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Revista de Economia Politica, vol. 19, n° 2 (74), abril-junho/1999 Keynes e os Novos-Keynesianos* JOAO sIcsU** The article uses Keynes” ideas to analyze New Keynesian economics, its assump- tions and its most important corollaries. It examines the crucial assumption of New Keynesian economics: the stickiness of prices and wages. Concluded this analysis, thes Keynesian new-school’s results and methods are criticized. One carries out the conclu- sion that only conflicts emerge in the relation between Keynes and New Keynesian economists. Jé que a economia keynesiana & derivada, por definigao, dos escritos de John Maynard Keynes, poder-se-ia pensar que ler Keynes & uma arte importante do modo keynesiano de fazer teoria. De fato, exatamente 0 oposto é 0 verdadeiro. Gregory Mankiw 1. INTRODUCGAO No interior do mainstream, o pensamento econdmico amplamente hegeménico até o final dos anos 80 foi elaborado pela escola novo-clissica. As bases desse pensa- mento eram: i) os agentes maximizam suas fungGes utilidade e lucro e formam expec- tativas racionais e ii) os mercados se auto-equilibram automaticamente via preos que, logicamente, so plenamente flexiveis. Segundo a teoria novo-classica, na auséncia de erros expectacionais, os niveis de produto e de emprego de equilibrio somente se alterariam se houvesse mudangas de gosto e/ou choques tecnolégicos. Diferentemen- te, novos-keynesianos acreditam que flutuagdes do produto, assim como a existéncia de desemprego involuntirio, ocorrem em fungdo basicamente da existéncia de falhas de mercado. A imperfeicdio de mercado que novos-keynesianos advogam € a rigidez de precos e salirios — que impediria o equilibrio instanténeo dos mercados (é a negacao da hipotese ii acima citada). Dessa forma, ao final dos anos 80, quebrou-se o consen- so ortodoxo com o surgimento de uma nova corrente: a escola novo-keynesiana. * autor agradece a Fernando Cardim de Carvalho, Jennifer Hermann e a um parecerista andnimo pelos valiosos comentirios. Valem, entretanto, as observagdes de praxe. ** Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense/UFF 84 © objetivo deste artigo é fazer uma analise das hipéteses e principais corolérios da economia novo-keynesiana a partir das idéias originais do patrono da nova corrente, John Maynard Keynes. Para tanto, faz-se uma minuciosa andlise comparativa do sig- nificado da hipétese da rigidez de pregos ¢ salrios na teoria novo-keynesiana e na teoria de Keynes. A partir desse diagnéstico, os resultados e métodos novos-keynesianos sio criticados. Conclui-se que existe uma enorme distancia tedrica entre Keynes ¢ a nova corrente. Os argumentos apresentados no artigo no colocam os novos-keynesianos no mesmo lugar que os criticos de Keynes um dia o colocaram. Referindo-se as idéias de Keynes, seus adversirios afirmavam que 0 novo estava errado e 0 certo era velho. Diferentemente, concluir-se-4 que a novidade novo-keynesiana é louvavel, ou seja, a busca de realismo para as hipdtese é digna de elogios, embora seja desnecessiria para demonstrar o velho, isto é, aquilo que ja estava na General Theory: a existéncia de posigdes de equilibrio econdmico aquém do produto de pleno emprego. Na secdo seguinte, mostram-se quais so as hipéteses (microeconémicas) da es- cola novo-keynesiana e afirma-se que a teoria de Keynes pode atingir os mesmos re- sultados macroeconémicos alcangados pela nova corrente sem se utilizar da hipote- ses da rigidez: Keynes demonstrou que a economia pode atingir posigdes de equili: brio aquém do pleno emprego sem se utilizar de hipétese referentes 4 flexibilidade da variaveis pregos e salarios. Na sego 3, apresenta-se o modelo de Keynes e provam-se duas questdes absolutamente cruciais para evidenciar qual é a disténcia tedrica entre Keynes ¢ os novos-keynesianos: i) 0 desemprego involuntirio e flutuagdes do produ- to existem independentemente do grau de rigidez das variaveis pregos e salirios ¢ ii) flexibilidade plena dessas variveis nao implica necessariamente equilibrio de pleno emprego. Na segio 4, aprofunda-se a discussio a respeito das duas posigdes, tratam- se de temas relevantes, tais como politica econdmica, realismo das hipsteses, raio de acdo dos modelos, dentre outrs, assim como faz-se um sumério das principais con- clusdes do artigo. 2. FUNDAMENTOS DA ESCOLA NOVO-KEYNESIANA! A escola novo-keynesiana afirma que a microeconomia walrasiana é inadequa- da A andlise macroeconémica de curto prazo, isto &, 4 macrokeynesiana, que é defini- da por essa nova corrente como o campo de estudos que considera como pontos cen- trais a existéncia de desemprego persistente e de flutuagdes econémicas (Mankiw, 1993, p. 3). Segundo os novos-keynesianos, precos e salirios so rigidos. Tal observacdo, por um lado, invalidaria a micro walrasiana e, por outro, explicaria a existéncia de desequilibrios macroeconémicos. A microeconomia walrasiana teoriza sobre um mundo em que vigora a perfeita competi¢do com plena informagao e que agentes tomam decisdes de pregos ¢ salarios em resposta a desequilibrios no mercado de bens e de artigo analisa unicamente a corrente que é predominante entre os novos-keynesianos, cujos maiores expoentes sio Gregory Mankiw ¢ David Romer. Tal corrente da énfase & rigidez de precos ¢ salérios para explicar desequilibrios macroeconémicos. Existe uma outra corrente novo-keynesiana liderada por Joseph Stiglitz que tem destacado a importancia da pesquisa seguir outro rumo: 0 estudo dos mecanismos de ra cionamento de crédito (falhas de informagao, selego adversa, fator moral...) € sua repercussdo sobre 0 imento ¢ a demanda agregada, Essa iltima ndo seré tratada no artigo. trabalho. Portanto, essa teoria microecondmica é, obviamente, inadequada como ins- trumento de andlise do curto prazo, o ambiente em que, por hipotese, precos ¢ salari- os seriam rigidos Salarios e pregos rigidos nao sio o extremo oposto de salirios e pregos integral- mente flexiveis. Rigidez nao o contrario de flexibilidade. Rigidez e flexibilidade so propriedades que se referem, ambas, & velocidade de ajuste de variaveis econémicas. Para novos-keynesianos, um prego plenamente flexivel eliminaria instantaneamente excessos de oferta ou demanda: somente com pregos integralmente flexiveis poderia ser valida a afirmativa de que mercados se auto-equilibram automaticamente. Entre- tanto, segundo essa nova versio keynesiana, o prego rigido de uma determinada mer- cadoria também caminha na diregao do nivel que equilibraria o seu mercado. Contu- do, tal deslocamento seria extremamente lento. Portanto, variaveis rigidas sio varia- veis lentas — e nio varidveis fixas, Em conseqiiéncia, o tempo de ajuste se tornaria demasiadamente longo na presenga de varidveis rigidas. E nesse sentido que o termo rigido 6 utilizado por novos-keynesianos. Para 0 novo-keynesianismo, no longo prazo, que pode ser definido como 0 con- texto econémico em que os mercados se auto-equilibram via precos e sabirios, a curva de oferta agregada