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pans 0H o © {eo|ugzaw apepaueplios ep 0 squed @ jelo0s 0 sesuad & vyoseyew 1eyotw iosajjew [aqo1w osayew [24> CoI[oq Op cedeansijsueas, Y fy 1109 war RPOUp aan Por uma ética da estética Os anos passam ¢ este livro fica cada vez mais atual. Neste Brasil do comego do século XXI, atolado em escAndalos de corrupgao e na crise das ulopias da esquerda, Michel Maffesoli aparece como um ordculo que enfrentou os lugares-comuns da modernidade em busca de pistas interpretativas para a compreensio dos fenémenos sociais. A Transfiguragao do Politico & um libelo contra todos 0 tipos de poder, inventério implacdvel dos desca- minhos da libido dominandi, Ensaio libert muncia as estratégias milenares das estru se em beneficio préprio Fora do cartesianismo da relagdo otimisma/ essimismo, Miche! Maffesoli descreve com paixéo 8 caminhos encontrados pelos individuos e pelas massas no cotidiana para resistir a0 horror do poder. Diante da crueldade da dominagao, pintada sem complac8ncia, a genialidade dos pequenos atos que, sem produzir revolugdes, geram contrapoderes ponsaveis pela sobrevivéncia dos exclufdas, os ‘ternos excluidos da histéria, Sao eles que corajo- samente correm dos esquemas perfeitos. 0 sociéloge do cotidiana demonstra como a razdo na modernidade foi transformada em instru mento de controle, expulsando e condenando todas as manifestagies n0-racionais, afetivas, da ordem do indtil, a cultura do sentimento. Meffesoli mostra que o homem, ser simbélico, néo pode ser reduzido a Ngica do uti dimenso m ica, poética, sonhadora. Manifesto A Transfiguragao do Politico A Tribalizagio do Mundo objetivo sera nao ser repetitive. Colocar livros e autores que ainda néo esto mos a preguiga de lado. Como diria 0 filosofo, "escaneio e publico no 4shared; logo existo" Como dizem, alguns autores pesquisam anos, e merecem uma gratificagdo por tal zelo para com o conhecimento. Aqui vai minha gratificagao: MUITO OBRIGADO! Vou ler seu exemplar como forma de gratidéo por seu incrivel trabalho. "Nao tenho ouro nem prata, mas tudo que tenho te dou’: Muito obrigadol!l. A gratificagéc pecuniaria deixe pra depois, visto que os homens para pensar sua existéncia devem estar com as necessidades materiais satisfeitas, vocés nao precisam do dinheiro. Isso é um elemento acessdrio & existéncia! Ao comprar um livro, o autor recebe da editora uma micharia que nao daria nem para sobreviver. Ou seja, baixem, leiam e nao paguem nada! Essa sera sua forma de gralificagao! A Transfiguracao do Politico A Tribalizagao do Mundo Michel Maffesoli Tradugio de Juremir Machado da Silva BZ © faitions Grasset & Fasquele, 1992, © Mecdent, 1987 (Capa: itor Hugo Turuga Projte Grice: FOSFOROGRAFICO/ lode Sbardeloto eV H.Turuza Eatoragdo; Cltde Sbadelto. Revi: GabilaKaca Editor: Luis Gomes Dados interacionais de Ctalgacdo na Fuca Bibi mist Tadas as ttelts desta edigdo reservados & EDITORA MERIDIONAL LTDA. Julbo 2005, Imprsso no Ersil/Pinted in Bail ra respansdvl: Rosemarie Bianchessi dos Santos GRB 10/787 Sumario Adverténcia 1.0 politico e seu duplo : 1.A forga «imaginal» do politico - 23 2. Aaperfeigao» do Uno - 35 3..Os prapriclitios da sociedade - 44 4. A implosio da sociedade programada - 57 IL. A socialidade altemativa 2. Liberdades intersticiais - 78 3. Secessio plebis - 91 IIL A cultura do sentimento 1, Ambiéncia, ambigncia - 105 2. A forga viva do sentimento - 115 3, O supérfluo necessério - 126 TV. O ritmo social ... Y. O «nés» comunitario Abertura Apéndice 65 103 on 133 Isl 205 213, Mas os que controlem olonginguo. assistem sortindo docemente a todas as batalhas, como monges ‘que puseram em seguranga © tesouro do convento. thes resta vigiar. RM Rilke Diério florentino ADVERTENCIA Surpreendev-me muitas vezes que a grande gldria de Balzac fosse de passar por observador; ‘sempre me parecera que 0 seu principal mérito era de visionrio, ¢ visionario apaixonado, Charles Baudelaire Inventa-se um mundo cada vez que se escreve. Trata-se, na realidade, indo ao encontro da etimologia, invenire, de fazer vir a luz do dia 0 que jé existe, vivido amplamente na experiéneia cotidiana, ‘embora os habitos de pensar impegam-nos de vé-lo. Nesse sentido, uum livro nada ensina que ja nfo se saiba, ou que ja ndo se deveria saber. Basta que dé a pensar, sirva de acompanhamento a reflexio, favorega a ruminagdo face ao mundo misterioso circundante. Efe~ tivamente, éfatigante querer sempre dizer a verdade sobre uma épo- cca, Por que nio enumerar, de preferéneia, os enigmas postos e assim fazer um livro em congruéncia com ela? Em alguns dos seus traba- Thos, Sigmund Freud destaca «o clemento de ctivida que comportam» suas andlises, E precisa: «Fiz disso a minha di momento em que 0 frivolo encontra acolhida nada despre: no seja intl ser essa dangarina da teoria sabendo pres De resto, numerosos so os que ndo hesitam mais em analisar asociedade do ponto de vista estético, acentuando as emogdes comuns im, no prolongamento de um livro anterior, € tasche, direi que esta obra prossegue, para a pés- modemidade, 0 mesmo objetive artista, mas a arte na da vida».? Tal plique, 20 menos dar conta de uma vi paraa busca da Verdade, no que est universal; els toma consciéncia do cidade de verdades parciais e sucess a adapta, Ha relativismo no ar, Convém a partir dai, na ordem do 3 igualmente o relativismo em pratica c isso nos iveis do termo: o que tempera o dogmatismo, seja qual for, eo que pe em relacio, por vezes conflitual, essas verdades parciais, Excesso vir-nos, a0 cont luz.escureee. Esse aforismo pascaliano pode ser- io, para aceitar o claro-escuro induzido pela am- bigneia emocional eas contradigdes que Ihe sio inerentes. Esse clima ‘emocional ¢ particularmente perceptivel na implosio, em cadeia, que atinge o Estado-nago ¢ 0s grandes impérios ideolbgicos. Uns e ‘outros esto cedendo lugar a confederagdes que, de maneira mais eve, cimentam comunidades, de proporgdes diversas, repousando ‘mais sobre um sentimento de vinculacdo que sobre a moderna no- ¢¢80 de contrato social, a0 qual se atrela uma conotagdio racional ou voluntéria. Darmesma forma, 0 individuo no é mais uma entidade estavel provida de identidade intangivel ecapaz de fazer sua propria historia, antes de sc associar com outros individuos, auténomos, para fazer Histéria do mundo, Movido por uma pulsdo gregitia, 6, também, 0 protagonista de uma ambiéncia afetual” que 0 faz aderir, participar ‘magicamente desses pequenos conjuntos escorregadios que propus chamar de iribos (O Tempo das tribos, 1988). Numerosos 520 0s indicios que, nacional ou intemacionalmen- te, exprimem esse sentimento de vinculago comunitéria ou tribal. Regides, cidades, departamentos, levantam-se contra 0 centralismo jacobino, em torno de um heréi epGnimo: prefeito, notivel local, estrela esportiva ou personalidade de renome afirmam um imaginario que 6s constitu como tal. O mesmo vale nos quatro cantos do mundo, a partir de uma reivindicasdo étaica, de uma especificidade cultural 0 afetual, implicam para rednico dos fendmenos ou ‘Go, no € mais possivel pensar nessas pequenas sociedades frag- ‘mentadas com os conceitos de instituigao, de estrutura e de relago entre eles, conceitos elaborados em trés séculos de modernidade homogeneizadors, Talvez seja até mesmo necessétio pensar fora da Histéria, pois o que tende a predominar € da ordem das pequenas histérias locais, dos acontecimentos, do que acontece, de mancira ‘mais ou menos efervescente, em estado puro. Certamente ndo se pode silenciar sobre o que provoca inc6- ‘modo ¢ incompreensdo. Alguns tratam disso com sucesso e, com freqiéncia, universitérios, jomalistas, politicos preferem dissertar ou tagarclar, de acordo com as cireunstincias, sobre assuntos preesta- belecidos com idéias prontas. A realidade empirica, porém, conti- ua ali, incontornével,¢ deixa estupefatos os que no souberam mudar a tempo de idéias. Quanto aos outros, to préximos da farsa e da hipocrisia, empregam-se, com constincia, a deturpar 0 sentido do acontecimento para fazé-lo entrar, pela forea, no prét-d-porter de uma verdade dogmitica elaborada para a circunsténcia. E, contudo, agora, trata-se de um segredo de polichinelo, 0 rei esti nu: passou o tempo da politica. No miximo, ela pode seduzir ‘com exibigdes @ americana ou ser objeto de derrisio em espetdicu- los de variedades. A adistingdo entre inteligéncia e politica», tio cara.a Paul ingiu um ponto sem retorno. E essa separagiio que se precisa inteligentemente pensar. Nao basta mais, em reali- dade, incriminar os jogos politicos, as receitas elcitorais e outras «anaracutaiag» do mesmo saco. Pois se a politica torna-se objeto de desconfianga geral, 0 politico nao parcce mais capacitado para enfrentar os desafios do momento, Se, no século XIX, num eco a0 «Deus esté morto» (Nietzsche), respondia a forma substitutiva da atualmente 0 Bssas duas entidades perderam a forga de atragio, pois nfo dé mais resultado 0 adiamento do gozo: a espera mossifinica do paraiso celeste ou a ago ‘ou outras formas de sociedades faturas reformadas, revolu ‘ou mudadas. Somente o presente vivido, aqui e agora, com outros, importa 15 Presente, um pouco pugo, que se exprime a eada dia através de uma religiosi nas sociedades, das das que ostentam 0 continuzm ainda ensar que, além ou aquém das diversas $8es politicas, hé, no fundamento de todo merado de emogdes ou de sentimentos partithado retomaruma Lemiética clissica: a Einfthlung, a empatia, a fusdo, opondo-se & abstrago da ordem mecdnica, Ainda que seja una banalidade dizé- é lembrar que 0 direto se constitui a partir dos costa, fonada ¢ sem ‘firma com forea a vinculagdo comunitéraeaireprimavel inémica de um nés que funde. Busco desezever esse processo nas piginas seguintes, fazendo, antes de tudo, uma genezlogia do pol ‘italy que Ihe serve de suporte ( 1) 6, de qualquer modo, Ho, um recurso utlizvel quando o instituidatende, em de, ana, Lentliccer-se, Assim, na marcha em espiral das historias ins manas, quando ional tende a triunfar, ea sociedade te-se A sua implosto (capitulo 1, 23.4), causa eefeite de um: Cotidiana, © que proponho designar Como a procura das liberdades interstici ‘io plebis de consequéacias incalculd E-apastirdisso que tent analisaraemergénei do sentimento (capitulo 11) na qual predominan » Cidade das emogdes comuns e a necesséria abundin que parece: “Otbreender a transfiguracao do politico em esbogo sob os nossos 16 jo que me liga, ou separa, atureza normativo, tendendo sempre para o es nao pode compreender, a fortis to Nao é mais dec '0 que devem sera sociedade 0 individuo que se consegue entendé-los ou conhecer, em realidade, ‘suds transformasdes. De onde o despertar brutal de alguns fendmenos, st 8 pela afirmacao da identidade étnica, pela semethanca de Familia, as quais est atxelada a classe politica em seu conjunto, : Acontece de, como € freqtiente 0 caso quando se assiste & saturazao de determinada civilizagdo, tal uma contaminasio viral, celerar brutalmente. A episteme do burguesis. epresentages e de modos de organizagz0 im, na totalidade do mundo ocidental l0c0s inteiros. O que dé novo taro, no qual 0 stacatio, & se declina ao infinito a atr a0 outro, do outro, rio, por vezes cacofénico, engendrando sintonias parciais que conseguem, mal ou bem, se ajustar num conjunto fractal pertinente ao cspirito do tempo, Apesar da auséneia de unidade rigida, fechada, id , como a da inst tal ritmo idade flexivel que agrega numa harmonia con- ibos mais di imagem do barroco, estabelecendo uma diferentes, _ziosa, da origem do «corpo» politica (V, 2,3), tudo isso desembocan- do na identificagao estétiea (V, 4), que parece ser # marca da pés- modemidade. A estética, enquanto aisthésie, isto é, vivido emocio- nal comum, parece ser de fato a forma alternativa ou a realizagao acabada da transfigurasao do politico. A guisa de abertura, pode-se assinalar que, mesmo em status nascendi, a \égica societal em implantagio esté agora suficiente- ‘mente plasmada nela mesma, o que permite falar dela. Talvez nfo a explicar, mas ao menos descrever-lhe os contomos ¢ constatar as suas caracteristcas fundamentais. Dito isso, cabe indicar que, em fungio do aspecto nebuloso da constelagdo da qual atitude do observador social deve ser das mais modestas: 86 se pode pro- por um conjunto de hipéteses, esperando que sejam pertinentes ¢ prospectivas. Lembrarei, entretanto, a fim de relativizar meu propé- sito, o que o coloca em relagto e serve-lhe de nuanga, que se € mais pensado por uma época do que se é capaz de pensi-la. E preciso certa empatia com 0 objeto de estudo. Ao mesmo tempo, no pretendo exprimir uma conviogio pessoal, um juizo de valor, mas me conten- tar com uma anilise de fato, traindo o menos possivel 0 tempo. Hi, portanto, na epreciagio a ser feita deste, subjeti ‘Ao fundamenti-la com base num vasto corpo tedrico — sociol6gico, filoséfico, histéria das religides -, ilustrando-a com pesquisas em. andamento ou ja elaboradas, enraizando-a nas constatagées de bom senso fornecidas pela atualidade, pode-se esperar, sem descartar totalmente o risco, que apreciagio ndo seja um simples sonhar acordado. Em todo caso, emprego-me ao longo desta reflexo para {que a subjetividade em obra esieja o mais préximo da «tipicalida- menos indique uma tendéncia importante, Assim, espero participar da elaboragio do que chamarei de «empirismo especulativon, cuja ambigSo consiste na produgdo de uma razo sensivel, capaz de ‘considerar os elementos mais diversos da prética social. Tudo isso exige que se saiba exercitar um pensamento arro- Jado capaz de correr riscos. Mas o interesse do conhecimento me- rece-o, Tal sensibilidade tedrica adapta-se mal as abordagens con- vencionais que, de maneira geral, dominam a producao intelectual, De onde 0 aspecto por vezes insdlito do procedimento e das vias escolhidas aqui Estas podem chocer ou desencorajar. Mas, afinal d= contas, @ mesmo acontece com os fatos que tento descrever. audacia, sacodem as certezas e ndio se dobram aos clichés doy cos de qualquer ordem, Como esses fatos, & preciso saber ser moso, perseverar, andar, caso necesséri histérias humanas nos ensinam que os pensamentos inatuais esto mais aptos a dar conte ¢ a compreender 0 que as teorias estabele- cidas pereebemn com dificuldade. ‘num sistema de verdades proctabeecida Proporei, na mina ética formista, apenas algumas «formasy, isto 6, quadros de andlise tendo por tinica ambigdo fazer a epifania do que é, surge e nfo pretende impor nenhum tipo de dever-ser. Serei el jente quanto 20s princf- das numerosas and- sos discursos bem- lises de circunstancia ¢ aos néo menos intencionados, prefiro ficar nos principi conforme suas luz: slo dos «anistérios» que, como indica 2 etimologia do termo, unem 68 iniciados, protagonistas da vida social. Nesse sentido, de acordo com 0 desafio deste livro, deveremos compreender que em deter- minados momentos, em todos os dominios, politico, intelectual, religioso, catidiano, do instituinte sacode, sem dificuldade, todos os poderes es : - O POLITICO E SEU DUPLO mas se podria dizer que $6 o fizeram para dela extrair arte de reconst 1 A forga «imaginal» do politico As «coisas» eternas, 0 amor, a morte, a sociedade, sofrem as ‘modificagdes mais importantes. O politico pertence & categoria das ‘que perduram em todas as épocas sendo, 30 mesmo tempo, sempre diferentes. Da mesma forma que para essas «coisas otemas», no é certo que possamos analisi-lo com originalidade. Nessa matéria, a brar algumas banalidades bisicas como ponto de apoio sélide para ajudara pensar o aspecto passivel de tomar a politica em nossos dias. Nao se trata de ser itil. Essa preocupacdo nao diz respeito ao erudito. ‘Mas diante de tanta incompreensio, de més interpretagées, de con- tradigdes de todas as ordens, & importante dizer, aos que podem compreender, qual € 0 drama dessa «forma» chamada politico, nem que seja para mostrar suas evolugdes. Pois se trata mesmo de uma forma, pelo que tem de envol- vente ¢ também de necessétio, isto 6,0 mais proximo do ensinamento de Simmel, uma configuracdo anterior as existéncias individuai -mais preciso, que Ihes serve de condigio d como a morte € necessiria vida, dando-I forte, determina a vida social, ou seja, limita-a, constrange-a c per- mite-the existir? Talves isso dade do que La Bost E € verdade que no slo que forga a subm «, conforme a necessi as expressies da su fascinantes. Pode-se dizer quanto 2 isso que ha um efeito de estru- ‘ura ou uma lei natural e inexordvel que incita a dobrar a espinha ea aceitar de alguém ou de alguns a ei: o bem, o verdadeiro,o desejavel, © ocontritio disso tudo, evidentemente. Eis 0 alfa 0 6mega do politico. Ao menos, ¢ isso que @ cons- fitui quando reina absoluto (pois, como mostrarei, nem sempre acon- tece assim). Mas para o imediato, reconhegamos que a coeredo é ‘mesmo a sua marca essencial. Coergo que de resto nem sempre & fisica. Pode-se mesmo afirmar que, com mais freqlncia, é moral ou simbélica. Durkheim vé um problema essencial na investigacio, «eatravés das diversas formas de coergao exterior, dos diferentes ti- pos de autoridade moral correspondentes». Problema essencial, pois para ele & «pressio social» & uma das caracteristicas maiores dos fentmenos sociolégicos.