soa descabida, para nae dizer disparatada ou ridicu Ia, a idéia de se procurar algum eritério de verdade, porque 0 si jeito cognoscente ja nao precisa assumir compromissos com a ra- ‘ionalidade do trabalho hermenéutico, nem prestar contas do re- sultado do seu labor interpretativo, Um elima, enfimn, no qual t- dos proclamam, acrticamente, que "é proibido proibie", mas nin- sguém se mostra imbuide do sincero desejo de mudanga que dew Sentido e forea aquele grito da razdo estudantil e subverteu as ‘universidades no final dos anos sessenta, Apesar ou por eausa daqucle panorama de licenga episte- ‘molégica e relativism banalizador, nao foram poucos os que s© prooeuparam com a necessidade de sinalizar os eaminhos da ati- vidade hermenéutica, em busea da objetividade e da controlabili- dade do trabalho interpretativo, um movimento que encontrou adeptos importantes no ambito das citncias do espirito, em geral, ‘enos dominios da hermenéutica juridica, em particular, onde aliés aaquela necessidade se mostrou ainda mais premente porque, afo- aos que defendiam a liberdade do interpretardo, logo surgiram os pregadores da livre eriagao do direito, um projeto revoluciond: rio que os seus arquitetos imaginavam executar sobre as rufnas dda dogmatica juridica.*™ Nesse contexto, como anotado acima, deveu-se a Emilio Betti ‘melhor formulagdo do ja aludido cdnone da autonomia herme: ‘Gutica ou da imanéncia do crtério hermenéutico, uma formula, ue, sem desprezar o momento ou 0 fator subjetivo da interpreta “alate co wnat da exgrstn Desordom om end posing, cxme iy entever¢ ae am aur saucy ag meno tem Gob sel que eopresnts e doroea de toda pos Bho Bata, Htora erepetva, 199, pug 28 "Gf Hermann Kantoroies. A ute pela Cine et Derecho Bueno Aires, EStorat Lona, 194, page, 329% 2 ermendtic Constiuconal eDistosPundamentais ‘0, pudesse impedir que os eriticos da objetividade mergulhas. Sem a hermenéutica num pintano de relatividade."” Consoante esse paradigma — sensus non est inferendus, sed offerendus —, cumpre ao intérprete procurar extrairo significado inerente as formas representativas, ao iavés de tentar atribuir. lhes, ab extra e de modo arbitrario ou fraudulento, sentides ou- tros, a elas de todo estranhos ou nem de longe eoincidentes com aquilo que imaginaram os seus autores." Essa 6 a ligdo que se recolhe na obra fundamental desse no- tavel hermeneuta, sob forma que o seu enunciador considera uma versio moderna e mais incisiva do velho ednone da mens dicentts “Em verdad, se as formas representativas que eonsti- tuom o abjeto da interprotacdo sio essencialmente objetiva- ‘8es de uma espiritualidade que Ihes esta imersa, é claro que devem ser entendidas conforme o espirito que nelas se objetivou, segundo o pensamento nelas reeonhecivel, nao ja Segundo cspiritoe pensamentos diversos, nem tampouco se- ‘gundo um significado que de maneira alguma thes possa ser Atribufdo, abstraindo-se da fungi representativa aque elas ‘servem em relagio Aquele espirito e aquele pensamento” Ge) “Contra todo arbitrio subjetivo, 0 ednone em referencia impBe respeitar-se oabjeto no sou particular mado de ser eexi ke que ele seja mensurado conforme a sua prépria medida” 3. A eriagdo judicial do direito em face do canone hermendutico da autonomia do objeto e do Principio constitucional da separacdo dos poderes Aplicado ao pé da letra nos dominios da hermentutica jurt- diea, esse eanone impediria que os aplicadores do direitoatribuis oon Bitar Palmer Hermes, Use, Ee 70, 1986, ps 5 © > & propia, reiste-o era intigantechomada de Umberto Be “en tre intend ear © propant do tne, ene a tnengaa dee Iacepatagay« Superintrprsgao. Sao Pavia ating Fontes, 198. "Fora Genera ct, 1, pap, 30806, Iterpretecin de aly 9 de lor actos jaridice, Madea Estoril Hovet de Derecho Privado, 1975, ps ermenésticn Constitucona e Ditos Pundaseotain 2 sem ts normas sentido estranho, alheio ou diverso do que nelas fe contém, pois se o fizessem estariam a criar, anda que por via interpretativa, preceitos outros, de todo distintos daqueles que deveriam simplesmente interpretar, ‘Como essa postura hermenéutiea criativa, por outro lado, {mplicaria eliminar o dualismo sujeito-objetoe, consequentemen: te, 0 proprio conhecimento enquanto correlagio ontognosiolégiea, io se afigura excessivo dizermos — pelo menos de um ponto de vista estritamente epistemoloico e a luz deste cdnone interpre- tativo —, que a norma criada pelo aplicador do direito substitu rig anorma objeto da interpretacio, eo juiz que aeditasse mataria o legislador. Em perspectiva juridico-politica, ademais, essa mesma cria- tividade constituiria ofensa ao principio da separacao dos pode- 105, segundo o qual, no Estado de Direito, acriaeao da lei, ou de normas com forya de lei — como expressio da vontade geral —, atividade propria dos Orgaos de representagae politica, a tanto Togitimados em eleigdes livres periddieas, Aos demais poderes, executivo e JegiaTaivo, respectivamente, e sempre sub lee, cabe tia apenas gerir a coisa pablica e resolver as contendas entre 08 idadaos ou entre estes ¢ o Estado, Desrespeitada, por essa forma, a separacio dos poderes — ‘jas fangbes se distinguem procisamente em face da lei —, Ver. sera por comprometida, abjetivamente, a legitimidade de qual (quer sistema politico, pelo menos segundo os padrdes da eélobre Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadao de 1789, em cujo artigo XVI so decretou que nao teria constituigio a sociedade na ual nio estivesse assegurada a garantia dos direitos, nem deter minadg a separagio dos poderes: — “Toute societé dans laquelle a garantie des droits nest pas assurée, ni la separation des Pouvoirs déterminée, n'a point de constitution” ‘Trata-so, evidentemente, de uma exigéncia de natureza his toriea e ideoldgica, mas que nem por isso jamais deixou de ser sbservada como referéneia para se conferir a dignidade de Estado onstitueional as mais diversas comunidades politicas Densifcando ess princinio— uma forma que virow substan ia no curso processo historico de construgao e aprimoramento do stado de Direito, como tantas veces j@ acentuamos —, o Bardo 4e Montesquieu chegou a dizer que nao existiria iberdade pol ‘ca onde se misturassem as fungdes préprias de cada érgao da so berania estatal: “A liberdade politica, num cidadio, é esta trangquilida- de de espirito que provém da opinigo que cada um possui de Sua seguranga;e, para que se tenha essa liberdade, cumpre ‘que o governo reja de tal mado que um cidadao nao possa ‘emer outro edadao. Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magis: tratura, o poder legislative esta reunido ao poder executive, ‘do existe liberdade pois pode-se temer que o mesmo monar- ‘eno o mesmo senado apenas estabelegam leis tirdnicas para executéslas tiranicamente [Nao haverd também liberdade se o poder de julgar no estiver separado do poder legislativo o do poder executivo, Se estiveste ligado a0 poder legislativo o poder sobre a vida fea liberdade dos cidadaos seria arbitrario, pois o juiz seria logislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, ojuiz po- deri ter a forga de um opressor. ‘Tudo estaria perdido se 0 mesmo homem ou 0 mesmo corpo dos principais ou dos nobres, ou do povo, exercesse es tes trée poderes:o de fazer as lls, ode exccutaras resolcdes ‘iiblicas, eo de julgar os crimes ou as divergéncias dos indi ‘duos. (grifos nosses). Diante desse dogma, que, no essencial, jamais encontrou opositores de monta, pelo menos nas sociedades democriticas, ‘como expliearmos 0 fato de que a eriagdo judicial do dircito sem: pre encontrou adeptos de grande respeitabilidade, em todos os ‘quadrantes do mundo juridieo? Como enfrentar essa realidade, Drincipalmente nos dias atunis, em que 0 chamado ativismo judi ial, com 0 apoio de expressivos setores da opiniao publica, ver ‘minando as resistencias dos seus sltimos adversarios? A propisito destas e de outras indagagbes formulaveis sobre © tema, acreditamos existirem algumas colocagoes bisicas que poderiam contribuir para racionalizar o debate ou, pelo menos, para reduzir-lhe a emotividade. sp By Bt dn ti Sto Pe, Dito Euan do Li, 182, 1 Por outras palavras, achamos que seria possivel atingir esse objetivo se logréssemos desideolagizar' ou, pelo menos, despot fizar a polémiea om torno da eriagao judicial do direito, Nessa direcao seria saudavel, por exempla, rejeitarmos a postura fandamentalista™ dos que nao admitem sequer discutir 6 assun- 4, imbuidos da erenca de que o ativismo judicial é de todo incom- pativel com o regime democrétieo, onde quem nao tem votos nao tem legitimidade para emitir comandos cam forga de lei." Bassa tese, de consisténcia aparente, poderia ser enfrentada com 0 argumento de que os julzes, embora nao possi legitios dade de origem para produzir normas juridicas™, de certa ma- neira tém-na adguirida com a aprovagi social do seu comporta- ‘mento; ou, ainda, com a constatagio de que, sem a participagao vivificadora dos seus intérpretes e aplicadores, as leis permane: ‘em textos frios e inacabados, como afirmou, no inicio dos anos ‘quaronta, o intuitive Liicio Bittencourt. Accito esse ponto de partida, e admitidas algumas das con: clusies anteriores sobre a inovitavel partieipagao do intérprete- aplicador na produedo dos modelos juridicas, achamos postivel discutir com serenidade o problema da eriagi judicial do direito, entre outras, a luz das seguintes proposigées: * aquilo a que chamamos conhecimento 6 0 fendmeno que consiste na apreensio do abjeto pelo sujeito, nto o objeto propriamente dito, em si e por si — porque "A cna dea reporter aed dan operon pment de que formalde de wna perpertiraigualiette dela, ok a eden ne eae poles a wer ne {andro pls eno ita arse tae oe ‘Swepo de dois jr enor Se 15) "Sobre a inopatiiete ey» Ena dis fondaenta aoe oppure fete scene Bde Co lvl Ora WAP. pan aed ts mre eta questi, op exe pein ota da oa re Lentinidade Leclimacs Hasta Contacto Coy, Coss aac ae "Bar ti norms nt se opprenm,evdeiements, enorme i dian Se Keven aps de So Bn sags wmode ios ae Pekar "Stale Preto Sentero ntepretain Jr, Mads, Tin, +1993, pag. 117. Tere senna Pie: ow des WS poe a 96 _Hermentutcs Costitsinal¢ Diseios Fundamestais este transcende, necessariamente, o sujeito —, mas do objeto apenas enquanto objeto do conhecimento, + 0 objeto do conhecimento, portanto, & uma eriacdo do Sujeito, que nele poe ou supoe determinadas condi. Bes para que possa ser percebido, como, por exem plo, as formas espazo e tempo, que nao pertencem as foisas em si mesmas, mas apenas enquanto £20 coi ras para o sujeito: + nessa perspectiva, nfo tem sentido cogitar-se de um, Conhecimento das coisas em si mesmas, mas apenas ‘de um conhecimento de fendmenos, isto 6 de coisas ja recobertas por aquelas formas, que sao condigoes de possibilidade de todo o conhecimento;"* + em virtude da fungao constitutiva e transformadora, {que 0 sujeito desempenha por direito proprio no am- Bito da relagao ontognosioligica, 0 conhecimento do abjeto — de qualquer ebjeto — nao é igual ao objeto {do conhecimente; +0 conhecimento dos objetos culturais, obviamente, também nao coincide com o objeto desse conhecimen- to, conelusio que se impoe, digamos, com maior sexu- ranga pelo fato de que tais objetos, sendo realidades ‘Signifcativas ou objetivagoes do espirito, exigem maior ‘riatividade do sujeito para se revelarem em toda a ‘sua plenitude; + como 0 direito participa do mundo da cultura, o co hecimento das normas juridicas esta submetido a todas as vicissitudes que singularizam o processo tgnosiologieo das coisas do espirito, o que se constitu ‘um motive adicional para nao se exigir mais objet tidade aos eujeitos da interpretagao; + a riatividade judicial, ao invés de ser um defeito, do qual ha de se livrar o aplicador do direito, constitui sta afircatvg, abn como a primeira proposigia, situs no bite {bo idetiemo transcendental. pols tora iaterilts do conkecnento reels toe confrnincs einem postula.«posidade Ge conbecermen sre Idade'\en ida endmene cosine, Da or explo, as palaveas de Kart Kosi tisande eco aoe ensinamestar do pat fundador "esos ditto pars swears etraura da coane acon em at conait dese tempo emo (constitu sompre, taretapreigus Ge flo” Delten do Conerto. io Dace tern, 191 Wade page 1213 Hormentutin Constitusianale Dieitos Fundamentais ‘uma qualidade easencial, que o intérprote deve de- senvolver racionalmente; + ainterpretagio criadora é uma atividade legitima, que 0 juie desempenha naturalmente no curso do processo de aplicagio do direito, endo um procedimento expi- rio, que deva ser coibide porque supostamente situa dod margem da let; * toda compreensio se di a partir da pré-compreensao do interpret, a qual funciona, para a primeira, como ‘condigdo de possibilidade do seu desenvolvimento; + a compreensdo de qualquer preceito juridico depen- de, especificamente, da pré-compreensao do intérpre- te sobre a coien ou 0 rferente fundamental aque cha- amos Direito, © que 0 legislador procura nos comu- near através dos enunciados normativos™; * toda norma 6 vigora, efetivamente, na interpretagio coneretizadara que Ihe atribui o aplicador legitimado aadizer o direito; ‘+ no momento da aplicacto da le, o legislador ndo 6 0 ‘seu autor material, or virtude de cuja autoridade ela foi promulgada, mas aquele por caja autoridade ela continua em vigor'™; + osillncio desse legisladorideal, que pode desautorizar ‘qualquer interpretacio do direito, mas se abstém de fazé-lo, confere legitimidade a comproonsto normati- va de juizes e tribunals; + avontade do legislador nao ¢é um ato voluntaio, com- pletamente produzido no momento em que dé a ori gem a lei, mas uma onergia que a regenera de modo ‘eontinvo, come se estivesse a(re)produzi-la numa ges- taco infnita’™; Fata Mache tndaca do Die. se Dacre Lena. Coimtva, Aldine, 1983, age S808 nocercio Marnes Con. Const fo onset ObjtoeBlomentan, io Revita de Inormagas Legislative 9 16, Shtuder'tog, pags 0. "eTuomne lckes,Léithan, Pai, Eton Srey, 197, pg. 288264 Gastave Haddock Mlonfir do Diet, i, apg 27. Interpretagao jurfdiea nfo consiste em pencar de novo o que ja foi pensado, mas em saber pensar até ao fim aquilo que a eomegou a ser pensado por outrem'™; ‘+ 0 sentido juridico, sendo externo is normas em certa medida, embora nio possa contrariar de todo 0 seu enuneiado, exige a criatividade do intérprete para se rovelar completamente; + somo trabalho de mediagao ede concretizacio, que se impte ao intérprete-aplicador do direito este nao rea. Tiza ideal dejustiga que consiste om dar a cada um o que é seu; + aluz do conhocimento histérico, pode-se dizer que a exporiéneia do absolutismo e a desconfianga nos ma: sgistrados do rei foram as causas determinantes da dogmatizagao ou do endurecimento do principio da separagao dos poderes; + a consolidagao do Estado de Direito, em cujo ambito tom-se mostrado eficaz o sistema de freios e contra- pesos, afigura-se como razio suficiente para a apo- sentadoria desea velha camisa-de-forga. final, se essas pilulas de trangailizante epistemolégico nio forem suficientes para acalmar 08 adversérios da criagio judicial do direito, mesmo assim eles poderdo ficar sossegados, pois se al- gum poder ainda se faz temido e, por isso, deve ser controlado, fesso nlo é 0 poder do juiz democratico, que desfrutava da confian. ga de Hamilton, mas odo monarea despético, que assustava Mon- tesquieu. Adotada essa postura aberta — avangada talvez fosse o ter- ‘mo mais apropriado para defini-la—, impée-se reconhecer, A gui- sa de conclusio, que o paradigma da separasdo dos podores, pelo ‘menos em sua configuracio inicial, ha muito tempo que entrou fem crise ¢ isso aconteceu, precisamente, porque foi ultrapassada ‘ conjuntura juridico-politica em que viveram John Locke e Mon tesquicu, os sous formuladores historicos Uitrapassada essa fase da sua evolugdo — fase dialeticamente ‘cancelada, preservada e levada (aufgehoben) nas etapas seguin: Wh esses curser tes do inintorrupto processo de sua realizacio histériea"® —, cum: pre repensar a Separacio dos poderes em perspectiva temporal- Inente adequada, porque a sua sobrevivéncia, enquanto principio, Gependera da sun adequagao, enquanto prética, as exigencias da Sociedade aberta dos formuladores, intérpretes e realizadores da constituicao. ‘Noutras palavras, impoe-se e-interpretar esse velho dogma pera adapté-lo ao moderno Estado constifucional, que sem deixar Re er liberal, tornou-se igualmente social e democratic, e isso ‘ado apenas pela agao legislativa dos Parlamentos, ou pelo jntervencionismo igualitarista do Poder Executivo, mas também pela atuagao do Poder Judicidrio e das Cortes Constitucionais, politicamente engajadas no alargamento da cidadania e na reali 2agdo dos direitos fundamentais."™ "GE, are ease presto dati, Karl Popper, Que ¢, Dialtic, in Conjctrarc Retort pag af, Nota 5a terminologia de Hegel tan as oegnda, anclaen, ye lvaday (a um aie up proven anibigodade de lava slot tufpehoten empregnndns no sbtde de reduce a componen Eeeestde, preerda ¢ eae” i ate eta, Pancco Campo, Dita Coaituconal cn saqast; 4 Bynes. Opape do fnarurca no Bata Mero, Bel er font vss Bronera de Bene Pltiens, 160% Georges Burdeau Poder [revo na Prone, Dolo Horuorte Revita Brie te Extoos Polar, 161; Nano Pier porta do adres corn doarina« prinipn oni ional, Cou, 1080, Mauro Cappel dutzen Lesaaderat Por Alar, Seri fabri itn 1008 Laptmdnde Legitimanan de ati Conti ald. Sousn Bit taf. Colmbra 105, Gifnar Ferrera Menses uriedicte onatislonat Sie Pasi, Saraiva 00, eDicton Fndementis Control Gonaieionatdade Sto Pau, Cleo Bartow Eton, 18 poet ara (Gosino, interpreta Caarituconal: Porta Alepre, Sergio Fabris Boe, 1097 crite Hemenes Cocina eee Abeta dove lead Consiga’ onebuiae pore nterpetate para “proteinen tei da Constiuieo: Porto Alegre, Sent Fobra Bitar, rad limar Pereira Mendes, 109 ALYVd ASPECTOS DE TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Paulo Gustavo Gonet Branco 1. Introdueto; 2. Histério; 3. Concepeses flossficas Jjustiflendoras dos Direwtor Bundamentais; & Nocao ‘material dos Direitos Fundamentais (Fundamental deMaterial); 5. Caractertstieas dos Diretes Fundamen fois; 5:1 Direitos untersaise absolutos 5.2 Historie, dda; 53 Tnalionabdedade induspontilidade;5.4 Cons titweionalizapao; 55 Vineulagdo dos poderes pablicos; 5.6 Aplicabildade imedito; 6. Tendéneias na Bvolugdo dos Direitos Humanos: 7. Fungées das Direitos Punda- mentais; 7.1. A teoria dos quatro stats de Jelinek: 7.2 Direites de defesa, a prestagdoe de participarda; 7.2.1 Direitn de dafese; 7.22 Direitos © prestogao; 72.2.1 Dereitos a presayao juridica; 7.2.22 Direitos a pest (80s materiais; 723 Diveitosfundamentais de partic Dapdo: & Dimenssee Subjtiva « Objtiva dos Diretos Fundamentais 9. Diretos Fundamentatsna Constitus {a0 Brasileira: classifiayao; 9.1 Diets individuais¢ ‘iret coletivs; 82 Diretose garantias; 9.3 Garantias institucionais: 94 O art 5% $25, da CF: 10. Titular: te dee Diets Pundamentas; 101 Diretos fundamen tae e pessoa juridica; 10.2 Direitos fandamentats ees frongeiros: 10.3 Capacidade de fato ¢ expacidade de direito: 1, Sujeitoe Pessoos don Direitor Fundamen tats; 12. Colisdo de Diretor Fundamentais —~ Breves Consideragdee, 19. Dirson Pundamentais « RelagSer Bspeciais de Sujegao, 104 ermentutin Constitucona« Dirsitos Pundament 1. INTRODUGAO 0s direitos fundamentais sio hoje o parametro de afericao do grau de democracia de uma Sociedade. Ao mesme tompo, a 0. tiedade democratica € condigao imprescindivel para a eficicia dos direitos fundamentais.Direitos fundamentais efiazes e democra- cia so conceites indissocidveis, ndo subsistindo aqueles fora do tontexto desse regime politico, Para que 08 direitos fundamentais cumpram a sua vocacio coneiliadora do poder estatal com os reclamos humantsticos e de- ‘mocrétios, impée-se delinear os elementos da teoria geral que deles se cups. A relevancia de um tal esforgo se infere, prontamente, da leitura do Preimbulo da atual Constituicao. Alise proclama que 4 Assembléia Constituinte tere como inepiragio basica dos seus trabalhos o propdsite de “instituir um Estado Demoeratiea, esti nado a assegurar o exercicio dos direitos socials ¢ individuais, a Iiberdade, a seguranga (..”. ‘A compreensio, portanto, das normas constitucionais nao pode desprender-se do designio essencial do constituinte, que busta ‘cetruturar o Estado sobre o pilaretieojuridico-politica do respei- to. da promosio dos direitos fundamentais. ‘A interpretagio constitucional nao se faz adequadamente sem ‘oarrimo oferecido pela teoria dos direitos fundamentais! — da ‘qual se pingam alguns aspectos na exposigie que se segue. 2. HISTORICO [A Histéria dos direitos fundamentais pode ser analisada sob ‘mais de um prisma. Benjamin Constant, por exemplo, no enfoque tornado classi co, distingue duas fases relevantes, na evolugso do eoneeito de " Neata diego, Wile Suntiagn Guerra Fb (Pracsso Constitcinel Direits Pundaresins Sto Paulo, Cle Basis Editor 1900), pars quem 4 "Epeeagincowtelonal preasupe materi dos dren fandamentis {pe a enfaurande que ars caper sentido de qualquer ipo do tx ‘atistuconal doveve ter eat teu toda ean sre de irelosfondamenta ‘ue, cin de ads protende sem preservadon po ambit de Bstado brea {epsom sg su no sjtvon fades delrtoen0 a a iberdade, conforme 0 entendimento dos antigos ¢ o dos moder. pos. Da énfase a0 advento do cristianismo nesse enfoque demarcatério, pois na Antiguidade a liberdade tinha uma indole fessencialmente politica, referindo-se & participacio na vida da ‘dade. A liberdade representava, entlo, a faculdade de exercer (8 direitos politicos do cidadao, J& para os madernes, a liberdade se vincula & realizagao da vida pessoal B comum apontar-se a doutrina do cristianismo, com énfase ‘especial para a escolasticae a flosofia de Santo Tomas, como an- tezodente basico dos direitos humanos, A concepgao de que 0s ho- tens, por seem eriados & imagem e semelhanga de Deus, possuem alto valor intrinseco © uma liberdade inerente & sua natureza, fanima a idéia de que eles dispdem de direitos que devem ser res peitados por todos e pela sociedade politica.” Santo Tomas de ‘Aquino defendia um direite natural, fundada na eoneepetio do ‘homem como eriatura feita & semelhanga de Deus e dotada de especiais qualidades. Esse direito subordinava o direito positivoe fdiserepancia entre um e outro autorizaria o direito de resistin dia do sudito. [As teorias contratualistas ganham relevo na corrente jusaturalista, sobretudo nos séculos XVII e XVI, para acentuar ‘que os soberanos deveriam exereer a sua autoridade com submis- ‘So ao direito natural, Decorria dai a primazia do individuo sobre 0 Estado, E de se destacar, nesse contexto, o nome de John Locke, pensador que, partindo do suposto de que os homens se retinem fem sociedade para preservar a propria vida, a liberdade e a pro- priedade, faz desses bens contetido de direitos oponiveis ao pro prio soberano. A defesa desses direitos representaria a razio de Ser do Estado e o seu principio legitimador. Esta teoria id inspirar as Declaragoes de Virginia de 1776 6 ‘francesa de 1789. Com efeito, o art, 1¥da Declaragao de Direitos de Virginia, proclama que todos os homens s0 por natureza li- vres etm direitos inatos, de que nao se despojam ao passarem a Viver em sociedad. O art. 2*da Declaracao dos Direitos do Ho- mem e do Cidadao aponta que o fim de toda a associngao politica é A propisite, Jorge Miranda Manual de DizeitoConatituconal: Coimbra cosmtra Bl Toe opus 17 Ingo Sarit-A Bika doe Diets Papamen lair oreo Alegre, Livrase do Adwogodo Ealora, 1088, pag 28. Vieira de ‘ndrade: Os Dirite Pundamentaie na Constiuigho Portaguera te 1870. cite, Almoina, 10, a conservagao dos direitos naturais e imprescrtiveis do homem, Boart. 4#da mesma Declaragho afirma que o exoreieio dos direi. tos naturais de cada homem ndo tem por limite senso as restr bes necessarias para assegurar aos outros membros da sacieda. fe 0 goz0 dos mesmos direitos Esses documentos, embora pontos de virada histérica, nao so 0s pioneiros na referencia a direitos dos individuos, Na Tngla terra, em 1215, 0s bispos ebardes ingleses obtém do Rei Jodo Sem Terra a Magna Carta, pacto que assogura alguns privilégios feu dais aos nobres, nao chegando, entretanto, a aleancar o conjunto ‘da populagio. Outras declaragées de dircito sao conhecidas, como ‘a Petition of Rights, de 1628, 0 Habeas Corpus Act, de 1679 ¢ 0 Bill of Rights de 1688. Nesses documentos, sto assegurados direi- ‘os aos cidadaos ingleses, como a proibigao de pristo arbitréria, 0 hhabeas corpus eo direite de petigdo. Tais documentos, porém, se 6 verdade que limitavam o poder monarquico, nao tinham o condao de vincular o préprio parlamento. Esses direitos eran, assim, fur damentalizados, embora ndo constitucionalizados Talves, por isso, com maior freqiéncia,situa-se o ponto fuleral do desenvolvimento dos direitos fundamentais na sogunda meta- e do século XVI, sobretudo com o Bill of Rights de Virginia (1776), quando se dé. positivagao dos direitos tidos como ineren- tes ao homem, até ali mais afeigoados a reivindieagdes politicas € fllosoticas do que & normas juridieas obrigatérias, exigiveisjudi- cialmente, 8 dado concluir, portanto, que direitos tidos como naturais, com indole constitucional, vinculando todos os poderes ¢ eapazes de serem exigidos judicialmonte, foram assim reconhecidos € positivados pela primeira ver na Declaragao de direitos acolhida pela Constituicio americana, Norberto Bobbio, que nao se distancia dessa visao, ensina que os direitos do homem ganham relevo quando se desloca do Estado para os individuos @ primazia na relagio que os pie em contato, Diz 0 autor que “a afirmarao dos direitos do homer deri va de uma radical inversao de perspectiva, earacteristica da for: magao do Bstado modemno, na representacdo da relagdo politica, ou seja, na relacao Estado /cidadao ou soberano/eiditos: relapao que é encarada, eada vez mais, do ponto de vista dos direitos dos Gidadaos no mais siditos,e nao do ponto de vista dos direitas do Salt bet ple srentin Cosas Disa Pandan * 7 Jrano, em correspondénia com avsdo individualist da sce Bee na inicio da idade moderns Os direitos fundamentals asumem posig de definiivorel- consciedade quando se inverts tradielhal ragto entre Es Sui inditdeew su recoshoce qu 9 indivdoo tom, primeto, ete, depois, devererpranta 0 Estado, equ ei tem em iiteto 0 indvidon, primero overs e, depoi ives, ‘Una outra perspective histria situa a evolugo dos dite- tas fartamentais em tte oy ae veren, em quatro™ gorages © concate de dito fundamental, conforme entra Jorge igandss¢cootdnce ao conclt do Gena, endo amen tednsosves do seats poco dato primo dou valores Settordade, da sgurane ea propriedade’ sempre a povee: pertecom essa a aritne do voveriant, © cunho dos rites derives dees bens jurdies 6 om pentament intviualisa Pretenders, ebretudo, arma er: {radu utonomia peesoalindene conta a expances do Poder. Niosurpreend, asin, que sevolom cotra ager do Beads: tase de dees que pontulam sbstengao doe governants, cm ctrigaies dente fazer de nao intervirobre aque coer n- {ina dn cae individ, ndapennvels av ceudgoo desenvlv nme Base foram oe prineire diets a srem pottivads. Em rasta dss, rocebomo nome de direitode primera geragea, Na Renominagio sth enlobefoedteltn guest ids como inde Denstvaa's todos o homens com aia retenate universalist ese univeraaismo, prea, scorre apenas no plano sbtrata: Na realidad, alguns dietos (ego de proprietad) aprovetam a Sn cera clase cutron; eso suf, dopenden de requis toni iquezn para foe enrundon O constitucionalismo ‘A comproensio dos direitos fundamentais de primeira gera- (Ho reclama a percepeao histérica do movimento do constitucio Nalismo, que explica as reivindicagies que redundaram na consa- sracao dos direitos fundamentais em exame. “Rorberta Bobbi. Afra dr Dineitan Rl, Eas obs, pat 22 a propisle J Mirande, 0b et pe 22 Compe, 1002, pa. Hermentstcn Consttuconal eDirtos Fundamentals 09 0 movimento, surgido dos estertores do regime absolutista, protendia a jurisdicizagao do liberaliemo, no seu sentido tanto politico (igado a garantia do cidadao perante o Bstado) quanto econdmieo (vineulado aos postulados de uma economia de livre mercado). O movimento queria que se assegurasse a separag dds poderes se proclamassom direitos individuais, em documen. to constitucional, como garantias da liberdade almejada. Dat o eélebre art. 16 da Delarago dos Diretas do Homer de 178 pro lamar que: “Uma sociedade om que a garantia dos direitos nao esta prevista nem a separagao de poderes esta determinada, no possui uma Constituigao”, A Constituicao legitima, juridica, verdadeira, era aquela que se curvava ao dogma — entao no seu momento matinal — do Fs- tado de Direito do liberalismo. O constitucionalismo era, pois, aexpressio sistematizada do coneeito de democracia liberal ou constitucional. Era, também, 0 movimento que a economia capitalista necessitava para garantit ‘sua expansio, 0 constitucionalismo reivindiea a seguranga juridien que o regime absolutista negava por definigao, Neste contexto, explica- se 0 impulso que as idéias de respeito a um nucleo minimo de direitos, como a propriedade eas liberdades de profissao, de acto de locomogto, abtiveram no periodo, A bandeira do constitucionalismo, relativa ao exeretcio do poder por um parlamento representative, também ¢ associada & Aascensto econdmica da burguesia, pois esta reclamava influeneia, politica para se consolidar. 8 digno de nota que 0 eaquema censi trio, estringindo o acesso as fungdes politias, reforga a conv fo de que o constitucionalismo ratificava o status quo burgues eeém-conquistado. ‘esse periodo, ganha prestigio a teoria da personalidade ju ridica do Bstado, Para que as relagses entre o Bstado ¢ 0 indivi ‘duo pudessem constituir relacées juridicas, cumpria que 0 Estado fosse considerado como sujeto de direito, apaz de titularizar di reitos e também obrigagdes. Dessa forma, o monarca, até entao identificado com o Bstado, passa a ser apenas um dos drgios da pessoa juridica Bstado, tendo as suas prerrogativas e faculdades Aelineadas na Constitui A ldéia de que o Bstado 6 sujeito de direitos e obrigacies 6 cessencial para que se Ihe possam opor os direitos fundamentais, Enquanto o Estado se situava para além da ordem juridica, nao Ihe era exigivel um comportamento com base no direito. Situar 0 Estado como sujeito de direite, enseja o reconhecimento de uma tesfera do autonomia em que o: individuos sio titulares de direi- tas exercitaveis contra os poderes piblicos. Compreende-se que os direitos fondamentais, neste contex- to, sejam os de liberdade, direitos a prestagao negativa do Estado, direitos a uma esfera livre da intervengao do Estado. O paradigma de titular desses direitos 6 o homem individualmente considera- do, Daf esses direitos se referirem a liberdade de conseiéncia, & {nviolabilidade de domictlio, & liberdade de culto e de reunido So direitos em que nao desponta a preocupagao com desigualda- des sociais, Por isso, aliberdade sindical eo direito de grove, consi- dderados fatores desarticuladores do livre encontro de individues fautnomos, nao eram tolerados no Estado de Direito liberal. A preocupagio em manter a propriedade servia de parametro ede limite para a identificagao dos direitos fundamentais. Havia pouea tolerancia para as pretensbes que eolidiesem com 0 direito ae propriedade. £ sugestivo o que, a propdsito, disia Benjamin Constant, xno inicio do século XIX, justficando, por exemplo, o sufragio cen sitio: 'S6 a propriedade torna os homens capazes do exercicio dos direitos politicos (.., 0 fim necessario dos nao-proprie- tarios 6 chegar a propriedade (.). Esses direitos os direitos politics) nas maos da massa servirao infalivelmente para Invadir a propriedade, E isso sera feito por essa via irregu: Jar, em ver da via natural, a do trabalho; para eles sera uma fonte de corrupedo, para © Estado uma fonte de desordem"” Essa situaga de descaso para com os problemas sociais, que veio a caracterizar o Btat Gendarme, associada as presves decor- entes da industrializagao em marcha, o impacto do erescimento emografico e o agravamento das disparidades no interior da so- sledade, tudo isso gerou novas reivindicagdes, expressas em teo- wo bbe ge Reena Court ora sade de Din ras socialistase por elas estimuladas. O Estado teve que assumir ‘um papel ativo na realizacao da justiga social © formalisimo legalista nao dew conta das crises econdmicas « sociais que surgiram no final do século XIX e se acentuaram no século XX. Bm alguns lugares, os prineipios liberais sueumbiram 8 forga dos antagonismos, gerando sistemas totalitarios, 0 ideal absenteista do Bstado iberal, que euidava apenas de proteger libordades de cunho individual e politico, nao respondia, Eatisfatoriamente, as novas exigéncias do momento A idéia, insta ao Estado liberal, da separagio Eatado-soci dade ¢ reavaliada, dando surgimento a compreensaode que o Es- tado deve prover para que a sociedade logre superar as suas an- Blstias estruturais. Dal o progressivo estabelecimento pelos Es- tados de seguros sociais variados — de acidentes de trabalho ede satide, por exemplo. As necessidades das Grandes Guorras e 08 esforgos de reconstruct impeliram o Estado a intervir decisiva- mente na vida econdmiea © Estado, definitivamente, passa a se orientar por motiva- Bes © objetivos de justia social Assiste-se A agi sistematica do Estado sobre o processo eco- rnomico e a assungto pelos poderes piblicos de novos programas de agao. Uma diferente pletora de direitos ganha espago no cati- logo dos direitos fundamentais — direitos que nao mais corres- pondom a uma pretonsao de abstengao do Estado, mas que reivin- dlicam prestasies positivas deste, que cobram dos paderes publi- os comportament ative na sociedade civil. Sao os direitos de se gunda geragao. Intenta-se, por mefo esses direitos, buscar a liberdade real, {gual para todos, por meio do Estado, Dai os direitos proclamados assisténcia social, sadde, a edueagio, a trabalho, ao lazer ete 0 principio da igualdade de fato ganha realce nesta segunda sgeragio dos direitos fundaments # interessante notar que néo apenas direitos a prestagio sao snglobades nos direitos fundamentais de segunda geragto, mas Jgualmente o sao algumas fiberdades sociats — como a liberdade do sindicalizagao eo direito de greve —, bem assim direitos fun- damentais dos trabalhadores — como o direito a salério-minimo, ‘0 repouso semanal remunerado ete.* Seve, 0b it, p50, Esses direitos sto chamados sociais, nio porque sejam dire: tas de coletividades, mas, sobretudo, por atenderem a reivindiea- gies de justica social. De toda sorte, esses direitos tém por titula- Fes, na maior parte dos casos, individu. [Na sintese de Peres Lufo, os direitos de segunda geragio siio motivades pela tomada de conseiéncia de quealiberdade sem igualdade nao conduz a ume sociedade livre e pluralista, mas a uma oligarquia, vale dizer, a liberdade de alguns e nao.tiberda ddede muites", ainda que nao se poasa perder de mira que a igual ‘dade sem liberdade nao conduz a democracia, mas ao despotism, ‘useja, ¢ igual submisedo da maioria & opresstode quem detem 0 poder (situasao que evoca a divisa do igualitarismo einico do Ani- mal Farm de George Orwel, a teor de qual, ‘todos 0: animais slo iguais, mas alguns sdo mais iguais que outros’).”” Os chamados direitos de teresira geragao dirigem-se & prote- ‘eo, nao do homem isoladamente, mas de coletividades, de gru- pos, endo direitos de titularidade difusa ou cletiva, Tem-se, aqui, Odieito& paz, & autodeterminagao dos povos, ao desenvalvimen: to, 8 qualidade do meio ambiente, a eonservagso do patriménio Iistérico e cultural. A situagio dessas reivindieagSes como direitos fundamentais ‘tem sido objeto de questionamento doutrindrio, quer pelo cardter vvago do seu conteddo, quer porque a titularidade deles recai so- bbreo Estado ou a naglo, eausando estranheza."° Norberto Bobbio do hesita em ironiné-los: “A sien coisa que até agora se pode dizer é que sio ‘exprossio de aspiragies ideais, As quais o nome de direitos" Serve unicamente para atribuir um titulo de nobrera” Jorge Miranda acresconta & censura 0 argumento de que “os direitos dos poves [por exemplo] nao podem ser, de medo algum, ‘confundidos com direitos fundamentais (até porque, nos ultimos ‘rinta anos, houve regimes politicos que os invocaram precisa ‘mente para esmagar direitos fundamentais)"." nag, "Port Lo. Lae Deron Fundamental, Made Teens, 100, pg ropssite, Sasa, ob, cit, pg. "Are dos Dislee. Ri, Eton Campus, 1992, pig. ® "Miranda ob. pa. 3 Como quer que seja, no Supremo Tribunal Federal, ja se fox referéncia & terevira geragao de direitos fundamentais, mencio rando-se como exemplo deles, entre nds, 0 estabelecido no art 3225, caput, da Constituigdo. Assim, lé-se no RE 134.297-8/SP (DJ 22,9,95), rel.o Min, Celso de Mell: “Direito 20 meio ambiente ecologicamente equilibrado ‘ consagragio constitucional de um tipice dieite de terceira jeragao (CF, art, 225, caput). Da mesma forma, no MS 22.1640/SP, rel. o Min, Celso de Mello, (DJ 17/11/95, 39206): “A QUESTAO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE, ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. DIREITO DE TER- CEIRA GERAGAO, PRINCIPIO DA SOLIDARIEDADE, — 0 direito a integridade do meio ambiente — tipico direito de terecira geracao — constitui prerrogativa juridiea de titularidade coletiva, refletindo, dentro do prosesso de afirmagio dos direitos humanos, a expressao significativa de lum poder atribuido, nio ao individuo identificado em sua singularidade, mas num sentido verdadeiramente mais abrangente, & propria coletividade socal Enquanto os direitos de primeira geragio (direitos eivis « politicos) — que compreendem as liberdades classicas, ne- kativas ou formais — realgam o principio da liberdade e os direitos de segunda geragao (direitos econdmicos, sociais € culturais) —que se identificam com as liberdades positivas, reais ou coneretas — acentuam o principio da igualdade, o¢ direitos de terceira geragao, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuides genericamente a todas as formagoes sociais, consagram o principio da solidariedade © constituem um momento importante no provesso de desen- volvimento, expansiio ¢ reconhecimento dos direitos huma- nos, earacterizados, enquanto valores fundamentais indis- poniveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade,” # importante salientar que a tricotomia diz respeito apenas f diforenga de momentos em que esses direites surgem como rei- vindicagGes acolhidas pela ordem juridica [Nao se deve incorrer no equivoco de supor que uma geragao hhaja suplantado a outra, Os direitos de cada geragao persistem he gernentutica Contitucona ¢Disites Pundaments flidos juntamente com os direitos da geracio seguinte. Apenas, rde ocorrer deo seu significado ter que se adaptar as novidades Prnstitucionais, Desee modo, o direite livre eireulagao ou tantos Saltros direitos aliberdade nao guardam, hoje, o mesmo conteado (Que apresentavam antes que surgissem direitos de segunda gers com as suns reivindieagdes de justica social, ¢ antes que sur- Fisvem direitos de terceira geragao, como o da protegao ao meio Embiente. Os novos direitos nao podem ser desprezados quando fe trata de dofinir aqueles diroites tradicionais. Pode ocorrer ainda, ave alguns chamados novos direitos se jam apenas os sntigosadaptados as novasexigenciaa do momen: {SrAsin, por exempo aratin ora crn manipulages ican nada mais expressa do que o clanio direito vida con entado com os avangordaciéacia eda Vena, A visio dos direitos fundamentais em termos de gerasbes indica o cardter cumulative da evolugao desses direitos no tempo, Nao se dove deixar de situar todos os direitos num contexto de ‘unidade e indivisibilidade, Cada direito de cada geragio interage ‘om of das outras e, neste processo, dé-se a compreensio, 8. CONCEPCOES FILOSOFICAS JUSTIFICADORAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Busca-se encontrar em sistemas de pensamento diversos uma justificagio para os direitos fundamentais, uma justificagao filo- ffiea que 08 torne necessarios eos reforce. O problema & que ha ‘uma variedade considersvel de vertentes Hiloséfico-juridicas dispu tando a justficativa dos direitos humanos. Jorge Miranda anota Iéltiplas concepeies filoséficas neste campo de debate, muitas vyeres excludentes entre si.” Assim, para o8 jusnaturalistas, os direitos do homem sao imperatives do direito natural, anteriores e superiores & vontade do Bstado, Ji para os positivistas os direitos do homem sto facul- dades outorgadas pola lei e reguladas por ela. Para os idealistas, ‘6 direitos humanos sto idéias, principios abstratos que a reali dade vai acolhendo ao longo do tempo, a0 passo que, para os rea listas, seriam o resultado direto de lutas sociais e politias. S Micanda ob. pa 0. A conscitncia da dificuldade de harmonizar as muitas con. ‘copgdes leva alguns a recusar utilidade ao estudo da fundamenta. ‘e20filosofica dos direitos fundamentais, entendendo que 0 pro- lema mais premente esta na necessidade de encontrar formulas para os proteger. Bobbio", a propésito, afirma ilusério buscar um fundamento absoluto para os direitos fundamentais. A variedade de direitos ‘dos como tals seria uma evidéncia de que nao se pode falar em direitos humanos por sua propria natureza. Bobbio ressalta, ainda, que a tentativa de fixar um funda. mento absolute para os direitos fundamentals seria eontraprodu. cente ao proprio desenvolvimento desses direitos. Argumenta, esse sentido, que dois direitos fundamentais, que estejam em linha de chogue, nao podem apresentar, um ¢ outro, um mesmo fundamento absolute, até por impossibilidade Logica Ressalta o autor que, quando a teoria jusnaturalista tomo por absoluto o direito de propriedade, ela propria se tornou um fentrave, por largo tempo, a0 progresso social. Dal arrematar: “0 Fandamento absolute nao é apenas uma ilusao, em alguns easos,¢ ‘também um pretexto para defender posigoes conservadoras".* Os direitos humanos seriam frutos de momentos histricos di forentas e a sua propria diversidade ja apontaria para a convenitn- cia de nao se concentrarom esforgos na busca de um fundamento ‘absoluto, valido para todos os direitos em todos os tempos. Ao invés, Seria mais prodcente buscar em cada easo conereto os varios funda: ‘mentas possiveis para a consagragio de um direito como fundamen- tal, sempre tendo presentes as condigbes, os meios as stuagdes nas ‘quais este ou aquele direito havera de atuar." Nao bastaria, assim, ‘que um direito encontrasse bons fundamentos filoéficos, aeitas 20 tomiento, para ser postivado, seria indispensavel oconeurso de con- Aigbes sociais e histrieas para que tal venha a ocorrer. 4. NOCAO MATERIAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (FUNDAMENTALIDADE MATERIAL) ‘As raztes mesmas da dificuldade de encontrar um fund: mento ultimo para 08 direitos humanos concorrom para que tani "A Bea doe Dieto, pli. 17. id ae. 26 | itels, como a de que" permenttice Conetitcinal «Dire Fundamentaie 18 bém se torne dificil uma conceituagio dos direitos humanos que gerevele abrangente e com conteddo signifieativo proveitose, Bobbio!” lembra, neste aspecto, que a expresso direitos do shomem é muito vaga e acaba conduzindo a definigdes tautologicas, direitos bumanos so os que eaber a0 fbomem enquanto homem". Ou ainda, leva a conecitas que, de tao [bertas, pouco dizem por si mesmos, como a definigao de direitos dohomem como sendo aqueles “cujo reconhecimento & condigao ‘secesséria para o aperfeigoamento da pessoa humana” — o que ‘io presta muita ajuda, pois nao hé univocidade quanto ao que se fentende por aperfeicoamento da pessoa humana; ao eontrario, 0 ema oxtremamente polémico e tributario de ideologias hostis entre si. De fato, 0 catalogo dos direitos fundamentais vem-se avolu- ‘mando, conforme as exigéncias especificas de cada momento his- Arico. A classe dos direitos que sao considerados fundamentais io tende a homogencidade, o que diffculta uma conceituagao material ampla e vantajosa que alcance todos eles. A prépria es- tratura normativa dos diversos direitos fundamentais nao ¢ coin dente em todos os casos ‘Noentanto, descobrir caracteristicas basicas dos direitos fun- damentais nao constitui tarefa meramente académiea. O esforgo pode ser necessario para que se identifiquem na ordem juridiea Aireitos fundamentais implicitos ou fora do eatdlogo expresso da Constituicao Vieira de Andrade, enfrontando a questio, pretende que, em ‘ltima analise, 0 ponta earacteristico que serviria para definir ‘um direito fundamental, seria a intengao de explieitaro principio da dignidade da pessoa humana." Nisso estaria a fundamentals dade material dos direitos humanos. Se fosse necesséria prova para demonstrar a polémica que o assunto envolve, bastaria citar a critica que Canotilho faz a essa featativa de entrelagar o principio da dignidade humana na na- tureza dos direitos fundamentais, Essa eoncepedo, segundo 0 pro fessor de Coimbra, “expulsa do catdlogo material dos direitos to dos aqueles que.ndo tenham um radical eubjtivo, isto 6, ndo pres tuponham a idéia-prinetpio da dignidade da pessoa humana. O id, pa 7 ‘Vinie de Andrade, ob it, pig 85. resultado a que chega é um exemplo tipico de wma teoria de dire tos fundamentais ndo constitucionalmente adequada”.!” & inadequasao estaria em que a Constituicao portuguesa — como a brasileira — também eonsagra direitos fundamentais de pessoas coletivas, a denotar que a idéia de dignidade humana nao seria ‘sempre o vetor definidor dos direitos fundamentais. Efetivamente, se observarmos orol do art. 5, da nossa Cons. tituigdo, serd difill ver nos ineisos XXI, XXV, XXVIM e XIX di reitos que tenham como fundamento precipuo o principio da dig. nidade humana Ereconhecido que discernir num determinado dircito a nota 4a fundamentalidade material encorra atividade marcada pela ‘subjetividade do intérprete e toda forma, embora haja direitos formalmente consagra- ‘dos como fundamentais que nao apresentam ligagao diveta com 0 prinefpio da dignidade humana, ¢ esse principio que inspira os tipicos direitos fundamentais, alendendo a exigéneia de respello vida, 8 integridade fisieae intima de cada ser humano e & seg ranga. Bo principio da dignidade humana que justificao pastula do da isonomia ¢ que demanda férmulas de limitagao do poder, prevenindo o arbitrio e a injustica, Nessa medida, ha que se convir em que “os direitos funda- meniais, a0 menos de forma goral, podem ser considerados oneretizagtes das exigénclas do pinepio da dgnidade da pessoa 0s direitos e garantias fundamentais, em sentido material, ‘fo, pois, pretonsdes que, em cada momento histéricn, se deseo: ‘brom a partir do valor da dignidade humana, 0 problema persiste, porém, quanto a discernir que preten: shes podem ser eapituladas como exigéncias desse valor. E aqui, fem cortos casos, efetivamente, a subjetividade do intérprete ha de interferir decisivamente, mesmo que condicionada a opiniao predominante, informada pelas eircunstancias sociis eculturais, ‘do momento considerado, Prieto Sanchis sugere que se procure a resposta na compre ‘ensto historica dos direitos. "Histaricamente —advoga —, 08 di man REP lbe ig Comba «Tere da Conte Sara, pg 108 ermentuti Constiueianale Dirias Fundamentals a reitos humanos tim a ver com a vida, a dignidade, a liberdade, a Ggualdade e a participasdo politica ®, por conseguinte, somente Ktcremos em presenga de um direito findamental quando ve pos fa razoavelmente sustentar que o direto ou instituigdo served al gum desses valores" A concepedo nao se arreda daquela que postula que os dire tas fandamentais tém a ver com valores proprios da dignidade ‘bumana; apenas parece indicar que a Historia liga a esse princi. | plo.os bens referidos pelo autor expankol (vida, liberdade, igual- "© Gade, participagao politica) Tgualmente nessa linha, a conceituagso que se recolhe em José Afonso da Silva, para quem os direitos fuadamentais desig. bam, “no nivel do direito positivo, aquelas prerrogativas e insti- © tuigdes que o fordenamento jurfdico] coneretiza em garantia de _ uma convivéncia digna, live e igual de todas as pessoas. No qua- © Iifleativa fundamentais achacse a indieagao de que se trata de si tuaées juridicas sem as quais a pessoa humana nao se realiza, info convive , as vezes, nem mesmo sobrevive™= Do acervo de jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal colhe-se que ja houve precedente em que a conceituagao material de direito fundamental mostrava-se relevante para a solugio de ‘ago direta de inconstitucionalidade. Na ADIn MC 939 (DJ 17.12.93), o Supremo entendeu que o principio da anterioridade, ligado ao poder de tributar, embora constando em lugar outro que ‘eatalogo do art. da Constituiedo, consubstancia um direitofun- damental uma garantia individual, sendo, por iss, eldusula pétrea —conclusio decisiva para a declaragso de inconstitucionalidede deemenda & Constituigao que excepcionava esse principio no aso ido Imposto Provisério Sobre Movimentagao Financeira No prevedente, 0 STF ndo chegou a se ocupar de definir um ‘onceito material de direito fundamental, mas se referiu ao crite tio historico — lowvando-se na tradicéo de se considerar o prinei- pio da anterioridade como direito fundamental (voto do Ministro Néri da Silveira e, em certo sentido, do Ministro Celso de Mello) —e aludiu & circunstancia de o principio se vincular a outro, de induvidosa fundamentalidade, relativo a seguranga juridiea (f. ‘se infore dos votos dos Ministros limar Galvao e Celso de Mello) * Prict de Sanchit.Extaios ere Derechos fondamentales, Meds, De te, 1008 pe aac Sade Sat, Sua de Dive Connasna Poe, te Pal, ¢ Diretos Fundament, 0 julgado deixa ver que o STF ¢ sensivel A identifieagao de normas de direito fundamental fora do eatalogo especifico, a par. tir do exame da existéncia de um especial vinculo do bom juridico protegido com alguns dos valores essenciais ao resguardo da dig: hidade humana enumerados no caput do art. 5 da Carta (vida, liberdade, igualdade, seguranca e propriedade). E, para tal pes. quisa, consideragies de ordem histariea desempenham papel nia. ogligenciavel 5, CARACTERISTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Se a tarefa de concoituar os direitos fundamentais enfrenta algumas dificuldades, fixar-Ihes earacteristicas que sejam sem- pre validas em todo o lugar também 6 mister complexo, se 6 que possivel No interior dos Estados democréticns, 0 modo como so tra tados os direitos fundamentais varia, Como indica K. Hesse, “as solugdes oscilam desde a regulacdo por um eatélogo minucioso de direitos fandamentais na Constituigao (come acontece na Alema nha), ou remeter-se a uma Declaragao histériea de Direitos Hu: ‘manos (como na Franca), até reeonhecer vigeneia aos direitos fun damentais como garantias nao-esertas (oma ocorreeasencialmen tena Gré-Bretanha). Da mesma maneira sao diferentes 0 desen- volvimento concreto dos direitos fundamentais, a medida em que binculam 0 legislador ou a fisealizagao judicial para garantir @ ‘sua observancia™. Dai a conclusao de que "a valider universal dos direitos fundamentais nao supde uniformidade, A rasdo é bem obert leas, em “Diritos Fundamentals no Estado Constituions! Democratea® (Revita de Paculdede de Direto da UFRGS, to 16, 1000, pag 20 traugie de Las Aono Heck) sugere que tlhe date testes pars se oh ele eonbeers propos “Nos objets dos dito do home, deve trata de nereser «care ‘aa para ta Guus vale tae dstintae Bove trae prise gar de Interest’ careacias que ex gra, podem «dever str protgidos omen ‘du peo tet. Assim, mitoe foment tm ume erenisRndamental de at 25'Gantuo, nia esate un dieto do homer ao emer, porque 0 amor no so ‘ise Tovar elo rts A segunda condo quep interanc ou carci jt to Turdimenta que ameeenatinde Sone erp ean protease foment entida fundamental quando nn violin au nfo-satiafaao sion a morte o8 etrmeato gave ou toc nomen enema da auton Bersendatice Copstituinel¢ Dizatoe Fundamentals conhecida: 0 conteiido concreto ea significacio dos direitos fun damentais para um Estado dependem de numerosos fatores fextrajurtdicos, especialmente das peculiaridades, da cultura eda Iistéria dos povos.”