é inelastica ¢ inexiste desemprego involuntario. Conseqiientemen- te, a micro walrasiana é util e a macrokeynesiana ¢ imitil como instrumento para ana- lisar o longo prazo, porque nesse contexto nao existiriam flutuagées econémicas nem desemprego involuntario. No longo prazo, valeriam a micro walrasiana e a macro novo- classica, Portanto, novos-keynesianos nao so a negagio da escola novo-clissica, apenas destacam a sua inadequagao para o curto prazo. No que diz respeito a esse ponto, Paul Davidson, um critico da nova corrente, aduziu que “... a economia novo-clissica é a teoria geral e a economia novo-keynesiana é um caso especial” (1994, p. 292) No curto prazo, que é, em verdade, o objeto principal de andlise dos novos-key- nesianos, se encontra 0 desafio de explicar os comportamentos dos agentes que tor- nam as variaveis precos ¢ salirios rigidas. Tal explicago, velhos-keynesianos da sin- ese neoelissica nao foram capazes de elaborar; o velho-keynesianismo foi acusado por novos-classicos e, também, por novos-keynesianos de descrever comportamentos irracionais para os agentes econdmicos (Mankiw, 1990, pp. 1656-7). Segundo o novo- keynesianismo, no curto prazo, qualquer redugdo da demanda teria efeito somente sobre as quantidades produzidas (isto é uma curva de oferta agregada perfeitamente clasti- ca) —e, no mercado de trabalho, salarios reais elevados e rigidos provocariam exces- so de oferta de mao-de-obra. Insatisfeitos com os argumentos microeconémicos do velho-keynesianismo que explicavam as falhas de mercado, novos-keynesianos em meados dos anos 80 inicia- ram um pujante movimento de pesquisa a busca de microfundamentos. Primeiramen- te, enfatizaram a importancia dos modelos de custo do menu, posteriormente, investi- ram nos modelos de rigidez real, em particular, o microfundamento baseado na exis- téncia de um salério de eficiéncia. 2.1. Custo do menu: o primeiro microfundamento Novos-keynesianos consideram que as firmas so price-makers e tém que enfren- tar 0 chamado custo do menu: & 0 custo que a firma depara quando deseja alterar 0 86 prego de uma determinada mercadoria que produz. E um gasto superior ao custo de etiquetagem, Envolve, além desse tiltimo, por exemplo, as despesas com campanhas para informar os consumidores ou o custo referente ao tempo gasto para discutir a propria mudanga de preco. O custo do menu, segundo Mankiw (1990, p. 1657), é um rigoroso microfundamento para explicar por que uma queda de demanda induz uma firma a cortar a produgdo em lugar de simplesmente reduzir os pregos, tal como pre- gariam os novos-classicos. Explicaria, assim, por que seria lucrativamente compensador reduzir quantidades e manter pregos e nao 0 contririo, Em outras palavras, o custo do menu pode esclarecer por que firmas tomam decisdes que néo sio restauradoras do equilibrio original diante de uma queda de demanda. Segundo novos-keynesianos, 0 custo do menu, considerado uma reduzida barreira que impediria a redugdo de preco, poderia provocar uma notavel queda de bem-estar social diante de um declinio da demanda nominal, dado que um certo numero de fir- mas pode avaliar que seria compensador manter os seus pregos em vez de reduzi- los. (Romer, 1993, p. 8) As decisées dessas firmas afetam outras firmas através da externalidade da demanda agregada (Romer, 1993, pp. 13-4): a queda de determina- dos pregos, ainda que poucos, provocaria uma redugao no nivel geral de pregos, as- sim, o estoque real de moeda aumentaria e, via efeito-riqueza, elevaria o patamar de gastos da economia, neutralizando o efeito inicial da queda de demanda. Contudo, como 0s precos sao rigidos, devido ao custo do menu, decisdes individuais de um certo niimero de firmas espalham seus efeitos pelo conjunto da economia e impedem 0 es- toque real de moeda de crescer, portanto, essa rigidez — provocada por uma pequena barreira — causaria elevados custos sociais. Além do custo do menu, os modelos novos-keynesianos de falhas de coordena- ¢do podem também explicar a rigidez de precos. Dentro do contexto tedrico da nova versio do keynesianismo, uma redugao global de pregos neutralizaria os efeitos per- versos de uma queda de demanda. Contudo, uma redugio do nivel de pregos é 0 re- sultado de decisées individuais, Se cada empresa imaginar que todas as demais nao vio reduzir seus pregos, também nao cortaria os seus. Tal atitude seria racional, por- que uma redugao isolada de pregos provocaria uma mudanga de posigdo relativa de mercado. Assim, os pregos podem ser rigidos simplesmente porque cada firma espe- ra que sejam rigidos, mesmo que tal rigidez seja prejudicial a todos. O resultado é que uma recessio, na ética novo-keynesiana, pode ser conseqiiéncia de uma falha de coor- denagio entre firmas que abortaria um eventual proceso de redugao de pregos. A conclusio novo-keynesiana de que quedas de demanda provocam redugdes do nivel de oferta no é nova. Keynes, ha pelo menos 60 anos, ja havia aleangado o mes- mo resultado. E, velhos-keynesianos, neste aspecto, ja haviam concordado com Key- nes ¢ alardearam esses resultados durante as décadas de 1940/50/60 — quase que sem sofrer qualquer contestagao. Portanto, novos-keynesianos buscam: i) reviver essa con- clusio nos moldes dos velhos-keynesianos, isto ¢, redugdes de demanda somente pro- vocam quedas de oferta porque os pregos sao rigidos ¢ ii) mostrar que a rigidez dos pregos possui rigorosos microfundamentos tedricos e empiricos. Cabe destacar que 2 Onivel de produto que correspondle a um contexto de plena flexibilidade das variaveis precos e salarios éconsiderado dtimo e, portanto, gera satisfacdo social maxima. A maioria dos modelos novos-keynesianos sempre parte de um situaco em que o produto estava em seu nivel étimo, 87 as explicagdes de Keynes sobre variagdes do produto, a partir de quedas da demanda, esto longe de ser fundamentadas em falhas do mercado — suas explicagdes sto de- talhadamente apresentadas & frente. A diferenga bisica entre velhos e novos-keynesianos gira em torno do significa- do do termo rigidez. Segundo Tobin (1993, pp. 46-8), os pregos, embora rigidos, ten- dem a se mover numa velocidade maior do que aquela aceita por novos-keynesianos Sobre essa questo, novos-clissicos e novos-keynesianos representariam pélos opos- tos. Os primeiros supdem que os pregos possuem a capacidade de ajustamento ins- tantinea, enquanto os tiltimos tentam mostrar que, na pritica, a velocidade de ajusta- mento dos precos € desprezivel. Entre os dois pélos, estariam os velhos-keynesianos que advogariam a existéncia de uma curva de oferta agregada com alguma elasticida- de e que, conseqiientemente, quedas de demanda nao teriam efeito exclusivamente sobre quantidades, mas também, e em alguma medida, sobre pregos.? Embora, Keynes, velhos-keynesianos e os novos-keynesianos tenham alcangado conclusées idénticas, o modelo original exposto na General Theory nitidamente con- sidera a rigidez de precos dispensavel para explicar as variagdes das quantidades pro- duzidas que ocorrem em fungio de oscilagdes da demanda por bens e servigos. A teo- tia econdmica de Keynes é compativel, inclusive, com um mundo em que vigora a plena competigao e os pregos si plenamente flexiveis. As condigdes do lado da oferta, isto 6, se firmas slo price-makers ou price-takers, sio irrelevantes para a determinagio das quantidades produzidas. Para Keynes, antes que a economia alcance o nivel de pleno emprego, ¢ a demanda, independentemente das condigdes de oferta, que determina o volume da produgio. Contudo, o velho-keynesiano Tobin afirmou: “... Keynes fingiu que estava supondo plena competigo em todos os mercados” (1993, p. 56). Se essa afirmativa de Tobin fosse verdadeira, a revolugao tedrica de Keynes que eclodiu com a publicagio da General Theory teria sido insignificante porque todos os seus adver- sdrios concordavam que recess6es ocorreriam se precos fossem rigidos.