LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe

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DEDALUS - Acervo - FFLCH A 20900008817 Georg Lukécs, flésofo e critico literdrio hiingaro de origem judaica, nasceu em 13 de abril de 1885 em Budapeste, onde morreu em 1970. Apés 0 doutorado em letras em 1909, vai para Heidelberg, onde prossegue suas pesquisas. Em 1917, volta & Hungria, Adere 20 partido comunista em 1918, tornando-se comissério do povo pa- ra Educacéo Nacional na Comuna de 1918. Depois de emigrar para Viena e Moscou, volta & Hungria em 1945, onde € nomeado pro- fessor da Universidade de Budapeste e membro da Academia de Ciéncias. Violentamente criticado em 1949 em razdo de suas posi- Ges ideol6gicas, abandona toda atividade publica até outubro de 1956, quando assume o Ministério da Educagao Nacional no go: verno revolucionério de Imre Nagy. Deportado para a Roménia, autorizado, alguns meses mais tarde, a voltar para a Hungria, onde se dedica até sua morte a atividade cientifica. Lukacs é geralmente considerado o fundador da estética marxista. Ele aplicou suas teo- rias ao estudo da obra de escritores como Balzac, Stendhal, Zola, Goethe, Thomas Mann, Tolsti, Dickens etc. Suas obras mais impor- tantes so: A alma e suas formas (1910), A teoria do romance (1920), Historia e consciéncia de classe (1923), O romance istérico (1947), Ba 226, Stendhal, Zola (1949), A destituigo da razio (1954), Especifici dade da estética (1965). Georg Lukacs Hist6ria e Consciéncia de Classe Estudos sobre a dialética marxista Tradugéo RODNEINASCIMENTO Revisio da tradugio KARINA JANNINI ‘SBD-FFLCH-USP Manin 273080 Martins Fontes SGo Paulo 2003 My agesn an obs fo pica oan om sei com tle Coppin © 2003, Lara Mari Fontes Era Lala ‘So Pal, pr presen eae, sae de 008 Acompantamento eter Leia Aare dos Sater Revises eafices Produ grea ak Goa. se Georg Laks! eo Redes Nine vi Bisigraia ISHN 336192541 1. Clues wis 2. Coneiéec de cle 3 Metin Indies para cate Stemi 1. Const dec Socal Secioog 308.5 Todos os dveits desta edicdo paraalngua portuguesa reservados Livraria Martins Fontes Bdiora Lida. ‘ua Consethero Ramalho, £30340 01325.000 Sao Paulo SP Brast Tel. (11) 32413677 Fax (1) 31086867 mail: infoemartinsfontescom.br hipww-martnsfontes com br SUMARIO Nota a esta edigfo vil Prefitcio (1967) 1 Preficio (1922). 51 O que & marxismo ortodoxo?. 63 Rosa Luxemburgo como marxista ... 105 Consciéncia de classe . 133 A reificacao e a consciéncia do proletariado....... 193 1. O fendmeno da reificagao 194 I. As antinomias do pensamento burgués....... 240 IML. C ponto de vista do proletariado.. 308 A mudanca de fungio do materialismo histérico. 413 465 Legalidade e ilegalidade Notas criticas sobre a Critica da Revolugio Russa, de Rosa Luxemburgo Observagdes metodolégicas sobre a questéo da organizacai eens?) Indice onoméstico .... 595 A Gertrud Borstieber NOTA A ESTA EDICAO A edicao original em que se baseia esta traducéo segue o texto da edicdo Georg Lukacs, Obras Completas, vol. 2, Hist6ria e consciéncia de classe, Primeiros escritos II, Newwied: Hermann Luchterhand Verlag, 1968. Ambas as edicdes permanecem inalteradas em relacao a primei- 1a, publicada pela Malik Verlag, Berlim, 1923 Para esta edicéo (da colecéo Luchterhand), as re- feréncias de Lukacs, em notas de rodapé, aos textos de Marx e Engels foram organizadas pela primeira vez de acordo com a edigao Kar! Marx und Friedrich Engels, Werke [Karl Marx e Friedrich Engels, Obras], organi- zada pelo Instituto de marxismo-leninismo junto ao Co- mité Central (ZK) do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), Berlim, 1957 ss. PREFACIO (1967) Num antigo esboco autobiogréfico de 1933! cha- mei o meu primeiro percurso intelectual de “Meu cami- nho para Marx”. Os escritos reunidos neste volume? 