™ Isso tudo nao obstante, nao ha negar semelhangas impor- tantes entre 0 nosso sistema de protegao de direitos fundamen- tals © aqueles que prevalecem na Alemanha, na Espanha e em Portugal. ‘Mesmo tendo presente a necessidade de situar os direitos fundamentais em contexto especifico, 6 caso de se analisarem as caracteristicas que Ihes #80 associadas com mais frequéncia, 5.1 Direitos universais e absolutos Nao éraro ouvir-se que os direitos findamentais sais absolutes. 0 trago da universalidade deve ser compreendido em termos. [Nao 6 impréprio afirmar que todas as pessoas sio titulares de direitos fundamentais e que a qualidade de ser humano constitui condigao suficiente para a titularidade de tantos desses direitos, Al- guns direitos fundamentais especifios, porém, nao se ligam atodas ‘qualquer peasoa. Na lista brasileira das direitos fundamentais hi direitos de todos os homens — como o direito a vida —, mas ha também posigdes que nao interessam a todos os individos,refe- Findo-se apenas a alguns — aos trabalhadores, por exemplo. Isso significa que o constituinte “também quis privilegiar certos bens que vem satisfazer necessidades do homem historic, 4, e., de alguns homens na sua especifica posigao social, A fundamentalizacio dosses direitos implica reconhever que deter: ‘minados objetivos vitais de algumas pessoas tém tanta importan- «a como os objetivos bésicos do conjunto dos individuos™ ® De outro lado, nao ¢ exato falar sempre em universalidade, ‘quanto ao pélo passivo das relagdes juridieas em torno de um di Feito fundamental. Hé casos em que se discute o delicado proble- tma de saber se os direitos fundamentais tim por obrigados nao #5 ‘%8Raderes Pablicos como também os particulares; em outros ca- Konrad Heat. “Sigifeae delet Drschoe Fundamentals” in Benda € ‘stron: Maral de Derecho Contusonal Madr, Mar) Pon, 1086 page 6488 ‘Gunship. 82 0g, hé direitos que, por sua natureza, apenas podem ter por abi. sgado o Bstado(v.g., 0 direite de petigao aos érgios pablicos). Pode-se ouvir, ainda, que os direitos fundamentais sio abso. Iutos, no sentido de se situarem no patamar maximo de hierar. quia juridiea e de nao tolerarem restrigao, Tal ideia tom premissa ‘ho prossuposto jusnaturalista de que o Estado existe para prote- ger direitos naturais, como a vida, a liberdade e a propriedade, fue, de outro modo, estariam ameacados. Se é assim, todo poder aparece limitado por esses direitos e nenhum objetivo estatal ou social teria como prevalecer sobre eles, que teriam prioridade ab- soluta sobre qualquer interesse coletivo Essa assertiva esbarra em dificuldades para ser aceita. Mes- ‘mo os diversos tribunais que o direito comparado conhece, dedi- cados A protegao de direitos humanos, proclamam amiudadamente ‘que os direitos fundamentais podem ser objeto de limitagdes, nao ‘sendo, pois, absolutes, Prieto Sanchis noticia que a afirmacio de ‘que “nao exitem direitos ilimitedos ge eonverteu quase em cli Sula de estilo na jurisprudéncia de todos os tribunais competen- tes em matéria de direitos humanos". Em sistemas aparentados a0 nosso, tornov-se pacifico que os direitos fundamentais podem sofrer limitagdes, quando enfren- tam outros valores de ordem constitucional, inclusive outros di- reitos fundamentais. Igualmente no Ambito internacional, as declaragdes de di roitos humanos admitem expressamente limitagdes "que sejam ‘ecessérias para proteger a seguranga, a ordem, aside ou a moral pablica ou os direitos e liberdades fundamentais de outros” (art 418 da Convengao de Direitos Civis e Politicos de 1968, da ONU?. Aleitura da Constituigdo brasileira mostra que essas limi ‘es so, as vezes, expressamente previstas no Texto. Até 0 ele- rmentar direito a vida tom limitaao explicita no inciso XLVI, a, éo art. 5, em que se contempla a pena de morte em caso de guerra declarada. O direito de propriedade, de seu turno, encontra limita bes tanto paraa protest de direitos ambientais, eomo para ate era fungées sociais, inclusive admitindo-se a desapropriagao, A exemplo dos sistemas juridicos em que se abebera odireito brasileiro, portanto, nao ha, em prinetpio, que se falar, entre nés, Hemmentsties Constitucional¢ Digits Pundamentoie en «em direitos absolutos. Tanto outros direitos fandamentais, como Gotros valores com sede constitucional podem limits-los.” 5.2. Historieidade ‘So 08 direitos fundamentais néo slo, em principio, absolu- 4s, nfo podem pretender valia univoea de contetido em todo o tempo ¢ em todo lugar. Por isso, afirma-se que os direitos funda~ ais sho um conjunto de faculdades instituigdes que somen- {efazem sentido num determinado contexto histdrico.» O recur- 08 Historia se mostra indispensavel, para que, a vista da genese edo desenvolvimento dos direitos fundamentais, cada um deles te torne melhor compreendido. Veja-se, por exemplo, que, com base na Historia do principio da legalidade em matéria penal, sustenta-se nio caber & medida proviséria dispor sobre configu: raga de tipo penal O carater da historicidade, ainda, explica que os direitos pos: ‘sam ser proclamados em certa época, desaparecendo em outras, fou que se modifiquem no tempo, Revela-se, desse modo, a indole fevolutiva dos direitos fundamentais.® Easa evolugio 6 impulsionada pelas Tutas em defesa de no- vas liberdades em face de poderes antigos — ja que os direitos fundamentais costumam ir-se afirmando gradualmente — e ex face das novas feigGes assumidas pelo poder” 7 Babb, no ostante, mentions um dit, prdiamado em instrues tos inteeatonsn que scria abstr oto io er eneraiead (ebb, ee pia) © drut ie ser matron 3 poms cacs at 8, LNT, 4: GP) Beh parece tampouersureatvel de lnieart. iso tlves se exllgce, Aodre em ant go al diet, reaiade xpresnapeapetva do seo steers diets ncieoidede as. "nvir de Leas "Algooesequocn sre leoceptoyfundaentace ston derechos human" in Sosbe Balser estar” betesou Humanet Bia tector, 198, par. ves ca eet Af da Sa Car de Dit Constacoa Po bhi bce conrmar a ee, sponta que Sherdade eins € sia das guoran Go sigino ierdaes ct data dw ara cos freon sobfanoraasatnaiverdae oie au ierddes fc, 0 Bat ‘ot, tscoat ennareinents do movies doe rtaladore cel “aor dor samgonores cam pooeau enka err, ds pobres que exe ds Dolerée pico nus wo recoobcinento da orandepeuol eas berdaes Spelman peed ea nr deseo ler es veltice" Bobi: ob tb Para Norberto Bobbio, tudo conflui para a evidéncia de que os direitos nfo nascem todos de uma s6 vez, "Nascem quando de- vem ou podem nascer. Naseem quando o aumento do poder do hhomem sobre o homem eria novas ameagas & liberdade do indivi. dduo ou permite novos remédios para as suas indigeneias: amea. fas que sao enfrentadas atraves de demandas de limitagao de po- der; remédios que sto providenciados atraves da exigéncia de que ‘o mesmo poder intervenha de modo protetor™" Ilustragso de interesse pratico acorca do aspecto da histori- cidade dos direitos fundamentais ¢ dada pela evoluggo que se ob- serva no direito a nao receber pena de earater perpétuo. Tanto Constituigao atual como a anterior estabeleceram vedaglo A pena de carter perpétuo. Base direito que antes de 1988 se ircunsere: via & esfera das reprimendas penais passou a ser também aplica- vel a outras espécies de sangoes. Em 15.12.98, o STF, confirmando acérdao do ST, esten- dou a garantia ao dmbito das sanctes administrativas. Alirmou {que 0 direito fundamental em tela proibe a imposigzo de sangao de inabilitagso permanente para o exereicio de cargos de admi- nistragao ou geréncia de instituigdes financeiras, imposta pelo Presidente do Conselho Monetarie Nacional. A confirmar o carter histérico-evolutivo —e, portanto, nio neceasariamente uniforme— da protegao aos direitos fundamen tais, nota-se, as vezes, descompasso na compreensdo de um mes- mo direito diante de casos concretos diversos. Assim, nao obs- tante o entendimento do STF acima mencionado, a Corte conti- ‘nua a admitira extradigdo para o cumprimento de penas de cari- ter perpétuo.* 5.3. Inalienab fidadelindisponibilidade Inaliendvel 6 um direito ou wma coisa em relagio aos quais esta exclutdos quaisquer atos de disposigio, quer juridica — re- nincia, compra-e-venda, doagao —, quer material — destruigao material do bem. Isto signifiea quo um direito inaliendvel nao Sid pa. 6 © RE 154134SP, re. Min. Sydney Sanches, julgmenta em 16.12.98. a MS 1119 — RSTs 2827, Bate, sta (TY 15290), Bete. $60.00 (DY 20/906) « Ext ‘ute jigameato em 16298 (nformativa STF n 100). Mermentutiea ConstitucepaleDirtos Fundamentals 1 admite que o seu titular o torne impossivel de ser exereitado para ‘simesmo, fisica ou juridicamente." Exemplificando, so direitoa integridadefisica ¢inaliendvel, ‘ individuo ndo pode vender uma parte do seu corpo ou uma fun ‘fo vital, nom tampoueo se mutilar voluntariamente.™ A inalienabilidade traz uma conseqiéncia pratica importan- te—ade deixar claro que preterigio de um direito fundamental io estard sempre justificada pelo mero fato deo titular do dire tonela consentir Os autores que sustentam a tese da inalionabilidade, afir- mam que ela resulta da fundamentagao do direito no valor da dig- nidade humana — dignidade que costumam traduzir como conse- ‘qutncia da potencialidade do homem de ser auto-consciente vre." Da mesma forma que o homem nao pode deixar de ser ho- ‘mem, ndo pode ser livre para ter ou nao digaidade, o que acarreta aur Dieta nao pode permite que o home se rived sua Martinez-Pujalte busca ainda justificar essa assertiva, do ponto de vista pratico,salientando que o homem é, por definigio, lum ser social, em interagao com outros homens. Assim, "se uma pessoa atenta contra sua dignidade, isto significa atentar contra deveres que podem ligar a outras pessoas (um pai pode ter deve res frente a seus filhos, um devedor frente a seus credores, ama pessoa casada frente a seu cinjuge...), dveres cujo cumprimente Yer-se-ia dificultado ou impossibilitado se a pessoa perdesse 08 atributos que configuram a sua dignidade" "© ‘Uma vez que a indisponibilidade se funda na dignidade bu mana o esta so vineula & potencialidade do homem de se autodeterminar e de ser livre, nem todos os direitos fandamen- tais possuiriam tal earacteristiea, Apenas os que visam resguar- dardirotamente a potencialidade do homem de se autedeterminar deveriam ser considerados indisponiveis. Indisponiveis, portan- to, seriam os direitos que visam a resguardar a vida biologica — sem a qual nao ha substrato fisico para o coneeito de dignidade — Fearne Pale “Lon deren humanes come deve ilies tn alsin cca se, page 878 18, pag 93 ob it nde Hermentstin Constituconal Diets Fundsmentais ‘ou que intentem preservar as condigdes normais de sade fisiea mental bem como a liberdade de tomar decisées sem coergao ex- ‘Nessa perspectiva, seria inaliendvel o direito a vida — ca. racteristica que Lornaria inadmissiveis atos de disponibilidade patrimonial do individuo que o reduzissem & miséria absoluta, ‘Também o seriam os direito A sade, & integridade fisiea eas lic berdades pessoais (liberdade ideoldgica ¢ religiosa, liberdade de cexpressto, direito de reunito).” Do ponto de vista prético, o cardter inaliendvel entrevisto ‘em alguns direitos fandamentais conduziria a nulidade absoluta, porillcitude de objeto, de contratos em que se realize a alienagao {desses direitos, Seria nulo, por exemplo, o contrato que previsse a ‘esterilizagio voluntéria irreversivel.” [Na doutrina nacional, José Afonso da Silva acolhe essa ea- racterfstica. £ preciso, porém, cautela no trato desse predicado classico dos direitos fundamentais, Nem sempre o ebservador consegue lapurar eom seguranga quais os direitos que seriam inaliendvels, ‘As consequéncias praticas advindas da adjetivagio de certos di reitos fundamentals como inalienaveis podem, de toda sorte, ser ‘obtidas por outra gama de argumentos, ‘A respeito da indisponibilidade dos direitos fundamentais, ainda, é de se ver que a realidade mostra que sto frequentes — & aceitos — contratos em que alguns direitos fundamentais sio dei- Xados 8 parte, em virtude do exercicio da propria iberdade de contratar, que resulta da autonomia que a ordem juridica reco- ‘nhece aos individuos. A liberdade de expressio, vg, cede as im posigbes de ndo-divulgagao de segredos obtidos no exorcicio de um {trabalho ou profissdo, A liberdade de professar qualquer f6, por sea furno, pode nfo encontrar lugar no recinto de uma ordem re- Tigiosa especifica. Arelativizagio da caracteristica da indisponibilidade opera, aqui, para tornar aceitavel que, em nome da autonomia contratual, se reduza, em certos casos, o aleance de um direito fundamental, id ob i, pg 8 (ob. pg. 08 1:5. A daSilva, Curso de Diceito Constituiona Povo. Sto Paulo Matiz, 1002 pe 185 Hermentutica Constitucona eDitos Fundaeatais as desde quo respeitados cortos limites. Canotilho, a propésito, em: ‘bra que, embora se admitam limitagdes voluntirias quanto a0 ‘exercicio de direitos especificns em certas condigdes, nao é possi- ‘ela reniincia a todos os direitos fundamentals. Bssa gutolimitagao {oluntéria, que deve estar sujeita a revoagio a todo o tempo, ba de quardar relagao razoével com afnalidade que se tem em vista 4, Com: ritucionalizagao Uma caractoristica associada aos direitos fundamentais diz ‘como fato de estarem consagrados em preceitos da ordem jurfdi- ‘a. Esta caracteristica serve de trago divisor entre as expressoes Gireitos fundamentais e direitos humanos. A expressii direitos humanos, ou direitos do homem, 6 re- ‘servada para aquelas reivindicagdes de perene respeito a certas posigtes essenciais ao homem. Sao direitos postulados em bases Josnaturalistas, contam indole floséfiea e nto possuem eomo ea Facteristiea basica a positivagio numa ordem jurfdiea particular A expressio direitos humanos, ainda, e até por conta da sua ‘vocagio universalista, supranacional, ¢ empregada para designar pretensoes de respeito a pessoa humana, inseridas em tratados ¢ fem outros documentos de direito internacional. 1a locust direitos fundamentais&reservada 208 direitos ‘elacionades com posigoe basins das pessoas, insritas em die Blomas normativos de cadn Bota, Sto dretos que vigem numa trdem jurdicnconcreta, sendo, por isso, arantidese himitados to sapaye« no tempo ~ pois sko assogurades na medida em que eada Estado os consagra.* - Essa distingio conccitual nao significa que os direitos huma- ‘aos © os direitos fundamentais estejam em esferas estanques, in- famunicdveis entre si, Hé uma interagio reeiproca entre eles. Os tos humanos internacionais eneontram, muitas vezes, ma- -lriznos dizeitos fundamentais consagrados pelos Estados e estes, eu turno, nfo rare acolhem no seu catalogo de direitos funda. Mentais direitos humanos proclamados em diplomas e em deel Fagies internacionais. E de se ressaltar a importineia da Deela- % Gatto, bt pe. 42-423. propio, Cantilo, ob. ie, pag S60. Tame Sere, ob. elt pg 135 ermentutic Consitucona «Distr Pundamentais ragdo Universal de 1948 na inspirago de tantas constituigdes do pés-guerra Bases direitos, porém, nao sio coincidentes no modo de pro- topo ou no grau de efetividade. As ordens internas possuem me- canismos de implementagio destes direitos mais eéleres e efiea ‘es do que a ordem internacional Se 6 verdade que um direito fundamental peculiariza-se por ‘estar recepeionado por algum preceito de direito positive, 6 tam- ‘bem fato que, no direito comparado, essa téenica de recepcto pode vvariar. No direito brasileiro, como nos sistemas que Ihe sio proxi tos os direitos fundamentais se definem como direitos constitu- Essa caracteristica da constitucionalizagdo dos direitos fun- \damentais traz consequéncias de evidente relevo. As normas que bs abrigam impaem-se a todos 08 poderes constituidos, até ao po- dder de reforma da Constituigso. 5.5. Vinewlagao dos Poderes Publics O fato de os direitos fndamentais estarom provistos na Cons. tituigao torna-os pardmetros de organizagio e de limitasao dos poderes constituidos. A constitucionalizagio dos direitos funda- Imentais impede que sejam considerados meras autolimitagDes dos poderes constituldos — dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju- ‘dicidrio—, passiveis de serem alteradas ou suprimidas ao talante ddestes, Nenhum desses Poderes se confunde com o poder que con- ‘sagra o direito fundamental, que lhes é superior. Os atos dos po- deres constituides devem conformidade aos direitos fundamen- tis ese expiem a invalidade se os desprezarem. Os direitos fun- damentais qualificam-ee, juridicamente, como obrigagies indecli- naveis do Estado [No ambito do Poder Legislative, éenfatizar 0 dbviodizer que 8 atividade logiferante deve guardar coeréncia com 0 sistema de direitos fundamentais, ssa vinculagio do legislador aos direitos fundamentais pode vir a impor-lhe que assuma um comportamento positive, tornan- do imperiosa a edigao de normas que déem regulamentacao 20s direitos fundamentais dependentes de concretizagio normativa, Um direito fundamental pode necessitar de normas infra- constitucionais que disciplinem 0 processo para a sua efetivacio . Hermentatia Conatiucopal ¢ Dinitos Fundaments a ou que definam a prépria organizagio de que depende a sua efeti vidade (pense-se, vg., no direito a ampla defesa). A inércia do Iegislador em satisfazer uma imposigao de coneretizagao do direl tofundamental pode ensejar a apo direta de inconstitucionalida de por omissdo ou mandado de injungao, + ea, também, que, mesmo quando a Constituigao entrega ao legis- Jador a tarefa de restringircortas direitos (par exemplo, o de livre sxercicio de profissio), o logislador haverd de respeitar o nscleo fssencial do direito, nao estando legitimado a eriar condigies desarrazoadas ou que tornem impraticdvel odireita previsto pelo § constituinte. Neste sentido, o STF jé declarou a inconstitucionali ¢ dade de limitagao, por desarrazoada, de um period de quarente- ‘na de dois anos, a que certa lei submetia of juizes aposentados, ‘antes de passarem a exercer a advocacia." ‘Aspecto polémico referido a vineulagao do legislador aos di- reitos fundamentais diz com a chamada proibiggo de retracesso ‘Quem admite tal vedacao, sustenta que, no que pertine a direitos fandamentais que dependem de desenvolvimento legislative para se concretizarem, uma vez obtide um certo grat de sua realiza- ‘io, legislagdo posterior ado pode reverter as conquistas obti: A realizasio do dircito pelo lgislador constituiria, ela propria, ‘uma barreira para que a protepio atingida venha a ser desfeita tem compensagies Para Canotlho,o riaipo da poibgso de retroess social formula-se assim: "0 nucleo escencil dos direitos socats i real doe efetioadaatraves de medidas leislativas deve considera: feconsltucionalmente garantid, sendo inconaitaciona quae fuer medida etaduss que, so @erigao de outros exquemes Sttenatioor ow compensaioriey, we tradusom na pratia numa ‘anulaga’ revogaga” ou ‘aniguilag pura simples desse mi theo esvencia* O ator cit, como exeapla de nconstivcional Sade resultante da violago do principio da probig da retroces so social, uma fel que alargue despropersienalmente «tempo de tervigo eceandrio para aquiaighe do direlto apossatadoria. Esse principio nfo tem aceitagto universal na dovtrna, Vieira de Andrade e Afunso Var recusam que poses ser genera: amen ncit, sustentando que lepsador gorse Hburdade “apron ot 1084 OY 10987 «Cota tp 28 Hermeneutics Copstiuconal eDisitosFundamenta Hermontutica Conetitucona e DisitosFundameotsis 129 conformativa desses direitos, podendo revé-los. A interpretasag mites que Ihe acenam os direitos fundamentais. Em especial, os Ga Constituigio nao poderia ievar a destruigao da autonomia dy | * gireitos fundamentais devem ser eonsiderados na interpretagio € logislador.* ‘plicagto, pelo administrador pablico, de elausulas gerais e de ‘Acentue-se que mesmo 0s que acolhem a tese da proibigio dy | eanevits juridicosindeterminados.” trun totalmente, sem alternativas,o direlto antes positivado.” ‘administrador realizar, ele proprio, juizo de ineonstitucionalida- Ressalte-se que também o poder de reforma da Constitwigay |.’ de de uma lei e se recusar a Ihe dar aplicagdo, por entendé-la acha-se vineulade aos direitas fundamentais, ao menos na medi. dliscordante de um direito fundamental. dda em que o art. 60, § 4, da Carta, veda emendas tendentes a A jurisprudéncia atual do STF nao fornece uma solugi se: abolir direitos e garantias individuais. ura para problema. # certo que, antes da Constituigio de 1988, [Nao somente os atos normativos do Poder Legislativo suje | Suprema Corte, mesmo enfrentando argumentos eriteriosos, tam-se aos direitos fundamentais, Também outros atos des ‘po: | arientou-se.no sentido de admitir a possibilidade de o governador dor, com efiedcia externa — atos de comissies parlamentares de texpedir ato, determinando aos seus servidores o descumprimento inquérito, p-ex.; ado escapam a sujeigao aos direitos fundamen | dele por ele estimada invalida, por desrespeitosa a Constituigao tais. Registrem'se, a propésito, os procodentes do Supremo Tri Federal. Afirmava o STF que, evideatemente, a estimativa do bunal Federal, em sede de habeas corpus ou demandado de segu- | governador nao era definitiva e nao obstava a que, em juizo, se ranga, referentes a deliberagGes de CPls das como desconformes | _gleangasse solucao diversa, assumindo a autoridade do Executivo tos direitos fundamentais. ‘as consequéncias pela recusa em cumprir a lei. A posigao do Su- ‘A Administragao, evidentemente, também se vincula aos di- promo Tribunal enfatizava que também 08 titulares dos cargos stn ndanentate expen dminiirarnempreaie nto | bxmos do Eseuto, a ara ls empetads, eset» Somente pestoas juridieas de direito publico, mas, igualmente, | compromisso de cumprir e defender a Constituigao Federal ¢ a pessoas de dircite privado que disponham de poderes pablicos, de | recusa em dar exeeuedo a ato contrario A Constituigio nao deixa- Taculdades do jus imperium, ao tratarem como particular. A io | va de ser uma forma de defendé-la."= | ser assim, estaria aberta avia obliqua da agdo administrativa por_| Easa jurisprudéncia manteve-se & época em que o controle de constitucionalidade tinha por titular nico o Procurador-Ceral de Republica, que era livre para encaminhar, ou nao, a0 STF pe- ‘meio de sujeitos de direito privado como modo de ladear a vine lagao do Executive ao regime dos direitos fundamentais.® A vinculagdo da Administragio as normas de direitos funds didos de declaracio de inconstitucionalidade de leis, com pedido rmentais torna nulos 08 atos praticados com ofensa ao sistema des | deliminar. Na vigeneia da Constituigo de 1988, mesmo no ambi. Ses direitos, De outra parte, a Administragdo deve interpretar€ | to do STF, suscita-se a divida sobre a atualidade dessa jurispri tricionéria da Administragaio nao pode deixar de respeitar os Ii ‘ar um juvo abatrato de constitucionsigade fe uma lel gue eceenda apliear as leis segundo os direitos fundamentais. A atividade dis Enc, em face da possbilidade de o proprio governador vira provo ‘valida, com chances de obter, prontamente, medida cautelar. Visine Andrade, bit, plgh 908:10.M. Afonso Va. Le e Resort te Li otmirn 1902; pg. 365 “© Canaine Veal Coimbra, 1091, poe 131 "Gite, aero tu iltraiv, de jurepredncia do STF, ¢110 71.099 (py oonaisey ew He 71.421 ibd 9.094) lem do lin) 25 980, DJ 300.8 ‘NB 25460 im) Dd 26, « MS 25446 im), DU 23.6.9, Mirando) sit, pS 281, Cantina, oe pigs, 404-405. Sane, ob cit pig ET Vista de tae, 0b ce paw 288 1. Pundamentos Ga Contitugte,Almedins chain dhl tok otatetcacs addon © propio, do STF, o RMS 14557, RTS 24/396 0 que we sabretads 0 voto do instea Victor Sunes, no MS i6a8b (RTD 4/60), Vecsey ual ‘Bete imprescindvel enue de bmar Ferrera Mendes, Dire iS" antl ie Cnstcnande, in Fl, Cle Bate ater, ‘Deeper hag. Si, em que eit, tnda, Rp 36D, #19 DADS v0 MS 18.886 fis Tito! : | | in 10 Hermentotin Constitulonale Dgsitn Pundamentai, [esse contest, 6 sti recordar que, depois da Emenda Cons. titucional n. 16/65, que instituiu 0 controle abstrato de normas tentre nés, tendo o Procurador-Geral da Republica como agente ‘leflagrador do processo, o STF nao admitiu quo o Presidente da Republica viesse a descumprir deliberadamente lei federal, por tentendé-la inconstitucional. Tendo presente que o cargo de Pro- ‘curador- Geral da Republica cra, entao, da confianga do titular do Poder Executive, oSTF®, seguindo o raciocinio do Ministre Vietor ‘Nunes, assentou! “Se é conclusiva a decisio do Supremo Tribunal, o ogi «0 6 que essa decis4o seja provocada antes de se descumprir {lei Anteriormente a E. C. 16-65, nfo podiamos chegar a ‘essa conclusio por via interpretativa, porque nao havia um meio pracessual singelo e rapide que ensejasse ojulgamento prévio do Supremo Tribunal. Mas esse obstaculo est arre- flado, porque o meio processual foi agora instituldo no pro- prio texto da Constitaigio" ® Abonow 0 relator do precedente o argumento de que “tendo sido aberta essa via direta para uma pronta decisto do Supremo Tribunal sobre uma lei que 0 Bxecutivo tenha por inconstitucto nal, jd ndo se the pode reconhecer a prerrogativa de negar umpri ‘mento a essa lei, por autoridade propria, carregando ao prejudi Gado 0 incdmodo eo dispéndia de suscitar a manifestacde do Po der Judiciario * Se, com o advento da representaeao por inconstitucionalida- de a que o Presidente da Repdblica tinha facil acesso, deixou-se de se reconhecer logitimidade a que essa autoridade repudiasse leis por inconstitueionalidade, idénticos motivos devem conduzir ‘aque se recuse ao Governadar, hoje, a prerrogativa de repelir a ‘execugie do lei que Ihe paroga contréria a um direito fundamen tal, que o Chefe do Executive estadval passou a gozar da titula- ridade da agio direta de inconstitucionalidade. Aparentemente, ‘entretanto, a ordem constitueional em vigor ado influiu sobre a possibilidade de o prefeito vir a repudiar a aplicagao de lel por ele tida como iavélida em face da Constituigio Federal o chefe do ag 1.980 uRTy 4600, Hermontaticn Conetitucona eDitos Fundamental sas Bxecutivo municipal continua a ndo dispor de legitimidade ativa ‘para propor a agi direta de inconstitucionalidade perante o STF. 4 Emsede doutrinéria, a polémica situa em pélos confrontantes ‘principio da legalidade, a que esta vinevlada a Administragio © fo principio da vinculagao aos direitos fundamentais, Canotilho propae, como principio basico, que se recuse A Ad: sministracio om geral ¢ aos agentes administratives o poder de fontrole de constitucionalidade das les, abrindo a estes a pers pectiva da representacio a autoridade incumbida de provocar uma {ecisto judicial sobre a validade do diploma. Admite excegao para ‘9 cas0s em que 0 agente recebe ordem de cumprir lei violadora de direitos fundamentais, quando a ordem implicar o cometimen- tede crime.” Concordando que 9 agente administrative deve provacar a ‘autoridade com competéncia para levar o caso ao descortino do Jadicidrio, Vieira de Andrade sugere, ainda, que a decisdo admi- aistrativa de aplicacao da lei fique suspensa até a decisao da con trovérsia sobre a legitimidade constitucional do diploma a ser ~ aplicado. Lembra, no entanto, a liglo de Bachof, para quem isso somente é possivel se a medida nao prejudicar direitos individuals, rem Vier a afrontar o interesse pablico* Verifica-se,¢ certo, algum consenso doutrinario, no sentido 4e que, em principio, os agentes administrativos nao dispoem de ‘eompeténcia para apreciara lei segundo critérios eonstitucionais, evendo, no easo em que entenda haver Inconstitucionalidade, Provocar a autoridade hierarquicamente superior a respeito.”” Ha também consenso no sentido de que, em determinados ‘easos limites, o agente pode deixar de cumprira lei, por entende- Ininconstitucional — em especial, quando o direite fundamental 4 Mgtedido o for francamente e puser em risco a vida ou a intogrida- de pessoal de alguem, resultando da aplieagao da let invélida 0 ‘eometimenta de fato definido como crime. Outros casos sio mais controvertides. Vieira de Andrade, ‘poiado em Bachof, sugere que mesmo fora dessas hipstes ‘ousensuais, nao se deve deaconsiderar a possibilidade de recusa e aplicagae da lei pelo administrador, sempre que um serene Caner, oe pa. 406, ‘Viera de Andrade, ob. ei, ig. 268, Se Baresi pag 828 sopesamento entre os principios da constitucionalidade e da loga- lidade o autorize, Por esee eriterio, a lei nao deve ser aplicada se a inconstitucionalidade se mostrar evidente ou se 0 agente, por- ‘undo conhecimentos juridicos para isso, estiver conveneido (nao bastando a duvida) da inconstitucionalidade. Ainda, exige-se que 08 efeitos negatives da nao-aplieagio da lei née superem 0s prejul ‘os decorrentes da sua aplicagao. Haveria, assim, um quadro de conflito entre prinepios eons titucionais, que seria resalvido segundo os eritérios do principio dda proporeionalidade. Levar-se-in em conta que a Administragéo indo € Grgio de fiscalizagao da lei e que a concessio de poderes lamplos nesse setor paderia comprometer a relacio Administra ‘o-lei, com reflexos negativos sobre o prineipio da separagao dos poderes. De outro lado, admite-se que nio seria de bom alvitre ‘estabelecer a obediéneia cega pela Administragao de todas as leis, ‘como que eriando para ela uma presungao absoluta de eonstitucio nalidade, esquecendo que também a Administragao esta vineula dda aos direitos fundamentais.® Canotilho, no entanto,rejeita essa abordagem, embasada no prinefpio da proporcionalidade a ser aferido por funcionarios da ‘Administragio, por serem “insufieientes inseguros os ertérios que ‘adoutrina tem ate agora desenvolvido" para tanto.” ‘A vinculagao do Judiciario acs direitos fundamentais tam: bém apresenta aspectos dignos de nota, Cabe ao Judicidrio a tarefa elassiea de defender os direitos violados ou ameagados de violéncia (art. 8, XXXV, CF). A defesa dos direitos fundamentais ¢ da esséncia da sua fungao. Os tribu- nnais detém a prerrogativa de controlar os atos dos demais pode- res, com o que definem o conteido dos direitos fundamentais pro- clamados pelo constituinte. A vinculagdo das cortes aos direitos fandamentais leva a dow: trina a entender que estao elas no dever de conferir a tais direitos ‘maxima eficacia possivel. Sob um Angulo nogativo, a vinculagio o Judiciario gora 0 poder-dever de recusar aplicagao a preceitos que nao respeitem os direitos fundamentals. Herment its Pundamestie 133 A vinculagio dos tribunais revela-ce, também, no dever que os uizes tém de respeitar os proveitos de direitos fundamentais, fo curso do processo e no contelide das decisdes — digam elas respeito a matéria de direito pablico, de direito privado ou de di reito estrangeiro. Com propriedade, leona Vieirade Andrade que, “quando aplicam direito pubico, direito privado gu dieito estran- ageiro, o papel dos preceitos constitucionais varia, mas a vineula- (ho dos julzes é sempre a mesma (..)"" ‘Uma decisio arbitral estrangcira,v..,n0 pode ser homolo gada entre nos se destoar dos direitos fundamentais eonsagrados bo pals, A homologagae atentaria contra a ordem publica, Observe-se que também quando exeree o poder normativo, como ocorre na Justiga do Trabalho, o Judicidrio deve agir em ‘ennformidade com os direitos fundamentais e com vistas a conf Hirhes efeto stim 5.6. Aplicabilidade imediata Verifica-se marcado zelo nos sistemas juridicos democriti- cos om ovitar que as posigdes afirmadas come essenciais da pes soa quedem como letra morta ou que somente ganhem effedcia a partir da atuagio do legishador Essa preocupacao liga-se & necessidade de se superar, em definitive, 2 concepeao do Estado de Dircito formal, em que #6 protegiam os direitos fondamentais por meio da reguiagio da lei, expondo esses direitos ao esvaviamento de conteudo pela atuagao ‘ouinagao do legislador. Os efeitos corrosivos da neutralizagao ou da destruigao dos direitos postos na Constituigdo foram experimentados de modo ‘especialmente notavel na Alemanha, quando da implantagao do nazismo, A nogdo de que os direitos previstos na Constituigao nio se aplicavam imediatamente, por screm vistos como dependents da livre atuagao do logislador ea falta de protegto judicial direta, esses direitos propiciaram a erosto do substrate democrsticn da Constituicao de Weimar, cedendo espago a que xe assentasse 0 regime totalitario a partir de 1933. A Lei Pondamental de 1949 intentou reagir contra easas falhas, buscando firmar-se em pria- ‘ipios como o da protegto judicial dos direitos fundamentals, oda Vineulacio dos poderes pablicos aos direitos fundamentais eo da Vieira de Andrade, bet, pi 260, aplicagio direta e imediata destes, independentemente de tradu. fo juridica polo legislador. Agrogou-se i ligho da Historia o prestigio do axioma de quea Constituigio — incluindo os seus preceitos sabre direitos funda. ‘montais — 6 obra do poder constituinte origindrio, expressio da soberania de um povo, achande-re acima dos poderes constitut os, como 60 caso do Poder Legislative — nao podendo, portant, Fear sob a dependéncia absoluta de uma intermediagao legislati vva para prodiuzir efeitos. Além da Lei Fundamental aloma (art. 14, n. 3), outras const. ‘uigdes, que também se seguiram a perlodos hist6ricos de menos cabo dos direitos fundamentais, adotaram, expressamente, 0 prin. cipio da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais. As- sim, na Bspanha (art. 23) ¢ om Portugal (art. 18) A Constituigdo brasileira de 1988 filiou-se a essa tendéncia, conforne se lé no § 1+ do art. 5¢ do Texto, em que se dir que “as hormas definidoras dos direitos ¢ garantias fundamentais tém aplicagdo imediata’. O texto se refere aos direites fundamentals, ‘em geral, nao se restringindo apenas aos direitos individuais. 0 sigoificado essencial dessa cléusula 6 ode ressaltar que as, rormas que definem direitos fundamentais sio normas de caré- tor proceptivo, e, nd, meramente programatico. Explicita-se, além disso, que os direitos fundamentais se fundam na Constituigao, , ndo, na lei — com o que se deixa claro que é ale que deve mover. se no Ambito dos direitos fundamentais, e, nlo, 0 contrério. Os direitos fundamentais nao so meramente normas matrizes de outras normas, mas sao também, esobretudo, normas diretamer te reguladoras de relagées juridicas.” sjutzes podem e devem aplicar diretamente as normas cons- titucionais para resolver os easos sob a sua aprociagio, Nao é ne- cessério que 0 legislador venha, antes, repetir ou esclarecer os termos da norma constitucional, para que ela seja aplicada. O art 58, § 1°, da CF, autoriza que os operadores do direito, mesmo falta de comando legislativo, venham a coneretizar os direitos fun- damentais pela via interpretativa. Os juizes, mais do que isso, Madi, Cenro de Bstudies Constituctonales, 1984, pag. 10-11 ‘Manda, ob eit pe 278. Cento, oe pat 400 Hormentutien Constituclonal eDirtos Fundamentals 125 lem dar aplicngio aos drei fandamentais mesmo contra & [Gite la nao se contomnar no eatidocantturonaldaqute. Assim, por exemplo, o art, 58, XITL, da Constituigdo, afirma |) ivre oexercicio de qualquer trabalho, ofcio ou profissio,atendi das as qualifieagdes profissionais que a lei estabelecer”. Essa nor sma niio deve, a vista do principio em estudo, ser entendida como a © eterminar que somente apés a regulagio de wma atividade ov de | ma profissdo esta pode vir a ser exereida, Para que se prestigie © principio da aplicabilidade imediata, cumpre que se veja no alu | Gdoinciso, a expresso de uma norma de cfcdcia contida — aquela | em que, na classificagao de José Afonso da Silva, o “legislador ‘constituinte regulou suffeientemente os interesses relativos a de- © terminada matéria, mas deixou margem a aluagio restritiva por parte da competéncia disericionaria do poder publico, nos termos fue a lel estabelecer."* A norma proclama a liberdade de exerel- io de profissao e offcio,liberdade essa que nfo precisa, para ser dirotamente fruida, da interposigto do legislador, mas que pode vira ser restringida por ele. Essa caracteristica indicada pela propria Constituigto, en- tretanto, fo significa que, sempre, de forma automatica, os di- reitos fundamentais geram direitos subjetivos, coneretos edefini- favor Ha normas constitucionais, relativas a direitos fundamen- fais, que, evidentomente, ngo sio auto-aplicdveis, que carecem da interposicao do legislador para que preduzam efeitos. AS nor- mas que dispiem sobre direitos fundamentals de indole social, uusualmente, ém a sua piena eficécia condicionada a uma comple: ‘mentacao do legislador. E o que acontece, por exemplo, com 0 di- reito & educacio, como disposto no at. 205 da Lei Maior, ou com 0 Aireito ao lazer, de que cuida o art. 6 do Diploma. ‘Mesmo algumas normas constantes do art. 5 da Constitui- ‘0 Federal nio dispensam a concretizagio por via legislative, para ‘que possam produzir efeitos e mesmo adquirir sentido. Eo que corre no inciso XXII, em que se diz "garantide o direito de pro- Priedade”. E necessério que a lei venha a definir 0 regime do ins tituto da propriedade a que se refere o constituinte. Agarantia do ‘acesso ao Judiciério (art. 5%, XXXV) ndo faz sentido sem que a lei ar iak Nitin iv Apia dr rma Costin SPs "Canal, ob eit, pg 400. L venha a dispor sobre odireito provessual, que viabilize a atuagio do Bstado na solugao de conflites, Da mesma forma, a garantia do ari (art. $4, XXXVIID) ho 6 compreensivel som legislacao pro- ‘essual adequada. A plenitude de efeitos dessas normas depende ‘da agao normativa do legislador, porque essas normas constituci, ais earacterizam-se por uma densidade normativa baixa Com efeito, normas de elevada densidade normativa— aque. las de efieécia plena ou contida ~ nao precisam da intermediagto do legislador para produit tados os seus efeitos. Mas ha norms, ‘mesmo norol do art. 5'da Consttuigao Federal, que estao concebidas ‘om baixo teor de densidade normativa, nio possuindo em si elemen- ‘as suficientes para gerar os seus efeitos principnis. Quanto a essas, rho obstante 0 que diz o § 1¥ do art, 5+da Constituigao, a sua cficdcia queda na dependéncia do legislador infraconstitucion ceuja inéreia pode embargar a eficécia plena da norma e atrair 2 ‘eensura da inconstitucionalidade por omissao, A inteligéncia do art. 6, § 16, da Constituigéo, nlo pode fa zer-se sem atengao A naturesa das coisas, consoante ligao de ‘Manoel Goncalves Ferreira Filho, que adverte: “Pretender que una norma incompleta soja aplicada ¢ desejar uma impossibilidade, ou forgar a natureza que, rejeitada, volta a galope” Desse modo, conforme leciona Celso Bastos™, quando a nor- ma de direito fundamental nio contiver os elementos minimos indispenséveis que Ihe assegurem aplicabilidade, nos casos em que a aplieagao do direito pelo juiz importar infringéncia & com: poténcia reservada 20 Logislador, ou ainda quando a Constituigso expressamente remeter a concretizagao do direito ao legislador, estabelecendo que o dieito apenas sora oxereido na forma prevista em lei —o principio do § 18 do art. da CF havera de ceder. AG. Foreiea Piha Direitn Humanos Fundamentas. SS Paul, Ss raiva, 195, p68 O autor A, como exemple das, fastraee ainda do ‘impivenstodo STP gern do uo do mandade denen emer dn acpinagse legal do iattta. (Comentsrion» Conritagao da Bren Sto Paslo, Saat, © Comentrioe 4 Constitute do Brat. Si Paulo, Saruvs, 1989, 2 vel duis pied Species odinduate tn raves cb epouio {4 imagem favor hamanas: nlusve nay atidadesGesportvas™ Ga do a jripruéoin do STH odieto de greve dou strides publicor fear 31, Vt da bet Meier die gue serdekeo toe termes © oe et ‘Boos emit eapecic | dentomente da as Bassas circunstncias levam a doutrina a entrever no art. 5% 4 15,da Constituigdo Federal uma norma-prinetpio, estabelecen doum mandato de otimizagao, uma determinagao para que secon fira a maior eficdcia possivel aos direitos fundamentais.® O prin- cpio em tela valeria como indicador de aplicabilidade imediata 4a norma constitucional, devendo-se presumir a sua porfeigao, ‘quando possivel.” Nao encontrou eco na jurisprudéncia a posigao des que en- tendem que o art. 5, § 1%, da Constituigao, permite ao Judiciario suprir a falta de norma legal nocesséria para que se eoneretize ‘um direito fundamental. A posigao busea apoio na eriacao, pelo fconstituinte de 1988, do instramento do mandade de injungao © {da agdo direta de inconstitucionalidade por omissto, dai extrain- do a plena eficécia de todos os direitos fundamentais, indepen ‘do legislador. Essa corrente repudia “o en ‘tendimento ortodoxo segundo o qual as normas programtieas no ‘io dotadas de efiedcis" A jurisprudéncia do STF, desde o MI — QO 107 (RT 133/ 10, firmou-se, diferentemente, no sentido de nlo caber a0 Judicié io assumir tarofa quo o regime democratico¢ principio da sepa: |. Fagio dos poderes reservam ao Legislative.” 6. TENDENCIAS NA EVOLUGAO DOS DIREITOS HUMANOS Desde que os direitos humanos deixaram de ser apenas teo- vias loséficas, ¢ passaram a ser acalhidos por legisladores, ficou, superada também a fase em que eoincidiam com meras reivind- “Sara, bi, na. 24. Eo snide primo, FléiaPiovesan Pro ete Jail Cita rites Leiitivan Sto Paley, 190, ay 98s ‘andamentatsiaveste ax Paderes Pubicos na atribuigho consituconal de pro. sera congisngor pret fdas er Vein de Andrade, ot, pg 256 "Biv Rberto Grau A Oniom Econdnia nn Costtuigio de 1088, Sio Paul, Mateian 1907, pape 312398, m enpei age 322524 ‘Quando exe liven je etava no prelo, fi proposes Emoad ff, conferindo novan conseguénies no mandado de inuneie (elaine da Bepetate ata Cobras sontest da chamade Refer doddieroh even cagées poitias ou éticas, Os direitos ganharam em coneretude, a0 se enriquecerem com a prerrogativa da exigitlidade jurdiea, mas perderam em abrangéncia, Puderam ser proteidos pela or- dom Juridica, mas somente dentro do Estado que os proclama. Com a Declaragio Universal de 1948, de toda sorte, gana impulso tendéncia de universalizacaoda protegio dos direitos os omens. Adeclaragdo das NagSes Unidas seguiram-sevAriascon- Vengbes intarnacionais, de eseupo mundial ou regional, acentuan- do a vocapao dos direitos fundamentais de expand fronteiras. Outra propensao digna de nota, e que acompanha ada uni versaizagao, ese verifea tanto no plano internacional quanto nas fordons juridicas domésticas, ada especfiagao. Os direitos fundamentais que, antes, buseavam proteger ri vindieagbes comuns a todos os homens, passaram a, igualmente, proteger seres humanos que se singularizam pela influéncia de certas situagbes especifieas em que apanhados. Alguns individuos, por conta de certas peculiaridades, tornam-se merevedores de ate ‘40 especial, exigida pelo principio do respeito a dignidade huma- tna, Dai a consagragao de direitos especiais aos enfermos, aos de ficientes, as criangas, aos idosos... O homem nao é mais visto em abstrato, mas na concretude das suas diversas manciras de ser © de estar na sociedade Essa tendéncia & especificagio tem por consequncia neces- séria a multiplicagao dos direitos, A especificagio leva a necessi- dade de serem explicitados novos direitos, adequados as particu: Jaridades dos sores humanos na vida social. Inerementa-se 0 quad- titativo dos bens tidas como merecedores de protegio, animando alguns a anuneiar 0 aparecimento de novas geraghes de direitos fundamentais. A tendéncia & multiplicagdo se dé, por igual, no interior dos préprios direitos tradicionais, na medida em que a abrangéncia estes exporimenta movimento de dilatagio. Assim, por exemplo a liberdade religiosa que, em um primeiro momento, aleangava apenas certas confissoes, passa a alcangar concopgbea religiosas mais variadas e até mesmo a proteger a falta de religido — a berdade do ateu.” FEE Bobbio, ob it. gs 68 eg. EE Bobbio, ob. et pe 70 Hermenéutica Constitusional eDistos Fundamentais 19 1, FUNGOES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. Os direitos fundamentais desempenham fungdes miltiplas ‘pa sociedade na ordem juridiea, Bssa diversidade de fungoe eva a que a propria estrutura dos direitos fundamentais ndo seja jonivoca © propicia algumas classficagdes, eis para a melhor compreensio do contetido e da eficdcia dos varios direitos. ‘Tom relevancia conhecer algumas tentativas mais notaveis de classificagio conforme o papel desempenhado pelos direitos fundamentais. ‘Um estorgo de sistematizagio que se tornou cléssico e ainda mantém atualidade, servindo de ponto de partida para outros desenvolvimentos doutrindrios, é a teoria dos quatro status de Jellinek, Outra distingao importante, ainda, alude aos direitos de |] Gefesa e aos direitos a prestagao, O estudo das fungoes dos direi- © tos fundamentais, final, ndo pode deixar de contemplar as duas dimenstes que nele se discernem — uma dimensio subjetiva e foutra objetiva : 7.1. A teoria dos quatro status de Jellinek [No final do século passado, Jellinek desenvolveu a doutrina dos quatro status em que 0 individuo pode encontrar-se em face do Estado, Dessas situagdes, extraem-se deveres ou direitos dife renciados por particularidades de natureza. 0 individuo pode achar-se em posigao de subordinagio aos poderes publicas, earacterizando-se como detentor de deveres para com o Estado, Este tem a competéncia para vincular 0 individuo, por meio de mandamentos proibigdes. Fala-se, aqui, em status subjectionis, ou em status passive. A cireunsténcia doo homom ter personalidade exige que des- frute de um espago de liberdade com relagao a ingeréncias dos poderes pablieos, Impde-se que os homens gozem de algum ambi ode ago desvencillnado do império do Bstado,afinal, como o pro prio Jellinek assinala, a autoridade do Bstado “6 exereida sobre hhomens lives" Nesse caso cogita-se do status negativo. Em algumas situagies, 0 individuo tem o direito de exigir do Estado que atue postivamente, que realize uma prestagao. 0 indi Wapad, Miranda, ob. pg 4 viduo so v8 com a capacidade de pretender que o Estado aja em seu favor. O seu status é, assim, positivo (status eivitats), Jellinek cogita, ainda, de um quarto status, 0 status ative, tom que o individuo desfruta de competéncia para influir sobre a formagao da vontade do Estado, como, p. ex. pelo direito do voto, O individuo exeree os direites politicos A partir dessa teoria, que foi recebendo depuragdes ao longo {do tempo, podem-se decalcar as espécies de direitos fundamen- tais mais frequentemente assinaladas — direitas de defesa (ou direitos de liberdade) e direitos a prestagbes (ou direitos ivieos), A-essas duas espécies alguns acrescentam a dos direitos de part cipacao. 