* 2.2. Salario de eficiéncia: 0 segundo microfundamento Os desequilibrios no mercado de bens so explicados basicamente pela existén- cia do custo do menu. Os desequilibrios no mercado de trabalho sio explicados pela existéncia do saldrio de eficiéncia. Esse tipo de remuneragao impede a queda do sa- Gordon (1990, p.1136) jd havia esbogado uma posigdo que parece ser idéntica a de Tobin, quando afi ‘mou: “... é melhor considerar como a principal caracteristica da economia [velho-] keynesiana 0 ujustu- ‘mento gradual de precos ¢ seu corolario que 0 produto ¢ 0 emprego nio sio variaveis de escolha”. (gri- fou-se 0 original). Romer (1993, p. 5), provavelmente também concordando com Tobin, descreveu a ec nomia velho-keynesiana utilizando os termos vagaroso e lento (slow e sluggish) para se referir as varid- vveis prego e saldrio, Nao utilizou 0 termo rigido (sticky ou rigid) consagrado na literatura novo-keynesiana. * Essas palavras de Tobin contrariam frontalmente o que verdadeiramente esti escrito na General Theory, Keynes apenas considerou que 0 regime competitivo entre firmas , conseqientemente, o grau de flexibi- lidade dos precos, era dispensivel para explicar as flutuagdes econémicas. Vejam-se as palavras do pr prio Keynes: “tomamos como dado (...) 0 grau de competicao [e outros fatores] (..). Isso ndo significa {que supomos que sejam constantes; nos somente no estamos considerando os efeitos e as conseqiiéncias ‘que decorrem das suas variagdes.” (1973, cap.18, p, 245 — grifou-se o original). Posteriormente, Keynes no capitulo 19 da General Theory mostrou o funcionamento do seu modelo em um contexto em que pre- 08 € saldrios eram flexiveis, 88 lario real que eliminaria 0 excesso de oferta de mao-de-obra — tal como afirmava a teoria do emprego da (velha) economia classica. O chamado salario de eficiéncia ¢ assim conhecido porque as firmas mesmo diante do desemprego no reduzem o sala- rio real em nome da manutengao da eficiéncia do trabalhador, isto é, manutengio da produtividade. Os argumentos para mostrar a relago existente entre salario real e produtividade so variados, Mankiw (1990, p. 1658) destacou trés: i) trabalhadores com salirios reais mais baixos so menos leais a firma, no “suam a camisa” da sua empresa; ii) salarios reais mais baixos provocam a perda dos mais habeis empregados expressa-sé aqui um problema de selegdo adversa: absorvem-se os piores e vio embora os melhores ¢ iii) a tarefa de monitoramento das firmas sobre as atividades de seus trabalhadores nao é perfeita, assim, quando 0 trabalhador recebe um salario real menor, torna-se irresponsavel no cumprimento das suas tarefas, aceitando correr orisco de ser demitido — esboga-se aqui uma situagtio em que aflora o conhecido fator moral (moral hazard). Em todas essas argumentagdes, busca-se mostrar que, mesmo diante do desem- prego, seria reduzido o incentivo da firma para rebaixar salarios reais. A reducao de salarios reais geraria perda de produtividade do trabalho. Logo, quanto maior fosse esse efeito-produtividade, menor seria o estimulo da firma para cortar salarios; dessa forma, seriam neutralizadas as forgas da competigao entre trabalhadores. Ademais, 0 salario de eficiéncia representa um custo para a firma que se transforma em mais um fator de rigidez de pregos. Assim, nao somente o custo do menu ou as falhas de coor- denago tornam os pregos rigidos, o salirio de eficiéncia reforga, via custos, a exis- téncia dessa rigidez nominal. Portanto, segundo os novos-keynesianos, a rigidez dos salarios reais € util para explicar um desemprego do tipo clissico; e desequilibrios keynesianos (flutuagdes no mercado de bens) podem ser explicados pela rigidez de saldrios reais, falhas de coordenagao e custo do menu, simultaneamente. Novos-keynesianos reconhecem, ainda, que os salirios reais podem ser rigidos por outras causas que no somente a necessidade de a firma manter a produtividade do trabalho inalterada. A abordagem insider/outsider tenta, também, demonstrar tal rigidez. Os insiders sao trabalhadores experientes, qualificados e, em geral, filiados a sindicatos fortes que protegem seus empregos com uma variedade de custos de de- misstio que impossibilita a firma de dispensé-los. Os outsiders sfio aqueles que estdio involuntariamente desempregados e que, por essa razio, no sio considerados prio- ritarios pelos dirigentes sindicais vis: Jo aqueles que desejariam trabalhar por um salario inferior ao saldrio pago a um insider, mas para a firma 0 cus- to da demissio nao ¢ compensado pelo salario, ainda que menor, que seria pago a um outsider. Além disso, no custo de demissio estariam incluidos os gastos com treina- mento de outsiders, por ventura, admitidos. Nesse modelo, a rigidez imposta pelos insiders se sobrepe & flexibilidade desejada pelos outsiders Os modelos de defasagem temporal de reajuste também so capazes de explicar a tigidez de salarios. Esses modelos demonstram que cada grupo de trabalhadores poderia aceitar uma redugio de seu salirio nominal se todos os demais trabalhadores reduzissem proporcionalmente e simultaneamente suas remuneragdes. Contudo, em virtude da existéncia de datas diferenciadas de reajuste, cada grupo relutara em ser 0 primeiro a aceitar a queda de seus salérios. Primeiramente, porque tal atitude, ainda que temporariamente, implicaria uma redugdo relativa de remuneragao ¢, em segun- vis os insider 89 do lugar, nao haveria garantias de que, quando a data de reajuste dos demais trabalha- dores chegasse, eles aceitariam a diminuic&o nominal dos seus salirios. Assim, a de- fasagem temporal de reajustes de sakirios individuais torna o nivel global de salirios rigido, Para novos-keynesianos, se vigorasse a plena flexibilidade de salarios reais e as remuneragdes variassem negativamente diante da ocorréncia de desemprego invo- luntério, o mercado de trabalho estaria sempre equilibrado, Tal construcdo tedrica, longe de ser uma afirmativa revolucionéria, esté integralmente em sintonia com a teoria do desemprego da vetha escola classica, Keynes para mostrar quao insurgentes eram as suas posigdes em relagao as idéias cléssicas do desemprego reproduziu na sua