* Existe portanto uma forga, em muitos aspectos imaterial, dei ‘imaginal, que funda o politico, serve-Ihe de garantia e de legitimagaio 0 longo das hist6rias humanas, Depois de Max Weber, apareceram snumerosas andlises sobre 0 tema da «dominago legitima», seja cla carismatica, tradicional ou racional, Trata-se de uma boa tipologia, passivel de resto de ser completada, com a vantagem de destecar a ddimensdo mental do politico, E importante insistir sobre isso, pois se trata de uma dimensio, urpreendente longevi- srvidao voluntéria te essa curiosa pul- do, a «entregar-sen ao Outro; aceitar chefes Acrescentarei que essa dimer diferentes fascs da humanidade, cessas estratificagdes sejam os «estados medievais, a tri ou qua- gurar proteydo, de permitir do crescimento social, A De resto, ¢ isso que engendra a submi sividade da massa que, conforme gagdo tomaré formas bastant nia totalitéria, passando pela acei natureza, porém, ¢ idéntica: aguele 68 outros, na harmonia natural ou so servidio, Ao retomar a expressio de La Botte, indicada acima, € preciso contudo ter em mente que se trata mesmo de «si comum ou o enraizamento eésmico utilizados por el efeito da forca imaginal necessaria a toda vida em forma profana da religio», de Marx; certo & que toda vida em sociedade repousa sobre uma nec: fatal, a do descomprome- tentregar-$0) 20s outros. fundado sobre o maravilhoso». & verdade que 0 sagrado ocupa um lugar relevante na estrutura politica, como se pode verificar em dois polos essenciais. Antes de tudo, do lado do lider. Centro da unitf, disse, assegura. ligagdo entre 0 meio social ¢ 0 meio natural, o macrocosmo ‘© omicrocosmo. Féceis sio os exemplos nesse sentido. Assim, entre os Alurs, de Uganda, «o dominio das forcas vitais.. justifica o dominio sobre os homens» (G. Balandier). Vale precisar imediatamente que o campo do sagrado domina igualmente os depositérios do poder, que no podem dele dispor, mas devem exercé-lo enquanto marionetes de forcas que os ultrapassam. O olhar atento revela que tal fatalidade pesa sobre todas as formas de poder. Quem assume um poder se transforma, tomando-se Outro para os outros, porque participa, mais ou menos, quetendo ou no, da érbita do sagrado, Essa dimensto se encontra igualmente na mistica do Graal ou na idéia imperial gibelina. Quem se sente, se cré ou 6 investido pela vvocagaio iraperial, no se possui mais. Det mnder a essa vocagio © cumprir seu ministério e missdo, De Frederico I Hoheuzollem a Frederico, o Eleitor palatino, vé-se a sbnegacio de si naquele que aceita o encargo. Certamente se pode ver nessa abnegagéo uma jus- tificativa a posteriori para a libido dominanai, mas os historiadores ¢ 0s antropélogos concordam em destacar 0 aspecto propriamente religioso desse ministério do poder.'* De toda maneira, do ponto de iolégico, oaspecto paroxistico ¢ propriamente caricatural de tal «anission ndio deixa de ser esclarecedor de todas as manifestagdes ‘menos marcadas do poder politico. ‘86 tardiamente, als, as fungdes do tecnoerata, burocrata, etc.; de outro, cardeal, intelectual, sébio, cien- tista, médico, ete.; a estrutura permanece imutivel: assegurar a mediag4o entre a realidade visivel do mundo social e a invisivel ou imaterial do fluxo vital que permite Aquele perdurar." © fluxo pode sero de uma iia ou de um mito fundador, o da comunicagao ou da, imagem oniprescnte; em todas as situagées, toma forma no campo* de forsa do religioso.. ‘Talvez por isso todos os politicos notéveis sejam antes de tudo grandes conguistadores de almas. Do mesmo modo, a poténcia de um império depende menos, pense-se o que quiser, da forga dos que da admirago inspirada por ele, Fustel de Coulan- ges bem 0 indica quanto ao império romano, que no teria dominar e perdurar se ndo tivesse suscitado o sentimento «religioso» de pertencer coletivamente ao imperium mundi. Ser cidadao romano, desse ponto de vista, significava pertencer & comunidade humana ¢ da construgto simbélica dessa reali- icagdo dos altares erguidos a gléria dos imperadores, que eram naturalmente adorados como divindades. Menos pelo que eram enquanto individuos e mais porque personi- ficavam a grandeza romana. Com dois outros exemplos hi anilise semelhante em icos, seria possivel fazer , porque conseguiram sus- citar um temor religioso e substituir as imagens adoradas localmente ‘por outras que se mostraram mais eficazes. Ainda ai, a conquista foi a das almas. A edificagtio da cruz ou da Virgem Maria no Zemplo Major do México foi nesse sentido mais eficaz do que uma multi- 8 cusias, vendo, para o mel visdes blindadas, triunfar sub-repticiamente co Armmadas vermelhas reunidas, No comego, o marxismo havia imposto seu império sobre os 3, fazendo teologicar de uma mistica, de santos, de martires, as massas modemnas. Foi Justamente por ter esquecido @ efervescéncia suscitada com eficécia que, com a mestna rapidez, seu império desabou. Em cada uma dessas situages, indicadas aqui de maneira bastante répida, pode-se observar a necessidade de organizagiio em tomo de uma imagem comum. Em fungao de sua capacidade de in- fluéncia, seré avaliada a durabilidade, ou nao, de determinado con- Jjunto social. De fato, encontra o segundo pélo do aspecto religioso do politico, um lider s6 pode suscitar adestio em tomo de éia, de uma imagem, de uma emogdo, porque 0 povo tem ne- cessidade de colocar-sc om estado de religagdo.” Trata-se, claro, de uma necessidade que nao ¢ forgosamente consciente, com freatién- cia sentida de modo confuso, mas nem por isso menos eficaz. co estudado, a melhor teoria dessa Durkheim que, em As formas 8a, aprescata numerosos exemplos nos Escrevi religago trata-se da surpre- gem do outro ao Outro. F isso, claro, num movimento de reversi- bilidade; ao mesmo tempo, a perda no outro cria o Outro, ¢ 0 des- pojamento nesse Outro cria o «outro» que € a sociedade. HA nesse processo uma espécie de criagdo continua que o lider carismético, a exemplo da divindade, captard em seu beneficio. Talvez pudésse- ‘mos encontrar af a chave para explicar o sucesso popular dos fascis+ mos do meio deste século, Parece-me que tal esquema é dos mais ade~ quados para apreciar o desenvolvimento dos populismos extremos ou de outros ressurgimentos de extrema-direita em nossos dias. O desejo de efervescéncia, particularmente perceptivel em periodos de mudanca de valores, serd, de fato, 0 que possibilitard uma idéia, uma sociedade, uma imagem ou um fantasma, tomnar-se coisa sagrada e «objeto de verdadeiro culto» (p. 306); talvez seja ‘uma criagdo «inteiramente nova» (p. 304) ou o reinvestimento numa, antiga figura que se acreditava ultrapassada. Nos dois casos, trata- se mesmo de uma criago continua que regenera uma sociedade. E 0 que Durkheim chama de «atitude da sociedade a erigir-se um Deus ouacriar deuses» (p. 305). Nesses momentos (revolugSes, re- voltas, festas, comemoragdes, insurreig8es...), oentusiasmo é tal, a paixdo partihada de tal impetuosidade, que eles no «se deixam conter por nada» (p. 309). Seria possivel continuar a andlise nesse sentido ou aplicé-la 2 outros fendmenos, o que fiz em relagao & or- gia em 4 sombra de Dionisio (1982) ou a confusto em O Tempo ); basta indicar, no quadro de nosso propésito, que ivo, a exaltagdo geral, momentos nos quais © que em periodo de des- iinteragdes sociais»." ico parece perder todo sentido, & dade dessa férmula. Ou, ao menos, quanto ao fito de que hi urn constante vaivém entre esses termos, ou entre o que eles designam. Vaivém que bem delimita a 6rbita de toda vida social, a qual, confor- me os momentos, acentuard a socialidade, com a conotagiio emocional correspondente, ou a sociedade, com suas conseqiéncias mais ra- ais, Por causa do excessivo esquecimento de um ou outro desses pélos, corremos 0 risco de nada compreender da unicidade, una ¢ diversa ao mesmo tempo, do fato social na sua globalidade. A aperfeigaion do Uno 0 politico, no seu aspecto religioso, assegura de uma parte, pelo vies da lideranga, a ligacdo com o meio natural; reforga, de ou- tra parte, pelo sentimento coletivo ¢ pela emogio partilhada, o estar- Junto necessario a toda vida social. Mas, em ambos os casos, esse politico-religioso ¢ estruturalmente plural. O historiador Huizinga relat uma etimologia fantasista do termo «pollitico» (sic), que auto- +e franceses da Idade Média faziam derivar de polus e da pretensa palavra grega icos, guardifo. O «poliftico» era entdo o wguardi8o da pluralidaden..” Tal fantasia merece alguma atengdo, tanto é verdade que est profundamente enraizada a percepeao politeista da relago com a natureza, ¢ da relagdo com o préximo, Max Weber bem demonstrou imagem do pantedo grego, traduz.a ‘Num momento em que o importante lembrar 0 seu princt 1¢ as modulagdes contemporaneas. Principio rel repousa sobre a coergio admitida a partir da ps carismitico ou reconhecendo. podemos lembrar que, de maneira mais ou menos con: mite compreender 0 sair de si que politeismo é uma maneira de limitar o poder. Contra a oni Se & verdade que «tudo comega no mistico e tudo termina no politico» um Deus tinico, a mul idade, de limitagdo mitua. Enquanto os deuses guerreiam entre tra o Uno, Enganar o tinico ¢ dificil iormente que se tratava de um «saber incor- 1poradon: 0 que se pode chamar de sabedoria das nagdes ou de bom senso popular, 0 senso comum que tanto apavora os detentores do saber. Nao 0 caso de se analisé-lo aqui em sua especificidade, mas vale ter em mente algumas caracteristicas do politeismo, ‘mais no seja para melhor compreender aquilo que lhe sucedera. De faio, antes do triunfo do imaginirio totalitério, antes da elaboragio da realidade do Estado-nagto, sua transcrig&o politica, prevalecia o io conflitual numa realidade de miltiplas facetas. Sejamos Nao quero dizer que houve progressivamente passagem do vezes, a énfase recai sobre a pluralidade, a relago complementar das, formas ¢ das forgas; por vezes, ao contritio, valoriza-se 0 unificado, mesmo que ¢ essencialmente antropolégico, Deleuze, « unidade harmdnica, para Leibniz, repot plicidade, «Cada ménada apresenta acordes», desde que por de se entenda a «relagao de um estado com os seus diferenciai Aplicada a0 barroco, essa metéfora musical convém muito bem, mas € paradigmsitica de uma perspectiva menos preocupada com o un{ssono do que com a polifonia vocal e, logo, existencial. A mesma pers ‘antiga e em numeros; ‘como funciona essa quadrip do poder. Cabe noter que pi corporagdes ¢ outras associagdes eclesidsticas, ‘ménico tratado aqui encontrou ram uma maneira suavizada de viver a pluralidade dos deuses ea ase equilibrio idéatico na deserigfo feita por Ma- quiavel de Florenga: apogeu. A virtu, cimento através do qual a Sociedade se estabelece ¢ reforca, s6 pode existir se hd harmonia dos ‘contririos. Néo se trata de igualdade ou de negagiio das difereneas, ‘mas de «acorde» de qualidades diversas que, pela luta, a negago ou ‘compromisso, chegam a compor umas com as outras. O painel que ‘constréi da histéria de Floreaga, comparando-a em certos momentos com Roma, € nesse sentido esclarecedor: quando a cidade sabe fazer ‘essa composicdo, toma-se mais potente; a decadéncia, mais ou menos Tonga, sobrevém quando ocorte o triunfo de uma parte sobre a outra, Ainda ai, de maneira eufemistica, trata-se da guerra dos deuses que, mesmo se opondo por vezes com energia (e com a esperanga secreta de ¢ doxa é 0 proprio fun- damento do conhecimento ocidental e, para tomar apenas um siste~ ‘ma entre muitos outro ismo fez dessa ruptura a prova deci- siva de sua construsdo intelectual: «Bem raros, entre os humanos, do os que aleangam uma ciéncia profunda das coisas inteligiveis».5* Isso sera, alguns séculos mais tarde, popularizado pelo marxismo cstigmatizando «o bora senso popular como a pior das metafisicas» & Engels). Desde ent, num procedimento epistemoldgico que, em gran- de parte, se elabora no cruza smos tomista e mar- xista, é de bor-tom entre icar 0 préprio conceito comportar uma ampla dose Esse orticado «popular, amplamentedissemin fianga permanente do para a qual todas as constituidas e oficie 9, do jomalista, pos a palhetaé rica em exempl 3 froram tal influéncia, miopia, incompreensio ou denegasto quanto a asticia, a duplicidade e outras praticas intersticiais que escapam as diversas imposigdes institucionais, ‘Ocorre que 0 «popular ndo é um «onceiton, isto é, algo definide a priori para sempre. Trata-se, antes, de uma série de pri- ticas das quais s6 podemos nos aproximar empiricamente e descrever fenomenologicamente, nlo tendo, na maior parte do tempo, nada de racional nem de constante, pois podem mudar de um extremo a outro, valorizar amanha o que era denegrido na véspera vice-versa, Assim, sem querer nem poder defini-lo, pode-se dizer que o chamado de popular comporta uma boa dose de confusio ou de laxismo, de combinazione ou de outras formas de jeitinho; em suma, de coisas que escapam, ou tentam, ao controle da burocracia sobre o conjunto a vida social. M. Weber bem zagdo da existéncian. Na Viena fin representa um laboratério in vivo bastan de nossas sociedades, a resisténcia & burocracia ganha uma forma original sob o nome de Schlamperei, ou seja, quando a inctiria da administragdo se calea na passividade da populagio, Mais exata- ‘mente quando 0 «pequeno homer» (der Kleine Mann) anddino, anénimo, consegue impor-se ao Leviatd da méquina burocritica. A fraqueza do homem sem qualidade triunfa sobre a forga do Estado, * (© mecanismo ¢ interessante. Nao se trata de subverso ativa contra o sistema, de batalha frontal ou parlamentar, como ensinaram ¢ praticaram os revolucionérios ou os reformistas de todas as cores, ‘mas antes de uma série de escapatérias, de pequenas asticias que ‘tomam a vida suportivel. Accitam-se as diversas injungées das ins- a particular do «laisser-fairen -viver»,asocielidade de base. Querer- > quase animal, para no se embara- ‘ar com justifieagdes, com 0 amor-proprio ou com uma consciéncia 94 de classe que exija de tudo clareza, racionalidade € moral. De fato, © consentimento, «que nao deixa de pensar 0 contrérion, forma po- pular de restrigdo mental, é uma estratégia de temivel eficdcia, pois dinamita 0 elemento sobre 0 qual o poder resiste através do tempo: a fascinagdo. © consentimento que nilo tem efeito imediato é um desprezo discreto & opressio. Seja qual for a tirania, onde a opressGo se expri- ‘me com violéncia, oua democracia, na qual se exerce a opresséo com suavidade, nenhum regime resiste