7.2, Direitos de defesa, a prestagao e de participagao 1.2.1. Direitos de defesa 0s direitos de detesa caracterizam-se por impor ao Estado uum dever de abstengdo, um dever de nao-interferéncia, de nao- intromissao no espago de autodeterminagao doindividue.”* Esses direitos objetivam a limitagdo da aga do Estado, Destinam-se a cvitar ingeréncia do Estado sobre os bens protegides (iberdade, propriedade ..)¢ fundamentam pretensaa de reparo pelas agres s0e8 eventualmente consumadas Na nossa ordem juridica, esses direitos de defesa esto con ‘dos, em grande medida, no art. 5+ da Constituicao Federal. A titulo de exemplo, enquadram-se nessa categoria de direitos fun damentais o direito de ndo ser obrigado a agir ou deixar de agir pelos poderes publieos sendo om virtude dele (ine. 11) o direito a ‘nao ser submetido a tortura, nem a tratamento desumano ou de- sgradante (ine. ITD), a liberdade de manifestacao de pensamento (ine. IV), a liberdade de crenga e de exercicio de cult (ine. VI), @ liberdade de expressao artistica, cientifiea¢ intelectual (ine. KX), inviolabilidade da vida privada e da intimidade (ine. X), 0 sigilo ‘de comunicagdes (ine. XID), a liberdade de exereiio de trabalho, oficio ou profissao (ine. XIID), a liberdade de locomocho (ine. XVI, prose, Miranda, ob, et pg. 85, Edilsom Pereira de Farag. Col fo de Diet, Pato Age, Serga Fabre Bitar, 100, pag 8). Sait ob. ‘SE, Page OW/BT Vein de Andrade, ob ct. woe 198, Vieira de Andeade obit pe 192 ermendutea Constutuconal ¢ Diets Pundament w aliberdade de associagto para fins licitos (ine. XVID), a proibigao © de penas de carater perpétuo (ine. XLVI, b), entre outros, We quem situe, ainda, odirito& igualdade — que garante ‘so individso nao ser exposto a dlecriminngs improprias — {re os direitos de defesa™ ‘Apontam-se, em doutrna, alguns desdobramentos relevan tes dessa Tungao de defesa dos direitos fundamentais.” Os direitos de defesa vedam interferéncias estatais no dmbi tode lberdade dos individuos¢, sob esse aspocto,constituem nor spas de competéncia negativa para os poderes piblcas, Prasbem {que oBstado impera aagdo do individue Bo aspectadodirato ao Sto impedimento de apes, O Estado entaria jungldo a no estor | var o exercicio da liberdade do individu, quer material, quer ju- ridieamente. Desse modo, ao Estado estaria vedado eriar eensura prévia para manifestagies artisticas, ou proibir a instituigdo de © Teligides, ou eriar pressupostos desmesurados para o exercicio de ‘uma proissao. Os direitos de defesa também protegem bens juridicos con- tra agdes do Estado que os afetom. Assim, em face do direito & vida, 0 Estado nao pode assumir comportamentas que afetem a ‘exisiéncia do ter hnumano. Em face do direito de privacidade, 0 Estado ndo pode divulgar certos dados pessoais dos seus cidadaos. O direito de defesa, neste passo, ganha forma de direito a nao afetagaa das bens provegidos, © aspecto de defesa dos direitos fundamentais pode ainda ser visvalizado no direito& nao -eliminagao de posigoes juridicas. Direito a que “o Estado nao derrogue determinadas normas™.” O direito fundamental produziria como efeito a proibigao a que 0 Estado elimine posigdes juridicas cancretas — atuaria, por exem plo, como proibigao a que se extinga 0 direito de propriedade de quem adquiriu corto bom segundo as normas entio vigentes, Ope- aria, gualmente, como praibigao a que o Estado remova posighes juridicas em abstrato, como a possibilidade de transmitir a pro- Priedade de determinados bens.” " Sanchit ob cit, pg. 199. Salt obit. psp 100 104. Gansta bl a 8. 7 Aley, ob. lt, par 184 © Bana fang de pei elimina de psioes urdens, entre nt 2 igor, muita vaca tende configura wa diet fendemental eapeedia (x ota de dest adgsrde co ae jriin perf segurange juriea eu aca Fore confandir eo srt au a impesimento dees Me ermentutis Constiacona Dist Fundamentais Convém ressaltar que, nas liberdades consagradas,inelui-se também a faculdade de nao-fruir da posicdo prevista na norma.” O direito de rouniao implica igualmente odireite de nio se reunir, A Constituigao Federal deixa isso explicit, no que tange ao direits de associagdo, ao aclarar, no inciso XX do art 6%, que ninguém pode ser compelido a se associar ou a permanecer associado. Canotilho, a propésito, cogita de uma nota especifia das Ii. berdades, no eontexto do conjunto dos direitos de defesa. Para o autor, as liberdades teriam como trace tipico a alternativa de com: portamentos, a possibilidade de escolher uma conduta. Exempli- fica, mencionando que o direito a vida tem natureza defensiva contra o Bstado, mas nfo ¢ uma liberdade, jé que a seu titular nao pode escolher entre viver ou morrer. Ja as liberdades de religiao bu de escolha de profisedo envalvem a possibilidade de ter ou nto roligito, de eseolher esta ou aquela profissdo." ‘A afronta a um direito de defesa deve encontrar remédio na ordem juridica, com vistas a compeliro Estado a se abster de pra- tear o ato ineompativel com os direitos fundamentais ov aanular 0 que ja praticou, O principio da responsabilidade civil do Estado fenseja que a ofensa ao direito fundamental suseite, igualmente, compensagao pecuniria, ‘Quanto a sua estrutura, as normas que prevéem 0s direitos de defesa sio, de ordinério, auto-exceutiveis. Mesmo que nelas se vojam inclufdas expressdes vagas e abertaa, iso nao haverd de constituir embarago para a sua aplicagio, uma vez que ocontetido, ‘na maioria dos easos, pode ser determinado por via hermenéutica ‘arefa da interpretagao incumbe precipusmente ao Judieis- vio. Em alguns casos, entretanto, direitos liberdade sio tides como carentes de conformagao pelo legisiador para que venham a produ- 2 todos 0s seus efeitos. E 0 que se deduz da jurisprudéneia do STP, vg, no aentido de que o exercicio do direito de greve dos ser- vidores piblicos pende de lei que discipline essa liberdade."» 7.2.2, Direitos a prestagao Enquantoos direitos de abstencio visam a asseguraro status {quo do individu, os direitos a prestagao exigem que 0 Estado aja ‘= M1 20, Dd 22/11/96, pég. 48.090, ADIn 1.306-8/BA — Mod, Lim, DY 2730.6. pag. 96331 ADIn We69~ Med. Lim, Dd 260686, pag 2, ¢ ADI Teso-arbP. By 271108 a7. ~ Hermentatia Constiucona eDiretos Fundameatais 1 para atenuar desigualdades, com isso estabelocendo moldes para futuro da sociedade, Os direitos de defesa, conforme a propria denominagio os designa, oferecem proteeao ao individuo contra a opressiio do Es- ado, Jé'os direitos a prestagao partem do suposto de que 0 Estado deve agir para libertar os individuos das necessidades, Sto direitos de promosao, Surgem da vontade de estabelecer uma “igualdade tfetiva e solidaria entre todos os membros da comunidade politi- ta" Sio direitos que se realizam por intermédio do Estado. 0s direitos de defesa assoguram as liberdades, os direitos prestacionais buscam favorecer as condigdes materiais indispen- ‘dveis ao desfrute efetive dessas liberdades, Os direitos a presta~ fo supdem que, para a conquista e manutengao da liberdade, os poderes publicos devem assumir comportamente ativo na socie- dade civil, 0 trago earacteristico dos direitos a prestagao esta em que so referem a ua exigeneia de prestagao positiva, de um comporta- mento ativo — e, nao, de uma omissao. Na relagao juridiea, a0 dizeito prestacional corresponde uma obrigagao de fazer ou de dar. A circunstancia de os direitos a prestagio traduzirem-se ‘numa agdo positiva do Estado confere-Ihes peculiaridades estru- turais, em termos de niveis de densidade normativa, que-os dis- tinguem dos direitos de defesa, nfo somente quanto a finalidade, ‘mas, igualmente, quanto ao seu modo de exereicio e & eficdcia. ara compreender melhor essa realidade, tome-se, como pon- twde partida, que a agio do Estado, imposta pelo direito a presta- ‘fo, pode-se referir quer a uma prestagao material, quer a uma Drestagio juridiea. 7.2.2.1. Direitos a prestagao juridica Hi direitos fundamentais eujo ebjeto se esgota em uma pres- tae de natureza juridiea, O abjeto do direito sera a normacto pelo Estado do bent jurfdico protegido como direito fundamental Essa prestaglo jurfdica pode consistir na emissao de normas juridieas penais ou de normas de organizagao e de procedimento, ‘A Constituigao, em cortas hipéteses, estabelece, diretamen- ‘te, a obrigagao de o Estado editar normas penais para eoibir pri- Miranda, ob lt pag 98 Hermentuticn Constitaconal eDictos Fundamentais us tieas atentatérias aos direitos e liberdades fundamentais (at. 62, XLD, bem assim praticas de racismo (art. 5, XLID), de tortura ¢ de terrorismo (art. 64, XLII, Além disso, hé direitos fundamentais que dependem essen. sialmente de normas infraconstitucionais para ganharem sent do. Ha direitos que se condicionam a normas outras que definam 0 modo do seu exereicio e até o seu significado. Ha direitos fundamentais que nao prescindem da criagao, por le, de estruturas organizacionais, para que ganhem sentido, ‘Alem disso, esses direitos podem requerer a adocao de medidas ormativas que permitam aos individuos a participasao efetiva na organizagao e nos procedimentos estabelecidos. 0 direito & organizagao e ao procedimento envolve nfo s6 a cexigéncia de edigao de normas que déom vida aos direitos funda- mentais, como também a previsio de que elas sejam interpreta as de acordo com os direitos fundamentais que as justificams.™ Assim, o direito de acesso 4 Justiga nao dispensa legislacio que fixe a estrutura dos érgios prestadores desse servigo, bem Assim que estabeleya normas processuais que viabilizem 0 pedido 4e solugao de confitos pelo Estado, De outra parte, nao se poderd interpretaro dreito processus de modo exeessivamente rigoroso, a ponta de inviabilizar, por motivos menores, a intervengao efetiva do Judiciario na solugao de um litigio. As rogras processuais devem ser entendidas como orientadas para proporeionar uma solugae segura e justa dos con- Atos, nao podendo ser compreendidas caprichosamente, com 0 fito de diftcultar desnecessariamente a prestagao jurisdicional. Lombra, ainda, Gilmar Mendes que “a liberdade de associa ‘40 (OF, art. 5, XVID depende, pelo menos parcialmente, da exis tencia de normas diseiplinadoras do direito de sociedade (consti tigio e organizagio de pessoa juridica, ete). Aliberdade de oxer- ciclo profissional exige a possbilidade de estabelecimento de vin- culo contratual e pressupse, pois, uma diseiplina da materia no ordenamento juridico, O direito de propriedade nao 6 sequer ‘imaginavel sem disciplina normativa’”™ Giza Ferrin Mendes, DiretosPundameataa « Contre de Const ‘uciontidade, Sto Paul, Cela Basioe Bator 1908, pay 45 Para que os individuos possam gozar desses direitos funda- ‘mentais, 0 Bstado deve atuar normativamente Reconhece-se ao Estado, afinal, consideravel margem de dis- © ericionariedade na conformasao desses direitos de indole norma fiva, O contetido das normas a serem editadas 6, respeitadas as F exigdncias da razoabilidade, entregue ao discricionarismo do Po- (Os chamados direitos a prestagdes materiais recebem orétw | ode direitos a prestardo em sentido estrito, Resultam da concep 1 glo social do Estado, Sio tidos como os direitos sociais por exce- Tbncia™” — coneebidos para atenuar desigualdades de fato na so tiedade e para ensejar que alibertagio das necessidades aproveite © gogozo da liberdade efetiva por um maior numero de individuos." (O seu objeto consiste numa utilidade concreta (bem ou servigo) Podem ser extraidos exemplos de direitos a prestagio mate: rial dos direitos sociais enumerados no art, 6+ da Constituigao — odireito a educagio, a saide, ao trabalho, ao lazer, & seguranca, previdéncia social, & protecto & maternidade, a infanciae odirei- todas desamparados a assisténcia, ‘io direitos devidos pelo Estado, embora, nessa esfera dos direitos fundamentais, os particulares também estejam vincula dos, em especial quanto aos direitos dos trabalhadores enumera dos'no art. 7 da Constituicio® Da mesma forma, quanto a as pectos do direito a assisténcia, j& que o art, 229 da Constituigio fomanda que “os pais tém o dover de assistr, eriar e educar 08 filhos menores, eos filhos maiores tém odever de ajudar eampa: tar os pais na velhice, caréncia ou enfermidade” ‘Quanto aiestrutura das normas que os consagram, descobrem- te algumas diferengas relevantes. Algumas normas constitucionais possuem alta densidade ‘ormativa, no sentido de que esto enunciadas de modo a dar a Pereeber o seu contotido com a nitidez necesséria para que produ- © Ger Legislativ. | 72.2.2, Direitos a prestagées materiais Vieta de Andrade, ob lt pg. 200, i pag 182 | 3 eimbra Coimbra Etre, 19, pla 10% zamos seus principais efeitos. Nao necessitam da interposigAo do logislador para lograr aplicagao sobre as relagbes juridicas. Tais normas, que permitem imediata exigéncia pelo individuo da s tisfagao do que comandam, veiculam os chamados direitos origi. ndrios a prestagdo.” A maloria dos direitos prestagao, entretanto, quer pelo modo ‘como enuinciadas na Constituigao, quer pelas peeuliaridades do seu objeto, depende da interposieao do legislador para produzit efeitos plenos. Os direitos a prestagao material, como visto, onectam-se a0 ropésito de atenuar desigualdades fatieas de oportunidades, Tém ‘ver, assim, com a distribuigio da riqueza na sociedade. Sto di. reitos dependentes da existéncia de uma dada situagso eondmi- 2 favoravel 8 sua efetivacio. Os direitos, aqui, se submetem 20 natural condicionante de que nao se pode conceder 0 que nfo se ossu Os dircitos a prestagio material tém a sua efetivagio sujcita ‘as condigoes, em eada momento, da riqueza nacional. Por isso mesmo, nao seria factivel que o constituinte dispusesse em mint- cas, de uma s6 ver, sobre todos os seus aspectos. Por imposicio dda natureza do objeto dos direitos a prestagdo social, © assunto & fentregue & conformaeio do legislador ordinario, confiando-se na sua sensibilidade as possibilidades de realizagto desses direitos ‘em cada momento histérico, Os direitos a prestagao peculiarizam-se, sem duvida, por uma decisiva dimensio econdmica, Sao satisfeitos segundo as conjun- ‘turas econdmieas, segundo as disponibilidades do momento, na forma prevista pelo legislador infraconstitucional. Diz-se que es- ‘06 direitos esto submetidos & reserva do posstvel. Sao traduzi- dos em medidas praticas tanto quanto permitam as disponibilida- ‘des materiais do Estado, ‘A escasser de recursos econdmicos implica a necessidade de © Estado realizar opgies de alocagio de verbas, sopesadas todas ‘as coordenadas do sistema econdmico do pais. Ox direitos em eo- mento tém a ver com a rodistribuigao de riquezas — materia sus- ‘etivel as influéncias do quadro politico de cada instante. A exi- ‘gincia de catisfagao desses direitos é mediada pela ponderagao, cf, por ttee, Conti, ob et. pe 486, Hermentutin Constitucona eDinitosPundamentais ws cargo do legislador, dos interesses envolvides, observado o esté- dio de desenvolvimento da Sociedade.” Na medida em que a Constituicio nao oferece comando indeclinavel para as opgaes de alocagao de recursos, essas deci Shes devem ficar a cargo de orgao politico, logitimado pela repre- entagao popular, eompetonte para fixar aa linhas mestras da politica financoira e social. Essa legitimagao popular é tanto mais {mportante, uma vez que a realizacdo dos direitos sociais implica, necessariamente, privilegiar um bem juridieo sobre outro, bus. feando-se eoncretiza-lo, com prioridade sobre outros, A efetivacao esses direitos implica favorecer segmentos da populagio. Essas ‘opgles exigem, pois, procedimento democratieo para serem ecco- Ihidas — tudo a apontar o Parlamento como a sede precipua des: sas decisses o, em segundo lugar, a Administragto.”= A satisfagho desses direitos é deixada, no regime demoerati «0, primacialmente ao descortino do legislador. Nav cab ‘ipio, ao Judictério extrair direitos subjetivos das norm tucionais que cogitam de dircitos nio-origindrios a prestagao, O direito subjetivo pressupde que as prestagoes materials Ja hajam sido precisadas e delimitadas — tarefa propria de drgio politico, 6, ni, judicial. Compreende-se, assim, que, por exemplo, do di reito ao trabalho (art. 6+da Constituieao) nao se deduza um direi- to subjetivo do desempregado, exigivel em juizo, a que o Rstado Ihe proporcione uma posigio no mercado de trabalho. Dai os autores anuirem, is vozes sem esconder o desalento, fem que “os direitos sociais (identificados eom of de prestagao material] 2 existem quando as lis eas politicas soviais vs gardn: Hirem™", oa em que "2s direitos sociais fica dependentes, asta exata configuragio e dimensdo, de uma intervengao legislativa, coneretizadora e conformadora, s6 entdo adguirindo plena efi ia ¢ exeguibilidade”™, ou em que esses direitos "requerem, de ‘antemdo, © em qualquer ease mats do que nos direitos fundamen: tais tradicionats, ages do Estado tendentes @ realizar o progr 7 wean, a propia do tema, Hess, obs. pig 7 « Srl, ob it e201 7 ™ ickenfinde, Hicrton sore Derechos Fundamental. Baden-Baden Nomos Verngogevellchat 1005, pag 7. "# Ganatth, eet pg 438 Jat Cardona da Cota "A Hirargua das Norm Consttucionis «8 tun Pungo de Patio ow Divito Fundanontaes ead por Canano, 8, par ta us ermentutien Consitucionl« Ditton Fundamentsie ‘ma neles contidos (.). Por isso 08 direitos sociais fundamentais nda chegam a justifiear pretensoes dos cidadaos invocdvets judi. ialmente de forma direta(..) Bm prinetpio, nao podem esejar direitos subjetivor individuais".® Ja se denominaram esses drei tos de "direitos na medida da lei™, Estes direitos, repita-se, nlo podem ser determinados pelos Julzes quanto aos seus pressupostos e extensao do seu conteddo, "Para que se determinem como direitos, ¢ necessaria uma atua. Tegislativa, que defina 0 seu conteddo conereto, fazendo uma ‘pedo num quadro de prioridades a que obrigam a escasse dos recursos, 0 cardter limitado da intervengio do Estado na vida so- {al e,em geral,o proprio principio democrstico. Os preeeitos cons. titucionais respectivos nao sio, por isso, nesse sentido, aplicaveis imediatamente, muito menos constituem preceitos exequiveis por [Nessa justa medida, os direitos a prestagdo material termi- ‘nam por se aparentar aoe direitos a prestagao normativa, Por isso mesmo, no magistério de Vieira de Andrade, em se tratando de direitos a prestagso, o dover imediato que corresponde ao Estado “6, preeisamente, em primeira linha, o dever de legslar, ja que a feitura de leis 6a tarefa devida (no caso dos direitos a prestagie jurfdieas) ou a condigao organizatéria necesséria (no easo dos di reitas a prestagoes materizis)" A titulo de ilustragao, considere-se que a Constituigho brasi- leira dispae que o Estado garantira a todos 0 pleno exereieio dos direitos eulturais e apoiara e incentivard a valorizagao e a difu- ‘sio das manifestagoes culturais (art. 215). Esta elaro que ni posstvel, materialmente, apoiar todas as manifestagies eulturais ho pais. Impde-se uma ezcolha de prioridades e, em principio, ne ‘sham setor cultural pode exigir para si as verbas existentes para ‘cultura, justamente porque cabe aos érgaos politicos, com Tegitimagio democraticae responsabilidado politica, fixar as me- tas tidas como prioritarias No caso dos direitos a prestagdes materiais, da mesma ma: neira que acontece com o direitoa prestasao juridica olegislador {livre para tratar dos direitos fondamentais, segundo a sua sensi i Hee ob cit, pi 98 Bockenfrde, eto pr Sarit, ob ct, pg 269 ermentutia ConstituconaleDirtos Fundamentais 0 bilidade. A definigao do modo e da extensao como se protegerd 0 direito de acesso i cultura ou o estimulo ao lazer, o¥ ainda, como 20 dara a rogulagao do direito dos trabathadores de participagao fos lucros das empresas (direito a prestagio juridica), tudo iss0 recai na esfera da liberdade de conformagao do legislador. ‘A regulagao desses direitos, na maior parte das vezes, nio se acha determinada pelo constituinte de forma tal que posea cer ‘onsiderada como agio essencialmente vineulada,” 0 legislador ‘ha de dispor de uma "ampla liberdade de conformagio quer quan- tods solugses normativas eoneretas quer quanto a0 modo organi- tatério ¢ ritmo de coneretizagao™"" Salienta Vieira de Andrade {que * legislador dispoe da sua liberdade de conformagao © esta- Delece autonomamente a forma e a medida em que coneretiza as {imposigdes constitucionais respectivas".™ Nao significa isto que estas normas sejam dosprovidas de toda eficacia. Elas servem de parimetro de controle da constitu cionalidade de medidas restrtivas desses direitos ¢revogam nor ‘mas anteriores incompativeis com os programas de agdo que con- sagram. Servem, ainda, como modelo interpretative das demais rormas do ordenamento juridico, que com elas hie de encontrar conciliagao sistemstiea, ‘As normas om tela apresentam um earater de norma de de- fsa, na medida em que propiciam que se exija do Estado que nfo adotepoliticas contrarias ao que proclamam esses direitos. Dai ja seter sustentado que normas enfeixadas em politicas de recessio, fantrérias a politica de pleno emprego, por exemplo, poderiam ‘ser consideradas ilegitimas. Aqui, no entanto, move-se em ter- reno incerto, A earacterizagao de uma certa politica como defini ficamente contraria a0 direito ao emprego oferece dificuldades argumentativas, O caréter de defesa entrevisto nos direitos a prestagio mate- al Genfatizado, também, pelos que advogam a existéncia de uma, léusula de proibigao do retrocesso."™ " Vivira de Andrade, bit, ay 202 “Canola, ab its poe 410, 1 Viera de Andrade, 0, pg. 249 Soe riiig de rece, ver spr, ple lato vinsage to Poder Legislativo aos direitos fundamentals, 7 ie 180 £, em tse, possvelo controle jursdicional das opgde legis. lativas de coneretinagio desses direitos, tomando as proprias nor. ‘as constitacionais que os prover como paramotro. Esse con. trole, entretanto, tende a ser restrito,sendo mais frequente na esfora da inconstitucionalidade por omissto. As opgbesdolepisla. dor quanto ao conte dos direitos a prestagdodiiclmente so Suseetvets de apresagto na pratica, ano ser em havendo mani festa arbiteariedade do legislador,situagao que, imaginada por Vieira de Andrade, 6 por ele mesmo tida como de improvavel de rmonsteag.™ Esse quadro de caractersticas dos direitos a prestagio ma. terial pode desolaroobvervader animado pela liturasingela das promessas constticionas e esperangoso de resolver Juridicamente Earéncias de ordem econdmica. Nao por outro motivo, K- Hesse ftdverte para operig que corve a propria forga normativa da Cons: tituigdo, quando é tensionada com promessas excessivas, que re sultam em inescapaveisfrustragbes de expectativas.= ‘A doutrina, porém, busca stenuar essa decepedo com a to ria do grau infimo deefetividade dos direitos a prestogdo material ‘Tentacsedelesextrair uma garantia a um miaimo social™ Para ‘Vieira de Andrade, essa seria Gnica restrigao imposta a liberd dede conformagio do legislador eo seu desprezo configuraria caso ‘de censuravel omissao legislativa” ‘AConstituigao brasileira parece haveracatido, de alguma forma, esta garantia do minimo social. O art. 201, § 8% da Consti- tuigdo, estabelece osalério-minimo como piso dos beneficios pre- Videncigros,e 9 Supremo Tribunal Federal tem jurisprudéncia edimentada no sentido de quo essa norma éauto-aplicavel. Pode fe vislumbrar,entao, ai, um exemplo de diretaaprestagao mate- ral que geraimediatamente direito subjetiv para us seus ula yes — umn “direito fundamental origindrio e subjetiva a presta- ‘0°, que fem em mira assegarar um patamar minimo de ‘Stividade do direito& previdencia pelo Estado. Quando o dreito a prestagdo material, desrito na Const tuigio, vem a ser concretizado pelo legislador, fala-se n0 Vika de Andrade ob it, pg 207 st Hesse, ot pa. 100 Canotiho, bi, pg 489 ‘© Vieira de Andeade, abet, pgs 260251 | Hermentotien Conetitu surgimento de direito derivado a prestagio. Vieira de Andrade, porém, argutamente observa que, depeis de emitida a legslagio pecesséria para a efetividade dos direitos a prestagao material, podera surgir direito subjetivo; no entanto, ai, eles valerio, nio come direitos fundamentais, mas como direitos concedidos por Ieit®. De toda sorte, a doutrina extrai dos direitos fundamen ‘eoncretizados pretensdes de igual acesso as instituigdes criadas {de ensino, de servigos de sade) de igual participagao nos bene ficios fornecidos por esses servigos. Aceta-se que também quanto aos direitos derivados, a reserva do possivel encontra atuaeao, ‘nfo se revelando contrario & isonomia que o Estado restrinja a foncessao das prestagoes ao limite dos recursos existentes, Por 80, jf se conceituaram esses direitos derivados a prestagao como direitos “a igual (ndo arbitrariamente dicriminatoria) distribul- Ho das prestagdes disponiveis™, 7.2.3. Direitos fundamentais de participagao Ha quem situe essa categoria de direitos fundamentais a0 lado das referentes aos direitos de defosa e aos direitos a presta- ‘Ho. Seria constituida pelos direitos orientados a garantir a parti- ‘ipagao dos cidadaos na formagao da vontade do pais. Correspon- deria ao capitulo da Constituigao Federal relative aos direitos politics, no Titulo dos Direitos Fundamentais. Aqui, porém, ¢ preciso registrar a existéncia de alguma disceptagio doutrinéria, Tanto Canotilho como Alexy situam os iversos direitos politicos, conforme as suas earacteristicas, entre (0s direitos a prestagao ou entre os de defesa. Com isso, nlo cogi- tam dos direitos de participagio como um terceiro grupo de dire. tes fundamentais.""” Mesmo quem adota essa terceira categoria, niio nega que esses direitos de partieipagao possuem “caracteris ticas mistas de direitos de dofesa e direitos a prestagao" Uma observagio deve ser feta. A distingao entre direitos de defesa @ direitos a prestagio nao se faz sem alguns matizes. E Possivel extrair direitos a prestagio de direitos de defesae direi- tos de defesa dos direitos a prestagao. O ultimo caso jé foi exemplificade com a proibigao de medidas legislativas comtrérias Vii de Andrade, bt, pg 200. Lido de Marswiok,reproduida por Sere, ob. et pe 278 ™B também a propota de Serie, ob it. pigs, 166167 Blom Farias, obit. pag 2 ssa Hormentuticn Consiucona » Diets Fundanentaig ‘direitos a prestagao proclamados pelo constituinte. Vale referir, também, que direitos essencialmente de defosa apresentam as. pectos, ainda que tubsidiarios, de direitoa prestagao. O direito a vida traz como consectario odireito a que o Estado proteja a vida contra ofensas de tereciroa, nao co exaurindo na pretensdo a que ‘Estado nao suprima esse bem dos seus stiditos. O tema encontra thon sede de estudo na consideragio dos direitos fundamentais sob 8, DIMENSOES SUBJETIVA E OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Enfatizou-se, até aqui, a dimensao subjetiva dos direitos fun damentais, que é a que mais se afeigoa as suas origens historicas feds suas finalidades mais proximas. A dimensdo subjetiva dos direitos fundamentals correspon- de a caracteristica desses direitos de, em maior ou om menor es ‘ala, ensejarem uma pretensaoa que se adote um dado comporta mento ou um poder da vontade de produzir efeitos sobre certas relagbes juridicas. [Nessa perspectiva, os direitos fundamentais correspondem ‘exigdncia de uma agdo negative (em especial, de respeito a0 es- pago de liberdade do individuo"™ ) ou positiva de outrem, e, ainda, Correspondein a competéncias — om que nao se cogita de exigir comportamento ativo ou omissivo de outrem, mas do poder de ‘modificar-Ihe as posigdes juridicas."" Conquanto essa seja a perspectiva de maior realee dos direi- tos fundamentais, ela convive com uma dimensao objetiva —ambas rmantendo uma relagio de remissao e de complemento reeiproco.™ 1 bere gue a Uberdade pds ter indole de iberdade ao prteida em que tfeta de dace fo sso pode or etringda pla epee bus iadate te berdade poeta po nota constacaal, quand vert ut Rtn fandatcnta qu ela motes imp ou prin UsSe'A ropa xen nade de Susana ce Tee Bare O Pace dn oopdeictdas ts Catsl te Comtitucnalinde dae tne Renta aE Dieaes Puaetate Best: Beata rc, 196; pépy. 18 32 ‘Surana Barsah pag 15) dome oanpa,nente pse, a odo nid que rede wn Westment, siege dein empetaca ge {Eo Sittde far protege uritesmesie um ato destinady» produit "Henge, eb, pag Hermentotia Constivuconal eDietos Fundamentals 1s A dimensio objetiva resulta do significado dos direitos fun- damentais como principios basicos da ordem constitucional. Os direitos fundamentais sa0 da esséncia do Estado de Direito de- snoeratico, operando como limite do poder e como diretriz para a fgua agio, As constituigdes demoeratieas assumem um sistema de {alores que 08 direitos fundamentais revelam e positivam. Esse Fendmeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo pordenamento juridico, servindo de norte para a agaa de todos os poderes constituidos. (Os direitos fundamentais, assim, transcendem a perspectiva da garantia de posigdes individuais, para aleangar a estatura de formas que filtram os valores basicos da sociedade politica e os fexpandem para todo o direito positive, Formam, pois, a base do ordenamento juridico de um Bstado democratieo Essa dimensio objetiva produz consequéneias aprociaveis Ela faz com que o direito fundamental nao soja considerado exclusivamente sab perspectiva individualista, mas, igualmente, {que o bem por ele tutelado seja visto como um valor em si, a ser preservado e fomentado, A perspectiva objetiva, nesse sentido, legitima até rostrigdes 0s direitos subjetivos individuais, limitando o conteddo e 0 al- tance dos direitos fundamentais dos individuos em favor deles proprios. Suzana de Toledo Barros, menciona como exemplo de feta limitador das liberdades,resultante do earater objetivo dos direitos fundamentais, o comando do uso de cintos de seguranga em automéveis: “B assim que se explica, por exemplo, a imposi¢ao do uso do einto de soguranca: e livre arbitrie do conduter do vvoiculo perde aleance diante do valor constitucional vida ou integridade fisica dos individuos, cuja protegio & requerida do Estado em cumprimento as suas finalidades. Da mesma forma, pode-so argumentar em favor da proibigae geral do uso de drogas.""” Outra importante consequéncia da dimensio objetiva dos di ‘eitos fundamentais esta em ensejar um dever de protegao pelo Gm Ferreira Mendes. ob. ct, pe. 92. Suzana Baron ab et, pg 180, Estado dos direitos fundamentais contra agressbes dos préprioe poderes pblicos, provindas de particulates ou de outros Estados." Esse dever de protegio se mostra associado sobretudo, m: no exclusivamente, aos direitos a vida, aliberdade e 4 integrid, de fsiea (incluindo o direto & sade). O Estado deve adotar medi- ‘das — até mesmo de ordem penal — que protejam efetivamente 8 direitos fundamentals, Sob esse enfoque, 08 direitos de defesa apresentariam um aspecto de direito a prestagao positiva, na medida em que a di mensio objetiva dos direitos fundamentais cobra a adogdo de pro- videneias, quer materials, quer juridicas, de resguardo dos bens pprotegidos. Isso corrobora a assertiva de que a dimensio objetiva interfere na dimensto subjetiva dos direitos fundamentais, neste caso atribuindo-Ihe reforgo de efetividade. Observe-se que esse mesmo propésito de reforgo de posigoes jjuridieas fundamentais pode exigir a elaboraeao de regulamenta- {es restritivas de liberdades. E conhecida a deciséo do Tribunal Constitucional alemao que, a respeito do direito& Vida, afirmou ‘que ao Estado & vedado nic somente intervir sobre a vida em for- agdo, como se Ihe imple a obrigaedo de protoger essa vida, in clusive valendo-se de normas de direito penal, desde que nao exista ‘outro meio eficiente para preservar o bem tutelado.'* Respeita-se, contudo, om principio, aliberdade de conforma so do legisiador, a quem se reconhove discricionariedade na op- ‘Sho normativa tida come mais oportuna para a protegao des diret- tos fundamentais. Cabe aos érgaos politicos, e no ao Judiciério, indiear qual a medida a ser adotada para protegor os bens juridi- ‘cos abrigados pelas normas definidoras de direitos fundamentais. ‘A dimenst objetiva eria um direito a prestacao associado a direi- to de defess, e esse direto a prestagao ha de se sujeitar a iberda. dde de conformagio dos érgios politicos e ao condicionamento da reserva do possivel, [Nao hé cogitar, portanto, ordinariamente, de um dever es- pecifico de agir por parte do Estado, uma vez que os poderes pi- blicos gozam de disericionariedade para escolher uma das dife- rentes alternativas de agio que se Ihes abrem,levando em conta Salt, fort om Ngee de Hesse e Suc. 0b. i a. 16, ‘Gaara de Cara, ot, pa. 88, Vor também Donald Kommers Toe ‘Conti SnalTursradeac fhe Feral Repaie! Germany Durham Dake UUniventy Pres, 107, page 838 he osticios que estejam dispontves, as colisdes de direitos e interes fos envolvidos e a sua eseala de prioridades politicas.”” Fogo Sarit anata que a doutsina, nese passa, aude A ne E cessidade de o Estado agir em defesa dos direitos fundamentais || fm um minimo de eficdia, nao sendo, port, “exigivel uma ex. 4 dlusio absoluta da ameaga que se objetiva provenir’. Se é possi 2 gelenxorgar um dever de agir do Estado, nao hd como Ihe impor 0 como agir. "Uma pretensao individual somente podera ser acolhi- 4 Ga nas hipsteses em que o espago de discricionariedade estiver reduzido a zero” ‘Além do dever de protegio dos direitos fundamentais, a sua dimensio objetiva desvenda, ainda, um sentido qualificatioo das ‘ormas que 0s provéem. Os enunciados normativos que profbam | ou dificultem a acio deserita na norma de direito fundamental ‘io quaificados como invalidos, independentemente de chegarem " aprodusir, em conereto, constrangimento sobre algum individuo, 0 aspecto abjetivo dos direitos fundamentais lova, também, aque seIhes atribua uma eficacia iradiante, servindo de diretriz para a interpretacao e aplicacio das normas dos demais ramos do direito, Enseja, ainda, a diseussio sobre a effeacia horizontal dos Aireitos fundamentais — a eficdcia desses direitos na esfera pri vada, no dmbito das relagbes entre particulares. 8. DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIGAO BRASILBIRA: CLASSIFICAGAO Conquanto a distingio dos direitos fundamentais conforme so refiram a direito a prestagao ou a direito de defesa aprosonte notavel uilidade pratica, nao foi esse o critério taxinémico adota- do pelo constituinte. Conforme noticia José Afonso da Silva, © agrupamento dessas posigbes fundamentais buscou respaldo no seu contetido, na natureza do bem protegido. ‘Assim, segundo o autor, consderou-se num primeiro grupo a ‘andigo do homem-individuo, infependente dos demise do proprio Estado, dat resultando os direitos individuais. A situacio do homem camo membre de uma coletividade inspirou os direitos eoltivos, Uns e outros foram enumerados no art. 5 da Constituigao "Sek Sere, apsada om Path Sen, Manssen eee ob i, pa. 193 Sarl it pag 189 om Ada Sle, abet, pe 167 0 direitos que contemplam o homem nas suas relagies soriaig e culturais, seriam os direitos sociais,expressos nos arts. 6¥¢ 193 f seguintes. Os direitos que tom por objeto a nacionalidade do individue deram origem aos direites arrolados no art. 12. Por fim, ‘08 direitos de partieipagao politica foram enfeixados como direi. tas politicos, nos arts. 14a 17 da Lei Maio. Essa classifieagao nao obsta a0 aplicador situar cada um dos direitos enumerados na categoria do direito de defesa ou do direi- to.a prestagdo, até mesme para que se possam deslindar aspectos da ofiedcia de eada qual. [Nao écorreto deduzir do s6fato de uma posicio estar previs tano rol dos direitos sociis que se trata, nocessariamente, de um direito a prestagto, de eficécia subordinada ao desenvolvimento legislative. Tampouco ¢ dado extrair da situagao de um direito na lista do art, S¢ da Constituigao Federal a navureza de um direito de defesa, de eficécia imediata. No catalogo do art, da Constituigao, encontram-se normas de contotde impositivo, que dependem do legislador para que bem juridico contemplado encontre tute efetiva. Eoeaso do inciso XXOUT, que impoe ao legislador normatizar relagdes juridieas com vistas ® protegao do conswmidor. Igual tratamiento merecem os direitos contemplados nos incisos XXXV (direito de acesso & Jus- tiga) e LXXIV (assistencia judiciaria gratuita), Todos esses dire tos apresentam rasgos de direitos a prestacao. No art. 5+, hd, ain da, tipiens garantias institucionais, como ce evidencia na consa- ‘gragao do tribunal do jari Ginciso XXXVI. De outro lado, entre os direitos sociais enumerados pola Car ta da Repablica ha nitidos direitos de liberdade, direitos de de- fesa, tal direito de greve (art. 8) ea liberdade sindical (art. *), além da limitagao da joraada de trabalho (art. 7, XIII e XIV), ‘entre outros. ‘Boa parte dos direitos de nacionalidade e dos direitos pol cos assume a indole de direitos de defesa — A guisa de exemplo, tite-se a iberdade de criagao de partidos politics ea proibigio de ‘iferenciagoes entre brasileiros natos e naturalizados. Mas hé ‘nesse grupo também direito prestacional —v. g,0 art. 17,§ 920 ‘assequrar o acesso gratuito ao radio etelevisao, na forma da tei 9.1, Direitos individuais e direitos coletivos A Constituigao cogita, no art. 5, de direitos individuais © coletives. Distinguilos'a partir dos eritérios da Constituigao em bo rigor ato ¢ tarfa tranqiila, mas pode produzir consequéncias Televantes, na medida em que oart.60, § 4% da Constituigao fala {penas nos direitos individusie como clausulas pétreas ‘Ua classificagao lastreada apenas na distingto entre ho _em-individuo eo homem na coletividade, embora represente um _ponto de partida, nem sempre gera resultados seguros ‘A Constituigio abre o Capitulo I do Titulo dos Diretos ¢ Garantias Fundamentais para cuidar dos direitos individuais © -foletivor, qu estriam, assim, dspersos nos setentae ste inczos oar 62 No entanto, também em outros capitulos do mesmo Ti palo da Constituigdo encontramese direitos que respondem a essa Hearaceristica de se referirem ao homem enguantointegrante da feletividade.™ O crterio nao pode ser tdo como sufcientemente firme, até por ser dite, em certas casos, discernir quando u dizeito reco Thece uma autonomia aos indiiduos e quando est apenas pote {endo a sua condigho de membroda cletividade. Pense-s, a pro piste, no direito de ivre expresso, que tanto protege alberda- fede expansio da personalidad individual, como assegura uma Sosigde do individuo na formato da opiniae publica. (corto é que o constituinte nde dou entrada a uma definigio precisa do que sejam os direitos coletivos, Nao parece que 0 cons ‘tituinte tenba desejado se referir aos direitos de titularidade co- letiva. Direitos de titularidade entregue a coletividade sao os itos fundamentais de terceira gorarto, como o dircito & paz, a0 desenvolvimento, & autodeterminagdo dos povos, que no cons- tam do art. 5¢da Carta, O que hi, ali, sio direitos individusis de stxpressio coletiva, direitos de que o individuo é o titular, ainda ‘que nao possam ser exereidos pelos individuos isoladamente,“pres- fupondo a atuagao convergente ou concertada de uma pluralida- ede sujeitos”™, como as liberdades de reuniao e de associngio, Sogundo o magistério de José Afonso da Silva, excluidos es: tes direitos individuais de expressio coletiva, restariam como di Toitos coletivos, no art. 5, apenas odireito de entidades associati- Yas representarem os seus filiados (XXD ¢ os direitos de roceber {nformagoes de intoresse colative (XXXII) ede potigao (XXXIV). Bo que rselta Joo Alors da Sila, referiado-e ao direita de greve fetes out Ada va ob Sts pg 119 0 direito de representagao, porém, é de pessoa juridica, que mio se confunde com a eoletividade, Como ensina Manoel Gongalves Ferreira Filho, ao conceito de dieito individual *assimila-se todo direito de um ente personalizado™"™ No que tange aos outros dois direitos mencionados, tampoueo ali o titular do direito ¢ a coleti- vidade, mas, sim, 0 individuo, mesmo que motivado pelo intuito de protoger interessos da coletividade. 9.2. Direitos e garantias No ambito das classifieagées dos direitos fundamentais que resuitam dos tormos utilizados no Titulo II da Constituigao, n= tenta-se distanciar 0s direitos das garantias Ha, no Estatuto Politico, direitos que tém como abjeto imedia. to um hem especifice da pessoa (vida, honra,liberdade fisica).” Ha também outras normas que protegem esses diteites indireta ‘mente, ao limitarem, por veres procedimentalmente, o exercicio {do poder. Sao estas normas que dao origem nos direitos-garantia, fas chamadas garantias fundamentais, {As garantias fundamentais asseguram ao individuo a possi bilidade de exigir dos poderes publicos o respeito ao direito que instrumentalizam. Varios direitos previstos nos incisos do art. 5+ da Constituigao se ajustam a esse eonceito, Vejam-se, por exer: plo, as normas ali consignadas de direito processual penal Nom sempre, contudo,a fronteira entre uma e outra catego: ria se mostra limpida —o que, na realidade, apresenta maior im portancia pratiea, uma vez que a nossa ordem eonstitucional con- fore tratamento univoco aoe direitos e garantias fundamentais 9.8. Garantias instituetonais © conceito de garantias fundamentais se aparta da nogao de ‘garantias institucionais. As garantias institueionais desempenham fungao de prote: co de bens juridicos fundamentais para a preservagao de certos ‘valores tidos como essonciai Esclaroce Paulo Bonavides que a denominagio “garantia ins titweional” deve-se a Carl Sehimitt, que também "a separow dos 1% Direitos Humanos Fundamentais. Sdo Paulo, Sarsiva, 1998, pég. 102 "8 Vieira de Andrade, ob et pe 172 Hermuniuten Connituconal Dircitos endamentais 19 direitos fundamentais, deixando bom claro que o sentido dela era o de,miistrar uma protegao especial a determinadas institu ogo Prossegue o constituconalista ensinando que “a garantia institucional visa, em primeiro lugar. assegurar a permanencia da instituiggo (-), preservando invariavelmente 0 minimo de Substantividade ou essencialidade, x saber, aquele cerne que nfo deve ser atingido nem vilado, porquanto se tal ocorresey imp ‘ara jd perevimento do ente protegid™ Apoiado em Thoma, Stace profesor anna qu as granting so orden ex ardar certs institutos jurisiees, mas nao chegatn a esmiuar {dos os elementos deles, nao cuidando da “determinagao de tor dasas particularidades do seu contewdo™. Esta ultima tarefa— podesse acrescentar — fea. cargo dolegislador, a quem se have- Fide reconhecer iberdale de cnformagac. As garantias institucionais resultam da percepsio de que determinadas instituigoes (direito publico) ou institutes (direto privado) desempenham importéneia to elevada na ordem juridi- fa que devem ter o sou nucleo essencial [as suas earacteristicas lementares) preservado da aco orosiva do legilador. O seu obje- to constituido de um complexo de normas juridicas, de ordem pblica e privada, Exemplificam ossa eategoria de normas entre ‘és a garantia da familia (art, 226)¢ ada autonomia da universi- dade (art. 207, ‘Vem a propésito, aqui, a achega de Ingo Sarlet, que, no to- cante a garantia da familia, lembra ndo ser “qualquer familia que vem a gozar da proteeto constitucional, mas, sim, determinada concepsaio de familia, tal come formatada mediante um complexo de normas juridieas de ordem publica e privada, de tal sorte que a ermanéncia da instituicao da familia ¢ preservada, na verdade, Por intermédio da protegao das normas essenciais que the dio Eonfiguragao juridica’™™-O autor, no mesmo lugar, ita Manssen, ara quem a esséncia da instituigéo da familia ¢ resultante de um feixe de normas infracanstitucionais (direito eivil) que, em seu ‘onjunto, devem ser proservadas, podendo ser desenvolvidas © ‘adaptadas, mas jamais esvaziadas "Paula Bonavies, Curse de rita Constituconal. Sto Pal, Mlb, 1098, pag M88 "anavides bit pa. 497, "Benavides, bi a. 498, Sale ob it, a 182 [Em geral, por si, as garantias institucionais no outorgam direito subjetivo aos individuos, diferenciando-se das garantias fundamentais. Por vezes, entretanto, um mesmo preceito apre Senta aspectos de garantia institucional ede dreito subjetivo. Eo aso do direito de propriedade, que, além de proteger a proprie- Gade enquanto tal,consagra odireito de adquirir,fruire transmi- tira propriedade."* Essas garantias existem, afinal, para que se possam preser- var direitos subjetives que thes dao sentido. Tém por escopo preponderante reforcar 0 aspecto de defesa dos direitos funda mentais 9.4. Ocart. 5 § 25, da CF A Constituigdo Federal abre margem, ainda, a uma sltima classificagao dotada de relevantes efeitos praticos, ainda que motivadora de controversia. © art. 5, § 2, da Lei Maior, estabelece que “os direitos e garantias expressos nesta Constituigdo nao excluem outros decor Fentes do regime e dos prineipias por ela adotados, ou dos trata dos internacionais em que a Repiblica Pederatioa do Brasil seja parte”. Bssa norma ver animando adoutrina a aludir a direitos fundamentais expressos, direitos fandamentais implicit ¢ di- reitos decorrentes do regime e de tratados internacionais.!” © pardgrafo em questao da ensejo a que se afirme que se adotou um sistema aberto de direitos fundamentais no Brasil, 20 Se podendo considerar taxativa a enumeracio dos direitos Funda- imentais no Titulo IT da Constituigao. Essa interpretagio é sancic: hada pela jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal, que, a0 ‘preciar a agao direta de inconstitucionalidade envolvendo a eria~ ‘Glodo IPME"™, afirmou que o principio da anterioridade (art. 150 TUL b, da CF) constitu um direito ou garantia individual funda- mental ! legitimo, portanto, cogitar de direitos fundamentais pre vistos expressamente no catalogo da Carta ede direitos material mente fundamentais que estao fora do catalogo, Direitos no ro- tulados expressamente como fundamentals no titulo proprio d& ® Segue Pieroth to por Salt, ob cit, pe 183, fg Ada Siva, ob 7a 18 ‘ADIN 890, DU 1894 Constituigao podem ser como tal considerados, a depender da ans Tise do seu objeto e dos principios adotados pela Constituigao, A ia fondamentalidade decorreria da sua referencia a posighes ju- {idicas ligadas no valor da dignidade humana, que, por sun im portancia, nao podem ser deixadas 4 disponibiidade absoluta do fogislador ordinario, Em virtude da prodigalidade de minicias do cat logo do art. 65, poacos seriam os direitas ali nao enumerados que poderiam ser tos como direitos fundamentais decorrentes do regime de ‘mocratico e dos principios que regem a Constituigao. Manoel Gon: salves Ferreira Filho lembra o dieito & incolumidade fisiea, que, Spesar do nao contomplado expressamente, resulta da proibigao do tratamento desumano eda tortura, Fala, ainda, de um direito geral a0 segredo, que ressairia do direito 8 privacidade ea intimi dade, sendo a base do direito a0 sigilo da fonte de informagio (art 54, XIV, CF). PPor influéncia da doutrina alema, ha quem mencione, tam- bbém,o direito de igual acesso aos cargos pablicos (art. 37,1) como direito fundamental”, bem assim a legitimagao ativa para a ii siativa popular (art. 61, § 2) — vista como auténtico direito de participagho politiea —, proclamagao de igualdade de direitos © brigagaes entre os conjuges (art. 228, § 5) eo direito dos filhos a tratamento igualitario (art. 227, § 63). No Ambito dos direitos so- siais, seriam direitos fundameniais fora do eatélogo os direitos & revidéncia social e a assisténcia social eo direito a protege do ‘meio ambiente (art, 225)" — este limo jé mencionado no STF como direito fundamental de terceira geragio."™ © entendimento de que é possivel, a partir das normas do proprio eatdlogo dos direitos fundamentais e dos prineipios cons fitucionais elementares da Lei Maior, deduzir a existoncia de ov {tos direitos fundamentais no constitui novidade na tradigao cons- fitucional brasileira, A Carta de 1969 também proclamava, no § 36 do art. 153, que “a especificagto dos direitos e garantias ex- Dressos nesta Constituigao nao exclu outros direitos e garantias Aecorrentes do regime e dos principios que ela adota”. Pontes de ‘Comentarios & Constiuigio de 1067, Sto Paulo, RE 1967, IV, pag. O26. Sarit ab it, pags 122-131 se yr oj citado RE 124 207-SSP (Dd 22095) Miranda ensinava, entao, que o propésito da norma, de extragdo norte-amerieana (iX Emenda), era o de explicitar que "a enume: ragio de alguns direitos na Constituicio nao pode ser interpreta da no sentido de excluir ou enfraquecer outros diroitos que tem o ovo", acreseentande: "0s textos constitucionais, quando se preoeupam com 1s direitos dos individuos ¢ dos nacionais, mais cogitam da. ‘queles que facilmente se poem em perige. Com isso, nao ne. fam o8 outros (..). Uma das consoquéneias da regra juridiea do art. 153, § 86, €refugar-se, a respeito de direitos e garan- tias, 0 principio de interpretagao das leis inclusio wnius altering est exelusio" 0 propésito da norma ¢ 0 de afirmar que a enumeragao dos direitos nao significa que outras posigéas juridieas pensaveis de ‘defesa da dignidade da possoa estejam exciuidas da protegao do direito nacional. Afinal, como esclarece F. Muller, “os direitos fun- damentais nio sio 0 resto de tudo 0 que o individuo nao pode — Deve ser mencionado o problema que resulta da parte final do § 2 do art. 6'da Constituigio, em que se faz referéncia ao fato tle que os direitos fundamentais enumerados nao excluem os di reitos previstos em tratados internacionais de que o Brasil soja, parte. [Nease trecho do dispositivo da Carta da Republica, parte da doutrina quer ver consagrada a tese de que as normas de tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil ¢ parte os tentam a natureza de direitos fandamentals, ielusive no que tan- {ge no seu status constitucional, Sustenta-se que os direitos huma. hos previstos em tratados de dircito internacional valeriam entre ‘nds com forga de norma constitucianal reforgada como clausula pétrea.