1m: Georg Luis 2um siebzigsten Geburtstag, Aufbau, Berlim, 1958, pp. 225-31; reimpresso emG. Lukscs, Schriften zu Ideologie und Politik, P. Lid (org.), Luchterhand, Neuwied, 1967, pp. 323-9. 2. Frdhschrifien II, Werkausgabe, Neuwied, 1968, vol. 2. Esse volume, para o qual o prefécio foi redigido, contém ainda, além de “Historia e con ciéncia ce classe”, 08 seguintes ensaios: “Tatik und Ethik” ["Ttica e ét ca] “Rede auf dem Kongress der Jungarbeiter” {"Discurso por ocasio do congresso de jovens operdrios"I, “Rechtsordnung und Gewalt” [“Or- dem juridica e poder’|, “Die Rolle der Moral in der kommunistische Pro- duktion’ ("O papel da moral na produgéo comunista”], “Zur Frage des Parlamentarismus” ("Sobre a questo do parlamentarismo”|, “Die mora- lische Sendung der kommunistischen Partei” (“A missio moral do Parti- ‘do Comunista”], "Opportunismas und Putschismus” [“Oportunismo € golpismo”], “Die Krise des Syndikalismus in Italien” [“A crise do sindica~ lismo ne Itélia” “Zur Frage der Bildungsarbeit” ["Sobre a questdo do tra~ balho de formagio"|, “Spontaneitat der Massen - Aktivitit der Partei” ['Esportaneidade das massas ~ Atividade do partido"l, “Onganisatoris- che Fragen der revolutionaren Initiative” ["Questdes organizacionais da iniciativa revolucionéria”, “Noch einmal Ilusionspolitik” ("Mais uma 2 GEORG LUKACS abrangem meus anos de aprendizado do marxismo. Ao publicar os documentos mais importantes dessa época (1918-1930), minha intencdo é justamente enfatizar seu carater experimental, e de modo algum conferir-lhes um significado atual na disputa presente em torno do autén- tico marxismo. Pois, diante da grande incerteza que rei- na hoje quanto compreensao do seu contetido essencial e duradouro e do seu método permanente, essa clara delimitagao é um mandamento da integridade intelec- tual. Por outro lado, as tentativas de compreender corre- tamente a esséncia do marxismo podem, ainda hoje, ter uma certa importancia documental, se se adotar um com- portamento suficientemente critico tanto em relagao a essas tentativas como em relacdo a situagao presente. Por isso, os escritos aqui reunidos iluminam nao ape- nas os estagios intelectuais do meu desenvolvimento pessoal, mas mostram, ao mesmo tempo, as etapas do iti- nerério geral, que nao devem ser de todo sem impor- tancia, tomando-se a devida distancia critica, inclusive em relacao ao entendimento da situagao presente e 20 avanco a partir da base fornecida por elas. vez a politica da ilusdo” ,“Lenin~Studie iber den Zusammenhang seiner Gedanker" [“Lénin ~ estudo sobre a coeréncia dos seus pensamentos'” I, “Der Triumph Bersteins” ["O triunfo de Bernstein’), "N. Bucharin Theorie des historischen Materialismus” YN, Bukharin: teoria do materia- lismo hist6rico’l, “Die neue Ausgabe von Lassalles Briefen” “A nova edi- co dascartas de Lassale’I,"K. A. Witfogel: Die Wissenschaft der birger- lichen Gesellschaft” 'K. A. Wittfogel: a céncia da sociedade burguesa’1, “Moses Hess und die Probleme der idealistischen Dialektik” [Moses Hess € 0 problema da dialética idealista”|, “O. Spann: kategorienlehre” [“O. Spann: doutrina das categorias’|, “C. Schmitt: Politische Romantik” (°C. Schmitt: romantismo politico”, “Blum-Thesen” ("Teses de Blum’), HISTORIA F CONSCIENCIA DE CLASSE 3 Naturalmente é impossivel, para mim, caracteri- zar corretamente minha posicao a respeito do marxismo por volta de 1918, sem remeter brevemente a sua pré- historia, Conforme destaquei no esboco autobiografico citado acima, ja no colégio havia lido alguma coisa de Marx. Mais tarde, por volta de 1908, ocupei-me inclu- sive de O capital, a fim de encontrar um fundamento sociol6gico para minha monografia sobre o drama mo- derno®, Nessa época, meu interesse estava voltado