muito tempo aos efeitos do dis- tanciamento interior induzidos pelo desprezo. Pois, a0 fim, essa distincia interior explode mum levante incontrolavel, como acontece cprime-se através da desafeiedo, a ser 1 de sua etimologia, em relagdo a coisa inerentes a tal secessto; 6 0 que est acontecendo nos regimes democriticos. Em cada um desses casos, esti-se diante de uma reagdo orgénica de um corpo social que nfo se reconhece mais nos seus representantes e, confusamente, busca um novo equilibrio capaz de traduzi-lo melhor. Obnubilados pela aeao, considerada ha valor cardinal da modemnidade, temos alguma intelectual, produtiva e psicologica o homo faber toma o lugar do criador. A famosa cena do segundo Fausto de Goethe, na qual este retraduz a Biblia do seu jeito, dizendo «no comego era a agdon, & ‘muito instrutiva. Nada pode escapar ao «ativismmo» dominante ¢ quem tenta fazé-lo é remetido ao infemo da passividade, da moleza, do Jaisser-faire... Longa €a lista dos rétulos infamantes que servem para estigmati 4s injungdes do fazer € { a extrema dificuldade.em compreender 0 «no-ativon criador ou, ainda, 0 que Schopenhauer, influenciado pela filosofia oriental, chamava de «apatia elevaday; algo, para ele, dotado de idade e de fecundidade propria. E certo que ‘de hegemonia ocidental, 0 que chamei de «ori mundo», observével na atualidade, pode ajudar-nos a compreender 95 lum certo fempo social mais descontraido, que deixa «correr as coi- sas» e permite também « cada um aser ele mesmo». Poder-se-ia, com facilidade, multiplicar as expressdes, mais ou menos triviais, que valorizam a serenidade, no como caracteristica psicolégica, mas ‘enquanto especificidade do espirito do tempo. Deve-se pensar nisso para compreender a desafeigdo abordada acima. O politico, como principio, ¢ ago, projeto, tanto no que diz respeito ao mundo, a sociedade, quanto a sie aos outros. Coisas que 50, moral, filoséfico; em suma, o pluriculturalismo que favorece 0 compromisso com a natureza (ecologia), com os outros (consenso). Compromisso que estimula a participago moderada, ou mesmo inexistente, em projetos com objetivos longinquos, revolucionérios, liberais ou conservadores. Prestando muita atengdo a . pode-se dizer que 0 ceticismo dominante no mundo intelectual € certamente a expressto paroxistica da «apatian social empirica- mente observavel. A partir dai, toma-se possivel compreender melhor Por que 0 consentimento do quel se falou nao valoriza mais a ago politica. No maximo, esta seré objeto de espetaculo; do «Bébéte Show» as disputas , Mumerosos sio os exemplos reveladores de uma «politica do belo canto», favorecendo a sedugo em detrimento da politica de conviego que orientara toda a vida social dos tempos ‘modemos. Aquiescer a tudo significa nfo aquiescer a nada, ja havia observado Lévi-Strauss ao indicar em Tristes trépicos que 0 «con- sentiment € ao mesmo tempo a origem ¢ 0 limite do poder».® Simplesmente porque, a partir de certo momento, favorece a indi- ferenga. De tanto conceder a todo mundo, a gente se preserva, © as prostitutas bem o sabem, pois, apesar do que se diz com freqitén- Cia, protegem ferozmente a prépria independéncia, nfo deixando de ser a «mesma para todos». Extrapolando o propésito, direi que atra- vés de um processo de concatenasio, 0 compromisso, o consenti- 96 ‘mento, 0 «quictismo» em relagzo ao mundo ¢ aos outros determi- nam 0 jogo duplo e a indiferenga diante da coisa piblica; o que foi «durante muito tempo apanigio de certos povos ou de certas camadas da populagao, tende agora a contaminar a totalidade da vida social. Assim como o ativisino politico foi o valor dominante da modemidade, ‘a «aio-ago», de matiz estetizante, tende a tornar-se valor univer ‘com nuangas ¢ expresses bem diferentes de acordo com os e emblema da pés-modernidade. Trata-se menos de agir sobre 0 mundo ¢ mais de eecité-lo pelo que é; segundo a expressio de A. Schitz, o mundo taken for granted, aceito como concedido. Trata-se, dando ao termo o sentido mais profundo, do destino do politico, Uma asticia antropolégica faz do que presidiu o seu nascimento (0 consentimento) 0 fator de precipitagao de sua morte, Dialética sutil, que nao deixa de lembrar a do mestre e do escravo na Fenomenologia do espivito de Hegel, pela qual, pouco a pouco, aquele que accitou a experiencia do nada, de nfo ser nada, da morte, oescravo, toma-se o todo ¢ conquista a sua soberania sobre o mestre destituido. Encontra-se 0 mesmo na pena dos antropélogos que ‘mostram como no devir das civilizagées hd sempre uma forte dose de suspeita em relagao aos apaixonados pelo poder.*' No quadro das paixBes que regem a vida humana, a libido dominandi é sentida ‘como a mais precaria, a mais sujeita a caugio, a desafeicio é vastamente impre te facil para 0 observa parecem cegos pela incia da inversio i transforma a fascinago em derrisao, Essa cegueira néo 6, de resto, surpreendente, pois a masse prat de modo algum previ cages sucessivas cor serdo as variagdes cl ordem das coisas. Esta pode cos, mas se trata de uma fuga a direita, um golpe a esquerd ver ide portanto es snante: quem te fez rei? Com lindamente Michel Foucault 8 propésito da precariedade dos destinos politicos: «Os povoa amam 9s favores que concederam por um momentov,2 le tudo, se o compreendemos como expressio instin- animal da espécie, a ibido dominandi corresponde ido inversa vadorando» lembrar que a paixlo, base do poder, €jog0 € como tal capaz, regularmente, de impulsividade e de outras ‘manifestagdes afetivas. Bis uma vez mais uma expressio do destino | i de tanto esquecer ou negar que «o irracional é um ‘autor legitimo da histérian, exp8e-se a sucumbir sob os seus golpes, As reagbes em cadeia, as efervescéncias, as adesdes 2s extremistas ensandecidos ea fascinagdo exercida pelos iderescarisméticas podem ; OU as siibitas abstengdes, Esaa ra perguntar de maneira lancie aca», em parte, pel te que niio engana ningue 10 Angulo de ataque heuristico, proporei ligar 2 implosto lo lugar a uma légica mais mole, a da identificagao. Para ser s preciso, a das identificagdes sucessivas, em todos os dominios. Ser consideradas como expressdes do retomo do recaleado. Nesse ‘momento fundador, 0 politico consiste em equilibrar todos os elemen- {os de uma sociedade determinada, em particular os seus aspectos passionais como os racionais. Por ter focalizado demasiadamente estes, em detrimento daqueles, rompeu-se 0 equilibrio. Desequilfbrio {que leva tempo para exprimir-se, mas, a0 tornar-se consciente, no s. O poder construiu-se e reforgou-se na gestdo ¢ na regulagdo de tal organizagdo. Esta podia ser conflitual, ‘mas no deixava de carregar a marca da raz2o; razo consumada, € nos lugares democratizados ¢ tecnologicamente poteneial nos paises ¢ nos acontecimentos domina- pela ditzdura e pelo atreso econdmico ¢ social. Pen- sando no papel desempentiado pelos homens em tal esquem, pode- se, na falta de melhor, ratuld-lo de patriarcado. O poder e 0 politico émais alcangével. Desequilibrio tendo por consequéncia a implosio is forma politica que & a sua causa. A consciéncia dessa situagdo cxige tempo, notou 0 perspicaz politico Cardeal de Retz: «Os povos {tigam-se algum tempo antes que possam percebé-lo». Mas, uma ‘vex conscientes disso, levam as iltimas consequéncias a destruigao da ordem estabelecida, Essa destruigdo pode ser violenta ~as revoltas © a8 revolugdes estdo af para prové-lo ~ ou consistir simplesmente m fazer socessio, permitindo assim aceder-se, de maneiea durdvel, ‘uma nova ordem das coisas nlo prevista pelos detentores do poder. Essa secessio subterrdnea, mesmo se possui alguns tracos remanescentes do politico, nl o considera mais necessariamente: ‘sociedade civilp, do localismo sob as suas diversas formas, sem esquever a importincia que vem tomando a «municipalizagion nesta velha terra jacobina francesa, traduzem com maior ou menor ‘dentificadas, no lugar, a ordem do mundo social pode entio funcionar. esigja sucedendo ao poder do patriarcado. Compreendam-me bem, trata-se de uma metiforg, isto é, © matriarcado nto é um novo con 98 99 ceito que viria substituir o de patriarcado. Tomando por base 0s his toriadores € os antropélogos que utilizam este termo, o matriarcado triarcado néo passaria de «anarquia e barbarie». Trata-se certamente de uma apreciagto pejorativa, mas que traduz bem o pluralismo, 0 vitalismo barroco e a proximidade da natureza dos quais se pode ver as manifestagées na atualidade. O ‘matriarcado, enquanto tipo-ideal, permitiria dar coeréncia a todos os valores alternativos ao esquema racional da modemidade. Mastrou- s€ como, no final do século pasado e no comego deste, esse tipo- ideal serviu de cavalo de batalba contra os valores burgueses enti ‘no apogeu."*A situago agora se acelerou e nao é mais como femi- nista, boémia ou vanguarda que o matriarcado se apresenta, mas de preferéncia enquanto afirmago de uma vida ndo-separada que busca se exprimir em sua plenitude e, para isso, ressalta antes de tudo 0 qualitativo. determinem a priori para essim administré-la, pode-se ver no qua- litative uma forma ordenada, uma ordem interna niio menos s6lida do que a ordem racional patriarcal. Quanto a barbérie, pode ser a da natureza reinvestida, de um corpo adornado e valorizado, de ali- mentago menos «adulteradan e de espapos preservados. Coisas cuja atualidade é visivel e que nfo concebem mais o progresso, com a des- ‘uma sociedade, ou mais exatamente o que chamei de espago civili- zacional, nlo é a mesma em todas as épocas. Realiza um ciclo que a conduz do nascimento & morte, passando pela idade madura. Nada 100 destacar 0 aspecto dinimico do doméstico. Conhece-se 0 papel que este desempenhouna concep¢to do falanstério. Sono acordado, certo, ‘mas que, perdendo aos poucos as caracteristicas de uma utopia ‘macroscépica, se capilarizou no conjunto do corpo social até consti- tuirai o novo pélo de referéncia, De certa maneira, pode-se ver nisso uma revolugdo, mais ou menos inimaginével no tempo de André Breton, desses «dois estados, em aparéncia tio contraditérios, que sio o sonho ¢ a realidade, numa espécie de realidade absoluta, de surrealidade, caso seja possivel falar assim. Pode parecer bastante audacioso f de seus diversos «pri econdmica. Contudo, altaneiros conseguem captar as mudangas sociais importantes, as quais, de modo mais ou menos evidente, animam em profundidade es sociedades. No caso, trata-se talvez no de definir, mas ao menos de apontar a forga imaterial incipiente que esté servindo de legitimagio ou na vida didria, de um determinado conjunto social: povos, grupos, classes... Mais que 08 argumentos ou os interesses utilitérios, s0 05 lizam quanto ao essencial e assim determinam 0 que faré a cultura, ndo do termo, da totalidade social considerada, Cada nes citados du a esse mito o conteido que Ihe pareceu 101 ‘ais pertinonte: socialismo para um, nacionalismo para o outro. Se i relevante, nile o é mais na atualidade. Parece que um novo them gestaelo, a intuipdo imediata, para retomar a expressio de Durkheim, de uma «vida geralmente bow ou, a0 menos, de uma vida que se deve viver aqui ¢ agora ¢ da melhor mancira possivel. Hedonism relativista. Nada hd nisso de muito entusiasmante do ponto de vista de ‘uma moral «ativista» ou de uma ideologia com a pretensio de controlar ‘ou de mudar 0 mundo ea sociedade. Mas como tive freqiientementea ‘oportunidade de dizer, a atitude judicativa ou normativa tem pouco peso diante da onda violenta de um sentimento coletivo tomando ‘consciéncia de si mesmo, Este no consiste mais mo «fazer», na ag20, sejam quais forem as suas modulagbes. E antes em toro da imagem que ele se elabora ¢ reforea, Dai, compreendida no seu sentido mais amplo, a ambiéncia «mistica» que caracteriza a época: comunga-se com outros em tomo de emblemas comuns e assim cria-se comunidade. ‘Tomando-o menos como uma nova certeza do que como um convite 4 pensar, sobressai um novo ethos que vé o politico ceder lugar & contemplagao. ™ ind Rauch,” Goethe + O sentimento € do, ‘ palavra, sore furnaga, Ambiéncia, ambiéncia... Nada escapa 4 ambigncia de uma época, nem mesmo os que eréem ser completamente independentes. Foi possivel assim, a propésito da modernidade, falar de uma mitologia do Progresso ou de uma mitologia do fazer. A titulo de exemplo, lembremos dessa alegre noitada em que, nos limites do Swf de Tubingen, Hélderlin, Hegel ¢ Schelling elaboraram, em torno de uma garrafa, 0 que foi considerado como o «programa sistemético do idealismo alemiio». Nao foi somente 0 vinho, mas a ambiéncia geral do momento que incitou os trés jovens tedlogos a repensar o todo social a partir de um «cego» todo-poderoso capaz de «fazer» a sociedade ou de reconstruir (© mundo na sua totalidade.” Cada um deles seguiu um caminho Particular, mas é interessante observar que com sonsibilidades bastan- te diferentes, cles ndo podiam escapar a essa «coi paradoxalmente, ndo se pode «fazer mas se deve, de softer. Poder-se-ia dizer 0 mesmo das outras gran dos séculos XVIII ¢ XIX que, acima de tudo, foram pri ‘concepgdes do tempo. Teorizando-as, tomaram-se 0s scus porta-vozes. Esse paradoxo, que merecia ser destacado, ¢ apenas aparente. Como todas as banalidades de base que nos apressamos em esquecer, a ambien termo Zei no ar que: «claro, de estruturas macroscépicas. A conjunglo ea reversibitidade iver de cada um ¢ cadenciam ares- le, para compreender determinado es- jonar-se sobre a atmosfera que o banha e Evidentemente que é dificil conceituar o1 amente, 0 que por esséncia é nebuloso. Mas o impres- sionismo pode ser um bom método para realgar ou mostrar-the as principais caracteristicas. Método ainda mais pertinente aum momen- ‘to em que a saturacdo do «fazer» toma mais receptivo tudo o que € da ordem do ambiente. Extrapolando um termo aplicado por A. Ber- que a natureza ou 20 espaco, pode-se falar de medidincia compreende o individuo em interagao. InteragZo. com o meio, com o scu meio social. Interago que faz do conjunto algo al suas partes componentes. A esse respeito, propus 0 neologismo «formista», para ressaltar que a forma € formante. ‘Como preciso, pensemos no discurso ditigido pelo apéstolo Paulo, na Agorz itenienses cultos e um pouca céticos: «Deus ¢ to vasto e tangivel como uma atmosfera que nos banhe. Envolve- nos de toda parte como o proprio mundo». Sabe-se que ele nao foi ouvido; no entanto, 0 apélogo merecie atengao, Trata-se, de toda maneira, de um oximoro: uma «atmosfera tangiveb». Como todos os contraditoriais em ato, este tem o mérito de bem exprimir a diversi- dade ea polissemia das sociedades complexas, nas quais cada coisa € 0 seu contrario podem existir 0 mesmo tempo. Com base numa andlise de G. Simmel, pode-se estabelecer um paralelo entre essa polissemia e a Suimmung da paisagem. A tradugdo desse termo ale- mio € muito delicada: poetas roménticos, designa a atmos- fera no que elz tem de objetivo e de subjetivo. A Stimmung curto- circuita 0 que o racionalismo havia, de maneira arbitréria, separado e mantido como tal. «A Stimmung significa portanto paisagem especifica, independentemente de todo elemento parti- cular» Assim so reagrupados o campo de visto do sabio e sua cau- salidade, o sentimento religioso do amante da natureza ¢ a perspec- tiva finalizada do camponés. Simmel fala a esse propésito de um «modo particular de unidade». De minha parte, prefiro falar de 106 unicidade, isto é, do que d4 coeréneia aos diversos elementos respeitando suas especificidades ¢ mantendo suas oposigdes, Eis lementos contraditérios nao so superados, corregio I6gica, a Stimmung da paisagem per- ‘nos homens 0 que unifica a atotalidade dos seus contetidos psiquicos, unidade que nfo constitui nada de singular ‘em si nem mesmo adore, em muitos casos, a nenhum singular fa- cilmente indicével, mas que representa contudo o geral onde se en- contram agora ¢ssas particularidades.