*! Haveria, pois, uma outra classe de direitos fundamen- {ais entre nés, a des direitos proclamados em tais tratados. Peates de Miranda, Comentrio & Contino de 1067, cm rene we apud. Surana Harv, ci pg 139, nota 142 “W/AUA. Cangadn Trindade. A Pate dos Diets Humancs 0B Brasilia, Baa Ui, 198, pare 103-130 Fdea Presa, Diet Hanes € Dirt Conttcioaa!Iniercional Sto Pala, Mas Linonad, 1006, ps 84 Essa corronte, embora congrogue juristas do nomeada, nao ‘hegow a sensibilizar 0 Supremo Tribunal Federal, sendo possivel fenxergar algumas dificuldades tedricas a serem ainda vencidas por tal dautrina. Promover as rogras de dircito internacional ao status de nor- amas de direito constitucional apresenta a potenctalidade de aba lar a rigider da Constituicao — dadas as earacteristicas proprias da claboragao de emendas & Carta ¢ as de celebragte, incorpora- Ho © dentincia dos tratados de direito internacional no direito brasileiro.” Ha indicagao, ademais, no proprio texto eonstitucional, de 1uo os tratados convivem com as leis ordinérins, no que tange & hierarquia das normas juridieas — tanto que os recursos contra decisdes que os afrontam sto apreciados, n&o pelo Supremo Tri- bunal Federal, mas pelo Superior Tribunal de Justiga. A compreensdio dessa parte final do § 2: do art. 5* exigira menos esforco retérico — até por mais facilmente se afeigoar a0 ‘ue resulta da visio sistemstien de nosso direito constituional — fe nela nao se buscar um propésito pouco clare e indemonstrado da Lei Maior de incorporar ast tedas as normas de direitos huma- fos constantes de tratados de que o Brasil faz parte, Dalleitura do § 2 do art. 5¢da OF pode-se colher, antes, que os direitos expressa ou implicitamente previstos na Constituigdo ‘ao constituem empego a que normas infraconstituctonais, até de direito piblico externo, venham a contemplar outras limitagdes a0 exercicio do poder e outras protegies ao principio da dignidade humana — sem que iss0, entretanto, venha a interferir na ordem hierarquica das normas, O preceito, neste ponto, revelaria props- sito “simplesmente pedagogieo [do canstituintel”, na expressao do Ministre Marco Aurélio." = Gatando eae lero no pro pane ater curse no Congress Nacional broposta de Emenda& Conte ea conten da hamada efor do Ju Hite! gue vin acrescenar a0 at Sdn Lat Mair um} com eats dcee ‘os traiados« envengeg ntermacionai sobre direitos humapos eprovider ‘a Caan do Congrento Racine dels area, por tes guise do oto ot ae aplcagao pela sutra parce” Nao obstante seadruaula parte fal da nora PSC prospera, nti, sera eso de considerar or ror ines fm tratadesagrovaossegunde o novo precedents cone na “onritucgaat Be ada vraraapresentaho asma da PEC rio "qe te diretion anda ne goaa de erage ensitcional nazar gd 00 veel ado do jlgament em 221.98, 0 STF, do HC 0 acervo de jurisprudéneia do Supremo Tribunal Federa} registra precedenies em que se discute se 0 Paeto de 8. Jost da Costa Rica, em vigor no Brasil 2 partir da década de 90 € que proibe a prisao civil, ressalvando apenas o caso da divida alimen. ficla, teria inviabilizado a prisio do depositario infiel, admitida pela Constituigao, no art. 5% LXVII. Em diversas oeasioes, o STP onfirmou a legitimidade dessas prisdes, a comecar pela decisio do Plendvio, de 23.11.85, no HIC 72.181, aque se seguiram diver- ‘sas outras, como o RE 206.086, DJ7.2.97, 0 HC 75.925-V/SP, DJ 12.12.97, ¢ 0 HC 77.887-7/8P, DJ 23.10.98. Esto ultimo foi assim resumido pelo relator, Ministro Moreira Alves: Esta Corte, por seu Plenério (HC 72.181), firmou o entendimento de que, em face da Carta Magna de 1988, per siste a constitucionalidade da prisdo civil do depositério in. fiel om se tratando de alienagaofidueidria, bem como de que 1 Pacto de Sao Jox6 da Costa Rica, além de ndo poder contra: por-se a permissao do artigo 6%, LXV, da mesma Constitui- (Ho, nao derrogou, por ser norma infraconstitucional geval, fis hormas infraconstitucionais especiais sobre prisao civil Ado depositario intel” Em outros precedentes, versando assuntos diversos, tornou- se a recusar a idéia de que um tratado, mesmo versando direitos, individuals, pssa equiparar-se as normas eonstitucionais.” 75 ct-e pe dos a ADIn1.A80-DP reo Min. Casa de Mello nf. a. 196,de a Lover 1° PARIDADE NORMATIVA ENTRE ATOS INTERNACIONAIS ENOR- Mas INRACONSTITUCIONAIS DE DIRETO INTERNO. 0s ratuos ou convngtnsinernaionaie, uma vex rogularmante in corpora tater staan site jr bras, a ee ‘Gnlindrias, bavende, em coneequencia, entre cata eos atos de diriteinternaco ‘al plies, mora rlais de partdade normatina: Precedents ‘Ne sistema urd brslio, on at inernaionaie nd dspdem dep tunsa ieranuea woe as tors de diet intrao.A eventual preceenca ‘Euluatedor fu convecgctilercioair bre sr regres ffraonstuconals ‘ei eon ent ne etcar quand 8 wa de anima cm Srdenameatadomesico input, pra seeped coafto, a plea sen Ueda cael iex pnt og po, and cae do Feces ih ue admits w kate de sritanfandamentai de nel cone {atonal ee nivel meramente egal’ “S pacino drei Basle gue 8 Hermentatia ConstitucionaleDiretes Fundamentals 16s 10. TITULARIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. ‘Um primeiro aspecto com relacio aos problemas a serem enfrentados no tépico sobre titularidade dos direitos fundamen- {ais diz com saber se apenas os seres humanes podem ser titula- res destes direitos — se deles estao excluidas as pessoas juridi eas, em especial as de direito publico, 10.1. Direitos fundamentais e pessoa juridica Nao ha, em prinetpio, impedimento insuperdvel a que pesso- ‘as juridicas venham, também, a ser consideradas titulares de di- foriginalmente, terem por referencia a pessoa fi v8 a doutrina de que os direitos fundamentai 's pessoas fisieas." Os direitos fundamentais suscetiveis, por sua natureza, de serem texercidos por pessoas juridicas podem té-las por titular. Assim, ‘do haveria por que recusar as pessoas juridicas as consequénci as do principio da igualdade, nem o direito de resposta,o direito de propriedade, o sigilo de correspondéncta, a iaviolabilidade de domiclio, as garantias do direito adquirido, do ato juridico per- feito e da coisa julgada."* Ha mesmo casos de diveitos dirigidas diretamente a propria pessoa juridica, tal o direito de ndo interfe- réncia ostatal no funcionamento de assoviagBes (art. 5%, XVID} e0 de nao serem elas compulsoriamente dissolvidas (art. XIX), Garantias, porém, que dizem respeito & prisio (og. art. 5% LXD, tém as pessoas fisieas como destinatarias exclusivas. Da ‘mesma forma, nao ha estender, por dbvio, a pessoas juridicas di- reitos politicos, como o de votar eo de ser eleito para cargo politi 9, cu direitos socials, como o de assisténcia social Questo um poueo mais melindrosa diz com a possibilidade de pessoa juridica de direito publio vir a titularizar direitos fun: damentais, Afinal, os direitos findamentais nascem da intengio de garantir uma esfera de liberdade justamente em face dos po- eres publicos. > Bron incopurar treads que itt fieitosuadamen exemplas em J, Ada Silva, ob et, pax, 176. Novamente, aqui, uma resposta negativa absoluta nao con- viria, até em face de alguns desdebramentos dos direitos funda mentais do ponto de vista da sua dimensao objetiva, Tem-se ad mitido que as entidades estatais gozam de direitos do tipo proce. imental, Esta a ligao de K. Hesse, que ailustra, citando direito {deer ouvido em juizo 0 direito a0 juiz predeterminado por li." ‘A-esses exemplas poder-ce-in agregar o direito a igualdade de ar ‘mas — que o STF afirmou ser prerrogativa, também, da acusagiio publica, no processo penal” —e o direito a ampla defesa. Canotilho admite que essas pessoas invoquem os direitos fundamentais quando nao estiverem em posigae de poder ou de procminéneia — em especial quando elas préprias estiverem em Tipieas situagdes de sujeigao, propiciadas pelo fenomeno da pul verizagao da organizacio administrativa, a ensejar que entes pi- bilicos ge vejam em confito entre si e em face da Administracao central." 10.2. Direitos fundamentais e estrangeiros 0 caput do art. 5 garante os direitos fundamentais “aos bra sileiros e aos estrangeiros residentes no Pais". A norma suseita a ‘questao de saber se os estrangeiros nao-residentes estariam Alijados da titularidade de todos os direitos fundamentais, AA resposta deve ser negativa, A declaracio de direitos fun- smentais da Constituigao abrange diversos direitos que radicam diretamente no principio da dignidade de homem — principio {que o art, 1s, I, da Constituigao Federal, torna fundamento do Estado democratico brasileiro e que nao deixa de ter aplicagio com relagio a alguém pelo fato de a pessoa ter nacionalidade es- trangeira, [Nesse sentido, Pontes de Miranda, comentando norma da Constituigio passada andloga a do eapue do art. 5, entende que a circunstineia de nfo se mencionarem 0s estrangeiros nao-resi- ‘dentes apenas exclu deles direitos que nao sejam, por indole pr 1 of HC 70.516, DJ 27.8.97, em que se afirmou que, em principio, fere 2 igualdads de srmoo oe a defen Goce Ge prams dabens tt relape aot &t "Capote, bt pg 386 Vieira de Andrade, ob, ct pg 182, am mn adit som conserve restrtea, a tulrtdde, dena gue h essa [orca ple este) -prosnpuino Streets Hamano indie" pria, de todos os homens. A seu vor, “a fato de uma Consttuigzo hhaver falado de ‘nacionais eestrangeiros residentes no territorio fndo exclut a asseguragdo ea garantia de certos direitos funda: Imentais que, segundo a convieedo geral ou de eseo! dos povas, a (que ela aderiu, sao de todos os seres humanos”.*® OST, em acérdao antigo, ainda de 1957, apreciou esse mes: mo problema, suscitado pela redagio de dispositivo constitucio: ‘al Semelhante ao do caput do art. 5° da atual Lei Maior. No RE 38.919 (RTJ 2/866, rel. 0 Ministro Candido Mota Filho), o STF julgou mandado de seguranga impetrado por firma estrangeira, sediada em Lisboa, que se via as voltas com determinagdo do fseo de leiloar caixas de cognac da sua propriedade. Cuidava-se de sa- bor se o direito de propricdade o 0 direito ao uso do mandado de seguranga, previstos como direitos fandamentais, poderiam ser invorados pela firma, pessoa ndo-residente, O STF entendeu que seria uma violéncia no reconhecer 0 direito de propriedade do estrangeiro no Brasil, independentemente da sua residéncia, € {que ndo faria sentido recusar-Ihe legitimidade ao mandado de Seguranca, interpretando a cldusula do caput do rol dos direitos fundamentais como a denotar que os direitos individuais sio ga- rantidos em conereto dentro dos limites da soberania territorial do pais. A Corte arrematou: "Quando se trata de ato de autorida- de brasileira e se destine o romédio procersual a produzir resul- tado dentro do pais, pouco importa que o estrangeiro resida aqui ou nio”. Viu-se, portanto, na eliusula em exame uma simples in Aicagao do Ambito espacial de validade dos direitos fundamentais proclamados no Estatuto Politico brasileiro." Quando menos, haveria de se entender, com José Afonso da Silva, que existem normas de direitoinfraconstitucional que pro- tegem as posigdes subjetivas dos estrangeiros, sem consideragao 0 fato de nao residirem no pais.” Alguns direitos fundamentais, contudo, por sua prépria na: turesa, devem ser compreendidos com um aleance restrito aos nacionais. Assim, os direitos politicos pressupdem exatamente a nacionalidade brasileira. Direitos socials, como odireito ao traba- Te Pontes de Miranda. Comenti & Conan de 1967, vl. 1V, at Plisitamentes ite do eriangeire nievorMente de pets omadode de ‘Ada Sl, 0, ct, pap 17 168 emmenéuica Contitusonal ¢ Dinitos Fundarnentais ‘ho, igualmente podem ser compreendidos como nlo-inclusivos dos cesttangeiros sem residéneia no pais. Eno ambito dos direitos cha. tmados individuais que os direitos do estrangeiro nio-residente sganham maior significado, 10.3. Capacidade de fato e eapacidade de dir Dada a tendéncia A especificagao dos direitos fundamentais, alguns deles podem ser referidos exclusivamente a algumas eate {orias de pessoas. Outros podem, ainda, ter por titulares apenas Dessoas em uma determinada fase da vida humana. O direito 4 rotegao a infancia (art, 6", evidentemente tem por destinatariy ‘quem se encontra nessa fase da Vida humana. A objega0de conscic fia quanto ao servigo militar (art. 5%, VII) diz respeito a situagn pieamente ligada a determinada idade. Outros direitos, porém, ensejam perplexidade quanto a uma eventual referéncia a condigao elaria do seu presumido titular Podem, entdo, suseitar a questo de saber quando comeca a titu- laridade deles. 0 problema, por vezes, tende a se resolver com a distingao conhecida do direito privado entre eapacidade de direito —a apti- {430 para ser titular de direitos e ebrigagies — e a capacidade de Tato — aptidao conereta para o seu exereicio. Assim, uma erianga pode ser titular do direito de propriedade, mas pode nao ter eapa- cidade para exereer as faculdades increntes a esse direito —ade alienagao, por exemplo, Lembra Canotilho, entretanto, que, no ambito dos dircitos fundamentais, nom sempre sera poseivel o recurso a tals eritérios civilisties, sob pena de, a pretexto de se aplicar a regra de caps tidade de fato, terminar-se por restrigir indevidamente direitos Fundamentais: Em certos casos, nao haveria sentido em reconhe= cor direitos fundamentais a pessoas que nao os podem exercer, como, p. ex, reconhecer 9 direito de reunid ao reeém-nascido."™ © autor propte algumas linhas genéricas para estabelecer fem que casos sera correto eogitar da limitagao da capacidade de ato, Quanto aos direitos fendamentais que nao implicam exigén- tia de conhecimento ou tomada de decisio, nao seria possivel co Bitar da distingao entre capacidade de fatoe capacidade de direi- fo, pois o direito fundamental ndo poderia ser Visto como depen- L dente de limitacao de idade,j4 que a sua fruigao ndo dependeria da fapdcidade intelectiva do titular. Seria o easo do direito a vida ou & {ntegridade pessoal. Outros direitos, que nao prescindem de um jgrau de maturidade para serem exercidos, teriam a sua titularida- de vinculada as exigencias de idade minima, fixadas na le civil Canotilho reconhece que essas linhas gorais nfo resolver & perfeigdo todos os problemas suscitaveis, mas, invocando Hesse, Sustenta que “para além desses topicos gerais, deve reconhocer” Senac estar odireita constitucional em condighes de fornecer uma Fundamentagio global da capacidade de exercicio de direitos r tivamente ao problema da idade minima". ‘Jorge Miranda, de seu turno, ¢ contrério a distingao entre capacidade de fatoe eapacidade de direito quanto aos direitos fun damentais, Para o autor, "a atribuigao de direitos fundamentais envolve a correspondente atribuigho de capacidade para o seu ‘exereiio, Nao faria sentido em Direto constitucional a separagao tivilistica entre eapacidade de gozo e capacidade de exercicio ou de agir, porque os direitos fundamentals sao estabelecidas em face de certas qualidades prefixadas pelas normas constitucionais e, portanto, atribuidos a todos que as possuam”."* (© tema sugere questdes de relevantes reparcussbes prati cas, Pense-se, por exemplo, no direito de liberdade de crenca ede Teligito. Pode um adolescente invocar esse direito para se eximir de obrigagdes religiosas impostas pelos seus pais? Bm que medi- dao direito de abragar uma nova religiao, pr um menor, pode scr restringido pelos pais? Deve-se adotar o criterio de que, por o volver decisio do menor ¢, em principio, exigir maturidade, nao hhaverd liberdade religiosa antes da maloridade civil? A questo ‘ado parece encontrar resposta aprioristica nas normas gerais de ‘eapacidade do Césigo Civil-O problema parece merecertratamento legislative espeeifeo para cada direito considerado. A falta de previsao legal topiea, € de se sustentar a necessidade de trata- mento ad hoe das quostdes surgidas, mediante 0 sopesamento dos ‘Valores constitucionais envalvides em cada caso. 111, SUJEITOS PASSIVOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 0 sujeito passivo por exceléncia dos direitos fundamentais 6 © Estado. A propria Histéria revela o Poder Pablico como o desti~ pamela! natario proeipuo das obrigagdos decorrentes dos direitos funds, nas. Como jd visto, a finalidade para a qual os ireitas funda. ‘mentais foram inicialmente eoncebidos consistin, exatamente, em estabelecer um espago de imunidade do individuo em face dos poderes publicos 0s desdobramentos historicos, originados pelas crises sociais « econdmicas do século XX, tornaram evidente que nao se poderia ‘mais relogar o Estado ao simples papel de vio dos direitos ind Viduais. Pereebeu-se que aos poderes publicos se destinava a ta- refa de preservar a sociedade civil dos perigos de deterioracao nela propria existentes, Deu-se conta do que o Bstade deveria atuar no seio da sociedade civil para nela predispor as condigaes de efe- tiva liberdade para todos. Afinal, tornou-se claro que outeas fo. ‘28 sociais, como grupos econdmicos ou politicos de peso, poderiam, dda mesma forma, trazer para o individuo varios dos constrangi mentos que se buscavam provenir contra o Estado, Ganhou alento, simultancamente, a percepgao de que os i= reitos fundamentals possuem uma feigdo objtiva, que nao somente obriga o Estado a respeitar os direitos fundamentals, mas que também o forga a fazé-los respeitados pelos proprios individuos, has suas relagoes entre si, Ao se desvendar o aspecto objetivo dos direitos fundamentals, abriuese 4 inteligéncia predominante a idéia de que esses direitos, na verdade, consagram valores basi os da ordem juridica e da sociedade — valores esses que devenn ser prestigiados em todos os setores da vida civil Nao seria possivel abrigar na sociedade uma dupla étiea (na locugio de Joan Rivero), om que um mesmo comportamento, com implicagies morais relevantes, 6 exigido do Bstado nas suas rela- 05 com os individuos, mas ¢ deixado ao arbitrio dos individuos, quando em contate mutuo AA percepcio clara da forca vineulante eda eficdcia imediata dos direitos fundamentais e da sua posiedo no topo da hierarquia, das norimas juridieas favoreceu a pereepeso de que os principios que informam os direitos fundamentais ndo poderiam deixar de tor aplicacdo em toda a ordem juridica, inclusive no setor do di- reito privado. ‘Tudo isso contribuiu para a doutrina de que também as pes- soas privadas pudessem estar submetidas aos direitos fundamen- fais. Essa incidéncia das normas de direitos fundamentais no AAmbito das relagées privadas passou a Ser eonhecida, sobretudo a partir dos anos 50, como o feito externo ou a efiedcia horizontal dos direitos fundamentais (a drittwirkung do direito alemao). Essa doutrina apresenta desdobramentos praticos nao- seglenclaves, oferecendo nova perspetiva para oenfrentamento de questdes quotidianas “Assim, 6 dado indagar se, & vista do direito fundamental & igualdade, sors lgttima que o pa dee do heranca todos os seus ins da quota disponivel a um dos seus filhos, em detrimenta dos demais. A imposigao do direito& ampla defesa tera tambem int dncin no dmbito da imponigao de aangdes no interior de ead des privadas? Uma obrigagio dendo trabalhar no mesmo ramode Sogocio do patra, durante um certo tempo inserta num contralto de trabalhor¢ valida a do principio beréade de exeriio fs profisst?B leita uma eampanta de Doicote a um filme? © Siecto a decisdes fandamentadas tom aplieagao no Ambito das selagbesprivadas? 9 problema no suet, videntemente, apenas no Bre sil. A Gonstivugao portuguesa, por exemplo,choya a proclamar fue os direitos fndamentais vinculam as entidades privadas. A Ahateria 6 objeto de estudos doutrindros ede decisdesjudiiais fm todos ov paises em que o nosso modelo constitucional se shebera, E claro que nao se discute a incidéncia dos direitos funda- mentais quando estes estao evidentemente concebidos para se rem exercidos em face de particulares. Diversos direitos socials, ‘em especial 09 relacionadas ao Direito do Trabalho, tém eficéct ddireta contra empregadores privados — veja-se, a propésito, 0 inciso XVIT, do art. 7 que assegura o gozo de férias anuais rem neradas, com pelo menos um tergo a mais do que o salario normal, eo inciso XXX, do mesmo dispositive, que proibe aos empregado- es estabelecor diferengas de salrios e de critérios de admissao, por motive de sexo, idade, cor ou estado civil. Mesmo no art. 3 Yejarse o ineiso V, que ascogura o direito de resposta, proporci- zal ao agrave — direito esse que havera de ter por sujeito passive o drgio de imprensa, particular, em que a ofensa foi eometida Em casos outros leitura do precelto eonstituctonal nfo deixa vida de que o sujeito passivo do direito somente pode ser o Es tado, Direitos politicos, como 0 que se extrai do principio do voto direto, seereto, universal e periodico (art. 14), dificilmente podem ser estendids’as deliberagdes das entidades privadas como prin- clpio obrigatéri E, igualmente, o que ocorre com os direitos deri- vaulos do que se dispie no inciso LXXIV do art, 5+ —“o Estado prestara assisténcia juridica integral ¢ gratuita aos que compro. vvarem insufleiéncia de recursos" —, ou como o que & previsto no inciso LKXV do mesmo artigo —“o Bstado indenizaré 0 condena: do por erro judiciério, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentenga”—, ou, ainda, com o dieito a indenizacao, nos casos de desapropriagao, de que fala oinciso XXXIV do art. 5: da Constituigio, Fora dessas hipéteses, ha outros direitos — direitas de dete sa —, em que se poe a questao de saber se, e em que medida, aleangam as relagées privadas. 0 tema envolve polémica Ha quem se posicione contrariamente A invocagio de dei tos fondamentais em casos assim, lembrando que, historieamen. te, estes direitos foram eoneebidos como protegao contra 0 Bstado, acrescentando, ainda, que a intromissao de direitos fundamentais ‘no Ambito das relagdes privadas resultaria em detrimento de outro principio basico das sociedades democraticas — 0 da autonomia Individual, em especial no que tange a liberdade de contratar, Embora o prinefpio da autonomia da vontade no conste lite ralmente na Constituigao,¢ possivel encontrar no Texto Magno & protecdo a seus aspectos essenciais. A Carta de 1988 assegura luma liberdade geral no caput do seu art. 2. O préprio reconheei mento do valor da dignidade humana como fundamento do Esta- do brasileiro (art. 1% IIL, CR) — dignidade que nao se concebe ‘sem referéncia a0 poder do sutodeterminagio— confirma status constitucional do prineipio da autonomia individual. Duas outras teorias reconhecem a incidéncia dos direitos fundamentals sobre relagoes entre particulares,diferenciando-se rau da interfereneia que seria de se Ihes reconhecer em tais hhipoteses. Sao elas a teoria da efieéciadireta ou imediata dos di- reitos fundamentais e a teoria da eficécia indireta ou mediata esses direitos A teoria da effedeia direta ou imediata sustenta que os direi- tos fundamentais devem ter pronta aplicacao em face de entida: des privadas que desfrutem de consideravel poder social, ou ext face de individuos que estejam, em relagao a outros, numa situa fo de supremacia de fato ou de direito. Para um autor que se hotabilizou por eapitanear essa corrente, Nipperdey, prineipios como o de que nie deve haver punigie sem prévia norma que de 7 Hermentuten Constucona eDieitos Pandamestais na na 0 comportamento como eensurdvel e o principio do contradi {ario haveriam de ser aplicaveis nas relaghes diseiplinares de um agrupamento privado, Os direitos fundamentais — pelo menos alguns — deveriam, para o& soguidares dessa teoria, ser diretamente aplicéveis nas felagdes entro os particulares, gerando direitos subjetivos ‘oponiveis a entes privados. Lembra-se, em apoio a tese, que em diversas ordens constitucionais (no Brasil, a CF, art. 5 §1) pro- clama-se a aplicagao imediata das normas definidoras de direitos fundamentals. Vieira de Andrade ilustra as consequéncias da adogao dessa ‘tworia, dizendo que, para ela, os direitos fundamentais tornariam invalidas “quaisquer clausulas negociais que implicassem o dever de agir ou de nao agir em situacoes que tem de ser de devisdo to talmente livre. Por exemplo, a obrigagdo de casar ou ndo-casar, de abracar ou deixar certa religido, segundo a vontade de outrem, & obrigagao assumida pelo maride de nunca viajar eosinho ete." A preocupagio maior, contudo, informa Vieira de Andrade, é ‘com as situagdes em que os individuos se encontram numa rela- ‘fo juridica em posicao de subordinagao Fatica ou juridica."™ Essa teoria nao éalhela as diffeuldades oferecidas pelo prin- pio da igualdade no Ambito das relagies privadas. O principio da igualdade traduz-se, em boa medida, como um comando proibitivo de decisGes arbitrarias, um imperative de racionalida de de conduta, Exigir que na vida das relagées o individuo aja sempre em funeao de critérioa racionais ¢ desconhecer a nature- za humana. O homem também age movido por emogio e senti- mentos, que conduzem a agdes nao necessariamente racionais. Ateoria sustenta, entao, que, nesses easos, haveria de prevale- fer e principio da autonomia. O principio da autonomia predo- mina em se tratando de atos que expressam liberalidades pura, Assim, ndo haveria, em principio, impedimento a que o pai dei- xasso om horanca os bens da quota disponivel apenas para um dos seus filhos. lagi ds Brides Pevadar so Dsles Pundamenta Lisbon, AAPOle 1990, Hen, vu Maria Bilbao Ul La sina de os Derechos Pundatentlee frente Particulres- Made, CHPC, i907, pag 28 Viera de Andrade, ob. ei pag 218 oi i ma LMermenduien Consitusons ¢Diitos Pundarentaiy 6 a teoria da efiedeia indireta ow mediata, pretendendy _maior resguardo do principio da autonomia edo livre desenvolvi ‘mento da personalidade, recusa a incidéncia direta dos direitos fundamentais na esfera privada, alertando que uma tal latitude dos direitos fundamentals reduadaria num incremento do poder ddo Estado, que ganharia espago para uma eresceate ingeréncia, na vida privada do individuo, a fim de fiscalizar 0 cumprimento ddos deveres resultantes da ineidéncia dos direitos fundamentais ‘Sobre as relagoes particulares."* Atribui-se aos direitos fundamentais a natureza priméria de direitos de defesa da liberdade contra o poder do Estado ese sustenta que submeter a atividade dos individuos as mesmas contengdes impostas ao Estado significaria inverter direitos em deveres.™ Reconhece-se que 0 Estado est obrigado a protoger os dire tes fundamentais em todas as relagbes mantidas no ambito do ordenamento juridico, o que inclui 0 dever de protegé-los, tam- bem, contra entidades privadas, Atonua-se, porém, a intensidade «ba aplicagio desses direitos. Entende-se que certo direito fundamental pode incidir no dominio das relagdes privadas, mas indiretamente. Admite-se que normas legais imperativas venham a limitar a autonomia dos in dividuos, em fungdo da necessidade de se impor, nas relagses pri ‘um valor protegide como direito fundamental. Acolhe-se a fungao do vetor interpretative dos direitos fundamentals, na ta refa de fixar a compreensio das normas de direito civil. Os direi- tos fundamentais, por fm, incidiriam sobre as relagdes privadas pelos filtros das chamadas cldusulas geraie do direito ivi, ais ‘como as expressdes abertas “ordem publica” ou “bons costume: ‘Ambas as teorlas — a primeira com 0 seu cuidado com a mi ima efetividade dos direitos fundamentais e a outra com 0 seu desyelo pela autonomia individual e a seguranga juridica — ba seiam-se em valores encarecidos pela ordem constitucional. As preocupagies, que as fomentam, apontam para a necessidade de se coordenarem os valores que esto na base de eada qual, para ‘que se aleancem resultados justos nas casos conerotos "waa, por todos, Garcia Torre ¢Jinéner-Blant, Derechos Funda smentaleeyHelscoes cote Parteuares Mads Civitas, 1980, PoE Com feito, se.a liberdade inclui a autonomia privada, nao consiste apenas nela. Nao ¢ dado que, em nome da autonomia privada, se venha a destruira liberdade e a dignidade dos outros E de so admitir, em principio, que os direitos fundamentais sojam aplieaveis nas relagoes privadas, quando uma das partes conta ‘com posigio de supremacia— mesmo fatiea — sabre outrem, ‘No émbito das relagdes entre particulares om relativa igual: dade de condigdes o problema se torna mais complexo. Havers de @ proceder a uma ponderacao entre o8 valores envolvidos, com vistas a se aleangar uma harmonizagao, no caso concreto, entre eles (coneordaneia prética), Ha que se busear nio saerifiear com pletamente um direito fundamental nem o eorne da autonomia da vontade."" ara se atingir uma tal concordancia, no se pode desprevar o fato de que a liberdade também corresponde a possibilidade de fe vineular, o que importa aceiter limitagie do ambito protetor dos direitos fundamentais. Por outro Indo, a possibilidade dessa Timitagao pressupie efetiva iberdade contratual, Na medida em que as partes se revelem desiguais de fato, o exame da legitimi dade da restrigao consensual dos direitos fundamentais havers de ser abjeto de exame mais rigoroso, (0 que nto se pode perder de vista 6 que a autonomia privada , em especial, aliberdade contratual, na ligso de Hesse, “encom tram o seu fundamento eos seus limites na idéia da configuragao responsivel da propria vida e da prépria personalidade”"= A au tonomia privada, com os seus aspectos de autadeterminagio ¢ de responsabilidade individual, “compreende também a possibilida de de contrair, por livre deliberacdo, obrigagées que 0s poderes paiblicos nao poderiam impor ao idadao™.™ Hesse adverte que o principio da autonomia privada corre- ria porigo “se as pessoas, nas cuas relagdes reprocaa, nio pudes- sem renunciar as normas de direitos fundamentais que sa0 indis- Poniveis para a.agio estatal”." No entanto, advoga que o pressu- Posto da liberdade contratual a situagio juridiea ofatica aproxi- ‘madamente igual das partes. Desaparecendo essa situagao igus: ® Abrantn bet pa, 108, Sarat, bit i. $30 seat, Derecho Conatitacionaly Derecho Priva Msi, Civitas, 199, pie. “i. pg. 04 oid pa 8 ermenduiea Constitusonal ¢Dinitos Fundarentais ermentatica Constiuciona eDirtos Fundarentais im litéria, estaria wltrapassada a razho de ser das limitagoes que a liberdade de contratar exerce sobre a eficdcia dos direitos funda mentais nas relagdes entre particalares."™ Ha, entdo, que se realizar uma ponderagao entre o principio da autonomia eos valores protegidos como direitos fundamen. tais, endo como parametro que a idéia do homem, assumida pela Constituigaa demacratica, pressupde liberdade e responsabilida de — 0 que, necessariamente, envolve a faculdade de limitagio voluntaria dos direitos fundamentais no comércio das relaghes Ssociais, mas que também pressupde liberdade de fatoe de direito fnas decisdes sobre tais limitagoes. B indubitavel que so esta, aqui, em area dominada pela sub. jetividade, Diferengas eulturais podem ensejar solugées diferen. tes para problemas anslogos, conforme o pais ou o momento his: torico considerado, K, Hesse noticia que a jurisprudéncia alema vem-se orien- tando no sentido de considerar que os direitos fundamentals in ‘gressam no dominio das relagdes entre individuos por meio indi= Feto, por intermédio dos conceitos indeterminados e das clausu- Tas gerais do direita privado,"® 0 precedente da Corte Constitucional da Alemanha tido como pioneiro no reconhecimento da eficacia horizontal dos direitos Fundamentais, julgado em janciro de 1958, inelina-se para a dou- trina da eficdcla mediata, No easo Luth, este individuo (presiden: te do Clube de Imprensa de Hamburgo, membro ative de um gr po que pretendia restaurar a confianga dos deus na Alemanha), durante ainauguragso de um festival de cinema, em 1950, ¢, mais adiante, em earta aberta & populagio, concitow 0 pablico e os exibidores @ nao prestiginr e a ndo comercializar um certo filme de um cineasta — Harlan —, suspeito de cumplicidade com os nazistas, durante o 3 Reich. A produtora do filme conseguiu, em juizo, eautelar para que Lith fosse eompelidoa suspender imedia- tamente a eampanha. Para o julgador, a conduta de Luth expres- sava “uma incitagdo ao boicote contréria aos bons costumes”. Lath teria contra sio art, 826 do Codigo Civil alemao, que preceitua id, pa 78, = K Heme ot, pgs 9.04 “0 Teitanal Capetiucanal icunsere ve esta infuses dias fndasentasl sre o Dito Prvada {ido de qoeoonteud ricco do diets fundamentals ome nova hts fevlecenvleeindvetomrste pr neta dow precios que segemimetitamente {Sistmatesas” Sari daa mene tformagio bcp 380) {que “quom dolosamente causa dano a outrem, de mancira contra: ‘a aos bons costumes, esta obrigado & repara-lo™ ‘A causa chegou ao Tribunal Constitucional alemdo, com a arguigao de que o decisério impugnado feria o direito fundamen: tal relativoa liberdade de expressio, O tribunal afirmou, de pron to, que aconstituigao nao éaxiologicamente neutra, consagrando Geterminados valores, que pontilham o capitulo dos direitos fun- damentais. Assentou, ainda, que essas decisées fundamentais do tonstituinte dovem valer para todos os ramos do direito, nao abs- tante os direitos fundamentais terem por objeto precipuo adefesa do individuo em face do Estado. Em sequida, tribunal afirmou ‘que essa influéncia dos direitos fundamentals, “se realiza,sebre- fude, mediante as disposigdes do direito privado que contém di reito imperativo". Igualmente, ensinou que a jurisprudéncia po- deria concretizar essa influéncia valendo-se das elausulas gers ‘marcos de irrupsio dos direitos fundamentais no dircito civil No caso de Luth, o tribunal entendeu que a regra de direito eivil ‘mencionada estava exposta a0 influxo do direito fundamental da Tberdade de expressio —o que exigiria uma pondoragio dos bens em conflito. O tribunal entendeu que haveria de prevalecer a Iiberdade de expressio, em face do interesse econdmico que se the contrapunha, dada a importancia daquele direito na forma- fo da opinido publica, num Estado democratico."” A decisio recorrida, entio, foi desautorizada, por nao ter consideradooefei- tode irradiagio do direitoa liberdade de expressio na interpreta- ‘io dos termos “contrdrio aos bons costumes", contidos no eédiga vil alemée, Afirma-se que, nest julgado, a Corte Constitucional perflhou 4 teoria da efiedcin mediata dos direitos fundamentais nas rela shes privadas.!® ‘compreendias ao conteato de seus sbjetives politicos « ultuenis Bra movi Jn conegdo de ques respars Ge Hlerla pera ser ieerprtaa opi ‘tral nema, desde @ periado naclonal-weitista.(_) Buse, portant, om ‘tude [de perseyuleao aos judeus} conden, nto yor moles d opera Folin un por haversotrido una covers faterar, que olevou a reconbecet ua taldade” apui. Juan Sara Bilbao Uae. La Baca de os Derechos adaentales frente poreuares. Mad, Balen Ol tet Baca, 3897 ep so abe mindein do eng Lath, ver Diba Ubillos, ob. i eit. Tor reve Blanc obey pugs 2631 a8 ermendutica Cansivconal« Diseitss Fundam Em Portugal, segundo a informacio de Canotitho, 0 Tribu nal Constitucional sinda nao se manifestou sabre o sentido da, ffiedeia dos direitos fundamentals no ambito privado, O mesmiy ‘autor anota, em tom de abono, atendéncia ase superar adicotomig da eficacia mediata/imediata, em favor de solucaes diferenciadus, que nao importem a capitulagao dos prinefpios do direito civil, ‘as que tampouco desprezem "0 valor dos direitos, iberdades ¢ jgarantias como elementos de eficdcia confurmadora imediata do direito privado”.! No direitoamericane, predomi a tae de que o direitos fundamentais at oponvels apenas ao Esta. A Suprema Corte tito prosiama avioculego dreta dos particuares ale, Amie, todavia, que os bens prategidoe pelos dreits fundamentals jam impostor nas relagSes entre particulares po mele de legsh- {fo ordinate propia. Iago no obstante,sobretudo a partir da segunda metade do séeule XX, Corteconsebou gums tecieas que rosltavam oa Tepercueio dos drei fundamentals no dominio particular. A Suprema Corte, mantendo-se fe, nominalmente, 8 fae Ge qu or Airetorfundasintaiscbrigam apenas ox poderes bli, meet cuiparou ox particulares, quando exeretsom atividads de inte ee publien ou reabessem subvengao gvernamenta. Alga, ‘Sindn que indrota, com atvidndsestatal, nesses east, torn fine pestontuela ho obrigajesprépras do Botado em terncs de respeit as ireltorfundamentais, a doutrina do state action, lc, entretanto, do possui delimitogo nitda que em see ac ‘mica quer a juriaprodéncia™ Entre n, como eabide,os direitos fundamentals so pote dos nae reagies entre patiulares pores variadon. les Sho por vin dointervengoesleyslatieas — basta neta pelara de normas lgilativas aesogurando a formacao live da vontade dow economicamente mis fracos preveniade a disriinaste no mito das relates cvs, em expetal de coasume e tama tas relagtes de trabalho "Canes, ob. pags 1.154 ©1187-1189, A hago 6 desta tina sia propisito, Jan Mara Bilbao Ubile, Lae Derechos Pundameotaet ‘ena Frontera entre lo Pablico yo Pevede, Mae MeGrav il 1907 1A ave prpssit, por exempls, La 2020, de 13 de ail de 198. ‘mitativa para efit de aeeato a rlagas de smprego, ou sun manuteng30. oP | f Mermendaicn Constituinsl¢ isis Fundamentals 19 Ha easos, igualmente, de protegao de direitos fundamentais| por meio de interpretagao © aplicagao de cldusulas gerais de di ito privado. Dé-se, como exemplo disso, certa jurisprudéncia, formada em torno de contratos de adesao, Entende-se que a clei- gio de foro inserida nesses contratos pode ser considerada abusiva (cis a cldusula geral), ¢ por isso ilegal (art. 51, 1V, do Cédigo de Defesa do Consumidor), te dela resultar a inviabilidade ou uma especial dificuldade de acesso ao Judiciario (eis o direito fundamental protegido). Preserva-se o direito fundamental de acesso ao Judicirio, nas relagies entre particulares, de modo in direto, com o auxilio de conceitos amplos, consagrados na orden privada."™ Quanto a possiblidade de o direito fundamental ser suscita do diretamente como razio para resolver pendéncia entre parti- culares, ha precedentes do Supremo Tribunal Federal admitindo oexpediente No RE 161.243 (DJ 19.12.97, relator o Ministro Carlos Velloso), o STF nao aceitou que a invocagi do principio da auto- ‘nomia legitimasse diseriminagao, por conta da nacionalidade do trabalhador, no tocante & distribuigao de beneficios eriados n0 estatuto de pessoal de certa empresa, Afirmou o relator: “Ao recorrente, por nio ser francés, nao obstante traba Ihar para a empresa francesa, no Brasil, nao fo1 apicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens a0s empregados, cuja aplicabilidade serin restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao principio da igualda- de: CE, 1967, art. 183, §1% C.P., 1988, art 54 caput A diseriminagao que se baseia om atributo, qualidade, nota intrinseca ou extrinseca do individuo, como 0 sexo, a raga, a nacionalidade, o credo religioso et. €inconstitucio- ‘Betivo deseo, origem, raga, cor, esata ct, iting friar ou dade” (at IA mesma fl rule outta aunt, que @ beta de discutcor outing outros paites @tevpsta da expe de teste © exams de pravidet 9 Ge eeiieson se eatertzagin por part do empregador © dome de 08 de Contras, ialmente, a Leia 7.71089, com 8 radagio da Usk mt 94807 St, pnindo come enue evens cnttandesevalides rare partculstes ni {diene presigiando ners scar diet fundamental da gual ©» Ft ‘ipod digndade mumana "A propio, da repertri da jriaprudéncn de ST, © REap 47.081, sts gad nal. Precedente do STF: Ag 110.846\AgRg)-PR, RTJ 119/465". Celio Boria, Em outro caso paradigmatico, 0 RE 158.215-4/RS (DJ 1/6/ 96), a Suprema Corte tambem admitiu a incidéncia direta dos di- reitos fondamentais sobre rolagies entre particulares. Um indi- Viduo expulso de uma cooperativa abteve da Suprema Corte a Anulagio desse ato, por nao Ihe ter sido assegurada a garantia da ‘ampla defesa e do contraditério. Moncionando a intangibilidade do preceito constitucional que eonsagra o devido processo legal, relator, Ministro Marea Aurélio, airmou: “Na hipatese de exclusio de associado decorrente de eon- uta contraria aos estatutos, impoe-se a observaneia a0 de- vido processo legal, viabilizado 0 exerciio amplo da defesa oon No RE 160,222 (DJ 1.9.95), rel. o Min. Sepulveda Pertence, ‘estava1em questio saber se cometia crime de constrangimento ile zal 0 gerente que exigia das empregadas de certa industria de ‘manufatura de pogas de lingerie 0 cumprimento de clausula por ‘las aceitas no contrato de trabalho. A elausula previa a submis: ‘io das emprogadas a revistas intimas, sob amenga de dispensa, O relator assinalou que o problema dizia com a garantia do dire to fundamental a intimidade e a sua repercussio no émbito das relagies privadas, envolvendo a qualifieagao da rendncia aposta no contrato de trabalho (aecita no tribunal a quo como valida). O problema nao pide ser diseutido, entretanto, porque se operara a reserigao Destos precodentes 6 possivel extrair que a jurisprudéncia do STF nao Se mostra arredia, em principio, a possibilidade da incidéncia dos direitos fundamentals nas relagdes privadas, com sideradas as peculiaridades de cada caso. A Corte nio assume ‘compromisso com qualquer das teorias que admite a eficacia dos direitos fundamentais na esfera privada, 12, COLISAO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS — BREVES CONSIDERAGOES As colises de direitos fundamentais bem assim 8 confitos esses direitos com outros valores constitucionais sto temas que » Fermentation Consitucona eDiteitn Fundamental 1s vém despertando a atengioda mais moderna doutrina. Oassunto seentrelaca com a busea da compreensio do conteado e dos lindes fos diferentes direitos fundamentais. ‘Que acontece quando duas posigdes protegidas como direitos fandamentais diferentes brigam por prevalecer numa mesma sic ‘ago? Que dizer, por exemplo, de uma reportagem jornallstica, aque se liga a liberdade de expresso, que tem por objeto a vida privada de alguém, também um direito fundamental? Pode uma prostituta invocar 9 direito de ie e vir para justificar pedido de alvo conduto que Ihe assegure fazer otrottoir? Sao varias a8 oc fises em que a incidéncia de dois ou mais direitos de ordem cons ‘tucional (especialmente direitos fundamentais) competem para tolucionar um confita surgido, postulande solugdes contrarias ‘entre si. Para resolver essas perplexidades ¢ indispensavel avan: {ar nas investigagées sobre a estrutura das normas de direitos fandamentais, Ultimamente, a doutrina tem sido convidada a classificar as ‘ormas juridicas om dois grandes grupos (odos prinefpios eo das vogras.)” ‘As rogras correspondem as normas que, diante da ocorrén- «ia do seu suposte de fato, exigom, protbem ov permitem algo em termos eategoricos." Nao 6 possivel estabelecer um modo gradual, de cumprimento do que a regra estabelece. Havendo um contlito do uma regra com outra que disponha em contrario, 0 problema se resolvera om termos de Validade. As duas normas nfo podem ‘conviver simultaneamente no ordenamento juridico. No dmbito dos direitos fundamentais, porém, normas que configuram prineipios sao mais frequentes. Os principios *sio normas que exigem a realizagao de algo, da melhor forma possivel, de acordo com as possibilidades faticas € juridieas”"™ Os prineipios s20 determinagios para que um de- terminado bem jurtdico seja satisfoito e protegido na maior me a que as circunstancias permitirem. Dat se dizer que sao man- datos de otimizagao, A que impiem que sejam realizados na ma- escrito xno de ln ob ce Dnrin Taking Rs 28.28 Ver, tambo en essa o test cris do Pak: lnocéotn Marlies ‘honest ve Cano, ob ct, pg. 1328 ea Hementutiea Cgostitaconal e Dietoe Pundaentais ima extensio possivel. Por i880 6 vidvel que um prineipio saja aplicado em graus diferenciados, eonforme p caso que o atral Desa caracteristica resulta, ainda, que num eventual con fronto de prineipios incidentes sobre uma situagao conereta, aso. lugio nao haverd de ser aquela que provalece para o caso dos con- flitos entre regras. No conflite entre principios, deve-se buscar uuma conciliagao entre eles, uma aplicagao de cada qual em exten- s8es variadas, conforma relevancia de cada qual no easo concre to, sem que um dos prineipios venha a ser excluido do ordena- mento juridico por irremediavel contradigao com o outro. 0s conflitos de direitos fundamentais reconduzem-se a um contite de principio. No exemplo da matéria jornalistica sobre a vida de alguém, ‘acima indieado, ¢ possivel que o direito de liberdade de expresso festeja em confronto, no caso concreta, com a pretensio de res- ‘uardo da vida privada do retratado, Considerados em abstrato, [mbos os direitos #20 validos na ordem juriiea, sio acolhides pelo ‘constituinte como direitos fundamentais, A incidéncia de ambos no caso cogitado, porém, leva a conclusbes contraditorias entre s. Asolugao ha de ser encontrada na consideragao das circunstancins Alo easo concreto, pesando-se 08 interesses em conflitos, buscar: do-se estabelecer qual prineipio deve prevalecer, segundo um er trio de justiga pratica ‘Assim, se um individuo tem uma vida pUblica ativa, sera mais provivel que uma reportagem envolvendo aspectos da sua vida familiar, por exemplo, venha a ser apoiada em juizo, conferindo se preponderdncia a liberdade de imprensa sobre 0 direito & pri= vatidade (¢ isto, nao porque a personalidade pblica no tenha nenhum direito A privacidade, mas porque, se vive do erédito pi blico, da imagem publien, a sociedade tem 0 direito de saber se a sua vida pessoal corresponde ao que pretende fazer erer). Jd a ‘mera curiosidade sobre pessoa que ndo depende profissionalmen te de uma imagem pablica tende a néojustificar a invasio & sua privacidade por uma reportagem jornaifstica, Por outro lado, se uma pessoa comum se encontra num lugar publico, esta sujeita a aparecer em fotografias desse lugar, Publicadas na imprensa, entretanto, uma foo close-up dessa pes: Soa nao sera admitida, em honra A sua privacidade. Foi o que decidiv a Justiga francesa, quando determinou, ainda nos anos 30,0 pagamento de indenizagao a uma mulher, que fora fotogra- he opal eDirtes Fundareatais 183 fada em close, com os seios nus, numa reportagem sobre praias francesa. Essa caracteristica dos prineipios de funcionarem como man- datos de otimizagao revela-Ihes um elemento essencial. Eles por ‘suem um carter prima facie. Isto significa que o conhecimento da total abrangéncia de um principio, de todo o seu signifieado juridico, ndo resulta imedistamente da leitura da norma que o tonsagra, mas deve ser complementado pela consideragao de ou- {ros fatores. A normatividade dos prineipios €, nesse sentido, pro- viséria, “potencial, com virtualidades de se adaptar A situagso Fitiea, na busca de uma solugao étima”."” Assim, o dircito & pri vacidade, prima facie, impede que se divulguem dados nao avto- Fizadlos acerca de uma pessoa aterceiros. Esse direito, porém, pode teder, em certas ocasides, a um valor, como a liberdade de expres: So, que, no caso concreto, se revele preponderante, segunda um julzo de ponderacao, 0 importante 6 percebor que essa prevaléncia somente épos- sivel de ser doterminada em funeao das peculiaridades do caso coneroto, Nao existe um eritério do solugao de confitos valido om termos abstratos. No méximo, podesse eolher de um precedente uma regra de solugao de confitos, que eonsistird em afirmar que, diante das mesmas condigSes de fato, num easo futuro, um direito hhaverd de prevalecer sobre 0 outro. 