para 0 Marx “sociélogo”, visto em grande medida pelas len- tes metodolégicas de Simmel e Max Weber. No periodo da Primeira Guerra Mundial, iniciei novamente os es- tudos sobre Marx, desta vez, porém, guiado por inte- esses filos6ficos gerais e influenciado predominante- mente por Hegel, e nao mais pelos pensadores contem- poraneos. Por certo, esse efeito de Hegel também era con- flitante. Por um lado, Kierkegaard havia desempenhado em minha juventude um papel consideravel; nos anos que antecederam imediatamente a guerra, em Heidel- berg, quis até mesmo tratar em ensaio monografico sua critica a Hegel. Por outro, as contradides das minhas concepcées politicas e sociais levavam-me a uma rela- cao intelectual com 0 sindicalismo, sobretudo com a fi- losofia de G. Sorel. Eu aspirava a ultrapassar o radica- lismo burgués, mas repugnava-me a teoria socialde- mocraia (sobretudo a de Kautsky). Ervin Szabé, lider intelectual da oposicdo hiingara de esquerda no inte- rior da socialdemocracia, despertou meu interesse por Sorel. Durante a guerra, entrei em contato com as obras 3. Entureklungsgeschichte des moderuen Dramas, Budapeste, 1911 (em. ‘ndingare), 2 volumes. 4 GEORG LUKAcs de Rosa Luxemburgo. Disso tudo surgiu um amalga- ma de teorias internamente contraditério que foi deci- sivo para o meu pensamento no perfodo de guerra e nos primeiros anos do pés-guerra. Creio que nos afastarfamos da verdade dos fatos se reduzissemos, “A maneira das ciéncias do espfrito”, as contradigées flagrantes desse periodo a um tinico denominador e construissemos um desenvolvimento in- telectual imanente e organico. Se a Fausto é permitido abrigar duas almas em seu peito, por que uma pessoa normal nao pode apresentar o funcionamento simulta- neo e contraditério de tendéncias intelectuais opostas quando muda de uma classe para outraem meio a uma crise mundial? Pelo menos no que me concerne e até onde posso me recordar desses anos, em meu universo intelectual relativo a esse periodo, encontro, de um lado, tendéncias simultaneas de apropriacao do marxismo e ativismo politico e, de outro, uma intensificagao cons- tante de problematicas éticas puramente idealistas. Aoler os artigos que escrevi nessa época, vejo con- firmada essa simultaneidade de oposigées abruptas. Quando penso, por exemplo, nos ensaios de carter li- terdrio desse perfodo, pouco numerosos e pouco signi- ficativos, considero que muitas vezes excedem em idea- lismo agressivo e paradoxal meus trabalhos anteriores. Mas, ao mesmo tempo, seguem também o processo irre- sistivel de assisnilacdo do marxisio. Se agora veju nesse dualismo desarmonioso a linha fundamental que ca- racteriza minhas idéias nesses anos, nao se deve, a par- tir disso, concluir o extremo oposto, um quadro em pre- to-e-branco, como se um bem revolucionério em luta contra 0s resfduos do mal burgués esgotasse a dinamica HISTORIA E CONSCIENCIA DE CLASSE 5 dessa oposicdo. A passagem de uma classe para uma outra, especificamente para a sua inimiga, é um pro- cesso muito mais complicado. Nele, posso constatar em mim mesmo, retrospectivamente, que a atitude em re- lagio a Hegel, 0 idealismo ético com todos os seus ele- mentos romanticos anticapitalistas também traziam consigo algo de positivo para minha concepgio de mun- do, tal como nasceu dessa crise. Mas isso, naturalmente, apenas depois que esses elementos foram superados como tendéncias dominantes ou simplesmente co-do- minantes e se tornaram — modificados varias vezes em seu fundamento — elementos de uma nova concepgéo do mundo doravante unitdria. Talvez seja este 0 mo- mento de constatar que até mesmo meu conhecimento intimo do mundo capitalista entrou na nova sintese como elemento parcialmente positivo. Nunca incorri no erro de me deixar impressionar pelo