® Eis uma obscura clarida- de bem germénica, mas que traduz 0 «trajeto antropol6gico» unin- do elementos heterogéneos, os quais, no cor énfase na atmosfera ressalta, de uma parte, a prioridade do global sobre os diversos elementos componentes e, de outra parte, a impos- de privilegiar qualquer um desses elementos. Pode exis- rarquia entre eles, mas todos permanecem indispenséveis. O global sendo no caso o fruto da interago constante, da corres- pondéncia ou agao-retroao desses clementos. Tal peropetiva apresenta a vantagem de ultrapassar a «se- paragon caracteristica do pensamento ocider nito as dicotomias cultura-natureza, compo-e5 te. Por outro lado, bem enfatiza que cada el lugar na estruturago ¢ na compreensdo do real. Repito-o, quando nada é importante, tudo tem importiincia. Certo elemento considerado fii- volo ou anedético num pensamento monocausal, como o racionalism20 da modemidade, é perfeitamente integrado no pluricausalismo da pés- modemidade, Como se vé, a nebulosa da atmosfera ou da ambigncia possui inegivel dimensiio epistemoligica; ndo €0 caso de desenvolvé- Ja aqui, mas cabia assinalé-la para desmontar, na medida do possivel, as criticas destinadas a invalidar sua importincia social. Conhecimento 4s atitudes individuais, os modos de vida, as maneiras de pensar e as, 107 diversas inter-relagdes sociais, econdmicas, politicas, ideolégicas, valorizar ou revalorizar a globalidade da vida cot aspectos de uma vida sem qualidade, tidos até entio por quantidade ‘Mas, enfatizando a ambiéncia, reconhece-se uma mudanga radical de paradigma: em lugar de dominar o mundo, de querer trans- atitudes prometéicas ~, opta-se por unir-se a pela contemplagio. A prevaléncia da estética, a perspectiva eco- ica, a nio-atividade politica cas diferentes formas do «cuidado de 08 diversos cultos do corpo so, de fato, apesar das aparéncias, julagdes dessa contemplagao, Esta, claro, nilo é sindnimo de lamento, Na tradigdo crista, por exemplo, o monge, solitirio mas isolado, esté em relagio com a Igreja na sua totalidade. O éxtase na divindade conduz a uma «instincian no corpo social que a representa na terra. O mesmo ocorre na tradigio budista, na qual 0 mesmo se retirando do mundo, participa da sua sustentagto al. A tradigdio dos «trinta e seis, , da cabala judia, & as suas oragbes 0 estudo da lei confortam a totalidade do mundo. Trata-se de uma perspectiva regularmente encontradaem to- das as culturas humanas ¢ que remete-a uma estratégia especifica em. relago a0 mundo circundante: vistoria, interrogat6rio sobre as suas, razdes, submissio 4 razo, com 0 lado tivo ou mesmo brutal que isso no deixa de ter, ou, a0 contrdrio, composigdo ¢ acomodagio 20 queeleé Estratégias que induzem um ethos particular. O politico ‘corresponde ao primeiro; o que chamei de «doméstico» (No Fundo das aparéncias) & a expresso do segundo, que parece representar a atualidade, mesmo podendo ter existido em outras épocas, conforme testentunham a importincia do orkos no mundo grego da domus para os romanos ena Idade Média, Trata-se de um ethos de valoriza- ‘so do proximo, repousando sobre o «evidenten. Um tipo de cvidén- 108 cia primordial, comum, accita, indiscutivel. H. Walfflin, no que se rou aexisténcia, entre artistas, pintores, tes, de uma «omunidade de -speeffica da qual cada um deve participar. O mesmo vale para a vida didria, na qual sc exprime, segundo Santo Tomés de Aquino, o habitus, através do qual cada um reconece, sem discussdo nem argumentaco, ‘que faz o mundo comum., M. Mauss soube muito bem tirar todas as conseatiéncias desse habitus. Na sua andlise das técnicas do corpo, espago determinado, sendo isso que o faré comportar-se «socialmente» com pertinéncia. Pela mesma razio, um «corpo» transposto de outro meio serd indbil, desajeitado, nfo-pertinente com seu ambiente. Em cada um desses casos, a ambiéncia do tempo ¢ do lugar determinaré a atividade e a criagdo de qualquer artista ou homem: seja.acriago mailscula de um Bernini oua microscépica da vida de todos os dias. Nao esquegamos, 0 «bvio» faz comunidade. A ambigncia é de fato matricial. Certo, existem momentos em que, obnubilado pelo «fazern, pelo aspecto racional das coisas, pelo ativismo social, tende-se a minorar essa pritica ambiental. Entdo, tudo © que no conta, por nio ser mensurivel, por ser da ordem do evanescente ¢ do imaterial, é desconsiderado. A arte cla grandes sistemas de pensamento e as construgdes dos Estados-nago centralizados so exemplos disso. Completamente diferente € 0 barroco, por exemplo, que repousa menos sobre uma adaptagdo de apresentam contraste entre a claridade vinda da gigantesca cipulae a obscuridade da nave ou sobretudo a das capelas. E deliberado. Tal contraste pretende criar, de maneira teatral, uma ambiéncia com a finalidade de reforgar 0 corpo eclesistico reunido para celebrar Deus. Em referéncia ao que eu disse antes, vale lembrar que para Burckhardt a ciipula de Sao Pedro dava 0 1 de planar suavemente, O ‘mesmo ocorre com pinturas © ‘as em que 0s santos se elevam los cem ascensées vertiginosas de forte conotagio erdtica. A ambigncia tem portanto uma eficdcia: gerar um corpo coletive, engendrar um ethos. Mas o que nos ensina a historia da arte ndo deixa de encontrar eco em outras situagdes mais profanas nas quais se exprime uma «ccligag2on no menos importante. Basta nesse sentido pensar nas aglomeragSes musicais, esportivas ou consumistas pera medir con- temporaneamente essa eficacia, Mudanca de cultura, nfo se falard mais da Stimmung de uma paisagem ou de uma catedral, mas do ‘feeling de uma relagio, do sentimento induzido por um lugar ou de ‘outras categorias no menos vaporosas para descrever um «situa- cionismo» amoroso, profissional ou cotidiano de consequléncias ma- da desconsideriveis na criacdo, na sua acepao mais ampla, de determinado periodo. ‘A referéncia a0 barroco permite uma preciso. Eugenio d’Ors utilizava 2 esse propésito o termo gnéstico eon para sublinhar que se tratava menos de um estilo detimitado no tempo € no espago que ‘de uma sensibilidade, uma postura intelectual passivel de ser encon- trada em diversos lugares. Metéfora portanto utiizvel como tal para compreender nosso tempo. G. Durand de seu lado fala de «lima» ou de abacia semantica», expresses ainda etéreas ou fluidas que, para- doxalmente, nio sio menos constrangedoras. © «lima» constrange as individualidades eriadoras (repito-o: as grandes obras da cultura ou a cultura no cotidiano) & repetigao de um estilo que assinard «dal dominio ou momento cultural».”*Existem portanto «climas cultu- rais» aos quais se ajustam a sombra e a luz, aestitica ¢ a dindmica, ‘A palavra miisica permite compreender 0 aspecto lancinante que tem por vezes esse «espirito do tempo». Nao escapamos & sua influéneia e mais de uma vez surpreendemo-nos cantarolando-o. A contaminagio desempenha af um papel tio importante que seria necessério falar em termos de epidemiologia, Assim, numerosas s#0 as situagdes em que a excitagao se espaltia passando de um a outro. Nao é menos freqiiente ver a emotividade submergir 0s bloqucios ou ho as barreiras intelectuais de individuos perfeitamente racionais, em portivo, o politico. Pode-se assim compreender e analisar o surpre- endente fenémeno que é a moda, nascido da necessidade de singu- larizat-se, mas que 88 existe produzindo a mais evidente imitagio. ‘A moda —no vestuério, na idcologia, na linguagem, etc. traduzbem ssa «inflagdo do sentimento» (G. Simmel) suscitada pela atmosfera dominante, 0 individuo nao €, ou nto é mais, dono de si, o que nao signifi- ca nto ser ator. Ele certamente o é, mas como quem recita um texto escrito por outro, Pode acrescentar a entonago, por mais ou menos calor, eventualmente introduzit urta réplica, mas de uma forma que ndo pode em hipétese algum: prazer, Neste tempo em que é de bom-tom falar em individualismo, sendo dificil questionar esse pensamento institucionalizado, no ¢ painel esté bem feito. Ele pode até mesmo ter consciéncia de que é arrastado, mas nada faz. Pareso colocar entre parénteses a ‘minha prépria personalidade: por um momento, mais ou menos lon- 80, torno-me estrangeiro a mim mesmo. A partir de constatagdes cotidianas, observa-se mesmo que posso estar licido em relagdo aos ‘ndmenos de moda — para se apreciar a precisto de tais observacées. De fato, para retomar uma hipétese formulada numa obra anterior (© Tempo das tribos), deve-se resonhecer que em certas épocas pre- mt ‘A massificagao da cultura, do lazer, do turismo, do consumo é, cla~ 10, a causa ¢ 0 efeito de tal tribalismno, Nao & menos claro, a fim de precisar 0 que jé foi dito (re)nascer g ambiéncia impde-se a raziio. Por favorecer 0 imaginério, © onirico coletivo, ela reforga os microagrupa~ mentos. Funciona, enfim, como a moldura que os protege e realya. A énfase na ambiéncia e na contaminagao pode esclarecer a dialética existente entre representagdes individuais ¢ colctivas. As- sim como para todos os aspectos da vida social, a moderidade alicergara-se sobre a conviegto de que eram o fruto de um deter- minismo racional, evoluso prépria a0 individuo, evidentemente, resultado da educagio e das diversas formas de socializago, mas também evoluedo global da humanidade, a qual, tendo partido da situagio barbara e primitiva conhecida, chegaria a0 patamar civili- zacional onde tudo seria medido segundo os pardimetros da razo. 0 uprogressismo» ¢ o «desenvolvimentismo» otimista dos tempos modemnos so assim resumidos: combatendo ¢ depois vencendo as forgas obscuras do irracionalismo, as representagdes individuais permiticm a cada um dirigir sua vida, segundo suas conviegSes, para sua plena satisfegio. Do mesmo modo, contratualmente, isto &, de maneira pensada, essas representagdes niio deixavam, por acrésci- mo consciente, de constituir representagdes ou sistemas de repre- sentages coletivas utilizados para dirigir a vida publica do Estado- ‘nago ou de outros conjuntos organizados segundo o mesmo modelo. A politica, nfo.o esquegamos, é 0 modelo acabado dessa dupla ‘evolugdo. A democracia é 0 resultado logico disso, consistindo em organizer racionalmente 0s diversos membros da sociedade. Nessa perspectiva, representagdes individuais e coletivas sto perfeitamen- te claras para elas mesmas. Transparentes & anélise, a exemplo das agregagées que suscitam: grupos, partidos, associagdies, mages; to- dos objetivos e com finalidades passiveis de objetivagio. Pode-se assim definir a modemidade por adagio: «politica antes de tudo» ou, ainda, «tudo € politico», Esta seria a expresso de um «ego» trans- cendente (Sartre), separado ¢ distinto de outros «egos» no menos transcendentes com os quais forma sociedade. ne Mas se tal esquema, elaborado a partir da Renascenga e re- forcado nos a is sculos, foi pertinente até agora, pode-se dizer que, no equilibrio ciclico das humanas, esta cedendo lugar a outra configuragio, Parece-me, ido a nosso propésito uma «forma elaborada por mim em obras anteriores, que a fusio das emogdes comuns esti sucedendo 4. separadas. Apolo versus Dionisio; o politico opondo-se ao «espiritual», Ou, ainda, o homem do poder cedendo lugar ao homem da poténcia, ‘Nese esquema, a poténcia, da socialidade de base, da forgainstituin- te, péde ser, durante todo um ciclo, canalizada pelo poder instituido (social, econémico, , mas ndo exerceu menos uma pressio subterrinea capaz de explodir na primeira oportunidade. Outro ciclo, Portanto, recomega, Ao longo deste, as «representacdes» de todas as ordens integram toda uma série de pardmetros espirituais funcionan- do menos sobre a conviceao racional que sobre a fascinagfo ¢ a con taminago, Essas representagoes exercem uma forma de «osmose, de autodifusdo que nto utiliza os canis tradicionalmente definidos pelo racionalismo ocidental.”* que contaminam, um 2 um, multiddes cada vez maiores. Essa pres- Sto, inicialmente subterranea, depois explosiva, das idéias comuns é luma constante das histérias humanas, mas se exprime brutalmente nos periodos de passagem a uma nova era; dat o interesse sociolégico uma questiio de ambigncia. siderado como 0 grupo ‘ociedade, Durkheim mostra a importineia dos lementos imateriais favorecedores do que chama de «omunhao de 13 consciéncias». De fato, de um ponto de vista cla particularmente «consisténcian. A zada c, através do nomadismo, 0 t 9, pouce delimitado. Dai a importancia da atividade simbélica que assegurard a coesio do conjunto, Durkheim chega a dizer que o emblema, por exemplo, é0 «ll pensado sob uma forma materialy,”” Bis uma forte expresso ccapaz de bem salientar a efiedcia do simbolismo. O que vale para o cla, enquanto estrutura original, pode ser apropriado no quadro geral de nosso propésito: cada vez que se faz referéncia & fundagao, cada vez que é necessirio recorrer a ela, despertam-se os sentiment0s co- ‘uns. Nada racionais, sem utilidade direta, dificeis de localizar com preciso, néo deixam de constituir uma inegével forca, instituinte, bem mais s6lida do que numerosas construgdes racionais, ‘em geral, chegam depois. Trata-se de um paradoxo importante: a con- sisténcia de um conjunto social vem essencialmente de uma forga in- visivel que toma corpo nos totens, emblemas ou imagens diversas ¢ assim constitui o corpo social. ‘Nio nos enganemos, tal «princip alguma o apandgio das sociedades primitivas. Sabemos que, sob diferentes nomes, 0 cla perdura em todas as sociedades. Talvez ganhe até mesmo uma importincia maior na atualidade. Com certeza, a procura do que funda, seja qual for a agregagaio social, leva sempre 20 encontro da partilha das idéias comuns, de sentimentos coletivos ou outras imagens emblemiticas, cuja estrutura de base constitui uma ambiéncia matricial ¢ assegura assim 0 enraizamento dindmico da sociedade em questo. Quando cessa 0 terrorismo do Progresso teleolégico ou da histéria com sentido garantido, os mitos fundadores Voltam a ter importancia, Freud mostra em relago aos individuos 0 que Durkheim analisa nas sociedades. Toda a abordagem freudiana de wma recordagao de infiincia de Leonardo da Vinci» repousa so- bre um postulado essencial: «o que um homem o sua infiincia no ¢ indiferenten.™ Fantasma, fato historicamente lo- calizavel? Pouco importa. Pois as lembrangas de inffincia so funda- mentos, «Se ¢ da sua inffincia como de um pais» (Julien Green). isso 0 enraizamento dinémico. Pouco importa o verdadciro em si. totémico» néio ¢ de forma ua Verdadeiro ¢ 0 que serve de alicerce ¢ de prova a uma construgéo posterior. Assim como para o individuo, a «recordagio de inffincian ser- ve também de meméria popular. Tudo o que diz respeito as lendas, 405 costumes ¢ aos contos é muito mais relevante do que se eré. As tradigdes orais existem como elementos de uma histéria inconsciente 'esmo sendo «inconsistente», serve de substrato ao estar-junto Ee sempre que a necessidade se faz sentir. A oralidade ma- © to bem no reaparecimento das histérias locais quanto no folclore regional, sem esquecer o sucesso das narrativas biogrificas € outras referéncias ao local, e tem sua consagragio «cientificay ‘nas metodologias ligadas ds historias de vida individuais ou de gra- po. Em todas as situagdes, a ambiéncia ¢ relevante. Nzo se considera Somente 0 objetivo, mas também essa espécie de de La- tente das lembrancas individuais ou coletivas. Deve-se estar atento 4 tudo isso, Ha momentos em que a vida social nfio tem mais a re- gularidade ¢ a racionalidade de um programa politico. Nesses mo- mentos, 0 sonho ¢ a realidade fundem-sc, o fantasma toma-se uma Ctiacao do espirito coletivo e cria, por sua vez, esse esplrito mate- rializado que é um povo, Essa criacdo ndo possui a consisténcia nem 8 solidez pretendida pelo homo faber da modemidade, mas lembra gue € sempre do eaos ilimitado ¢ indefinido que surgem as novas formas. 