0 julzo de ponderagio a ser exercido assenta-se no principio 4a proporcionalidade, que exige que osacrificio de um diveitoseja necessirio para a solugio do problema e que seja proporcional em sentido estrito, i. 6, que o onus imposto ao sacrifieado nfo sobrele ‘Yo. beneficio que ae pretende obter com a solugto. Devem-se comprimir no menor grau possivel os direitos em causa, preservando-ve a sua esséncia, o seu nucleo essencial (mo dos primarios lipicos de exerccio do direita, segundo Vieira de Andrade") Poo-se em ago o principio da concordancia praties, que ‘Soliga ao postulado da unidade da Constituigdn, imcompativel com situ ‘00s de costo rredutivel de dois direitos por ela eonsagrados, Paula 6.0, Brance, Privacy and F Coteheser Universi de ase 100 Hermonttice Fasdaments Esse jito de ponderaio entre os bens em conftonto pre ser feito tanto pelo juiz, para resolver um caso conereto, quanto pelo legislader, determinando que, em dadas condigbes de fato, tim direito ha de prevalecer sobre o outro. O ultimo caso ocorre, porexemplo, quando legislador define que atividades devem ser Consideradas como essenciais e, por isso, insuscetiveis de greve, realizando uma ponderaeao entre o proprio dire de greve e va lores outros, como a saude ou a seguranga publica, B de ser observado que pode haver tanto uma colisto de di reitos fundamentais de titulares diferentes, como um conflit en {re um direito fundamental e um outro valor consagrado na Cons: tituigao, Vejaese, por exemplo, que o valor da saude piblica pode ‘onsejar medidas restritivas da liberdade de ir e vir eonfinamen- tos), ¢ pode suscitar questies envolvendo a incolumidade fisica (vacinagéo obrigatéria) B possivel recolher do acerve de jurisprudéncia do Supremo ‘Tribunal Federal julgados em que a Corte teve que estabelecer lum juizo de preferéncia entre direitos fundamentais ou entre um Gireito fundamental e um valor constitueional diverso, O proble- ima de que cuidam tais precedentes ¢ inegavelmente o de confito tentre direitos, mesmo que isso nao seja dito expressamente. Es- ‘Ses acdrdios terminam por apresentar Uma discussdo sobre o peso dde bens constitucionais em uma dada situagao conereta. ‘Um exemplo bastante evidente disso éa decisio do STF (HC 171.879/RS, DJ 22.11.96), em que se concedeu habeas corpus a um individuo que, tendo-se recusado a retirar uma amostea de san- {gue para exame de DNA, numa ago de investigasto de paterni- ‘dade, recebeu ordem judicial para o fazer, sob pena de conducio coativa. Por uma maioria de seis votos contra quatro, o STF con- fedeu o habeas corpus, depois de acirrados debates. A corrente minoritéria, iniciada com o relator originério, Ministro Francisco Rezek, sustentou a legitimidade do exame de sangue forgado, lembrando que direito & incolumidade fisica n80 Gabsoluto e que a Constituigao assegura o direito a dignidade da trianga, conceite que haveria de englobar odireito a propria iden tdade, odireito de coahecer o vinculo de fliagao real, No voto, o relator origindrio lembrou que: “0 direito ao proprio corpo no 6 absoluto ou ilimitado or veres, 8 incolumidade corporal deve eeder espago a ust ermentatin Coon Interesse preponderante, como no.aso da vacinagae, em nome dda saude publica (..) Estou em que o prineipio da intangib Tidade do eorpo humano(..) deve dar gar ao dieeito a iden tidade (.) Neste ponto, portanto, o relator originario admitix que odi- reito fundamental da incolumidage corporal é, na linguagem da outrina da colisdo de direitos, um direito prima facie, send sus tstivel de, no confronto com outro direito, ensejar uma pondera: Ho, com vistas a se estabelecer uma preferéneia, O relator origi- nario afirmou, na especie, a predominancia da direito no coniect mento da identidade real do individuo, Bm outra passagem do voto, o relator justificou # escolha pelo dieito de identidade, invacando eircunstancias do caso con- rete, que demonstrariam a razoabilidade dessa opga0. Meacio: nando que a ordem juridica assegura ao individuo 0 conbecimen- toda verdade real, enfatizou que a recusa ao exame hematalogica importaria restrigao a esse conhecimento e que a interven¢a0 20: bre bem ineolumidade corporal era minima, diante das eonseqh cas desse exame para a satisfagio do direito do autor da agio de investigacao de paternidade, O relator, em curto paragrato, esta belece um juiza de proporcionalidade da medida atacada no habeas corpus, base para a sua decisao de conferir maior peso ao direito {de identidade, em cotejo com o da incolumidade Fisica “0 sacrificio imposto & integeidade fisien do paciente & risivel quando eonfrontado como interesse do investigante”. A corrente vitoriosa, liderada pelo voto do Ministro Marco Aurélio, entendeu, porém, que o direito a intangibilidade do cor po humano e o vaior da dignidade humana (tido como objeto de agressito pelo ato que motivou o writ) nao deveriam ceder, na es étie, para possibiitar a feitura de prova em juiza. Em ultima analise,e eonsiderando a circunstineia juridiea do caso concreto (de que a recusa, em si, de submissta aa exame do DNA poderia fensejar uma presuncdo favoravel a autor da demanda), a corren- tevitoriosa entendeu que nao haveria peso bastante na pretensao do invastigante de exigir o exame de sangue em cotejo com 0 di Feito & intangibilidade corporal” A divergencia, assim, parece stam ementa do precedente ds vara Bistopa, a tule pdr. de panos cnalusonte hapa © ‘olistac™~prenreagd da dipneade human de timid, otameda Hermentwic Constiacona ¢Dinitos Fundameniaiy ter-se situada no dmbito da necessidade e da proporeionalidade em sentido estrito do saerificio ao direito da incolumidade fsica Em outro caso, relator o Ministro Sepilveda Pertence, fo concedido habeas corpus em favor do presumido pai de erlanga naseida na eonstancia do easamento, que fora convocado a eeder Sangue, para exame de DNA, numa agao movida por outro ho rem, que inveeava a qualidade de pai bioldgico do menor (HC 176.060'SC, Di 15.5.98), Dadas as circunstancias do processo ¢ considerando que o feito principal ja estava insteuido até com lado ‘de exame de DNA do autor da demanda e do flho que pretendia ser seu, o relator entendeu que a medida determinada constituia toma invasto desnecessaria no direito & dignidade do paciente, ‘Trata-se de mais um exemplo de que, na solugao de eventvais conflites entre direitos de estatura constitucionsl, ha que se rea. lizar uma ponderagio dos interesses, a vista das peculiaridades do caso — exercicio para 0 qual o teste da proporcionalidade se ‘mostra indispensdvel. Alias, foi o que disse o relator no feito: “0 que, entretanto, nto parece resistir, que mais nso seja, a0 confronto do principio da razoabilidade ou da pro- porcionalidade — de fundamental importancia para o Aeslinde constitucional da colisto de direitos fundamentals — G que se pretenda eonstrangerfisieamente o pai presumi- do ao fornecimento de uma prova de reforgo contra a presun lo de que é titular. wo Sogue-se dai a proscindibilidade, om rogra, da orden «4a coagao do paciente ao exame hematoldgien, a busca de ex tlusto da sua paternidade presumida, quando a evidencia positiva da alegada paternidade genética do autor da deman- da pode ser investigada sem a participagao do réu (6 expresst- +0, alids, que os autos ja contenham laudo particular de ans. lise do DNA do autor, do menor ede sua mae—v. 4/853)" ‘ame DNA, A roca revalve-se no plapo juriicosnstrumental, considera ns ‘S kata a ementa do precedents “DNA: eubmeeto cmpulera ao frnecimento de sangue para a peequitt do DNA’ etal da questo tre conparado: precedente do SEP que beet ~- ermeneaica Constitsinal e Dirks Fandamertais sr Acexigéncia, assim, nao seria razodvel. O sacrificio do direito no seria necessdrio para que a finalidade almejada pelo exame {a verificagéo da paternidade real fosse aleangada. Limites imanentes Em certos easos, a doutrina afasta a ocorréncia de wma real ‘olisdo de direitos, situando a discuss80 no préprio conecito do direito fundamental invocado. Pode-se chegar & conclusio de que a proteasio do individuo ‘envolvido no conflitoaparente nao se inlui no dmbito de pratecdo do {ireito por ele invocado, anal, 0 contedido constivucionalmente de- darado do direito nem sempre se mostra evidente eindiseutivel”™" © ambito de protegao de um dircito~é a parecta da realidade que o constituinte houve por bem definir como abjeto da protegio (0) da garantia fundamental"™= A elucidagio do suposto de fato do direito fundamental, do bem juridico protegido pela norma (inclusive da intensidade com que & protogido) e dos limites que tenham esses direitos funda- mentais (mites estabelecidos pelo préprio constituinte ou pelo lgislador) — tudo isso ha de contribuir para se firmarem os eon: ‘tornos do Ambito de protegio do dircito. Cabe, entdo, estar advertido para.acircunstancia de que nem todas as situagves pensdveis, referidas a um direito, esto neces sariamente protegidas por ele. A especificidade do bem que o direito fundamental visa pro: teger conduz a revelagao de limites maximos de conteuda'™. indispensivel que se proceda ao preciso enquadramento de uma dada conduta no sistema dos direitos fundamentais, para se con- dluir pela sua protegio constitucional Se eeeangment oe a ao de nvetgagi de aeriade HC T1378 ‘ue te cidade tung atpiea an qual se pretend ds resto, aponas para (het provaderefors™sulmetor nt exam's pa presumido em pronsea gue tempor cjeto's pretenede de tereero de vero decarade 6 pa bsopca {Sutga sai nd cotinia dp coouento do pacene pete na ea ‘@ principe da proparcioaldate onda ravosbiade oe aoe oo Naess pettnt ues ear srcnstanan 8s para Sane ob ct pg 86. ™ Gilmar Mendes Diretar Fundamentais ¢ Controle de Consttuional: ade eit page 160103 "Vea de Andarade, abet, pg 215, Conttcional¢ Denier Fundanentaig Ha situagdes que, embora semanticamente incluidas na nor. .a de direito fundamental, nao acham nola protecao. O direita, ‘ntdo, simplesmente nao existe, Dai a necessidade do estudo dog comportamentos « das realidades da vida que estio abrangidas zo direito fundamental, tarefa que nem sempre se mostra sim- ples, ja que as normas de direitos fendamentais podem apresen- tar indeterminagdes semanticas e nao ter 0 seu Préprio suposto de fato bem delinead, Os problemas dal advindos podem ser ilu. trados com questdescatidianas, como ade saber seo curandeirismo se inclal no Ambito da liberdade religiosa ou de culto ou seo dis: ‘curso de édio racial & protegido pela liberdade de expressae. 05 critérios para resolver essas indeterminagdes sio varios, nada obstando a que sejam combinados entre si. Para se compreen der que bens juridicos sto protogidos e que ages estao aleancadas polo direito, pode-se recorrer & teoria liberal dos direitos funda- mmentals, que tasinala nesses direitos a feigio essencialmente de dlefesa do individuo contra os poderes publicos. Pode-se recorrer & teoria dos valores, que postula que o: direitos fundamentais pos- suem carder objetivo, orientando-se para a realizagao dos valo: +08 protegidos pela norma constitucional. Em outros casos, ainda, 4 limitagio intrinseea da norma de direito fundamental encon- trard embasamento na consideragio da funglo sorial que o dirci to proclamado exerce, em especial tendo em vista o seu significa- ddo para o regime politic. O debate na doutrina americana sobre a exclusto dos discur- sos de ddio racial e da pornografia do imbito da liberdade de ex pressdo fornece exemplo interessante do uso da fongao social do tliteito como meio para o esclarecimento do seu ambito de prote- intrinseco © professor da Universidade de Yale Owen Fiss propugna por que'ediseurso de 6dio racial (hate speach) va pornogratia ni0 Sejam entendides como agdes abarcadas pelo direito & livre ex: pressao, a partir de uma compreensae dessa franquia, que enfatiza 2 sua fungio democrética, Ressalta que “os principios genuina- mente democriticos Fequerem que os cidadaos estabelogam as tetas publicas e que sejam sempre lives para modificé-las™"" A Tiberdade de expressio © de imprensa sao essenciais para vsse fim, para o controle do cumprimento das responsabilidades de- Me rey of Free Speeeh. Cambridge, Mass Harvard Ualvesity Hermendutia Constituciopal «Dirtes Fundamentals 180 socraticas por quom exerce o poder A partir deste escopo da Iiberdade de expressio, o autor sustenta que a pornografia © 08 diseurs0s racistas nao esto nele contidos. Isso porque, em ambas ‘sas hipéteses, haveria uma tendéncia para diminulr o senso de ‘guto-estima das pessoas afetadas."" Os efeitas do discurso de odio ‘eda pornografia, ademais, ndo se limitariam ainibir, psicologiea- ‘mente, a plena participagio dos grupos diseriminados em diver {ga atividades da sociedade civil — incluinde os debates publicos; fara, ainda, com que as palavras dessas vitimas perdessem auto fidade quando elas se dispusessem a participar dosse mesmo de- ‘ate. finalidade democratica, que confeririaesséneia a iberda- dede expressio, estaria entao frustrada,"" A fungan democratiea 4a liberdade de expressio, assim enfatizada pelo autor, acudiria, Marghigio de que e discurso de Gdio ea pornogratia nao esti protegidos constitucionalmente."™ Para descobrir as condutas que estio enfeixadas no suposto de fato da norma advoga-se, outras vezes, que se verifique se a ‘eonduta aio esta definida eomo crime. Embors hajao perigo de se definir o direito fundamental a partir do legisladar, esse critério, cote amen on ct Nw ek da Consia. deena argue enr antes “an tnkenents dea ‘tansy, Suv" 90 US Bot OE) cNts scant regen anus, enna pista ds"Praneira Sxcnca av mus enquani'odivorve nie et enquadre coe Ube ferme conte beara cbsony ou fighting word pala Que popes, Segundo detnigho dt Suprema Corte 0 lisksy v- Neve Hampshire (drious "315 US sot dscuon saceno prem lento baad ceora de Primera Emenda cf Kermit Hale Tne Oxord Companion tv he Supreme (oar Nova York, Oord Press, 1992, ply B12) A Alerenga de enloqe de Fee {EtJunepruacia no tocane ta dacuree de i rata resign qo niveraa ‘i dacnfaque nalincos atrbunee tom dies fundamental pode condor {shige nterpretatvasincncdentes,trnanio tals nore arts depres {Sr ou marcos tos tito fundameatasem cases muancadon Menconest, por que odiscuro dei ral nto paconten spare nem no Canada ibm ana sprosrfio dese io de dseuro It caso Steck Tur 180 Hormendusin Consitucioale Digi desde que cereado de cuidados impostos pela razoabilidade da lapreciagdo do legislador, tem sido aceito na doutrina e na juris. prudénsia, Canotillho cogita, neste passo, de que a liberdade de profissio nao teria, entre os seus bens protexides, sendo ativida des lieitas, sendo exeluidas do ambito de protegao atividades ii- titas, como a prostituigho, o trafico de entorpecentes ou 0 con- trabando. Vielra de Andrade assinala que "é provavel que um Comportamento que integre as eireunstancias de fato tipicas de tum tipo legal de erime nao esteja ineluido na hipdtese normati- Va do direito fundamental”"" Diz, ainda, que, "se se atingem intoleravelmente a moral social ou valores e prine‘pios funda- Imentais da ordem constitucional, devera resultar para o intér prete a convieyie de que a protegio eonstitucional do direito nao ‘quer ir ta0 longe" Nessa diretriz, hd precedentes do STF, excluindo 0 trottoir da liberdade de i e vir, 80 argumento de que “no ha direito cons- titucionalmente assegurado a pratica do trottir, a qual € contra ria aos bons costumes, ofensiva da moralidade piblica efonte de ‘onstrangimento para transeuntes eresidentes” (RHC 99.104, rel. © Min, Moreira Alves, DJ 3.11.82) Da mesma forma, praticas de curandeirismo nao estariam albergadas na liberdade de religido, como decidiv 0 STF." Gavara de Cara" noticia outra abordagem, mais estrita, da ‘questi dos limites implicitos de contewdo dos direitos fundamen- this. Dé conta de que, para Friederich Muller, oAmbito normati- vo do direito fundamental se define pelo que ¢ especitico do dire: to considerado, As modalidades inespecificas de exercicio de um direito fundamental nao pertenceriam ao seu Ambito normativo No intento de apurar se uma modalidade de exercicio ¢expeeifica, parte da distingdo entre 0 que € exercicio de um direito funda imental ¢ o que ¢cireunstaneia acidental do exereicio de um dire! to fundamental. Assim, qualifiea-se uma agao como inespeeifica & inrelevante para odireite fundamental se haa possibilidade dese T= Vieira de Andrade, ob et, pig 218 vd ide, 1 RHC 62:210P, RTY 1141038, rel.» Miaisteo Francisco Revs, av “ilseas eorpus.Curandissna, Condesast criminal fundada en Ste inconfanen con» mere emeccn da liberdae respon, Pros pel «2 he at pde valorem habeas corp. Recon desprovue™ i Gavarade Cars, ob pop 170 Hermeneutic ConstitusinaleDiritoe Fundamentals ot exeroorodieito fundamental em outro lugar, em outro tempo ou ‘ediante outra classe de agao. Dessa maneira, nae haveria diel to de liberdade artistiea que protegese 0 pintor que resolvesse pintar num movimentado ervzamento de runs Essa conduta nao Eeria modalidade especifca protegida pelo dreito fundamental ‘erkica a essa posigio lembra que, a ser seguida pontual-mente, pode vir a acontecer que nada sobeje de especiico de um direito Rindemeacal." Fala-se, ainda, om dovtrina que, pars esctarecimento do conte do dreita fundamental, a que se eonsigersr que esses direitos pressupdem uma reserod de amiaudse de ndo prejudica fidade. Bsoasclavsulaseperariam a parir euma ponderagte de prinipiosconstitucionas, para exclu certassituagdes do amb. {ode proterao da norma constitucional.™ Recorre-se, aul, aber. tamente, ao modelo de ponderagio entre bens concorrentes, Por tte metodo, tombsm se chogara 8 concusao da irclevancia do direito de loerdade de expressio para a pretensdo do pintor de tascam ora met dum crusameno io enbora cm futroraciocnio. Aqui, € a ponderagae do divito primo facie de Therdadeartitca fom outfo bens como a propia ineiade fisica do artista eo exereicio da aividade profissional de outres Eidados, que excloinn, mum segundo memonto, ceca conduta da proteg constitucional. “Tem-se, pos, que nem sempre é simples precisar os conor sos de um diceta fundamental assunto que, muitas eres eon fea correntes doutrindras rivas, Tensona-se, pois 2 seisib ade do operadar jurtdic. © que, so cabo, dele ve exige & queso J mantenha fel aos valores predominantes na sua socedade, na thsen de solugoesjustas,teeneas e com respaldo social 18, DIREITOS FUNDAMENTAIS RELAGOES ESPECIAIS DE SUJEIGAO Em algumas situacdes, 6 possi! cogitar do rstrigio de dic Teitos fundamentais, tendo em vista acharem-se os ‘seus titulares atm ponigho singular dante dos podores publican. Na exprecsao Vieira de Andrade, "por vezes os titulares de direitos fund ss ek Gaara de Cara ob ct, pgs 1705171 > Canotlo, ob: et, pigs L147 18. = Canotlo, cet pig 188, mentais ndo sto meros individuos”. E o que ocorre com os milita res, com funcionarios publicos, eom os presos, com os internados fem estabelecimentos piblicos ou com os estudantes em #cola publica, O estado peculiar em que se encontram essas pessoas Indu um tratamento diferenciado com respeito ao gozo dos dire. tos fundamentais, Houve momento na Histéria em que se exclufam, por com pleto, as pessoas nessas condigoes do dimbite de aplicagio dos di- Feitos fundamentais. Estas pessoas simplesmente nao poderiam invoear direitos e garantias em face do Estado, j4 que estariam inseridas num sistema em que e dever de obediéneia seria com isso incompativel, Desse modo, recusava-se a liberdade de expres ‘aos servidores civise militares, bem assim, o direito de greve, {ue comprometeria a disciplina e 0 bom andamento da Adminis: raga. 0 tempo testemunhou uma evolucio nesse quattro, distin. iguindo-se, agora, as situagies em que a limitagao a fruigdo dos direitos fundamentais ¢ indispensavel para a relagao especial de poder, daquelas em que nio 0 ¢, Nestas Gltimas, ado seria o caso ‘ese comprimirem as iberdades fundamentais. Provaleceu a idéia {de que "a necessidade de obediéncia nao ¢ absoluta nem postuls lum estatuto de servidao para os sujeitos dessas relagbes™. 0 estatuto dessus relagdes expeciais de poder deve ter fun- damento na Constituigdo™, admitindo-se a ordenagao especifica ‘de alguns direitos, quando necessiria para o atingimento dos fins ‘constitucionais que justfieam essas relagoes. A legitimidade da ‘ompressdo dos direitos fandamentais ha de ser apurada median te um esforgo de concordancia prética e de ponderagio dos valo res contrapostos em cada caso. Nao se pode partir do pressuposto de que, nos casos de inelusio voluntaria nesses estatutos, o indi ‘viduo tenha renunciado aos direitos fundamentais (que sao irre- hhuncidveis em bloco), Essa compressio apenas ocorre como meio hecessério para a obtengao dos fins, com respaldo eonstitucional Insitor as relagies especiais de poder. Por isso, essas limitagoes hhao de ser proporcionais, ndo se elastecendo necessariamente & todos os aspeetos da vida do sujeito, esse modo, a liberdade de expressio dos militares pode vir 1 ser contida, mas na medida om que isso for necesséirio a disci Ta Vika de Andrade, ob et, ni 244 Hermendusia Conetitucanl Dissits Furdamentai y Hermetic Consitnsianal« Dieitos Fandanontais hk plina. A liberdade de expressio artistica dos militares, entretan- fo, ndo &de ser necessariamente afetada, De outra parte, os pre: {oso va0 poder cobrar odireito de livre ciculagao ea plenitude dos direitos politicos, Mas nao se justifiea que se Thes recuse 0 direito a vida, odireito incolumidade isiea, a liberdade de eren (2 religiosa ou mesmo a direito de petigao.™= Exemplo pratico dessa doutrina é decisio do STU, em recur s0 em mandado de soguranea, om que nio se eonsiderou iicita a prova obtida por eseuta de telefone celular, envolvendo pessoa presa, Entendeu-se que odireita a liberdade de comunicagao tele- Finica de quem se acha encarcerado submetia-se a temperames 1s, e que a intereeptagao, no caso, ndo era ilegitima. As restrigies dos direitos fandamentais hao de vir estipula- das em lei que defina cada estatuto especial, Faltando a lei, ba aque se recorrer aos principios de concordancia e de ponderagao tntre os direitos afetados e os valores constitucionais que inspi- ram a relagio especial“ Alguns regulamentos interaos buscam tuprir essas lacunas —a legitimidade deles depende do que re- tultar de um juizo de ponderacao entre os principios constitucio ais envolvidos, Dado que a restrigao ao direito fundamental deve guardar relagho com os fins da instituigio, nio ¢correto aplicar oestatuto especial a quem nao se insere exatamente na relagio especial Lembra Canotilho que nto seria legitimo estender todo oestatuto ailtar aos servidores civis que estejam lotados om estabelecimen- ‘tas militares.” Sustenta-se, de outra parte, que a restrigao imposta pelo es- tatuto especial "nao pode ser ilimitada no tempo e (ou pelo me- nan Vegeta nex in eet, eat Gltr— Cre Rapin “ROMS 6 120/R, DJ 128.96, pdx. 27.492 Consta da ementa,elaborada lo relator, Miisteo Adiemar Maciel “Cental «reer: Mundin Je worn, Entei ‘a ‘cumprinde pena cus penitencva, nao tm como invecar drei funda ‘Sentiepoprice do homes vee par dsantranhar pro econ de a ape te a pln Oe fl toa dy Coca ses 5 Sempre €invedve s priacpisd rumabindade Cn "of Viera de Andrade, oc, pg. 247 ™Ganotto, abet pe 425 nos) deve prever sempre a possibilidade de o individuo optar pelo direito fundamental, disselvendo-se a relagio de poder (se esta {or voluntarial" = : Nesta matéria, em que pese a condigio peculiar em que se cencontra 0 individuo, abrem-se a doutrina ¢ a jurisprudéncia as feonquistas aleangadas no campo dos direitos findamentais, hoje cogitados em setares antes impensav Vita de Andrade, oy et pgs 1926248, PARTE 1. OS DIREITOS INDIVIDUAIS E SUAS LIMITACGOES: BREVES REFLEXOES Gitmar Ferreira Mendes 1. Os DiretosIndividuais ¢ suas listagiee: Breves re [esdes: 1 Tntodugdo:2. Divito fandamentaisenguan Io direitos de defeney 2. Dircton fundamentae enguanto roma de protein deinstbutonjuriicoss Diets fa fiamentatsenquanto gorantias postions do exrcevo das Iberdades; 41 ireosfundamentate enguanto divtos @ DrestagSe postions: 42 Dureto a organceaqao en proce flimento; £3 Os direitos de gualdadesa hipatse de eel ‘so de benefleioincampativel com o principio da wgualda 1; Direttosfundamentaie dover de protege bi {ode protege dirt fundamntas as posses it tages, 1 Consideragoe gevus; 2. Determinacto do dmb {ode preg, 3. Conformagdoerstrigdo 3.1. Consider (es premieres: 3.2 Anita de proto cstiamante nr ‘mative 3.3. Definiaoelmitordadoconteo do dreit0 xomple do diveitode propredade; 1. Resingdes a direios Fundamentais, 4.1. Consideragéespreliminares 42. Tipos de retrigheadretansndestduas; 2.1 Reserea loge sm Plesi422 Meserea legal qualifceda; 423, Dirtos fun ‘damendais sem express previsto de reser legal: Il Os Tinntes doe limites. 1. Constderogces prelinnares! 3.0 praneipia da protedo do miles essenctal; 21 Consider (tes preiminares: 22 Diferentesposipes dogmateas so. Brea pretend do miteoevenctls 2 Prinepioda proporco Iolidade: 3.1 Consderagses preliminares; 32 propor Clonalidade na jurisprudence do Supromo Tribunal Pe ‘deal; 3.3 Principio da proporeionaidadee iret de pro Driedade; 84. Duplo contyoe de proporionaldade «con Irate de propoeionaidade "in concrtas 1. Provbigdo de Fretrigée etuistias: 6A ealisno de direitos fundamen: {ots 51. Consideracsespraliminares; 82. Tipor de colt ‘tho 8.3 Salugdo dos confltan: 531. Consderarse pre 198 Hermentuten Cons Hermenéotin Constituconale Ductos Fusaeatais 190 Os direitos fundamentais sao, a um sé tempo, direitos subje tivos e elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva, Enquanto direitos subjetivos os dircitos fundamentais outorgam 408 ttulares a possibilidade de impor os seus interesses em face os drgaos obrigados.* Na sua dimensso como elemento funda- | ental da ordem constitucional objetiva, o8 direitos fundamen liminares 5.2.2. ponderagdo de Bens atoresna juris Dprudenca a Corte Constitutonalolomdi'5-4 Colla de Aireitos na jurtspradénese do Supremo Tribungl Bede ‘al 6 Concorroneia de diretosfandamentats: V. Apt. tice I Vic Apendice I: VIE. Bibograf: 1. INTRODUCAO Se se pretende atribuir aos direitos individuais eficdcia su perior A das normas meramente programéticas, entao dove-se identificar precisamente 0s contornos ¢ limites de cada direito, isto €, a exata definigio do seu ambito de protecio. Tl eolocagao jt 6 suficiente para realgar o papel especial eonferido ao legislador tanto na coneretizagiode determinados direitos, quanto no estabe- lecimento de eventuais imitagdes ou restrigies". Bvidentemente, nao 20 0 legislador, mas também os demais orgios estatais com poderes normativas, judiciais ou administrativos eumprem uma [Importante tarefa na realizagao dos direitos fundamentals. A Constituigio brasileira de 1988 atribuiu significado impar 0s direitos individuais, Ja a eolocagao do catélogo dos direitos fundamentais no inicio do texto constitucional denota a intencio da constituinte delhes emprestar significado especial. A amplitu ‘de conferida ao texto, que se desdobra em setenta e sete incisos ¢ dois paragrafos (art. 5"), reforga a impressdo sobre a posiguo de destaque que oconstituinte quis outorgara esses direitos, &idéia dle que os direitos individuain devem ter eficdcia imediata ressal: ta.a vinculagao direta dos érgaos estatais a esses direitos eo seu ever de guardar-Ihes estrita observancia, © constituinte reconheceu ainda que 0s direitos fundamen: tais sio elementos intesrantes da Identidade e da continuidade da Constituicko, considerando, por isso, ilegitima qualquer refor- ‘ma constitucional tendente a suprimiclos art. 60, § 4°) {A complexidade do sistema de direitos fundamentais reeo- senda que se envidem esforgos no sentido de procisar os clemen tog essenciais dessa categoria de direitos, om especial no que ‘concerne & identifiagio dos ambitos de proteeao e a imposigao de restrigoes ou Timitagoes legas. TCERCHE, Peter. Grundrehticher Schutsberuich, Qrupdrectspraguot upd Grundrechtcengri on IenneeKehbl, Handbuck dee Stsatrechts 80 Wipe tao 40 ~~» fais — tanto aqueles que no assegeram, primariamente, um di subjetivo, quanto aqueloutros, concebidos como garantiasin- Gividuais — formam a base da ordenamento juridica de um Esta: da de Direito democratic # verdade consabida, desde que Jollinek desenvolveu a sua Teoria dos quatro “status”, que os direitos fundamentais cum- prom diferentes funces na ordem juridica Na sua concepedo tradicional, 08 direitos fundamentais sio direitos de defesa (Abwehrrechio), destinados & proteger determi- randas posigbes subjetivas contra a intervengao do Poder Psblico, teja pelo (a) ndo-impedimento da pratica de determinade ato, seja pela (b) nao-intervengao em situagdes subjetivas ou pola nao-eli- minagao de posigies juridicas.* Nessa dimonsio, os direitos fundamentais eontém disposi ses dofinidoras do uma competéneia negutiva do Poder Publico (negative Kompetenzbestimmung), que fica obrigado, assim, ares peitar o nicleo de liberdade constitucionalmente assegurado,” Outras normas consagram direitos a prestagdes de indole Positiva (Leistungerechite), que tanto podem referir-se a presta es faticas de indole positiva (faktisehe positive Handlungen}, quanto a prostagées normativas de indole positiva (normative Handlungen)* "ESSE, Konrad, Grundsoge des Verfstungereehs der Bundesepsblik Bewaiod lslir10t, py i MES, Water Pench durch "JELLINEK, G Sister dei Dist Publis Subitivtad al, 3 Mo, 1012, pag 244 Sobre ent da ‘Teoria de Jelinek Ch ALERY.Tobert Bore der Grandeechte #rankaream iin, 108, pag 243 5 CF, tambon, SARLET ago Accs dor Dirtos Fundamemats Po Alor, i986 DE «CL ALEXY, Theorie der Grundrechte, cit, Ag. 174; Ve, também, [CANOMILILO, Dirt Conntaconal. Colmes 001-818 Cr, HBASE, Grundnige dex Verfreungcecin et, pg 29 “ ALEXY, Theorie der Granarechee, ct. pag. 170 Ver, também, [ANOTILITO, Direte Coneutuconl-et pag S40 ‘Tal como observado por Hesse, a garantia de liberdade do individuo que os direitos fundamentais pretendem assegurar so mente € exitosa no contexto de uma sociedade livre. Por outro To, uma sociedade livre pressupde a liberdade dos individuos ¢ cidadios, aptos a decidir sobre as questdes de seu interesse ¢ res ponsaveis pelas questdes contrais de interesse da comunidad seas caracteristcas condicionam e tipifieam, segundo Hesse, 9 estrutura e a fungto dos direitos fundamentais. Bles asseguram nao apenas direitos subjetives, mas também os principios objti- ‘vos da ordem constitucional e democratica,” 2. DIREITOS FUNDAMENTAIS ENQUANTO DIREITOS DE DEFESA Enquanto direitos de defesa, os direitos fundamentals asse- sguram a esfera de liberdade individual contra interferéncias ile fitimas de Poder Pablico, provenhiam elas do Executivo, do Legis. ative ou, mesmo, do Judicidrio. Se o Bstado viola esse prinetpio, dispde o individuo da correspondente pretensao que pode consis: tir, fundamentalmente, em uma: (2) pretonsto de abstengao (Unterlassungeanspruch); (2) protonsio de rovogagao (Aufhebungsanspruch), ov, ain da,em uma (6) pretensto de anulacio (Bescitigungsanspruch).* Os direitos de defesa ou de liberdade logitimam ainda duas coutras pretensives adicionais: (4) protenso de consideragao(Bertcksitigungsanspruch), que impde ao Estado odever de levar em conta a situagho do eventual afetado, fazendo as devidas ponderagoes"; © (5) protensio de defesa ou de protesio (Schutsanspruch), que impbo a0 Estado, nos easos extremos, 0 dever de agir contra ter " HESSE, Bedeutung der Grundsects, in: BENDA. Emst/ MAIHOPER, Werner! VOGEL, Hane-Jocen, Handbuch des Vrtaeongreets Berlin, 1005 CE BATTS, UlrieVGUSY, Christoph, Elfuhrung in dae Stastrecht 4 ig Heater, 1005, pag 26 *"BATTISIOUSY, Bifutrung in das Statereeht, tpg 236 ™ BAPTISIGUSY, Biafuhrung ia dae State it pay. 296 ernsntutcs Contain [Acléssicaconcepcdo de matri iberal-burguesa dos diretes ddamentais informa que tals direitos constituem, em primeira Fen, direites de defesa do individuo contra ingeréacias do Esta Bet sua liverdade posoal epropriedade. Esta concep ded ‘eas Fundamentats ~ apesardo sor pacifico na doutrina ore. ‘ecimento de divereas sutras — ainda cotinua ecupando un Tiger de destaque na aplicagao dos direitos fundamentals. Esta aes peto,cobratudo,objetivn limita do poder etatal fim Gr asogurar ao individan uma esora de iberdade. Para tasto, ‘Shtorge ao individuo um direit subjetivo que permite evitar in: rtoinciasindevidas no ambito de pratopao do direito funda: ‘Senta ou meomo a eliminagio de agressden que eetejasfrendo tn sua esfora de autonomia pessoal" “Analisndoas posges juridicas fandamentais que integram Fes ars de dea, importa cosigar que estes nt se imam f Sollerdades eipualdades(dreto rel deiberdadee igualdade, % fom como suas concretizagbes), abrangendo, ands, as mais éi 7 versas posigoes Juridieas que os direitos fundamentals intentam Proteger contra sngerénvi dos poderes pubicos também con {ra abuses de entidades particulars, de forma que ae culda de feranira livre manifesiagaeda personalidad, ssregurando wna Ebfora de autodeterminagao do individu.” 8, DIREITOS FUNDAMENTAIS ENQUANTO NORMAS DE PROTECAO Df INSTITUTOS JURIDICOS A Constituigio outorga, no raras vezes, garantia a determi nados institutos, isto é, a um complexo coordenado de normas, tais como a propriedade, a heranca, o easamento, etc. Outras ve- es, classicas direitos de liberdade dependem, para sua realiza, ‘0, de intervengto do legislador. ‘Assim, aliberdade de associagao (CF, art. 5°, XVII) dopende, pelo menos parcialmente, da existencia de normas diseiplinadoras Adodircito de sociedade (constituigao ¢ organizacao de pessoa juri- dica, ete), Também a liberdade de exereicio profssional exige @ Dossibilidade de estabelecimento de vinculo contratual e pressu- Be, pois, uma disciplina da matéria no ordenamentojuridico. 0 ARLET, A fics doe diitonfendamentais pig 167 oe Hermontutien Contitucionle Disits Fusdansen dircito de propriedade, como observado, nao é sequer imagingvel ‘sem disciplina normativa."™ Da mesma forma, o direito de protegio judicria, previsto to art, 5%, XXXV, 0 diteito de defosa (art. 5%, LV), ¢ 0 direito aa Juiz natural (art! 5°, XXXVID), as garantias constitueionais dy ‘habeas corpus, do mandado de seyuranca, do mandado de injungig do habeas data sho tipicas garantias de eardter institucional, otadas de ambito de proteeae marcadamente normative." Entro nds, Ingo Sarlet assinala como auténticas garantiag instivucionais no eatélogo da nossa Constituigto a garantia da propriedade (art, 8, XXID), 0 direita de heranga (art. 5%, XXX),o ‘Tribunal do Juri (art. $8, XXXVIID), a lingua nacional portuguesa (art, 18), 08 partides politicos e sua autonomia (art 17, caput e § 19), Também fora do rel dos direitos e garantias fundamentals (Titulo TD podem ser localizadas garantias institucionais, ais como ‘a garantia de um sistema de seguridade social (art. 104), da fami Tia (art. 228), bem comoda autonomia das universidades (art, 207), apenas para mencionarmos alguns dos exemplos mais tipicos Ressalte-se que alguns destes institutos podem até mesmo ver considerados garantias institucionais fundamentais, em face da abertura material propiciada pelo art. 5%, § 2", da Constituigto.” Nesses casos, a atuagao do legislador rovela-se indispensé- vel para a propria concretizagao do direito. Pode-se ter aqui um auténtico dever constirucional de legislar (Verfassungeauftrag), {que obriga olegislador a expedir atos normmativos “conformadares™ e coneretizadores de alguns direitos". 4, DIRITOS FUNDAMENTAIS ENQUANTO GARANTIAS POSITIVAS DO EXERCICIO DAS LIBERDADES A garantia dos direitos fundamentais enquanto direitos de dofesa contra intervengto indevida do Estado e contra medidas legais resiritivas dos direitos de liberdade nao se afigura suficien- te para assegurar o pleno exercicio da liberdade. Observe-se que ‘nao apenas a existéncia de lei, mas também a sua falta podem donna tabagg mtn KREBS, Preheat durch Grade, JU "SCE, PIEROTHISCHLINK, Grundrechte — Ststacect Ik. p62. SARLET, A fies dos direitos fundamental 182 “ BATTISIGUSY, Einfubrong in dar Staaterechy cit pg 82%, - erwentutca Contucona e Dito Fundamenta 203 sevelarse afrontosas aos direitos fundamentais.* Eo que se veri ‘ng.-com os direitos a prestaga positiva de indole rormat Set sclusiveochamado dipeto a organizagto ao process echt WePOrganisation und auf Verfahren) e, nfo raras Wezes, com 0 Giveito de igualdade, Vinculados &concepeae de que a0 Estado incumbe, além da io-intervengdo na esfors da liberdade pessoal dos individuos, {Jarantida pelos direitos de defes,atarefa de elocar a disposigao Sirncios materiais implementa as condighesfaticas que pos Shitem o efetivo exerccto das Iterdades fondamentl tos fundamentals prestagoes cbjetivam, em ultima andlis, 9 {arantia nto apenas da lberdade-sutonomia (iberdade perante $FFctado), mas também Ga iberdade por intermedi do Estado, tin da premissa de que individoo, no que eoncerne con: Julsta e mantutengao de sua liberdade, depondc em muito de uma Fostura ativa das poderes pblicos. Assim, enquanto direitos de Betosa Ceratus liberate” tates negetivus") se dirger, em prin- tipi numa posigao de reapelto e abstengao por parte dos poderes Dpublices, o Jirets a prestagies, que, de modo geral, ressalea Uosos avangos registrados a longo do tempo, podem ser recondu: Sos ao“sfatuspostious”de Jelinek, isplicam uma postura at ‘a do Betado, no sentido de que este se encontra obrigado acalo {ara disposigdo de individuos prestagdes de natureza juridicae sateria ‘A concretizagio dos direitos de garantias as libordades ex ge, ndo raras vezes, aedlgao de atos legislative, de modo que Eventual inerea do legislador pode configurarafronta a um dever tonetitucional de lgisar 4.1. Direitos fundamentais enquanto direitos a prestagdes positivas Como ressaltado, a visio dos direitos fundamentais enguan- todireitos de defesa (Abwehrrecht)revela-se insuficiente para as- sogurar a pretensdo de efiedcia que dimana do texto constitucio- Bal, Tal como observado por Krebs, alo se cuida apenas de fr berdade em relagdo ao Estado (Freiheit vom... mas de desfruter 30a liberdade mediante atuagéo do Estado (Fretheit durch... needs von ghatesse sent, SARLET, Aisin don andamentai, Pi "KRERS, Peeibsitechute durch Grandreee, ct, pag. 617 (620, Junto, KRERS, rebetechute durch Grundreehe, 6 zoe Hermendutin Convio Di A moderna dogmatica dos direitos fandamentais discute a possibilidade de o Estado vira ser obrigado a criar 0s pressupostos Fiticos necessarios ao exercicioefetivo dos direitos constitucional. mente assegurados e sobre a possibilidade de eventual titular do direito dispor de pretensao a prestagdes por parte do Estado.” Sealguns sistomas constitucionais, como aquele fundado pela Lei Fundamental de Bonn, admitem diseussao sobre a existéncia de direitos fundamentais de eardter social (ansiale Grundrechte), certo que tal controversia nao assume maior relevo entre nés ‘uma vez que o constituinte, embora em eapitulos destacados, houve or bem consagrar o8 direitos sociais, que também vineulam 9 Poder Pablico, por forga inclusive da efiedcia vineulante que se extrai da garantia processual-constitucional do mandado de injungio e da agao direta de inconstitucionalidade por omissio."* Nao subsiste davida, tal como enfatizado, de que a garantia 4a liberdade do exercicio profissional ou da inviolabilidade do domieilio nfo assegura pretensto ao trabalho ou A moradia. Tai pretensbes exigem nao $6 acao legislativa, como, nao raras Vezes, medidas administrativas.® Se o Estado esta constitucionalmente obrigado a prover tais domandas, eabe indagar se, eem que medida, as agbes como pro- pésito de satisfazer tais pretensbes podem ser juridicizadas, isto 6, se, ¢ em que medida, tais agaes se deixam vineular juridiea mente. Outra peculiaridade dessas pretensdes a prestagdes de indo- le positiva é a do que elas estao voltadas mais para a conformagao do futuro do que para a preservagao do status quo, Tal como ob- servado por Krebs, pretensoes a conformagao do futuro (Zw ‘hun ftgestattung) impoem decisdes que estao submetidas a eleva KRBS, Frehetsachute durch Grundeche, it pi 67 (628) Ce KREBS, Preibotescte durch Goundreehte cits pg 617 (624-5 ALEXY, Theor Ger Grundrecte, 38 "9 mandads de jure, conceit pars assegurar drei iberdaes conus aegis de mt ganas nels 10, #2) desitaada tarnar estiva norte conan ‘SEpresam, ao plano tateriae eet vinelant para apaiar tr noses ‘ue relamiam expedigan de ato normative “CL KREBS, Freieiteschuts durch Grundrechte, cit, pg 617 (624-5) LEXY, Theorie der Grundreht 188, pig 285 SCE KHERS, Preiteitachats durch Grandechte, ot, pg. 61 (628). | A pesmentsticn Constitutional Deets Fundamentals os riscos: 0 direito ao trabalho (CE, art. 6*) exige uma politica fstatal adequada de eriagao de empregos. Da mesma forma, odi- feito A educagao (CF, art. 205 ce ar. 6"), 0 direito a assistonci {focial (CF, art. 203 ele art. 62) e& previdéncia social (CF, ar. 201 ‘Gleart. 6") dependem da satisfagao de uma série {Ge indole econdmica, politica ejuridica [A submisso dessas posigdes a rogras juridicas opera um fe nomeno de transmutagao, convertondo situagies tradicionalmen- te consideradas de naturcea politica em situagoes juridicas. Tem- fe, Pois, a juridiizagdo do processo decisério, acentuando-se a tensio entre dieito e politica. Observe-se que, embora tais decisdes estojam vinculadas ju ridicamente, € corto que a sua efetivagao est4 submetida, dentre foutras condicionantes, a reserva do financeiramente possivel (Vorbehalt des finanziell Moglichen”). Nesse sentido, reconhe- eeu a Corte Constitucional alema, na famosa decisio sobre Snumerus clausus" de vagas nas Universidades "numerus-clausus Entschvidung”), que pretensoes destinadas a criar 08 pressupos- tos fatioos necessarios para oexercciode determinado divitoe ‘sobmetidas & "reserva do posse!" "Vorbehalt des Moglichen de pressupostos 0s direitos a prestagies encontraram uma receptividade sem precedentes no constitucionslismo patrio, resultando, inclusive, ba abertura de um capitulo especialmente dedicado aos direitos fociais no catdlogo dos direitos e garantias fundamentais, Alem disso, verifiea-se que mesmo em outras partes do texto constitucio- zal encontra-se uma variada gama de direitos a prestasies. Nes- tecontexto, imitando-nos, aqui, aos direitos fondamentais, basta uma breve referéncia aos exemplos do art, 17, § 38, da Constitui (glo Federal (direito dos partidos politicos a recursos do fando par. Aidario), bem como do art. 5°, incisos XXXV e LXXIV (acesso & ‘ustiga e assisténcia juridiea integral e gratuita).”™ 4.2, Direito & organizagao e ao procedimento Nos sltimos tempos vem a dostrina utilizando-se do concet to de “direito a organizagao e ao provedimento” (Recht auf Orga: nization und auf Verfahren) para designar todos aqueles direitos fundamentais que dependem, na sua realizagio, tanto de prot "GE KREBS, Freteitechute durch Grundrecte, it pg. 61 (625) Ber 9,303 (339) S'SAMLET, A efiedcia do dritoefandasneotsin,p. 186. dncias estatais com vistas A criagto e conformagio de dries, sotores ou repartigdes (direito a organizagio), como de outras, rnormalmente de indole normativa, destinadas a ordenar a fruigiy ‘de determinados direitos ou garantias, como € 0 easo das farantiag rocessuais-constitucionais dircito de acesso a justiga;direito de protogdo judieidria; direito de defesal™ Reconhece-se o significado do direito& organizagao € ao pro. cedimento como elemento essencial da realizagao e garantia dos direitos fundamentais.” Isto se aplica de imediato aos direitos fondamentais que tém por objeto a garantia dos postulades da organizagao e do procedi- znento, como 6 9 caso da liberdade de associagho (CF, art, 5%, XVII das garantias processuais-constitucionais da defesa ¢ do contra ditorio (art. 8°, LV), do direito ao juiz natural (art. 5, XXXVID, das garantias processuais-constitucionais de cardter penal (Gnadmissibilidade da prova ilfita, o direito do acusado ao silén- vio eA nio-aute-incriminagao, et). Também poder-se-ia cogitar aqui da inelusdo, no grupo dos direitos de partieipagao na organi ‘zag e procedimento, do direite dos partidos politicos a recursos do fundo partidario ¢ do acesso a propaganda politica gratuita, nos meios de comunieagao (art. 17, § 3°, da CF), na medida em ‘que co trata de prestagdes dirigidas tante a manutengio da estr: tura organizactonal des partidos (e até mesmo de sua prépria exis ‘téneia come instituigdes de importancia vital para a democracia), ‘quanto a garantia de uma igualdade de oportunidades no que coneerne & participagao no processo democratico.” Ingo Sarlet ressalta que a problemética dos direitos de par ticipagio na organizagao e procedimento centra-se na possibilida do de exigir-se do Estado (de modo especial do legislador) a emis- sto de atos logislativos © administrativos destinadas a criar 6 ios © estabelecer procedimentos, ou mesmo de medidas qve objetivem garantir aos individuos a participagio efetiva na orga nizagio e procedimento. Na verdade, trata-te de saber so existe % Cty sabre o assunco, HBSSB, Grande des Verfanungarechte, is ALERY, Thor deGrunaveebte, pag 480, CANOTILI, Drs Coot al Coimbra, 1998, pugs 545 ESSE Koorad, Bedeutung der Grundrechte, i: Handbuch det Yerfassungsrehte, in BENDA, Eoesd MAIOPER, Were! VOGEL, Hass “Inchon Handbac der Veraneungeeete, erin 1086, ag. 127 U40-4¢7, SAMLET, Aiea doe rit fandastentie, pg 208 ormeneutien Constitcinale Divine Fundamentals or uma obrigagao do Bstado neste sentido ¢ se a esta corresponde fam dieito subjetivo fundamental do individuo.” Assim, quando se impoe que determinadas medidas estatais ‘que afetem direitos fundamentais devam observar um determi- nde procedimento, sob pena de nulidade, nio se esté a fazer ow tra coisa sonao proteger 0 direito mediante o estabelecimento de determinadas normas de procedimento, Bo aqub ocorre, vg, quando se impie que determinados atos processuais somente poderao sor praticados com a presenca do fdvogado do acusado. Ou, tal como faz a Constituigao brasileira, ‘quando se estabelece que as negociagoes coletivas somente pod ‘ao ser colebradas com a participagao das organizagies sindieais (Constituigao Federal, art. 8%, VI Canotilho anota que o dircito fundamental material tem ir radiagao sobre 0 procedimento, devendo este ser conformado de forma a assegurar a efetividade étima do direito protegide.” 4.3. Os direitos de igualdade: a hipétese de exclusdo de beneficio incompativel com o principio da igualdade 0 principio da isonomia pode ser visto tanto como exigéncia de -tratamentoigualitari (Cleichbehandlungagebot), quanto como prov bigdo de tratamento diseriminatéri (Ungleiohbehandlung-sverbot)™ ‘Alesso ao principio da isonomia oferece problemas sabretudo usa dove tem a chamada “exelusao de beneficio incompatiad com o prin: bp da igualdade” (willkurlicher Bogtnstigungeausschluss) ‘Tem-so uma “exlusdo de beneficio incompativel com o prinetpio dda igualdade” se a norma afronta a priepio da isonomia, conceden do vantagens ou beneficis a determinados segmentos ou grupos em ‘ontemplar outros que se encontram em candigdesidénticas, Essa excluslo pode verificar-se de forma concludente ou ex: Plicta. Ela 6concludente sea lei concede beneficios apenas adeter- WSARLEN, A fideia de dveiton fundamen, pgs 196-207 cf. ADIN 1901 DJ de 12490, ® CANOTILHO, 1.3. Gomes, Topics sobre um curso de meseado sre sists ndarentais.Przedinets Proce e Oreos, Cima, 190 wets CANOTILIO, Conatitugte Dirigente « Vinculage do Lexislador, Coin 198% pies 38-380 A ermenduieaConstiuconal ¢ Dito Fundam ‘minado grupo"; a exelusdo de beneficios ¢ explicita™ se a lei ge ral que outorga determinados beneficios a certo grupo exclui sua aplicagdo a outros segmentos.”" © postulado da igualdade pressupte a existéncia de, pelo ‘menos, duas situagies que se encontram numa relacae de compa, racao.® Essa relatividade do postulado éa isonomia leva, segun. do Maurer, a uma inconstitucionalidade relativa (relative Verfassungswidrigheit”) nao no sentido de uma inconstitucional- dade menos grave. E que inconstitueional nao se afigura a norma “AY ou °B", mas a diseiplina diferenciada das situacdes (“die Unterschiedlichkeit der Regelung”).* Besa peculiaridade do principio da jsonomia causa embara- g0s, uma ver que a téenica convencienal de superagao da ofensa (cassagdo; declaracao de nulidade) nao parece adequada na hip ‘ese, podendo inclusive suprimir o fandamento em que assenta a pretensao de eventual lesado 5, DIREITOS FUNDAMENTAIS E DEVER DE PROTECAO ‘A concepgao que identifica os direitos fundamentais como principios objetivos legitima a idéia de que o Estado se obriga nio apenas a observar os direitos de qualquer individuo em face das investidas do Poder Pablico(direto fundamental enquanto dire: to de protegdo ou de defesa —~ Abwehrrecht), mas também a ga rantir 08 direitos fundamentais contra agressio propiciada por terceiros (Schutzpflicht des Staats). ‘A forma como esse dever sord satisfeito constitui tarefa dos f. BVerfGE 25,102, 2 Cf. propésta, MAURER, Zar Verfassungewideigerairang oP (Gesetze, Fare Wernar Weer: erm, 1074 pag 345 940) IESE, ‘erm, ecesoigen der Vrfossnngenirgiet won Norm ond Enoetakt Bade Bade tio. nag io, JULICHIE edn Dar Neaengiecnede eee MAURER arto, Zar Verfassngawidigerarng, i 6 345 58 > MAUREE, Zur Verfsrungewidrigeralarang. ct ag. 315 (S50), ‘HESS, Grundig des Vereesungreets cit, pgs 15-150 “© HESSE, Graig de Verfeanungrects, ct pag 156 Hermentatin Constitusinal eDietos Fundamentaie 200 Ajurisprudéncia da Corte Constitucional alema acabou por consolidar entendimenta no sentido de que do signifieado objetivo dos direitos fundamentais resulta o dever do Estado nao apenas de se abster de intervir no ambito de protegao desses direitos, mas também de proteger esses direitos contra aagressio ensejada por atos de terepiros." Essa interpretagdo do Bundesverfassungsgericht empresta, sem duvida, uma nova dimensio aos direitos fundamentais, fa: ‘endo com que o Estado evolua da posigio de “adversdirio" (Gener) para uma fungao de guardito desses direitos (Grundrecktsfreund oder Grundrechtsgarant).* B facil ver que a idgia de um dover genérico de protesao fun- dado nos direitos fundamentais relativiza sobremaneira a sepa- entre & ordem constitucional e a ordem legal, permitindo {que se reconhega uma irradiagao dos efeitos desses direitos Gustrahlungswirkung) sobre toda a ordem juridica.* ‘Assim, ainda que se nfo reconhega, em todos os casos, uma pretensio subjetiva contra o Estado, tom-se, inequivocamente, a Hentificagaa de um dever deste de tomar todas as providéncias ‘necessarias para a realizagio ou concretizagao dos direitos fun- damentais." 