mundo capi- talista, o que diversas vezes pude observar em muitos operatios ¢ intelectuais pequeno-burgueses. O édio cheio de desprezo que sentia desde os tempos de in- fancia pela vida no capitalismo preservou-me disso. A confusdo, porém, nem sempre é caos. Ela con- tém tendéncias que, embora algumas vezes possam reforcar temporariamente as contradigées internas, mo- vem-na, em tiltima andlise, para a sua resolugao. A ética, por exemplo, impele a pratica, ao ato e, assim, a politi- ca, Esla, por sua vez, impele & economia, o que leva a um aprofundamento te6rico e, por fim, a filosofia do marxismo. Trata-se, naturalmente, de tendéncias que se desdobram apenas de maneira lenta e irregular. Tal orientagao comecou a se manifestar jé no decorrer da guerre, apés a eclos4o da Revolugdo Russa. A teoria do 6 GEORG LUKACS romance nasceu ainda num estado de desespero geral, tal como descrevi no prefacio a nova edicdot. Nao é de admirar, portanto, que o presente se manifeste nele como 0 estado fichteano do pecado consumado, e a perspectiva de uma safda assuma um caréter pura- mente utdpico e vazio. Somente com a Revolucao Rus- sa inaugurou-se, inclusive para mim, uma perspectiva de futuro na propria realidade; jé com a derrocada do czarismo e ainda mais com a do capitalismo. Nosso co- nhecimento dos fatos e principios era entéo muito re- duzido e pouco confidvel, mas, apesar disso, vislum- bravamos que — finalmente! finalmente! — um caminho para a humanidade sair da guerra e do capitalismo ha- via sido aberto. Obviamente, embora nos lembremos desse entusiasmo, nao devemos embelezar o passado. Eu também vivenciei ~ ¢ refiro-me exclusivamente a mim mesmo —uma curta transic4o: minha tiltima hesi- taco diante da decisdo definitiva e irrevogével levou- me, temporariamente, a uma apologia intelectual fra- cassada, adornada de argumentos abstratos e de mau gosto. A decisao, no entanto, ndo podia ser adiada. O pequeno ensaio Tética e ética revela suas motivacdes humanas internas. Sobre os poucos ensaios do periodo da Republica Soviética htingara e dos seus preparativos nao ha mui- to. que dizer. Estavamos todos muito pouco prepara- dos intelectualmente — inchisive en, talvez. menos ainda do que todos - para dar conta das grandes tarefas que se impunham; procurévamos substituir com entusias- 4.2%ed., Luchterhand, Neuwied, 1963, p.5;como também a3* ed, 1965, HISTORIA E CONSCIENCIA DE CLASSE 7 mo 0 conhecimento e a experiéncia. Menciono apenas um fato muito importante a titulo de ilustracéo: mal conhecfamos a teoria da revolugio de Lénin e os desen- volvimentos essenciais que fizera nessa 4rea do mar- xismo. Nessa época, apenas poucos artigos e panfletos eram traduzidos e acessiveis para nés, e, daqueles que haviam participado da Revolugao Russa, alguns se mos- travam pouco dotados teoricamente (como Szamuely), outros se encontravam fortemente influenciados pela oposicio russa de esquerda (como Béla Kun). Somente quando emigrei para Viena pude tomar conhecimento mais profundo das teorias de Lénin. Desse modo, nes- sa época meu pensamento era permeado por um dua- lismo antitético. Por um lado, nao fui capaz de tomar uma posicdo a principio correta contra os erros opor- tunistas graves e funestos da politica de entdo, por exemplo, contra a solugdo puramente socialdemocrata da questao agraria. Por outro, minhas préprias ten- déncias intelectuais empurravam-me numa direcéo utépica e abstrata no campo da politica cultural. Hoje, quase meio século depois, fico surpreso ao constatar que conseguimos criar nesse dominio coisas relativa- mente duradouras. (Para ficar no campo da teoria, gos- taria de ressaltar que os dois ensaios “O que é marxis- mo ortodoxo?” e “A mudanga de fungao do materialis- mo histérico” ganharam sua primeira