Gene- ral Theory as palavras de Pigou, alids muito semelhantes as de Mankiw e Romer, Se- guem-se os termos de Pigou: “... o desemprego existente em qualquer momento se deve integralmente as condigdes da demanda [por trabalho] que variam de maneira conti- nua ¢ As resisténcias friccionais que impedem os ajustamentos salariais adequados de ocorrer instantaneamente” (citado em Keynes, 1973, p. 278). O teor revolucionario das proposicdes de Keynes estava na argumentaco que afirmava que o desemprego involuntario emergiria independentemente da existéncia de resisténcias friccionais. Para Keynes, tal como o produto, o nivel de emprego é determinado pela demanda no mercado de bens. Diferentemente de velhos-classicos e de novos-keynesianos, Keynes recusou 0 uso da tesoura marshalliana aplicada ao mercado de trabalho, Se- gundo Keynes, as relagdes que se estabelecem entre trabalhadores e empresirios no mercado de trabalho no sao capazes de determinar o nivel de emprego, mesmo em um ambiente com salérios reais plenamente flexiveis. Em suma, para Keynes o mer- cado de trabalho nao é auto-suficiente para determinar o nivel de mao-de-obra em- pregado, esse seria apenas um reflexo das decisées referentes ao mercado de bens que, por sua vez, so regidas pelo principio da demanda efetiva 3. O MODELO DA GENERAL THEORY: O PRINCIPIO DA DEMANDA EFETIVA Keynes rejeitou a teoria do emprego da velha economia classica. Rejeitou a uti- lizagio da tesoura marshalliana aplicada ao mercado de trabalho como instrumento Util a determinagdo do nivel de emprego. As curvas de oferta e demanda por mao-de- obra da tesoura marshalliana sao sustentadas, segundo Keynes, por dois postulados da velha economia clissica. A curva de demanda por trabalho é derivada do primeiro postulado classico — “o salario [real] é igual ao produto marginal do trabalho” (Key- nes, 1973, p. 5) —, associado & hipétese de retornos marginais decrescentes. Assim, ‘obtém-se uma curva de demanda por trabalho (N‘) negativamente inclinada no plano salario real (W/P) x nivel de emprego (N) — tal como é mostrado no grafico 1 (ver p. 100 deste artigo). Keynes aceitou esse primeiro postulado Keynes recusou o segundo postulado clissico: “a utilidade do salario [real] quando um dado volume de trabalho esta empregado ¢ igual a desutilidade marginal do mon- tante de emprego” (Keynes, 1973, p. 5). Os motivos que o levaram a essa negagao foram: i) trabalhadores nao podem determinar o salario real, mas simplesmente tém influén- cia sobre a determinagao do salario nominal, ja que os precos dos bens-salario (wage- 90. goods) sio determinados exclusivamente pelos empresirios ¢ ii) trabalhadores nao abandonam seus empregos quando hd uma queda nos salrios reais — ainda que fos- sem capazes de determinar 0 salario nominal em fungao de um nivel esperado de pre~ 0s durante 0 processo de barganha. A rejeigao ao segundo postulado conduziu Key- nes a negar a existéncia da curva clissica de oferta de trabalho positivamente inclina- da no plano do grafico 1. O fato € que Keynes nio rejeitou a existéncia de qualquer fungio oferta, mas simplesmente negou a fungdo clissica, dado que o comportamen- to dos trabalhadores no satisfaz essa curva. (Amadeo, 1986, p. 311) A fungio oferta de trabalho compativel com as idéias de Keynes foi descrita por Amadeo (1986, p. 312) — o que segue a esse respeito esta baseado na sua elabora- gio. Keynes supés implicitamente que os trabalhadores preferirdo trabalhar a nao tra- balhar, ¢ que eles irdo se ater a um contrato (que especifica sakirio nominal ¢ jornada de trabalho) para uma gama infinita de salarios reais, isto é, trabalhadores ito man- ter scus empregos nos termos fixados nos contratos mesmo diante de uma queda do salério real. Essas suposigdes podem ser descritas por uma fungao oferta de trabalho representada por uma area — em lugar de uma curva — tal como é mostrado no gré- fico 1. Para salarios abaixo de (w/p),, os trabalhadores poderdo se recusar a trabalhar — eles poderiam, por exemplo, entrar em greve —, dado que um salirio inferior a (w/ p), nio seria nem suficiente para atender aos requisitos minimos de sobrevivéncia. A mio-de-obra, independentemente do salario real, possui um limite fisico. No grafico 1, tal limite é representado por N*. O grafico 1 mostra que existe um conjunto infini- to de pontos potenciais de equilibrio que corresponde 4 curva N‘ para N < N*. O nivel de equilibrio do mercado de trabalho é, portanto, indeterminado. Uma equagao adicio- nal seria necesséria para a determinagio da incdgnita N: essa equaco é fornecida pelo principio da demanda efetiva Esse principio pode ser resumido nas seguintes proposigdes: i) a renda depende do nivel de emprego da economia e ii) a quantidade de méo-de-obra que os empresi- rios decidem empregar é fungiio de duas quantidades, a saber: 0 valor monetario es- perado que sera gasto em consumo ¢ 0 valor esperado que sera gasto na forma de novos investimentos. Portanto, dado um nivel de renda e as condigdes da oferta de bens, 0 nivel de emprego dependera dos gastos esperados. O grafico 2 (ver p. 101 deste artigo) é itil 4 continuagao da explicagao do prinet pio da demanda efetiva como determinante do nivel de emprego ¢ produto da econo- mia — tal principio éa negagao da necessidade da hipétese novo-keynesiana da existéncia de falhas de mercado para explicar o nivel da renda e do emprego. Seja Z (do grifico 2) 0 valor monetario necessario e compensador das vendas para os diferentes niveis de mio-de-obra (N), dada as condigdes técnicas da produgio e o custo do trabalho, logo, 0) Z= 6 (N) dZ/dN>0 Seja D (do grafico 2) 0 valor monetirio esperado das vendas derivado dos gas- tos de consumo (D,) ¢ dos gastos na forma de novos investimentos (D,). Assim, em funciio dos gastos esperados, os empresirios decidem qual 0 nivel adequado de mao- de-obra a empregar, logo, 2] D, + D,=D=f(N) dDidn > 0 ou © ponto do grafico 2 em que as curvas de oferta e demanda agregada se inter- ceptam é chamado por Keynes de demanda efetiva. Nesse ponto, dadas as condigdes de oferta ¢ a demanda esperada, obtém-se 0 nivel de emprego da economia e, conse- qiientemente, o produto (Y) que esta mao-de-obra pode gerar.