0s direitos fundamentais ndo contém apenas uma proibigio de intervengio (Eingriffeverbote),exprossando também um pos- tulado de protegio (Sehuizgebote). Haveria, assim, para utilizar ‘uma expressao de Canaris, ndo apenas uma proibigao do excess0 Whermassverbot), mas também uma proibigto de omissio (Cntermassverbot).” Gf, a propisit, BVexGE 80,1 4; 45, 160 (6% 49, 69140 53,50, (7 ny 6, b4 Fey 66 (Ohh 77 170 G9 ae 77, S8L 4 ver, também, BIBTLEIN, Johannes, De Lenre von den grundrchtien Sehutapihven Benim, 1051 18 “sf, peopésto, DIETLEIN, Die Lehre von den grandrechlichen Sehutapflie et page 17 = von MUNCH, Ingo, Grandgesets-Kommeatar, Kommentar 20 “von MUNCH, Ingo, Grandgetets-Kommentar, Kommentar ru Vorbemerinng Art 118,052. ‘CANARIS, Claus Wilhelm, Grunésechtewiungen und Verbltiemss. Ageeitprinsp iu der tchtorishen Anwendung und Forbidang des ‘iaurechts us 108d, pap 161 Nos termos da doutrina e com base na jurisprudéncia da Corte Constitucional alema, pode-se estabelecer a seguinte classifica ho do dever de protegao" 8) Dever de proibiedo (Verbotspflich®), consistente no dever de se proibir uma determinada eondutas (b) Dever de seguranga (Sicherheitspflicht), que impde ao Estado o dever de proteger 0 individuo contra ataques de tercei- ros mediante adogao de medidas diversas; () Dever de evitarriscos (Risikop/licht), que autoriza o Esta do a atuar com 0 objetivo de evitar riscs para o cidadao em geral, mediante a adogao de medidas de protegao ou de prevengio, espe- cialmente em relagao ao desenvolvimento téenico ou teenoldgico. Discusiu-se intensamente se haveria um dircito subjetivo & observincia do dever de protecio ou, em outros termos, se have= ria um dirsito fundamental a protesao, A Corte Constitucional acabou por reconhever esse direito, enfatizando que a nao obser- vaneia do um dever de protegao corresponde a uma lesso do direi- to fundamental previsto no art. 2, 11, da Lei Fundamental.” 11 —AMBITO DE PROTECAO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS E AS POSSIVEIS LIMITAGOES 1. CONSIDERAGOES GERAIS A dofinigao do ambito de protecio configura pressuposto pri mario para o desenvolvimento de qualquer dieito fundamental.” 0 exercicio dos direitos individuais pode dar ensejo, muitas ve zes, a uma série de conflitos com outros direitos eonstitucional: monte protegidos. Daf fazer-se mister a definigio do dmbito ou nncleo de protecdo (Schutzbereich) e, se fr ocaso, a fixagao preci RICHTER, Inge SCHUPPERT, Guana Pole, Casebook Veriaeungs recht, digo, Monique, 1096, pags 33:30 conf BNeMGE T7010). ver sambém. RICHTERSCHUPPERT, “© LERCHB, Grundreehtlcber Schuteherch, Grundechespragung und Grandrchteingif on Tnebue Rr Heodbuch des Sastre ae 1991096) a ormenéatien Constitciona} ite Pundamen au sa das restrigdes ou das limitagoes a esses direitos (limitagdes ou restrigdes = Schranke oder Binariff." 0 ambito de protegao de um direito fundamental abrange os diferentes pressupostos féticos (Tatbestanden) contempladas na, norma jypiica (0g. reunir-se sob determinadas condigdes) © & consequdncia comum, a protesio fundamental. Alguns chogam ‘.afirmar que o dmbito de protegaa ¢ aquela parcela da realidade (ebenswirhlichkei) que oconstituinte houve por bem definir como objeto de protecdo especial ou, se se quiser, aquela fragdo da vida protegida por uma garantia fundamental.® Alguns direitos indi- Viduais, como o direito de propriedade e odireito a protegao judi ciara, sao dotados de émbito de protepdo eatritamente normativo (émbito de protege estritamente normativo = rechts-— oder norm— sepragter Schutabereich)." ‘Nesses casos, ndo se limita o legislador ordindrio a estabele cor restrigdes a eventual direito, eabendo-The definir, em deter minada medida, a amplitude e a conformagio desses direitos in dividuais.® Acontue-se que o poder de conformar nao se confunde com uma faculdade ilimitada de disposigao, Segundo Pieroth e Schlink, uma regra que rompe com a tradigao naa se deixa mais se enquadrar como conformagie.”* Em relagio ao Ambito de protesio de determinado dircito individual, faz-se mister que se identifique nao s6o objeto da prote- ‘G00 que éefetioamente protegido?: Was ist (eventuell geschit2?), mas também contra que tipo de agressio ou restrigdo se outorga essa protecdo (Wogegen ist (eventuell)geschitzt?)." Nao integra o Bode! SCHLINK, Bernhard, Grundrect "20s, pa 80; CANOTILHDO, Direto Cones ® LERCHE, Grundrchticher Schutserich, Grandreehtorigung vod chtsegri in: eese/Kirhhot Handbuch dee Stesarett, wl Stantrett I, pg. 58; HESSE, gee pg 8,30 “Cine, parte I, 33 Pica da proprconalidnde dita de pro Predaie “ PIEROTHSCHLINK, Grandrecte — Statarecht I, 9. PIEROTH/SCHLINK. Grundreehe — Statarecht I, pa. 53. 5 SCHWABE, Jurgen, Probleme der Grandrectedogmatix, Darmstadt, 1077, pug 132 az eymendutien Consitucions « Divito Fundarsentais Ambit de protegao qualquer assertiva relacionada com a possibi- Tidade de limitagao ou restrigho a determinado direito."* sso significa que o dmbito de proteedo nao se confunde com protecao efetiva e defnitiva, garantindo-se apenas a possibilida- ddede que determinada situaao tenha a sua legitimidade aferida fom face de dado parametro constitucional.” [Na dimenstio dos direitos de defesa, dmbito de protecdo dos direitos individuais ¢ restrigdes a esses direitos sao conccitos correlates, Quanto mais amplo for o ambito de protegao de um — | direito fundamental, tanto mais se afigura possivel qualificar ‘qualquer ato do Estado como restr. Ao revés, quanto mais res- trito for 0 dmbito de proteedo, menor possibilidade existe para configurasdo de um conflito entre o Estado ¢ o individuo.® 2, DETERMINAGAO DO AMBITO DE PROTEGAO Como observado, o exame das restrigdes aos dircitos indivi- ‘duais pressupde a identifieagao do émbito de protecdo do direito fundamental. Este processo nio pode ser fixado em regras ge- ‘ais, exigindo, para cada direito fundamental, determinado pro- codimento Nao raro, a definigda do Ambito de protecdo de determinada dircito depende de uma interprotagdo sistematiea, abrangente de ‘outros direitos e disposigoes constitucionais. Muitas vezes, a ‘efinigdo do dmbito de protegdo somente ha de ser obtida em con- fronto com eventwal restrigao a esse direito. [Nao obstante, com o propésite de lograr uma sistematizaga podle-so alirmar que a definigao do Gmbito de protecao exige & Aandlise da norma constitucional garantidora de direitos, endo em vista: (a) a identificagdo dos bens juridieos protegidos e a amplit: de dessa protegao (ambito de provegdo da norma); 7 LERCHE, Grundreslcher Schutsbereich, Grundrdhteprigung ont CGrundrechtsingih pag. 117 SCHWABE, Probleme dee Grundrechssdogmati ci. i. 182 SUPIRROTHISCHLINK: Grundrechte— Seasterech Il, pg. 57. ‘PIEROTIUSCHLINK, Gronérshte — Saatreeht Il, Fae. 8. fz ‘Hecmendutice Constiteinal¢ Diceitae Fundamentals 29 () a vorificagao das possiveis restrigdes contempladas, ex: pressamente, na Constituigio (expressa restriao constitucional) t identificagio das reservas legais de indole restritiva Como se 4, a diseussao sobre Ambito de protecto de deter: sinado dircito constitui poato central da dogmétiea dos direitos fundamentais. Nem sempre se pode afirmar, com seguranga, que determinado bem, objeto ou conduta estao protegides ou nao por tum dado direito, Assim, indaga-se, em alguns sistemas juridicos, se valores patrimoniais estariam eontemplados pelo ambito de proterio do dircito de propriedade. Da mesma forma, questiona- fe, entre nés, sobre a amplitude da protegaa & involabilidade das comunicagbes telefOnieas e, especialmente, se ela abrangeria ou tras formas de comunicagées (comunicagao mediante utilizagao de radio; “pager”, eto) ‘Tudo isto demonstra que a identificagio precisa do Ambito de protogio de determinade direito fundamental exige wim reno vvado e constante esforgo hermenéutic. 8. CONFORMAGAO E RESTRICAO 4.1. Consideragdes preliminares A idéia de restrigao ¢ quase trivial no ambito dos direitos Individuais. Além do principio goral de reserva legal, enunciado no art. 5°, IT, a Constituigao refere-se expressamente & possibili- dade de se estabelecerem restrighes legais a direitos nos incisos XII (inviolabilidade do sigilo postal, telegratico, telefonico e de ‘ados), XIII (liberdade de exercicio profissional) e XV (liberdade de locomocio), Para indiearas restrigdes, o constituinte utiliza-se de expres: sbos diversas, como, vg, "na forma da lei” (att. 5°, inciso VD, “nas hipatesese na forma que ale estabelocer” (art 5°, inciso XID), “atendidas as quaificacdes profissionais que ale estabelecer"(art. 5% inciso XII), "nos termes da lei” (art. 6, inciso XV), “salvo nas hipateses previstas em lei" (att, 5%, ineiso LVIM), Outras vezes, a norma fundamental faz referéncia a um conceito juridico indeterminado, que deve balizar a conformagao de um dado direi- ta. Eo que se verifica, vg., coma elausula da “funcéo social” (art, {5 inciso XXII), CANOTILMO, Diito Constusona, it, age, 62-603, au ormondutic Constiusona eDistoeBundamentais ‘Tais normas permitem limitar ou restringir posigdes abrangi das pelo ambito de protegao de determinado dircito fundamental. [Assinale-se, pois, que a norma constitucional que submete determinados dieitos & reserva de lei restrtiva contém, a um 56 ‘tempo, (a) uma norma de garantia, que reconheve e garante de. terminado Ambito de protegao ¢(b) uma norma de autorizagao de restrighes, que permite ac legislador estabelecer limites ao Amb to de protegao constitucionalmente assegurado. Odserve-se, porém, que nem todas as normas referentes a direitos individuais tim o propésito de restringir ou limitar pode- res ou faculdades. [Nao raras vezes, destinam-se as normas legais a completar, densifiear econeretisar direito fundamental’ E o que se verifica, bg em regra, na disciplina ordindria do direito de propriedade material e intelectual, do direito de sucessdes (CF, art, 5#, XXII — XXXI), no Ambito da protogao ao consumidor (CF, art, 8, XXXID, fe do direito A protegio judiciaria (CF, art. 5%, XXXV, LXVIT — LXXID. ‘Sem pressupor a existéneia das normas de direito privado relativas ao direito de propriedade, ao direto de propriedade in- telectual ao direito de sucessies, no haveria que se cogitar de Juma efetiva garantia constitucional desses direitos. Da mesma forma, a falta de rogras processuais adequadas poderia transfor mare direito de protegao judicisria em simples esforgo retro, Nessa hipétese, o texto constitucional ¢ explicit, ao estabelecer {que "a lei ndo exeluira da apreciagio do Poder Judicidrio lesao ou Smeacaa direito” (art. 6%, XXXV), Fica evidente, pois, quea inter- ‘engao legislativa nao apenas se afigura inevitavel, como tam bem necessiria, Veda-se, porém, aquela intervengao legislativa aque possa afetar a protegao judicial efetiva Dessarte, a simples supressto de normas integrantes da le sislagio ordindria sobre esses institutos pode lesar nao apenas & T No seu lasco “Alcala das Normas Costtuionsi™ (Sia Pa te, 1989, page 910) Secs Alas da Siva sana enna armas cone de“ ela cote ea normas que soit a ntervengo delegate odinarie {avs tetrngees pentose opt; Dag 22 SSCAROMILIO, Dit Constocon tne, 2. Ct gare eateuate, ALEXY, Theorie der Grundvechte, pig. 300 prenonhiScltLtsnt randrcehte~ Staatrecht ly page 85-8, CANOTILMO, Eres Conlon Pog 893 7 ‘ermenttica Gonstituionale Dirlos Fundamentais 215 _garantia institucional objetiva, mas também direito subjetiva cons- fitucionalmente tutelado.* A conformagao dos direitos individuais assume relevincia sobretudo no tocante aos chamados direitos com dmbito de prote ao estrita ou marcadamente normativo (rechtsnormgepragter Sehutzbereich), uma ver que 6 a normacio ordindria que acaba por conferir contoudo ¢ efetividade & garantia constitucional.” 3.2, Ambito de protecdo estritamente normativo Como assinalado, peculiar reflexto requerem aqueles diret- tos individuais que tém 0 dmbito de protesao instituido direta e expressamente pelo préprio ordenamento juridico (Gmbito de pro tegdo estritamente normativo = rechts — oder norm —~ gepragter Sehutzbercich).* A vida, a possibilidade de ir e vir, a manifestagao de opini8o 1 possibilidade de rounide preexistem a qualquer diseipina ju: ridiea"" Ao contrério, 6a ordem juridiea que converte o simples terem ropriedade, institut o direito de heranca e transforma a cosbita- 40 entre homem e mulher em casamento.” Tal como referido, a protegio constitucional do direito de propriedade e do direito de hheranga nao teria, assim, qualquer sentido sem as normas legais relativas ao direita de propriedade e ao direita de sucesso." Como essa categoria de direito fundamental confia ao legis- lador, primordialmente, o mister de definir, em esséncin, 0 pré- Prio conteudo do direito regulado, fala-se, nesses caros, de regulagao ou de conformagao (Regelung oder Ausgestaltung) em lugar de restrigdo (Beschrankung) 8 que as normas logais relativas a esses institutos ndo se Aestinam, preeipuamente, a estabelecer restrigdes, Flas camprem antes relevante e indispensdvel funcio como normas de coneret. +¢do ou de conformagaa desses direitos. “ALEXY, Theorie dr Grondrchte, pg $08 ‘of, sobre anrunt, CANOTILHO, Dire Constitcins, itp. 69 ‘* PIRROTH'SCHLINK, Grondrecte — Stateech Il pg 53 ‘Tas direitos sto poveidon na Consiga Federal brani no seu Teal Do dire gate esdaesee ‘* IEROTHUSCHLINK, Grondrecte ~ Staatarcht Il 75. ALERY, Torte derGrundrehte, pg. 90 26 Hermentuten Constocional¢Divits Fundane Nao raro, o constituinte confere so legislador ordinario um ample poder de conformasdo, permitindo que a lei coneretize ou ddonsifique determinada faculdade fundamental. £0 que pode cons. tatar, deforma expressa, em algumas disposigdes constitueionais: (1) "a pequena propriedade rural, assim definida em ti, desde que trabathada pela familia, ndo sera objeto de penko ra para pagamento de dabitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lel sobre os meios de financiar 0 sew (Gesenvoleimento” art. 5%, XXVD; (2) "aos autores pertence o direito exelusivo de utiliza (do, publicagao ou reproducao de suas obras, transmisstvel f208 herdeiros pelo tempo que a lei fisar” (art. 5%, XXVIDi (9) “sao assegurados, nos termos da lei: a) a protegdo tas participagées individuais em obras coletivas ea reprodu (a0 de imagem e voz humana, inclusive nas atividades des. ortivas; 6) 0 direito de fiscatizagto do aproveitamento eco hnémico das obras que eriarem ou de que participarem avs riadores, aos interpretes e ds respectioas representagdes si Gicais ¢ associativas’ (art. 5% inciso XXVHD; (4) "6 reconhecida a instituigao do jari, com a organiza (do que the der a lei, assegurades (..): (art. 5%, XXXVI); (6) "sao gratuitos para 0s reconhecidamente pobres, na forma lei: a) 0 registro civil de nascimento, b) a certidado de bite” (art. 5% LXXVD; (6) “edo gratuitas os agées de habeas corpus e habeus data, ¢, na forma da lei, os atos necessarios ao exerctcio da fidadania” (art, 5°, LXXVID. Por isso, assinala-se na doutrina a peculiar problemstica que marca esses direitos com ambito de protegio marcadamente nor- mativo: ao mesmo tempo que dependem de concretizagao e con formagao por parte do legisiador, cles devem vineular e obrigar © Estado. Em outros termos, 0 poder de conformagao do legislador, 1a espécie, nao significa que ele detenha absoluto poder de dispo- sigdo sobre a matéria.” A propésito, obsorvam Pieroth ¢ Sehlink {que uma diseiplina que rompa com a tradielo ja nao mais configu +a simples conformagao. sane ae , Hermeneutics ConstitcinaleDirtos Fundanentaie Eventual supressio pode lesar tais garantias, afrontando 0 instituto enquanto direito constituelonal ebjetivo e as posigdes juridicamente sutcladas, se suprimir as normas eoncretizadoras de detorminado institute.” Existiria, assim, para olegislador um dever de preservar. Correlate a esse dever de preservar imposto ao legislador podese identificar, também um dever de legislar, sto ¢, um de- ver de conferir conteddo eefetividade aos direitos constitucionais tom Ambito de protegao estritamente normative.” 3.8. Definigdo e limitagao do contetido do direito: 0 exemplo do direito de propriedade Especificamente sobre odireito de propriedade, pode-se afi mar que eventual redugo legal das faculdades a ele inerentes pode ser vista sob uma dupla perspectiva: para e futuro, euids-se fe uma nova definicao do dievito de propriedade; em relacdo a0 Aireito fundado no passado, tem-se uma nitida restrigdo.” Embora, teoricamente,ndo se possa caracterizar toda equal- quer diseiplina normativa desses institutos como restrigdo, nfo hha como deixar de reconhecer que legislador pode, no uso de seu poder de conformagao,redesenhar determinade instituto, com sé Flas ¢, nfo raras vezes, gravosas consequéncias para 0 titular do aireito Caberia indagar se, nesses casos, seria possivel falar, pro- riamente, de conformagdo ou coneretizapao (Ausgestaltung oder Konkretisicrung) ou se se tem, efetivamente, uma restrigdo GBeschrinkung)™, que podera revelar-se legitima, se adequada para garantir a fungi social da propriedade, ow ilegitima, se Aesproporcional, desarrazoada, ov incompativel com o nul es fencial (Wesensgchalt) desse direite.” ‘A garantia constitucional da propriedade assegura uma pro- tego das posigies privadas jé eonfiguradas, bem como dos dir tas a sorem eventualmente constitutes. Garante-se, outrossim, 7, «poopie, ALEKY, There der Grandechte, pl. 209 "CF sobre a aaunto, HESSE, Grondsdge due Verfarnungerech, pt am ° Gr. PIBROTH/SCHLINK, Grundrechte ~Staatsrect 1, pig, 227 ALEXY, Theorie der Grundech, pag. 204 "CC ALEXY, Taare der Grundeeete, pi. 305; PAPIER, in: Mount if, Kommentar fm Grandgeet, Sure, 060, ele art 4, 288, «a propriedade enquanta institut juriico, obrigando o leistador & promulgarcomplexo normative que assegureaexistenca, a fan. Glonalidade, a utldade privada desse dieito”” Tnexiste, todavia, um concito constituional Axo, estat de propriedade afigurando-se, fundamentalmente legitimas nie 36 as novas definigbes de contoudo coma ixagao de limites des tinados agarantira sua funedo socal." E que, embora nto aber. {0,0 conceito constitucional de propriedade ha de ser necessaria. ‘mente dinamico.”" [esse passo, deve-se reconhocer que a garantia constitucio- nal da propriedade esta submetida a am proceseo de relativicucdo, ‘endo interpretada, fundamentalmente, de acordo com pardmetros ‘ixados pela legislagao ordinaria." Aa disposig&es legais rlativas ‘aocontetido tém, portanto, inconfundivel eardtereonsttutiva, Isso nao significa, porém, que logislador possa afastar os limites cons- titucionalmente estabelecidos. A definicao dosse conteudo pelo le sislador ha de preservar o dieito de propriedade enquanto garan- tia institucional, Ademais, as mitaciee impostas ow as novas con ormagdes conferidas a0 direito de propriedade hao de observar ‘especialmente o principio da proporcionalidade, que exige que as restrigdes legnis sejam adequadas, necessérias ¢ proporeionais." Como acentuado pelo Bundesverfassungegericht, a faculda- ‘de confiada ae legislador de regular o direito de propriedade obri a-0a “compatibilizar oespaco de liberdade do indivtduo no ambi to da ordem de propriedacte com ointeresse da comunidade” ® Essa necessidade de ponderasio entre o interesse individual eo interes- se da comunidade 6, todavia, comum a todos os direitos fendamen: tis, nfo sendo wma especifieidade do dreito de propriedade." A afirmagao sobre a logitimidade ou a ilegitimidade de de terminada alteragao no regime de propriedade ha de decorrer, Cf. a propésit, PAPIER, in: MAUNZ-DORIG, Kemmentar zum Grundgesets, are Li, 2° 253-286, STEIN, Erwin, Zor Wendlung det igentunabegifes, ie Pesach fur Gehan Salcr-Tabiagen, 1970, pa. 68 ‘PAPIER, Hazs-Jorgeo, v1: MAUNZ-DURIG, Kommentar 24 ® PAPIER, Hana-Jargen, in: MAUNZ-DORIG, Kommentar zum rundgesets art ifn 3. * PAPER in: MAUNZ-DORIG, Koren cum Grundgrcs at Lot 28 “SPAPIER, in MAUNDURIG, Kosuzentar um Grandgeta ar 1, 8 ersuntstiea Constitulonal« Digetae Fundamentals as pois, de uma cuidadosa ponderagao (Abwagung) sobre 08 bens & Yalores em questao, Nesse sentido, afigura-se digna de registro tnanifestagio do Bundesverfassungagericht a propésito, verbis: “A proghiedade privada caracteriza-se, na sua dimen. sto juridioa, pela utilidade privada e, fundamentalmente, pela possibilidade de disposieao (BVer/GE 81, 229 (240); seu liso deve servir, gualmente, ao interesee social. Pressupse se ‘aqui que o objeto de propriedade tenha wma fundo social (2) Compete ao legislador coneretizar esse postulado tam: biim no dmbito do Diveito Privada. Ble deve, portanto, consi derar a liberdade individual constitucionalmente gorantida to principio de uma ordem de propriedade socialmente justa vo, 0 resultado positivo do teste de adequagao nao mais poderd lafetar o resultado definitive ou final. "W GANOTILHO, Diritsconsttcionl, cit pig. 617 INK, Grandreshte~ Steaarcht I, pi 68. LINK, Grandreehte ~Staatereet Il pig 67 ‘8 PIBROTIUSCHLINE, Grandrechte ~ States I, pop 02. "™ PIEROTHUSCHLINK, Grundreshie~ States I pug ena nee Um jutzo definitivo sobre proporcionalidade da medida hi de resultar da rigorosa ponderagio edo possivelequiibrio entre ‘significado da intervengio para o aingidoe os ohjetivos perse- fuidos plo logslador (proporcionaidade em sentido estrito) "© E possivel que a propria ordem constitustonal fonega um indicador bre os eritéros de avaliagao ou de ponderagao que devem ser ‘sdotados. Pieroth Seblink advertom, porém, que, nem sompre, &doutrinae a jurisprudencia se contentam com easasindicagbes {ornecidas pela Let Fundamental, incorrendo no risco ou na ten- tapio de substitur a decisiolegislativa pela avaliagao subjetiva dejan Tendo em vista esses iscos,procura-se solver a questio com base nos outros elementos do principio da proporcionalidade, enfatizando-se, especialmente, o significado do subprinepio da hecessidade. A proporcionalidade em sentido estito assumirio, ‘sci, opapel dom “ontaledesintonia ina (Stimmiglitatontralle), {ndicando'a justeza da solugao eneontrada ou a nevessidade de 3.2. A proporeionalidade na jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal B interessante notar que a primeira referéneia de algum sig- nificade ao principio da proporcionalidade na jurisprudencia do Supreme Tribunal Federal — tanto quanto ¢ possivel identificar — esta intimamente relacionada com a proteedo ao direito de pro- priedade. No RE n? 1891, da relatoria de eminente Ministro Orozimbo Nonato, deixousse assente, verbis: “0 poder de taxar nao pode chegar & desmedida do po der de destruir, uma ves que aguele somente pode ser exerci do dentro dos limites que otornem compativel com a liberda ide de trabalho, comércio e da industria e com o dircito de propriedade. Bum poder, eujo exercicio nao deve ir até o abu. 180, 0 excesso, 0 desvio, sendo aplicdvel, ainda aqui, a doutri nna feeunda do “détournement de pouvoir”, Nao ha que estra- Inhar a invocaeao dessa doutrina ao propdsito da inconstitu cionalidade, quando 0s jlgados tém proclamado que 0 con "= PHRROTHUSCHLINK, Grundrecte-Gtanterecht I, pg. “ PIEROTHVSCHLINK, Grondrecte-Staatsreckt I, page 87:88 ‘8 PIEROTHSCHLINK, Grondrechte-Stastoreckt I, pg. 08 Hermeosutie Canstitusinal «Distoe Fundamentals 209 [ito entre « norma comum eo preceto da Lei Maior pode se ‘acender nao somente considerando a letra do texto, como tan ‘bem, e principalmente, oespirito do dispositivo invocado" Em 21 de fevereiro de 1968, teve o Tribunal oportunidade de eclarar a inconstitucionalidade de norma constante da Lei de Seguranga Nacional, que obstava que o acusado de pratica de eri- sme contra a Seguranca Nacional desempenhasse qualquer ativi dade profissional ou privada, tal como previsto art, 48 do Decre- toLein® 914, de 1967: rt. 48. A prisdo em flagrante delito ou 0 reccbimento dda doniincia, em qualquer dos casos previstos neste decreto. lei, importard, simultaneamente: 12na suspensao do exercicio da profisedo; 2% na suspensdo do emprego em atividade privade; $F na suspensio de cargo ou fun¢do na Administrasdo Publica, autarquia, em empresa publica ou sociedade de eco hnomia mista, até a sentence absolutsria” 0 Supremo Tribunat reconheceu que a referida restrigio r= velava-se desproporcional (exorbitancla dos efeitos da condenc: edo) € era, portanto, inconstitucional, por manifesta afronta a0 proprio direito a vida em combinagao com a eléusula de remissa0 Feferida, como se pode ler na seguinte passagem do voto entao proferido pelo Ministro Themistocles Cavaleanti Inflizmente nao temes om nossa Consttuigdo 0 que dispoe a Emenda n°3 da Consttuigao Americana, onde se Drotbem a exigencia de fangas exeessvas, as penas de muta emasiadamenteelevada ea inposiguo de penas eruéis¢ orado comum ou de medida (erul and unusual punishment) Osinterpretes consideram como tal, porexemplo, a morte lente, mas entendem também que o conceito deve evoluir po? que “eruel” ndo ¢ uma expressdo téenica, com signifcacd0 definidasem direto e que deve evoluir eam 0 aperfeigoament0 dda homem, as exigencias da opinigo publica e'a propor do fnereo crime ea pena E possivel que em determinade momento se cheque «con denar a pena de morte, como eruel Pritchett, The America Constitution, pag. 527), No caso Trop versus Dulles (1988) Justice Warren en tendeu, @ meu ver com razéo, que a idéia fundamental da Emenda n®8 éa preservacao da dignidade humana. ‘Nao temos preceitoidentico, porém, mais genérieo ¢sus ceetivel de uma aplicagio mais ampla, temos 0 § 35 do art. 150, reprodugéo de Constituigdes anteriores que dispaet A especificagdo dos direitos e garantias expressas nesta Cons: titwicao nao exelui outros direitos e arantias decorrentes do regime e dos prinetpios que ela adota” Ora, a Constituicdo vigente, como as anteriores no qua: dro das garantias individuais © sociais, procurou seguir as texigéncias de aperfeigoamento da homem « 0 respeito & sua integridade fisica e moral. A preseroagdo de sua personali dade ea protegao contra as penes infamantes, a condenagdo sem processo contraditerio, a supressao de algumas penas ‘que se inclutam na nossa vetha legislagdo penal, a afirmacao dde que somente o delinquente pode sofrer a pena, sem atingir os que dele dependem, definem uma orientagao que qualifiea perfeitamenteo regime eos prineipios fundamentais da Cons. titnigae 0 preceito vem da Constituicto Americana, Emenda IX RE 80.07, Relator: Minato Thompon Fores, RT 70, py 671 (6S Hermenistin Consituciona «Dieter Pundawentais 20 Talvee a decisio proferida na Representagio n° 1.077, de 28.3.84, contenha um dos mais inoquivocos exemplos de utiliza {0 do principio da proporcionalidade entre nds, uma ver que do texto constitucional nao resultava nenhuma limitagao expressa para o legislador. Cuidava-se da aferigao da constitucionalidade Ge dispositivos constantes da Lei n! $83 (de 4.12.80, do Estado do Riode Janeiro) que elevava, significativamente, os valores da taxa Judiciaria naquela unidade federada, Apés precisar a natureza ¢ ds carateristicas da taxa judieiaria, enfatizou o eminente Relator, Ministro Moreira Alves: “Sendo — como ja se acentuou ~ a taxa judicidria, em face do atual sistema constitucional, taza que serve de con: traprestagao @ atuagdo de érgdos da justia eujas despesas ‘ido sejam cobertas por custas eemoluinentos, tem ela — como fda taxa com cardter de contraprestagao—um limite, qué custo da atividade do Estado, dirigido aquele contribuinte Esse limite, evidentemente, é relative, dada e difieuldade de ‘se saber, exatamente, o custo das servicos a que corresponde tal contraprestagao. O que é certo, porém, € que ndo pode taza dessa natureza ultrapassar uma equivaléncia razedvel entre 0 feusto real dos servigos eo montante a que pode ser complida 0 comnribuintea pagar, endo em vista a base de ofleuloestabelei: da pela lei eo quantum da aliquota por esta fisado™!® Fixada essa idéia de equivalincia razodvel entre custo do servigo e 2 prestagio cobrada, concluiu o eminente Magistrado pela inconstitucionalidade do art. 118, da Lei estadual, que, de forma genérica, fizava em 2% sobre o Valor do pedida o quanturs Aevido pelo contribuinte, verbs: “(.) Por isso, taxas eujo montante se apura com base fem valor do proveite do contribuinte (como é 0 caso do valor real do pedido), sobre a qual incide aliquota invariave, tem rnecessariamente de tor um limite, sab pena de se tornar, com relagao as causas acima de determinado valor, indiseutivel: ‘mente exorbitante em face do custo real da atwagao do Est dom favor do contribuinte. Isso se agrava em se tratando de taxa judieidria, tendo em vista que boa parte das despesus ddo Rstado jd sdo cobertas pelas custas © emolumentos. Nao Rp. 1.077, Relator Min Moreira Ales, RTH 112: 3488-50, estabelecendo a lei ese limite, endo podendoo Poder Judicia rio estabelecé-Lo,€ de ser dectarada a inconstitucionalidade {do proprio mecanismo de aferigao do valor, no caso concrete, dda taza judicidria, certo como é que condusird, sem divide talguma, a valores reais muito superiores aos eustos a que sservem de contraprestagdo. A falta des limite torna incom pativel 0 proprio modo de caleular o valor conereto da taxa ‘com a natureza remuneratoria desta, ransformando-a, na realidade, num verdadeiro imposto”.®” Posteriormente, viu-se o Supremo Tribunal Federal contro ‘ado com a indagagio sobre a proporcionalidade de disposigoes constantes do direito estadual do Parana (Lei n® 10.248, de 14.1.93) que fixavam as seguintes exigéncias “Art 148 obrigatoria a pesagem, pelos estabelecimentos ‘que comercializarom — GLP — Gis Liquefeito de Petréleo, Lista do consumider, par aeasido da venda de cada botijao ow eilindro entregue e também do recolhido, quando proceds dda.a substituigao, Pardgrafo tnico, Para efito do disposto no eaput deste “artigo, 0s Postes revendedores de GLP, bem como os vefeuloe {que procedam a distribuicao a domictio, deverdo portar ba lanca apropriada para essa finalidade. Art, 2°Verificada a diferenca menor entre o conteido & ‘quantidade liquida especificada no botijao ou eilindro, 0 con Sumidor terd diveito a receber, no ato do pagamento, abat- ‘mento proporeional ao prego do produto, Art. 3®Caso se constate, na pesagem do botijao ou cilin dro que esteja sendo substituido, sobra de gas, 0 consumidar serd ressarcido da importancia correspondente, atravée de ‘compensagdo no ato do pagamento do produto adquiride” Reconheceu-se, na agdo direta de ineonstitucionalidade, a possibilidade de leséo ao prineipio da proporcionalidade, como se pode depreender da seguinte passagem: “Bis at, pois, um outro fundamento igualmente suficien te para condusir @ incalidade da lei por ofensa ao principio Rp. LOTT, Relator: Min Moreira Alves, RY 18: 2468) ermenéuicn Consticulnal¢ Direias Fundametais 230 da razoabitidade,seja porque 0 rgdo téenico jd demonstrou ‘propria impraticabilidade da pesagem obrigatéria nos ea minhaes de distribuicdo de GLP, seja porque as questiona- ttas sobras de gs ndo locuplstam as empresas distribuido ras de GLP, como.e insinua, mas pelo metodadeamostragem, ‘sto levadas em conta na fixasdo dos precos pelo érgdo com: petente, beneficiando, assim, toda a coletividade dos consw ‘midores finais, of quais acabariam sendo onerados pelos ‘aumentos de custos, caso viessem a ser adotadas as imprati cdveis balangas exigidas pela lei paranaense” (Ns. 83 do facérdao no pedido de cautelar da ADIn n° 855, Relator: Mix nistro Sepulveda Pertonee, DJ de 1.10.93), A Exeelsa Corte acolheu essa fundamentagio, para feito de concessii da eautelar requerida. E 0 que se depreende da leitura dovoto condutor proferido pelo eminente Ministro Sepalveda Per. tence: “De sua vee, 08 esclarecimentos de fato — particular mogte a manifestagao do Instituto Nacional de Metrologia, Normatizaedo e Qualidade Industrial — INMETRO, do Mi: historio da Sustiga, do de multiple relevdneia para est jul- gamento lininar, Eles servem, de um lado, como proficientemente explo raddos na petigdo — nao s6 para lastrear o questionamento da proporeionalidade ou da razoabilidade da disciplina le ‘gal impugnada, mas também para indicar a conveniéncia de Sustar, a0 menos, provisoriamente — as inovaedes por ela impostas, as quais, onerosas © de duvidosos efeitos uteis — ‘ocarretariam danos de incerta reparagdo para a economia do selor, na hipatese— que nao é de ofastar — de que se venha tio nal a declarar a inconstituctonalidade da let” (ls. 88), Essa simples colocagdo serve para demonstrar que um juizo seguro sobre a inadequagio e desnecessidade da medida (‘de du idovoe efeitos sites") sabre a desproporcio entre os onus impos tos aos particulares ¢ 08 fins perseguidos afiguraram-se suficien- tes para legitimar a suspensao da norma de conteudo restritiv. (0 Supremo Tribunal Federal apreciou a arguieio de incons- titucionalidade do art. 5* e seus paragrafos e incisos da Lei n® 8.713, de 20 de setembro de 1993, que assim dispos: Hermentutea ContucionleDireites Pundanen “Art, 5° Poderd participar das eleigoes previstas nesta Leio partido que, até 3 de outubra de 1993, tenha obtido jun too Tribunal Superior Eleitoral, registro definitiva 4 pry visdrio, desde que, neste ultimo caso, conte com, pelo menos, lum representante titular na Camara dos Deputados, na data da publicagao desta Lei $ 1° 86 poderd registrar eandidato proprio aeleigto para Presidente ¢ Vice Presidente da Republica Io partido que tenha obtido, pelo menos, cinco por ‘cento dos votos apurados na eleigdo de 1990 para a Camara dos Deputados, nao computados 03 brancos e 08 nulos, dis. tribuidos em, pelo menos, um tergo dos Bstados; ou 10 partido que conte, na date da publieaeao desta Lei, com representantes titulares na Cémara dos Deputados fem nimero equivalente a, no minimo, tres por eento da corn pposieao da Casa, desprezada a fragdo resultante desse per entual; ou III ~ coligasao integrada por, pelo menos, um partido (que preencha condigdo prevista em um dos incisos anterto. "#8, ow por partidos que, somador, atendam de mesmias con. digoes, $ 2° 86 poderd registrar eandidatos « Senador, Gover nador e Vice Governader: To partido que tenha atendido a uma das condigées Indicadas nos ineisos I IT do parégrafo anterior; ow 1 —o partido que, organisado na cireunserisdo, tenha obtido na eleigdo de 1990 para « respectiva Assembiéia ou Camara Legistativa trés por conto dos votos apurados, exclu: dos os brancos e nulos; ow III ~ coligagao integrada por, pelo menos, um partido que preencha wma das condigdes previstas nor incisos Ie IT deste pardgrafo, ou por partidos que, somados, atendam as Imesmas condigies, § 9°Até cinco dias a contar da date da publicasio desta Lei, a Presidéncia da Camara des Deputados informara a0 Tribunal Superior Eleitoral o numero de Deputados Fede vais integrantes de cada bancada partidéria naquela data. $4° Até 31 de dezembro de 1998, o Tribunal Superior Eleitoral divulgaré a relagao dos partidos aptos a registrar ermanduicn Cnstitucionale Direas Fundamentais 261 candidatos préprios as eleigdes para Presidente e Viee-Presi dente da Republica, eainda, dagueles que, em cada Bstado ¢ no Distrito Federal, poderdo registrar candidatos para Se rnador, Governador e Vice Governador”. 0 Tribunal acabou por declarar a inconstitucionalidade de todos os paragrafos e incisos do art. 5° da referida Lei # intoressante notar que, menos do que na idéia de uma li bordade de organizagao partidaria ilimitada e ilimitavel,o funda- mento central da tese da inconstitucionalidade parece residirexa- tamente na falta de razoabilidade do critério fixado pelo legisla dor para restringir a atividade dos pequenos partidos. [Nesse sentido, afigura-se digno de registro voto proferido pelo eminente Ministro Moreira Alves na decisio sobre o defer mento da medida eautelar “(.) Depois de todos os votes que foram proferidos, 0 que se verifica é que as posigées divergem em virtude de a Constituigdo, que foi tao pormenorizada muitas vezes em as suntos de menor relevancia, em se tratando de partidos poll: Hoos fo estritamente gencrica, adotando prineipios gerais. O problema que surge, em face desses prineipios gerais, princi palmente em face do principio de que a criagao de partidos politicos & livre, é saber se pode haver ou ndo limitagao @ ‘atuagdo dos partidos no tocante @ apresentacdo de candida tos para cargos eletivos. B certo que essa lei nao restringe totalmente, porque admite que partidos que ndo se engua ddrem nos requisites por ela previstos possam concorrer com ‘candidatos aos mandatos de deputado e vereador. O proble ima, portanto, (..)einge-se a isto: saber se ha a possibilidade deter razonvlmente imiar a atuagao dos partidos, ose ‘sea limitagdo ¢ impossivel, tendo em vista a cireunsidncia dde que a lei ndo poderia, em face dos prineipios gerais da Constituigdo, sobre eles fazer qualquer limitacao quanto & sua atuagso".™ Na decisdo de mérito,oeminente Ministro Moreira Alves veio 4 concretizar a fundamentagao esbogada no julgamento da limi- ‘ar. Vale registrar o seu pronunciamento a propésito: "A meu ver, 0 problema capital que se propde, em face dessa lei, é que ela fore, com relagdo a esses diopositivos que festdo sendo impugnades, 0 principio constitucional do dev 4o processo legal. A Constituicao no sew art. $%, inciso LIV — e aqui trata se de direitos ndo apenas individuais, mas também coletivos € aplica'se, inclusive, as pessoas juridicas —eetabelece que “ninguém sera privado da Iiberdade ou de seus bens sem 9 devido provesso legal” Processo legal, agui, evidentemente, nao €0 processo da lei, sendo a Constituiedo ndo precisaria dizer aquilo que é \dbvio, tendo em vista inclusive o inciso I da art. 5° que diz: ninguém serd obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sendo em virtude de te”. Esse principio constitucional que tem a sua origem his: torica nos Estados Unidos, 1a interpretado no sentido de labarear os easos em que hé falta de rasoabilidade de uma norma. Por isso mesmo jé houve quem dissesse que é win modo dde a Suprema Corte americana ter a possibilidade de certa largueza de medidas para deelarar a inconstituctonalidade de leis que atentem contra a razoabilidade. Ora, esta lei, estes dispositivos que estzo em eausa sto evidentemente dispositivos de excegdo no sentido de dispost tives ad hoe, tendo em vista a cireunstincia de que partem de fatos passados, jé conheeidos pelo legislador quando da slaboragdo da lei, para eriar impedimentos futuros e, por. tanto, para cercear a liberdade desses partidos politicos Ora, Senhor Presidente, em face disso e no preciso es ltender-me mais a esse respeito, porque me basta esse aspect, ddeixo de lado aquele outro problema mais delicado que & o de saber se realmente a Consttuigdo permite undo que a lei esta beleea, para o futuro, restrigbes a esse nosso pluripartidarismo (.J. Fico apenas nesse outro que éo da falta de razoabilidade ddesse principio. Para ser rigorosamente lgico, eu deveria declarar a in ‘onstitucionalidade, também, do caput. Mas 0 caput, « meu ver, apresenta um aspeeto ponderdvel no tocante ao proble ‘ma da razoabilidade, que € justamente o dos partidos sem registro definitivo, pois para eles apresentarem aquilo que & Constituipdo considera que ¢ um elemento de ambita nacionad, i Hermenduin Consitsinal ¢Dietos Fundanentaix embora na realidade ndo seja, mas que pelo menos ¢ o ele Imento de que se vale @ Constituigao com relagdo a mandado de seguranca coletiva e com relagao & agdo direta de incons tituctonalidade,estabsleceu-se 0 mesmo eritero: precise que ‘aja representacdo no Congresso Nacional, qualguer que ela Seja, porque aqui a representacdo & minima, De modo que acompanho, nesse particular, 0 Ministro ‘Sydney Sanches e, agora, também, o Ministro Néri da Silveira, ‘declarando inconetitucionais os pardgrafeseincisos deste art. Portanto, 0 Supremo Tribunal Federal considerou que, ain- dda que fosse legitimo oestabelecimonto de restrigio ao direto dos ‘partidos polities de participar do processo eleitoral, a adogao de critério relacionado com fatos passados para limitar a atuagao futura desses partidos parecia manifestamente inadequada e, por conseguinte, desarrazoada, Essa decisio parece consolidar o desenvolvimento do princt- pio da proporeionalidade como postulado constitueional autono- Imo que tom a sua sede material na disposigio constitucional s0- bre o devido processo legal (art 6 ineiso LIV). ‘Aimportancia da aplicagio desse prinetpio no ambito do con- trole de constitucionalidade vem de ser ressaltada em despacho proferide pelo Ministro Celso de Mello, Tratava-se de pedido de Enapensio de seguranga formulado pela Unido contra decisto de Tribunal Regional Federal que declarou a ilegitimidade de norma regulamentar limitadora da quantidade de eigarros em um mago fu pacote de eigarro. (0 Ministro Celso de Mello houve por bem, inicialmente, des: tacar a improcedéneia do pedido no que tange ao fundamento de Testo & economia, A ordem eA saude publieas, como se pode ler na seguinte passagem da decisto: ‘Cabe referir, neste panto, a procedente observagao feita pela douta Procuradoria-Geral de Republica, eujo parecer, 120 afastar a alegapao de grave ofensa a economia e orden Duiblicas, assim justificow 0 seu pronunciamento (ls. 870) "No mérito, quanto. grave lesdo & economia publica, parece ime que nda assiete razdo & Unigo Federal. Por certo, se uma OF ADIn B55, RTS: 152, pgs. 45568 das finalidades da restrigdo legal no mandado de seguranca ‘questionada ¢ inibir o aumento da comercializacao de cigar os, que se tornaria realidade com a diminuigaa do niimero de cigarres por maco— porque, logicamente, 0 prego por cur. teira seria mais reduzido — forgasa a conclusao de que a mu ddanca assegurada a Philip Morris Brasil SIA pelo acérdao ora impugnado traré ao Pisco uma maior arrecedagao do IPI Relativamente grave lesdo orden puibliea, melhor sor te nao tom a requerente, pois a existincia de dificuldades Imaiores na fisealisagdo de tribute nao ha de ser considerada como obstaculo para-a efetivagao do principio constitueional dda lioreiniciativa. Cumpre ao Estado gparethar-se adequa: damente para a realizado de suas atividades, de forma a satisfazero interesse publico sem eausar prejulzo @ bens ju ridicos constitucionalmente protegidos. Sustenta-se, de outro lado, e desta vee com 0 apoio do Ministério Pablico Federal (fl. 371), que « saiide publica poderia ser afetada pela imediata exeeugao da decisao em enho para mim, no entanto, que 0 acérdaa ora impug- nado ndo agrava, por si 86, 0 efeitos prejudicias que ordi nariamente decorrem da pratica noviva do tabagismo, Na realidade, a redugdo do numero de cigarros em cada embalagem poderia ter o efeito de condicionar o comport ‘mento do fumante,estimulando-o, psieologicamente, a dim rnuir o consumo diario desse produto, Dai a observacdo constante do parecer elaborado pelo ‘eminente Professor CELSO ANTONIO BANDEIRA DE ‘MELLO (fl. 170); “Notoriamente, 0 conteudo do mago ou carteira de ci _garro serve de referencia para o consumo didrio dos fuman {es (todos que fumam bem a sabem) e de alerta para que s¢ ‘mantenham dentre de certo limites. Cumpre psicologicumen tea funsao de delimitar um ponto a nao ser ultrapassado, Nao raro, os que querem melhor eontrotar-se ou dimi nuir o numero de cigarros fumados servem-se de cigarreiras ue preencham com quantidade inferior a vintena, no uf de redirpoulotinamente a quantidade de unidedes por dia srnentution Conatiteioal «Digits Fund Donde, embalagens com quantidade algo inferior vin tena coneorrem na mesma diregao estimativa das campanhas contra o fumo, presumidamente defensivas da saude, wo pas soquea obrigatoriedads da vintena imposta pelo deereto-le ‘enormas a ele subalternas — contradita tal orientagéo.” Cabe destacar, neste ponto, por necessario, que a camer- cializapdo de cigarros, no Brasil, om embalagens com quar tidade inferior @ 20 unidades, nao constitui fato novo, mes: Imo porque —é preciso salientar — a exigdncia de que cada Imago contivesse 20 unidades aplicava se somente as empresas brasileiras (DL n°1.593/76, at. 69, endo ds empresas estran: _geiras, que puderam, até o advento do Deereton¥2.687 198 (art. 272), comercializar seus produtos no terrtario nacional, em ‘embalagens com quantidades inferires a 20 unidades'** Em seguida, o eminente Ministro procurou demonstrar in- compatibidade entre a decisio contida na norma regulamentar 0 principio da proporcionalidade nos termos seguintes: “Impae-se ter presente, finalmente, que o poder-dever que incumbe ao Estado de intervir em atividades consideradas prejudiciais & satide publica encontra limitacdes no préprio texto da Constituigao da Republica, que nao admite e nem tolera a edigdo de atos estatais veiculadores de restripses deavestidas do razoabilidade. Essa, no fundo, simultancamente com os temas da re serva constitucional de lei formal e da liberdade de iniciat va empresarial, radu: @ questGo bisica, cuja diseussco — vineulada ao prineipio do substantive due process of law — Gicha-se em curso no processo mandamental de que se orig hnow 0 acérdao ora questionado. 0s temas suscitados no processo mandamentol assurnem inquestiondvel relevaneia juridico-constitucional, notada- mente a controvérsia que, ma espécie ora em exame, poe em tuidencia o prineipio da proporeionalidade. B corto — como jé precedentemente enfatizel — que, em sede de suspensdo do seguranca, ndo se discute, em prinet io, 0 fundo da controversia mandamental (RT 143/23), TSS 1.920, DY de 141000, tem 524 ermenéati Constitucons« Drei Fundamen No entanto, ndo posso deizar de considerar, na andlise do caso presente, tantoa existineia de um acérdaa concessivo de mandado de eeguranga (remédio constitucional caja tft ‘cdeia ndo deve ser neutralizada por disposigao constante de simples diploma legislativo) quanto a plausibilidade juridi ca da tese exposta pela parte impetrante, especialmente se se considerar a jurisprudéncia constitueional do Supremo Tr. bunal Federal que jé assentou o entendimento de que trans 4gride 0 prinetpio do devido processo legal (CF, art. 5% LIV) — analisado este na perspectiva de sua projegda material (substantive due process of law) — a regra estatal que veicu 1a, em seu conteudo, preseriedo normative qualificada pela rota da irrazoabilidade. Coloca-s em evidineia, neste ponta tama cancernente ao rinefpio da proporcionatidade, que se quaifiea — enquanto co ‘ffeiente de afericdo da razoabilidade dos atosestatais (CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO, "Curso de Direita Admi histrativo’, pégs. 56/57, tens ns. 18/19, ed, 1993, Matheiros; LUCIA VALLE FIGUBIREDO, “Curso de Direito Administratt, 0", pg. 46, item n. 3.3, 2d, 1995, Malheiros) como postul do bisico de cantengdo dos excessos do Poder Public Essa € a razdo pela gual a doutrina, apés destacar @ ‘ampla incidéncia desse postulado sobre a8 multiplos aspee tos em que se desenvolve @ atuapao do Estado — inclusive sobre a atividade estatal de produgao normativa — adverte {que 0 prinetpio da proporcionalidade, esencial d racionali dade do Estado Democratieo de Direito e imprescindivel & tutela mesma das liberdades fundamentais, proibe 0 excesso « veda 0 arbitrio do Poder, extraindo a sua justifieacio dogmética de diversas clausulas consttucionais, notadamen te daquela que veieula, em sua dimensdo substantiva ou ‘material, a garantia do due process of law (RAQUEL DENIZE STUMM, "Principio da Proporcionalidade no Direito Cons titucional Brasileiro”, pags. 159/170, 1995, Livraria do Ad vagado Editora; MANOEL GONCALVES FERREIRA FILHO, “Direitos Humanos Fundamentais”,pdge. 111/112, tem n- 16 1995, Saraiva; PAULO BONAVIDES, “Curso de Direito Cons titucional”, pags. 252/255, item n. 11, 4¥ed., 1993, Malheiros GILMAR FERREIRA MENDES, "Controle de Constituciona dade Aspetos Juridica «Folic, pgs 38764, 190, ermanevien Conatitcinal ¢ Divas Fundamentais 267 Como precedentemente enfatizado, 0 principio da pro: porcionatidade visa a inibir ea neutralizar 0 abuso do Poder Pabdlico no exercieio das fungaes que The sao inerentes, nota ddamente no desempenho da atividade de eardter legislativoe regulamentar. Dentro dessa perspective opostulado em ques: fio, enquanto categoria fundamental de limitagao dos exces Sos emanados do Estado, ctua como verdadeiro parametro de aferigto da propria constitueionalidade material dos atos # interessante destacar, igualmente, a fundamentagao do rineipin da proporcionatidade adotada na decisto sob andlise, lomo we deprecne da seguinte passagem do aludido despacho “A validade das monifestagtes do Bstado, anaisadas es: tas em fancao de eeu conteude intrinseco ~ especialmente magulas hipotees de imposes restitoas inctentes sobre dleterminadoe valores basioos — passa a depend, essencia tment da observe de determindosrequsfos qu press Doom Sado 26a legtinidude don meiosutlzados dos fins Derseguidos pelo egistador, mas tambem a adequagto desses Ieios para conseugdo dor abjetivospretendidos(.)ea neces Sidade desue uiliagdo (1% de tal modo que “Um utc def muti sobre a proporciondidade ou razoabilidade da medida ha de resultar da igorosa ponderagdo entre o significado da Interoengco para o atingdo eon objetivosperseidos pelo fe Iilodor c.)"