2 A forga viva do sentimento A transfiguragdo do politico completa-se quando a ambiés ‘emocional toma o lugar da argumentacao ou quando o sent! Substitui a convicgdo. Isso se preparava depois de muito tempo. As- sim, Goethe, de quem se gabava a sabedoria olimpica, prefigura, no apogeu da modernidade, a saturago de uma ordem das coisas fundada tna razfio ao declarar que «o sentimento € tudo» (Geflih! ist alles...) ua posigao no seu tempo merece atengdo, trata-se para a razo, valorizando particularmente # «intuigo 50, cle se aproxima da filosofia de Schopenhauer que azo ¢ experincia e cuids para ni fazer de nenhuma clas uma entidade isoladae valida em si. *Destacaro papel da intui- ‘gio em relaglo a simples razo argumentativa é uma boa propedéu- tica capaz de nos introduzir num mundo experimentado ¢ partilhado ‘com outros. Efetivamente, enquanto 0 racionalismo favorece uma con- cepsio de individuo autdnomo, senhor de si e produtor da Histéria, ‘coisas que formam a base da politica, aintuiglo, o sensivel ea experiéa- cia salientam principalmente o aspecto estético da existéncia comum. ‘Talvez seja por isso que termos como estética, estetizante ¢ ¢s- tetismo tenham mé fama na légica do dever-ser que tende a prevalecer ‘no moralismo dominante. Tém sempre conotagdo pejorativa ¢ servem A invalidago daqueles & quem sto aplicados. Jé tive a oportunidade a sua etimologia, nfo deixa de ter um valor ético. Aestética estabelece uma estratégia particular: controla-se menos o mundo que nB0 se go23. nada tem de inhale 4, zzuto-suficiente ou a0 menos s6 estabclecendo relagdes funcionais ¢ utilitérias com os scus semelhantes. Coisa totalmente impensavel na ordem da estética: s6 posso vivenciar com outros. Mas enquanto a relagio funcional ¢ sempre direcionada, logo identificdvel e analisével como tal, aemogao comum esgota-seno ato, basta-se asi mesma; dat © sou aspecto imprevisivel, ensivel. Caraeteristicas qu mos acostumados # tudo medir conforme ide e a previsibilidade. ‘Ocorte que, como no retomo do reealcado, a expresso do cole- tivo tende, para bem ou mal, a prevalecer contemporaneamente. Tem se necessidade de vivenciar com outros emogbes fortes, seja na 116 violéncia das gangues de jovens na periferia das cidades grandes, na desafeigdo em massa referente & aso politica, nas diversas aglome- 0s tipos ~raciai nidade levou m: ciosamente, submergiu sob deixar estupefatos os responsiveis, autoridades e « intemacionais. Como bolhas episédicas produzindo-se numa super ferentemente, em paises industrializados edo Tereciro Mundo; atingi- Ho sem distinglo as sociedades capitalistas ou as que se pretendiam socialistas, Nada nem pais algum esta livre. Nao ha mais classes so- Ciais intocéveis. A ebuligdo ¢ geral, €0 fog Precisemos entretanto que isso nfo fe, anit ser talvez da parte dos responsivei 1mico-politicas ou dos que tém por profiss de fora. Quanto ao resto, as explosdes em quest dentemente serenas as populagdes atingidas. Falei a esse propésito de estoicismo popular: aquilo sobre 0 que no posso ou no quero agir me deixa indiferente, Como essa ebuligdo nao € planejada, nem racionalmente organizada e nada tem de direcionadsa, é vivida pelo ‘que é,.expressio de um sentimento coletivo, de ums emogdo comum experimentada até entéo subterraneamente e que de repente jorra abertamente. Ai 2 intuigo da experiéncia funciona bem: 0 que vivo com 0s outros aqui e agora, o que vivi com outros em tal ac efervescéncia, sei, por um saber incorporado (é isso a intuigao), que outros podem vivé-lo alhures ou pelos mais diversos motivos. Motives que podem me ser desconhecidos, cesséncia me ¢ familiar: rituais que servem de anamnese a0 uy De fato, e ndo se trata de um imitil paradoxo, a saturagio do politico destaca, por oposigéo, a emergéncia de uma nova forma de socialidade. Basta prestar atencao para discemnir-Ihe a riqueza origi- nal ¢a fecundidade, Por néo terem objetivos precisos, as efervescén- cias emocionais, das quais acabo de falar, exigem um acréseimo de atengdo. Quando um aparece em destaque, freqlentemente com cstardalhaco, é fécil observar que serve, na maior parte do tempo, de «pre-texto», varidvel quanto formulagdo, mudando quanto & expres- sio. «Pre-texto», conforme a etimologia do termo, pois anuncia 0 verdadeiro texto social escrito no dia-a-dia, A especificidade dessa cbuligto, como de toda cultura nas- conte, € 0 «presentefsmon, que se esgota in actu, basta-se a si mes- ‘mo e, para além de algumas de suas afirmages, ndo se proj futuro. Numerosos so 0s conflitos sociais que ganham ser de tal presenteismo. Para retomar uma distingao importante, pouco considerada nas analises correntes, a politica, no seu conjunto, € dramética, isto é, repousa sobre a busca de solug6es: todos os pro- ble ‘ou podem ser resolvidos. Dai 2 gestii primordial do tem- po. Diferente € 0 sentimento trdgico da vida presente na origem das diversas efervescéncias coletivas. Para este pouco importa o objetivo ‘@atingir, a finalidade, somente tendo sentido © momento «oportuno» artithado aqui e agora. Sob essa luz se pode compreender a volta em forga desses rituais, de maior ou menor importéncia, que pontuam a vida social. * Rituais cotidianos, claro, todos os pequenos gestos anédinos exceutados sem q ‘momentos, de for essencial da cena social; rituais de conflitos di privados, que repetem ao infinito 0 vaivém amor ng ‘emocionais negligenciados pelo racionslismo ocidental Marx, na Questo Judaica, vi jea a forma profena da Ele ni disse, na época isso estava implicito, que se trata- igido crista, tendo por pivés essenciais um Deus criador, wm além a atingir © uma transcendéncia absoluta. Nesse sentido, com efeito, a politica retoma de uma espécie de transcendéncia imanente, da busca de uma felicidade terrena que niio repousa sobre nenhum adiamento do gozo. E nesse sentido que s¢ pode falar em trigico: nfo hi um além para 0 que se vive agora. Apolitca, entéo, nfo tem mais razio de ser, pois nlo ha mais tempo # gerir. No maximo, ele pode também entrar na imanéncia absolute © tomar-se o espeticulo que, de resto, nfo deixa de ser. Assim, 0 po- Titico perde o que tinha feito a sua grandeza e especificidade durante toda a modemnidade: a administragéo do sagrado que, sucedendo 20 sacerdote e ao re, terminou por controlar. Assim, 0 rito, que une por unit, no tendo, rigorosamente, nnenhutn conteiido, é uma boa itustrago do imanentismo. Durkheim bem o compreendera ao ver que a fo ultrapassa a idéia de ."" Véese bem que esses ritos expiatérios no sto racio- nalmente estabelecidos, nem objetos de decretos particulares, mas .gerados pelo sentimento coletivo. E, de toda maneira, areagiio de um ‘corpo especifico qualquer: a grande sociedade, um grupo intermedié- rio, uma pequena tribo, uma estrutura familiar ou mesmo amorosa que experimenta a necessidade de «recompor-se» e, por isso mesmo, de partilhar 0 choro ou riso; resulta disso 0 reforso da comunicasio, © 0 corpo social sabe novamente, através de saber incorparado, o que faz junto. Aplicaresse esquema a sociedade pés-modema é bastante facil. Como ndo ver na multiplicidade dos faits divers mais ou menos san- que faz sonhar ou nos softimentos da star condo a expresso de tai ritos expiat6rios, Chora-se, rise, participa- 528 vontade e sente-se assim em comunhio com totalidade do corpo social. Ocorre que a midia, principalmente a televisdo, favorece essa «correspondéncia» magica. Nao é preciso nenhum estudo cientifico para compreender a importincia, em nossas «estranhas lucarnas», das catistrofes acontecidas nos quatro cantos do mundo. Nao nos oupam de nada: inc€ndios ¢ terremotos, compos calcinados, cadaveres ‘amontoados, garotinhas agonizando durante dias sob 0 olho impotente das cameras, ete. Trata-se, sem que se esteja bem consciente disso, de ‘urna maneira de reforgar a comunhéo moral. Ritos televisuais centra- dos no insignificante, do ponto de vista politico, que, entretanto, nfo deixam de fazer sociedade. Sabe-se que, no mundo inteiro, milhées de pessoas participam das mesmas alegrias e dores, numa nova ‘«comunhdo dos santos», com a mesma eficécia daquela que une, no seu ato fundador, os figis da Igreja crista. 0 fait divers como nova ! Nada ha nisso de frivolo, Mas a traducdo da forga viva do sentimento, Agé mundi, essa cola do mundo sobre z qual se interrogavam 0s alquimistas da Idade Média, depois de ter sido a marca da religiéo e do exprime- se nz atualidade na religiosidade. multipli- ‘cidade de rituais eujo inventério ainda precisa ser feito." Enquanto 122 tantas Forgas centrifugas operam - agre i indiferenga —, 0 que susteata o mundo, assegurando-the tal coeréncia? Inspirando-me livremente em Nietzsche, propus em obras anteriores Considerar a vontade ou o querer-viver social como uma das respostas ‘ssa questo. Tomam-se, com muita freqléncia, essas noses como expressdes de um otimismo invetorado. Nada disso. O querer-viver, ‘no que tem de primétio, de vital, de teimoso, é, por muitos aspectos, trigico. A consciéncia sé Ihe vem por acréscimo; ele & antes de tudo a expresso de uma paixio ou de uma atrago meio animal. © rito rememora tudo isso, Depois de uma forte pressio racionalista, que durou toda a modernidade, ele mostra o papel de- sempenhado pela paix comum no fato social. Assim como mostrei alhures (O Tempo das Tribos),o rito € essencialmente tribal, consti- {ui o proprio fundamento da memiéria coletiva e serve de cimento as ‘epresentagdes comuns, lembrando, em data fixa, a eficdcia reno- vada destas. A vida cotidiana encarrega-se do restante que, através dos habitos, costumes, gestos, conhecimentos incorporados , claro, da educasio institucionalizada instilao itil a coexéncia social. Aris. \steles, falando da exis ou Santo Tomés de Aquino, com o habitus, demonstraram a importincia desse ritual: ele encarna, no sentido profundo do termo, dé wearne» a0 sent Participago num grupo. Ja Halbwacl ua ligacdo existente entre a meméria coletiva ¢ a repetigao: «tudo se passa como se a lembranga s6 fosse repetigion. Surpreet uma concepgao linear e finalista da Hist € causa e efeito de uma concepgio do tempo. As diversas celebragdes estdo ai para prové-lo, assim como a constituigo das equenas tribos; 0 ressurgimento da etnicidade coroando tudo isso, 8 repeti¢ao, 0 rito, o cielo reforgam um sentimento vivid na proxi- midade. O rito, nes cadeamento das tido, favorece, para bem ou mal, o descn- Fungo principal, ou quem sabe tinica, Eucelebraro cla, re 0S Seus membros a paixfio por ele». Tudo isso 6 jwando se considera um evento esportive ‘mundial em que, sem muito contetido com ajuda da violencia, a equipe nacional contomével, a tal ponto que o chefe de Estado chega ¢ retardar sua participagdo numa importante reunigo econdmica com seus pares a fim de estar presente a final do futebol ¢ prestigiar a equipe de seu pais. O «rebelde sem causa», 0 «fl», 0 whooligany ou qualquer outro ‘marginal socando 0 ar para manifestar seu apego a equipe, pela qual veio de muito Longe torcer, deve ser colocado no mesmo plano do referido chefe de Estado, Cada um, do seu jeito, reforya a paixdo co- ‘mum, participa de um ritual de anamnese, celebra, numa palavra, 0 , © que ocorre com frequéncia em Heidegger ou, a0 menos, entre os seus epigonos, mas antes de ver ai a qualidade fandamental do estar-junto. Perspectiva ‘que ndo substitu certo, as andlises socioldgicas mais empiricas, mas que no deixa de dar a esta uma profindidade, uma acuidade em geral ausentes. «on» como fundamento antropolégico de toda sociedade é Pois uma constante que se exprimiré com maior on menor intensi- ‘dade. Assim, 20 contririo das sociedades tradicionais, pode-se dizer que a modemnidade tentou evacué-la totalmente ou a0 menos apagar- Ihe 0s efeitos mais espetaculares. A partir de Descartes, por exemplo, Seguido pelos Iuministas,elaborou-se essa metaflsica da subjetividade, {ilosofia da consciéncia com 0s efeitos conhecidos. Certo, os filésofog ‘milo puderam fazer totalmente a economia do espirito coletivo ou outras ‘mentalidades de grupo, mas a tendéncia do que esti em jogo ¢ bem a realiza¢o do sujeito pensante, auténomo, consciente, senhor de uma hist6ria individual a realizar e ator contratual de uma historia coletiva ‘em marcha. Em tudo iso, ao menos como ideal ou como ideologia, 0 con» $6 ocupa um lugar menor. Nao por acaso & entlo que se Doram os grandes sistemas de interpretagio, as «grandes narra legitimadoras» que marcaram a modemidade ¢ fazem dos 3 individaais, ou do sujeito histrico, « chave universal de toda expli- cagtio do mundo. Tudo isso ja esté bem analisado, initil cont ‘mente diferentes so as chamadas socicdades mesma época diferencas notéveis entre paises, cida- izagies. Assim, ndo se pode julgar da mesma maneira a do individuo em Atenas ow em Esparta. Mas aqui, na mi- , basta indicar que, mesmo por razées essencialmente 163 priticas, seguranga, proteedo, educagio, o individuo s6 podia viver ‘ou sobreviver estando estreitamente enquadrado pela rede societal. Ele 6 tinha, no sentido profiundo do termo, identidade sendo membro integral de uma cidade, de uma tribo, de uma familia precisa Guardadas as proporgdes, algo da mesma ordem opera-se entre 16s, Certo, no podemos comparar, termo a termo, a situagao do in- dividuo nas sociedades tradicionais com a de nossos dias, mas apro- images esclarecedoras podem, com pertinéncia, ser feitas. Antes de tudo, quanto 20 que diz respeito & massificagdo de nossas sociedades. Parece, efetivamente, que 0 «instinto de massa», dado fundamental dahumanidade, ver alcangando uma atualidade inimagindvel. Pode- 80, aqui, fazer referencia & andlise de E. Canetti que, no seu livro ‘Massa ¢ poder, mostra, de mancira profética, como essa «massa, considerada superada, encontra-se em toda parte ¢ etn todos 03 dominios como explicagdo de numerosas atitudes, de miltiplas situa ‘Ges € fendmenos de nossos séculos. Ora, para ele, uma das caracte- quando das aglomeragdes esportivas, musicais Através disso, imitando 0 outro, comungo com essa entidade coletiva da qual participo ¢, em conjunto, reinterpreta-se mimeticamente a criagao. Hi de fato uma «poténcian na massa que ultrapassa cada individuo, fazendo-o membro de um «genius» coletivo, génio que, a ‘exemplo da deidade, cria a sociedade no seu meio natural e social. E pposs{vel que exista na massa pés-moderna una energiacriadora, tendo por fonte uma forga vital indiferenciada, reatando assim como 0 substrato arcaico, fundamento de todo estar-junto. E ‘quanto as emogées televisuais, esportivas, turisticas. Tudo isso suscita ‘a surpresa, a suspeita, o desprezo ou a condenagio pelas belas almas ‘acionalistas, desfavorecendo a compreensio de um fenémeno social @ desenvolver-se ainda muito mais. Parece mais judicioso analisar todos esses fenémenos, Como expresso de um querer-viver irreprimivel, o que, para aléin dos esteredtipos servindo de emblemas, encontra no mais primitivo dos arquétipos seu fundamento cultural, Agora que se acabam os charmes discretos do racionalismo modemo ou, ao menos, quando irrompe na praga publica tudo o que © racionalismo quis evacuar ~ 0s imaginérios, os sonhos coletivos, 0 {idico e outras manifestagdes de simbolismo -, nfo & inti, no fmbito de um procedimento intelectual licido e sem demasiadas ilusdes, analisar a sutil dialética existente entre a consciéncia humana mais izada ea «solidariedade primitivay, totalmente inconsciente, do i vegetativo de base. Isso nos obrigaria a admitir, como bem o © socidlogo bastante ¢injustamente jgnorado J, M. Guyau, que © uma «poténcie moral» dos clds, que por concatenagao delimitava uma espécie 170 Particular. Ora, a principal earacteristica dessa forga & ser «andni- ima ¢ impessoal» ou, ainds, «imanente ao mundo». Trata-se por- tanto de uma energia gl € espiritual) que se investe no © qual se adaptaraé em scguida, as festas de «confirmagdo», a is40 que pode, do exterior, outtos pequenos grupos. Essa acom Parecer