* Portanto, o ponto A (de demanda efetiva) pode ser formalmente definido como: A: Z = D => N, Y. Cabe, neste momento, qualificar a diferenga exata que existe entre Keynes e novos- keynesianos no que diz respeito 4 determinagao do nivel de emprego e renda. Para 0 iiltimo grupo, é a demanda corrente no mercado de bens que determina o nivel de ‘emprego ¢ atividade da economia, enquanto para Keynes so as expectativas empre- sariais sobre a demanda futura que determinam emprego e produto correntes. Uma questo deve ainda ser examinada no principio da demanda efetiva, a saber, os fato- res responsaveis pela determinagao de D, os gastos esperados. Iniciar-se-d pelos gas- tos esperados com investimentos, D,. Tais gastos dependem de duas variveis: a efi- ciéncia marginal do capital (emc) e a taxa de juros (i) como indicado na equagio 3. B] D 3 (eme, i) dD,/deme > 0, dD,/di < 0 A eficigneia marginal do capital é a taxa de rendimentos esperados do ativo de capital, portanto, quanto maior for eme, maior sera D,, A taxa /é a taxa de rendimen- tos esperados dos ativos liquidos, logo, poder produzir uma rejeigao dos ativos de capital vis-d-vis os ativos liquidos. As duas varidveis, que determinam 0 volume de gastos de investimento, sio fungdo, por sua vez, de outras varidveis. A eficiéncia marginal do capital depende do prego (de oferta) dos ativos de capital (P*) e das ren- das monetarias esperadas (Q*) provenientes das vendas futuras das mereadorias que serdo produzidas a partir do investimento realizado — tal como indicado na equagio 4. As rendas monetarias ((Q*) dependem, por seu turno, dos pregos esperados das mer- cadorias que os empresarios investidores desejam vender no futuro (P*) — como mos- trado na equagio 5. 4] eme = y( ', Q*) deme/dP* < 0, deme/dQ* > 0 [5] Q= w (P) dQdP> 0 A taxa de juros, a outra varidvel que influencia o volume de gastos com investi- mento, ¢ determinada pela quantidade de moeda (M!) que est fora da circulagao ati- va (isto é, a circulagtio de bens e servicos) e pela preferéncia pela liquidez (PL) — Pode-se perceber que a solugio dese sistema depende das inclinagdes relativas das duas curvas: ait clinagio da curva de demanda deve ser menor que a da curva de oferta. Caso contririo, o principio da de- ‘manda efetiva descreveria uma dindmica da economia que careceria de realismo. Quando houvesse a ex- pectativa de uma oferta superior & demanda, a regido & esquerda do ponto A haveria um incentivo para se reduzir a produgdo e, quanto maior fosse essa redugao, maior seria o incentivo para a economia aumentar tal redugio, até que a produgao fosse nula. A direita de A, haveria o incentivo a aumentar a producio quanto maior fosse esse aumento maior seria a demanda em relagdo a produgao ofertada: quanto maior fosse a oferta, muito maior seria a demanda (uma super-lei de Say). Se as curvas tivessem, ambas, a mes- ‘ma inclinagdo e fossem superpostas, a economia representada funcionaria de acordo com a lei de Say. E, curvas paraielas nio-coincidentes seriam representativas de um sistema sem solucao, 92 equagdo 6. Quanto mais moeda inativa existir, dada uma preferéncia por reter moeda, menor ser a taxa de juros. A taxa de juros é 0 prémio cobrado pelos agentes para abrir mio da liquidez que possuem, portanto, quanto menos escassos so os recursos mo- netirios inativos, menor é a taxa de juros. [6] B(M;, PL) di/dM' < 0, di/dPL > 0 Dada uma velocidade de circulagao-renda da moeda razoavelmente estavel, a quantidade de moeda que ¢ utilizada na circulagio de bens e servigos depende do ni- vel nominal dos pregos (P) e salarios (W). Quanto menor for esse nivel, dado um es- toque de moeda, mais recursos se tornam ociosos e vazam da circulagao ativa para a retengio inativa (equagao 7) — ¢, quanto maior a quantidade de moeda inativa, me- nor serd a taxa de juros, dada uma preferéncia por liquidez. 17] M'= 1 (W, P) dMidW <0, dMi/dP <0 Preferéncia pela liquidez é sindnimo de propensio por reter ativos liquidos, es- pecialmente, a moeda. Keynes argumentou que 0 futuro econémico é incerto, no sen- tido que nao pode ser conhecido com antecedéncia nem ser estatisticamente prognos- ticado por meio de tabuas de probabilidades, Quando as expectativas sio pessimistas, os agentes demandam seguranga no presente para enfrentar o futuro incerto. Keynes mostrou que a moeda é 0 ativo mais seguro, aquele capaz de acalmar nossas inquietudes em relacdo ao futuro desconhecido e imprevisivel. A preferéncia pela liquidez, decor- rente das vagas conjecturas dos agentes sobre 0 desconhecido, pode ser estimulada por um ntimero infinito de argumentos: fatores politicos, fatores climaticos, fatores estritamente econdmicos, dentre outros.® Optou-se por representar esse conjunto in- finito de argumentos geradores de incerteza pela notacio (.) da equagao 8 (que, dessa forma, deve ser lida: quanto mais incerto é considerado o futuro, maior é a preferén- cia pela liquidez no presente). [8] PL =Q(.) aPLid(.) > 0 No que se refere a gastos com ativos de capital, a variagdo do volume de deman- da esperada, isto é um deslocamento do ponto de demanda efetiva, depende, como visto anteriormente, de duas varisiveis: a eficiéncia marginal do capital ¢ a taxa de juros. Contudo, tal variagdo depende também da variagio dos gastos de consumo. Esse, por sua vez, é fungdo da renda (Y) ¢ da propensio a consumir da comunidade (c) — equ: 9. 0 191 D,-9(¥, x) dD/aY > 0, dD dy > 0 Merece destaque, portanto, a propensio a consumir da comunidade que pode ser decomposta na propensio a consumir dos trabalhadores (c,) € na propensio a consu- © Uma discussio detalhada sobre o tema da preferéncia pela liquidez pode ser encontrada em Cardim de Carvalho (1992, cap.6). mir dos demais agentes (c,), empresarios ¢ rentistas. nto, a propensao a consumir da comunidade é uma média das propensdes de cada segmento ponderadas por suas participagdes na renda. Assim, pode-se escrever a equaco 10. Essa equagdio mostra que variagdes distributivas de renda podem influenciar a determinagio do ponto de demanda efetiva porque podem alterar a propensio a consumir da comunidade. [10] yaaytbyatb=1 Em resumo, 0 nivel de emprego e de renda, segundo o principio da demanda efe- tiva, depende dos gastos esperados. Contudo, somente se pode esperar um nivel de demanda efetiva mais elevado quando, dado um nivel inicial de renda, ceteris paribus, houver um crescimento da eficiéncia marginal do capital ou uma queda da taxa de juros ou uma elevagio da propensiio marginal a consumir da comunidade — tal como des- crito na equagao 11 uy Z=D-=@ (eme, i, x) dDideme > 0, dD/di < 0, dDidy > 0 - O principio da demanda efetiva com salarios ¢ pregos flexiveis Afinal, no modelo de Keynes, uma queda dos precos eliminaria a insuficiéncia de demanda no mercado de bens? Uma queda de salirios reais eliminaria 0 desem- prego involuntério? Em verdade, a pergunta mais precisa seria: qual o efeito de uma queda no valor dessas variveis sobre os determinantes da demanda efetiva (a propenso a consumir, a taxa de juros e a eficiéncia marginal do capital)? Essa seria a pergunta precisa, porque se o ponto de demanda efetiva do grifico 2 for arrastado para a direi- ta, dada as condigdes téenicas do lado da oferta, o nivel de emprego ¢ a producdo aumentariam. Uma queda de salirios nominais induziria a uma redugiio de pregos, porque sala- rios representam custos. Contudo, como a queda de pregos seria, obviamente, menor do que a redugo dos salarios, isto implicaria uma redugdo dos salirios reais. Mostra- se a seguir o efeito dessas mudangas sobre os determinantes da demanda efetiva. Efeito sobre a eficiéncia marginal do capital Uma queda dos salérios nominais acompanhada de uma queda de pregos teria, em principio, um efeito positivo sobre a eficiéncia marginal do capital. O prego (de oferta) dos ativos de capital se reduziria, haveria