(GILMAR FERREIRA MENDES, “A proprco Malidade na jurtspradineta do Supremo Tribunal Federal”, In Repertts10B de durisprudéncta,n*23/94, pig. 475) Cumpre enfatizar, neste ponto, que elausula do devi do proce legal ~ objeto de expreseaproslamagto pelo art. 58 Lv. da Constiuigdo, e que tradua um dos fundamentos dogmaticos da principis da proporcionaldade —~ deve ser tnt, na arene deo nota cnet v Seb oanpesta meramente formal, que impoe retrace de ce Miter ritual atuagdo do Poder Publico (procedural due process offs), mas, sbretudo, em sua dimenséo material feubstantive due proces of law, que ates como dciiva ob taeulo @edigao de atos normativos revestidos de contedo trhttvioouirvanedvel A esencla do substentive due process TSS 1.890, DY de 14.4190, m,n 524 208 Hermentutia Constituconl¢ Diets Fundawensaiy of taw reside na necessidade de proteger os direitos © as li berdades das pessoas contra qualquer modalidade de leis. lagao ou de regulamentagio que se revele opressiva ou dest tuida do necessario coeficiente de razoabilidade Isso significa, dentro da perspectiva da extensdo da teo via do desvio de poder ao plano das atividades normativas ddo Estado, que este nao dispde de competéncia para atuar ilimitadamente, de forma imoderada e irresponsdvel, eran do, com o seu comportamento institucional, situagdes norma teas de absoluta distorgao e, até mesmo, de subversao das fins que regem o desempenko da fungao estatal Dat a adverténcia de CAIO TACITO (RDP 100/ 11-1: que, ao relembrar a ligdo pioneira de SANTI ROMANO, de aca que a figura do desvio de poder legislative imp o reco nhecimento de que, mesmo nas hipdteses de seu disericiond: rio exereteio, a atividade normation deve desenvolver-ve em ‘estrita relagao de harmonta como interesse piblice. A juris prudéncia constitucional do Supremo Tribunal Federal, bem por isso, tem censurado a validade juridien de atos extatais, ‘que, desconsiderando as limitacdes que incidem sobre 0 po: dder normativo do Kstedo, veiculam prescrigées que ofendem 9s padrées de razoabilidade e que se revelam destituidas de causa legitima, exteriorizando abusos inaceitaveis¢ institu cionalizando agraves initeis e nocivas aos direitos das pes S008 (RTJ 160/ 140, Rel. Min. CELSO DE MELLO — ADIn. 1.063-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, vg.) De outro lado, o Plendrio do Supremo Tribunal Federal tem prestigiado normas que nao se revelam atbitrarias ou irrazoaveis fm suas preserigbes, em suas determinagies ou em suas limita sees “Anorma estate, que ndoveicula qualquer conteidode irrazoabitidade, ajustase eo principio do devido processo legal, onalisado na perspectiva de sua projedo materiel (Gubstantive due process of ta). Hosa eldusule tuelar, ao inibir oF efeitos prejadiciis decorrentes do abuso de poder legisatve,enfatia a nog tte quca prerogative de lgitar outorgae ao Botade eons tira atribuigo juridicaessencialmente limitada, ainda gue ‘momento de abstrata instauragdo nermativa posea repo sar em jutzo meramente politico ou discricionario do legisla dor." (ADIn 1-407 DE, Kel. Min. CELSO DE MELLO) Conclui-se, portanto, que, se a norma revelar-se tsnada pelo vicio da irrazoabilidade, restara configurado, em tal ‘andmala situagdo, oexcess0 de poder em que incidit 0 Bsta 4do, 0 que compromete a propria funcdo constitucional ine rente @ atividade de posttivagao do Diretto, pois 0 ordena ‘mento juridico ndo pode conviver com atos estatate revest. dos de conteude arbitrario, Sendo assim, tendo presentes as razoes expostas, inde roo pedido de contracautelaformulado pela Unio Federal” ssa docisio demonstra que o principio da proporcionalida- 4de como dimensao especifica do principio do devido processo legal anhou autonomia na jurisprudéncia do Supremo Tribunal Fede- Fal. Como se pode deprecnder das varias passagens da decisio, fau-se uma interessante associagio entre a idéia de irrazoabilidade dda decisio e o principio da proporcionalidade. No despacho, ana lisa-se detidamente a adequacao da medida aos fins propostos, facentuando que, a0 contrario do afirmado, padera haver incre: mento da arrecadagio, inexistindo risco de grave lesdo & econo mia. Nesse passo, a medida seria notoriamente inadequada. Da ‘mesma forma, refuta-se a possbilidade de que a modida adotada pudesse proteger adequadamente a saude publica. A decisao assi- Bala que a fabrieagao de magos com menor quantidade de eigar- ros nao lesa a sade pablica, uma vez que, conforme indica a ex- periéneia eomum, muitos eonsumidores utilizam-se do conteddo {de um mago ou carteira como referdncia ou limite. Ademais, ob servou-se que a comercializagao de cigarros em magos com quan {dade inferior a 20 j4 vinha sendo admitida no Brasil, especial mente para os cigarros fabrieados no estrangeiro, Tambem aqui se rovela claramente um jutzo de adequagio. ‘A decisto demonstra também a necessidade de um exame cuidadoso dos chamados “fats ¢ prognoses legisativos” em sede Judicial. A andlise que se faz sobre a adequagao da medida com objetive de proteger a economia e a sauide publica demonstra a indispensabilidade de uma revisio dos dados empiric e dos prog: résticos adotados ou eatabelecidos pelo érgao responsivel pela edigao do ato.” 5 $8 1890, Dd de. 144.1908, tem ne 24 Consitucionlidade, S80 Paulo, 1908, page 4532. 270 Hermendutien Constiucona eDiets Fundamentaig Ressalte-se que o principio da proporcionalidade vem sendo utilizado na jurisprudéneia do Supremo Tribunal Federal como instrumento para solugao de colisao entre direitos fundamentals, Em uma das decisées sobre a obrigatoriedade de submissdo ay fexame de DNA, em acto de paternidade, anotou o Ministro S pulveda Pertence, verbis: “Cuida-se aqui, como visto, de hipotese atfpica, em que ‘2 processo tem por objeto @ pretensaa de wm tereeiro de ver se eclarado pai da erianca gerada na constaneta do easamen to-do paciente, que assim tom por si a presuncao legal da paternidade e contra quem, por iss, se dirige a agdo. Nao diseuto aqui a questao civil da admissibilidade da demanda. (que, entretanto, ndo parece resistir, que mais ndo sea, «a0 confronto do principio da razoabilidade ou da proporcio- nnalidade — de fundamental importancia para 0 deslinds ‘constitucional dar colisao de direitos fundamentais — ¢ que ‘se pretenda constranger fisicamente 0 pai presumido ao for hecimento de uma prova de reforgo contra a presungaa de que é titular. E de cublinhar que efetivamente se cuidaria de simples ‘prova de reforco de um fato que, de outro modo, se pode com ‘provar. Com efeto. A revolusao, na drea da investigagdo da pa: ternidade, da descoberta do eédigo genético individual, em relagao ao velho cotajo dos tipos sangiitneos dos envolvido std em que o resultado deste, e prestava apenas e eventual ‘mente a exelusao da fliagao questionada, ao paso que 0 DNA leva sabidamente a resultados positivos de indices probabi Usticos tendentes a certeza Segue-se dat a prescindibilidade, em regra, de ordena da eoagdo do paciente ao exame hematoligico, a busca de ex ‘lusao da sua paternidade presumida, quando « evidéncie ppositia da alegada paternidade genética do autor da deman. ‘da pode ser investigada sem a participagao do réu (6 express. 9, alids, que os autos ja contenham laud particular de and lisedo DNA doautor, do menor ede sua mae—v, 4/f. 853)" sou aig HS 780004, Relator Minato SepledaPestene, Lex STP, ps serene Hermendutic ConstiteionaleDiretos Fundamentaie an ‘Tem-se aqui, notoriamente, a utilizagao da proporcionalida: de coma "regra de ponderagdo" entre os direitos em confito, acen- tuando-se a existdncia de outros meios de prova igualmonte id6- ‘neos e menos invasivos ou constrangedores 12.3, PrineSpio da proporcionalidade e direito de propriedade ‘Consoante a firmejurisprudéncia do Bundesverfassungsgericht, 1 definigio do contedido e a imposigio de limitagdes ao direito de propriedade ha de observar o principio da proporcionalidade. Se- {undo esse entendimento,o legislador esta obrigado a conereti Zar um modelo social fundado, de um lado, no reconhecimento da Dropriedade privada e, de outro, no principio da funeao social. E ilustrativa, a propéeito, a decisao na qual a Corte Constitucio- nal deixou assente que, “no émbito da regulaeao da ordem priva: dda, nos termos do art. 14, pardgrafo 28, da Lei Fundamental, deve 6 legislador contemplar, igualmente, os dois elementos que esto numa retagto dialstica — a liberdade constitucionalmente asse urada e 0 prinetpio da fungdo social da propriedade —, eum: rindo-the a tarefa de assegurar uma relagdo equilibrada entre tases dois elementos dentro da ordem juridica”.®” Entende, portanto, o Bundesverfassungsgerickt que a Cons- tituigdo autoriza 0 legislador a concretizar o prinefpio da fungio social, Ele nio deve restringir a liberdade além do estritamente necessério; ndo deve todavia descurar-se também da concretiza (oda fungéo social da propriedade.** Como as novas disposigdes {e indole conformativa-restritiva incidem normalmente sobre si- ttuagées jé constituidas e reguladas, faz-se mister que ologislador leve em conta as estruturas juridicas preexistentes.** 0 Bundesverfassungegerich! considera que o legislador dis- pe de poder de conformagao relativamente amplo na matéria." ‘Nao obstante, 9 Tribunal procurasistematizar a aplieagao do prin~ cipioda proporcionalidade, enunciando as seguintes condigOes que Indo de ser observadas ode dren fundamentai. GE tambien, ina parte HLS os BVeHfGE 32, 1:29, > BVertGE 37, 132 140) 5 PIEROTHSCHLINK, Grundrechte— Stastarecht I, p28. ‘ PIEROTHISCHLINK, Grandrocbe ~ Stastarecht I, ps, 26-22 am ermenéaties Constitucona ¢ Dist Pundamentsis 4a) o legislador deve considerar as peculiaridades do bem ou valor patrimonial, objeto da protecao constitucional, ) o legislador deve considerar 0 significado do bem para o proprietario; ©) 0 legislador deve assegurar uina compensagao finaneeira 120 proprietirio em caso de grave restrigio & propria substancia do direito de propriedade, Embora nao se tenha uma expropria. ‘a0 propriamente dita, a observancia do principio da proporcio. halidade recomenda que se assegure ao propristarie que sofre {raves prejuizos com a implementagao de providéncia legislative ‘uma compensagao financeira; 4) se possivel, dove o legislador atenuar o impacto decorren- te da mudanga de sistemas mediante a utilizagao de disposigoes transitérias (Ubergangaregelungen), evitando as situagdes trau smaticas de dificil superagao (artenfillen)" 3.4. Duplo controle de proporcionatidade e controle de proporeionalidade “in concreta” A Corte constitucional alema entende que as decides toma: das pela Administragdo ou pela Justiga com base na lel eventual ‘mente aprovada pelo Parlamento submete-e, igualmente, a0 con: trole de proporcionalidade. Signifiea dizer que qualquer medida conereta que afete os direitos fundamentas ha de se mostrar com ppativel com o principio da proporcionalidade.*™ Essa solugdo parceeirrepreensivel na maioria dos casos, es pecialmente naqueles que envelvem normas de conformagao ex tromamente aberta (clausulas gerais; formulas mareadamente abstratas)” E que a solugdo ou formula legislativa nao contém ‘uma valoragdo definitiva de todos os aspectos e cireunstincias que compdem cada caso ou hipétese de aplicagao Richter e Schuppert analisam essa questo, com base no cha: mado caso Lebach”, no qual se discutiu a legitimidade de repeti- ‘io de noticias sobre fato delituoso ocorrida j4 ha algum tempo © ue, por isso, ameagava afetar 0 processo de ressovializagio de "BVerGE 8, 7160 21,73 (8 18 PIEROTHUSCHLINK, Grendreshte-Stasterech 1, pigs 220-290. % SCHNEIDER, Zar Verbaltnismiasighete Kent, ct pa. #08 seas, !AKOBS, Muh, Der randbate de Veratsmanighe, Cab. HermendutiesConstitusanaeDirtos Fundamentals ars ‘um dos envolvides no crime, Abstratamente consideradas, as re bras de protegdo da liberdade de informagao e do direito de perso- nalidade nae conteriam qualquer lesto ao prineipio da proporcio hhalidade, Eventual duvida ou controvérsia somente podria sur gir na apliagao “in concreto” das diversas normas."™ No caso, apés analisar a situagio conflitiva, concluiu a Corte ‘que “a repetipao de informagées, ndo mais coberta pelo interesse de Ghualidade, sobre delitos graves ocorides no passado, pode revelar ‘Se inadmissivel se ela coloca em riseo 0 processo de ressociallzario ddo autor do delito"*® Essa distinggo nio passou despercebida ao nosso Supremo ‘Tribunal Federal, quando apreciou pedido liminar contra a Medi- da Proviséria n® 173, de 18 de margo de 1990, que vedava a con ‘essdo de provimentos liminares ou cautelares contra as medidas provisérias eonstantes de Plano *Collor" (MPs a 151, 154, 158, 160, 161, 162, 164, 165, 167 « 168) 0 voto proferido pelo Ministro Sepalveda Pertence, revela perfeitamente a necessidade de um duplo juizo de proporcionali- fade, especialmente em face de normas restritivas abertas ou textremamente genérieas. Apés enfatizar que 0 que chocava na Medida Proviséria n° 175 eram a generalidade e a abstracao, en- tendou Sua Excelancia que estas caracteristicas dificultavam um jue soguro em sede de cautelar na agio direta de inconstitucio nalidade™ ‘Vale transerever expressiva passagem do aludido voto, verbis J es0a generalidade ¢ essa impreciado, quea meu ver, podem vira condenar, no mérito,« valides desta medida pro Ciséria, difieultarn, sobremaneira, agora, esse juizo sobre a Suspensdo liminar dos seus efeitos, nesta agao direta, Para quem, como eu, acentuou que ndo aceita veto pe remptorio, veto @ priori, a toda e qualquer restrigdo que se faca a concessao de liminar, éimpossivel, no cipoal de medi (das provitdrias que ee subtratram ao deferimento de ais cau telores, initio litt, distinguir, em tese es assim poderemos decidir neste processo — até onde as restrigdes sdo razodvels, ‘até onde sdo elas contengdes, ndo ao uso regular, mas ao abu TW RICHTERISCHUPPERT, Cesbook Vrfssungarecht, ng. 20 2 BVerfCE. 95, 202 237. ‘> ADIn 229, Relator para aed: Minato Sepulveda Pertnee, RTS 2m ermentutiea Constituconal eDinitosPundaeataig 40 de poder cautelar, ¢ onde se incia,inversamente, 0 abuso das imtagies ea consequence afronta a jurtsdiga legitima do Poder Judieiario. Pee bod Por isso, (..) depois de longa reflex, a conclusdo a que cheguei, dato venta dos dots magnificosvotosprecedentey ¢ queda solueto adequada ae graves preceupagdes que many tei solidarisando-me ness panto com cs Ldelos manifesta das pelon dois eminentes Pares — ndo esté nd suspenste ‘cautelor da etcdcta, em tes, da medida provisria 0 caso, « meu ver, faz elogiente a extrema fertlidade lesa inet simbiose institucional que a evolucdo const ional brasileira produsiu, gradatisamente, sem um plang preconcebidlo, que acaba, a partrda Bmenda Constitucional 16, a acoplarovelho sistema difuso americano de controle de ansttuclonlidade ao nov sistema curopeu de ontrae dive. tov concentrado a) © que veo, aqui, embora entendendo ni ser de bom aviso, naquela medide de disericionariedade que hd na gra te deciedo a tomar, da suspeneto cautelar, em tee, gue @ Simbioseconstitucional a que me refer, dos dos sistemas de Controle decansttucionaladade de tei, permite ndo detsar ao dleaamparo ninguem que precise de medida liminar em caso ‘onde ~ segundo as premiseas que totes desenvoloer e me tor do que eu desensolveram os Minstros Paulo Beard ¢ Celta de Mello —a vedagao da liminar porque desarrasouds, porque incompattel como art. %, XXXY, porque ofensioa do mba dejuradga do Poder Judean se moste incon titueiona Assim, ereio que a solusdoestaré no manejo do sistema difuso, porque nele,em cada caso conereto, nenhuma medida provisdria pode subrairao juts da cause tm exame da cons Ftucionlidade, inclusive ob opriema da rasoabilidade das restrigoesimpostas ao seu poder eautelar, par, se entender Gdusiva essa restrizdo, se a entender inconsituional, cone. dlera liminar, deteanch de dar aplicagao, no caso coneret, ‘medida proviri, na medida em que, om relagao quel cas, { julgue inonsttacional, porgue abusiva”* 2 ADI 22, Relator para acd: Minis SepslvedsPetence, RTD 132, pg $71 8b Sa - Hermentutia Consituciona eDisitos Fundameatain 276 ‘Tendo em vista a jurispradéncia brasileira, rescalte-se que, nos casos referentes ao exame de DNA, para confirmagao da pa Ternidade, as disposigdes do direito ordinario aplicaveis & espécie (CPC, arts, 392.¢ 130), consideradas abstratamente, pareeem re- vyelarse absolutamente compativeis com o principio da proporcio- nalidade, B interessante notar que, no HC n* 76.060-4, no qual sedis cutis a legitimidade de decisio que obrigava o pai presumido a Submeter-se ao exame de DNA, om ago de paternidade movida por tereeiro, que pretendia ver reconhecido o seu status de pai de ‘im menor, o Ministro Sepulveda Pertence, que manifestara-se no julgamento do HC 71.379 em favor da obrigatoriedade do exame, {endo em vista direite fundamental & propria e real identidade endtica, conduziu o entendimento do Tribunal em favor da con cessio da ordem. A propésito, revela-seilustrativa a seguinte pas- sagem de seu voto Na espécie, por certo, ndo esto presentes as circuns: tancias — que, atinentes ao direito fundamental & propria e real identidade genetiea — me induzem a insistir na ressal a prudent Cuida-se aqui, como visto, de hipdtese atipica, em que 0 processo tem por objeto a pretensdo de um tereeiro de ver-se eclarado pai da ertanca gerada na consténcia do casamen: to do paciente, que assim tem por si a presungao legal da paternidade e contra quem, por isco, se dirige a asao. Nao diseuto aqui a questao civil da admissibilidade da demande, O que, entretanto, ndo parece resistin, que mais nao seja, «0 eonfronta do principio da razoabilidade ou da proporeiona: lidade— de fundamental importdneia para o deslinde const tueional da costo de direitos fundamentais — é que se preten iconstranger ficamenteo pai presume ao fornecimento de tuma prova de refarg contra a presuneao de que é titular’ ‘A manifestagao do eminente Relator deixa claro que a con- formasiio do caso conereto pode-te revelar decisiva para o desfe- ho do processo de ponderagio, THC 76.0604, Relator Minisire Sepalveda Pertnce, ex STF — 231 ig. 204 (30 4. PROIBICAO DE RESTRIGOES CASUISTICAS Outra limitaeao implicita que ha de ser observada diz res. peito & proibigao de leis restritivas de conteldo casuistico ou diseriminatério. Em outros termes, as restrigbes aos direitos indi vviduais devem ser estabelecidas por leis que atendam aos requisi- tos da generalidade e da abstragio, evitando, assim, tanto a vio- lagio do principio da iqualdade material, quanto a possibilidade dde que, através de leis individuais e concretas, o legislador acabe por editar auténticos atos administrativos.* Sobre o significado de principio, vale registrar o magistério de Canotilho: a eet im aaa “As razées materias desta probicaosintetisam-se dase szinte formas (ah as lee particafares ondiiduais« conore tas), de natureza restritea, vlan o principio material de ‘gualdade,diseriminado, deforma arbiréra, quantod impo Sieao de eneargos para ts cdadion em relopde aov outs (0) os les individuats econcretas resrtivasde direitos, ier. dlades egarantios representam a manipulagto da forma da tei pelos orgaesepstaivos oo praticarem um ata administra tive individual econeret sob os vests legs on autores dsc fom a existnci, neste avo de abuso de poder egatatico eis lagao d principio da separacdo dos padres; as lei tn dials coneretas nao conten ina normaticuge des press posts a lintord, express deforma previ ecateulavel por iso, nao gorantem aoe eidadaes nom protest da conf nga nem alternatives de agto e raconaldade deatuagaen*™ Diferentemente das ordens constitucionais alema e portu guesa, a Constituicéo brasileira nao contempla expressamente & proibigdo de lei easutstiea no seu texto, _ Isto nfo significa, todavia, que tal prinefpio nao tena apli cagdo entre nds, Como amplamente admitido na doutrina, tal pria- cipio deriva do postulado material daigualdade, que veda o trate mento discriminatrio ou arbitrario.™" ‘= PIEROTHUSCHLINK, Orondrecte- Stanterecht pg. 70. > CANOTILHO, Digit Conetitacons it, pag 4 GL, sabre oasrunt, CANOTILHO, Direito Coatituconal, cit, pi 14-15, HERZOG. in: Maune-Durg,dentre utrn, Grunagests Kosnentae BAR 1D, Ieaeg Resta evidente, assim, que a elaboragao de normas restriti vvas de cardter casulstio afronta, de plano, 0 principio da isono- FE de observar-s, outrossim, que tal proibigao traduz uma exigéneia do Estado de Direito democratico, que se nao ‘compatibiliza com a pratica de ates diseriminatérios ou arbitrarios [ease sentido, é preciso o magistério de Pontes de Miranda nos seus comentarios a0 art. 183, § 2", da Constituigho de 1967/69: “Nos Estados contemporineos nao democratizados, a se suranga de que as regras juridicas emanam de certa fonte, com a observancia de pressupostos formas, muito serve lt bberdade, sem, contudo, Dastar-the. Ndo é agui o lugar para ‘mostrarmos como se obtém tal asseguracdo completa da li berdade, pela convergéncia de trés eaminkos humanos (de: mocracia, liberdade, igualdade). (..) O-art. 153, $22 contém. fem si um dos exemplos: seo Estado ¢ democratic a propos (Ho, que seacha no art. 153, 82%, é como sedissera “Ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, Sendo em virtude de regra juridica emanada dos represen: tantes do povo {democracia, arts. 27-55), formalmente igual para todos (igualdade, art. 153, § 19." Se nao hé divida de que, também entre nds, revela-se inad- ‘missivel a adocio do leis singulares, individuais ou pessoais com ‘objetivo de restringir direitos, cumpre explicitar as earacteristi- ‘eas dessas leis, Segundo Canotilhor let individual resritivain- fonstitucional ¢ toda lei que: —imponha restrigdes aos direitos iberdades e garantias de ‘uma pessoa ou de varias pessoas determinadas; — imponha restrigdes a uma pessoa ou a um efrculo de pes- soas que, embora nao determinadas, podem ser determinaveis através de conformagdo intrinseca da Iete tendo em conta mo- ‘mento de sua entrada em vigor (0 notavel publicista portugués acentua que o ertério funda ‘mental para a identifieagto de uma lei individual restritiva nao 6 sua formulagao ou o seu enunciado linguistico, mas 0 seu con- teida e respectivos efeitos. Dai reconhecer a possibilidade de leis Vyas PONTHS DE MIRANDA, Contin Const de 967, too 28 Hermenéuticn Contitucional e Deets Fundamonais individuais camufladas, isto 6, leis que, formalmente, contém uma rnormagio geral e abstrata, nias que, materialmente, segundo 0 contetido e efeitos, dirigem’se, efetivamente, a um circulo deter. minado ou determindwvel de pessoas." parece ser outra a orientagio da doutrina tedesea. A téenica de formulagio da lei nio ¢dosisiva para a identificacio dali restriti individual ou casuistca. ecisiva¢ a consequenca ities tatsachliche Wirkung) da lei no momento de sua entrada em vigor = A decisio do Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucio- nalidade da Lei dos Partidos Politicos parece compreender-se tam- ‘bem no contexto dessa proibigto, na medida em que se afirma alt que se cuida, propriamente, de repudiar uma decisdo que limita a participagao dos partido no pleitoeleitoral, mas dese ter como ina. feitavel a adogao de ertérios assentados no passado — em fatos a verifiados econsumados — para defini essa participagio futura 10 met6dica do procedimento juridico- constitucional de restrigdo de direitos" asia Dinstincla| Pinstine equistor da lol ermentuien Constitucinale Direioe Fundamentals 3 Instinel istic Delimitagho do Amblte normative Naturera da proton: ices contrast Iain tas entiades ables ‘Tipo: de qe limits se 1) limites dietamente 1) limites eataeleidor {go expressed limites “imanentee™? Problema: sbservou = Telreserta orate fu requir etabelc Coastiulete para Iidademtorerntnaa te abate scat Questio: fi fete Bde pntcto strove ‘oak intorwengho doe Problema: denonstr rods toca de us lnsemativs« do sito dl torminago des lnite| te lite) estebelet [rotogao do dreito ge pelar nrtna da Constita| on pein Castes [aatise pelae nora ete fatcamente he Tee re. e e Finatidade dos tinite | Pungo: scavée deli been pia Const tes se resins in feio de ont a deen oro da ieitoson bensconsituir|praticn entre direitos © alienicprtegidon bens eonracinaimeste preted ‘CANOTILHO, DieitoConsitcons, cit, pig. 64 HERZ00, i: Manas Dig, dente ste, Grandes, Konner ‘ADIN w 68 — Dd 25:8.95, pg 20,021 . soar CANQTILHO, Dist Canton Tura a Censtiie, Coinbre ‘to de agressho® tra feSser na realidad, de Sioa esttive de de Datimitagto do | _ Resrgho ow ning pod iret a ie Cok ree mega Ginkon st Hines eiatelesae por Int obnrearam o rea ‘ton constweoats das Articulagio do ambito gin ft resting Por fee ae ae entdades po bee eso conntacional oe 230 Hermentutin Constitacionl« Disets Fund 5. A COLISAO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. 5.1. Consideracdes preliminares Fala-se em colisio entre direitos individuais quando se iden. tifiea confito decorrente do exereicio de direitos individuais por diferentes titulares. A eolisao pode decorrer. igualmente, de con Mito entre direitos individuais do titular e bens juridicos da co- ‘munidade.™ Assinale-se que a idéia de conflito ou de colisto de direitos individuals comporta temperamentos, E que nem tudo {ue se pratica no suposto exereicio de determinado direito encon- tra abrigo no seu ambito de protegae. Dessarte, muitas questdes tratadas como relagies conflituo- sas de direitos individuais configuram conflitos aparentes, uma vex que as praticas controvertidas desbordam da protegdo ofere- ida pelo direito fundamental em que se pretende buscar abri- 0A precisa identificagao do ambit de protegao do direito in- fica so detorminada conduta se acha protegida ou nao, O Bundesverfassungsgertcht a afirmou que o dizeito de manifesta ‘ode pensamento nao autoriza o inquiline a coloear propaganda Cloitoral na casa do senborio."® Da mesma forma, parece inad- missivel que a poligamia seja considerada com fandamento na liberdade de religiao ou que a liberdade cientifiea se exerga em detrimento do patriménio alheio ou, ainda, que se pratique um assassinato no paleo em nome da liberdade artistica””" Embora se cogite, nao raras vezes, de uma suposta colisio de direitos, corto que a condata questionada ja se encontra, nes ‘ses casos, fora do ambito de protegao do direito fundamental” Tom-se, pois, auténtica colisao apenas quando uum dircito individual afeta dieetamente o ambito de protegan de outro direi to individual. Em se tratando de direitos submetidos a reserva logal expressa, compete ao legislador tragar os limites adequa- dos, de modo a assegurar o oxercicio pacifico de faculdades even tuaimente conflitantes, = CANOTULHO,Dinito Contin, pgs 64; PIEROTHUSCHLINK, Grundrechte = Staasreht I pags 72 *RUPNER, Wallgng, Grandrshesaie, in: Bundererunsungagerh nd Grunge Ie Ne, ag. 032 EAS, nia Bert 7, 290 (204 > ROFNER, Grundrechakonite, ci ig 400. 2 ROPNER, Grandrechtsonfite, pag 48 S ROPNER, Grandretiskonfine, it, ply #81 Um tipico exemple de colisto de direitos fundamentais ¢ as sinalado por Edilsom Farias: a liberdade artistica, intelectual, e- ‘entfica ou de eomunicacto (CF, art. 8°, IX) pode entrar em coli ‘sio com a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem das pessoas (CF, art. 5#, X, da CF brasileira); ou a liberdade interna ‘de imprensa (art. 38%, 2, da Constituicio portuguesa) que impli ta a iberdade de expressao e criagao dos jornalistas, bem como a Sua intervengdo na orientasao ideologies dos érgios de informa ‘io pode entrar em colisao com o direito de propriedade das en presas jornalistieas.=" 5.2. Tipos de colisto A doutrina cogita de colisto de direitos em sentido estrito ou fem sentido amplo. As colisbes em sentido estrito referem apenas laqueles confitos entre direitos fundamentais. As colisoes em sen- tido amplo envolvem os direitos fundamentais e outros prineipios ‘ou valores que tenham por escopo a protegao de interesses da co munidade2™ [As colisdes de direitos fundamentais em sentido estrito po- dem-se referir a (a) direitos fundamentais idénticos ou 8() diret- tos fundamentais diversos, Em relagdo & coliso de direitos fundamentais idénticos, po- dom ser identificados quatro tipos basieos: a) colisio de direito fundamental enquanto direito liberal de defesa: v.g., a decisio de dois grupos adversos de realizar uma demonstragao na mesma praga publica; »)colisio de direito de defesa de caréter liberal eo ireito de protecio: como exemplo, mencione-se a decisao de atirar no se- ‘guestrador para protoger a vida do refém ou da vitima Ressalte-se que, nessa hipétese, a colisao entre a vida do soquestrador ¢ da Vida revela apenas uma parte de um problema ‘mais complexo (colisio complex). A colisio podria ser solvida ‘com a aceltagao das eondigdes impostas pelo sequestrador. Nao se 2 Gt are o tsunt,PARIA, Bsn Partin Cala edn — ov informing. Porte Alegre: Sergio Fabre tito, 1986, pags fe ' ALEXY, Robert, Kollision und Abwagung ale Grandproblem der eer inn pntesa sm Poncho Cae de Rs Barbs, pode, porém, desconsiderar um terceiro elemento da colisio, que Go dever de protegao em face da comunidade, Dat decorre o dever de atuar para evitar novos atos de violencia. >” ©) colisto do carter negative de um direito com o carter positivo desse mesmo direito: 60 que se verifica com a liberdade Teligiosa, que tanto pressupde a pratica de uma religiso, como g Aireito de nao desenvolver ou participar de qualquer pratica rely siosa. Aqui eabe perguntar, por exemplo, seo Estado pode impor ue se coloquem crucifixos nas salas de aula" A) colisdo entre o aspecto juridico de um direito fundamen. tal eo seu aspectoFatic: tem-se agui um debate que ¢ comum ao direito de igualdade. Se o logislador prevé a concessao de auxiio 408 hipossuficientes, indaga-se sabre a dimensio fatica ou juridi. cea do principio da igualdade.™ Nas colisdes entre direitos fundamentais diversos assume peculiar relevo a colisio entre a liberdade de opinit, de impren ‘se ouliberdade artistica, de um lado, edo direito’t honra, a privac cidade e & intimidade, de outro Finalmente, meneionam-se as colisdes em sentido amplo, que cenvolvem direitos fundamentals e outros valores constitucional- mente relevantes. Assim, 6 comum a colisdo entre o direito de propriedade interesses colotivos associados, vg, autlizagio da ‘gua ou a defesa de um meio ambiente equilibrado. Da mesma forma, néo raro surgem conflitos entre as liberdades individuais| ‘ea seguranca interna enquanto valor constitucional.®® 5.8. Solugdo dos confli 5.8.1. Consideragées preliminares Questio embaragosa refere-se ao direito ou bem que hi de prevalecer no caso de colisdo auténtica. Formulada de forma ex plicita: Quais seriam as possibilidades de solugio em caso de co? flito entre a liberdade de opinigo e de comunicagao ov a liberdade de expressao artistica (GF, art. 5°, IX) eo direta a inviclabilidade 2 ALEXY, Kalsion und Abwagung, cit ag 2 CE ALEXY, Kolnion und Abwagung, stp 4 ALEXY, Kallsion und Abwigung, Ct, pa. ef, também. FARIAS, Cotisso de dren et, page 84 e8 % ALEXY, Kollnon und Abwigung, cit Coliaso da dren gt Bt © ot. 4, tambo FARIAS Hermenduica Constinusonal ¢Dietos Fundamentals 280 dda intimidade, da vida privada, da honra e da imagem (CF, art. 5%, XJ? Ou, seria logitima a recusa de um pai em autorizar que se faga transfusdo de sangue em um filho com base em eonviegao religiosa? E possivel que uma das férmulas alvitradas para a solugio de eventual conflito passe pela tentativa de estabelecimento de ‘uma hierarguia entre direitos individuais.** Embora ndo se possa negar que a unidade da Constituicao no repugna a identificagao de normas de diferentes pesos numa detorminada ordem constitucional, ¢ corto que a firagao de uma rigorosa hierarguia entre diferentes direitos individuais acabaria, por desnaturé-los por completo, desfigurando também a Const thigdo enquanto complexo normativo unitario eharmanico Uma vvaloragae hierdrquiea diferenciada de direitos individuais somente admissivel em casos especialissimos. ‘Assim, afirma-se, no dieito alemio, que o postulado da dig. nidade humana (Grundeatz der Menschenwurde) integra os pri tipios fundamentais da ordem constitucional (tragende Kons fitutionsprinzipien) que balizam todas as demais disposicbes cons titucionais (LF, artigos 1", Te 79, Ill). A garantia de eternidade contida no art. 79, IIT, confere-Ihe posigao especial om face de ‘outros preceitos constitueionais.*° Da mesma forma, tem-se como Inquestionavel que o direito a vida tem precedéncia sobre os de- tals direitos individuais, uma vez que € pressuposto para o exer- cio de outros direitos.” Na tentativa de fixar uma regea goral, consagra Durig a se- iguinte formula: valores relatives as pessoas tom precedéncia sobre Talores de indole material Persongutwert geht vor Sachgutwer0) = ‘Tal como apontado por Rafner, a tentativa de atribuir maior significado aos direitos individuais nao submetidos & restrisao legal expressa em relagio aqueloutros, vinculados ao regime de reserva legal simples ou qualifcada, revela-se absolutamente ina- equada, por nao aprender a natureza especial dos direitos indi TGF a pronésite, von Minch, Ingo i Grudge Vorbemeroiog re 38046 pag SS RUFNER, GrundrechtskooPits, ig. 42 oo RUFNER, Grundreetakookte, pg 452 ROPER, Grandreeakonite a 42 2 DORIG, in: Sumanum fue, Sommn intra, pg 8, epad ROPNER, ‘Orundreceskontite pag 102 204 Hermendutia Conetituconl¢ Ditto Pusdamenty Viduais. A provisdo de expressa restrigdo legal na contém ui Julzo de desvalor de determinado direita, raduzindo tae-somente ‘a idéia de que a sua limitagio é necessaria ¢ evidente para a ‘ompatibilizagao com outros direitos ou valores constitucionalmen terelevantes." ‘Tomando um exemplo do direito alemao, esclarece Ruther (que 0 direito de reunito a eéu aberto ¢ mais importante para o proceso de formagao de opiniao publica do que o direito de rey. nil em salas fechadas. Nao obstante, houve por ber 0 consti: tuinte submeter aquele direito e nao este a0 regime de restricaa legal, contemplando nio o maior significado de um ou de outro, mas sim o potencial de conflituosidade inerente ao primero." Uma das propostas de solugdo doutrinaria recomenda a transferéneia de imitagbes impostas a determinado direit i le insusceptivel de restrigao (Ubertragung von Schranken). Além de nao se mostrar apta para a solugao global do problema, uma ver que nao euida de eventual conflito entre direitos formalmente inguscetiveis de restrieao, essa abordagem acaba por reduzir subs- fancialmente o significado das garantias juridicas especialmente desenvolvidas para determinadas direitos considerados funda ‘Também nao hé do ser accita a tentativa de limitar a priori ‘© ambito de protesio dos direitos individuais nao submetides a restrigies legais, E que, além de retirar 0 significado dogmatico da distingdo entre direitos suscotiveis e insusceptivels de restr so, essa concepgao torna impreciso e indeterminade o ambito de protegao desses direitos." Outros afirmam que a colisao entre direitos individuais ou entre direitos individuais e bens tutelados constitucionalmente atua como uma restriego imanente que legitima a intervengao na ‘esfera do direito nao submotido expressamente a uma limitagdo, ‘liminando-se a possibilidade de conflito com recurso & concor dancia prética (coliséo constitucional como justificativa de uma intervencdo — hollidierendes Verfassungsrecht als Bingrifferecht: fertigung).* Esta orientagao tem a vantagem de ndo impor liai- "SROPNER, Grundrestetonies, ay 452, % RUPNER, Grundsechichefike, pag 492 ‘8 PIEROTHISCHLINK, Grondrecte-~ Stetereht pg 72. ‘9 PIEROTHUSCHLINK, Grundrecte — Statereet Il Be 7 %* PIEROTHISCHLINK, Grandrecte — Statrecht Il, pop 4 Hermentutien Constitusional eDiretos Fundarentais 285 tagao a priori ao Ambito de protect de determinado direito, gindo-se a legitimar, constitucionalmente, eventual restrigio, ‘A interpretagao sistematica atuaria, assim, de forma corretiva, permitindo tanto a justifieagao de novas restrigbes, quanto adeli- itagho do Ambito de protecao de determinado direito.** Esta abordagem também revela aspectos ambiguos, na me- dida om que nao explicita a funeao do principio da reserva legal zo caso de colisio de direitos individuals, deixando em aberto se as restrigoes decorrentes do conflito entre direitos individuais: = mostram-se admissioeis apenas nos direitos nao submeti- dos a restrigdes expressas ou também aos demais direites indivi dduais suscet(veis de restrieao legals — se tais restrigdes podem ser identificadas gpenas pelo le sgislador ou se tambem pela administragao e pelo judieirio® # corto que se, tecnicamente, o constituinte distinguiu os direitos individuais submetidos a reserva legal expressa daque- outros, nao submetidos a esse regime, tal fato decorreu de ter vislumbrado perigo de cols nos primeiros e admitido que tal se 0 verificaria nos ultimos. Isto nao signifiea que, eonstatado 0 conflito, deva a questo permanecer irresolvida, Todavia, nao se hha de utilizar o pretexto de pretensa colisao para limitar direitos insuseetiveis, em principio, de restricio™ Por isso, a limitagao ecorrente de eventual cols entre direitos constitucionais deve ser excepeional. A propria eldusula de imutabilidade de determi- znados prineipios ha de servir de baliza para evitar que, mediante esforgo hermentutico, se reduza, de forma drastica, 0 imbito de protepao de determinados direitos. 5.8.2, A Ponderasto de bons e valores na jurisprudéncia da Corte Constitucional alema A Corte Constitucional alem& reconheceu, expressamente, (que “tendo em vista a unidade da Constituiedo e a defesa da or ddem global de valores por ela pretendida, a eolisdo entre direitos individuais de tercvirce © outros valores jurtdicas de hierarquia ‘ PIEROTHISCHLINK, Grundrechte— Stacareht I, pag. 74 ' PIEROTHISCHLINK, Grandreehe ~ Statereeht I, a 14 ‘© PIEROTHISCHLINK. Grandrechte— Statereeht IL pat 14 a Hermeniutica Constitciona e Distas Fundaentaig constitucional pode legitimar, em casos excepcionais, « imposigag delimitagées a direitos indiiduais nao submetidosexpictiamers te. restigdo legal expressa” Ressalte.so, porém, que o Tribunal nao se limita a proceder ‘ uma simpliffcada ponderagao entre prineipios eonflitantes,atr, buindo precedéncia ao de maior hierarquia ou significado. Ate Porque, como observado, dificilmente logra-se estabelecer uma hnierarquia procisa entre direitos individuais e outros valores cons titucionalmente contemplados.™" Ao revés, no juizo de pondera, ‘0 indispensdvel entre 0s valores em confito, contempla a Corte as circunstncias peculiares de eada caso. Dat afirmar-se, coren. temente, que a solugao desses confitos de se fazer mediante a Utilizagdo do recurso & concordaneia pratica (prabtisehe Konkor danz), de modo que cada um dos valores juridicas em conflito ga nhe realidade,"* Examinemos alguns dos casos de maior repercussio subme- tidos & Corte Constitucional alema. ‘Um dos casos de maior relev para adoutrina €o referente & deci de 26 de mato de 1970 sobre engajamento de soldado no servi militar com armas quando sinda pendente recurse contra 4 lcisto administrativa Sustentavamn ov impetruntes dos recur eo poderiam ser engajadoe no srvigo cum armas enquanto nae deidida, definitivamente,recusa mane porduanta, nos terms do art. 4, ll, da Lei Fundamental “ninguem pode ser obrigado, contra sua consteneta, ao serge nilitar com armas". 0 Teiponal cnaiderow que, exibora nL Fundamental assogurasse odirete de rcusn a prestagho do scr ‘igo militar, por razSes de conselénca, a questdo haveria de ser Aecidida, no caso conereto,levando em coat, tambem, eres cia relativa ao servigo militar obrigatorio™ Reconheceu-se agua cnfigurasao nao de um conto de i= sits india mas do wa cole entre um dirt Fad. mental ea norma eonstituclonal consagradara de servigo militar obrigatorio. L ii Apés acentuar que o conflto entre direito fundamental de reeiros e outros valores constitucionalmente protegides autor Ber 26,249 (20. Ct, sore o stunt, RUPNER, Grundrechtsotite, pg 46 ** Ch wahoo astunte, HESSE Grands des Verner 27 Hermertutin Constitucooal eDiritos Fundamentais os 2ava, excepeionalmente, o estabelecimento de restrigbes a dir tos submetidos expressamente a reserva legal, enfatizou a Corte Constitucional que o conflito somente poderia ser resolvide se se {dentificasse a norma que, para o caso concreto, teria maior signi ficado.* A norma mais fraca deveria ter a sua aplieagao atenta da somente na medida em que isto se mostrasse logieae sistema ticamente indispensavel, preservando-se, de qualquer modo, a sua cesséncia axiolégiea No easo concreto,o juizo de ponderagao haveria de se fazer ‘entre a seguranca da estrutura interna das Forgas Armadas ¢ 0 dircito de recusa do soldado engajado de prestar servigo militar ‘com armas em periodo de paz. O Tribunal concluiu que, tendo em Vista a sofisticagao teenologica das Forgas Armadas, a decisio lnilateral do soldado sobre a nio-prostagao do servigo militar, fenquanto pendente de decisio definitiva sobre a procedéncia ou rio de sua recusa, envolvia grave inseguranea e perigo para uma eventual necessidade de intervengio imediata, Outra haveria de ter a sitvagio no caso de afastamento definitivo do soldado, com 0 acothimento do pedido de recusa, uma ver que, nesse caso, os co- ‘mandos teriam tempo de adaptarem-se & nova realidade "= Ob- ainda, que o escopo maior da eldusula contida no art 4, IIL, da Lei Fundamental, era proteger posigoes de consciéncia, ‘intra o servigo militar com armas, preservando o cidadao de vir ‘ser obrigado a matar alguém. Tal possibilidade nao se colocava, praticamente, em tempos de par, de modo que pareceria razoavel fexigir que o Soldado continuasse a prestar, provisoriamente, 0 rvigo militar com armas até a decisto definitiva sabre a rec. Embora reconhecendo que o processo relative a recusa haveria de ser suficientemente célere, afirmou o tribunal que a exigéncia de Drestagio do servigo militar, em eardter provisério, afetava, tho- somente, posipaes marginais (Randpositisionen) (e lo a parte nuclear ~ Kernbereieh) do direito de recusa,*™ Em outra decisto, de 24 de feverciro de 1971, relativa a pu- ‘blicagao do romance Mephisto, de Klaus Mann, reconheceu-se 0 ‘conflito entre odireito de libordade art ‘onalidade enquanto emanagoes do pri We BvertGE 28,248 (60, 2 BVerfGE 26,243 (260, 52 Ver 28 248 (26 260, BVerfGE 2824922), 288 Hormendtie Consuci na 0 Filho adotivo do falecido ator e diretor de teatro Gustar Grandgen postulou perante a justiea estadual de Hamburg a pre bigao da publieacao do romance Mephisto com © argumento de que se culdava de uma biografia depreciativa e inuriosa da me moria de Grundgen, carieaturado no romance na figura de Hendeik Hofgen. O tribunal estadual de Hamburg julgou improcedente « gio. O romanee foi publicado em setembro de 1963 com uma ad. Verténcia sos letores, assinada por Klaus Mann, afirmande que “todas as pessoas deste livro sto personagens, nao retratos” (“Alle Personen dieses Buchs stellen Typen dar, nicht Portrats”. K.M.). Com fondamento em uma medida liminar deferida pelo Tri- bbunal Superior de Hamburgo, acrescentou-se & publicagio una adverténcia aos leitores na qual se enfatizava que, embora cons. {assem refordncias a pessoas, as personagens foram confurmadas, fundamentalmente, pela "fantasta poctica do autor™ (dichterische Phantashie des Verfaseers).”™ Posteriormente, concede o Tribunal o pedido de proibicao dda pablicagao, tanto com fundamento nos direitos subsistentes de personalidade do falecido teatrélogo, quanto em dircito autono ‘mo do filho adotivo. Como o public dificimente poderia distin kuir entre poesia e realidade, sendo mesmo levado a identificar hha personagem Hofgen a figura de Grundgen, nao havia como deixar de reconhecer 0 contetido injurioso das afirmagoes cont ‘das ne obra O direito de liberdade artistica nao tem precedén- «ia sobre os demais direitos, devendo, por isso, 0 juizo de ponde- ragio entre a liberdade artistica e os direitos de personalidade ser decidido, na espécie, em faver do autor.” © Supremo Tribunal Federal de Justiga (Bundesgerichtshop) rejeltou a revisio interposta sob a alegagao de que 0 direito de liberdade artistica encontra limite imanente (imannente Beare ung) no direito de personalidade assegurado constitucionalmen te." Esses limites sio violados se, a pretoxto de deserever a vida ow a conduta de determinada pessoa, se atribui a ela pratica de tos negatives absolutamente estranhos A sua biografia, sem ave Se possa afirmar, com seguranga, que se cuida, simplesmente, de uma imagem hiperbolica ou satiriea,”” 1 Barf 90,178 378, % BerIGH 90, 178178. 0 Ber 30,179 081). ermendtie Canatitucinal eDirtos Fundamentals 239 A editora-recorrente sustentou na Verfassungsbeschwerde jimpetrada que as decisdee dos Tribunais violavam os artigos 1,2, 1,5, Tel, 14 (direito de propriedade)e 103, I, todos da Lei Fun damental, bem como os postulados da proporcionalidade e da se suranga juridiea Tribunal Constitucional reconheceu que a deserigio da realidade integra 0 ambito de protegio do direito de liberdade artista, isto 6, a chamada arte engajada nao estaria fora da pro- ‘tecio outorgada pelo art. 5, III, da Let Fundamental Por outro ldo, o problema da limitagao do Ambito de protecao nao seria resolvido com a transferencia da reserva legal aplicavel a direito de manifestagie de opiniao (LP, art. 5, 11), uma vez que a liberda- de artistica nao foi concebida, na Lei Fundamental, como aspeeto do direito de manifestagao de opinito.™™ De qualquer sorte, o direito de liberdade artistica nao fora as- segurado de forma ilimitada. A garantia dessa liberdade, como de outras constitucionalmente asseguradas, nio poderia desconsiderar ‘concepeio humana que balizou a Lei Fundamental, isto é, a idéia do homem como personalidade responsével pelo seu proprio destino, ‘que se desenvalve dentro da comunidade social 0 nio-estabelecimento de expressa reserva legal ao direito do liberdade artistica significava que eventuais limitaghes deve- riam decorrer, diretamente, do texto constitucional. Enquanto clemento integrante do sistema de valores dos direitos individu 0 direito de liberdade artistca estava subordinado ao principio dda dignidade humana (LF, art. 1), que, como principio supremo, testabelece as linhas gerais para os demais direitos individuais.*™ ‘Omodelo de homem, pressuposto pelo art, 1, I, da Lei Fundamen- tal, conformaria a garantia constitucional de liberdade artistica, ‘bem como esta seria influenciada, diretamente, pela concepcio axjoligiea contida no art. 1, I, da Lei Fundamental.” [No caso em aprego, eonsiderou-se que os tribunais nao pro- ‘ederam a uma aferigao arbitraria dos intoresses em conflto, mas, ‘a0 reves, cuidaram de avaliar, de forma cuidadosa, os valores, ‘olidentes, contemplando, inclusive, a possbilidade de determ! 2 Bert 90, 179191192) 7 BerGE 90,179 (103) = BVeHfGE 20, 178 409) Ber GE 90, 17898 200 Hermentation Consituconl» Dts Fundames ‘ar uma proibigdo limitada do romance (publicasto com esclare. cimento ebrigatério) Mencione-se também o chamado “caso Lebach”, de 9 de ju- saho 1978, no qual se discutiu problematica concernente a liberda de de imprensa face aos direitos de personalidad, Cuidavase de Pedido de medida liminar formulade perante tribunals ordinarios or um dos envolvidos em grave homicidio —conhetido 0 “assus sinato de soldados de Lebach” — Der Soldatenmord von Lebach — contra a divulgagio de filme, pelo Segundo Canal de Televisao (Zueites Deutsches Fernsehen— ZDF), sob aalegacio de que, aiém, de lesar os seus direitos de personalidade, a divulgagio do filme, ro qual eracitado nominalmente, dficultava a sua ressocializagto, 0 Tribunal estadual de Mainz ¢, posteriormente, 0 Tribunal Si perior de Koblenz nao acolheram o pedido de liminar, entenden- 4o, fundamentalmente, que o envolvimento no crime fee que o impotrante se tornasse uma personalidade da historia recente © que o filme fora eoncebido como um dacumentério destinado apresentar 0 caso som qualquer alteragio.”" Eventual confito entre a liberdade de imprensa, estabeleci- da no art, 5,1, da Lei Fundamental e 08 direitos de personalidade do impetrante, principalmente odireito de ressocializagao, have: ria de ser decidido em favor da divulgagao da materia, que corres: ondia aodireito de informagao sobre matéria de inequivoco inte. esse publica.” 0 recurso constitucional (Verfassungsbeschwerde) foi inter posto sob alegagao de ofensa aos artigos 1, I linvielablidade da Gignidade humana), e 2,1 (direito geral de iberdade), da Lei Fun damental ‘A Corte Constitucional, apés examinar o documentirio ¢ as segurar o direito de manifestagto do Ministério da Justiga, em nome do Governo Federal, do Segundo Canal de Televisity do Governo do Estado da Rengnia do Norte-Vestfalia, a proposito do eventual processo de ressocializagao do impetrante na sua cidade natal, do Conselho Alemao de Imprensa, da Associagao Alema de Eaditores, e ouviu, em audiéncia publiea,especialistas em exect 50 penai, psicologia social e comunieagao, deferiu a medida pos. fulada, determinando a proibicao de divulgarto do filme, ate Ver 80,173 190, 2 BVerGE 35, 202207, °" BVGHOE 35,202 (207208) decisto do processo principal, se dele constasse referéncia expressa ao nome do impetrante.