anirquica € pois uma sinestesia integrando ordem e desor- dem numa ordem orginica cuja sol ‘mede na longa duragao, Tudo isso mostra bem a poténcia religiosa do «nds» enquanto fal, ¢ dos «nds» em conjunto. Assim, as imensidades especificas, fundamento das tribos, ea antinomia dos valores engendrados por ela podem desembocar numa ordem scm mais nada a ver com a légica ‘acionalista, mas que nlo deixa de tera sua prépria razdo, intrinseca, produtora de sociedades. A metifora religiosa é um bom dngulo de ataque para captar a l6gica passional em obra em tal ordem orgénica ssa I6gica pode ser exclusiva e excludente, ¢ as intolerancias, os fanatismos, as efervescéncias emocionais esto ai para prové-lo; mas na longa durago, a mancira de um saber» etolégico que sente até onde pode ir 2 lerincia, essas exclusividades conseguemn ior, abs- {ratamente, como foi o caso durante a modernidade. A implosio do Estado-nagio, o enfraquecimento das instituiges e de outras estru- turas estiveis demonstram-no. Portanto, voliar & religiosidade do «avs» pode ajudar a pensar a lenta elaborago de uma ordem organica em esbogo durante a gestago de uma nova maneira de estar-junto. Nao se trata de algo novo, Tomemos apenas alguns exemplos. Quando se considera a elaboragio, no Antigo Testamento, do Povo cleito, observa-se que, ao lado da bi tica ou dos aconteci- nr vezes, atravessam-na, ‘ importincia do papel desempenhado pelos profetas que vivem em col6nias, formam comunidades unidas ¢ comungam no éxtase. Tudo isso revela a energia intrinseca, exclusiva, parccendo ter pouca rela- 0 com o mundo circundante. No entanto, essa energia se difunde ‘20 corpo social de maneira, por vezes, contrastada e conilitual ¢ it ‘ica nelen.2 Assim, para 0 mistco, a despesa na deidade, logo a ¢ uma maneire de voltar & plenitude, de atualizar lades em gérmen nele e seca capaz de permitir a conquista de um "ovo eleito em questo. Fssas comunidades poderes estabelecidos, de vituperar Contra cles, de tié-los da sonoléncia e de assim restaurar a forga vital resulta numa forga enfraquecida, ‘0 mesmo vale para a constitui¢ao do que se tomard a Igreja catdlica, No comeco, no passava de um aglomerado de pequenas seitas em tomo de um sopos, de um lugar: timulo de um santo, de um tantemente em sua fonte primeira: potentia ex Deo veniens. Essa Essa observagiio que 0 ser facilmente extrapolada abusar de uma metafor logo Guyau aplica a arte pode Conjunto da existéncia social. Para , bd uma «meméria de Agua» feita de onstituem um tesouro comum, no que), de maneira mais ou menos consciente, cada um vai abastever. S$: © mundo sendo entio taken for granted (Sehiitz), que partilho com outros. Bis o que constitui o fandamento de um «corpo» politico, causa e efeito do corpo indivi também que nuangao inatismo ou onaturlismo de cert interpreta, ‘Ho platénica, mostrando a reversibilidade existente entre o specto estitico desse dado ¢ a dindmica da utilizagao, do reinvestimento individual do mesmo. ‘Na base do politico, encontra-se essa part de que na sua origem, este € a ad comuns, de tudo o que anatureza coloca a do grupo familiar. M. Weber utiliza, de rest (Werwandkschafi) para qualificar um cor) ‘mesmo tempo, insiste sobre a identificagao ¢ a distingfo dos grupos primitivos entre eles." A partitha nesse sentido relaciona-se dircta- Mas, ainda que sob a forma de resquicio, a partilha cormunitéria de um corpo comum —o corpo da netureza, 0 corpo dos bens, 0 corpus itico ou ideol6gico — permaneco uma referéncia & qual, em caso de nalismos ou afirmagdes cul Nio pretendo desenvol comunitério € uma constante 4 qual se faz referéncia quando se trata de garantir, de reforgar ou de rememorar a forga dos sentimen- tos ou das razdes que justificam o estar-junto. Até mesmo Marx, apologista do prog destacou a fecundidade do arcaico, Na sua carta & Vera Zassoulich, sobre a comuna (a obscina) ra seu aspecto prospectivo, reproduzida na Origem da fami ‘mostra que no se deve hesitar ¢ saltar por cima da Idade «na época primitiva de cada povo» para compreender que com fre- ‘qUéncia encontramos «no mais antigo, o mais modernoy,"°Tem-se ai, sem paradoxo, o que poderia ser uma definigdo da pos-moder- nidade: 0 arcaico reinvestido pelo modemno ou moderne entrando tem sinergia com os elementos mais arcaicos, primeiros, primordiais de toda a humanidade. 180 Seja como for, de Leibniz a Marx, para citar apenas os priori, estio bastante afastados de preocupagées se seguir 0 rastro da comunidade e da partitha indy condutor que serve de ossatura i constituigio do ‘mesmo a solidez.e que se rememora quando se faz nect 2 solidariedade orpénica dos protagonistas da vide so forem, depois, as legitimagdes ou as racionalizagdes dadas a0 ha sempre esse alicerce comunitario que se pode querer rigir, reformar, conforme as perspeetivas ou as tendénc ‘mas se reconhece como uma realidade absolutamente incontomével, Além de tudo, cada vez que uma sociedade se interroga sobre o que, no sentido mais simples do termo, «garanten sua realidade de Sociedade ou, ainda, sempre que se tenta encontrar as razdes justi- junto, faz-se referéncia& utopia comunit prnpido politic. Astra das utopias é banat onan core Plexa, no a abordarei aqui, mas o ponto comm a todas elas é 0 retomo, orenascimento ou a solidificagio da «eomunidade orginicay como modelo da relagdo sem poder entre 0 «eu» € 0 «tu». Relagio ‘Que permite superar o peso das limitagdes econdmicas e socials ¢ assim reestruturar uma nov. ‘ou outras formas de institu Jecido."'Reencontra-se aqui i 30 Ghauuma veo cormuntrio serve de anemnesee portato defrtificanie presente, Depois de é-lo mostrado quanto & instituigdo em geral,o ral ‘que desperta, produz acontecimento e assim dé novas forgas a de- terminada instituiga0, Esquema andlogo propée Durkheim, para quem «ndio pode ha- ver sociedade que nao sinta a necessidade de atvalizar ede fortalecer, a intervalos regulares, 05: letivas que fazem sua unidade e' 86 pode ser obtida por n sregagBes nas quais 0s in dos outros». Além da pradéncia ‘onde, sempre conforme 0 nosso soci6logo, tais proporgdes que conduz a atos extraordinérios». alcangado esse estado de exaltagéo, o homem ndose. Sente-se na descrigdo quase um lamento ou, ao menos, do ponto de ‘vista rcionalista, o reconhecimento de um perigo, pois essa exaltagdo engendra.a exteriorizagdo, a explosio, a agregagio fusional em torno dessas miltiplas imagens que sHo os totens emblem urgiment fio», reset 1to das ocasibes festivas mostram que a «exteriorizagdon, necessidade de tocé-lo é mesmo uma cons- Ao insistir com a globalidad rando todos os elementos da carapaga individual salta,¢ a emogdo ou as paixdes tornam-se ex- pressées condensatias do mundo social. Foi o que demonstrouP. Ansart litica baseia-se na «gestio des paixes» ou, ainda, «paixdes conformes», A andlise que ele faz de sob Luis XIV ¢ totalmente instrutiva, pois salienta co- ais, aldeds, sem esquecer os festivais cul- de produtos tipicos, afirma-se eestampa-se com solenidade, em graus diversos e com maior ou menor consciéncia, 8 vinculagdo de todos ao corpo social. Estaré isso préximo do que Holderlin chamava de «nacionabs? Trata- se de um sentido de vinculagdo, de uma quase parte de um todo ou, para retomar um termo solidariedade organica de contornos pouco pr cia e resistencia nfo podem ser negligenciad do pensamento alemio tem-se isso no conceito de nagéo, 0 comunidade assim compreendida é uma evidéncia com forte carga 183 « constituem-se € desempenham pap que Durkheim atribuia as festas «corroboriv: reforgar 0 sentimento comum, estimular a tomada de consciéneia da participagfo numa ‘mesma comunidade. Pode-se esclarecer esse propésito com uma referéncia és nogdes de Einfiihlung, de W. Worringer, ou de vontade de arte, de A. Riegl. Termos amplamente utilizados pelos arte, mas que continuam pertinentes ~ a exteriorizago, a pulstio gregaria, 0 desejo de viscosidade -, operam na «ética da esiétican que me preocupa aqui. Cada um do seu jeito enfatiza a empatia, a wobjetivagio de si», a globalidade organica derivada do goz0 ¢s- ‘tético. Em conjunto, destacam a estrcita ligagdo existente entre reniincia de si, a projegdo e o querer-viver. Em resumo: «enquanto nas suas especificidades, da vida. Trata-se de um paradoxo fundador do qual se pode medir a portinéncia extrapolando-o para a realidade social. De fato, proje- tando-se, participando, magicamente, de um conjunto mais amplo, 198 © rompendo, assim, a catapaga individual, aleanga-se uma espécie de real ‘mo se reconhece como tal, mas ¢ causa e efeito de um espirito do tempo que ndo é mais futurista, mas se dedica a valorizar um inega- ‘vel gozo no presente. E certamente nessa perspectiva que se pode compreender as intensidades cotidianas, as cultu cia, € mais ficil e evita pensar esses fendmenos em profundidade, mas € um termo que nfo serve, a0 menos no sentido obtido na cultura politica. De fato, o que est em jogo é a ordenagdo de um tempo, de ‘um espago partithado com outros, fora de preocupagdes com teorias sgerais ou programas projetivos. Ha jegzo na Sar a8 coisas, as natureza, na existéneia cotidiana, cenfira que per- ‘mite falar em transfigura¢do do politico numa forma de «doméstico», este no sendo a aceitagao do status quo, mas antes uma maneira de adaptago a0 outro, de agregeeo ao outro, numa dindmica que, se nada tem de linear, nio pretende menos exercer uma espécie de erania em relag&o ao tempo vivido, Ao tempo homogéneo & io do conceito histérico, sucede assim a oportunidade do acon- tecimento, a intensidade da duracdo, o cuidado, algo trigico, de vviver um instante eterno. Tudo isso é que se vé em obra nas tribos contemporineas, desprezando 0 «dever-ser» projetivo e privilegiando, sem falsa ver. gonha, o que é, omundo como ele se déia ver, c a viver, com toda sua imperfeigzo. De Santo Agostinho, retirando-se com alguns amigos nna campanha milanesa, és diversas comunidades ardéchoises que 199 marcaram os anos 70, sem esquecer os grupos de estetas que, no ena virada deste, gostavam de encontrar-se fim do século ps cm jardins para tica enfim reunidos, se pode viver, fora ou iro de Théléme ou 0 parque das Afinidades eletivas, Em cada caso, esté em jogo 0 mito do paraiso e seu jardim maravi Em nossos dias, esse jardim pode set uma realidade sim bistté, uma praca piblica, um banco no square das redondeza rua onde se ama deambular ¢ ainda muitas outras coisas. Pouco Porta, Basta que favoreea a «congregagion e permita escapar & socie- dade de controle: pais, educadores, para os jovens, familia, patrdes, para os adultos. Isso, certo, pode parecer bem esquemitico e dar bom (oa mau) cheiro a contestacZo social. Nada disso, a utopia em questo 6 na melhor das hipéteses uma utopia intersticial e, de toda manecira, ‘io é reconhecida como tal nem por seus protagonistas nem pelos intelectuais cuja funedo é dar nome as coisas. Digamos simplesmente que a busca do jardim mitico nada mais é do que a expresso dessa antiga pulséo, refortalecida na atualidade, consistindo em considerar © jogo do mundo como um mundo de jogos. Lembro-o aqui, o trigico faz parte dessa estética. Pouco im- porta gerir racionalmente as imperfeigdes socioccondmicas. A su- peragio dramética (conflitos, greves, luta de classes) das contradi- ‘Ges atuais no est mais na ordem do dia. Gestio e luta podem de a form de vestigios ou de explosbes inco: 9, consistindo, enfim, em usu ‘que é dado, do taken for grant concedido, & essa visdo lidica que anit cm profundidade, a estética cotidiana, para 0 melhor ou o pior, evi- dentemente, pois para além da gratuidade do jogo ha toda a sua mercantil resse aqui, somente a ten- déncia, inex conta, a0 menos quanto as préximas décadas, que circunsereve um «novo-antigo» estar-junto feito de despreo- cupagiio e de leveza, Fildsofos e socislogos, penso especialmente em Kante Spen- entre a estética e 0 lidico; «os sentimentos es pulsdo do jogo». Além di iva da vida social. A arte ela libertagao, econdmicas. Trata-se, figuras de um fogo de artificio se esgotam. to, eae sgotam no ato, suscitando intensa Pois esse ¢ de fato o interesse, a : interesse, aparentemente paradoxal, da stétca;favorece a identificagdo e assim faz sociedade. A aglutinagao 10 de um gi amor 0 fundamento mesmo das ‘mogoes estéticas; a admiragio desempenha 0 mesmo papel, e um dos interesses da psicanslise ¢ realmente a ligagdo estabelecida entre a sexualidade ¢ toda uma série de fendmenos sociais em pI io bastante distanciados de motiva- ‘¥5es sexuais. Com efeito, ndo é frivolo quem se interessa pela estética, mas em tende @ considerar «o sentimento moral & parte dos igagdo entre a vida moral, isto 6, a Vida impatia participativa pode de vez em quando ser minorada, "aso durante toda a modemidade, mas ela indo . © referente ao qual se volta regularm onde, talvez por saturagio da atitude prineipalmento al marcou os iltimos dois séculos, vemos afirmar-se e ‘maria da vida dos sentidos 201 ‘Numerosos so 08 que por juigar isso negativamente ou por valorizi-lo, admitem reconhecé-lo, Mas um erro amplamente disse- minado consiste em estabelecer uma ligagao entre esse grande retor- no do sensivel ¢ o individualismo ou 0 narcisismo que The seriam anexos. Efetivamente, ¢ é isso que justifica a identificago ou a par- ticipacdo estética, no sentido mais simples do termo, a transmissio papel do tocar, da tatilidade na estruturagio social, mas também arquitetural, pictural ou escultural. Pode-se dizer a mesma coisa desse barroco redivivus que ¢ a pés-modemidade: 0 fato de tocar 0 outro, de escutar com ele, de sentir conjuntamente e, claro, de ver juntos & uma maneira de socializar, de comunicar ¢ mesmo de harmonizar as diferengas, Sem fazer jogo de palavras, pode-se dizer que hé portanto uma relagio estreita entre os sentidos ¢ 0 sentido da vida. ‘Assim, para retomar a distingdo de Worringer, a0 contririo da abs- tragdo, a Einfhlung, a empatia, é um vetor de socializagao. Talvez ‘dominios, seremos obrigados a conceder a imaterialidade da emogto cstética um papel conseqiiente na instituigdo material da sociedade, Estamos no corago do paradoxo essencial da nossa época, aquele que, mesmo enfatizando as caracteristicas da pessoa — valo- rizagao do corpo, jogo de aparéncias, hedonismo multiforme —meta- morfoseia os seus efeitos numa espécie de subjetividade de massa. ‘A exacerbagao do sentimento individual transfigura-se numa cultura do sentimento negando o que the serve de suporte, Acestética relativiza, nesse sentido, 0 ego que Ihe gerou. Trata- sede um paradoxo que, como acontece freatientemente na cemespiral dos conjuntos culturas, encontra uma «forma» social tendo velhos atestados de nobreza. Para tomar apenas um exemplo entre Foncault que mostrou que a cura pitagoricas ou dos grupos epicuristas pertinente, de encontra ao atti sofias, que clas favorecem menos - Bree edo uriestente consigo do gue ume forte «intensiicpo Através disso sc instaura uma «nova estilistica da existénci { € preciso compreendet no sentido profundo do temo: an Sede o cas, marca de um époce, ambigncia global, na qual sees enba que o toma tributirio dos ous. Esso mesmo ae Ravi oinviduo eo inividuaismotesrico de sus egtia- fio. Assi, 0 cuidado des, a relatoconsigo mesmo, sigfca a0 ‘mesmo tempo asatragfo de uma ordem social paramenteracional ica c uma carte de vive», a qual, por forga das coi me-se num quadro comunitério de hegemonia emocional Tats de um procestorecorente mas a 8 valorizar o que propus chamar de « le pereiosentiment cletvosreula esas cnmppercecetens ue podem ser as efervescénces tribe (leventanenios dn een » por exemplo), as reivindicagdes étnicas, os diversoe a claismos Assim se anuncia a implosio das oes em etabelsias dos Estados na de ipo jcobino gue imps ste, abstratamente, sobre uina base ideols- rhe Eleva como co ce, iss mesmo que asnala a do politico e através disso prepara o nascimento de luma ordem social marcada pela empatia de forma totalmente 203 ABERTURA ‘Assim se Ié 0 livro antes de tudo fora dos seus limites Edmond Jabes © fato de que social, nacional ou internacional, na se baseie mais na simples razio mecdnica, numa gestiio do tico ou em consideragdes geopoliticas ou econdmicas, nko si fica que ela seja totalmente desordenada. Bem a0 contrério, a implosio de todo esse conjunto pode gerar, como foi 0 caso nas sociedades tradicionais, uma ordem secreta, uma raziio interna (0 logos spermatikos da filosofia grega), na qual a paixio, o sentimento, a razio no-instrumental entram em «sintonian para constituir uma das mais s6lidas organicidades. Tsso, claro, faz-se mais por ajustamentos @ posteriori que por vontade consciente 4 priori. Mas & passivel de ser considerado a imagem do que se passa com 0 corpo individual, do qual nos ocupamos; existe uma cenestesia global integrando funcionamentos e disfuncionamentos resultando, em conseqiiéncia disso, num equilfbrio, de contor- ‘nos imprevisiveis, mas que constitui, no sentido profundo do ter- ‘mo, um verdadeiro corpo social Isso se faz, de maneira ecologica, pela reversibilidade cons- tante que tende a estabelecer-se entre o individuo e o seu meio; este devendo ser compreendido como meio natural, mais também como meio social. Considerando «a arte do ponto de vista sociolégico», Guyau via no génio uma forma «intensa da simpatiay ou uma «po- téncia da sociabilidaden. O génio sendo entdo aquele que é capaz de «interessar-se por tudo e por todos para tudo compreendery.” se de uma faculdade de entusiasmo que sabe, gracas a wm saber incorporado, condensar a energia citcundante ou, ainda, que se de- dica a cristalizar 0 mundo na sua totalidade. Assim, faz estrutura do génio despersonalizar-se, dup! de esposar, através de sua criggfo, todas as facetas € todas as po- tcncialidades da existéncia. 