um aumento da eficiéncia marginal do capital (equacio 4) que é um estimulo ao investimento (equacio 3). Entretanto, isto somente ocorreria se houvesse a formago de expectativas de que no futuro haveria um novo aumento de salarios e pregos, 0 que, por sua vez, estimularia o surgimento de expectativas otimistas em relagao as rendas monetrias esperadas (Q*) (equago 5) € expectativas de que haveria um aumento dos pregos dos ativos de capital (P*) no futuro. Uma queda de salirios nominais pode, contudo, animar expectativas de que ha- veria novas quedas futuras (Keynes, 1973, p. 263), dessa forma, haveria o adiamento das decisdes de investir, porque os empresdrios nao estariam dispostos a comprar ati- 94 vos de capital por um prego mais alto do que comprariam no futuro quando suposta- mente ocorresse a queda esperada de salirios nominais que reduziria todos os precos — inclusive os dos bens de capital. Ademais, se se espera uma queda futura de pre- 0s, as rendas monetarias esperadas (Q*) também se reduziriam (equacao 5), 0 que, por seu turno, deprimiria a eficiéncia marginal do capital (equagio 4). Logo, uma sim- ples queda de pregos e salarios poderia nao provocar um aumento de demanda efetiva via elevagao da eficiéncia marginal do capital (equa¢ao 11). Pode-se dizer, portanto, que a situago mais favoravel em que uma queda de pre- gos e salarios afetaria positivamente a eficiéncia marginal do capital seria aquela em que uma redugio da demanda efetiva provocasse uma redugdo to brusca dos salarios e, conseqiientemente, dos pregos, que ninguém pudesse acreditar na sua continuida- de, mas somente numa variaco positiva dessas varidveis no futuro. Logo, pode-se con- cluir que o efeito de uma queda de tais variaveis sobre a eficiéncia marginal do capi- tal é, no minimo, incerto. E, no se pode inferir que a flexibilidade (para baixo) de saldrios e precos provocaria necessariamente um ajuste automatic nos mercados de trabalho e bens — tal como pregaram velhos-classicos, velhos-keynesianos e tal como pregam novos-classicos e novos-keynesianos. Efeito sobre a taxa de juros Uma redugao dos salarios nominais acompanhada de uma queda nos pregos re- duziria a necessidade de moeda na circulagdo ativa. Haveria um vazamento moneta- rio da circulagao de bens e servigos para o Ambito da retenciio inativa (equacao 7), 0 que reduziria a taxa de juros — se nao houvesse qualquer mudanga na fungao da pre- feréncia pela liquidez (equagio 6). Logo, a redugao de pregos e sakirios seria um es- timulo as decisdes de investimento (equagao 3). A historia contada até aqui mostra que, ainda que por vias diversas, novos-keynesianos e Keynes chegariam 4 mesma conclu- sio: uma redugio na magnitude das varidveis precos e salérios faria crescer o nivel de emprego ¢ produto. Contudo, Keynes (1973, p. 263) advertiu que uma queda de re~ muneracées poderia acender expectativas de que existiriam no futuro pressdes para fazer o saldrio voltar ao seu patamar original, conseqiientemente, se existissem expec- tativas de que os salarios no futuro (talvez breve) retornassem ao nivel inicial, o efei- to anteriormente destacado sobre as decisdes de investir seria bastante ténue. Ademais, acrescentou Keynes: “se a redugo de salarios perturba a confianga no plano politico por causa do descontentamento popular, o aumento da preferéncia pela liquide. de~ corrente dessa causa [equagtio 8] poderé compensar a liberagdo de moeda da circula- cio ativa [equagao 6)" (1973, p. 264). Existiriam, portanto, condigdes adversas em que uma queda de pregos e salrios nao provocaria uma elevagao da demanda efetiva via redugio da taxa de juros (equagao 11). Em sintese, Keynes reconheceu que, na auséncia de condigdes adversas, se a quantidade de moeda for mantida fixa e 0 nivel nominal de salrios e precos softer alguma redugao, tal queda poderia ter um efeito positivo: reduzindo a taxa de juros € estimulando, em decorréncia, as decisdes de investir. Entretanto, para Keynes, esse movimento de queda dos salarios e precos com a quantidade de moeda fixa seria equi- valente a se manter fixo 0 nivel de precos e salarios e se realizar uma politica mone- taria expansionista. Assim, o impacto sobre a taxa de juros, e conseqitentemente so- bre as decisdes de investimento, de uma reduc de salarios e pregos (com quantida- 95 de fixa de moeda) estaria sujeito a todas as qualificagdes que mostram resultados, por vezes, incertos da politica monetdria.’ Logo, nio necessariamente uma queda de pre- 608 € salirios, ainda que sob certas condigdes favoraveis, reequilibraria mercados via redugio da taxa de juros. Efeito sobre a propensdo a consumir Uma queda dos salrios reais decorrente de uma redugio de salarios nominais e de uma diminuig&o dos precos (menor que a redugao dos saldrios nominais) provoca- ria uma transferéncia de renda real de trabalhadores para os demais agentes da eco- nomia, Supondo-se que trabalhadores possuem uma alta propensio a consumir (apro- ximadamente 1), esse teartanjo distributivo reduziria a propensio a consumir da co- munidade (equagio 10). Logo, os gastos esperados de consumo seriam menores (equa- ¢ao 9). Portanto, uma queda de pregos e salarios provocaria uma diminuigiio da de- manda efetiva via redugao da propensdo a consumir da comunidade (equagao I). Em suma, embora Keynes tenha concebido um modelo em que as varidveis pre- Gos ¢ salarios eram plenamente flexiveis, nao aceitou que essa flexibilidade pudesse restaurar 0 equilibrio dos mercados, portanto, a causa da insuficiéncia de demanda no mercado de bens e do desemprego involuntario nao foi atribuida a falhas de mercado. No modelo de Keynes, a queda dos pregos e salirios somente seria capaz de restaurar 0 produto de pleno emprego em uma situago extremamente peculiar: se todas as con- digdes favorecessem uma redugio da taxa de juros e, simultaneamente, as mesmas condigdes provocassem um aumento da eficiéncia marginal do capital e que esses efeitos compensassem a diminuigao da propensio a consumir da comunidade — mente sob essas circunstincias especificas é que a demanda efetiva aumentaria (no grafico 2, um aumento da demanda efetiva faria, por exemplo, o nivel de emprego crescer de N, para N,). Dado que a situagao descrita é extremamente particular, Key- nes nao demonstrou nenhuma confianca na sua ocorréncia, Mostrou, conseqiientemen- te, que a inexisténcia de falhas de mercado niio é condico necessaria nem suficiente para a economia alcangar o pleno emprego automaticamente. 