** Resaltou o Tribunal que, ao contrério da expressio literal da eo direito & imagem nao se limitava propria imagem, mas também As representagoes de pessoas com a uilizagao deatores. Considerou, o Tribunal inicialmente, que os valores consti- tucionais em conf lito (iberdade de comunieagao o os direitos de personalidade) configuram elementos essenciais da ordem demo- tritieo-iberal (freiheitlick demokratisehe Ordnung) estabelecida pela Lei Fundamental, de modo que nenhum deles deve ser cons erado, em principio, superior a0 outro. Na impossiblidade de ‘uma eompatibilizagao dos interesses confitantes, tina-se de con- templar qual haveria de ceder lugar, no caso eonereto, para per- mitir uma adequada solugio da eolisto. Em apertada sintese, eoncluiu a Corte Constitucional Para a atuat divulgagao de noticias sobre crimes gra tes temo tnteresse de informasdo da opinido public, em ge tal, precedoncia sobrea protegbo da pereonalidade do agente Geltuase, Todavia, elem de considerar a intangibildade da taferatntimo, tem’se que levar em conta sempre o principio is proporcionalidade, Por iao, nom sempre figura leg. times designate doautorda crime ow a dieulgagao de fotos cu tmogens ou outros elementos que permitam a sua identi aga. "A protested personalidade nao autoriz, portm,quea Televi seocupe, fora do ambito do ntitario sobre atua idede, com a pessoa ¢esfre intima do autor de um crime, inde que soba forma de documentéri. ‘Addvulgagdo posterior de nottias sobre ato em todo caso, iegitimas se te mostrar apta a provocar dance graves Ouaetnae autor, apecument te aifeultara aren tegragdo na sociedade,B de presumir que um programa, que identifica o autor de ato delituosopouco antes da concessdo lesen lioramentocondiconal ou mesmo aps su sltura, meoga serlamenteo seu proceeso de reintegragde social” ™ i BVerfE 95, 202208. Ber 95,202 228. Sm BVerIGE 95,202 (208, on Hormentuien Constitceoal ¢Dinitos Fundam ‘Tal como ressaltado, no processo de ponderagdo nko se at bbui primazia absoluta a um ou a outro principio ou direito, Ay reves, esforca-se o Tribunal para assegurar a aplicacao das nor, mas conflitantes, ainda que, no easo eonereto, uma delas safes atenuaglo, E oque se verficou na decisio acima referida, na qual estou integro o direito de noticiar sobre fatos eriminesos, ainda que submetida a eventuais restrigbes exigidas pela protesao de direito de personslidade.*™ Dos casos mais recentes,talver merega destaque a decisan sobre a obrigatoriedade de colocapao crucifixos em sala de aula Urusifix-Beschluss)™ ea discussao sobre a expressio “Soldaten sind mérder* (soldados sao assassinos) No primeiro caso referido, euidava-se de ago judicial movi da por duas estudantes e seus pais contra disposigao do direito do Estado da Baviera que determinava a colocagto de crucifinos nas salas de aula das escolas publicas, A Corte administrativa eo Tr, bunal Constitucional da Baviera nao reconheceram a existéncia «de qualquer lesao ao direito dos impetrantes. Contra a decisio da Corte administrativa, em sede eautelar,interpés-se vcompetente recurso constitucional (Verfassungebeschwerde) © Primeiro Senado da Corte Constitueional acoliew o recur 0 com base nos seguintes argumentos 1...) Art. 4, da Lei Fundamental, protege a liberda- de religiosa. A decisio em favor ou contra una religido é do individuo endo do Estado. 0 Bstado ndo pode impor a obser waneia de uma religito ou vedar a sua adogdo. Integra a I ‘berdade religiosa ndo s6 a tiberdade deter uma religito, mas também a de viver e de agir segundo uma data conviegdo religiosa (Cf. BuerfGE 22, 98 (106). A liberdade religioea as segura especialmente a partieipagio em eultos gue expres sam uma determinada erenca. Bla assegura também 0 dire to de ndo participar de cultos ou atividades religiowas, Hosa Uberdade abrange os simbotos mediante os quats uma ern. ea seexpressa, Art. 4,1, da Lei Pundamental, rancfere a cada un a possibilidade de decidir sobre os simbolos religivos ‘que pretende cultuar ou recusar*(..)™ CE, a propio, ROFNER, Grundrehtshontits, pg. 49 CC BVertb 92's 2 Of trasergo in: GRIMDI Dieter KIRCHHOP, Paul, Entecheidungen ee Bundenvetusangaperiit, Stadnnauavald 2, eis 100) nae ay Heron Constiosiana ¢ Ditos Fundanseatals 205 Titqutlo rigorovorcrabtesdos no ort. 7 da Et Panda ce er abel eon eer acy ea iirc apogee sont ual underedunddapdts, Sinmun sie 1987, pn 48 (OH etm cf, transerigho ih GRIMBRIRCHECY, Entecheidengen dee Ness contest, aduirocrucifioem ela de oul ose si nifcado, Ele fom um eardter apelatica eapresenta a erenia rprenada co parm tended a ‘ala seem relagao a pessoas, gus, 4m rsto de sua pocea ‘dade, nto tem conviogesfirmese esto a desenvoler sie Capecidade erie a ormagta de seus propre pono dea tay sendo, por isto, faiimentessceies a ftudnc mentale 5. Ease conflito entre diversostitulares de wm direto fundamenta nda submetida & reserva legal express, bes Como entre case dreto outros bens onsitucionatmente pro tegen deve ser resolu cm aptcario do principio dom éordanciapratica, que nao permite se pricilgie uma dos ein econ tm derinento deur marcos “ma competiitistao adeguad (VErOE 28,249 (296 0) 41,28 (3092, 295 (247,990. Easacompattiteando nso impie qu, no cumprimenio do dever eonattucional de legs tarprviton art 7 da Let Fundamental relativo ao xa 1, de o stad renuncior qualquer conideragte de ars ter religion loaf Tomben um estado, queasegur Berdade religious por tam, obriga tune mented religoa«fseica, nao pe car ndferente a one Salts duntlidanocomplee proc hrc tural nas quae se aesenta ttegragho da socedade ¢ das Atais depend o prapri umprinente de suas tras 6."A Corte Constiucional hegou& conlusdo de que 0 legstaor esta nao ext proto de adotar conser eristisnaconformagdo dae esl publica, cinds que ague tee que os pas ou responders pelos alunos dessus inte {es no pretendam que seus ho reebum educgto regio ta, Prestupde-seporim, que ito lord vneulade ton timo indipensie! de lomento imperative ou shrigeninio Into signifcn que a ecole neo pode toneebera bua fare no campo religion filosfin de ums forma missionaria nem Pretender conor carter vincalande& concep rte & ‘Sfrmaao docristianismo referee ao econhecnentode nua Gt. transerigdo in: GRIMM/KIRCILHOF, Hotscheidungen des Bandesverfunungapericis, Studiensuswahl 2 digi 10 pag. 588 159), rican it” ORIMAKIRCHHOB, Eatecheidungen dee perihts,Stuienauswatl pg. 628 O00) anacrigfo in: GRIMM/KIRCHHOP, Enticheidungen dee Bundesverfassungagershts, Stsienauewabl 2, pa 693638 8), Hermentutia Consituciooa e Dietos Fundamentals 205 Importanciaenquanto fetor cultural e de formasao «nao en ante portaor de na determined concepea de verdade Jveriataniame enquanto fator cultural pertence a idea de ‘oteraneia= 7. Acolocato de crucifixos nas sala de aul ultrapas aos limites deoseenendimento, relation &pasibildade de Tioga de clement do ideal critao como expresso de wna ‘tele cultura: Tal como constorad, a crue nto pode ser des Dida da condigae de referencia espcfea da renga erat nem Dode wor reducida cum sal generic de tradigto elturat Peitental. Ela cimbeti o nucleo central dacontsto reli Sect, qu, sob eras formas, we dened no mando sedtenta mea que nto gca de acitagto universal Ao reves, teva concep &recsaa por muitos no exrccio do direto Fundamental previote mart daLet Fundamental. sua ‘eforagdacompulsora nos ccoas publics revels, por 50, ‘neompatioel tom o ort 4,1, da Let Fundamental Essa orientacio fol contestada pelos juizes Seidl e Sollner © pela juiza Haas, em voto divergente, no qual se afirma, funda- renialmente, que o Estado nao esta impedido de conferir a um. fespago relevante, como a escola publica, — no qual a atividade tstatal 6 direite de liberdade se encontram —, configuragio co- frente com as concepgbes e valores dominantes para a maioria tlos pais e alunos, inclusive com a preservacao de simbolos que torreapondem a uma intensa pritiea da populagdo, Segundo o voto, fiivergente, o art. 4, Le Il, da Lei Fundamental, asseguraria 20 {ndividuo um espago para a pritica ativa de conviceto religiosa Se a realizagao de oragies eoletivas, de cardter voluntério, nas ‘escolas pablicas no merecia censura constitueional (BVerfGE 52, 523), também pareceria imperioso, para a manifestagao divergen- te, que se aceitasse a colocagao de erucifixos nas salas de aula" ‘Com essa orientagao estaria o Estado outorgando espago para liberdade reigiosa de indole positiva em um ambito extremamente relevante 1 of. Cf. trascrgdo in: GRIMB/KIRCHHOR, Batechldungen des Bundesverfoeungegenhts, Sshnaurrah 2, pg 020 620. ‘Cf Cr trnneeriga in: ORIMMUKIRCHHOP, Extsheliungen des BondewevtssugageshsStdinnuseab oH @20 610° 0 andere tasenpsre Salienumas 108 0 60 Hermentutic Consitacanal Dititor Fundamentae uta decsto relevant da Core Constitucional alema rete recse a9 chamade caso dos “soldadosassassinos: CSoldefen son imardér no qual alguns integrantes do movimento pacftn apea Sentaram recurso consituional contra a condenayaesrimnans ‘ue lhes foram imposas pela jurisganerdinaia, or torem at sade que soldados sertam assassinos" ou que “woldaov ser Aassassinos em potencia™ Alogavase, fundamentalmente, Que ge decstesjudieiis questionsdas stentavam eontea a iberdade de expresso (LF, art 5,1).0 primeiro Senado da Corte Consituess nal acentuoy gu glcaso da norma peal veltva as crimes contra a hoaraenvolve uma inevitvel ensao entre «provi da honra ea lberdade de expressao, que nav te deka resolver de forma geal eabstrata, sem referencia ao caso conereto™ Ne ope tunidat enftizou-se significado consitt.vo e contitusnte da liberdade de expresso para a ordem liberal e democratica (BVer#GE 7,198 208), Assim, haverta um interesse lgtimo nse apenas quando oatingdo tivesco dado enseo t manifetagae ou sta fosse feta em defen conta ataguos pessoa, mes tambon dando a manifestagao se desse no contexts de uma conroversia Diblica sobre um tema de relevancia politica ou social Airmow-se, porém, que a jurisprudéncia da Cort é havia desenvolvido um elenea de t6picos que forneciaertercs para a Ponderagao concrete iherdade de expressio nfo pode sobropor-se &idéia de dignidade humana, Bore principio, explciado para liberdade atistica(BVerfGE 75, 6), tom tambem integral apifeagio 8 he terdae de exprssao, uma ver que o principle da dgnidade hu: sana enquanto origem de todos os direitos fundamentals nto pode ser objeto de ponderacao com direitos fundamintatssinglarec™ —omesio entendimentoaplica-se as manifestagbs desqua- liteantes, apresentadas sob a forma jana formal, Nesse soso, 9 protec & honra assume relevanciaem face da ibordade de cx Pressio. A Corte conforo,porém, uma dfinigiorestritiva ao com {ito de ertcainjuriosa,entondendo que elt assum essa carte teristia quando declaragdo deixa de enfocar a controvérsia ot 2 Cf. transcrigao in: GRIMM/RIRCHHOF, Entecheldungen des Bandesverionunggerchts, Stadieneuewab 3 pag. 608) “Cf. transerigao in: GHISIWKIRCHHOP, Eneecheidungen des Bundeaverftasungaperihte, Stedonsuawah 3, pag Ob (650) = Ch. tanserigdo in: GRIMM/KIRCHHOP, Entecheidungen det Bundeeverfasunguperihte, Stodenauawal, bag 4 810 iva ¢ passa ater como objetivo central difamagao da pessoa. Porno! no caso de manifestagae de opinido sobre questao essen al e controvertida no ambito da opiniao publia, somente em avosexcepeionais poder canfigurarse a criicainjurioea."* ve a manifestagto no se enquadra como ofensa& dign- dade bumana ou como calnia ou dfamagao, entao haveria de se eensidorat na ponderagao, a inensidade de interven(ao nos bens Janticos aftadoe, Nese caso, na eri elevneia.ofato dea cri AiTse mostrar Justficada ou do ojulzde valor se aigurar “correo {BeentSE 68, 110 (51) Ha de se indager, porem, se a maniesta- Gaose faz no Ambite de dscussao privada, para a defesa de interes {Es prapris, ou em conexao com tm tema rlevante econrovert dono ambito da comunidade. Se a manifestagaocontrovertidacon- ‘Skt numa contribuigio para a farmagao da opinito publica, nto temrse, em conformidade com ajurispraéncia da Core, uma pre- ‘Snglem favor da liberdade de expressto (BVeHIGE 7, 198 (205, Sigh 811 U1). Entendimentediverto havera de ser devidamente ‘astreado,considerando especialmente o significado constitut ‘oda lierdade de expresso para a democraci.™” : "A Corte.analisou detidamente o significado de expresses senéricas reforenter am grupo ou a uma coletividade, tal como Seenificara na hipotese em diecuseno. Admin que, na especie, Ss eaprestbes uilizadas poderiam ser apreendidas deforma dife- fevcada Contre qu, ages cum de ica gengia 2 un po ou eoletvidade, sob una denominago comum,afiguravarse ‘Tne tragar uma inka de separagdo entra protegde dahonraca lca fenomenos socalsou bs nativugies do Estado A propé- Sto cbeervouse que quanto mais expressiva essa coletividade, Totoesgniicativs haveria de sera esto no plano pessoal. Eque Erica a uma eoletvidade nao contempla, as mats das vezes, com Gotan caracecrstiassinglares de inves uma man, {estarae do desvalor em relagao ao caltio e asus fungao socal Fa eritica ao eoletivoestaria molto préxima de uma ertica de fenonieno social, sem apidso para lesar a honra pessoal." TGF tranerige (n ORIMOWKIRCHHOP, Pttcheidungen des Bon esverfesuntogerch Saiienauewahl 2 pag. 864670) ‘ocr tranerigae in: GRIMM/KIRCHHOF, Batschekiungen des Bon esverfasuggerchy Stuensuewabl 2 pag. 864 (070) Gr emer in, GRIBIMICRCHIOR, Eatchitunges de Son envertussungopeii, Stadennurvabl 2, pa. 664 (79) vm. wanacige in: ORIMIUKIRCHHOF, Entacheidungen des Bun deoverfsuagagerchts, Stashenaupwahl 2 pag, 664 (OT? to cr tranerigae in: GRIMMIKIRCHHOF, Batetheldungen des Bun esverfasnngagencs, Stuilenauewabl 2 pag: 860070 208 Hermentutia Consttacona e Dist Fundasnentais A Corte acabou por reconhecer que as afirmagies questions. das pretendiam suscitar uma discussao objetiva sobre um tema de relevo para a opiniao publica, isto 6, se a guerra, o servigo mi- litar obrigatorio ea morte de pessoas a eles associados sf just. ccveis do ponto de vista moral. Nesse caso, subsistiria uma pre- ‘sungao em favor da liberdade de expressio. Caberia, portanto, a0 ‘Tribunal ordindrio ter demonstrado que as manifestagoes concre- tas, — ainda que se considere o contexto em que elas foram for imuladas —, teriam como objetivo central a difamagaa e nae a dis: cussto de um tema relevante para a comunidade.™" A analise dessas decisdes demonstra a complexidade e rele vaneia do processo de ponderaeao na pratica da Corte Constitacio nal. Uma tentativa de sistematizagio da jurisprudéncia mostra que ela se orienta polo estabelecimento de uma “ponderagdo de ‘ens tendo.em vista vcaso concreto"(Guterabwagung im konkroten Fall), isto ¢, de uma ponderagao que leve em conta todas as cir- cunstincias do caso em aprego (Abwagung aller Umstande des Einzelfalles) Para Alexy, a ponderacio realiza-se em trés planes, No pri meiro, ha de se definir a intensidade da intervengao. No segundo, trata-se de saber a importancia dos fundamentos justfieadores da intervengao. No terceiro plano, enti se realiza a ponderacto fem sentido especificoe estrito.™ Alexy enfatiza que 0 postulado 4a proporcionalidade om sentido estrito pode ser formulade come uma “Iei de ponderagao” segundo a qual, “quanto mais intensa se revelar a intervenedo em um dado dirsito fundamental, mats vig nificativos ou relevantes hao de ser 0s fundamentos justficadores dessa intervengao" 5.4. Colisao de direitos na jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal Embora o texto consttucional brasileira ndo tenha privitegia: do especificamente determinado direito, na fixagio das elausulas EIRCHHOP, Botscheidungen des Ce Ber. 90,179 (198), BVerfGE GF, 21 (228. 1 ALERY, Robert, Kolision uad Abragung ls Grundproblem der CGrundreehadopmatit palestraproferds nn Pundagie Catt de Re Barbora, [io de Janeiro: em 101895, trode lee do ater deste etude “m ALERY, Robert, Kolision und Abwagung le Grondproblem der CGrundrechadogistik, jaleteaproferiga an Fosdagic Gano de Rul Bashar, [ode daneirn em 101808 teaduao lve do car deste eto Hermendatia Constitusana eDietesFundarentais 200 pétreas (CF, art, 60, § 48), nao ha davida de que, também entre és, 08 valores vineulados ao principio da dignidade da pessoa hhumana assumem peculiar relevo (CF, art. 1", 1D), ‘Assim, devem ser levados em conta, em eventual juizo de ponderacio, 08 valores que eonstituem inequivoca expressio des- Se principio (inviolabilidade pessoa human, respeito sua inte [gridade fisica e moral, inviolabilidade do direito de imagem e da intimidade) Também entre ngs coloca-se, nilo raras vezes, a diseussio sobre determinados direitos em contraposigao a determinados valores eonstitucionalmente protegidos. [Na discussto sobre a legitimidade das disposigdes regulado- ras do prego de mensalidades escolares, reconheceu 0 Supremo ‘Tribunal Federal que, com objetivo de conciliar os principios da livre iniciativa e da livre concorréneia eos da defesa do consumi- doreda redugio das desigualdades sociais, em conformidade com 0s ditames da justiga social, ‘pode o Estado, por via lesislativa, regular a politica de pregos de bens e servigos, abusivo que ¢ 0 poder economico que visa ao aumento arbitrério dos lueros”.%* ‘Um dos casos mais interessantes da nossa jurisprudéncia rofere-se & chamada “proibigdo da farra do boi”, postulada por fassoviagdo de defesa dos animais em face do Estado de Santa Catarina 0 voto proferido polo Ministro Marco Aurélio parece espelhar claramente 0 conflitoidentifieado entre a protegao e incentivo de priticas culturais (art, 215, § 19) e a defesa dos animais contra pritieas eruéis: “Se, de um lado, como ressaltou o eminente Ministro Maurieio Corrte, a Constituigao Federal revela competir ao Estado garantir todos 0 pleno exarcicio de direitos cult: raise acesso as fontes da cultura nacional, apotando, incen- tivando a valorizagao e a difusao das manifestagdes cultu ais ea Constituipao Federal é wm grande todo —, de ou {ro lado, no Capitulo VI, 20b 0 titulo “Do Meio Ambiente”, inciso Vil do artigo 225, temos wma proibigdo, wm dever atré Butdo ao Bstado: “Art, 226. (0) 7 RE 189 581, Relator Minisiro Marco Avrdio, Lex STF 2393192 (208), Vit proegerafouna «flor, vedadas,na forma da tes as praca qu cloquom em rvs un fannie procoquem aextindode copes ou means ogee Erneta seagSor Presidente, ejustamente aeradade gn con stamoronoa on, coacontecero que seapontavonsfelgeads Sazonal A monifestatoeuteural deve retinal neg doa préticacriel Amide chemada “arta ds borg deve trberensandetita val atnsdoanimal part pace dimentos que estarrecem, somo imos no ha pay depo tia que consign cbr ate procedimento Naa tow cong sar sea pong intermedia, A distorgt cleaner tel ponte {uesomente una medida quvesaculsn arsine ones Prati pode citar 0 que verfeamos neste ano de 1095 Jornal da Globo mostrou um animal ensangiientado e aris doinceindo wna resinsae provorand ftinantsen note se encontave no fnteron Entendo que prio chegou a um pnto eatrair real mente a ncdencea do disponteno inci VI do wre 905 da Consituigto Federal Nao se trata no enor oe ree Iifestatoeultaral que meres o agaelte da Carta Pubiee. Como dias no ince de meu vot, ein de ue Pri caja orueldade¢impar e decor dan erenstencen & pessoas encavidas por paves condendues Bascorena todo custo propria sarifte de animals Na espécic, com base no exame das provas constants dos autos conclu 0 Supremo Tribonal Fader que praia descr: “alvida em Santa Catarina desbordava, por completo dos sates Ae uma tipen manifestaga eleural ™ ‘Un outro caso de relevo na jureprudéncia do Supremo Tri bunal referee submis de ru tm agbo de Investigarte de Paternidade ao exame de DNA. Diante dn reeusa maneciads Acterminow ois que se condursse ou, aba frga se tecere, Flo, com base no at 190 do CPC son gant ™ 199591, Relator: Ministre Maree Auris, Lex STP 280, pa No meso vendo, ot votn den Minaton Rese e Neri Sleia ‘STP, 230, pig Tos oe 200 pags 306511 sani ermentutica Constituional« Diritor Fundamentals so © relator designado para o acérdao, Ministro Rezek, enten- ‘dou inexistir, na espéeie, qualquer violéncia contra os direitos fundamentais do rév. E 0 que se 6, na seqguinte passagem do sew voto: “0 impetrante alega que @ ordem de conducdo expedida contra si afronta 9 artigo 392 do Cadigo de Processo Civil ‘Da sua dtica, o exame ¢ ilegitimo, jd que ninguém pode ser ‘constrangida a submeter-se a prova perieial contra sua von tade, Ocorre que a lei, conquanto ndo autorize diretamente o texume heratoldgico, como qualquer outro exame, égeral. Tem 9 magistrado @ faculdade de determinar as provas que jul: (par necessdrias & perfeita instruedo do processo, podendo a parte, por igual, propor 4 realizado de todas aquelas em di: Feito permitidas, tal como fez 0 paciente em sua contestacao (fis. 37) E 0 que dis 0 artigo 130 do CPC, complementado pelo artigo 332, que inelui “todos os meios moralmente legiti- mos, ainda que nao especifieados neste eddigo”. E é contun- dente a relagao de pertinéncia entre a prova pretendida eo ‘objeto da agdo, onde se diseute o tema da paternidade. Lembra o impetrante que ndo existe lei que o obrigue a realizar o exame. Haveria assim, afronta o artigo 5 Il da CF. Chega a afirmar que sua reeusa pode ser interprétada, conforme dispde 0 artigo 343, § 2 do CPC, como uma confis: ‘do (fs. 6). Mas ndo me parece, ante a ordem jurtdica da repdblica neste final de século, que isso frustre a legitima ontade do juizo de apurar a verdade real. A Lei n* 8.069190 veda qualquer restrigao ao reconhecimento do estado de filiagao, e¢ certo que a recusa signifieard uma restriggo a fal reconhecimento, O eacrificio imposto a integridade fisiea do paciente ¢ ristvel quando confrontado com o interesse do Investigante, bem assim com a eerteza que a prova pericial pode proporcionar a decisao do magistrado. Um ultimo dispositive constitucional pertinente que 0 investigado diz ter sido objeto de afronta é0 que tutela a in timidade, no ineiso X do art. 5. A propésito, observow o pare: ter do Ministerio Publica: “a ofirmagao, ou ndo, do vineulo familiar nao se pode opor ao direito ao proprio recato. As Sima dita intinidade de um ndo pode escud-lo a pretensdo {do outro de t-lo coma gerado pelo primeiro”, e mais, a Cons Ltuigao impde como dever da familia, da sociedade e do Es: soa Hermenéutica Contains! « Divitas Fundamentis tado assegurar & crianca 0 direito & dignidade, ao respeito, além de colocd-ta a salvo de toda forma de negligéncia. Como bem ponderow o parquet federal, no desfecho de sua man festagao, “nao ha forma mats grave de negligencia para com luma pessoa do que deiear de assumir a reeponsabilidade de tla fecundado no ventre materno ." (fl. 208). ‘Todavia, houve por bem a Corte acolher orientagio contri ria, preconizada no vate do Ministro Marco Aurélio, erbis: “Ninguém esté compelido, pela ordem jurtdica, a ‘adentrar a Justira para questionar « respeetiva paternida. de, da mesma forma que ha consequéncias para o ato de vir ‘aguele que é apontado como pai a recusar-se ao exame que objetive o esclarecimento da situagao, B certo que compete tos cidadaos em geral eolaborar com o Judicidrio, ao menos na busca da prevaléncia dos respectivos interesses e que 0 sacrificio — na espécie, uma simples espetadela— nao tao grande assim. Todavia, prineipioe constitucionais obstacul 4am a soluedo dada a recusa. Refiro-me, em primeiro lugar, ‘00 da legalidade, no que ninguém @ obrigado a fazer ou det xarde fazer alguma eoiea sendo em virtude delet, Incxiste le reveladora deamparo. ordem judicial atacada neste habeas corpus — no sentido de o Paciente, Réu na agaa de investiga a0 de paternidade, ser condusido ao laborataria para ae» Uheita do material indispensavel ao exame. Ainda que hou- esse, estaria maculada, considerados os interesses em ues £40 —eminentemente pecsoais ea inegavel earga patrimonial ~ pela inconstitucionalidade. Digo isto porquanto a Carta Politica da Republica — que o Dr. Ulisses Guimaries, er berfeita sintese, apontou como a "Carta Cidada” — consign 4que so invioldvets a intimidade, a vida privada, a honra ed ‘imagem das pessoas — inciso X do ral das garantias const. ‘ucionais (artigo 59. Onde ficam a intangibilidade do corpo Aumano, a dignidade da pessoa, uma vez agasalhada estrizuia forma de proporeionar @ uma das partes, em de ‘manda ctl, a feitura de uma certa prova? O quadro é extra vagante e-em boa hora deu-se a impetrago deste habeas corpus. l irrecusével o dirsito do Pactente de nto ser condi: gann aggie* THATS, Rete para oan Ministre Mare Aur, DY de ermendutin Constituconal «Divito Pundameotai 03 ido, mediante coerg ftsca, a laboratrio. B irrecusivel 0 dircto do Pactente deta permitirque se he retire, das pré prias vela, porgao de sang, por menor que sea, para @ Fealizaydo do exume. A recusa do Pactente ha de ser resolot die ndo'no campo da violeneta sca, da ofensa& dignidade thumanas mas no plano instrumental, reereado ao Jutzo com tonto ou see, oda investigagao de potertdade—a and Tse cabivel ea definigd, sopesadas a provaeoligida ea usa do réu, Assim o ¢ porque a hipsteve no & daquelas em {juec intaresse publica sobrepte-e ao individual, como a das teinagdes obrigatrias em epoca de epidemias, ou mesmo 0 dda busca da preseroagdo da vida humane, naguetesconhect dios casos em que convicgées religioeas arreigadas acabam por condusir 6 perda da racionalidade”>™ Embora a doutrina no se tenha manifestado dirctamente sobre o tema, € dificil saber se a ponderagao levada a efeito no presente caso apreendeu todos os aspectos envolvidos na comple- Xa colisio. O argumento formal relacionado com a presuncio de paternidade— confisefoficta — parece desconsiderar o significa fo do conhecimento real da paternidade para o direito de perso- nalidade da requerente, Nao se pode, com absoluta tranquilida- de, afirmar, como 0 fez 0 Ministro Marco Aurélio, que “a hipotese hngo é daquelas em que 0 interesse publico sobrepoe-se ao indivi- ‘dual, como a das vacinagdes obrigatarias em ¢poca de epidemias, fou mesmo 0 da busca da preservagao da vida humana, naqueles onheeidos casos em que conviogoes religiasas arraigadas acabam por condusir a perda da racionalidade™ A questio voltou a ser agitada em outro habeas corpus. Des ta feita, a impetragao questionava a obrigatoriedade de que o pai presumido te submetesse ao exame om agio de paternidade mo- ‘ida por terceizo, que buscava o reconhecimento da sua condigdo {te pai do menor. [esse passo, 6 interessante o registro da manifestacio do ‘Ministro Sepulveda Pertence, alicergada em fortes subsidios do direito comparado: “0 caso propiciow-mes ocasio de catherinformagées, posto ‘que opressado, sobre o estado da questao no direito comparado. GHG 71.973, Relator pare» acnddo Ministre Marco Aurélie, DU de 04 Hormentutia Constituconle Diet Pundarentais Abstraidas as conotaptes especfeas do problema no pro cesso penal (og, Angel Gil Hernandes, intervencioncs Corporates y Derechos Fundamentates, Madrid, ed. Coles, 1899, Michel Taraffo, Le prove scientifiche nella recente esperinza satunitense Ri Tt Dir. Pro. Civile, 1996. 11 219); Daniela Vigont, Corte Costituzionae, preieve ematico e test del DNA, Riv. Tt Dir Proc. Penal, 1996, 411.099), de reconhecer que, no campo da investgucto de paternidade, hes ardeameios crouse maar rato nie non Tribunal reuniua maior nw © We de aus no “A Franga, a Itdlia ¢ a Bspanka” ~ sinttisa Ranier Frank (L’Bsamen Biologique sous Contrainte dans te Cadre ‘det Btablisoement en Droit Allemand, na Revue internat dr compart, 195, n*4/905, 908) ~"stidentficam em que @ rein de submit seas tne oligo na tom conse Glas sendo na apreciagdo das provas pelo jute do passe eo direito ingles considera que @ recuse a sujeitar-ve onder Judicial que ordena oexame corporal vate por ebstruira bus ‘a da provae deve condusir ncessariamented pera do pro “Bsa diferenga de valoragao de comportamentos seme Uhantes entre os sistemas juridicos de influgneta romenist, dleuma parte, eo sistema juridica inglés, de outra parte, proseegte aquele professor de Friburg —-“eneontra sa ter Adadcirsexplicagto no fato de que « Prange allie « 0 Bs Dpanha obedecom aos printpisconcernntes a estado da et Soa: um julgamento sobre a filiago produ efeitos erga ‘omnes e deve, por essa razdo, terem conta verdade bildgt ft ao passo que na Inglaterra as questesatinentes ao die. {0 da filiagdo sto sempre examinadas enquanto quesioes pre Jiiciais autinomas, inidentes no ambito de proctevor de alimentos ou relatives & sucesedo” Dé conta o autor (ib, pg. 909) de que no mesmo grupo se stuarn, mutatis mutandis, odrvta suigo co austotae A exci mais notvel na Europa ocidental assim, « Alemanha, onde vige, desde a reforma de 1938, @ rare da ‘ubmissae coativa das partes das testemunhas @colheta do sangue, “desde que essa medida sje necessdra eo exe 4a flagdo de ume erionge” Hermencutien Constitesiana ¢Disitos Pundareatais A inovagdo data do auge do nacional socialismo quan: do, por forca da politiea racial do regime totalitario — nota rank (ib. pag. 910) "as pesquises sobre as origens raciais € “genéticas conheceram importancia erescente”, excedente do dominio do direito de infancia (tanto assim, informa, que @ retra da lei processual ctuil fol estendida, em 1943, avs pro Cedimentos udministratives de apuragdo somente de pert hnéncla a wma raga ou a um eld) O interessante, no entanto, segundo atesta o jurista ‘germanico, éque a regra da compulsoriedade do exame, ndo foi estigmatizada, no apds-guerra, como vinculada ao pense: mento nacista; 40 contririo,eubsistiu & democratizagao ¢ até G reforma processual de 1950, justficada como decorréncia do principio inquisitério que domina, no direito alemdo, os procedimentos relativos a fliagdo: finalmente a legitimida: Ueda sistema veio a reforgar-se com a afirmacao pelo Tribu. nal Constitucional Federal, entre os direitos gerats da perso halidade, do "direito ao conhecimento da origem genética” (BoerG 79.256; NSW 1989, 881), do qual extraiu o imperat- vo constitueional da criagdo de uma acdo autOnoma declara: tria da filiagdo genética, ndo sujeita a limitacées da contes tapao da legitimidade presumida; contra 0 que — informa 0 tutor — nao se péde anteporo direito 0 integridade corporal, fem relagdo ao qual, fé na déeada de 50 (BuerG 6,13), a Corte lassentara que manifestamente ndo a agride acotheita de uma equena quantidade de sangue (Frank, (., pdg. 911) Similar, no ponto, ao alemdo é 0 direito norte americano eo dos patses nérdicos (Franke, ob. loc. cis, pdg. 920; Marcelo Stalter, Genetica e processo: la prova del “dna fingerprint” Riv. Trimestr, Dir.e Proc. Civile, Ano XLVI, n° 1 (8.99), pag 189); nos Estados Unidos, informa Stalteri i., pég. 220), 08 ordenamentos estaduais tim adotado a regra: do Uniforme Parentage het, de 1973, Il, a, a teor da qual “the Court may, ‘and upon the request ofa party shall require the child, mother ‘ralleged father to submit to blood tests", sob pena de ‘contempt Of Court” e, pis, de sujeigao compulsoria a0 exame. De minha parte, ndo obstante 0 respeito a maioria for mada no HC 71.313 eo dominio do seu entendimento no di- reito comparado, ainda nao me animo a abandonar @ cor vente minoritaria no sentido —explicito no meu voto vencido rite que nao se pode opor 0 meinimo ou — para usar da ex 208 Hermendutiea Condtitucona eDivitos Fundamentais ressao do eminente Ministro Relator —o ristvelsacrificio a inviolabilidade corporal (decorrente da “simples espetadela, ‘@ que alude 0 voto condutor do em. Ministro Marco Aurélio) —"deminéncia dos interesses constitucionalmente tutelados 4 investigagao da propria paternidade” A digressdo, entretanto — e com as minhas escusas — wale apenas titulo de reserva do eventual ¢ oportuna reexame dda tese do precedente lembrado.*® Embora o eminente Relator manifestasse duvida sobre o re. sultado da ponderasao levada a efeito na primeira decisto, optow também le por considerar que, na expe, nfo we justfcava imposigao. E que o easo estava revestido de particular peculiar’ dade que tornava desproporcional a imposisao do exame preten: did, tal como bem anotada no voto condutor: “Na espécie, por certo, nao estdo presentes as circuns tincias — que, atinentes ao direito fundamental a propria ¢ veal identidade genética — me induzem a insistr na ressal ve prudent, Cuida:se aqui, como visto, de hipotese attpica, em que 0 Processo tem por objeto a pretensda de um terecire de vér-se ‘declarado pai da erianca gerada na constincia do casamen to-do paciente, que assim tom por si a presuncao legal da aternidade e contra quem, por ist, se dirige « agdo. Nao discuto aqui a questdo civil da admissibilidade da demanda, O que, entretanto, ndo parece resistir, que mais nao sea, «0 confronto do principio da razoabilidade ou da proporeto. nnalidade — de fundamental importincia para 0 deslinds ‘onstitucional da colisdo de direitos fundamentals —é que se pretenda constranger fisicamente 0 pai presumido ao for nevimento de uma prova de reforgo contra a presungaa de que é titular. B de sublinhar que efetivamente se cuidaria de simples rova de reforgo de um fato que, de outro modo, se pode com rovar. pan 90 BGI E8. O04. Rear: Minto SeptedaPerteace, Lex SP, 27, Com efeito, Arevolugdo, na drea da investigagio da pa ternidade, da deseoberta do codigo genético individual, em relagdo ao velho cotejo dos tipos sanguineos dos envotvidos, festdiem que o resultado deste, ee prestava apenas ¢ eventual: Imente a exclusdo da filiagdo questionada, ao passo que o DNA leva sabidamente a resultados positivas de indices probabi- Uesticos tendentes 0 certeza ‘Segue-se dat a prescindibilidade, em regro, de ordenada coagdo do paciente ao exame hematoldgico, & busca de exclu saa da sua paternidade presumida, quando a evidencia posi tiva da alegada paternidede genética do autor da demanda pode ser investigada sem a participagao do réu (éexpressivo, ltigs, que os autos jé contenham laudo particular de andlise do DNA do autor, do menor e de sua mde—v. 4/f. 853) Esse 0 quadro, o primeiro e mais alto obstéculo consti tucional & subjugagao do paciente a tornar-se objeto da pro ado DNA nao. certamente« ofensa da cobheita de material, ‘minimamente invasiva, @ sua integridade fisica, mas sim & dfronta a sua dignidade pessoal, que, nas cireunsténcias, & Durticipasdo na pertcia substantivaria” © Fica evidente aqui que, também no direito brasileiro, o prin- cipio da dignidade humana assume relevo impar na decisto do proceso de ponderagao entre as posigies em eonflito. E certo, ‘outrossim, que o Supreme Tribunal Federal esta se utilizar, cons- ‘ientemente, do principio da proporcionalidade como “Iei de pon- deragao", reeitando a interveneao que impde ao atingido um Onus intoleravel e desproporcional, Outra decisio relevante, nesse contexto, fol tomada pelo Supremo Tribunal em sede cautelar. Trata-se do pedido de limi tar formulado pelo Ministério Pablico de Sao Paulo contra as tra- tativas desenvalvidas pelo Governo Federal com objetivo de atri= buir vigéncia antecipada aos tratados internacionais de transfe~ réncia de presos. Alguns deles encontravam-se em greve de fome, por isso, corriam riseo de vida Rovela-se elucidativa a decisio tomada pelo Ministro Seps veda Pertence, no despacho indeferitorio da liminar: (76.0004, Relator: Ministre Sepulveda Perence, Lex STP —297, pg 804 (S08) Hermentutia Constitucionale Dents Fundame Entendo, no obstante, que o deferimento da liminar ros termes em que requrids, em nome do respeltve inte, Tease na interidade da exeeugto pena, tenders a ouster definitivamente ga geste diplomatic om urs, cust ventualment,do tragic sacificio de vidas humanae, gue elas pretendem obviar. : ini Orisco¢ pelo menos reiproc,f eidente a despropor. a0 dos valores a ponderar. sfica Cert, seria imperative arrostor a graves conseténcas dla lininar, vse agurasteinguestiondcl ates concttucts nal do impetrent. [Nao ,entretant, 0 que ocorre 0 tema nao estava em causa na ADIn 1.480, nao poden. doo trecho da ementa do em. Miniiro Celso de Melle no {tual Busca apoio eta tniial — ue, de rest, no dine {utvoco a propsit, ser tomado como decade do Tribunal fcbre a admisnbilidadeon nao co igenta provisaria de tea tes. Fa tese da sue legitimidade constitcional — como o demonstra od J. F. Resek (Dieta dos Pratados, Forense, 1864, pg. 368 sx) ~ alm de sorresponder nossa prétice diplomatia, ainda ndo fas muito retereda, no Aco bre sileio-argentino de cooperogdajudicidrta 218) tempor Bi lasiro dogmatico que, em principio, reputoconstncenia “A linguagem tradicional da Constitigdo brasileira, 0 respeit”~ conclu Rese (ob cit, pig 972) "nto ¢apenan ompativel com a determinosao da vigeneta provisivia toe trates, sendo que ala inde preferenlatmente quando de ao chefe de Estado o poder de pactuar, ‘ad referendum do Congress’ «este ineumbindo de resoloer defiticamente sobre o avengadet Teme impetrante que, no caso, da execu provisria redundacoem conseyaoncla iresrsoie, que sha eeiamen fede uiter, como asinalon oautorcitado,em acordos que ¢ cation , iss ¢orequerente mesmo que— coma eidecia da base real dos seus temores~ junta to pedido um papel que at. but a Subchofia para Aisuntos Jardins a’ Cove Gill de Presdencia da Repibiiea, tor do qual —depats de adn wenden Contuional «Diz Pandamentas 00 tir a viabilidade constitucional de um acordo aditivo de vi incia tempordria dos tratados — sugere afinal, “eomo me ddida de cautela, estabelecer condigdo, na transferéncia dos referidos presos, no sentido de que, no caso de ndo aprovacdo dos tratados por qualquer dos congressos dos paises signata ‘ios, deverdo ser recambiados os presos, pay seguimento do ‘cumprimento das sentengas ditadas pela Justia brasileira’. ‘Assim, ate pelo menos que se conhecam os termos do aditive, € prematuro assentar a irreversibilidade dos seus efeitos. Finalmente, nas circunstancia do caso, soa, data venia, um tanto artificial que, @ possibilidade de o Presidente da Republica precipitar o repatriamento dos condenadosestran {geiras, sem prejuizo do eumprimento da pena em seus paises co que corresponde « wma tendéncia internacional erescen: te —se venha 0 opor a intangibilidade da decisdo judicial condenatoria ¢ de sua execupdo, quando o Chefe do Estado continua titular de poderes radicais e soberanos para, sor ‘mais aquela, extinguir integralmente os efeitos da sentenca, Seja pela graca (Const., art. 84, XII), sj pela expulsao incondicionada (L, 6815/80, art. 67) Na espécie, esta evidente que a ponderagao entre os valores ‘em jogo exeeugio da pena em territério nacional, como decorren~ ‘la de decisto judicial transita em julgado e a vida dos presos), ‘io oferece grandes dificuldades, até porque, tal como o proprio roquerente advertira, as nogociagdes admitiam 0 retorno dos trans- ferldos, caso nao verificeda a aprovagio definitiva dos tratados. Por outro lado, a vigéncia proviséria de tratados tinha pre- cedentes na nossa pritica diplomatica e, a0 contrario do susten- tado pelo requerente, nio fora rejeitada expressamente pelo Su- promo Tribunal Federal Ademais, a tese da intangibilidade da sentenca judicial re velava-se quase ingénua diante da possibilidade admitida pelo ordenamento juridico brasileiro de que o Presidente da Reptbliea tlimine os efeitos da decisio pela graca (CF, art. 84, XII) ou pela ‘expulso incondicionada (Lei a? 6.815/80, at. 67). esse caso, o conflito de direito reduz-se quase a uma coli- stio aparente, uma ver que alguns elementos contrais da situagao Cconflitiva revelaram-se insubsistentes. B interessante notar, po- ao Hermentutin Conetitaconl » Devito Pandang +rém, que o despacho deixa entrever a onganizagio de uma colisio aque teria de ser decidida, ndo se revelassem inconsistentes os fun. damentos da impetragto, No que se refere a tensio entre aliberdade de expressto ede esitica.¢0 direito ahonra a intimidade, existe, no Supreme Tri- bbunal Federal, precedente que reconhece a possibilidade de dif renciagéer, tend em vista as diferentes situagdes desempenia das pelos eventuais envalvides. Assim, admite-so, tal como naj rispradencia de outros paises, que se esabelegam eitrios diver: fos para a aferiga de possivel lesao a honra, tondo em vista a maior ou a menor exposicio publica das pessoas. B 0 que pede depreender da ementa de achrdto proterido no HC-n¥ 18430, “Crime contra a honra e a vida politica. E certo que, ao decidir-se pela militancia politica, 0 homem publica acetta ‘nevitdvel ampliaeaedo que a doutrina italiana castuma cha: ‘mar a zona di iluminabilita, resignando-se a uma maior ex posicao de sua vida ede sua personalidade aos Gomentarios ¢ 4 valoragdo do publico, em particular, dos sews adversdrios ‘mas a tolerdncia com a liberdade da eritica ao homem publ. 0 hé de ser menor, quando, ainda que situado no campo da vida publica do militante politico, olibela do adversarial trapasse a linha dos jutzos desprimorosos para a imputacdo ide fatos mais ou menos concretos, sobretudo se tnvadem ou tangenciam a esfera da eriminalidade: por isso em tese, pode ‘caracterizar delitocontra a honra aassertiva de haver 0 ofes did, ex-Prefeito, deixado o Municipio "com dividas causa ddas por suas faleatruas”.* ‘Ve-se, aqui, que também o Supremo Tribunal Federal define tépicos que hao de balizar o complexo de ponderagio, fixando-se que os homens publicos estao submetidos a uma maior expos de sua vida e de sua personalidade e, por conseguinte, estao obrl aados a tolerareriticas que, para ¢ homem comim, poderiam sig- nificar uma séria lesdo & honra. Tedavia, essa orientagao, segun do 0 Supremo Tribunal Federal, nao outorga ao eritioo um “bill” de indenidade, especialmente quando imputa a prétiea de atos coneretos que fesvalam para o ambito da eriminalidade, "SHC 76.426.6.5P Rl. Min, Sepulveda Pertence,Julgamento; 6390 — 1 Turma Dd eet 9 ermendutia Constiuconal eDiets Fundamentais su Em outro caso, relativo a uma queica-crime movida por depu- tado federal contra um ministro de Estado, por ealdnia, injria e ifamagao, entendeu o Supremo Tribunal que a resposta ofereci- dda contra ataques perpetrados da tribuna parlamentar — e, por- tanto, cobertos pela imunidade — pode ser admitida eomo sim- plese logitima retorsdo. Eo queso é na ementa do acérdao profe- Fido no HC n° 1.247, da relatoria do Ministro Marco Aurélio, verbs: “Crime contra a honra — Blemento subjetivo — 0 doto — Inviolabitidade parlamentar — Retorsao — Alcance. Tra tando-se de hipdtese a revelar pratica inicial coberta pela inviotabitidade parlamentar, sentindo o titular do mandato ofendida com resposta formalizada por homem puiblico na dlefesa da propria honra, imico melo ao aleance para rechocar fleivosias, cumpre ao drgao julgador adotar visdo flexive, Compatibilizando valores de igual envergadura. A dptiea or. todoxa propria aos crimes contra os costumes, segundo a qual fa retorado é peculiar ao crime de injiria, cede a enfogue cal: tcado no prinetpio da proporcionalidade, da razoabilidade, da racdo de ser das coisas, potencializando-se a intengao do “agente, 0 elemento subjetioo proprio do tipo — o dolo — e, mais do que ieso, 0 sovialmente aceitével. Consideracbes € precedente singular ao caso conereto".*™ ‘Também aqui resta evidente oesforco desenvolvide pelo Tr ‘bunal com o prapésite de objetivar ertérios para o processo de pon- deragan que envolva a liberdade de expressio — no caso especifico dle pronunciamento parlamentar —e 9 direito & honra. Tendo em vista o privilégio que goza o parlamentar, houve por bem o tribunal ‘entender come legitima defesa a resposta oferecida por autoridade publica contra os ataques sofridos, legitimando, na espéeie, um Gireito de retorsio nao previsto no ordenamento positive, 6. CONCORRENCIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS Configura-se concorréncia de direitos individuais quando uma determinada situagao ou conduta pode ser subsumida no imbito de protecto de diversos direitos fundamentais. Nesse caso, colo fase o problema de se saber qual das normas fundamentais seria Tnguérit at 1247-5, lator Ministre Maro Audio, ea de 1.4.08 a2 Hermentuticn Constituconl« Dizsits Fundam, aplicavele, par conseguinte, aque tipo de restri¢doestaria ocida, dao cubmetide (coincidéncia ou divergéncia de imitagbes ou res, trigoes) Em se tratando de comportamento abrangido tanto por di reito fundamental especial quanto por direito fundamental geral, como odireito amplo de liberdade, tem-se como regra assente que ‘a protegio ha de ser conferida pelo direito fundamental especial." ‘Assim, as medidas restritivas em relagao a liberdade de rewnio ua inviolabilidade do domiettio aplican-se por forga do disposto ‘no art. 5, incisos XVI e XI, respectivamente, e nfo por forca do prinetpio geral de liberdade (art. 8°, ID, Pode ocorrer que determinada conduta esteja abrangida pelo AAmbito de protepao de dois direitos individuais especiais, Nessa hipétese, pode-se definir pela aplicagdo daquele que abarque earacteristicas adicionais da conduta, revelando uma es pecialidade intrinseca entre eles. E 0 quo pode ocorrer,v.g., entre Aliberdade de comunicacio (art. 5°, IX)e a liberdade de exercicio profissional de um redator de jornal. Assim, se se pretende regu- lar 0 direito profissional do jornalista, no ambito de uma lei de imprensa, deve olegislador ater-se nao apenas ao dispositive que protege a liberdade profissional, mas também e, sobretudo, aque- le que trata especificamente da liberdade de imprensa. O mesmo jutzo ha de se aplicar aos artistas ou aos cientistas."" Portanto, nesses casos de auténtiea eoneorréncia entre di reitos fundamentais, tem-se uma dupla vineulagto do legislador, que deve observar as disposigies da norma fundamental “mais forte” (suscetivel de restrigao menos incisiva).™ Finalmente, se se verifiea que determinada conduta coloca- se ao abrigo do ambito de protegao de direitos individuais diver: 50s, sem que haja relagao de expecialidade entre eles (concorrén- cia ideal), entao ha de se fazer a protegto com base nas duas ga antias. Se se trata de direitos individuais de limites diversos, eventual restrigao somente podera ser considerada legitima s¢ ‘ompativel com odireito que outorga protego mais abrangente.” Zr PIBROTWISCHLANK, Grundreche = Stanarcht I, pig 7 0 RUFNER, Grundrechtskonfikte pi. 477. 2 ROPNER, Grandrectakonfite, pag. 77 ermenéuticnConstituanal eDiets Fondamentais S13 ‘Assim, uma procissao a e6u aberto esta protegida tanto pela li- bberdade de erenga e culto (CF, art. 58, VI), quanto pela liberdade de reuniao (CF, art. 8%, XVD, Da mesma forma, areferéneia a uma diseiplina goral do tra- bbalho nao justifica uma intervengao em outros direitos fundame: tais eoneorrentes. Assim, a proibicio do trabalho aos domingos ha de excluir, por exemplo, os emprogados das igrejas, com base no principio assegurador da liberdade religiosa."= SF ROPNER, Grundrechlskonfike, pig. 477 APENDICE I Exame da Constitucionalidade da Lei Restritiva de Direito (Quadro adaptado com base no modelo desenvolvide por Pierothy ‘Schlink (Grundreehte — Staatsrecht Hl, 1998, pags. 77-78) IA conduta regulada pela lei est contemplada no ambito de protegao de determinado direito fundamental? I —A dlsciplina contida na lei configura uma intervengio zo ambito de protecao do direito fundamental? HII — Essa intervened justfica-se do prisma constitucional? 1. Observaram-se, na elaboracio da lei, as normas bisi ‘eas sabre a competéncia legislativa e sobre o pro ‘ess lexislativo? 2.) nos direitos individuais submetidos a restrigto le ‘gal qualificada: a let satisfaz os requisitos especiais previstos na Constituigas? ») nos direitos submetidos & restrigdo legal simples a lei afeta outros direitos individuais ou valores constitucionais? ©) nos direitos individuais ndo submetidos & restri- (G0 logal expressa:identifica-se confit ou colisto de direitos ou entre direito ¢ valor constitucional (que possa legtimar oestabelecimenta de restrigaa? 43. A restrigho atende ao principio da “resorva do parla mento"? 4, A restrigho atende ao prine(pio da proporcionalidade? 4.3. A restrigao ¢ adequada? 4.2. A restrigto 6 necesséria? Existiriam meios me- nos gravosos? 4.8. A restrigdo 6 proporcional em sentido estrito? Hermentuticn Constitveloal« Desitn Fundasientais 6. O mule esencia do direito fandamental i presen 6. Alei 6 suficientomente genériea ou afigura-se aplicd- vel apenas a determinado caso (lei easuistica)? A lei restritiva 6 suficentomente clara e determina- 4a, permitindo que o eventual atingido identsfique « sitaglo juridicae as eonsequencias que dela decor 8. A lei satisfaz outras normas de Direito Constitucio nal, inclusive aquelas relativas aos direitos fundamen tis de tereeiros? APENDICE It ‘Teste de constitucionalidade de uma medida conereta do Poder Executivo ou do Poder Judiciario Quadro adaptado com base no modelo desenvolvido por Pieroth/Schlink (Grundrechte — Staatsrecht Il, 1988, pag. 78). 1— A conduta afotada pela medida enquadra-se no ambito de protege de algum direito fundamental? A medida configura uma intervenes no ambito de pro- tesa do direito fundamental? IIT — A medida pode ser justifieada com base na Consttui ao? 1, Existe um fundamento legal compativel com a Cons tituigao para a medida? -onstitucional? 2. A medida, ela propria, a) Ela apica a lei em conformidade com a Constituigio? b) Ela é proporcional? ©) Ela se revela clara e determinada para o atingido? BIBLIOGRAFIA ALEXY, Robert, Kollision und Abwagung als Grundproblem der Grundrechtsdogmatth, palestra proferida no Rio de Janeiro 10 de dezembro de 1988, Theorie der Grundrechte, Frankfurt am Main, 1988. ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os Direitos individuais na Constituigdo Portuguesa de 1976, Coimbra, 1987, ANSCHUTZ, Gerhard, Die Verfassung des Deutschon Reichs vom 1, August 1919, 14 edigdo, 1933, BACHOP, Otto, Freiheit des Berufs, in: Die Grundrechte, vol. 3 Berlim, 1958. BATTIS, Ulrich/GUSY, Christoph. Binfthrung n das Staatsrecht, 4" edigho, Heidelberg, 1999, BITTENCOURT, Carlos Alberto Lic. O controle jurisdicional dda constitucionalidade das leis, 2 edigao. Rio de Janciro, 1968. CANARIS, Claus-Wilhelm. 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