207 A-exemplo do que aconteceu em outras épacas, pode-se real- mente considerar que esse génio e essa faculdade de entusiasmo se toram uma capacidade coletiva: 0 «genius», enquanto génio de um povo, de uma comunidade, de um lugar, de um determinado pequeno grupo. E assim que se pode compreender a vida como obra de arte, a cexisténcia como processo de atragio generalizads, como um novo meio social. Nesse sentido, 0 génio coletivo ea subj dde massa harmonizam as faculdades que so a imaginagio, a razio, 0 simbélico, 0 sensivel, numa espécie de simpatia universal, outra ‘maneira de expressar ¢ de viver um lago societal para além da redu- 80 do decreto racional, do «contrato social», sobre o qual se assentou a modemidade. Como a giutinaum mundi tanto preocupava os alquimistas medievais, 0 entusiasmo, a emogo, «a paixSo comum seriam o cimento que garantiria.a ligacdo, a gesto, ‘ajustamento dos individuos ¢ dos grupos entre eles, coisas que foram asseguradas pela politica durante os tltimos dois séculos, Em sintese, uum novo paradigma ou, para empregar 0 termo de M. Foucault, uma nova episteme instala-se, dando ao estar-junto, nas suas modulagdes nacional ou internacional, uma figura completamente diferente Através de um balanceamento cléssico, direi que a civiliza- «io burguesa, cujos contoras sdo bem conhecidos —razdo, progres 50, £8 no futuro - amplamente disseminada pelos quatro cantos do mundo, de Leste a Oeste, baseada no principium individu cede lugar @ uma cultura, em seu momento fundador segundo W. Jacger, grande historiador do espi- Tito grego, finca «suas raizes no mais profundo da vida comu taria» ¢ exprime assim uma «vida suprapessoal todo-poderos ‘Trata-se de uma observagdo que se pode utilizar, metaforicamente, para compreender os periodos de fundagto c, em particular, o nos. ida do fim da modernidade e do esbogo do que, na falta de melhor, pode-se chamar de pés-modernidade. Esta, de di- versas maneiras, vé o ress de valores arcaicos: particu- le, sineretismo, culto do ‘tnicidade, narcisismo de grupo, cujo denominador comum bem a dimensdo comunitéria. Tudo isso se exprime na saturagio do politico ou, mais exatamente, na sua transfiguragdo. Significa ico, em seu aspecto universal, normativo, racional , cede lugar ao wdoméstico», no que este tem de parti- cular, de libertério, de imagindrio e de afetual. E isso que propus chamar, no comeso deste livro, de «duplo» do politico, a sua face ‘obscura, da paindo, da centralidade subterrfnea, numa palavra, da poténcia popular, das utopias intersticiais que favorecem a fusio, as cfervescéncias pontuais e a prioridede dada a vida sem quali dades, coisas que possucm uma forte carga hedonista e presen- teista, Alguns denominam isso de idade ou de sociedade «pés- industrial» (A. Touraine, F. Jacques), o que € totalmente pertinente caso se trate de designar, de uma parte, a rel vismo ou do «fazer», através dos quais se modemos, ¢, de outra parte, a dimensto simbélica ou, de forma mais atual, a tenso comnicacional da subjetividade. Mais do que luma ago sobre o mundo, prevalece uma forma de contemplagdo do mundo. Contemplagao partithada com outros. O principium individuationis, do trabalho sobre si ¢ sobre o mundo, que serve de «génion de um grupo parti- cede lugar a0 principium relationis, da emogio englobante, favorecendo 0 que os : tecno- @ qual, mais do que uma simples tenmo, remete & formagi, & for 's para ii ssa mudanga. Isso exige uma subversio tedrica que sofre 209 dh lll para Se exprimir, tanto os nossos modos ¢ instrumentos de andlise sio formados por um intelectualismo mecanicista. Mas, depois de ‘A orgia divina e as diversas formas de transe especificas da sociedade pés-modemna nada mais t€m a ver com nenhuma transcen- déncia stricto sensu. Ao contririo, sfo causa ¢ efeito dos pequenos ia imanente que se preocups, antes de tudo, com a ordens- 40 de um territério, real ou simbélico, que partilho com outros. Em terespecifico; coisas que dio ao doméstico (domus) ou a ecologia (otkos) a atualidade sabida. Encontra-se aia diferenga essencial entre a wextensdo» judaico-crista, que conta com o juizo final ou com a Histéria para realizar a sociedade perfeita, e @ «in- tensdo», meio paga (paganus), terrestre, que, através da possessio, da contemplagdo, pretende realizar, aqui e agora, a divindade ou & divinizagio do social. De um lado, a politica e a historia, de outro, ‘odoméstico ¢ suas pequenas histérias Ainda que seja da ordem da banalidade, néo ¢ initil talvez lembrar que 0 grande processo de homogeneizacto e de recionaliza- so, inaugurado, no pensamento, na religiéo e na politica, com Des- cartes, Lutero e a Revolugio francesa, teve 0 seu apogeu no século ‘XIX com os grandes sistemas teéricos (Marx, Freud), aromanizacéo da Igreja (ou outras instituigdes eclesiésticas) © nico, Da mesma forma, ¢ correlativamente, 0 indi geneizagio da pessoa (persona) plural, nfo parece dade. Enfim, ¢ isso de maneira Iogica, 0 contrato soci internacional, nfo parece mai ser un modo operacional em nenburn dominio. De todos os lados, uma heterogencizagio galopante con- 210 integralmente as sociedades: o trabalho no obedece mais as leis da negociagiio, as economias so submetidas a uma ligica uerreira, as instituigdes tendem & fragmentagdo, a politica tribaliza- se € obedcee cada vez mais a um mecanismo de sedugdo, a religito cede lugar as formas menores do sagrado e a familia nuclear nfo tem mais 0 monopélio da gestio do sexo. Quanto ao individuo, hé bastante tempo que sua identidade, sexual, ideolégice, profissional, despedacou-se, deixando-o em confronto, de maneira intema, com, sua propria pluralizacto e, de maneita extema, com a exacerbagio ‘de uma alteridade das mais erudis. Pode-se entéo continuar a pensar ‘social a partir do pressuposto da solidariedade mecéinica? 0, que 0 interesse ¢ 0 desa- arte, vejo-os na instalagio, rplinica, feita de atragdes ¢ de ou de emogdes partilhadas, la mais tem a ver com a poli- , € surpreendente observar que, para desespero das autoridades de todas as cores, progressiva, de uma repulsbes, de ident sem conteidoreivindicativo pi sendo no caso «emogées demasiado vagas e genéricas para cons- ttuirem objeto real de confito>. De fato, a lta ou o confit exist, mas dé-se entre o «Estado ¢ nio-Estadon instituig80 regulada contratualmente, o px ‘ordem que parece desenhar-se € a de um conjunto de comunidades nem positivas nem unanimistas, mas precérias e submetidas & versatilidade da emoedo, Mais do que uma unidio plena, uma unio do projeto, a solidariedade nascente origina-se de uma unio na falta, no vazio; aU comunhao de soliddes que, p onde, de maneira orginica, a «pe vividas no dia-a-dia. , viver o trégico da fustio, morte» ¢ a vitalidade sto Graissessac-Palavas, 1989-1991 APENDICE Nas vetera instan nova non prodimus, Erasmo ‘An Crewx des apparences, pour 80 [No Fundo das aparénciss, Pewépolis, Vozes, FERRY, L. Homo aesthetieus, Pars, 1990. Capitulo 1 Cf, por exemplo, SIMMEL, @, Sacialogie et épistémologie, Pasi, 1981, preficio de J. Freund, p. 52. Do timo, deve-se, claro, consular 0 livre Disico, L‘Essonce du politique, Paris, 1965. * DURKHEIM, E. Les Formes élémentaires de la vie religieuse, Paris, 1968, p. 298, note 2. Sobre os diferentes tipos de «dominagbes legitimas» em Max Weber, ef, Economie ot Sociéié, Paris, 1971 21s 147, p. 200. Quanto as tribos primitivas, ef, FARB, P. Les Indiens, Paris, 2, 21 NACH, 8. Orpheus, Paris, 1930, p. 197; WEBER, M. Le Judaisme também LEVI-STRAUSS, C. Tristes ‘tuelle de Joachim de Flore, toro kde Joachim a Schelling, Paris, 1987, pp. 153-154. CE. igualmente WEBER, M, Le Judatsme antique, op. cit, p. 22 "CL EVOLA, J. La Mystique du Graal et V'idée impérialegibeline, Pasi, 1970, e 0 livo bastante erudito de YATES, F.A. La croix, Panis, 1978. Remeto igualmente a meu livio, MAFFESOLI, M. La Violence tialitare, Pacis, 1979, captalo sobre os Alurs de Uganda (4 , Sulina, 2001]; ef. BALANDIER, G. thropologie p 9, p. 123. UMEZIL, G Mythe et épopée, tomo I, Paris, 1968, pp. 195-197. “DURKHEIM, E. ‘Les Formes élémentaires de la pp. 300-309. E preciso fazer referéncia ao exc livro de Durkheim feito por PRADES, J. Persstance et métamorphoses iu sacré, Pais, 1987. Eu mesmo utlizei essa andlise durkhaniana in L'Ombre de Dionysos, contributions & ne socologie de orgie, Pais, 1982, Livre de Poche, 1991 [4 sombra de Dionisio, conribuigdo a uma ‘ologia da orgia, Rio de Janeiro, Graal, 1985} TUIZINGA, G L'Automne du Moyen Age, Pais, ELEUZE, G Le Phi, Leibniz etl baroque, Pais, 1988, p. 175 Sobre esses exemplos histéricos, cf LE ROY LADURIE, Le Carnaval de Romans, Paris, 1979, p. 34. MAQUIAVEL, N. Histoires florentines, Pars, Pldiade, 1952, p. 1066. CROCE, B. Galeas Caraccolo, Gencbr, 1965, pp. 28 ¢ 3. ; ™ Cf. SECHAN, L; e LEVEQUE, P. Les Grandes divinités de la Gréce, emente a andlise de Santo Agostinko feita por PU HC. Bn Quéte dela grose, Pais, 978, toma I, pp. 8-9. Quanto & revalorizago da parte de sombra do conhecimento, remeto ao livro de GILLABERT, E, Judas, Paris, 1989. ia, remeto as obras de FOUCAULT, M. Surveiller et pun Paris, 1975, ¢ de ELIAS, N. La Chullisation des moeurs, Paris, 1973, © 4 Paris, 1919 [4 % Remeto is obras sobre Port-Royal de MARIN, L. Critique du discowrs Pars, 1975, SFEZ, L.L'Enfer et Te paris, Pais, 1978, p-77 79. * Nogdo tomada de empréstimo aS. Lupasco, M. Beigbeder e (2 Durand Remetoa meu livro: MAFFESOLI, M. La Connaissance ondinaire, précis de sociologie comprehensive, Pris, 1985 [0 Conhecimento comum. $80 Paulo, Brasiliense, 1988). Sobre o racionalismo exacerbedo nos campos de concentragio, cf SCHEER, L. La Société sans maitres, Pais, 1977 ® REINACH, 8. Orpheus, Paris, 1930, pp. 32-36. Sobre a origem conventual da democracia, ef, MOULIN, L. La Gauche, la droite et le Paris, 1984 Recherches sur la nature et les causes de la richeste des UL, cap. I citado por SFEZ, L. L’Enfer et le paradis, CC, ambi os postulados do politico, SLAMA, A.G. Paris, 1978, p. Les Chasseurs d'absolu, Paris, 1980, p. 43. > JAEGER, W, Paideia La formation de l'homme grec, Pats, 1964, p 466, » Remeto s dues andlises dstanciadss no tempo, ms préximas quanto 40s resultados: BALZAC, E. La Bureaucracie céleste, Paris, 1968, € PAZ, ©. Courant aiternatif, Paris, 1972, p. 147. O primeiro, sobre a China antiga; 0 segundo, sobre 0 marxismo contemportneo. > TAMOUCH, G Conversations avee Kafka, Paris, 1978, p. 158. * Cf, CROCE, B. Galeas Caracciolo, Genebra, 1965, p. 31, e LE ROY LADURIE, Le Carnaval de Romans, Paris, 1979, pp. 107-108. Sobte @ guerra dos camponeses, cf. BLOCH, E. Thomas Minzer, teblogo da updo, Paris, 1968. IANNI, F. Des Affaire des familles, Paris, 1973, p. 64. Eu mesmo tema: MAFFESOLI, M. «La Maffia comme . Cahiers internacionancx de sociologie, Paris, ‘em Robespierreaanilise de COCHIN, A. Les Société 978, p77 Les Chasseurs d“absolu, Paris, 1980, p. 179, ® Cf. BURNHAM, J. La Domination mondiale, 1ebra, 1968, p. 79. Interpreto livremente essa audlise de Pareto, Cf, enfim ABELLIO, R. Sol Paris, 1980, sobre o efeivo Effets perverse Sociologie des ruptures, Paris, 1979, pp. 194, 164, 40. Capitulo * DURKHEIM, E, Le Socialisme, Paris, 1928, p. 144. Sobre a dialética instituido-institumte, remeto as obras de ALBERONI, F. Le Choc amoureuc, Paris, 1984. Sobre o saber popular, cf. meu livro, MAFFESOLL, M. 0 Conhecimento comum, op. cit. Cf. igualmente WATIER, P. «So- ciologie et sens commun», Cahiers de 1 imaginaire, Paris, 1990, n° 5. ® HEGEL, Lecons sur la philosophie de I'histoire, trad. Gibelin, Paris, 1963, p. 347. Quanto a Platdo, cf. DODDS, Les Grecs ef Pais, 1959, p. 212. i » DURKHEIM, E. Les Formes élémentaires de la vie religieuse, Paris, 1968, p. 298, © Sobre a morte sacrificial da chefia, cf. o capltulo I, «Poder/Poténcian, de 5» 1973, pp. 32-34. spirittuelle de Joachim de Flore, Paris, 1981, tomo |, pp. I 37, 177, Remeto igualmente a VANEIGEM, R Les Freres di libre esprit, Paris, 1986, ea BLOCH, E. Thomas Miinzer., théologien de Ia révolution, op. cit. Cf. também BENSAID, D. W. Benjani , Paris, 1990, p. 204, © STROHL, H. Luther jusqu'en 1520, Patis, 1962, p. 126. Sobre Santo Paris, 1969, np. 416, 520, 571 Sobre a duplicidade, remeto a0 capitulo consagrado a esse tema no meu livro, MAFFESOLL, M. La Conguéte du présent, Paris, 1917 [A Conquista do presente, Rio de Janeiro, Rocco, 1984], Sobre a sociedade compésita, cf SLAMA, AG, Les Chasse ais, 1980, p. 36. , serrorisme et poitique dans Iam médval 982, pp. 122, 176. Messianiome ju, Pais, 1974, p. 219. amhém as piginas 223 e 226. Sobre a metifora da ponte eda porta, ver SIMMEL, GLa Tragéie de la culture, Pats, 1988, p.159, ® SCHOLEM, G, op. cit, p. 243. CE. também, sobre a atitude relatva a administragio, a pagina 232, * SCHOLEM, G Sabbatai Tevi, edicdes Verdier, 1983, pp. 385-386. Cf. também p. 719. Sobre os frankistas, cf. SCHOLEM, G Le Messianisme, op. cit, p. 241 ® SCHOLEM, G. Le Messianisme, op. cit, p 364. Arespeito do séeulo XIX edo esublimismo», ef POULOT, D. Le Sublime, acio de A. Cotereau, Paris, 1980, Sobre as asicias contemporineas, cf, WILLEMER, A. L ‘Heroine travail, Genebra, 1979. CE. também algumas desenvolvidas no CEAQ — Sorbonne, Pais V— sobre 0 -trabalhon no trabalho e sobre a cultura parihada nas empresas. * CE MATTA, Robert da, Carnaval, maiandros e hers, Rio de Janeiro, Zaher, 1983 {Carnval, bandit ¢héros, ats, 1984, pp. também DUMAZEDIER, J. Revolution du temps Eu mesmo deseavolvio tema do lidico em MAFFES Dionysos, conribution dune sociologie de Voie, Pais, 2 edigao, 1991 (A sombra de Dionisio, conribuigdo a wma sociologia da orgia. Rio de Janeiro, Graal, 1985}. * JANOUCH, J. Conversation avec Kafka, Patis, 1978, p. 169. sobre a relativizagéo da influencia da televisto, f. WOLTON, D. La Folie du logs, Pats, p. 136. Sobre a westratégia da adaptagbon, cf. ADORNO, T Notes sur a littérature, Pais, 1984, p. 278. * SANTO TOMAS DI 10, De Deo uno, Quest. 