0- 4, OBSERVACOES CONCLUSIVAS: KEYNES E O KEYNESIANISMO, DO MAINSTREAM Novos-keynesianos adotam 0 adjetivo derivado do nome do economista inglés, Keynes, sem qualquer compromisso com os escritos originais desse autor. Foi por esse motivo que Mankiw disse: “Nés estamos numa posigao muito melhor que a de Key- hes para entender como a economia funciona...” (1992, p. 561). Distintamente das décadas de 1940/50/60, em que velhos-keynesianos se auto-intitulavam os verdadei- ros intérpretes das idéias do economista inglés e, conseqiientemente, seus propagan- distas oficiais*, hoje, velhos e novos-keynesianos declaram que suas idéias esto dis- Aqui nio é 0 espago apropriado para discutir em que condigdes uma politica monetiria expansionista seria (imjefieaz na visio de Keynes. Sobre esse assunto, ver Sicsii(1997a, cap. 1) e Siesi (1997), * Ver, por exemplo, a posigao adotada por A. Hansen (1983) no preficio do seu conhecido livro A Guide 10 Kevnes. Ver, também, 0 artigo de Galbraith (1977) que relata a empolgagio dos velhos-keynesianos americanos com a General Theory durante as décadas de 1940/50/60, 96 tantes da teoria de Keynes.” Assim, ganham liberdade para construir seus modelos ne interior do keynesianismo do mainstream livres dos incémodos das idéias originais de Keynes. Na década de 30, John Hicks, um dos mais ilustres fundadores do velho-key- nesianismo, dividiu a curva de oferta agregada em trés segmentos. Em um extreme estava a economia de Keynes, capaz de explicar apenas uma situagio de depressio. no outro extremo, estariam os velhos-clssicos que haviam elaborado uma teoria ade- quada exclusivamente para uma economia geradora de produto de pleno emprego e. entre os dois polos, estaria a economia keynesiana capacitada para explicar situagdes de equilibrio aquém do produto de pleno emprego. Hoje, no existem autores ou cor- rentes relevantes dispostas a interpretar © que Keynes realmente disse ¢ inseri-lo na ortodoxia. Presentemente, a curva de oferta agregada foi purificada pelos desenvol- vimentos do mainstream, nem sequer um espantalho de Keynes é utilizado. O grafico 3 (ver p. 101 deste artigo) mostra essa curva. Agora, a curva de oferta agregada des- crita por novos-keynesian novos- clas teria no extremo do produto de pleno emprego. « icos € nas demais posigdes, os novos-keynesianos. Nem Keynes nem velhos- keynesianos ocupam qualquer lugar da curva. curto prazo é 0 contexto econdmico em que existem falhas de mercado que podem explicar a ocorréncia de posigdes de equilibrio aquem do produto de pleno emprego. Portanto, a curva de oferta de curto prazo é sustentada pela teoria novo- keynesiana, O longo prazo € 0 contexto em que os mercades se autoequilibram auto- maticamente via pregos e salirios. Logo, a curva de oferta de longo prazo sustenta sobre a macroeconomia novo-c sica é correta no longo prazo” (1992, p. 561); em outra passagem afirmou: “no longo prazo a curva de Phillips é vertical” (1992, p. 563). Merece destaque que nao foi ne- cessario discutir o lado da demanda no grifico 3 para se abordar a diferenga basica entre novos-classicos € novos-keynesianos. Tal omissio foi justificada por Gordon (1990, p. 1117): “tépicos do lado da demanda podem ser omitidos, simplesmente porque no esto no centro do conflito entre as economias novo-classica e novo-keynesiana” Diante da estrutura apresentada pelo grifico 3, novos-keynesianos propdem como politicas de pleno emprego para o longo prazo a utilizagio de diversas ferramentas que possam quebrar a rigidez de pregos e salarios reais, por exemplo, abertura comer cial ao exterior ¢ cambio perfeitamente flexivel. (Davidson, 1996, p. 38) No longo prazo, a teoria novo-keynesiana nao reserva nenhum papel ativo ao governo: afinal, nesse contexto o mundo seria novo-classico. Para o curto prazo, nao necessariamente acreditam que politicas governamentais ativas sejam desejaveis porque muitos dos tra- dicionais argumentos contra essas politicas, tais como defasagens de percepgiio/rea- go, permanecem validos para muitos novos-keynesianos" (Mankiw & Romer, 1991, p. 3). Segundo Mankiw (1995, p. 238), embora 0 argumento das defasagens de Fried- man seja valido, por vezes, os argumentos contririos as posigdes friedmanianas tam- se lassica. Nas palavras de Mankiw, a “...cconomia clis- * Atualmente vethos-keynesianos também ji admitem que suas teorias tém pouco compromisso com os, escritos originais de Keynes. Tobin, por exemplo, afirmou que nao “defende o texto literal da General Theory” (1993, p.46). " Osargumentos relativos a dificuldade de percepedo dos verdadeitos eventos econdmicos por parte dos policymakers, 0 que impediria a mensuragao da intensidade de utilizago dos instrumentos fiscais e mo- netarios, sto de Friedman (1968 ¢ 1984), bém sao convincentes; entao, “deve-s quanto politicos e decidir qual o papel a ser desempenhado pelo governo na tentativa de estabilizar a economia” Apl pelas imperfeigdes de mercado sao aconselhadas por Mankiw, desde que obedegam a alguma regra com feedback. Para ele, seria necessario “...algum tipo de regra para a politica monetiria” e acrescentou “minha propria preferéncia seria alguma coisa como uma meta para o PNB nominal ou para o salirio nominal” (1992, p. 564). Segundo Mankiw, a literatura recente (novo-classica) sobre politicas de inconsisténcia tempo- ral tem oferecido argumentos interessantes (Mankiw, 1992, p. 564). Nessa literatura, destaca-se a contribuigaio de Kydland & Prescott (1994) que, em resumo, mostrou por que uma gestio monetaria com poderes discricionarios plenos € propensa a gerar in- flagdo e € ineapaz de reduzir 0 desemprego (correspondente & taxa natural). Assim, mais moeda sempre causaria somente mais inflagdo. Logo, se a politica monetiiria fosse plenamente discricionaria nao poderia atingir 0 produto no curto prazo — dai a op- io por regras com feedback que eliminariam o viés inflaciondrio e atingiram 0 pro- duto no curto prazo. Politicas fiscais ativas também seriam sugeridas por novos-key- nesianos para eliminar hiatos de curto prazo do produto. Tais acdes de politica econdmica, entretanto, seriam consideradas por novos- keynesianos apenas como solugdes provisérias para resolver problemas cujas causas fundamentais nao estariam sendo atacad: fundamentais seriam a rigidez pregos ¢ salirios reais). Politicas econémicas estabilizadoras so remé- dios que somente eliminariam os sinfomas (que sao as flutuagdes econdmicas e 0 desemprego involuntirio) dos reais problemas. Portanto, intervengdes sucessivas ¢ permanentes nfo seriam consideradas uma solugdo definitiva. Diferentemente, Key- nes defendeu um papel permanente ¢ ativo do governo como estimulador dos deter- minantes da demanda efetiva porque a causa fundamental do desemprego nao estaria localizada na rigidez das varidveis do lado da oferta, mas, fundamentalmente, na pre- feréncia pela liquidez dos agentes que deprime decisdes privadas de gastos. Keynes mostrou a logica da existéncia do desemprego involuntirio baseado no trinémio inse- guranga-expectativas-moeda que poderia coexistir com uma perfeita flexibilidade de pregos e salirios tanto no curto quanto no longo periodo, Verdadei relagao ao uso de poli © ativismo como a passividade governamental: nao interessaria determinar com detalhes algo que é irrelevante, algo que seria apenas um paliativo. Embora a discuss%io sobre © ativismo-politico, seja um tema central para qualquer corrente, novos-keynesianos tém concentrado sua pesquisa exclusivamente sobre o lado da oferta, pois aqui estariam dos problemas econémicos: “esse