versio jé nesse periodo. Embora tenham sido reelaborados para His- toria e consciéncia de classe, mantive sua orientagao fun- damental.) Minha emigracdo para Viena marcou sobretudo inicio de um periodo de estudo, principalmente no que se refere ao contato com as obras de Lénin. Um apren- 8 GEORG LuKAcs dizado que, por certo, nao se desligava em nenhum instante da atividade revolucionéria. Tratava-se, aci- ma de tudo, de revigorar a continuidade do movimen- to operdrio revolucionario na Hungria: era preciso en- contrar palavras de ordem e medidas que parecessem apropriadas para conservar e reforgar sua fisionomia mesmo durante o Terror Branco; refutar as caltinias da ditadura (fossem elas puramente reacionérias ou so- cialdemocratas) e, simultaneamente, encetar uma au- tocritica marxista da ditadura proletéria. Paralelamen- te, fomos levados em Viena pela corrente do movi- mento revolucionrio internacional. Naquele periodo, a imigracdo hingara era talvez a mais numerosa e a mais dividida, mas nao a tinica. Muitos emigrantes dos Balcas e da Poldnia viviam provisoriamente, ou defi- nitivamente, em Viena, que, além disso, era um lugar de passagem internacional, onde tinhamos contatos constantes com comunistas alemdes, franceses, italia- nos etc. Nessas circunstancias, nao é de estranhar que tenha nascido a revista Kommunismus, que durante al- gum tempo se tornou o principal érgéo das correntes de extrema-esquerda na III Internacional. Ao lado de comunistas austriacos, imigrantes htingaros e polacos que constitufam o micleo interno de colaboradores per- manentes, simpatizavam com os seus esforcos a extre- ma-esquerda italiana, como Bordiga e Terracini, e ho- landeses, como Pannekoek e Roland Holst etc. Odualismo das minhas atitudes nao somente atin- giul o seu apogeu nessas circunstancias como também. se cristalizou numa estranha diade de teoria e pratica. Enquanto membro do coletivo interno de Kommunis- mus, participei ativamente da elaboracao de uma linha HISTORIA E CONSCIENCIA DE CLASSE 9 te6rica e politica de “esquerda”. Esta se baseava na conviccdo, ainda muito viva na época, de que a grande onda revoluciondria que em breve deveria conduzir 0 mundo inteiro, ou pelo menos a Europa inteira, ao so- cialismo de maneira alguma passaria por um refluxo apés as derrotas da Finlandia, da Hungria e de Muni que. Acontecimentos como o golpe de estado de Kapp, as ocupagdes de fabricas na Itélia, a guerra entre Unido Soviética e Polénia e até a Agdo de Marco na Alema- nha reforgavam-nos a convicgio de que a revolugéo mundial se aproximava rapidamente, de que em bre- ve todo 0 mundo civilizado se remodelaria totalmen- te. Nacuralmente, quando se fala do sectarismo nos anos 20, nao se deve pensar naquela espécie desenvol- vida pela prética estalinista. Esta pretende, acima de tudo, proteger as relagdes de forca estabelecidas con- tra qualquer reforma. E conservadora nas suas finali- dades e burocratica nos seus métodos. O sectarismo dos anos 20 tinha, pelo contrério, objetivos messiani- cos e utdpicos, e os seus métodos baseavam-se em ten- déncias fortemente antiburocraticas. As duas orienta- Ges s6 tem em comum o nome pelo qual sao designa- das e internamente representam oposigées hostis. (Por certo é verdade que jé na III Internacional Zinoviev e seus discfpulos tinham introduzido habitos burocrati cos, como também é verdade que, durante os seus tl- timos anos de duenga, Lenin estava muito preocupado em encontrar um modo para combater a burocratiza- do crescente e espontinea da Repiiblica Soviética com base na democracia proletéria. Mas nisso também se vé a oposicio entre o sectarismo de hoje e o de entao. Meu ensaio sobre as questdes de organizacio no Parti.

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