23, art. 73, Remeto ue consagrei eo wsaber popular in Le Temps 3 [0 Tempo das tribos, Rio de Janeiro, Forense- Universitaria, 1988) * Para um bom exemplo, entre outros, dessa postura intelectual, cf ISAMBERT, F. Le Sens du sacré, Paris, 1982, histoire intellectuelle et Sobre a Viena fin de siécle, 219 for granieds, cf. SCHUTZ, A. Le Chercheur “CE. a esse respeito BENEDICT, R. Echa Le Souci de soi, Patis, | © RETZ, cardeal de, Mémoires, Pléiade, Paris, 1984, p. 325. Sobre 0 inracional na historia, cf SLAMA, AG Les Chasseurs d’absolu, Paris, 1990, pp. 1736 185. Remeto também a meu livro, MAFFESOLI, M. Aus Crews des apparences, Patis, 1990, capitulo 7, p.239 [No Fundo das aparéncias, isme, Oeuvres complétes. jomésticon em Fourier, cf. EM, G. ¢ SCHERER, R. L'Ame Aromique, pour une esthétique de I'ége nucléaire, Paris, 1986, p. 300. Sobre a «vida geralmente boa», cf, DURKHEIM, F, De la. da travail, Paris, 1926, p. 225. mnsocial Capitulo TI do Progresso, remeto a meu livro, MAFFESOLI, M. ire, Patis, 1979 [4 Violencia totalitaria, Porto Alegre, Sulina, 2001], Sobre o «fazer» ea noite de Tubingen, cf. SAFRANSKI, R. ‘Schopenhaeur et les années folles de la pl ie. Paris, 1990, p. 164. * SIMMEL, GLa Tragédie de ta culture, 238-242, Sobre uhopotogiques de WOLTFLIN, 1. cf. BOLLE DE BAL, M. La entation communautaire, nuxelas, 1988, SIMMEL, G Sociologie et epistémologie, Paris, 1981, p. 20 Sobre a forga do dionisiaco, op. cit. Sobre a «osmose» do est rowvelle gnose, Paris, 1981, p. 251 ” DURKHEIM, E. Les Formes élémemtaires de la vie religieuse, Patis, 1968, pp. 317 © 333 ™ FREUD, S. Un Souvenir d'enfance de Léonard de Vinci, Paris, 1927, p.7L CE. sobre esse ponto, SAFRANSKI, R. Sch de la philosophie, Paris, 1990, pp. % Remero aqui a0 capitulo sobre 0 «ti MAFFESOLL, M. La Conguéte du prése presente, Rio de Janeiro, Rocso, 198 iques, Paris, 1989, DURKHEIM, E. Les Formes élémentaires de la vie religicuse, Paris, 49. Cf também PRADES, J. Persistance et métamorphoses die Paris, 1987, andlise exaustiva das Formes élémentaires, MAFFESOLL, M. A Sombra de Dionisio, ef. ABELLIO, R. Approches de la topenhaeur et les années folles ni © repetiego em meu Livro, Paris, 1979 [4 Conguista do CE também RIVIERE, C. Les Les Formes lémentaires.. ™ DURKHEIM, B,, ibid, pp, 589-590, " Remeto aqui aos irabalhos de AUCLAIR, 8. Le Mana quotidien, Paris, 1972, sobre os fais divers. Cf. também sobre o boato, REUMAUX, F. tose de doutorado de Estado, Sorbonne, Paris V, "= MOSCOVICI, S. La Machine & faire de CE, sobre Halbwachs, NAMER, G Mémoi Paris, Bude sur te rate et les transformations de la culture le dans la socié contemporaine japonaixe, Sorboune, Peis V, 1982, p. 33. Cf. também PONS, P. Edo & Tokyo, Paris, 1988, . 150. “Pons p. 44, Cf. também BERQUE, A. «Paysage d'une autre Temps de ta réflexion, Pai de la raison eynigue, 1987, p. 8. Cf. também SAFRANSKL, Schopenhaeur et les années folles de la philosophie, Paris, 1980, pp.164 e 265. le de la culture, Paris, 19RR, p. 93. CF. tarabém « propésito de Chicago, HANNERZ, U. Explorer la ville, Paris, 1980, p. 44, Para um bom exemplo, entre outros, dessa postura intelectual, ef ISAMBERT, F. Le Sons du sacré, Paris, 1982. pp. 21 e 100, “CE DORELES, G LYitervalle perdu, ef. PONS, P. D Edo & Tokyo, op. re, Paris, 1988. I. La Pensée magonique, une sagesse pour l'Occident, Paris, 1988, p. 273, °' OLIEVENSTEIN, C. Le Non-dit des émotions, Paris, 1988, p. 52. CE também as pesquisas sobre o «rocks de CATHUS, 0. ¢, sobre a «acid house music», de GILLABERT, O., no CEAQ, Sorbonne, Paris V. Capitulo 1V © Cf, pelas referéncias © as citagées que di, JAEGER, W. Paideia, la formation de Vomme grec, Pais, 1964, pp. 161-162. Remeto também a ‘meu trabalho, MAFFESOLI, M. O Enraizamento dindmico, Grenoble, 1973, mimeo, publicado em parte sob o Paris, 1976 [Légica da domtinagao, Rio de Janeiro, Jorge Zar, | © CE a andlise de PATER, W. Bssai sur Vart et la Renaissance, Paris, 1985, pp. 158-159, % CE GUYAU, JM. Problimes de Westhétique contemporaine, Paris, pp. 38.39 46 id, pp. 48,59,178-179, Pode-se aproximarisso da nogio de «sintonian empregada por A. Schittz. CL. «Faire a musique ensemble» in Société, n° 0, Paris, 1984. CE. também as pesquisas de CATHUS, ©., s rock», e de GILLABERT, ©., «Acid house musien, CEAQ, Sotbonne, Pars V. ® CE BASTIDE, R. Images du Nordeste mystique en noir et blanc, Pandora, 1978, p. 193. Sobre a «acid house music», cf. a8 pesquisas citadas avima. CE. JAEGER, W. Paideia, la formation de l'homme grec, Paris, ® SIMMEL, @ Philosophie de ta modernité, P CE DURAND, G Les Structures anthropolos 10* edigao, 1984, CZ. também Beaux-arts et archétypes, Pati BERQUE, A. Le Sauvage et l'artifice, Paris, 1987; aqui a referéncia 6 tirada de Vivre Uespace an Jay 4d. © PONS, Ph. D’Edo a Tokyo, mér 276, ‘0 Gitado in TORRES, F. Déja vu, Paris, 1988, pp. 94, 306 e, sobre as raizes, 135-140, Remeto também & minha andlise sobre a ética do instante, in MAFFESOLI, M. La Conguéte die pré i, 1979 (4 Conquista Paris, 1988, p. 222 do presente, Rio de Jancio, Rosco, 1984]. "= CE. BAZIN, G. Destin du baroque, Pati, 1970, p. 231. ECO, U. La Guerre du foux, Pris, 1983, p. 82. Réflexion sur les racines communes de l'homme créareur, Paris, Académie de Beaux-Arts, 1986, p. 6. Sobre a pintura figurativa, cf. DURAND, G. Mitolusismo de Lima de Freitas, Post- ‘modernisme et modernité de la tradition (bilingte), Lisboa, 1987. Capitulo V ™ Cf. JACQUES, F. Différence et subject "CE SIMMEL, G Philosophie de la moder m0, Bp. oa ‘Oph Pasi, 1989, tomo |, pp. "Cf. DURAND, G Les Siructures anthropologiques del imaginaire, Paris, 1960. B também BERQUE, A. Vivre espace au Japon, Pati, 1982. ™ Sobre essas categorias e comparagdes, cf. WOLFFLIN, Principes fondamentauax de Uhistoire de 1 © 235, Cf também FERNANDEZ, D, Le Banguet des anges, Pats, onsagrei um capitulo ao barroco in MAFFESOLI, M. du Crewx des oppernces, ai, 980 [No undo ds aparincias, Ppa Vor, " Sem falar dos autores contemporéneos sobre as origens dessa reticéncia, sf. LALO, Ch, Notion d’esthétique, Paris, 1948, p. 38 ‘ SIMMEL, G La Tragédlie de la culture, Paris, "® Citado por ARON, R., «Sociologisie et 30 Weber», in Commentaire, 1986, 8, La Machine & faire des diewx, Paris, 1988, cf. ROBIN, J. Changer d’ére. Patis, 1988, p. 19. 3" DURAND, G. Les Structures anthropologigues de U'imaginaire, Pais, 1960, pp. 311. CArt au poi de ve scolgique, 1" eg, Pais 1920, pp. 7.e 9. ce 2 NSIMONDON, G L ndviduation prychique et colective, Pais, 1989, pla, id pp. 13-14, 18. CF também meu livro, MAFFESOLI, M. Au Crean des apparences, Paris, 1990 [No Fundo das aparéneias, Petrépolis, Vozes, 1996}, capitulo sobre as idemtificagses miltiplas. 223 LOME, L.. L'Amour du narcissisme, citado in LE RIDER, iennoise, Paris, 1990, p. 78, Sigo a aciéiés, Paris, 1987, np. 66 ¢ 71. Sobre 0 apleromay, ef, TEILHARD DE CHARDIN, P Le Milieu divin, Paris, 1957, p. 43. DURKHEIM, E. Les Formes élémentaires de (a vie religieuse, Patis, Livre de Poche, 1991, pp. 269 «272, " Para o Antigo Testamento, ef. ABECASSIS, A. Za Pensée juive, Pars, 1987, tao |, pp. 4-55. Sobre a Igreja cablica, ef BROWN, P. La Société et le sacré, Paris, 1985. Desenvolvi esses exemplos em MAFFESOLI, M Le Temps des tribus, 191 (0 Tempo das eibos, Rio de Janeiro, Forense- ™ BENZ. E. Les Sources mystiques de la philosophie romantique allemande, Patis, 1981, pp. 30-31. Sobre Lutero, ef. STROHL, H. Luther Jusqu’en 1520, Paris, 1962, p. 126. ™ FERRAROTTI, F. Le Paradoxe du sacré, Broxelas, as «inclinages integrais», of DURAND, G, «L’Astol TUnus Muuds», in L'Astrofogie, Paris, 1988, “IABELLIO, R. Les Militants, Pais, 1975, pp. 49 ¢ 53. ™ JACQUES, F. Différence et subj aris, 1982, pp. 149-152 © DELEUZE, G. Le Pli, Leibniz et le baroque, Pats, 1988, p. 113. 8" GUYAU, 1-M. L'Art au point de vue 1920, p. 70. * Citado por PRADES, J, Persistance et métamorphoses du sacré, 1962, pp. 214-217, "© MARX, K., «Letre & Engels», in ENGELS, FL 'Origine de la famille, Paris, 1975, pp, 322-329, MARX, K. Oewores completes, Pisiade, Paris, 1538, |. Redemption et wtopie, Pais, 198, p73. Sobre a diakética insttuinte-institatdo, ef. ALBERONI, F. Le Choe amoureus, Paris, 1980. 987, p. 75. Sobre ™ DURKHEIM, E, Les Formes élémentatres de la vie religieuse, Paris, 1968, pp. 610 e 303-312. ANSARI, P. La Gestion des passions politiques, Paris, 1983, pp. Polémologie conjugal, Paris, 1986, p. 204. "CE, sobre os «Wandervogely, STERN, F. Politique et désesp 1990, p. 193. Cf. também a pesquisa de BARREYRE, 1.Y. CEAQ, Sorbonne, Paris V, 1990. 985, n° 3, Paris, 1988, pp. 307-309. Cf. também SIMMEL, G, «Les grandes ville et la vie ée'esprit», Cahiers de I'Herne, Patis, 1983, p.141. " FERRAROTI, F. J Grattacieli non harmo fogtie, Bari, 1991, pp. 19 € RENAN, E. Les Apdires, Pars, 1984 p.2. Cf também SCHOLEM, Sabbatat Teevi, Verdier, 1983, pp. 667-668. 4 Sobre Fourie, of, HOCQUENGHEM, G. SCHERER, R. L'Ame atomique, pour une esthétque de lage nuciéaie, Paris, 1986, p. 287 Sobre a atragdo, cf. uambém TACUSSEL, P. Attraction sociale, Pais, 1984, Cr. enfim a recherche sur le tourisme» de URBAIN, J.D., in Idiot du village, Pass, 1991 ' Citado por LUBAC, H. Pic de la Mirandole, Pati, 1974, pp. 176-17. Cf também MAUSS, M. Sociologic et Anthropologie, Paris, 1973, p. 126, e MOSCOVICI, 8. La Machine & faire des diewe, Pris, 1988, p. 69. 1 GUYAU, JM. Problémes de 'esthétique contemporaine, Pars, 19 pp. 26 € 48. 1 CF, a andlise ¢ as referéacias nesse sentido de MALDINEY, H. Arte ‘ence, Pats, 1985, pp. 83-85. 1. 0 exemplo dos estetas de Viena, in SCHORSKE, C. Vienne fin de , 1983, pp. 288-289. GUYAU, JM. Problémes de I'esthétique contemporaine, Pris, 19 p. 23. Cf, ambém do mesmo autor, L'Art au point de vue sociologique, Paris, 1920, pp. 3-4. Sobre o baroco, ef, meu livro, MAFFESOLI, M. Au Creuse des apparences, Pais, 1990 [No Fundo das aparéncias, Perépolis, Yozes, 1996 225 \ FOUCAULT, M. Le Souci de soi, Paris, 1984, pp. 67 © 89. Abertura © GUYAU, JM. L'Art au point de vue sociologique, Paris, 1920, pp. 27-30, “JAEGER, W. Paideta, la formation de homme grec, Paris, 1964, p.23. 'S WEBER, M. Economie ef Société, Pari, 1971, p. 5 péssindustrial, JACQUES, F. Diffrence et subjectivité, Paris, 1982, p. 10. © AGAMBEN, G La Conimunauté qui vient, Paris, 1990, p. 88. indice Onomastico ABECASSIS, A., 224 ABELLIO, R., 60, 174, 175,217, 221, 224, ANDREAS SALOME, L,, 166, 224, ANSAR, P, 27, 183,215, 224. ARON, R., 223 AUCLAIR, G, 221 BAADER, 172. BACHOFEN, J., 100 BAUDELAIRE, Ch., 7. BAUDRILLARD, J, 201, 218. BAZIN, G, 149, 223, BENEDICT, R,, 220. BENJAMIN, , 149, 218, BURNHAM, 217. BUSINO, G, 217. CANETTI, E., 164, 223 CASALE, U,, 72 CASTELLION, S., 37. CATHUS, 0, 222, CLASTRE! COCHIN, A, COMTE, A.,72° CONDORCET, M,, 67, 68 227 COTTEREAL, A., 249, FRA DOLCINO, 72. JONHSTON, V. M,, 219, 194, 220, 225, CROCE, B., 27, 54, 216, 217. FRANCALANZA, G,, 52. JUNG, C. G, 198, MICHEL, R,, 63. ! Da MATTA, R., 88. FRANK, J, 85. KAFKA, F,, 52, 90, 217, 219, MICHELET, J, 75, 218, FREUD, S. 14, 210, 215, KANT, E,, 196, 201 21 KENJI, T, 124, 221 FREUND, J., 25, 26, 215. KRETSCHMER, 162, 167, KHRUCHTCHEY, N,, 52, 93. GIDDENS, A., 225. KUEN, T,70. DOUGLAS, M., 225. LA BOETIE, E,, 24, 30, 51. MOURGUES, ), 222. DUMAZEDIER, J, 88, 129, 219, LALAOUNIS, L150, 223. MONZER, T, 73, 217, 218. LALO, Ch, 223. MUSIL, R., 185, : LEIBNIZ, G, 36, 179, 181, 216, GREEN. J. 224. NAMER, G, 221 ea oe | LE ROY LADURIE, E, 36, 54, 137, 138, , 201, 207, 222, LEVEQUE, P, 216. OLIEVENSTEIN, C., 222. 223, 224, 225, 226. LEVI-STRAUSS, C,, 29, 96, 216, 13, 177, 178, 182, I 220 PARETO, W, 48, 53, 59, 60, 82, | , 215, 216, 217, 218, 220, 221, HALBWACHS, M., 123, 221 LEWIS, 159, 247 223, 224. HANNERZ, V, 221 Luis. PATER, W,, 222. DUVIGNAUD, J,, 87. HEGEL, GW.F, 68, 97, 105, 140, LUIS XP . PAZ, O,, 216, 217, | 218, LOWY, M, PEGUY, Ch, 35, 72. ECKHARTS, 172 HEIDEGGER, M., 162, 163, 223, LUBAG, H., 72,216,218, 224, PENNACHIONI, L, 224 ECO, U., 72,223 HERCULES, 225, PINDARO, 136. ! HITLER, A., 161 LUPASCO, S., $7, 195, 217. PLATAO, 68, 137, 218, HOCQUENGHEM, G., 220, 225. LUTERO, M., 54, 73, 74, 75, 173, PONS, Ph., 124, 125, 221, 222, i HOLDERLIN, 108, 183. 210, 224. 225, HUIZINGA, 35, 216. POULOT, D, j MACHADO DE ASSIS, 91. PRADES, 1,216, 221. IANNI, F, $5, 2 McLUBAN, M, 144, PRYLUSKI, 162. FAURE ti ISAMBERT, F 219,22 MAISTRE 3s PUECHL Ch 31. FERNANDEZ, D ISHAGHPOUR.Y. 233 ALDINE, 25, FERRAROT MAQUIAVEL, 51 28,27, 56,74, RECLUS,E, 100 | FERRY, L,, 215. JABES. E,, 205. REINACH, &., 29, 45, 216, 217. "29,72,216 218. IaCQUIES 186, 08,293,204 FOUCAUET, i, 198,702, 235 36 208,216 2202 JAEGER, W, 4,136, 209,217, FOURIER. Ch. 72,101, 193,200, 221.095" 96 25 TaMoueH. 217 se 28 29 SOREL, G, ‘SOROKIN, P, 63. SPENCER, H., 201. ROBIN, J., 223. SPENGLER, 0,, 197. RORSCHACH, H., 162. STERN, F,, 225. ‘STROHL, H., 218, 224 SANTO AGOSTINHO, 39, 73, 74, SZONDI, 164, 198, 223. SAO JOAQ, 48. TACUSSEL, P.. 161, 221, 225. SAO PAULO, 48, 169. TALLEYRAND, 30. SAINT-SIMON, 49, 67, 72. TAPIE, B., 69. SANTO TOMAS DE AQUINO, —TEILHARD DE CHARDIN, 224. 29, 109, 123, 219. TORRES, F., 149, 223. ‘SANSAO, 138, TOURAINE, A., 209. SARTRE, 1. SCHEER, L. URBAIN, J. D., 225. SCHELLING, F,, 72, 105, 140, 168, 216, VALERY, P. 15, 21, 133, SCHERER, R., 220, 225. VANEIGEM, R218. SCHMT 101, 184. VAN GOGH, V., 162. SCHOLEM, G, 83, 84,85, 191, WATIER, B, 218. 219, 225. WEBER, M., 24, 29, 35, 41, 86, SCHOPENHAUER, A., 95, 116, 94, 140, 159, 180, 196, 210, 215, 126. 216, 223, 226. SCHORSKE, L., 225. WILLEMER, A., 219. SCHUTZ, 97, 139,179, WITTGENSTEIN, L,, 14. WOLFFLIN, M., 109, 157, 158, 220, 223. WOLTON, D., 219. WORRINGER, W,, 198, 202. YATES, F.A., 216, ‘ZASSOULICH, V., 180, ZINOVIEN, G, 52. Outras obras do autor publicadas no Brasil: - Logica da dominagdo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1978. - A conquista do presente. Rio de Janeiro, Rocco, 1984. - d sombra de Dionisio, Rio de Janeiro, Graal, 1985, - O tempo das tribos. Rio de Janeiro, Forense-Universitiria, 1987. - Dindmica da violéncia, Sto Paulo, Vértice, 1987. - O conhecimento comum, Sio Paulo, Brasiliense, 1988. - A contemplacdo do mundo. Porto Alegre, Artes & Oficios, 1995. = No fundo das aparéncias, Petropolis, Vozes, 1996, Elogio da razio sensivel, Petrépolis, Vozes, 1998. ~ Sobre 0 nomadismo - vagabundagem pés-moderda. Rio de Taneiro, Record, 2001, -AVioléncia: a ensatos de antropologia politica, Porto Alegre, l Sulina, 24 FOSFOROGRAFICO IDESIGN EDITORIAL (6000 -PE MEE,B ro foi confeecionado especialmente para AETROPOLE em defesa da vida, da arte, da liberdade, do estar- junto € do "supérfiuo necessério", A Transfiguracao do Politico desmonta os projetos futuristas empe- nhados em oferecer & sociedade grandes ideais, as utopias cldssicas que desabaram. 0 horror soci impulsionado pelo pragmatismo econémico, s6 no esmaga definitivamente as populagdes porque, nos subterraneos do dia-2-dia, surgem microsc6picas construgées sociais capazes de reinventar 0 querer viver e garantir um lugar para a imaginagao. Complexo, polissémico e generoso, 0 pensa- mento de Michel Maffesoli abre-se para 0 mistico, 0 delitio, as formas alternativas ou paralelas de viver @, mais do que tudo, para a critica do racionalismo a servigo do produtivismo que faz dos homens me- tos escravos da geragdo de riquezes. Para quem? Vibrante apologia do ~ em oposigao ao im- pério do lucro -, de "vida sem qualidades", da ma- ia dos excluides e impiedosa genealogia da ex- ploragao social repugnante © permanente, A Trans- figuragéo do Politico € uma obra para ser lida por quem ama a humanidade, mas néo tem ilusdes quanto aos podres poderes, Juremir Machado da Silva, Julho de 2005 Michel Matfesoli nasceu em 1944, Lecionou ‘em Grenoble @ em Estrasburgo antes de ir para a Universidade René Descartes, Paris V, Sorbonne. Dirige o Centro de Estudos sobre o Atual e 0 Quoti- diano (CEAQ) e a revista Sociétés.

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