debate sobre o controle da demanda agregada é bastante desligado das teorias novo-keynesianas de oferta agregada” (Man- kiw & Romer, 1991, p. 3). Afastado do ativismo reformista via controle da demanda, que caracteriza a politica econdmica proposta por Keynes, 0 novo-keynesianismo se dedica quase que exclusivamente ao lado da oferta. Sem diivida, Keynes acharia de- veras estranho um keynesianismo com reduzido intergsse sobre o lado da demanda! Novos-keynesianos apostam 0 seu futuro, enquanto corrente de pensamento eco- némico, na descoberta de microfundamentos para o lado da oferta que possam apoiar e pesar os varios argumentos, tanto econémicos Ses de politicas monetdrias ativas para combater os problemas causados das varidvei: janos em ramente, existe uma posigao diibia por parte de novos-keynes ‘as de estabilizac o econdmica. E diibia porque aceitam tanto as fontes reais 98 a sua macroeconomia. Esse é um método de pesquisa bastante diferente do método utilizado por Keynes. Para esse autor, ndo havia a determinagiio da macro sobre a micro. cle formulou uma teoria econdmica em que a micro ¢ a macro emergiam de um pro- cesso integrado, sem que houvesse necessidade de cotejar as duas disciplinas, Para Keynes, os macrofundamentos de uma microteoria seriam tao importantes quanto os microfundamentos de uma macroteoria (Bresser Pereira & Lima, 1996, p. 30). Ele nao elaborou duas disciplinas com o objetivo de compatibiliza-las numa tnica teoria, mas construiu uma teoria que foi dividida em duas disciplinas; deu-se énfase 4 macroeco- nomia porque Keynes havia mostrado que os resultados macro que obteve poderiam ser conjugados com diferentes hipoteses sobre a flexibilidade (ou rigidez) de pregos e saldrios. Em conseqiiéncia, pode-se afirmar que as descobertas micro novo-keynesianas sio plenamente compativeis com a macro de Keynes, Ento, pergunta-se: novos-keyne- sianos tém uma agenda de pesquisa de uma nova teoria econdmica ou, to somente, de uma disciplina, a microeconomia? A resposta é: uma agenda de uma tnica di plina! Afinal, permanecem validos, para essa nova corrente, os resultados macrocco- nomicos apresentados pelos velhos-keynesianos para 0 curto prazo, assim como os resultados macro dos novos-clissicos para o longo prazo. Essa nova corrente keynesiana traz consigo de positive a busca de realismo para calgar as suas hipoteses quanto 4 rigidez de certas variaveis. Segundo Romer, 0 pro- jeto novo-keynesiano deveria investigar se as imperfeigdes poderiam ser derivadas de “. .hipéteses realisticas sobre o ambiente microecondmico...” e nio hipdteses simple: mente “adotadas” (1993, p. 7). A busca de realismo e sua solucdo — expressos nos modelos de custo do menu, salario de eficiéneia, dentre outros — sio atitudes que devem ser consideradas sempre validas e necessarias. Contudo, no caso em questio no so capazes de constituir uma novidade em termos de resultados macroecondmi~ cos. A novidade é o realismo aparecer como uma preocupagio central no interior do mainstream. Afinal, 0 realismo de hipsteses e comportamentos nio tem sido uma qualidade da ortodoxia, desde seus primérdios aos dias atuais, desde a moeda exclu- sivamente meio de troca (dos velhos-ckissicos) ao viés inflaciondrio (dos novos-clis sicos). Busca de realismo para as hipéteses: essa é a novidade apresentada pelo novo- keynesianismo & ortodoxia! E digno de destaque que, ha décadas, Keynes ja havia acusado a ortodoxia contemporanea de adotar hipsteses que nfio guardavam qualquer nexo realistico com a economia que realmente vivemos (Keynes, 1973, p. 3). Dada a enorme distdncia existente entre a teoria econdmica de Keynes ¢ a dos novos-keynesianos, interpreta-se que esses tiltimos adotaram 0 adjetivo derivado do nome do economista inglés em um tinico sentido: keynesianos seriam todos aqueles que percebem a ocorréncia de flutuagdes econdmicas e de desemprego involuntirio em ambientes nos quais os gostos e 0 estado tecnoldgico sio mantidos constantes ¢ as expectativas nio so desapontadas. Portanto, Keynes seria sindnimo da identific: a0 do problema ¢ nao do seu diagnéstico ¢ da sua solugdo. E por isso que Mankiw (1992, p. 560) nao considerou indispensdvel a leitura das obras de Keynes, tal como citado na epigrafe desse artigo, Novos-keynesianos, segundo Mankiw, estariam em- penhados em “explicar o mundo e nao em esclarecer os pontos de vista de um homem particular” (1992, p. $60). Ele justificou por que considera dispensiivel a leitura da principal obra de Keynes: *...a General Theory € um livro obscuro: no tenho certeza se mesmo Keynes sabia exatamente o que realmente queria dizer. Ademais, depois de 99 éum livro desa- (1992, p. 561). ‘Apesar de Mankiw no dar nenhuma importancia a0 modelo apresentado na Ge- neral Theory, a teoria de Keynes é mais geral que a teoria novo-keynesiana, Uma teo- ria € mais ampla, isto é, capaz de analisar uma quantidade maior de situagdes econd- micas, quanto menor 0 numero de hipéteses que adota. O numero de hipsteses de um modelo esta inversamente relacionado com a quantidade de contextos que pode ser explicada por esse modelo. Uma teoria que adote muitas hipdteses restringe o seu raio de ago. Esse é o caso da teoria novo-keynesiana (vis-d-vis 0 modelo original de Keynes exposto na General Theory) que seria incapaz de explicar a existéncia de va- riagdes do produto ¢ do emprego em contextos de plena flexibilidade de pregos ¢ sa- latios. Keynes prescindiu de qualquer imperfeigdo de mercado para explicar variagdes, do produto e do nivel de emprego. Nesse sentido, se a economia novo-keynesiana ndo é uma verdadeira representagdo das posigdes de Keynes, tanto pior para Mankiw. Para se construir a tiltima sentenga do pardgrafo anterior, parafraseou-se Mankiw que afirmou exatamente 0 oposto em uma passagem lapidar: “se a economia novo- keynesiana nfo é uma verdadeira representagio das posigdes de Keynes, tanto pior para Keynes” (1992, p. 560). Contudo, tal assertiva é coerente com o reconhecimento ex- plicito de Mankiw de que a economia dos novos-keynesianos se parece muito com a economia dos adversirios de Keynes, os velhos-clissicos. (1992, p. 563 e p. 565) Logo, entre Keynes e os novos-keynesianos nao existe qualquer convergéncia, apenas con- flitos. Pode-se concluir, em conseqiiéncia, que o rétulo utilizado pela escola liderada por Mankiw e Romer é, no minimo, initil. Um novo vocabulo & necessario para ex- pressar mais adequadamente os principios dessa corrente. O préprio Mankiw, reco- nhecendo as dificuldades para adotar 0 adjetivo keynesiano, lamentou: “talvez nos necessitemos de um novo rétulo...” (1992, p. 565). GRAFICO 1 O Mercado de Trabalho em Keynes wip 00 GRAFICO 2 Principio da Demanda Efetiva Receitas necessarias ($) (Z) Receitas esperadas ($) (D) Zz 0 oN D=fiN) GRAFICO 3. A Curva de Oferta do Keynesianismo do Mainstream Novos Keynesianos Curva de Oferta de Curto Prazo Novos Classicos Curva de Oferta de Longo Prazo Y* Y lol REFERENCIAS AMADEO, E. 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